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[...] metade é verdade — Ruth Escobar caderno especial por Alvaro Machado



[...] metade é verdade — Ruth Escobar caderno especial por Alvaro Machado


caderno especial

Acervo Ruth Escobar.

Ruth como a personagem Dila de Cemitério de automóveis, São Paulo, 1968.

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[...] metade é verdade – Ruth Escobar


caderno especial

Este caderno, especialmente produzido para marcar o lançamento de [...] metade é verdade – Ruth Escobar (Edições Sesc), de Alvaro Machado, biografia da atriz-empresária lusobrasileira, traz uma série de fac-símiles, fotos e documentos do Acervo Ruth Escobar não publicados no livro, bem como novas informações, a ilustrar em ângulos inéditos a trajetória editorial, teatral e política dessa personalidade nascida em 1935 no Porto (Portugal) e falecida em São Paulo em 2017. [...] metade é verdade – Ruth Escobar

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Acervo Ruth Escobar.

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ROMANCE DESAFIADOR

U

Inscrição de Jacqueline no verso da imagem: “Ruth: esta foto fui encontrá-la num livro, guardada e dedicada para ti; como já o estava, ainda ta mando; desculpa o atraso, 1953. – Circunvalação do Porto, 3 - IX - 1951.” 6

[...] metade é verdade – Ruth Escobar

Acervo Ruth Escobar.

ma das fotos produzidas em 1951 pelo “casal” Jacqueline Moura e Ruth dos Santos, colegas de classe no liceu feminino Carolina Michaëlis. Dois anos antes, quando foi divulgada sua condição de filha de mãe solteira, a futura atriz-empresária passou a ser repudiada pelas estudantes e professoras, e “Jackie” foi a única a dar-lhe apoio incondicional. As amigas vestiam-se e posavam com figurinos e penteados especiais, destinados a homenagear paixões vividas por artistas célebres, como George Sand e Frédéric Chopin. Nas fotos, Jacqueline veste smoking.


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PRECOCIDADE E SALAZARISMO

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Reprodução: Arquivo Nacional Torre do Tombo, Lisboa.

ntes de emigrar para o Brasil em 1951, Ruth Santos viveu sob a égide da ditadura portuguesa comandada por António de Oliveira Salazar (1889-1970), um dos mais longevos regimes de força já registrados no planeta, com duração de 41 anos (1926-1974). Já em 1957, em São Paulo, aos 22 anos de idade e no comando de Ala Arriba, sua “revista de atualidades luso-brasileiras”, Ruth abordaria em viés psicológico sua relação com a onipresente imagem do ditador de sua infância e sua reação ante a figura de Salazar em carne e osso, ao entrevistá-lo em Lisboa, em 1956. O balanço se encontra no artigo “Salazar - O homem que não entrevistei” – texto reproduzido a seguir –, no qual Ruth incluiu digressão sobre a “qualidade de sua experiência” com o caudilho, com base em conceitos da filosofia kantiana, discutida à época com seus jovens colegas do movimento literário e cultural “revisionista”.

Ainda no período de sua educação básica, por volta de 1947, no liceu feminino Carolina Michaëlis, no Porto, Ruth foi obrigada a inscrever-se nas fileiras da Mocidade Portuguesa Feminina (MPF), assim como todas as suas colegas. Consta que Salazar decretou luto oficial de três dias após o suicídio de Adolf Hitler.

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Reproducão.

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Capa da revista Ala Arriba editada por Ruth, número de julho de 1956, com retrato de Salazar.

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SALAZAR – O HOMEM QUE NÃO ENTREVISTEI por Ruth Santos Revista Ala Arriba, 1957

A coisa vem de longe. Em todas as crianças precocemente desenvolvidas há sempre um desejo enorme de olhar de perto e destacar o ser que veem nos jornais, de quem se fala à mesa cotidianamente, como se ele nos pertencesse, de quem se discute a vida, sem jamais ter podido aproximar-se dele. Como ele me era tão inatingível, e eu era tão plebe, falava mal dele, como às vezes os zangados falam mal de Deus. Não me entendam mal. Não é a apologia dum político. Salazar era aquele cujo mundo eu queria sentir o cheiro da cozinha e ousar nos tapetes do seu quarto de trabalho. Era assim uma curiosidade infantil, tão despretensiosa como a admiração de minha amiga Suzana por Tarzan. Diziam-me que ele era rígido e eu irritava-me, porque eu era a preciosa esperta, apologista do mais fácil. E às vezes, tinha eu doze ou treze anos, permitia-me comícios polêmicos sobre o que o Sr. Dr. Oliveira Salazar não devia fazer – com tal ênfase e ressaibos a [maneira da] Padeira da Aljubarrota [“heroína” que em 1385 matou com pá sete castelhanos invasores escondidos em seu forno] – e ninguém me condenava a beber cicuta, ou então minha criancice doentia naufragava em considerações. E eu pensava que um dia assombraria o mundo e os laranjais da minha terra com um novo sistema metafísico, e defrontei-me com Platão. Então... vim para o Brasil. E aqui aprendi a falar de coisas, em infinito, de rosas e de angústia; aprendi a rir com as crianças e a meditar com o cão viúvo, a respeitar toda Maria, da casa e das ruas. E ainda aquela verdade que o homem parecia ter tão segura e austera me parecia um mito. E um dia, já crescidinha, metida a jornalista, cheguei a Lisboa. Eu e um retrato do rei Sihanouk do Camboja, que deveria ser entregue como uma mensagem cordial a Salazar. Apesar dos meus vinte e um anos pularem e gritarem luz e branco, fui sóbria e de preto. Aquela expectativa tornou-se medo, na sala de reposteiros corridos a repercutir o tic-tac do relógio de parede e a cheirar impessoalmente a desconhecido. Depois de alguns minutos ele entrou, afável e alto, a saudar pelo meu nome, como se já tivéssemos tomado uma refeição juntos. E a contrastar firmemente com o rebuscado escuro daquela sala de mau gosto, simples, o homem simples quase sorria, claro e verdadeiro. Foi assim que ele chegou até mim. Insensivelmente voltei às manhãs de inverno, quando eu trocava confidências com meu cão Joli; e não me pude realizar ali com Salazar. Ele estava sentado, numa poltrona, de pernas cruzadas, quase displicentemente, de tronco levemente inclinado, como se fora importante escutar-me, com um dos braços apoiado sobre a perna e as mãos apertadas em concha vigorosa, a reter qualquer coisa, e a fazer-me perguntas, sobre mim, sobre a menina, sobre as viagens, sobre Ala Arriba; interrogou-me sem parar, sem me dar tempo a revide, interessado, duma curiosidade simples, quase provinciana. Depois começou-me a dizer de Portugal, quase me fez um roteiro turístico, e parou no Algarve, a falar com ternura dos telhados brancos do casario, e das amendoeiras e do sol de fevereiro. Calmo, demonstrando uma vida regular, como o mais regular dos verbos. Passou quase uma hora e Salazar acompanhou-me à porta da rua. Com uma simplicidade extraordinária, como se ele contivesse a verdade absoluta e necessária. Tais verdades, disse Kant, são verdadeiras antes de experiência; não dependem se experiência [...] metade é verdade – Ruth Escobar

