Revista Escada - Edição 53

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A REVISTA DAS ESCOLAS PARTICULARES DO PARANÁ

Educação multitelas Desaf ios e oportunidades em sala de aula

Com di scussões a res pei to do l i m i te do a ce s s o a tela s na infân ci a, escol as p rec i s am ter c u i da do n a a do ç ã o des s as tec n ol ogi as n o di a a di a e s co l ar

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ENTREVISTA

As perspectivas da educação geracional

Alexandre Weiler comenta o comportamento e a reação das diferentes gerações no processo de aprendizagem

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Nova proposta da Lei de Cotas é aprovada pelo Senado Federal

Revisão inclui alterações como o formato de ingresso e o salário máximo para vagas voltadas a estudantes de baixa renda. Novo texto segue para sanção presidencial

Página 18 Número 53 | Ano 11 novembro 2023 Publicação Sinepe/PR


Ín d ice

R E V ISTA E SCA DA P u blicação pe riódica de caráte r in form at ivo, com circu lação dirig ida e g rat u ita, de s e nvolv ida para o S in dicato dos Es tabe le cim e n tos Par t icu lare s de E n s in o do Es tado do Paran á. Con te ú do e com e rcialização V 3 COM Proje to g ráf ico e ilu s t raçõe s V 3 COM D e s ig n g ráf ico e ar te f in al M a r celo Wi n c k R e dação Jo r ge de So u sa N at h ali e Oda J orn alis ta re s pon s áve l A r i Lem o s | M TB 5 9 5 4 C rít icas e s u g e s tõe s ar i @v 3 co m .co m .br Con s e lh o e ditorial C ar m em M u ra ra E ver to n D r o h o m er et ski F a t i m a C h u ei r e H o lla n da M a r c i o M o celli n H ar o ldo A n dr i gu et to Jú n i o r Adr i an a Ver í ssi m o K a ra m K o leski Os ar t ig os as s in ados s ão de re s pon s abilidade dos s e u s au tore s e n ão ex pre s s am , n e ce s s ariam e n te , a opin ião de s ta rev is ta.


12 ED U CAÇÃO M ULT IT E L AS: OPORTUNIDADE S E D ESAFIO S E M SAL A D E AUL A Com discussões a respeito do limite do acesso a telas na infância, escolas precisam ter cuidado na adoção dessas tecnologias no dia a dia escolar

E N TR EVI STA DO MÊ S

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Reinício escolar: escolas se mobilizam nas campanhas de matrículas e rematrículas Entre as datas de lançamento, a linguagem a ser utilizada e os métodos para captar o público, especialista do Sinepe/PR levanta estratégias para incluir no planejamento

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Reflexão na avaliação: aprendizagem como foco no ensino Independentemente do método a ser escolhido pelos centros de ensinos, é preciso garantir a efetividade do aprendizado nas salas de aula

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Nova proposta da Lei de Cotas é aprovada pelo Senado Federal Com alterações relativas ao formato de ingresso e ao salário máximo para vagas voltadas a estudantes de baixa renda, o novo texto segue para sanção presidencial

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Outubro: o mês da leitura

Parte do processo educacional, a cultura de leitura contribui para o estímulo da imaginação e a capacidade de concentração, de acordo com especialista

As perspectivas da educação geracional

Especialista comenta o comportamento e a reação das diferentes gerações no processo de aprendizagem

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Orientação vocacional é aliada contra evasão no ensino superior

Incerteza de jovens do ensino médio na escolha da prof issão impacta no início da jornada prof issional dentro das universidades


ED I TORIAL

Sergio Herrero Moraes Presidente do Sinepe/PR

Caros leitores e leitoras, É com grande satisfação que compartilho com todos mais uma Revista Escada repleta de conteúdos relevantes sobre o setor e com contribuições valiosas de especialistas convidados. Nesta edição, abordamos temas relevantes à aproximação do fim de ano e às principais notícias sobre educação levantadas no período. Entre os assuntos mais comentados no meio educacional, a revisão da Lei de Cotas, que segue para sanção presidencial, inclui uma reflexão sobre os impactos dos dez anos de aplicação da legislação e as mudanças a serem feitas com a nova proposta. Da mesma forma, abordamos também a discussão sobre o uso de telas no processo educacional, que se influencia por estudos recentes e tendências iniciadas em outros estados e países do mundo. Já no nosso quadro especial de entrevistas, tivemos o privilégio de contar com Alexandre Weiler, diretor da ESIC - International Business School e estudioso sobre a educação geracional, que compartilhou conosco seu ponto de vista sobre o assunto, as divergências e possibilidades. Com o contexto criado, é possível agre-

gar os conhecimentos a transformações dentro das salas de aula. Para iniciar os assuntos referentes ao fim do ano letivo, dirigimos nossa atenção às matrículas e rematrículas, processo comum a todas as instituições, mas sob a perspectiva das estratégias de marketing de escolas e universidades que se veem diante de propostas de campanhas que precisam equilibrar a concorrência do mercado e os valores e propósitos da marca. Além disso, trazemos ainda conteúdos relacionados aos tipos de avaliação existentes no processo educacional, suas características e aplicações, a depender do objetivo do programa pedagógico. Por fim, em períodos de vestibulares e provas finais, tratamos também sobre a orientação vocacional e o papel das instituições de ensino nas iniciativas que auxiliam jovens a fazer escolhas acertadas para o futuro. Espero que os conteúdos a seguir possam ser base para novos debates, contribuições e, até mesmo, para projetos que acolham os desafios enfrentados pelos profissionais da educação. Boa leitura! Sergio Herrero Moraes


