Revista Escada - Edição 49

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ENTREVISTA De olho no futuro: Sergio Herrero Moraes Novo presidente do Sinepe/ PR fala sobre os planos para o mandato e sua experiência de mais de uma década na entidade

Página 18 Ruptura e transição escolar: do Ensino Fundamental para o Médio Dificuldade de adaptação numa nova etapa de ensino pode resultar em maior evasão escolar

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Número 49 | Ano 11 dez 2022 Publicação Sinepe/PR

A REVISTA DAS ESCOLAS PARTICULARES DO PARANÁ
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uma geração que já nasce conectada, a educação
trabalhar em parceria
para encontrar
uso das tecnologias Geração Alpha: pensamento ágil ou mentalidade impaciente?
Em
deve
com a família
o equilíbrio no

Índice

REVISTA ESCADA. Publicação Periódica de caráter informativo com circulação dirigida e gratuita. Desenvolvida para o Sinepe/PR. Conteúdo e Comercialização V3COM

Projeto gráfico e Ilustrações V3COM

Diagramação e arte-final Marcelo Winck | V3COM

Jornalista Responsável Ari Lemos | MTB 5954

Jornalistas Rafaela Foggiato Camila Acordi Sophia Cabral Críticas e Sugestões ari@v3com.com.br

Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, a opinião desta revista.

Conselho editorial Carmem Murara Everton Drohomeretski Fatima Chueire Hollanda Marcio Mocellin Haroldo Andriguetto Júnior Adriana Veríssimo Karam Koleski

GERAÇÃO

EDITORIAL

Em uma geração que já nasce conectada, a educação deve trabalhar em parceria com a família para encontrar o equilíbrio no uso das tecnologias

ENTREVISTA DO MÊS

Retomando o encanto Jovens se veem desestimulados com a carreira na educação; como mudar esse cenário?

Ruptura e transição escolar: do Ensino Fundamental para o Médio Dificuldade de adaptação numa nova etapa de ensino pode resultar em maior evasão escolar

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Uma noite especial Filósofo Mario Sergio Cortella foi o convidado de evento do Sinepe/PR em homenagem aos professores

De olho no futuro: Sergio Herrero Moraes Novo presidente do Sinepe/PR fala sobre os planos para o mandato e sua experiência de mais de uma década na entidade

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ALPHA: PENSAMENTO ÁGIL OU MENTALIDADE IMPACIENTE? 08

Caros leitores,

Eis que chegamos à última edição da nossa Revista Escada do ano e a minha primeira como presidente dessa entidade da qual faço parte, com muito orgulho, há mais de uma década. Não temos dúvidas de que 2022 foi extremamente desafiador, no qual retornamos totalmente à presencialidade da educação, após o difícil momento da pandemia de Covid-19, e tivemos que correr atrás dos eventuais prejuízos que resultaram do período de isolamento. Agora, é hora de olhar para o futuro.

À reportagem, falei sobre os planos para a minha gestão e como minha experiência de 12 anos no Sinepe/PR, onde antes ocupei os cargos de conselheiro, diretor administrativo e vice-presidente, irão me ajudar nessa empreitada. É com muito orgulho que assumo a presidência da entidade, que foi crucial para que as instituições de ensino privadas do Paraná pudessem atravessar os últimos dois anos da forma mais tranquila possível.

Além disso, trazemos aos leitores os destaques da mágica noite do dia 13 de outubro, quando nos reunimos para celebrar o Dia do Professor com uma inspiradora palestra do filósofo, educador e escritor Mario Sergio Cortella, que pontuou que ser professor é “fazer com que a vida se eleve, com

que as pessoas tenham esperança”. Segundo ele, ensinar é acreditar no inacreditável, é saber que as pessoas foram feitas para serem felizes, é ter esperança na busca por um futuro melhor.

Neste número, conversamos também com a professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Katia Ethiénne dos Santos a respeito de como as escolas podem acender nos estudantes o encanto pela docência, pois dados mostram que cada vez menos jovens brasileiros desejam se tornar educadores. Já a pedagoga Kerolin de Lima explicou qual deve ser o papel da educação no contexto de ampla conectividade e velocidade de informações que vivemos, especialmente junto às crianças da chamada Geração Alpha, aquelas que nasceram a partir de 2010. Frise-se, ainda, que para muitos alunos o fim de ano antecede um momento bastante marcante na trajetória escolar: a transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio. Por isso, discutimos estratégias para que esse processo seja suave e proveitoso para os estudantes. Aos professores, cabe compreender que a adolescência é uma fase decisiva da vida e cheia de questionamentos.