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Reproducão.

passada, presente ou futura. Por isso, são verdades absolutas e necessárias; é inconcebível que algum dia se possam tornar não verdadeiras. Mas donde tiramos esse característico do absoluto e de necessidade? Não de experiência, pois a experiência não nos fornece outra coisa além de sensações e fatos isolados, cuja sequência pode modificar-se no futuro. O caráter necessário destas verdades advém da estrutura de nosso espírito, do modo natural e inevitável com que nosso espírito humano não é uma cera passiva onde a experiência e as sensações gravam sua vontade absoluta e, além disso, caprichosa; nem é o nome abstrato das séries ou agrupamentos de estados mentais; é um órgão ativo que modela e condena as sensações de ideias, órgão que transmuta a caótica multiplicidade dos fatos de experiência em ordenada unidade de pensamento. Pedi ainda a Salazar que me deixasse entrar nas suas horas por alguns dias, trazê-lo às crianças e aos homens do povo e ajudá-los a conhecer melhor o homem que se deu à nação. Ele perguntou-me: “E para quê?” Atolei-me em silêncio e entrei no sol do jardim. Hoje eu sei melhor: queria tentar captar aquela verdade e fazer ainda um derradeiro esforço de voltar a reagir sem marcas, num mundo “antes da experiência”.

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A MAIS JOVEM EDITORA DO MUNDO

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m 1957, aos 19 anos de idade, a editar a “revista de atualidades luso-brasileiras” Ala Arriba, Ruth dialogava com todo o meio cultural paulista e com autoridades como o governador do Estado Jânio Quadros, conforme atesta um dos famosos “bilhetinhos” do futuro presidente da República. A partir de 1959, ela também dialogaria com os sucessores de Jânio, Carvalho Pinto e Adhemar de Barros, a fim de garantir a construção de seu Teatro Ruth Escobar, na rua dos Ingleses. Professor de português e cultor da língua, Jânio grafou em sua mensagem todas as vírgulas possíveis. Tanto Adhemar de Barros como Jânio Quadros tiveram direitos políticos cassados após o golpe civil-militar de 1964.

Acervo Ruth Escobar.

Transcrição: À revista “Ala Arriba”, e à sua diretora Ruth Santos, os votos de felicidades, com a satisfação que experimento, à obra de aproximação luso-brasileira que, ambas, possibilitam. 8. 1. 57, J. Quadros. [...] metade é verdade – Ruth Escobar

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A CONQUISTA DO CAIRO

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m outubro de 1956, após reportagem para sua revista Ala Arriba junto à comitiva presidencial portuguesa em visita a Moçambique, Ruth rumou diretamente para o Egito. Antes de se aventurar em cobertura da crise do Canal do Suez e entrevistar com exclusividade o presidente Gamal Abdel Nasser, a repórter viveu período turístico, a pesquisar mitologias para uma matéria sobre antigo matriarcado local.

Acervo Ruth Escobar.

À beira do Mediterrâneo, ao lado de um turista oriental, ela parece decidir se monta no dromedário.

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AMIGA NISSEI

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pós separar-se de seu primeiro marido, o francês Jean Alfred Sauveur, Ruth dividiu apartamento com a nissei Li-Kioko (1933-2009), colaboradora da revista Ala Arriba. Juntas cuidaram por cerca de dois anos de um filho adotivo, Juanito, trazido pela luso-brasileira de uma aldeia indígena do rio Araguaia. Kioko publicava mensalmente crônicas e poemas haicai ao lado do expediente da revista. Um de seus textos, do ano de 1957, intitulou-se, premonitoriamente, “Parada militar”. Minha terra tem asfaltos e pontas de cigarro, tem meninos de fábrica cheirando carvão e gordura, semeando sorrisos. Tem tantas coisas tristes e alegres esta invenção de prédios e ruas... Um dia sulcarei estradas nos concretos furados de janelas corrediças e pelos corredores atulhados de máquinas, extraindo seiva humana das gentes assustadas com a premência do pão cotidiano. [...] Mas minha terra é ainda céu de soluço e pinga água fria em campos de cogumelos envenenando a primavera autêntica.

Reproducão.

(Li-Kioko)

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PRECEITOS DE BOAL

Reproducão.

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uas páginas em número de maio de 1957 da revista Ala Arriba trouxeram entrevista com o dramaturgo Augusto Boal, então a contar 26 anos e ingressado no Teatro de Arena de São Paulo no ano anterior. O entrevistador era o jornalista, ator e dramaturgo Alvim Barbosa, secretário de Redação da publicação editada por Ruth Escobar. Com teorias formuladas após anos de estudos nos Estados Unidos, o dramaturgo, diretor e professor carioca também compareceu, em janeiro daquele 1957, a encontro, no auditório da Biblioteca Mário de Andrade, dedicado ao teatro paulista pelo “movimento revisionista”, que encontrou em Ruth e em seu companheiro Carlos Henrique de Escobar dois de seus maiores agitadores.

TRECHO DA ENTREVISTA DE ALA ARRIBA COM AUGUSTO BOAL NO TEATRO DE ARENA Augusto Boal - [...] Porque os símbolos dramáticos são sempre atuantes, sempre dinâmicos, não podem deixar de ter uma função educativa tremenda. A mente do espectador comum durante a representação de uma peça é quase sempre sintética, não analítica. Daí resulta que o espectador tende a aceitar o “exemplo” dado pelo personagem com o qual se identifica. Se, numa peça sobre política, o autor conclui que “no Brasil é assim mesmo, a gente tem é que ser desonesto”, essa mensagem será fatalmente recolhida pela maior parte da plateia e tenderá a desmoralizar cada vez mais a política brasileira. O espectador comum nunca refuta a mensagem que lhe é dada uma vez que se identifique com as personagens e com a trama. Alvim Barbosa - Existe um teatro brasileiro essencialmente definido? Boal - O teatro brasileiro ainda não apresenta, creio, contornos definidos. Existe o teatro psicológico, que teima em ser apenas psicológico sem raízes em condições existentes. E existe o teatro social, no qual a psicologia dos personagens é profunda, o que os torna falsos e sem vitalidade. Ariano Suassuna está trabalhando com um material riquíssimo. Vamos esperar as próximas peças dele. Vamos esperar por um dramaturgo do asfalto também. É aqui, no centro da cidade, no meio das ruas espremidas por edifícios sujos e altos, que as maiores crises acontecem: por que não transcrevê-las numa obra de arte? Alvim - Quais são as dificuldades preponderantes que um diretor e um autor teatral encontram em seu métier? Boal - A maior dificuldade, acredito, é que ambos, autor e diretor, devem lidar com uma plateia 14

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alienada, com uma crítica alienada, com condições, hábitos e expectativas alienados. No Brasil, uma peça é boa ou bem dirigida na medida em que se parece com alguma coisa que já saiu em revista norte-americana ou francesa. É preciso pesquisar as nossas condições sociais, as nossas características psicológicas por elas condicionadas, e com elas criar uma estética autenticamente brasileira, autenticamente paulista, carioca ou gaúcha. Alvim - Qual foi seu primeiro e verdadeiro êxito? Diga-me a impressão que lhe causou. Boal - Foi com minha estreia com Ratos e homens [de John Steinbeck, estreada em setembro de 1956 no Teatro de Arena, seis meses antes da entrevista]. Achei tudo extremamente agradável e espero repetir a experiência. Gosto do sucesso, não só pelo sucesso em si, que já é bom, como pela certeza que ele me dá de que estou atingindo um público cada vez maior. Como as peças que dirijo têm sempre um alto valor social, o fato de atingir um público vasto adquire uma importância maior ainda.

