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Espiritismo
o f im de um capítulo
A dout rina esp írita não enca a morte como o fim da vida ra
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Texto e diagramação: Caroline Silveira c.silveira794@gmail.com Fotos: Bibiano dos Santos e
Leonardo Caberlon
bibiano_santos@live.com leocaxias2009@gmail.com
Segundo o espiritismo, a morte não é o fim da vida, mas sim o desprendimento do corpo físico. O que morre é a matéria, não o espírito, que vai a outro plano e retorna à Terra após um tempo. A desencarnação não é a mesma para todos. A causa da morte e a carga emocional vivida enquanto habitava a matéria definem como o espírito irá se despedir desta vida.
Para quem segue a doutrina, acredita-se que, quando o espírito parte para o plano espiritual, ele colhe os frutos da vida que desencarnou, e assim, aplica- -se a Lei do Progresso. Se fez o bem, poderá progredir, se fez o mal, terá que
arcar com as consequências. Segundo o espiritismo, há um plano traçado para a vida de cada um antes da reencarnação, mas a forma de agir perante os acontecimentos é o que importa para o bem espiritual.
O número de encarnações de um espírito é incerto, depende do quanto ele consegue progredir a cada nova encarnação. No momento em que se adquire um alto grau de amor e sabedoria, vive-se exclusivamente no mundo espiritual.
Fé e medicina
Há quem acredite que medicina e fé são duas práticas que não podem se relacionar. No entanto, a própria ciência vem contradizendo essa afirmação. Segundo Carlos Durgante, médico geriatra, a fé pode auxiliar a trazer bem estar às pessoas. “Um equilíbrio emocional melhor, com menos ansiedade, estimula o autocuidado. As religiões, os credos, a fé íntima podem ajudar muito na promoção da saúde”, afirma o médico, que também é autor do livro Fé na Ciência.
Os resultados das práticas religiosas podem ser vistos em exames e tratamentos médicos. “Hoje tem estudos que pesquisam, através de exames de sangue, a quantidade de leucinas ou cortisol, que são marcadores de estresse e ansiedade. Na própria resposta do paciente é possível perceber isso. Quem tem um envolvimento religioso tem também um pouco mais de paz, e isso faz com que a pessoa tenha uma reação de aceitação diante de uma adversidade, lide melhor com o estresse”, complementa Durgante.
Em 2015, uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), intitulada “Avaliação da Prática de Terapia Complementar Espiritual/Religiosa em Saúde Mental”, revelou que os benefícios de práticas religiosas (de qualquer crença) e de bem-estar auxiliam inclusive pessoas saudáveis. O artigo, produzido por Juliane Gonçalves, Giancarlo Lucchetti, Frederico Leão, Paulo Menezes e Homero Vallada, analisou estudos que já haviam sido publicados em busca de semelhanças nos resultados que foram apresentados.
A morte pelo espiritismo
O espiritismo busca o cuidado do espírito e do corpo para uma melhor experiência no plano terrestre. “A quantidade de pessoas que vai em um consultório psiquiátrico com sintomas de depressão, sai apenas com a receita de um antidepressivo e apresenta melhora sem buscar um tratamento psicológico é menos de 50%”, diz Durgante. “Por mais que a medicina tenha avançado, ela não necessariamente trouxe mais bem-estar, felicidade e plenitude. A grande epidemia hoje é a doença mental”, completa Durgante.
Após a morte, segundo o espiritismo, os espíritos mantêm a consciência de tudo que viveram. Logo antes da reencarnação, no entanto, são submetidos à Lei do Esquecimento, que está presente no Livro dos Espíritos, obra escrita por Allan Kardec que traz os princípios da doutrina espírita. Lembrar o que aconteceu em vidas passadas é prejudicial para o progresso e pode causar sofrimentos desnecessários. “A cada nova existência o homem tem mais inteligência e pode melhor distinguir o bem e o mal. Onde estaria o seu mérito se ele se recordasse de todo o passado?”, diz o livro.
Apesar de a doutrina espírita achar desnecessário o conhecimento sobre o que foi vivido em outras encarnações, algumas pessoas buscam a regressão como forma de terapia, pois fobias e comportamentos sem explicação nesta encarnação podem encontrar sua origem em vidas passadas, como acreditam os psicoterapeutas reencarnacionistas. “A regressão é um método que nos auxilia a identificar os papéis que exercemos
Maria Lúcia Badejo
Jornalista nesta encarnação”, explica a psicoterapeuta reencarnacionista Sabrina Müller.
A doutrina espírita prega que a vida espiritual é a verdadeira. Os momentos vividos pelo espírito no plano terrestre são experiências que auxiliam no progresso espiritual. “A morte, para os espíritas, é a volta do espírito à sua condição original”, diz Maria Lúcia Badejo, jornalista e pesquisadora sobre o assunto. A aceitação da morte é mais simples para quem segue e acredita nos preceitos da doutrina.
O que é levado deste plano
O desprendimento do corpo físico para os espíritas, no entanto, também pode ser doloroso. Durante a encarnação, as pessoas criam laços afetivos com outros, e precisar dizer adeus não é uma tarefa fácil. Todos os momentos vividos e pessoas com as quais o espírito se relacionou serão apagados de sua lembrança antes da próxima encarnação.
As reencarnações trazem oportunidades de aprendizado para que o espírito possa evoluir. É possível, em uma nova encarnação, consertar um erro que foi feito em alguma vida passada, sem lembrar dele. O progresso espiritual acontecerá a partir da decisão tomada diante dos acontecimentos. “Se eu matei várias pessoas em vidas passadas com uma facada no coração, é possível que eu reencarne com alguma doença cardíaca, mas talvez eu volte e me torne um médico cardiologista, que auxilia quem tem problemas cardíacos, e é assim que será aplicada a Lei do Progresso no meu espírito”, explica Maria Lúcia, que costuma palestrar sobre a questão da morte a partir do ponto de vista do espiritismo.
A lei da ação e reação é utilizada também no espiritismo. Todas as escolhas e ações que são realizadas em algum momento da vida (seja no plano terrestre, seja no plano espiritual) trazem junto consequências que podem ser boas ou ruins para a evolução espiritual. Cada encarnação é um pedaço da história da vida de um espírito. A morte do corpo físico é apenas o encerramento de um capítulo.