A todos, desejo uma excelente leitura e boas festas. Que em 2023 possamos seguir juntos e fortes. Feliz Natal e um ótimo ano novo!

EDITORIAL
Sergio Herrero Moraes Presidente

SINEPE/PR

Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná www.sinepepr.org.br | www.facebook.com/sinepepr

CONSELHO DIRETOR - GESTÃO 2022/2024

DIRETORIA EXECUTIVA

Presidente Sergio Herrero Moraes

1.º Vice-Presidente Haroldo Andriguetto Júnior

2.º Vice-Presidente Celso Maurício Hartmann

Diretor Administrativo Everton Drohomeretski

Diretor Econômico/Financeiro Cristiano Vinícius Frizon

Diretor de Legislação e Normas Nilson Izaias Pegorini

Diretor de Planejamento Carmem Regina Murara

DIRETORIA DE ENSINO

Diretor de Ensino Superior Adriana Veríssimo Karam Koleski

Diretor de Ensino Médio Felipe Mazzoni Pierzynski

Diretor de Ensino Fundamental Ir. Maria Zorzi

Diretor de Ensino da Ed. Infantil Dorojara da Silva Ribas

Diretor de Ensino dos Cursos Livres Valdecir Cavalheiro

Diretor de Ensino dos Cursos de Idiomas Magdal Justino Frigotto

Diretor de Marketing Rogério Pedrozo Mainardes

Diretor de Ensino da Educação Profissional

Técnica de Nível Médio Carolina Caramico Berg

Diretor dos Cursos Pré-Vestibulares Fernando Luiz Fruet Ribeiro

Diretor da EaD Dinamara Pereira Machado

Diretor de Sistemas de Ensino Acedriana Vicente Vogel Diretor de Ensino de Pós-Graduação Ana Lucia Cardoso Ribeiro

CONSELHEIROS

1.º Conselheiro Fábio Hauagge do Prado

2.º Conselheiro José Mário de Jesus

3.º Conselheiro Angela Silvana Basso

4.º Conselheiro Raquel Adriano Momm Maciel de Camargo

5.º Conselheiro Durval Antunes Filho

6.º Conselheiro Leonora Maria Josefina Mongelós Rossato Pucci

7.º Conselheiro Artur Gustavo Rial

8.º Conselheiro Newton Andrade da Silva Júnior

9.º Conselheiro Josiane Domingas Bertoja

10.º Conselheiro Ricardo de Albuquerque Todeschini

12.º Conselheiro Guilherme Isensee Andrade

13.º Conselheiro Osni Mongruel Junior

14.º Conselheiro Fabrício Pretto Guerra

15.º Conselheiro Marcelo Ivan Melek

16.º Conselheiro Jose Luiz Coimbra Drummond

17.º Conselheiro Daniela Ferreira Correa

CONSELHO FISCAL

Efetivos Suplentes

Dilceméri Padilha de Liz Marta Regina Andre

Marcelo Pereira da Cruz Gisele Mantovani Pinheiro Luiz Antônio Michaliszyn Filho Charles Pereira Lustosa Santos

DELEGADOS

REPRESENTANTES - FENEP

Ademar Batista Pereira Sergio Herrero Moraes

DIRETORIAS REGIONAIS

REGIONAL CAMPOS GERAIS

Diretor Presidente - Osni Mongruel Junior Diretor de Ensino Superior - Patrício Vasconcelos e José Sebastião Fagundes Cunha Filho

Diretor de Ensino da Educação Básica - Rosângela Graboski e Valquíria Koehler de Oliveira

Diretor de Ensino da Educação Infantil - Bianca Von Holleben Pereira e Carla Moresco

Diretor de Ensino dos Cursos Livres/IdiomasPaul Chaves Watkins

REGIONAL CATARATAS

Diretor Presidente - Artur Gustavo Rial

Diretor de Ensino Superior - Fábio Hauagge do Prado Diretora de Ensino da Educação Básica - Edite Larssen Diretor de Ensino da Educação Infantil - Ana Paula Krefta

Diretor de Ensino dos Cursos Livres/IdiomasLucimar Neis

REGIONAL CENTRAL

Diretor Presidente - Dilceméri Padilha de Liz Diretor de Ensino Superior - Roberto Sene Diretor de Ensino da Educação Básica - Cristiane Siqueira de Macedo e Juelina Marcondes Simão Diretor de Ensino da Educação Infantil - Ir. Roselha Vandersen e Ir. Sirlene N. Costa