***

Augusto Boal também participou do movimento revisionista, de jovens literatos, aspirantes a filósofos e artistas, a circular na região da Biblioteca Mário de Andrade na segunda metade dos anos 1950. Em 21 de janeiro de 1957, aconteceu a “Segunda Noite de Revisão”. Com público de cerca de 300 pessoas a abarrotar o auditório da Mário, discutiu-se a Geração Literária de 1945 e o teatro brasileiro. O temário foi moldado em grande parte por Boal, “o excelente diretor da peça Marido magro, mulher chata (Teatro de Arena, janeiro de 1957), como informou página publicada na revista Ala Arriba naquele mês. Na pauta do debate “Condições de uma Dramaturgia Brasileira” firmaram-se, entre outras, as seguintes posições: - Toda a vida do teatro brasileiro se concentra no jogo mútuo e na luta entre o elemento popular e o erudito. - É o teatro a expressão mais genuína da consciência coletiva do povo, nasce com a épica e a lírica popular quando estas manifestam uma primitiva unidade, mais ou menos homogênea e indiferenciada, na qual a lírica popular confunde-se, às vezes, à épica. - O teatro é algo coletivo onde o público intervém mais, e o poeta menos. - Nosso teatro não está vivendo do povo, nem buscando seus elementos nas entranhas do povo, mas vive de si mesmo. Nesse clima, o autor e o público se fazem e se refazem, um ao outro, numa atmosfera confinada ao teatro, e a crítica bendiz esse enlace infecundo. - É necessário que o homem de teatro viva em primeiro lugar a vida dramática e traga à cena, depois, tradições e lendas arrancadas das entranhas do povo. - A matéria popular só se forma por força da virtude da fantasia do poeta dramático com raízes no povo. - Entendemos que a crítica diária é a que exige verdadeiramente vigor mental e sólida preparação, porque a outra, a chamada alta crítica, o ensaio, a que se faz sobre produções já julgadas por outros, é sempre a “crítica das críticas”, e é mais ou menos um trabalho de alquimia erudita.

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VIDA SOCIAL AGITADA

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Acervo Ruth Escobar.

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omo editora e repórter da revista Ala Arriba, Ruth circulou intensamente entre políticos, diplomatas, artistas, escritores e intelectuais entre 1953 e 1958. Nestas fotos a seguir, alguns de seus encontros com personalidades como o poeta Vinicius de Moraes (terceira imagem) e o presidente de Portugal, Francisco Craveiro Lopes (quarta imagem), ambos em 1956.

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MODERNISMO

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Reproducão.

ara ilustrar sua revista, Ruth encomendava desenhos e ilustrações aos artistas mais renomados dos anos 1950, como a capa do número 36, com reprodução de tela de Alfredo Volpi (Ala Arriba, número 36, de junho de 1957).

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REVISIONISMO

N

o início do texto, o colaborador Antonio Marcos de Carvalho sintetiza: “O movimento lançado com grande espalhafato no dia 22 de novembro último, denominado revisionismo por seus iniciadores, tem sido objeto das mais diferentes interpretações nos meios intelectuais brasileiros. Algumas pessoas comparam-no a uma espécie de rock and roll, uma farra de estudantes, algo que o tempo se encarregará de dissipar. Outras encaram-no com mais seriedade, como sendo o prelúdio literário de alguma crise política ou social próxima. Outras ainda supõem ver na noite de 22 uma manifestação comunista. A essa discrepância de opiniões o tempo mesmo se encarregará de dar respostas. [...] Ao contrário do que muitos pensam, o revisionismo não é uma manifestação utópica ou contraditória. Suas origens são lógicas e ele eclodiu no momento exato em que deveria surgir”.

Reproducão.

Página de Ala Arriba de dezembro de 1956, com o “Manifesto Revisionista”, em torno da literatura brasileira. [...] metade é verdade – Ruth Escobar

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Reproducão.

GEOMETRISMO

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lustração do artista Hércules Barsotti (1914-2010) para a primeira publicação da peça A morta (1927), de Oswald de Andrade, nas páginas da revista Vértice editada por Ruth, em dezembro de 1957.

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Reproducão.

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esenho de Fernando Lemos inspirado em caligramas japoneses e realizado especialmente para o suplemento especial “Ars Nova” da revista Ala Arriba, em 1957.

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CONCRETISMO

Reproducão.

Desenho do artista Hércules Barsotti feito especialmente para a capa do suplemento “Ars Nova”, em edição de Ala Arriba de 1956.

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m 1957, Ala Arriba evoluiu gradualmente para temas da arte concretista, em poesia, artes visuais e música, transformando-se na revista Vértice, publicada em edição única, no mês de dezembro. Porém, já em números anteriores da revista era abordada a poesia concreta de poetas como Augusto de Campos, Ferreira Gullar e outros. No artigo “Verbalização da poesia concreta”, o maestro e compositor Diogo Pacheco contesta a afirmação da “crítica especializada” de que o poema concreto seria “impossível de ser verbalizado”, expondo então as suas razões. Com a colaboração do pintor Willys de Castro em soluções para a enunciação verbal desses poemas, Pacheco apresentou o resultado em recital do Madrigal Ars Nova – também integrado por Ruth Escobar –, realizado em junho de 1957 no palco do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC).

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Reproducão.

Página de Ala Arriba de janeiro de 1957, com reprodução de parte do poema “salto”, de Augusto de Campos, utilizado no artigo como exemplo.

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Reproducão.

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Última seção de um poema do concretista boliviano-suíço Eugen Gomringer, inspirador dos irmãos Campos, em página de Ala Arriba de agosto de 1957.

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Reproducão.

Páginas de Ala Arriba com trecho do poema “Mar azul” (1957), de Ferreira Gullar, em espacialização proposta pelo artista Willys de Castro.

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CENTRO DAS ATENÇÕES

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Acervo Ruth Escobar.

imagem fotográfica ilustra a influência da produtora teatral junto aos meios culturais de São Paulo na segunda metade dos anos 1960. Intelectuais, escritores, teatrólogos e artistas reunidos no apartamento do sociólogo Mauro Rubens de Barros – colaborador da revista Ala Arriba e do movimento revisionista –, no Edifício Copan (SP). Ruth está no centro da foto, com Mauro Rubens à esquerda.