EXPE DI E N T E

SINEPE/PR Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná www.sinepepr.org.br | www.facebook.com/sinepepr

CONSELHO DIRETOR - GESTÃO 2022/2024 DIRETORIA EXECUTIVA Presidente 1.º Vice-Presidente 2.º Vice-Presidente Diretor Administrativo Diretor Econômico/Financeiro Diretor de Legislação e Normas Diretor de Planejamento

Sergio Herrero Moraes Haroldo Andriguetto Júnior Celso Maurício Hartmann Everton Drohomeretski Cristiano Vinícius Frizon Nilson Izaias Pegorini Carmem Regina Murara

DIRETORIA DE ENSINO Diretor de Ensino Superior Diretor de Ensino Médio Diretor de Ensino Fundamental Diretor de Ensino da Ed. Infantil Diretor de Ensino dos Cursos Livres Diretor de Ensino dos Cursos de Idiomas Diretor de Marketing Diretor de Ensino da Educação Profissional Técnica de Nível Médio Diretor dos Cursos Pré-Vestibulares Diretor da EaD Diretor de Sistemas de Ensino Diretor de Ensino de Pós-Graduação

Adriana Veríssimo Karam Koleski Felipe Mazzoni Pierzynski Ir. Maria Zorzi Dorojara da Silva Ribas Valdecir Cavalheiro Magdal Justino Frigotto Rogério Pedrozo Mainardes Carolina Caramico Berg Fernando Luiz Fruet Ribeiro Dinamara Pereira Machado Acedriana Vicente Vogel Ana Lucia Cardoso Ribeiro

CONSELHEIROS 1.º Conselheiro 2.º Conselheiro 3.º Conselheiro 4.º Conselheiro 5.º Conselheiro 6.º Conselheiro 7.º Conselheiro 8.º Conselheiro 9.º Conselheiro 10.º Conselheiro 12.º Conselheiro 13.º Conselheiro 14.º Conselheiro 15.º Conselheiro 16.º Conselheiro 17.º Conselheiro

Fábio Hauagge do Prado José Mário de Jesus Angela Silvana Basso Raquel Adriano Momm Maciel de Camargo Durval Antunes Filho Leonora Maria Josefina Mongelós Rossato Pucci Artur Gustavo Rial Newton Andrade da Silva Júnior Josiane Domingas Bertoja Ricardo de Albuquerque Todeschini Guilherme Isensee Andrade Osni Mongruel Junior Fabrício Pretto Guerra Marcelo Ivan Melek Jose Luiz Coimbra Drummond Daniela Ferreira Correa

CONSELHO FISCAL Efetivos Suplentes Dilceméri Padilha de Liz Marta Regina Andre Marcelo Pereira da Cruz Gisele Mantovani Pinheiro Luiz Antônio Michaliszyn Filho Charles Pereira Lustosa Santos DELEGADOS REPRESENTANTES - FENEP Ademar Batista Pereira Sergio Herrero Moraes

DIRETORIAS REGIONAIS REGIONAL CAMPOS GERAIS Diretor Presidente - Osni Mongruel Junior Diretor de Ensino Superior - Patrício Vasconcelos e José Sebastião Fagundes Cunha Filho Diretor de Ensino da Educação Básica - Rosângela Graboski e Valquíria Koehler de Oliveira Diretor de Ensino da Educação Infantil - Bianca Von Holleben Pereira e Carla Moresco Diretor de Ensino dos Cursos Livres/Idiomas Paul Chaves Watkins REGIONAL CATARATAS Diretor Presidente - Artur Gustavo Rial Diretor de Ensino Superior - Fábio Hauagge do Prado Diretora de Ensino da Educação Básica - Edite Larssen Diretor de Ensino da Educação Infantil - Ana Paula Krefta Diretor de Ensino dos Cursos Livres/Idiomas Lucimar Neis

REGIONAL CENTRAL Diretor Presidente - Dilceméri Padilha de Liz Diretor de Ensino Superior - Roberto Sene Diretor de Ensino da Educação Básica - Cristiane Siqueira de Macedo e Juelina Marcondes Simão Diretor de Ensino da Educação Infantil - Ir. Roselha Vandersen e Ir. Sirlene N. Costa Diretor de Ensino dos Cursos Livres/Idiomas Marcos Aurélio Lemos de Mattos REGIONAL SUDOESTE Diretor Presidente - Fabricio Pretto Guerra Diretor de Ensino Superior - Ivone Maria Pretto Guerra Diretor de Ensino da Educação Básica - Velamar Cargnin Diretor de Ensino da Educação Infantil - Márcia Fornazari Abasto Diretor de Ensino dos Cursos Livres/Idiomas Vanessa Pretto Guerra Stefani

REGIONAL OESTE Diretora Presidente - Marta Regina Andre Diretora de Educação Infantil - Sônia Regina Spengler Xavier Diretor de Educação Básica - Valmir Gomes Diretor de Ensino Superior - Gelson Luiz Uecker Cursos Livres/idiomas - Denise Veronese REGIONAL LITORAL Diretor Presidente - Luiz Antonio Michaliszyn Filho Diretor de Ensino Superior - Ivan de Medeiros Petry Maciel Diretor de Ensino da Educação - Básica (Ensino Fundamental)- Selma Alves Ferreira Diretor de Ensino da Educação Básica (Ensino Médio) - Mirian da Silva Ferreira Alves Diretor de Ensino da Educação Infantil - Lilian R. M. Borba Diretor de Ensino dos Cursos Livres/Idiomas Liliane C. Alberton Silva