Diretor de Ensino dos Cursos Livres/IdiomasMarcos Aurélio Lemos de Mattos

REGIONAL SUDOESTE

Diretor Presidente - Fabricio Pretto Guerra

Diretor de Ensino Superior - Ivone Maria Pretto Guerra

Diretor de Ensino da Educação Básica - Velamar Cargnin

Diretor de Ensino da Educação Infantil - Márcia Fornazari Abasto

Diretor de Ensino dos Cursos Livres/IdiomasVanessa Pretto Guerra Stefani

REGIONAL OESTE

Diretora Presidente - Marta Regina Andre

Diretora de Educação Infantil - Sônia Regina Spengler Xavier

Diretor de Educação Básica - Valmir Gomes

Diretor de Ensino Superior - Gelson Luiz Uecker Cursos Livres/idiomas - Denise Veronese

REGIONAL LITORAL

Diretor Presidente - Luiz Antonio Michaliszyn Filho

Diretor de Ensino Superior - Ivan de Medeiros Petry Maciel

Diretor de Ensino da Educação - Básica (Ensino Fundamental)- Selma Alves Ferreira

Diretor de Ensino da Educação Básica (Ensino Médio) - Mirian da Silva Ferreira Alves

Diretor de Ensino da Educação Infantil - Lilian R. M. Borba

Diretor de Ensino dos Cursos Livres/IdiomasLiliane C. Alberton Silva

EXPEDIENTE

Retomando o encanto

Jovens se veem desestimulados com a carreira na educação; como mudar esse cenário?
Foto: unsplash.com
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A educação básica brasileira pode enfrentar um déficit de 235 mil professores até 2040, aponta estudo do Instituto Semesp, do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior. O cenário é de jovens que não desejam seguir a carreira na docência, mesmo a profissão sendo uma das mais importantes para o desenvolvimento da sociedade.

Para Katia Ethiénne dos Santos, pedagoga e docente da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), essa desmotivação tem origem na desvalorização da figura do professor.

“Eu vivi na pele essa mudança. Não é necessariamente uma desvalorização em relação ao salário, mas do papel do professor, da posição do educador frente à comunidade. O docente tinha reconhecimento, uma posição de responsabilidade, era o detentor de todo o conhecimento. Com a tecnologia impulsionada, contudo, ele deixou de ser a única fonte de sabedoria, já que uma pesquisa na Internet consegue sanar muitas dúvidas”, afirma Katia.

A especialista ainda aponta que se adaptar às novas tecnologias é vital para que o professor tenha a mesma bagagem e consiga se comunicar da mesma forma que seus alunos. Afinal, assim como o mundo se transformou, o perfil do estudante também mudou. Logo, o processo de ensino e aprendizagem também deve se transformar. Ainda, a pedagoga acrescenta que o novo professor precisa compreender o estilo de vida “onlife”, em que as pessoas estão conectadas o tempo todo. “Cada vez mais criatividade, flexibilidade

e comunicação chegam à sala de aula. A interação e o desenvolvimento de habilidades como liderança e empatia são características do novo estudante e do novo professor. Por isso, o próprio planejamento escolar precisa ser flexível para se adaptar à turma. Temos perfis muito diferentes e precisamos abraçar todos da melhor forma possível”, diz a docente da PUCPR.

A educação precisa se manter conectada com a realidade, ou seja, conectada com a Internet e seus derivados. É a chamada “educação 5.0”, na qual o uso das novas tecnologias permite um ensino mais humano, focado no lado socioemocional dos estudantes para beneficiar a vida em sociedade e seu futuro. Ademais, para manter a educação valorizada entre os potenciais futuros docentes, é importante que se tenha uma educação continuada.

“É extremamente importante que nós, professores, continuemos a ser alunos também. Não podemos deixar de buscar novas informações, novas especializações e novos futuros, não só em prol dos nossos alunos, mas para nossas carreiras como profissionais. Impulsionamos nossa valorização ao nos especializarmos. Sempre falam que ser professor é ter um coração bom, ter o dom da docência, como se nós não pudéssemos pleitear um bom salário”, pontua a especialista. Com professores motivados e que conversem na mesma língua que seus alunos, os estudantes podem se inspirar e, desde pequenos, ver a sala de aula como palco para a futura profissão.

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Geração Alpha: pensamento ágil ou mentalidade impaciente?