O sociólogo Mauro Rubens de Barros (de camisa branca): “Ruth dominava as atenções em qualquer ambiente”.

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BEIJO CENSURADO

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Apesp/Grupo 12G14 - Divisão de Diversões Públicas do Estado de São Paulo (Arquivo Miroel Silveira).

lém de classificação censória de “impropriedade para menores de 18 anos”, a peça Males da juventude, do autor austríaco Ferdinand Bruckner, produzida por Ruth no Teatro Maria Della Costa em 1961, recebeu advertência da Divisão de Diversões Públicas de São Paulo, devido a anúncio publicado no jornal O Estado de S. Paulo, com beijo lésbico entre a atriz-empresária e sua partner Ivanilde Alves. O censor Mário Russomano fiscalizava as apresentações e notificou o teatro por desobediência a cortes de falas e marcações. Ruth encomendara a tradução da obra ao colega de movimento revisionista Roberto Schwarz.

Apesp/Grupo 12G14 - Divisão de Diversões Públicas do Estado de São Paulo (Arquivo Miroel Silveira).

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Acervo Ruth Escobar.

caderno especial

Termo de advertência da Censura ao produtor de Males da juventude.

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Acervo Ruth Escobar.

caderno especial

Frontispício da tradução da peça, executada por Roberto Schwarz.

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CASAL TALISMÃ

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ilha de Antônio Austregésilo, médico e escritor membro da Academia Brasileira de Letras, Theresa Austregésilo era então esposa do diretor da peça, Jô Soares. Colecionava elogios da crítica carioca desde 1953, e jornais e revistas apelidavam o casal de Bolinha e Luluzinha, em alusão a personagens de histórias em quadrinhos. Theresa e Jô permaneceram casados entre 1959 e 1979, e ela se tornou amiga de Ruth quando passou a viver com o marido em São Paulo. Depois de participar de outra produção da luso-brasileira, Romeu e Julieta (1969), Theresinha, como era chamada por todos, recolheu-se para cuidar do filho do casal, Rafael. Em 1966 Theresa se tornou a atriz principal da comédia Os trinta milhões do americano, de Eugène Labiche, dirigida por Jô. A peça foi sucesso de crítica e de público e constituiu a mais significativa colaboração artística do casal.

Reprodução.

Fotorretrato da atriz Theresa Austregésilo (1933-2021), no programa de Os trinta milhões do americano, produzida por Ruth em seu teatro, com grande elenco.

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Acervo Juca de Oliveira.

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Jardel Filho, Raul Cortez e Juca de Oliveira em ensaios da montagem de Júlio César, de Shakespeare, com direção de Antunes Filho.

MALDIÇÃO SHAKESPEARIANA

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úlio César, de William Shakespeare, produção estreada em maio de 1966, se tornaria o maior fracasso da trajetória de Ruth, tanto de público como de crítica. O projeto foi encomendado à luso-brasileira pelo ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda, que também retraduziu a obra para o português. No entanto, a concepção da montagem e a acirrada rivalidade entre as estrelas do elenco geraram um espetáculo alongado, que provocava risos fora de hora, uma tragédia ridícula, em cartaz em São Paulo por apenas uma semana, além de três noites no Rio de Janeiro, com inúmeros acidentes físicos a envolver os intérpretes durante as apresentações. As histórias e os desencontros de Júlio César são detalhados em [...] metade é verdade – Ruth Escobar.

[...] metade é verdade – Ruth Escobar

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caderno especial

Reprodução.

MONSTRO CIFRADO

T

erceiro espetáculo do Grupo Opinião, apresentado no Teatro de Arena do Rio de Janeiro em 1966, Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come, de Ferreira Gullar e Oduvaldo Vianna Filho, foi assistido naquela cidade por Ruth, que se entusiasmou a ponto de convidar a produção para seu teatro em São Paulo, onde, a partir de outubro do mesmo ano, tornou-se grande sucesso de público e crítica. Dirigida por Gianni Ratto, a peça recebeu prêmios Governador do Estado de São Paulo para o texto de Ferreira Gullar e Oduvaldo Vianna Filho, bem como para o ator Jofre Soares. O elenco paulistano contou também com os irmãos Cláudio e Sérgio Mamberti, dois intérpretes diletos de Ruth. Os programas da peça eram ilustrados com desenho de um bicho monstruoso, à maneira de uma esfinge, em alusão à ditadura militar.

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caderno especial

E

Acervo Ruth Escobar.

m São Paulo, o programa com o desenho da fera não ficou pronto a tempo para a estreia, e um folheto foi distribuído à plateia, conforme ideia de Cleyde Yáconis. Na peça gráfica, repleta de expressões autoirônicas, o pai de Marília Pêra, o ator português Manuel Pêra (1894-1967), é descrito como “o Buster Keaton brasileiro”. O folheto anunciava, ainda, duas novas “divinas peças” do Opinião, no entanto jamais estreadas: O som e a fúria – introdução à Terceira Guerra Mundial e Mulher, vida e obra. Ex-colaborador de Ruth, porém tornado seu desafeto, Alberto D’Aversa, então crítico teatral do Diário de São Paulo, não poupou elogios ao espetáculo: “A peça tem a perigosa virtude de ser inteligente e de falar por metáfora (primeira condição, segundo [Jorge Luis] Borges, para qualquer poeticidade, também dramática), valendo-se de uma estrutura totalmente livre e, portanto, sem condicionamentos retóricos”. Em O Estado de S. Paulo, Décio de Almeida Prado também aplaudiu, exibindo bagagem erudita: “É um primeiro ato magistral, cômico e poético, ousado e terra-a-terra, que daria prazer, imaginamos, tanto a um ator espontaneamente popular, como o foi no século passado Xisto Baía, quanto a um escritor erudito, capaz de elaborar em termos modernos o folclore, como Mário de Andrade”.

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Acervo Apesp/SSP/Serviço Secreto do Deops-SP, 50-C-022, Pasta 19.

caderno especial

PROTESTO SOB A CHUVA

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rganizada em abril de 1968, em São Paulo, por Cacilda Becker, Ruth Escobar, Luís Travassos (presidente da União Nacional de Estudantes – UNE) e José Dirceu (presidente da União Estadual de Estudantes – UEE), a passeata paulistana em protesto pelo assassinato do estudante paraense Edson Luís de Lima Souto foi vigiada e fotografada sob chuva por agentes do Dops. Conforme fotos e dossiês mantidos no Arquivo Público do Estado de São Paulo (Apesp), os policiais identificaram os rostos com números. Na foto acima, além das atrizes Assunta Perez e Elizabeth Hartmann, colaboradoras de Ruth em diversas montagens teatrais, é apontado o vice-presidente da UNE, Edson Gonçalves Soares.