Reinício escola r : tre a s da ta s de escolas se m ob i l i za m En la n ç a m e n to, a lin g ua g e m a se r utiliza da e os nas campanhas m é todos pa ra c a pta r o público, e spe c ia lista de matrículas e do S in e pe / PR leva n ta e stra té g ia s pa ra in clui r rematrículas n o pla n e ja m e n to O fim de ano chega acompanhado das preocupações referentes ao ano seguinte. O planejamento financeiro, os objetivos profissionais, os planos para a educação e para o lazer norteiam as escolhas para os doze meses que estão por vir. Em famílias com crianças, adolescentes e jovens, esse movimento se inicia com matrículas e rematrículas. Quando chega o quarto trimestre, é sinal de que essa decisão precisa ser tomada em breve. Os pais passam a realizar visitas e analisar o custo-benefício para, finalmente, escolher a instituição que será res-

ponsável pela formação de seus filhos. Da mesma forma, as escolas e universidades também se mobilizam nas campanhas. No entanto, a movimentação que é vista hoje tem início muito antes. De acordo com Rogério Mainardes, diretor de Marketing do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR), marcas que atuam com uma visão publicitária mais profissional e voltada ao mercado já estão com suas campanhas prontas no mês de julho para a abertura de matrículas em setembro. “O que vem acontecendo é uma antecipação cada vez

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Foto: freepik.com

Por Nathalie Oda


testemunhais são poderosos instrumentos para avalizar e oferecer segurança na matrícula. Ter pais, alunos e professores comentando, descrevendo o que aprenderam, o que ensinaram e os resultados obti-

“Vivemos em um ambiente educacional e a educação se faz por exemplos. As atitudes de todos os colaboradores devem ser coerentes com o discurso pregado pela instituição educacional”

dos é algo muito bom”, observa. Por isso, a divulgação de histórias reais e depoimentos é uma técnica que cria identificação e aproxima o público. Para isso, a linguagem utilizada deve ser adequada para atingir o público-alvo estabelecido. No caso de campanhas de educação infantil, o conteúdo deve impactar dois alvos muito diferentes: as crianças e os responsáveis. No entanto, o especialista explica que a linguagem deve ser adaptada para ser recebida de formas específicas. No caso dos pais, a mensagem deve ser clara e informativa. Já no caso das crianças, a mensagem deve ter como principal objetivo o encantamento dos pequenos. Quando a campanha se refere a rematrícu-

maior das escolas na abertura de suas matrículas. Isso se dá por efeitos concorrenciais e, também, para que possam executar seu planejamento para o próximo ano”, comenta. Por mais que as estratégias que definem o tempo de lançamento e de preparação da campanha variem de acordo com o mercado, com a região e com o nível de ensino, Mainardes reforça que esse trabalho deve começar assim que o ano letivo se inicia. Para as instituições, as campanhas de matrícula e rematrícula são cruciais para o

las, as estratégias são outras, uma vez que o público deve ser mantido. Para isso, Mainardes cita como fundamentais a avaliação constante do nível de satisfação e a atenção, o cuidado e o comprometimento com os alunos em todas as áreas de prestação de serviço durante todo o ano. “Manter as entregas das promessas realizadas quando o aluno fez a matrícula pela primeira vez, avaliar a qualidade dessas entregas e o nível de satisfação dos alunos e suas famílias é um processo constante e que garantirá a rematrícula, que também deve ser feita de uma forma fácil e automática”, finaliza.

cumprimento dos objetivos estabelecidos no planejamento estratégico. Os principais pontos a se destacar são aqueles que vão cumprir o propósito educacional da escola, como a filosofia de ensino, a metodologia e os resultados alcançados. “É preciso deixar bem claro quais são as entregas da proposta de ensino, como os resultados são obtidos e os recursos utilizados pela escola”, complementa o diretor. Uma vez que as escolas também fazem parte da formação dos estudantes enquanto indivíduos, a escolha pela instituição ideal é um momento de extrema importância para as famílias. “O uso de

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Reflexão na avaliação: aprendizagem como foco no ensino I n d e p e n dentem ente do m é to d o a s e r es co l h i d o pelos centros d e ensin os, é p re c i s o g a ra ntir a e fet i vi d a de d o a p ren di z a do nas salas d e au la Por Jorge de Sousa

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Na educação, se levantam discussões sobre qual a avaliação ideal para medir a aprendizagem dos alunos em uma sala de aula. Mas esse debate também precisa levar em conta um ponto chave: existe qualidade de ensino se os estudantes não têm total compreensão do conteúdo educacional? Ao partir da análise das principais metodologias de avaliação atuais – diagnóstica, formativa e somativa –, é preciso compreender as diferenças essenciais entre essas práticas para as colocar sob uma lupa e entender a melhor aplicação para cada uma delas. A avaliação diagnóstica verifica os domínios construídos até então, em relação a um conjunto de aprendizagens esperadas para aquele momento da escolaridade. Por exemplo, no início do 3º ano do ensino fundamental, o estudante precisa demonstrar domínio das aprendizagens previstas para quem concluiu o 2º ano. Uma vez mapeadas eventuais lacunas de aprendizagens, se cria um plano de ação pedagógica com o objetivo de superar as mesmas.