Em uma geração que já nasce conectada, a educação deve trabalhar em parceria com a família para encontrar o equilíbrio no uso das tecnologias

Num mundo onde termos como metaverso, cibersegurança, digitalização e Inteligência Artificial são cada vez mais comuns, emerge uma nova geração que terá ainda mais familiaridade com esse vocabulário: a Geração Alpha. Formada por crianças nascidas a partir de 2010, sendo a primeira geração nascida integralmente no século 21, o grupo tem um raciocínio voltado à lógica digital e com uma mentalidade mais ágil. Mas qual é o papel da educação nesse contexto de ampla conectividade e velocidade de informações?

“A educação deve ser pensada do agora para o futuro”, afirma a pedagoga Kerolin

de Lima. “Assim, a era digital requer uma ‘educação digital’. É preciso apresentar na educação aquilo que faz parte da realidade dessa geração. Claro, sempre com equilíbrio para que o uso das tecnologias seja o menos agravante possível nas outras relações”. Isso porque segundo estudo Crianças Digitais, realizado pela empresa de cibersegurança Kaspersky, 49% das crianças brasileiras usam um dispositivo inteligente pela primeira vez antes dos seis anos de idade. E mais: 73% delas ganham seu primeiro smartphone ou tablet antes mesmo de completar 10 anos.

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Por Sophia Cabral

“Não podemos privar as crianças do acesso à tecnologia. Nós, adultos, já temos essa questão de uso de tela, então é importante que elas vivenciem isso também. Necessário, porém, haver um equilíbrio nessa situação. Dentro da rotina da criança existe o tempo adequado a cada idade”, aponta a especialista.

Antes dos dois anos, a recomendação é de que não haja nenhuma forma de exposição. A partir disso, o ideal é que o tempo de uso não exceda uma hora por dia – sempre, claro, avaliando o conteúdo que está sendo consumido. E para que seja possível encontrar um equilíbrio, a pedagoga explica que é necessário que haja uma parceria entre escola e pais.

“Os pais precisam dar entretenimento para o filho e não apenas fornecer as telas sem fiscalização. As crianças consomem muita coisa que acabam ‘queimando’ o cérebro em vez de proporcionar estímulos. Isso faz com que o excesso de tecnologia seja grave, tanto cognitivamente quanto socialmente e até fisicamente”, comenta a especialista.

Por outro lado, é preciso que a escola oriente os pais quanto a atividades e tarefas mais adequadas. Segundo a pedagoga, é papel da instituição de ensino promover a consciência sobre como o uso de tecnologia em excesso faz mal. É possível, por exemplo, enviar atividades que os pais

Foto: shutterstock.com
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possam fazer com os filhos. Ao mesmo passo, a pedagoga ressalta a importância de que o sistema educacional também se adeque ao novo “público”.

“Mudanças devem ser feitas, porque estamos trabalhando com gerações que se desenvolvem rapidamente. Os anos passam de forma diferente, com transformações rápidas e um excesso de novidades. Então, é preciso se adequar a essa realidade”, pontua.

AGILIDADE OU IMPACIÊNCIA?

Para uma geração que já nasce conectada, não é incomum crianças de dois, três ou quatro anos já saibam desbloquear telas de smartphones para navegar em jogos e vídeos nas redes sociais. Acontece que isso não representa necessariamente (ou apenas) uma mentalidade mais ágil e com maior capacidade de resolução de problemas.

“Vejo que é uma geração de mentalidade ágil, mas impaciente. A tecnologia não proporciona o contato com algo concreto que possibilite o toque, o que faz com haja uma desconexão do mundo real e acelere o pensamento. Uma criança de dois a três anos precisa ter uma concentração de 15 a 20 minutos. Hoje, esse tempo é reduzido porque os vídeos de 20 segundos já não prendem a atenção. Com esse excesso de cores, sons e estímulos, é comum que se

queira trocar rapidamente de atividade. Assim, essa mentalidade fica ágil, mas em um processo acelerado. Não é ágil de um pensamento lógico, mas, muitas vezes, de impaciência”, alerta a especialista. Como resultado, além de dificuldades motoras e de desenvolvimento físico, há a falta de conexão e socialização, o aumento da impaciência e da ansiedade e a dificuldade em lidar com frustrações. E para transformar esse cenário, é necessário que haja, justamente, paciência. De nada adianta querer ensinar paciência para a criança se os pais não são pacientes com ela. “Em primeiro lugar, é preciso entender a realidade daquela criança e respeitar o tempo dela. Com isso, podemos tirar esse excesso de forma gradativa, trabalhando coisas concretas, como a importância do esperar. Se digo que daqui a um minuto vamos guardar os brinquedos, ainda que a criança não tenha noção do tempo, estou sinalizando o que vai acontecer, gerando uma tranquilidade e ajudando na paciência. De modo contrário, se a criança está concentrada brincando e eu só tiro as coisas dela, não sinalizo os próximos passos e ainda trago mais ansiedade”, esclarece Kerolin.

