O romance de Tristão e Isolda - excerto

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tradução e apresentação de

Aníbal Fernandes

As lendas respiram Deformam-se, perturbam-se, explicam-se Iguais na diferença do seu narrador.

O ROMANCE DE TRISTÃO E ISOLDA

O ROMANCE DE TRISTÃO E ISOLDA

O ROMANCE DE TRISTÃO E ISOLDA renovado por Joseph Bédier


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O ROMANCE DE TRISTÃO E ISOLDA renovado por

Joseph Bédier tradução e apresentação de

Aníbal Fernandes

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TÍTULO ORIGINAL: LE ROMAN DE TRISTAN ET ISEUT RENOUVELÉ PAR JOSEPH BÉDIER

© SISTEMA SOLAR, CRL RUA PASSOS MANUEL, 67B, 1150-258 LISBOA tradução © ANÍBAL FERNANDES NA CAPA: JOHN WILLIAM WATEREHOUSE, TRISTÃO E ISOLDA, 1916 1.ª EDIÇÃO, SETEMBRO 2012 ISBN 978-989-8566-06-5

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Ali, bem perto da costa oriental de Madagáscar, ficam as ilhas Mascarenhas; entre todas mais conhecida a Bourbon, depois de um novo baptismo chamada Reunião. Para as suas cidades e povoações só escolheu nomes de santos; e arrumou perto da costa as canas do açúcar e as plantas do cacau, porque a sua terra sobe sem nenhum descanso até mais alto do que três mil metros. Os homens olham com respeito para o monstro adormecido a vigiá-los de cima e a mostrar a crista às vezes branca que alguém, há muito tempo, chamou Piton des Neiges. Os Bédier eram desde o século XVIII colonos da Reunião. Sentiam-se «fixados», como era do hábito nessas épocas de viagens longas. No final do século XIX ainda tinham Marselha a quarenta dias de mar, os reflexos da Metrópole lidos em cartas e jornais lentos que só confirmavam a certeza de uma enorme distância. Havia, claro está, uns quantos momentos nas suas vidas cortados pela Viagem; como esses que tocaram a Madame Bédier em meses de gravidez adiantada e fizeram de Joseph Bédier um parisiense acidental. Joseph Bédier nasceu em Paris no mês de Janeiro de 1864 e logo regressou à Reunião, para não sair de lá até aos dezanove anos de idade. Mas não vá imaginar-se, no seu caso, a infância à solta que é memória inapagável nas crianças dos Trópicos. Joseph Bédier tinha ossos frágeis; passou os anos de brincar incomodado por muletas, incitado por incapacidade física à convivência dos livros; e sabe-se,

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mesmo, que a sua última oral no liceu da ilha não lhe deixou mãos livres para agarrar no giz. Ainda assim, a Reunião da sua mocidade ficou-lhe nos sentimentos como nostalgia; e muito mais tarde, já ele medievalista conceituado, já ele homem de letras a sentar-se na cadeira 31 da Academia Francesa, elogiou como lhe competia o seu antecessor Edmond Rostand mas lembrando àqueles parceiros de toga que era homem de terra distante e no seu momento solene não podia ignorá-la: «As queridas vozes longínquas chegam-me do meu país nobre entre as terras nobres da França, a minha pequena ilha Bourbon incansavelmente atenta à sua mãe pátria, mas tão cheia de amor por si própria que este amor embriaga todos os seus filhos.» Ele era, no entanto, desde os dezanove anos de idade um característico francês da Europa, e à mão de semear talvez com a «sua» ilha para evocações de circunstância. Bem cedo, ainda aluno da Escola Normal Superior, com a força que se chama obsessão escolhera a Idade Média, a literatura da Idade Média europeia olhada como origem da actual literatura, para um amor de toda a vida. E fizera-o fascinado, sem dúvida, pelo seu professor Gaston Paris, autor de prestigiados ensaios sobre as figuras e as literaturas medievais. Bédier, discípulo de Gaston Paris, foi frequentador devotado destes mesmos fantasmas. Também ele professor; com um único ano lectivo na Universidade de Friburgo — o bastante para decidir que as atmosferas religiosas convinham pouco ao seu agnosticismo profundo — mas com trinta e três anos no Collège de France, onde substituiu Gaston Paris e foi director até se reformar. O seu prestígio deu-lhe ao longo da vida a Suécia, a Alemanha, a Roménia, a Espanha, os Estados Unidos, para falar a públicos especializados sobre literaturas antigas. Mas durante a Primeira Guerra Mundial interrom-