“O resultado do aproveitamento dos estudantes é uma potente lupa pela qual o professor remodela a sua prática” 9


Acedriana Vicente Vogel, gestora de Sistemas de Ensino para a Educação Básica e diretora de Sistemas de Ensino do Sindicato das Escolas Particulares (Si-

res possam rever as suas estratégias de ensino e, rapidamente, propor novos caminhos em caso de necessidade. “Essa avaliação revela indicadores con-

nepe/PR), entende que conhecimentos anteriores e paralelos servem de ancoragem para novas aprendizagens. “Afinal, sabemos que se aprende a partir do que já se sabe”, complementa. Já a avaliação formativa, acontece ao longo de todo o ano letivo e serve para recolher evidências de que os objetivos de desenvolvimento e aprendizagem previstos para aquele espaço de tempo vêm apresentando êxito. O modelo serve de insumo para que os professo-

tínuos dos progressos ou dificuldades à medida em que os estudantes estão aprendendo. Para o docente, serve como indicador da qualidade do processo de ensino. Quando um professor, ao final de uma aula, propõe um jogo de perguntas e respostas sobre o que foi tratado naquele dia é, por exemplo, uma alternativa possível desse método”, prossegue Vogel. Por fim, a avaliação somativa busca identificar os resultados de aprendiza-

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gens previstas para um determinado período, que pode ser um semestre, um bimestre, um mês ou mesmo uma unidade de ensino. Para tanto, se explicita

Melhorias nas avaliações Por Acedriana Vicente Vogel

• Rever a visão ingênua de que

os marcos de aprendizagem que serão considerados, assim como os objetivos específicos de domínio que se espera do estudante para que se possa valorar o aproveitamento de cada um. “Acaba sendo a maneira mais convencional nas escolas, quase sempre em forma de provas impressas, com questões dissertativas e/ou de múltipla escolha, resultando em notas ou conceitos por estudante”, complementa a diretora. Com todos esses modelos de avaliação dispostos, é importante compreender que, independentemente da metodologia a ser aplicada, é necessário que os centros de ensino adotem uma reflexão sobre a ação educativa. Novamente, é preciso que a comunidade acadêmica se pergunte: para que serve o ensino quando não há aprendizagem? “O resultado do aproveitamento dos estudantes é uma potente lupa pela qual o professor remodela a sua prática. Creio que não devemos economizar na coleta das evidências de aprendizagem dos estudantes, pois elas ampliam as chances de identificar as possibilidades de ações pedagógicas cirúrgicas em favor do sucesso da trajetória de construção de conhecimento de estudantes e professores”, finaliza.

a avaliação traduz apenas a qualidade de aprendizagem do estudante. É importante assumir que a avaliação também revela a qualidade do ensino e, portanto, do trabalho do professor; • Entender que a avaliação só faz sentido se for desdobrada em planos de ação, com rotas personalizadas de trabalho, inclusive avançando em frentes adicionais de estudo com aqueles estudantes que já dominam o que foi proposto; • Incluir como prioridade entre as atribuições do professor a de especialista em diagnóstico cognitivo, pois todas as formas de observação e registro integram a documentação pedagógica para a gestão da aprendizagem; • Avançar com a compreensão de que a avaliação está sempre a serviço da aprendizagem, promovendo-a continuamente. E que ela serve como um organizador de retomadas, para que possamos ampliar o que conhecemos.

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Educação multitelas: oportunidades e desafios em sala de aula Com discussões a respeito do limite do acesso a telas na infância, escolas precisam ter cuidado na adoção dessas tecnologias no dia a dia escolar Por Jorge de Sousa

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A instantaneidade na sociedade é um dos principais reflexos da Quarta Revolução Industrial. Essa velocidade é vista, inclusive, no desenvolvimento das crianças que crescem ao redor de diversos dispositivos como tablets e smartphones antes mesmo de conseguirem andar e falar. A exposição de crianças a telas é debatida pela comunidade científica e não há consenso sobre os impactos desses equipamentos no desenvolvimento infantil. Estudo da Universidade Federal de Minas Gerais apresenta que o tempo de exposição deve ser estabelecido de acordo com a faixa etária das crianças: - Menores de dois anos de idade devem ter acesso vetado a telas; - Dois a cinco anos de idade, até uma hora por dia; - Seis a dez anos, de uma a duas horas por dia; - 11 a 18 anos, de duas a três horas por dia. A pesquisa ainda apontou que o excesso prolongado pode afetar a fala das crianças, devido à menor interação com outras pessoas. Além do prejuízo cognitivo, o uso excessivo ainda pode atrasar o desenvolvimento de habilidades motoras, em especial quando aliado ao sedentarismo. “Já é sabido que o uso de telas tem prejudicado o desenvolvimento da linguagem oral das crianças, tem trazido problemas de sono, ansiedade e até mesmo transtornos alimentares. Isso, porque ao permitir o uso deliberado, as crianças ficam com a autonomia para escolher o que acessar e acabam optando por jogos de excessiva carga visual, de cor, movimento e por mui-

- Menores de dois anos de idade devem ter acesso vetado a telas; - Dois a cinco anos de idade, até uma hora por dia; - Seis a dez anos, de uma a duas horas por dia; - 11 a 18 anos, de duas a três horas por dia. to tempo”, analisa a mestre em Educação pela Universidade do Minho e coordenadora pedagógica do Colégio Sepam de Ponta Grossa, Kátia Gisele Costa. Dentro do Paraná, esse tema também tem sido discutido na esfera política. Em junho de 2023, foi aprovado o projeto de lei 117/2023 na Assembleia Legislativa do estado, que instituiu a Semana de Conscientização e Prevenção sobre males causados pelo uso intenso de celulares, tablets e computadores por bebês e crianças.