OS EFEITOS DA PANDEMIA

Sabe-se que a pandemia de Covid-19 foi difícil em todo o mundo e para todos,

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mas para as crianças, em razão do afastamento da escola enquanto espaço físico, acarretou maior prejuízo de aprendizagem e convivência.

“Há um grande déficit em crianças pós-pandêmicas que não sabem se relacionar, interagir e resolver suas situações. Crianças de quatro e cinco anos pararam o processo e ficaram dois anos isoladas com os pais, com uma atenção excessiva. Por outro lado, temos aquelas que já nasceram reclusas em uma quarentena. Muitas só souberam que existem outras pessoas depois dos dois anos. Hoje, como escola, precisamos nos adaptar para atender a essas novas demandas de desenvolvimento, que não são as mesmas de alguns anos atrás”, explica Kerolin. Para a especialista, ainda que a pandemia tenha fortalecido o vínculo familiar, desestruturou o vínculo social com outras crianças e com outras estruturas de pensamento. “Infelizmente, muitas crianças foram enclausuradas com um celular, mas não podemos reduzi-las a isso. Uma criança que não cai, pula, dança, ou que ‘não dá trabalho’ precisa ser reavaliada. E perdemos muito isso nesses últimos anos”, conclui.

Com o papel fundamental de ensinar a socialização, convivência em sociedade e resolução de conflitos – como dividir espaços, materiais e pessoas –, a escola busca, atualmente, resgatar essa tarefa para reduzir o prejuízo de situações adversas futuras.

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Ruptura e transição escolar: do Ensino Fundamental para o Médio

Dificuldade de adaptação numa nova etapa de ensino pode resultar em maior evasão escolar

Foto: shutterstock.com 12

Deixar a infância para trás, ter mais autonomia e responsabilidade e entender as mudanças em si, tanto físicas como de personalidade: a adolescência é um período de adaptação para os jovens, pais e escolas. Tida por educadores como a mais marcante e profunda das transições escolares, a passagem do Ensino Fundamental para o Médio exige cuidado, atenção e ajustes para garantir o êxito em meio a esse novo ciclo. “Esse é o momento em que os indivíduos estão se formando enquanto sujeitos, questionando-se, sendo uma fase repleta de inseguranças e uma etapa muito importante para o desenvolvimento do processo cognitivo e construção da identidade”, afirma a pedagoga Regina Lelia Demário. “Até então, esse adolescente recebe os valores da sociedade em que está inserido, seja por meio dos pais, amigos e demais relacionamentos. Agora é o momento em que ele amadurece suas ideias e coloca em prática aquilo que realmente acredita”, complementa. Com tantas novas demandas, é comum que muitos acabem priorizando outros aspectos da vida que não sejam a escola. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2021, a rede estadual, que abrange a maioria

das matrículas do ensino médio, teve uma queda de 4,8 pontos percentuais na taxa de aprovação, contrastando com um aumento na taxa de reprovação e abandono escolar. Isso porque o novo ciclo vem, invariavelmente, acompanhado da mudança de escola, refletindo em novos colegas, novas disciplinas e metodologias de ensino. A quantidade de conteúdo, de professores e a exigência por mais responsabilidade aumentam nessa fase. Como resultado, muitos estudantes não se adaptam e o índice de reprovação e a evasão escolar também crescem. Outro fator que pode contribuir para a saída dos jovens é o ingresso no mercado de trabalho. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 39,6% dos trabalhadores em 2016 começaram a trabalhar antes dos 15 anos. Regina afirma que essa é a idade em que muitos jovens precisam começar a trabalhar.

Por diversas
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“Até então, esse adolescente recebe os valores da sociedade em que está inserido (...) Agora é o momento em que ele amadurece suas ideias e coloca em prática aquilo que realmente acredita”

questões, optam pelo trabalho e, muitas vezes, o ensino fica em segundo plano. Então, esse estudante já começa em desvantagem, porque o tempo que ele deveria ter separado para se dedicar à escola não existe.

Mesmo assim, independentemente dos fatores, a especialista ressalta que conhecer a realidade dos alunos e construir uma relação de identificação e diálogo é fundamental para contribuir com a permanência na sala de aula e facilitar a transição no ensino. “A primeira coisa é ouvir esse aluno. Claro que é preciso ter clareza do seu papel como escola, com o desenvolvimento de um currículo e organização, mas para ambas as etapas de ensino, é preciso ouvir o estudante para conhecer sua realidade, dificuldades e, a partir daí, construir a melhor estratégia”, ressalta a pedagoga. Para Regina, é pressuposto que os alunos chegam ao Ensino Médio nivelados e com a mesma carga de conhecimento.