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peu esta carreira docente e estas confirmações académicas; olhou menos para a Idade Média, e durante alguns anos ofereceu ao Ministério da Guerra a sua destreza, preciosa na altura, em língua germânica. Depois regressou às universidades e aos seus prazeres literários; e teve os anos finais recompensados com as distinções da Academia, desde 1920, das fitas da Legião de Honra, desde 1937. Toda a evidência de uma vida privada surgiu apenas entre pedras na sua muralha medieval; entre esforços para garantir vida nova aos textos inciais da literatura francesa; a mostrar um casamento pacífico: ela de ascendência italiana e nome sonoro, Bizarelli, a família consolidada e com força para acrescentar ao casal três filhos. Por cima pairavam o investigador e o escritor iniciado em 1890 com uma edição crítica do Lai de l’Ombre, mas prolongado com cerca de uma dezena de títulos onde ficou mais notado o ensaio de 1893 sobre as trovas populares, Fabliaux, até surgir a sua obra máxima, Légendes Épiques, Recherches sur la Formation des Chansons de Geste, publicada entre 1908 e 1913 e, dir-se-á, coragem só possível depois de morrrer Gaston Paris; porque Joseph Bédier deixava em ruínas, com a sua investigação, as anteriores teorias do amado mestre sobre o mesmo tema. Houve, no entanto, nesta erudição um passo ao lado: o Romance de Tristão e Isolda publicado em 1900. Era a vez de o grande público decorar o nome Joseph Bédier fugido com êxito à severidade académica e à linguagem especializada. Um prefácio de Gaston Paris (que vem a seguir nesta edição) explicava ao leitor comum a génese complexa do trabalho que, num francês moderno mas com os reconhecíveis encantos das toadas arcaizantes, lhe era entregue sem as dificuldades e as obscuridades do francês céltico. A história de Tristão e Isolda — os estranhos imortais do amor que constroem a sua tragédia sob as fatalidades de um sentimento im-

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posto por artes da magia céltica, a paixão contra a qual os costumes e as leis são impotentes — mostrava-se como alternativa às sublimes lentidões de Wagner, e veloz, e empolgante, e obediente a todo o saber que faz a eficiência dos contos repetidos pela tradição oral. A lenda de Tristão e Isolda chegava ao êxito editorial e era confirmada no amor-símbolo, na sua intensidade inultrapassável, a que El-Rei Dom Dinis ousou ainda assim em versos desafiar: «o mui namorado Tristan sey ben que non amou Iseu quant’eu vos amo.» Joseph Bédier conviveu trinta e oito anos com estas tiragens editoriais insolentemente exteriores aos muros das universidades e à circunspecção académica. Tinha sabido seduzir o grande público com uma história de ingenuidade selvagem, com uma prosa que evocava ao leitor francês a tradição de contar que ele conhecia em Perrault. E em 1938, quando uma inesperada e fulminante congestão cerebral o atingiu no seu retiro de Grand-Serre, no Drôme, soube-se pelos jornais que tinha morrido… aquele autor… que escrevia coisas importantes sobre a Idade Média, sem dúvida, mas era o renovador do romance de Tristão e Isolda que já festejava a sua centésima edição. Vinte e seis anos mais tarde, a Reunião não ignorou o centenário do seu nascimento. Fixou uma placa comemorativa na casa de Saint-Denis que ele habitara antes de ser «europeu». Mas nesse 1964 as agitações africanas incomodavam a Europa e preocupavam, não pouco, os franceses instalados naquela ilha desde há séculos, e que a sentiam como prolongamento distante da França. Um movimento cívico patriótico proclamava a pátria central europeia, porém disposto a preservar a sua identidade índica. Bédier foi utilizado neste programa, metido num discurso longo e oficial, lido por uma autoridade administrativa da ilha: «Repensarmos sem descanso as nossas raízes profundas, para esclarecermos o pre-