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Com todo o debate na sociedade, os centros de ensino também são colocados na discussão. Afinal, com a tecnologia inserida desde cedo no dia a dia das crianças, como as escolas devem agir com a presença de dispositi-

tecnologias, professores e alunos podem usufruir de aulas gamificadas e aproveitar todos os recursos disponíveis em inúmeras plataformas on-line de conteúdos, que utilizam de tecnologias baseadas em rea-

vos eletrônicos em sala de aula? O caminho é limitar o uso ou aproveitar essas ferramentas como mecanismos educacionais? “Na escola, os docentes conseguem escolher aplicativos de qualidade, que fomentem a aprendizagem, e podem regular o tempo de uso e a frequência. Assim, não há razão para proibir, mas sim formas de melhorar o uso. O segredo está em monitorar, regular e acompanhar as crianças para sabermos usufruir de forma saudável dos recursos que a tecnologia nos apresenta”, explica a especialista. Da mesma forma, o 1º vice-presidente do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/ PR), Haroldo Andriguetto Júnior, também aponta que a tecnologia pode ser uma aliada da educação, aproximando professores e alunos dentro das salas de aula. “Com os dispositivos eletrônicos e demais

lidade aumentada, inteligência artificial, aprendizado colaborativo e tantas outras aplicações que potencializam o aprendizado e proporcionam aos alunos uma experiência com muito mais interatividade”, contextualiza Andriguetto Júnior. Exemplo dessa aplicação tem ocorrido nos Estados Unidos com a metodologia BYOT (Traga Sua Própria Tecnologia, em português). Adotada em alguns distritos de estados como Texas, Flórida e Geórgia, o método reforça que os estudantes devem trazer dispositivos eletrônicos próprios para o ambiente escolar e, por sua vez, os centros de ensino devem criar práticas que se adequem a esses mecanismos. Em contrapartida, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgou, no Relatório de Monitoramento Global da Educação,

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recomendações para a redução do uso de celulares para crianças e adolescentes, sob risco de provocar distração, baixa disciplina e instabilidade emocional nos jovens. O estudo foi uma das bases para que a Pre-

grandes pontos centrais”, complementa o 1º vice-presidente. Dessa forma, outra problemática se insere dentro da adoção das tecnologias em sala de aula: a capacitação dos professo-

feitura do Rio de Janeiro decidisse proibir o uso de celular nas escolas municipais da capital fluminense. O Decreto 53.019/2023 estabelece que esses aparelhos e demais dispositivos eletrônicos deverão ser guardados na mochila ou bolsa do próprio aluno, desligado ou ligado em modo silencioso e sem vibração, não podendo ser utilizados durante atividades pedagógicas. “Como educador, particularmente, sou a favor do equilíbrio, pois há momentos em que a conexão digital é imprescindível, mas há momentos em que a conexão humana é essencial, especialmente quando falamos em habilidades socioemocionais. Acredito que regras claras para o uso; momentos com conexão digital apoiando o ensino em plataformas; e momentos profundos para diálogo e prática sobre as habilidades socioemocionais ainda são os

res para utilizarem essas ferramentas de forma educacional. O Relatório Guia Edutec – Diagnóstico do Nível de Adoção de Tecnologia nas Escolas Públicas Brasileiras em 2022, desenvolvido pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), entrevistou docentes de 104.219 mil escolas e avaliou que esses profissionais não se sentem preparados para a aplicação desses equipamentos. “Infelizmente os docentes, em meio a tanta diversidade, mesmo com o impulsionamento do uso durante a pandemia, ainda não apresentam fluência tecnológica em muitas das plataformas. O acesso, infelizmente, ainda não é universal e revela alguns pontos de desigualdades entre alunos, professores e escolas. A prática ainda revela desafios com a avaliação, o foco dos estudantes e a segurança on-line”, finaliza o especialista.

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Outubro: o mês da leitura Par te do processo educa cional, a cultura de leitura contribui para o estímulo da ima g ina çã o e a capa cida de de con centra çã o, de a cordo com especialista Por Nathalie Oda

Em outubro, mês em que se comemoram o Dia Nacional da Leitura (12) e o Dia Nacional do Livro (29), as instituições se mobilizam para estimular a cultura da leitura com projetos como feira de livros e palestras voltadas à literatura para plantar uma semente em crianças e jovens que podem crescer e dar continuidade a essa prática na vida adulta. Em um país onde apenas 52% da população de cinco anos ou mais leu pelo menos um livro nos últimos três meses, indivíduos considerados leitores de acordo com a publicação Retratos da Leitura no Brasil, o desafio de tornar a leitura um hábito envolve tanto as instituições de ensino quanto os próprios núcleos familiares. O esforço se apoia também nos benefícios refletidos no desenvolvimento e no desempenho

a leitura de livros por meio de imagens de ressonância magnética. Os resultados revelaram uma maior conectividade no lobo temporal esquerdo do cérebro nos participantes que mantinham leituras constantes. A área é responsável pelo controle e pela compreensão da linguagem. A pesquisa optou por um livro de romance por se tratar de um gênero literário que oferece uma narrativa completa e envolvente. “O imaginário é ricamente estimulado na leitura fantástica, apresentado em ricas palavras e poucas ilustrações. Por outro lado, nas telas dos filmes, séries e games, não há espaço para imaginação. Cada detalhe e cada lacuna já estão preenchidos”, complementa Raquel

Foto: freepik.com

dos estudantes. Estudo intitulado “Efeitos de curto e longo prazo de um romance na conectividade do cérebro”, da Emory University, nos Estados Unidos, analisou a função cerebral de indivíduos em estado de repouso após

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Momm, gestora educacional, psicóloga, professora, mestre e doutora em administração e conselheira do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR). O afastamento dos livros, gibis e revistas acontece proporcionalmente à aproximação de telas de celular, tablets e televisões. As novas gerações deixam de dedicar o tempo necessário para o desenvolvimento do foco para completar a leitura e se apegam a conteúdos dinâmicos, onde vídeo, áudio e letras se complementam, sem dar espaço à criatividade, fator de extrema importância, especialmente nos primeiros anos de vida. Por isso, a especialista enfatiza que o hábito da leitura deve ser criado na infância, com livros que estimulem a imaginação das crianças e contribuam para a capacidade de concentração. Para isso, a exposição a materiais escritos e a aproximação ao mundo letrado pode se iniciar dentro de casa. “Meu pai comprou uma enciclopédia Barsa quando eu ingressei no primeiro ano. Ainda não sabia ler, mas já folheava as páginas mais ilustradas, passando os dedos linha por linha escrita, brincando de ler”, compartilha.