O que acontece, contudo, é que o padrão de estudante esperado muitas vezes não condiz com a realidade, fazendo com que muitos optem pela evasão ou, ao menos, tenham grande dificuldade. “O professor tem um papel fundamental de olhar para o aluno primeiro como ser humano e, a partir disso, tentar adequar as questões da escola para que ele efetivamente aprenda. Também é papel do professor e da escola estabelecer relações, incentivar, colocar-se à disposição e criar uma identificação com seus alunos, além de trabalhar a sociabilidade. Isso sobretudo na adolescência, quando é importante para esse aluno a identificação em grupos”, pontua. Ainda para facilitar a transição, algumas atividades práticas podem contribuir. Pensar em aulas inaugurais e com programações diferentes nas primeiras semanas de aula, apresentando escola, professores e colegas, proporciona mais interação entre alunos e colabora para inibir a timidez.

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Já para instituições que oferecem ambos os níveis de ensino é possível planejar atividades de integração entre os alunos, como adaptação de intervalos, por exemplo, além de apresentar os novos laboratórios e salas de aula.

RUPTURA ENTRE AS ETAPAS EDUCACIONAIS

A dificuldade da transição entre as etapas de educação não é exclusiva no Ensino Médio. Para a especialista, é possível identificar uma quebra ainda nos primeiros anos de educação. “O aluno do primeiro ao quinto ano, por exemplo, já vem de uma realidade com

menos professores e uma identificação muito maior. Quando chega ao sexto ano há uma ruptura. O aluno não é preparado para essa nova etapa, pressupõe-se que ele já está maduro. O mesmo ocorre na transição para o Ensino Médio. O adolescente é recebido como um ‘miniadulto’, ainda que não esteja hábil o suficiente”, comenta. Para Regina, construir uma ponte em todos os momentos de passagem é fundamental para garantir bons resultados em todas as etapas educacionais, proporcionando respaldo, suporte e até mesmo mais identificação com os professores ao longo de toda a transição.

Uma noite especial

A convite do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR), o filósofo, educador e escritor Mario Sergio Cortella ministrou palestra no evento da entidade em homenagem ao Dia do Professor, realizado em 13 de outubro, no Teatro Positivo, em Curitiba. Citando o poeta amazonense Thiago de Mello, Cortella afirmou que “faz escuro, mas eu canto”. Segundo o filósofo, não é que a sociedade deva ficar alheia às complexidades da vida e à dificuldade da existência coletiva, mas é preciso ter esperança e força para encontrar motivos para “cantar”.

“Somos [os professores] uma profissão que busca ser melhor. Não melhor por se sentir melhor que as outras [profissões], mas porque desejamos ser melhor para os outros”, disse, na ocasião, reforçando que o ofício do docente é uma missão diária que exige três doses: uma de paciência, outra de paixão e uma terceira de altruísmo. “[Ser professor] é fazer com que a vida se eleve, com que as pessoas tenham esperança”, acrescentou. Ensinar, afinal, é acreditar no inacreditável, é saber que gente foi feita para ser feliz, é ter esperança na busca por um futuro melhor.

Filósofo Mario Sergio Cortella foi o convidado de evento do Sinepe/PR em homenagem aos professores
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Por Camila Acordi Vídeo completo da entrevista

UMA ATIVIDADE COLETIVA

Em sua palestra, Cortella também destacou a necessidade de os professores estarem constantemente inovando, atentos à mudança de geração dos alunos. Se os estudantes não são mais os mesmos, por que os professores deveriam continuar lecionando do mesmo jeito?

“A vida é processo, processo é mudança e a mudança exige que nós nos preparemos o tempo todo para que façamos [nosso ofício] com alegria, com competência, com relevância e com encantamento”, pontuou o educador. “A coisa mais perigosa na educação escolar é envelhecermos nossa cabeça, nossa prática, nosso sonho. Precisamos ser ‘anacrônicos’”.

Ainda, o filósofo ressaltou que a docência é uma atividade coletiva, em grupo. Por isso, fundamental que a gestão se envolva com toda a comunidade escolar – estudantes, professores e demais colaboradores e famílias dos alunos. “Nossa área é cheia de profusão de vida. Rimos demais, conversamos, choramos, temos uma emocionalidade marcante. Os encontros valorizam isso”, salientou Cortella, lembrando que compartilhar histórias e formar conexões são marcas da docência.