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Acervo Apesp/SSP/Serviço Secreto do Deops-SP, 50-C-022, Pasta 19.

caderno especial

Sob um “pirulito” com os dizeres “A ditadura esmaga o protesto do povo nas ruas do Rio de Janeiro”, fotógrafo anônimo do Dops flagrou o diretor José Celso Martinez Corrêa na passeata de luto por estudante assassinado, organizada pelas classes teatral e estudantil. [...] metade é verdade – Ruth Escobar traz galeria com fotos desse evento. [...] metade é verdade – Ruth Escobar

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caderno especial

GARAGEM DE VANGUARDA

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Acervo Ruth Escobar.

m 1968, Ruth comprou duas oficinas mecânicas na rua Treze de Maio, paralela à rua dos Ingleses, onde se localiza o teatro com o seu nome. Uniu as duas casas e adaptou-as para inaugurar ali o Teatro Treze de Maio, ainda naquele ano, com o sucesso de crítica Cemitério de automóveis, primeira montagem do diretor argentino Victor García no Brasil, baseada em textos de Fernando Arrabal. Após Cemitério, o teatro sediou espetáculos do chamado “teatro do desbunde”, a incluir outra produção de Ruth, Os monstros (1969), o triunfo Dzi Croquettes (1973), a estreia de Patrício Bisso no teatro, com Ladies na madrugada (1974), de Mauro Rasi, e uma temporada de show dos Secos & Molhados no auge de sua popularidade, em dezembro de 1973.

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Acervo Apesp/SSP/Serviço Secreto do Deops-SP, 50-C-022, Pasta 19. caderno especial

LINHA DE FRENTE

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o protesto organizado em junho de 1968 para a devolução do tradicional prêmio Saci, conferido pelo Estado de S. Paulo à classe teatral, mas repudiado por causa de um editorial do jornal em apoio à censura às artes, uma ilustre linha de frente marchou pela avenida da Consolação, do Teatro de Arena até a sede do diário. Um agente do Dops fotografou e numerou os personagens para identificá-los. Da esquerda para a direita: Norma Greco, Odete Lara, Augusto Boal, Fernanda Montenegro, Ruth Escobar, Cacilda Becker, Maria Alice Vergueiro e o dramaturgo Jorge Andrade.

[...] metade é verdade – Ruth Escobar

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ANJO INTERNACIONAL

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Acervo Ruth Escobar.

modelo de passarelas Dieter Bürgell frequentou almoços e festas em casa de Ruth Escobar no ano de 1970, quando foi galanteado por um hóspede célebre da produtora, o escritor e dramaturgo Jean Genet: “Eu não sabia que os anjos já andavam sobre a Terra!”, disparou o francês. Manequim do estilista Dener Pamplona de Abreu (autor da saída de praia da foto), o rapaz era levado aos encontros por seu amigo Sérgio Mamberti, que se recorda, ainda, de outras duas personalidades teatrais ocasionalmente apaixonadas pelo rapaz: Cacilda Becker e Jardel Filho. Anos depois, Dieter emigraria para a Europa.

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Acervo Ruth Escobar.

caderno especial

DOSSIÊ ALENTADO

N

o início de 1970, numa das detenções de Ruth para interrogatório no Dops, foi gerado um dossiê com dezenas de páginas, a colecionar prontuários anteriores da produtora teatral. No início do documento é revelado o primeiro endereço da atriz e de sua mãe em São Paulo, à rua Tuiuti, na zona leste da cidade, bem como a data de seu único casamento oficial, em 9 de outubro de 1953, com o engenheiro francês Jean Alfred Paul Sauver, que o documento grafa erroneamente “Sanveur”.

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caderno especial

DEPOIMENTOS ARRANCADOS

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Acervo Ruth Escobar.

uas primeiras páginas de denúncia lançada em 1972 pelo procurador militar do Rio de Janeiro à 2ª Auditoria do Exército contra integrantes da Resistência Armada Nacional (RAN) e de outras facções armadas. Entre outros, são arrolados o líder da RAN, Amadeu de Almeida Rocha, e o ex-companheiro da luso-brasileira, Carlos Henrique de Escobar Fagundes, também da RAN e cujos codinomes “Aníbal” e “Filósofo” são mencionados no documento. Os ativistas citados no inquérito permaneceram detidos no Batalhão de Guardas da Vila Militar, na zona oeste do Rio, por períodos variados. Entre eles o diretor teatral Nelson Rodrigues Filho, militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e caçula do dramaturgo de Vestido de noiva. Os depoimentos eram obtidos sob tortura, como denunciou Amadeu Rocha em sua “Carta de um torturado ao general Ernesto Geisel”, publicada no jornal Versus n. 23, em julho de 1978, que valeu ao tabloide o Prêmio Vladimir Herzog de jornalismo daquele ano.

Pág. 1 de facsímile de inquérito militar, reproduzido no dossiê “Brasil: Nunca Mais”. 40

[...] metade é verdade – Ruth Escobar


caderno especial

Acervo Ruth Escobar.

Pág. 5 do fac-símile citado, na qual é arrolado Carlos Henrique de Escobar, ex-companheiro de Ruth. [...] metade é verdade – Ruth Escobar

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Acervo Ruth Escobar.

Acervo Ruth Escobar.

caderno especial

Tanto o depoimento de Carlos de Escobar como o de Amadeu Rocha, tomados sob tortura pelo Exército com intervalo de alguns meses, reportam contatos havidos entre membros da RAN e Ruth Escobar. As duas narrativas coincidem em detalhes e também na explicação da não continuidade da colaboração da luso-brasileira com a luta armada, pois, a partir do início de 1973, ela se envolveria em produções teatrais em Portugal, com estadas intermitentes no Brasil. Os fatos são contados na biografia das Edições Sesc, bem como o episódio de liberação de Carlos Henrique do cárcere, por intervenção da atriz-empresária.

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Em cena de Missa leiga, o polêmico musical produzido em 1972 por Ruth, com composições de Cláudio Petraglia (1930-2021), cantam Maria Helena e Sérgio Ropperto (ao fundo), Oswaldo Mendes (à esquerda) e, como Corifeu (líder do coro), João Acaiabe (1944-2021).

INCÔMODO CORIFEU

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espetáculo musical Missa leiga gerou embate entre as alas conservadora e progressista da Igreja Católica brasileira, sem que nenhuma das duas se sagrasse afinal vencedora, pois não foi encenado na Igreja da Consolação (SP), apesar de ter sido ali ensaiado, e não obstante realizou temporadas de sucesso na capital e no interior paulistas, além de Lisboa, Porto (Portugal) e Luanda (Angola). Na seção intitulada “Sermão secular e leigo” do texto visionário de Chico de Assis (1933-2015), o Corifeu denuncia: “Nos acostumamos à morte e ao genocídio Como adquirimos vícios gerais como fumar e beber. Estamos resistentes e intoxicados a qualquer notícia. Esperamos, como num jogo, sermos personagens da tragédia. Aí, então, nos desesperamos e tomamos providências. Aí, então, gritamos, mas ninguém nos ouve Porque o ar está poluído de berros lancinantes Aí, então, tentamos explicar o mal do mundo.”

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“CUIDADO COM OS IDOS DE MARÇO!”