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Nova proposta da Lei de Cotas é aprovada pelo Senado Federal Com altera ções relativas a o formato de in gresso e a o salário máxim o para va gas volta das a estudantes de baixa ren da, o n ovo texto segue para san çã o presiden cial Por Nathalie Oda

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O Senado aprovou, em outubro de 2023, a revisão da Lei de Cotas no Brasil. Após dez anos de vigor, a legislação foi reanalisada como determinava sua proposta original. A fim de adequar as normas às transformações da realidade do ensino no Brasil, o novo conteúdo traz mudanças relevantes para os próximos dez anos. Se sancionada pelo Presidente da República, a nova lei deve passar a vigorar a partir de 2024. Entre as alterações, a nova proposta estabelece que, agora, os candidatos concorrerão às vagas reservadas pelo programa de cotas, que são 50% do total, apenas se não alcançarem as


notas para ingresso às vagas de ampla concorrência. Isso possibilita que pessoas que teriam direito às cotas, mas alcançaram a nota mínima, entrem na universidade sem a utilização do programa, o que garantirá mais vagas aos que se encaixam nos requisitos. Para a especialista Dinamara Pereira, diretora de EaD do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR), a lei foi necessária para minimizar a disparidade de acesso ao processo educacional no ensino superior. “Esta década de implantação buscou por justiça social decorrente de políticas públicas. Ou seja, se não fosse pela luta dos diferentes movimentos sociais, que lutaram arduamente durante muitos anos, não teríamos os sujeitos de direito ocupando o território da cidadania”, observa. Dados do Ministério da Educação relevam que apenas 6% da população entrava no ensino superior público em 2010. Já em 2019, esse percentual ultrapassa os 35%. Ao mesmo tempo, o levantamento feito com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pelo site Quero Bolsa, mostra que nos 10 anos de aplicação da lei, o número de alunos negros no ensino superior cresceu quase 400%. Por outro lado, para que a nova proposta garanta uma mudança efetiva na formação de novos profissionais e na realidade do mercado de trabalho, o assessor jurídico do Sinepe/PR, Luís Cesar Esmanhotto, destaca a importância de avaliar o ganho social junto aos resultados concretos: “se no ingresso temos certeza da destinação de vagas a cotas raciais e sociais, é relevante avaliar se na saída essa proporção se mantém”.

O especialista ressalta a evasão no ensino superior como um ponto a ser analisado em conjunto com as estratégias aplicadas para o ingresso dos estudantes. “Temo sempre que as dificuldades financeiras dos estudantes em geral possam determinar uma grande taxa de evasão ao longo dos cursos, o que implicaria dizer que estamos formando menos profissionais do que as universidades poderiam estar formando”, complementa. A revisão da lei inclui também a redução, de 1,5 para um salário mínimo per capita, do rendimento familiar mensal máximo, como o teto para que o estudante se encaixe nas vagas destinadas a estudantes de famílias de baixa renda. Nesses casos, a obrigatoriedade de histórico de curso integral do ensino médio em escolas públicas se mantém. Outras alterações em relação às cotas incluem os quilombolas entre os destinatários das vagas, além de priorizar alunos optantes pela reserva de vagas e em situação de vulnerabilidade social para o recebimento de auxílio estudantil.

“Dado que, estruturalmente, continuamos como uma sociedade desigual, os pontos anteriormente levantados precisam ser validados historicamente, ou seja, quando não precisamos da política pública significa que a mesma não se encaixa na realidade.” Dinamara Pereira Diretora de EaD do Sinepe/PR

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No ensino médio, os jovens se deparam com uma das escolhas mais importantes de sua vida: a futura profissão e a graduação a ser cursada no ensino superior. A incerteza causada por dúvidas comuns à faixa etária pode impactar em uma experiência

Orientação vocacional é aliada contra evasão no ensino superior In cer teza de jovens do ensin o m édio na escolha da prof issã o impa c ta n o início da jorna da prof issional dentro das universida des Por Jorge de Sousa

frustrante na universidade, o que evidencia um dos principais problemas no terceiro grau, que é a evasão estudantil. Pesquisa do Instituto Semesp aponta que a evasão no ensino superior é alta e multifatorial no Brasil. A última edição do levantamento, em 2021, demonstrou registro de 20,7% em universidades públicas e de 31% em centros de estudos privados - em cursos presenciais. “A partir do momento em que os jovens têm contato prévio com as instituições de ensino superior e maiores informações sobre as diferentes alternativas de carreira profissional, a decisão de cursar uma graduação se torna um processo mais tranquilo, resultando no aumento do ingresso e permanência no ensino superior, o que sem dúvida contribui para alavancar o desenvolvimento econômico e social do país”, explica Afonso Cavalheiro Neto, pró-reitor acadêmico do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz (FAG). Um aliado para combater esse problema é a orientação vocacional. O processo consiste em auxiliar os jovens na compreensão das próprias aptidões e preferências e relacionar essas questões com projeções para o futuro profissional dos estudantes por meio de uma análise técnica. Ou seja, a orientação vocacional permite aos jovens uma melhor análise sobre si próprios por meio de informações relevantes sobre as profissões, para combater, dessa forma, sensos comuns que possam haver sobre cada graduação. Assim, a escolha é feita com base no perfil do estudante, o que diminui as chances de evasão no ensino superior. “Os colégios podem oferecer recursos e orientação,