CELEBRAÇÃO

O evento em comemoração ao Dia do Professor reuniu aproximadamente 1,8 mil pessoas, entre professores, educadores, diretores e colaboradores de entidades educacionais das redes privada e pública do estado, além de representantes das unidades associadas e Conselho Diretor do Sinepe/PR.

A vida é processo, processo é mudança e a mudança exige que nós nos preparemos o tempo todo para que façamos [nosso ofício] com alegria, com competência, com relevância e com encantamento.”

“Os professores transformam a sociedade. Tal reconhecimento se faz ainda mais necessário depois de um período tão desafiador para toda a educação no Brasil”, comentou Douglas Oliani, presidente da entidade, referindo-se à pandemia de Covid-19, que obrigou as escolas a adotarem aulas remotas por quase dois anos. Além da palestra de Cortella, a celebração contou com apresentações do pianista Plínio Oliveira e do balé coordenado pela coreógrafa Matiely Semiguem.

“A retomada das atividades presenciais na educação marcou 2022. Depois de anos tão desafiadores, o momento inspira atenção à saúde mental e psíquica tanto dos alunos quanto dos professores”, disse Rocimar Santos Oliani, psicopedagoga e idealizadora do evento.

Também estiveram presentes representantes do Sindicato dos Professores no Estado do Paraná (Sinpropar), da Secretaria Estadual da Educação (Seed) e do Conselho Estadual da Educação (CEE), além do presidente do CIEE, Antoninho Caron, e do secretário de Estado da Educação, Renato Feder, que homenageou, em vídeo, o Sinepe/PR.

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O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná (Sinepe/ PR) tem um novo presidente. Quem estará à frente da gestão da entidade nos próximos dois anos é o professor Sergio Herrero Moraes. Cirurgião dentista por formação, Herrero lecionou na Universidade Federal do Paraná (UFPR) por 39 anos e é diretor da Faculdade Herrero, instituição especializada em cursos da área da Saúde e localizada em Curitiba. Nos últimos 12 anos, ocupou cargos de conselheiro, diretor administrativo e vice-presidente do Sinepe/PR. Na presidência, Herrero vai substituir o professor Douglas Oliani, eleito em 2020 e de quem foi vice. À Revista Escada, Herrero fala sobre sua experiência na entidade e dos planos para o seu mandato. Confira!

De olho no futuro: Sergio Herrero Moraes

Novo presidente do Sinepe/PR fala sobre os planos para o mandato e sua experiência de mais de uma década na entidade

ENTREVISTA DO MÊS
Foto: Divulgação 18

O sr. esteve, durante 12 anos, acompanhando de perto a gestão do Sinepe/PR, como conselheiro, diretor executivo e vice-presidente. Quais são os objetivos principais para sua nova etapa na entidade?

Nós temos um mandato de dois anos pela frente e durante esse período queremos voltar com atividades presenciais que foram suspensas por conta da pandemia, como cursos que atendam às regulações do Ministério da Educação [MEC], da Secretaria Estadual da Educação [Seed] e da Secretaria Municipal da Educação [SME]. Queremos dar uma atenção para as instituições associadas, principalmente em relação às normas necessárias, além de prestar auxílio com assessoria jurídica e civil. Nosso objetivo é prestar suporte a todas as nossas associadas em tudo o que diz respeito à educação.

O que o sr. observou de evolução nesses últimos 12 anos participando da gestão do sindicato?

Durante os últimos 12 anos, registramos um número crescente de associadas. Atualmente, são mais de 400. Nós temos também nove regionais, que foram criadas em vários pontos do estado, além das nossas parcerias com os Sinepes independentes, no caso, Sinepe/NPR e Sinepe/NOPR. Nesse período, também disponibilizamos um grande suporte para as associadas, principalmente durante a pandemia. Trabalha-

mos muito para a volta às aulas com segurança e responsabilidade. Ademais, temos uma ação forte na associação coletiva com os sindicatos laborais. Somos um sindicato patronal e temos anualmente uma negociação coletiva de trabalho com os sindicatos dos trabalhadores, sempre uma negociação respeitosa, essencial para compreender o que as entidades almejam para seus respectivos sindicalizados e o que as instituições de ensino realmente suportam. Graças a essa negociação mediada pelo Sinepe/PR, há sempre um bom equilíbrio.

Seu currículo mostra experiência junto a grandes instituições. Como esse histórico irá auxiliá-lo na presidência do sindicato?