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Foto: Alvaro Machado.

uth sempre ironizou a data de seu aniversário, a 31 de março. Oferecia grandes almoços e festas e afirmava não apenas comemorar seu dia, mas ao mesmo tempo expurgar “a Revolução Redentora” (o golpe civil-militar de 1964). Entretanto, a data é marcada ainda por outra efeméride significativa. Em 1974, após lançar, em março, o I Festival Internacional de Teatro (FIT) com a celebrada Yerma, da companhia espanhola de Nuria Espert e direção de Victor García, a luso-brasileira marcou para o período de 29 a 31 do mesmo mês – a coincidir com os dez anos do golpe – a estreia do mais grandioso espetáculo das oito edições de seus festivais (entre 1974 e 1999), a ópera de doze horas de duração A vida e a época de Dave Clark, de Bob Wilson, inteiramente produzida por ela, com mais de cem intérpretes brasileiros e estrangeiros. A récita completa foi programada justamente para o dia 31, com duração das 19h às 7h da manhã do dia seguinte. No entanto, durante os ensaios, funcionários do Theatro Municipal de São Paulo passaram a especular que 31 de março seria uma “senha” para os artistas, que já “ocupavam dia e noite o teatro”, deflagrarem a “contrarrevolução” de derrubada da ditadura. Irônica, Ruth explicou que seria apenas para coincidir com seu aniversário. Instalou-se contenda política em esferas municipais, a resultar em proibição pela Prefeitura, depois revertida por vias judiciais, e em consequência o secretário de Educação e Cultura, Paulo Nathanael, pediu demissão do cargo. A estreia deu-se, finalmente, a 9 de abril de 1974.

Imagem de dança mística no terceiro ato da ópera de Bob Wilson.

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Reprodução.

caderno especial

NUDEZ PRÍSTINA

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a Bienal Internacional de Veneza, em outubro de 1974, o prestigiado curador Franco Quadri acolheu Autos sacramentais, produção teatral de Ruth em parceria com o diretor Victor García. A colagem de textos de Calderón de la Barca fora ensaiada antes na França, porém sem conseguir participar dos festivais teatrais daquele país naquele ano. O jornal comunista L’Unitá estampou no título de sua crítica, assinada pelo respeitado Arturo Lazzari: “Casta nudez do alvorecer do mundo”. Os nus foram alternativa explorada pelo encenador argentino para superar a avaria de sua máquina cenográfica, a simbolizar “o olho de Deus”, um diafragma de lâminas de metal que se abria e fechava sob os pés do elenco. Porém os episódios anteriores do espetáculo, no Festival de Xiraz, no Irã, e em Paris, levaram a parceria García-Escobar a um atrito sem retorno, e a linguagem de nudez somente se naturalizou para o elenco nas apresentações posteriores do espetáculo, em Lisboa e em Londres. [...] metade é verdade – Ruth Escobar

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Acervo Ruth Escobar.

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ntes do sucesso de crítica e de público obtido em Veneza, a nudez do elenco em ensaios causara escândalo entre as autoridades da cidade iraniana de Xiraz, obrigando o elenco a estrear ali com macacões brancos. Na imagem, Seme Lufti (em pé), Célia Helena, Sergio Britto, Vera Manhães (esposa de Antônio Pitanga, também presente na peça) e Leina Krespi (em pé) representam à frente dos altos-relevos das ruínas do Palácio de Darius I, em Persépolis, a 70 km de Xiraz.

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Acervo Ruth Escobar.

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Ensaio de Autos sacramentais em palácio de arquitetura muçulmana em Xiraz, com Seme Lufti e Leina Krespi à frente e Victor ao fundo, de camiseta branca, abraçado a um ator.

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COMPANHEIRO NÉVIO

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pós enfrentamentos com o diretor argentino Victor García, na Europa em 1974, ao longo do processo de ensaios de Autos sacramentais, Ruth pretendeu reformulação do modelo teatral que praticava. Assim, no ano seguinte, em meio a uma crise de saúde, a luso-brasileira ingressou em fase mais politizada. O jornalista Névio Roberto Gomes (1944-1989) tornou-se seu companheiro no início de 1976 e morou por cerca de dois anos em casa da produtora. Para a parceira e seus filhos, o ex-militante da Ala Vermelha – resistência armada derivada do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) – lia e explicava a teoria marxista segundo seus principais intérpretes.

Acervo Ruth Escobar.

Névio Roberto Gomes, ex-companheiro de Ruth.

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Foto: Elvira Alegre/Instituto Vladimir Herzog.

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Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel, Ivo Herzog e Clarice Herzog, durante o enterro do jornalista Vladimir Herzog, em 27 de outubro de 1975.

ATRÁS DAS CORTINAS

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migo de Ruth Escobar desde os tempos do “revisionismo cultural” dos jovens frequentadores da Biblioteca Mário de Andrade nos anos 1950, o jornalista e militante trotskista Hermínio Sacchetta (1909-1982) legou tradições combativas a seu filho Vladimir Sacchetta. Estudante da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e diretor cultural do Centro Acadêmico XI de Agosto, Vladimir promoveu, em outubro de 1975, junto a outros quatro grêmios universitários – de Poli, FEI, Instituto Mauá e GV –, uma “Semana Latino-americana” no amplo auditório da Fundação Getulio Vargas, na avenida Nove de Julho. O temário do evento abordava aspectos políticos e culturais da América do Sul, mas o verdadeiro intuito era mesmo agitação e propaganda contra as ditaduras militares de Brasil, Chile e Uruguai. Em 24 de outubro o evento foi aberto com uma palestra do uruguaio Eduardo Galeano, o autor de As veias abertas da América Latina (1971). Na noite seguinte, 25 de outubro, subiu ao palco o grupo musical plurinacional Tarancón, em show para plateia lotada. No entanto, enquanto soavam os primeiros números desse espetáculo, Ruth Escobar irrompeu nos bastidores, a solicitar aos organizadores da Semana permissão para anunciar ao público a morte do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do DOI-Codi, ocorrida naquele mesmo dia e informada como “suicídio”. As cortinas foram fechadas para a atriz falar “anonimamente”ao microfone, porém a maioria dos presentes reconhecia sua voz e seu sotaque luso e, durante o anúncio, permaneceu em silêncio absoluto. Então as cortinas se reabriram para o Tarancón entoar, a cappella, a canção “Parabien de la paloma”, do chileno Rolando Alarcón, cuja letra lamenta: “La paloma se murió, se murió con un disparo. [...] La paloma se murió, la mató un hombre cobarde, sabiendo que era inocente; castiguemos al culpable”. Galeano narrou o episódio no livro Dias e noites de amor e de guerra (1978). [...] metade é verdade – Ruth Escobar

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caderno especial

No dia seguinte a Semana Latino-americana apresentou, ainda, um esboço de debate entre o jornalista Ruy Mesquita, de O Estado de S. Paulo e do Jornal da Tarde, e o presidente do sindicato nacional de jornalistas do Peru, mas o evento acadêmico terminou antes do previsto, perante o clima de opressão e de revolta vigente na cidade. Marcou-se para 31 de outubro um ato ecumênico em homenagem a Vlado, na Catedral da Sé, e nos dias precedentes o comando do II Exército tentou cancelar o ato, enviando agentes para intimidar diretamente os principais celebrantes – o rabino Henry Sobel e o arcebispo dom Paulo Evaristo Arns –, porém sem sucesso. Com uma assistência de mais de 8 mil pessoas eletrizadas, dentro e fora do templo, o evento assinalaria o “início do fim” da ditadura civil-militar. O livro [...] metade é verdade narra outros lances da participação da atriz-empresária nesses episódios.