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mas a decisão final sempre deve ser dos próprios alunos, levando em consideração interesses, paixões, sonhos e objetivos pessoais. Além disso, essa escolha pode, e deve, evoluir ao longo do tempo e à medida com que os jovens ganham mais experiência e autoconhecimento. Portanto, o apoio das escolas deve ser contínuo e flexível”, pontua Celso Luiz Moletta Junior, diretor de Ensino Médio do Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe/PR). A pesquisa Carreira Profissional 2022, realizada pela Assessoria de Carreira com Bruno Cunha, com mais de 1.750 entrevistados, demonstrou como a orientação vocacional pode impactar positivamente os jovens. Mais da metade dos participantes do levantamento não concluíram a graduação e buscaram outros cursos universitários. “O estabelecimento de parcerias de empresas e universidades é fundamental para proporcionar visitas técnicas, programas de mentoria, estágios e experiências práticas voltadas aos jovens do ensino médio. A organização de feiras de profissões, em que os estudantes possam conhecer diferentes áreas e interagir com profissionais atuantes é, também, uma prática altamente recomendada”, complementa Cavalheiro Neto. Dessa forma, é importante uma maior integração entre instituições de ensino médio e de ensino superior com foco na orientação vocacional dos jovens. Essa parceria pode promover maior intercâmbio de informações entre os estudantes e propiciar uma vivência decisiva para a escolha profissional. “Ainda que com mais informações e maior acesso a informações, temos a geração que menos experimentou o mercado. Desta forma, as instituições de ensino superior podem ser bastante eficazes ao apresentar o que é o mercado profissional e de escolhas vocacionais. Além de os ajudar, certamente, ações próximas diminuirão a evasão e aumentarão a assertividade na escolha dos jovens”, finaliza Moletta Junior.

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E N T R EVISTA D O MÊS A categorização das gerações agrupa um grande número de pessoas a partir de um contexto social, político, econômico e tecnológico que desencadeia diferentes formas de se pensar e de se agir. O cenário em que o indivíduo está inserido influencia diretamente no seu desenvolvimento. Consequentemente, o processo educacional também passa por transformações relativas a conteúdos, formas e tendências de aprendizado. De acordo com conteúdo publicado pela Associação Brasileira de Recursos Humanos, a classificação das gerações parte dos períodos de nascimento da população.

Baby Boomers (BB): nascidos de 1945 até 1965 Geração X: nascidos de 1965 a 1980 Geração Y: nascidos entre 1980 e 1995 Geração Z: nascidos entre 1995 a 2010 Geração Alpha: nascidos após 2010

A geração BB, por exemplo, abrange pessoas que cresceram em um mundo pós 2ª Guerra Mundial, com constantes transformações políticas. Já a geração X, no Brasil, vivenciou a ditadura militar e todas as mudanças sociais ocorridas após o seu declínio. A geração Y, os chamados Millennials, fez parte, ainda na infância ou na juventude, do início do novo milênio e presenciou o surgimento da internet. Por outro lado, a geração Z é composta por indivíduos considerados nativos digitais, que estão imersos no universo online desde o seu nascimento. E, por fim, a geração Alpha vive em um mundo ainda mais conectado, com o surgimento dos tablets e assistentes pessoais. Com tantas mudanças no entorno, a formação das pessoas enquanto indivíduos também é alterada. Por isso, a educação geracional é, hoje, um

As perspectivas da educação geracional Especialista com enta o compor tam ento e a rea çã o das diferentes gera ções n o processo de apren diza gem Por Nathalie Oda

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tópico importante de pesquisas e estudos. Alexandre Weiler, diretor da ESIC - International Business School, compartilhou sua visão sobre o tema, um de seus objetos de estudo, em uma entrevista exclusiva para a Revista Escada.

Pelas grandes mudanças sociais de uma geração para a outra, muitas vezes, a forma de ensino utilizada com a geração Z pode não funcionar com a geração Alpha, por exemplo. Como você entende que os profissionais da educação podem se adaptar e se reinventar para ter sucesso com alunos de gerações diferentes?

Qual o impacto das características geracionais na esfera pessoal, educacional e profissional?

Alexandre Weiler: A adaptação às particularidades de aprendizado de cada geração é extremamente necessária. A geração Z tem como características ser competitiva, valorizar a consciência coletiva, tem necessidade de expor suas opiniões e de valorizar ações criativas. Além disso, eles têm a tecnologia como algo inato (mobile e social), têm como preocupações o ecossistema, a sustentabilidade e os recursos naturais. No aprendizado, tendem a ser multifocais e a utilizar simultaneamente diferentes plataformas. Com raciocínio não linear, gostam de buscar informações que sejam de seu interesse por conta própria, geralmente em vídeo. Muitas vezes, têm dificuldade em trabalhar conhecimentos mais aprofundados e processuais, pois preferem o conhecimento mais rápido, intuitivo e criativo. Espaços de aprendizado que contemplem troca de experiências, gamificação, microlearning (várias intervenções continuadas de conhecimento em pequenas doses), mentorias e imersões interativas tendem a trazer bons resultados para essa geração. Já a geração Alpha, assim como a geração Z, também é nativa digital, mas passou do simples mobile, para os wearables, com acesso à realidade aumentada 3D e 4D. Os indivíduos têm como características um poder de adaptação muito acelerado, valorização da autonomia, espontaneidade e sensibilida-