Creio que as experiências vão se somando. Fui presidente da Associação Brasileira de Odontologia, presidente da Academia Paranaense de Odontologia e sou diretor da Faculdade Herrero desde a sua criação, em 2005. No Sinepe/PR, cada associada tem seus anseios, expectativas, necessidades, e procuramos atender todas da mesma forma. Vale ressaltar que a nossa Missão é a de representar e congregar as instituições educacionais privadas do Paraná, para promover qualidade de educação e sustentabilidade do setor. Completada pela nossa Visão que á e de ser referência em articulação, orientação, defesa e desenvolvimento sustentável das instituições educacionais privadas do Paraná.

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Entendemos a busca por soluções das associadas e acredito que aqui os anos de experiência fazem a diferença, pois conseguimos evitar alguns conflitos antecipando-os nas negociações e nos acordos. Os anos que passei em cargos de diretoria também vão me ajudar a administrar melhor as associadas de forma com que elas se tornem um grupo, um time. Assim é mais fácil obter apoio, já que o Sinepe/PR existe para atender não um grupo seleto de instituições, mas todas as associadas, das pequenas às grandes.

A pandemia da Covid-19 deixou marcas e mudanças na sala de aula, no perfil dos alunos e nas instituições de ensino. Que lições o Sinepe/PR extraiu desse período?

Nós aprendemos a agir de forma rápida, pronta e com responsabilidade e também a sempre chamar as associadas para ouvi-las, a manter ainda mais contato com os órgãos governamentais. Isso é essencial para a troca de experiências, para que o Sinepe/ PR possa mostrar sua posição no suporte às aulas com qualidade, mesmo que remotas durante a pandemia, e na segurança no retorno ao presencial. Nesse período, também percebemos a importância da socialização, vemos que ela é fundamental. Sabemos que houve uma queda na qualidade no ensino e um aumento na evasão, o que mostrou que precisamos ter uma linha de atuação bastante rápida e que as crianças exigem e precisam de um atendimento de perto. Vemos, portanto, que a socialização é tão importante quanto o ensino teórico propriamente dito.

A adaptação ao “novo normal” é amplamente debatida no ambiente escolar. Como o Sinepe/PR pretende auxiliar as escolas nesse momento pós-pandemia? O Sinepe/PR percebe os aprendizados acadêmicos nesse “novo normal” e vê que é possível termos atividades presenciais somadas às online/híbridas. É importante também mudar o foco de ensino. O ensino tradicional já não basta mais; é preciso desenvolver atividades com metodologias ativas, em que a iniciativa parta do aluno, como o Problem Based Learning (PBL; em português, Aprendizado Baseado em Problemas), é o aprender fazendo. Nesse mandato, o que vamos fazer certamente é incorporar as novas tecnologias que ganharam força durante a pandemia, aumentar o uso delas na educação, associadas ao ensino presencial. Temos dois anos pela frente e desejamos ser uma referência entre as instituições privadas do Paraná.

No Sinepe/PR, cada associada tem seus anseios, expectativas, necessidades, e procuramos atender todas da mesma forma.
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Sinepe/PR desenvolve novo site para associados e público em geral

Com o objetivo de modernizar e facilitar o acesso a informações por parte dos gestores de escolas, professores, estudantes, famílias e comunidade em geral, o Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR) renovou seu site oficial.

A plataforma reúne os conteúdos mais relevantes para as instituições de ensino associadas num único lugar, além de adicionar dados de órgãos públicos, como Ministério da Educação (MEC) e Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed), em relação às legislações e normas escolares.

O site também disponibiliza uma área restrita para associados, traz estatísticas que fomentam o desenvolvimento constante das escolas, permite o acesso fácil a currículos e vagas para profissionais da área da educação e contempla o Boletim de Notícias diário do Sinepe/PR. Na página, ainda é possível acessar o acervo completo da Revista Escada, que busca estimular debates sobre os assuntos mais importantes e as tendências do setor.

Nova plataforma visa facilitar o acesso da sociedade a informações do mundo educacional Confira

em: www.sinepepr.org.br
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Associadas podem solicitar o selo “Escola Legal” 2023

Chegou a época de matrícula (ou a rematrícula) dos estudantes para o ano letivo de 2023. Para orientar pais e alunos na busca de instituições de ensino particular devidamente regularizadas perante os órgãos oficiais, o Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/ PR) lança a edição 2023 do selo “Escola Legal”.

Aproveitamos para ressaltar que temos muitos conteúdos disponíveis a todos. Conheça nosso canal no YouTube

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