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Reprodução.

Capa do livro com os textos da 1ª Feira Brasileira, lançado pela Global.

“O QUE PENSA VOCÊ DO BRASIL HOJE?”

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Censura Federal determinou a impossibilidade, para Ruth, de encenar as peças que grandes autores brasileiros escreveram para sua Feira Brasileira de Opinião, em 1978, ideia inspirada na 1ª Feira Paulista de Opinião, dirigida por Augusto Boal dez anos antes e encenada no Teatro Ruth Escobar. Mais uma vez, as peças foram criadas sob o mote “O que pensa você do Brasil hoje?”. Porém, se em 68, meses antes da decretação do AI-5, a empresária ousara desafiar a censura e fizera estrear a Feira à revelia das autoridades, em “ato de desobediência civil” – ao lado de Cacilda Becker e de toda a classe teatral paulista –, daquela vez não mais havia clima para repetir a afronta. Ainda assim, ela fez publicar em livro as dramaturgias selecionadas, pelo selo Global, dirigido por um conterrâneo de origem lusitana, José Carlos Venâncio. Surpreendentemente, a edição trazia, após texto de apresentação de Ruth, um prefácio assinado pelo decano da crítica teatral paulista Décio de Almeida Prado. Ele se havia demitido dez anos antes da Redação de O Estado de S. Paulo, em resposta à devolução do prêmio Saci, protesto no qual Ruth foi uma das líderes. Décio imaginou um original “Prefácio em forma de peça – A censura e a autocensura, ou o que não se pode dizer, não se deve dizer”, com as “colaborações” de Castro Alves, Gonçalves Dias e José de Alencar, além de “participações especiais” do francês Victor Hugo e do espanhol Mariano José de Larra. Já em sua introdução para o livro, Ruth formulou frase contundente em torno da declaração “Prefiro cheiro de cavalo do que cheiro de povo”, proferida à época pelo escolhido pelo partido Arena para general-presidente, João Baptista Figueiredo. Ela escreveu: “A Feira Brasileira de Opinião ilumina aspectos específicos dos problemas sociais do Brasil Hoje e Agora e, por isso, acredito que carregue um cheiro de povo capaz de remexer todo o estrume da pirâmide de estrelas”. [...] metade é verdade – Ruth Escobar

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ESCORREGA EM BLUMENAU

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Acervo Ruth Escobar.

périplo nacional da “Caravana da Liberdade”, como ficou conhecida a trupe da Revista do Henfil, divulgou a campanha da anistia política. Com uma “equipe reduzida” de 21 pessoas em relação à produção de estreia acontecida em São Paulo, a turnê alcançou a região sul do país em 1979.

Sérgio Ropperto (1947-1989), Rafael de Carvalho (1918-1981) e Sônia Mamede (1936-1990), ex-vedete egressa do teatro de revista, brincam ao lado de Ruth, em parque infantil de Blumenau (SC), em 17 de abril de 1979, após terem se apresentado em Porto Alegre e Caxias do Sul (RS), e antes de viajarem a Florianópolis e Curitiba.

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POESIA SEM MORDAÇA

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em tudo, porém, era jogo de escorregar na longa temporada de A revista do Henfil. Em abril de 1979, durante a turnê nacional do espetáculo, quatro membros da trupe foram sequestrados pelo Dops na capital gaúcha, após agentes policiais encontrarem na caminhonete por eles tripulada noventa exemplares de Inventário de cicatrizes, do poeta e guerrilheiro Alex Polari, vendidos às plateias para arrecadar fundos para o Comitê Brasileiro pela Anistia. O livro alcançou quatro edições. Militante do MR-8, Polari foi preso aos 26 anos, em 1971, e solto somente em 1980, após a campanha vitoriosa pela anistia. Um dos poemas do livro: Moral e Cívica II

Reprodução.

Eu me lembro usava calças curtas e ia ver as paradas radiante de alegria. Depois o tempo passou eu caí em maio mas em setembro tava pelaí por esses quartéis onde sempre havia solenidades cívicas e o cara que me tinha torturado horas antes, o cara que me tinha dependurado no pau-de-arara injetado éter no meu saco me enchido de porrada e rodado prazerosamente a manivela do choque tava lá – o filho da puta segurando uma bandeira e um monte de crianças, emocionado feito o diabo com o hino nacional.

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Reprodução.

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TODAS AS MULHERES DO MUNDO

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om Regina Duarte como “garota-propaganda” do evento em revistas da copromotora Editora Abril, o 1º Festival Nacional das Mulheres nas Artes, produzido por Ruth em 1982, logrou reunir em São Paulo artistas de todas as regiões do país e de todas as áreas de criação, além de escritoras como Cora Coralina e Adélia Prado e convidadas internacionais, como a cantora argentina Mercedes Sosa, a atriz francesa Annie Girardot e a escritora portuguesa Natália Correia, entre outras.

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Ladeada pela jogadora de futebol Rose do Rio (esq.), pela editora de revistas Fátima Ali e pela cantora Mercedes Sosa, Ruth lê trecho do livro Novas cartas portuguesas.

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fachada do Teatro Ruth Escobar, na rua dos Ingleses, durante a realização do evento feminino. A maior faixa proclama: “A democracia é mulher”. Concomitantemente, se encontravam em cartaz em salas do teatro espetáculos, em carreira “regular”: Jogo de cintura, de Marilena Ansaldi (sala Galpão), Antes que seja tarde, do grupo Dança Jornal de Salvador, e o infantojuvenil A busca do cometa, texto de João das Neves dirigido por Luiz Carlos Gomes.

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NA ILHA CARIBENHA

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m 1981, Ruth viajou com o jornalista David Lindenbaum para Cuba, para participarem do I Encuentro de los Intelectuales por la Soberanía de los Pueblos de Nuestra América, junto a dezenas de brasileiros convidados. A dupla entrevistou então o escritor colombiano Gabriel García Márquez e Fidel Castro, entre outras personalidades. A íntegra da conversa com o comandante foi publicada na edição 640 de O Pasquim, no mesmo ano. A matéria registra um lapso de linguagem de Ruth ao formular pergunta ao cubano. Ela diz: “Comandante, como mulher, como o senhor sente a participação da mulher no processo da Revolução?”. Fidel indaga: “Como mulher quem? Eu ou você?”, e a atriz se corrige: “OK. Como vê a participação da mulher no processo de revolução e independência de nossa América?”. A resposta de Castro inclui a seguinte afirmação: “[...] E Oxalá que muitos países descubram a mulher, porque creio que isso é um grande privilégio da humanidade”, e assim o semanário carioca forjou o título “Fidel descobre a mulher”, ilustrando a página com seu rosto barbado sobre o púbis de uma silhueta feminina.