Alexandre Weiler: Hoje, as particularidades das gerações estão afetando todos os aspectos relevantes de nossa sociedade, como a família, o mercado de trabalho e as relações interpessoais. Conhecer essas particularidades e transitar entre elas, trabalhando com seus distintos aspectos, é fundamental para obter bons e desejáveis resultados. Na educação, é fundamental ir além da Geração Z e Alpha, buscando conhecer também as particularidades das gerações Y, X e Baby Boomer, pois a tendência do “Life Long Learning” trouxe de volta para o espaço educacional (em posição de aprendizado) todas as outras gerações. Em um mundo onde a automatização e a indústria 4.0 têm tomado, gradativamente, o espaço do ser humano em tudo que é manual e braçal, assim como as inteligências artificiais (IAs) e a aprendizagem de máquinas têm ocupado cada vez mais o espaço intelectual nas decisões gerenciais (especialmente as repetitivas), a educação e o desenvolvimento intelectual do ser humano têm sido fundamentais, até mesmo para que ele descubra e demarque seu espaço por excelência nesta nova realidade que está sendo configurada.

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de maior a estímulos sensoriais visuais. Também gostam de consumir conteúdos em formato digital, em múltiplos canais, vídeos on demand, jogos e realidade aumentada. No entanto, distintos da geração Z, preferem experiências híbridas em que os conhecimentos auferidos de forma online são articulados vivencialmente na prática. Tendem a ter raciocínio não linear. Por isso, tendem a ter mais dificuldade em se concentrar com métodos tradicionais de aprendizado, como a leitura e a escrita de textos longos e/ou densos. Para buscar sua atenção, num primeiro momento, sempre têm sucesso tecnologias que envolvam experiências aumentadas que mesclem audição, visão e tato simultaneamente, como a realidade aumentada, a realidade virtual, a construção do conhecimento e a gamificação.

Estudos mostram que a geração chamada “Digital” é a primeira a ter um QI inferior ao de seus pais. Qual a sua visão sobre essa tendência e os impactos disso na sociedade?

Alexandre Weiler: Realmente, há uma discussão cada vez mais intensa sobre esses indícios. Em 2020, o neurocientista Michel Desmurget, que é um pesquisador renomado com passagens pelo MIT, pela Universidade da Califórnia e que foi diretor do Instituto Nacional de Saúde da França, lançou um livro com um título provocativo: “A Fábrica de Cretinos Digitais”. Na obra, ele apresenta com dados e de forma contundente que o QI de crianças e jovens está sendo afetado profundamente pelos dispositivos digitais, tornando essas gerações, no entender dele, menos inteligentes. E isso é preocupante, muito preocupante. Desmurget diz que, ainda que se saiba que a poluição e a exposição a telas afetam o QI, mesmo sem termos certeza da proporção do impacto, ele está seguro do efeito negativo das telas, uma vez que o QI tende a diminuir

à medida que esse uso aumenta. A luz azul dos dispositivos traz efeitos que degradam a qualidade e o tempo do sono. A atenção voltada ao conhecimento intensivo, variado e com pouco valor é superestimulada, dificultando a concentração e a aprendizagem, aumentando a impulsividade. Além disso, o aumento do sedentarismo, a redução nas interações familiares e sociais presenciais levam a distúrbios emocionais e de linguagem. O resultado é uma tendência de diminuição do uso de tecnologias em sala, que se iniciou na Noruega, Dinamarca, Finlândia, Holanda, França e já está presente em mais de 25% dos países, inclusive com legislação específica. Alguns desses países têm se proposto a banir o uso de tecnologias/eletrônicos em sala de aula para crianças com idade inferior a 12 anos. China e Taiwan têm ido além ao estabelecer multas altas para pais que permitirem o uso desmedido de tecnologias por seus filhos menores, inclusive no ambiente familiar.

A diferença geracional entre professores e estudantes parte de constituições distintas enquanto indivíduos. De que forma essa diferença pode ser transformada em contribuições para o desenvolvimento de ambas as partes?

Alexandre Weiler: Invariavelmente, professores e alunos sempre tendem a ser de gerações distintas. A diferença, agora, é que as particularidades são muito mais marcantes. Auferir melhores resultados nesse novo cenário passa por uma relação que precisa ser dialógica, marcada pelo diálogo geracional onde se identificam, somam e utilizam as características positivas de cada geração, e dialética ao mesmo tempo, em que teses e antíteses se contrapõem sem medo para gerar novas sínteses, capazes de trazer melhores e mais adequadas respostas para estas situações nunca antes vivenciadas.

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N ovas as s o c ia das

• 13/09/2023 | Escola Nova Era Criativa, de São José dos Pinhais • 25/09/2023 | Colégio Fera - Grupo Mattos Leão Educacional, de Guarapuava • 25/09/2023 | Centro de Estudos Profissional Inc, de Curitiba • 03/10/2023 | Gran Faculdade, de Curitiba • 06/10/2023 | CEI Fabrincando, de Curitiba • 27/10/2023 | CEI Tia Maria da Luz, da Lapa • 31/10/2023 | Escola Educando para o Futuro, de São José dos Pinhais • 31/10/2023 | Colégio Expansão, de Curitiba • 31/10/2023 | Maple Bear, de São José dos Pinhais

Selo Escola Legal 2023 Para auxiliar pais e alunos na busca por instituições de ensino particular devidamente regularizadas perante os órgãos oficiais, o Sinepe/PR lança a edição 2023 do selo “Escola Legal”. Associadas podem solicitar seus selos por meio do www.sinepepr.org.br

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