Reprodução.

Fac-símile de página de O Pasquim com entrevista de Fidel Castro a Ruth Escobar.

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AUTODIVULGAÇÃO

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Reprodução.

m 1984, a campanha das Diretas Já foi destaque do número-piloto do jornal Ruthilante (Ano 1, número 0), que a deputada estadual pelo PMDB fez imprimir ao longo dos quatro anos de seu primeiro mandato legislativo. Na charge da capa da publicação, o cartunista Paulo Caruso retratou Escobar como a Estátua da Liberdade.

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O ator Rofran Fernandes.

COMEMORAÇÃO IMPRESSA

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ofran Fernandes, que viveu o Bispo em O balcão – entre outros papéis em produções de Ruth –, também possuía formação em biblioteconomia, e assim tornou-se o autor do livro Teatro Ruth Escobar: 20 anos de resistência, lançado pela Global Editora em 1985. No prefácio da obra, o crítico Sábato Magaldi notou: “O livro dá a conhecer, de forma sistemática, as realizações da atriz-empresária Ruth Escobar, cuja importância fica muito bem assinalada; e utiliza a técnica documental, em que a crítica e o gosto se subordinam à verdade dos fatos. [...] Juntando a condição de ator (e de encenador) à de bibliotecário, [Rofran Fernandes] tem vivência íntima do palco e o rigor científico exigido em publicações desta natureza. [...] O resultado seria, forçosamente, o atingido – a mais ampla documentação feita de um conjunto, no Brasil”.

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MESA ESTRELADA

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previsão da chamada de capa de Ruthilante se cumpriu. Em abril de 1985, durante abrangente seminário sobre legislação cultural organizado pela produtora teatral e deputada pelo PMDB em São Paulo, o então senador Fernando Henrique Cardoso discursa, ladeado à direita por Gilberto Gil, Ruth e Claudio Willer.

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PRESENÇA MARCANTE

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esde meados da década de 1960, o “melhor amigo” Raul Cortez acompanhou de perto tanto a vida artística como a trajetória política de Ruth. Em 1986, por ela conduzido, o ator participou da campanha para governador de estado de Antônio Ermírio de Moraes, pelo PDT. Em 1988, a atriz ofereceu festa de aniversário de 56 anos para Raul em sua casa do bairro do Pacaembu, em São Paulo.

Acervo Ruth Escobar.

Raul: “Eu vejo nela uma luz laranja, de fogo”.

Cortez, engajado ao candidato do PDT em eleições para o governo do estado de São Paulo.

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PRIMEIRA EDIÇÃO

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Reprodução.

ara a capa da primeira edição de sua autobiografia, publicada em 1987 pela Editora Guanabara, Ruth encomendou pintura ao conterrâneo luso Júlio Pomar 1926-2018). O livro conheceria ainda outras três reimpressões, com outras capas, ilustradas com fotorretratos seus de autoria de Vânia Toledo. A prova de capa reproduzida nesta página traz anotação de Ruth dirigida ao editor Pedro Paulo Senna Madureira: “Este que vale”.

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CAMPANHA VITORIOSA

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o Congresso Nacional, em Brasília, 1988, a então deputada estadual Ruth e integrantes do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) apresentam, a representante do Senado, a brochura “Mulher na Constituinte”, com programa em defesa de ampliação da participação da mulher nos novos rumos políticos do país.

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Acervo Ruth Escobar.

ECOLÓGICAS

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Acervo Ruth Escobar.

jornalista e colaboradora na divulgação dos festivais de teatro Mirna Grzich (1951-2018), Ruth e Shirley MacLaine em 1992, durante visita da estrela norte-americana ao Brasil para participar da ECO-92, no Rio de Janeiro.

NOITES ESTRELADAS

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lagrante de uma das muitas recepções em casa da atriz-empresária na segunda metade dos anos 1990, reunindo artistas amigos como Tônia Carrero e Jô Soares, além de empresários e políticos.

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Foto: Estevam Avellar/Acervo Crystal Cinematográfica.

DESPEDIDA NAS TELAS

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om a diretora paulista Ana Carolina, Ruth realizou um de seus derradeiros trabalhos como atriz, em 2002, interpretando uma abadessa no filme Gregório de Mattos. No média-metragem a luso-brasileira contracenou com o ator protagonista Waly Salomão (1943-2003).

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SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor Regional Danilo Santos de Miranda Conselho Editorial Ivan Giannini Joel Naimayer Padula Luiz Deoclécio Massaro Galina Sérgio José Battistelli Edições Sesc São Paulo Gerente Iã Paulo Ribeiro Gerente adjunta Isabel M. M. Alexandre Coordenação editorial Cristianne Lameirinha, Clívia Ramiro, Francis Manzoni Produção editorial Maria Elaine Andreoti Coordenação gráfica Katia Verissimo Produção gráfica Fabio Pinotti Coordenação de comunicação Bruna Zarnoviec Daniel


© Alvaro Machado, 2021 © Edições Sesc São Paulo, 2021 Todos os direitos reservados Preparação e revisão Maria Elaine Andreoti Projeto gráfico e diagramação Fabio Pinotti Imagem da capa (caderno) detalhe de obra de Júlio Pomar Imagem da capa (livro) foto de cena de Revista do Henfil (1978), atribuída a Roberto Musauer, Acervo Ruth Escobar. Agradecemos a gentileza daqueles que nos cederam gratuitamente fotos e textos para a composição deste caderno: Ana Carolina, Augusto de Campos, Elvira Alegre e Instituto Vladimir Herzog, Maria Amélia Mello e herdeiros de Ferreira Gullar, Paula Marques e Rodrigo Lemos. Todos os esforços foram realizados com intuito de obtermos a permissão dos detentores dos direitos autorais de imagens e textos que compõem este caderno. Caso recebamos informações complementares, elas serão devidamente creditadas futuramente.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M5644 Metade é verdade: Ruth Escobar: caderno especial / Alvaro Machado. –

São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2021. –

68 p. il.: fotografias, cartazes, reproduções de documentos.

ISBN 978-65-86111-54-5

1. Teatro. 2. Teatro brasileiro. 3. Ruth Escobar. 4. Biografia. 5. Acervo documental.

6. Acervo Ruth Escobar. I. Título. II. Machado, Alvaro.

Edições Sesc São Paulo Rua Serra da Bocaina, 570 – 11º andar 03174-000 – São Paulo SP Brasil Tel.: 55 11 2607-9400 edicoes@edicoes.sescsp.org.br sescsp.org.br/edicoes /edicoessescsp

CDD 792.981


Fonte Berthold Akzidens e Fournier Papel Pólen Bold 90 g/m2 Data Julho de 2021


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