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sente e vislumbrarmos melhor o futuro, será primeiro movimento de um grupo humano, logo que ele se tiver organizado, e que buscará nas suas origens o cimento de unidade, o fundamento da sua coesão e a garantia da sua perenidade. Deste modo, a comemoração do centenário que aqui nos reúne seja feliz ocasião para encontrarmos na vida generosa do grande francês e do grande reunionês, que foi Joseph Bédier, uma dessas referências para o nosso passado, e bom exemplo para o seu futuro.» Já antes de Bédier a ilha celebrava dois homens de letras parnasianos que ali tinham nascido: Léon Dierx (louro, de sobrecasaca e sem gestos, como Verlaine o viu), Leconte de Lisle (o dos alexandrinos com sonoridades bárbaras, o aristocrata intelectual, como lhe chamou Baudelaire), hoje relembrados em ruas e praças, nomes fortes que afirmam a França entre coqueiros e bananeiras, e que podem parecer insólitos nas conversas ouvidas num desses dialectos mestiços que se chamam crioulo. A Reunião passou com uma grande tranquilidade francesa à margem de todos os sobressaltos africanos. Chamam-lhe agora Departamento. E a sua moeda é o euro. A.F.

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Tenho o prazer de apresentar aos leitores o mais recente poema que a admirável lenda de Tristão e Isolda fez nascer. Trata-se de um poema, de facto, apesar de escrito numa prosa bela e simples. J. Bédier é o digno continuador dos velhos trovadores que tentaram transvasar para o cristal leve da nossa língua a embriagadora beberagem onde os amantes da Cornualha saborearam outrora o amor e a morte. Para voltar a contar a maravilhosa história do seu encantamento, das suas alegrias, das suas penas e da sua morte, tal como saiu das profundezas do sonho céltico e arrebatou e perturbou a alma dos franceses do século XII, à custa de imaginação simpática e de erudição paciente ele reconstituiu essa mesma alma até então mal revelada, completamente virgem perante essas emoções desconhecidas, que se deixava invadir por elas sem pensar analisá-las e adaptando o conto que a encantava, sem conseguir fazê-lo por completo, às condições da existência que lhes era conhecida. Se nos tivesse chegado uma redacção francesa completa da lenda, para dá-la a conhecer aos leitores contemporâneos Bédier ter-se-ia limitado a fazer uma tradução fiel. O singular destino que quis fazê-la chegar em fragmentos dispersos obrigou-o a assumir um papel mais activo, para o qual não bastava ser erudito, e para o qual era preciso ser um poeta. Entre os romances de Tristão, dos quais conhecemos a existência e que devem ter sido todos de grande extensão, os de Chrétien de Troyes e La Chèvre pereceram por completo; restam-nos cerca de três mil versos do que Béroul escreveu; e outro-

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tanto do que escreveu Thomas; de um outro, anónimo, mil e quinhentos versos. E depois há traduções estrangeiras, três a darem-nos quase por completo o fundo da obra de Thomas, mas não a sua forma, e uma a apresentar-nos um poema muito semelhante ao de Béroul; alusões por vezes muito preciosas; pequenos poemas episódicos e, por fim, o indigesto romance em prosa que conserva, no meio de uma amálgama constantemente engrossada por redactores sucessivos, alguns fragmentos de velhos poemas perdidos1. O que fazer perante este aglomerado de escombros, se quisermos restaurar um dos edifícios que ruíram? Podiam ser tomados dois partidos: agarrarmo-nos a Thomas ou agarrarmo-nos a Béroul. O primeiro partido teria a vantagem de chegarmos, com toda a certeza e graças às traduções estrangeiras, à completa e homogénea reconstituição de uma narrativa. Teria o inconveniente de só reconstituir o menos antigo dos poemas de Tristão, onde o velho elemento bárbaro foi por completo assimilado ao espírito e às obras da sociedade cavaleiresca anglo-francesa. Bédier preferiu tomar o segundo partido bem mais difícil e, por isto mesmo, mais tentador para a sua arte e o seu saber, e que mais convinha ao objectivo em vista: fazer reviver, para os homens dos nossos dias, a lenda de Tristão sob a mais antiga forma que ela assumiu ou, pelo menos, a que podemos na França ter acesso. Começou, portanto, por traduzir o mais fielmente que pôde o fragmento de Béroul que até nós chegou e ocupa, por assim dizer, o centro da narrativa. Penetrando desta forma no espírito do velho narrador, assimilando o seu modo ingénuo de sentir, a sua maneira simples de pensar que às vezes chega a um embaraço infantil de exposição, e a graça um tanto desajeitada do 1 Esta versão foi passada para francês moderno em 1938, por Pierre Champion. (N. do T.)

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estilo, restituiu a este tronco uma cabeça e membros, não por justaposição mecânica mas uma espécie de regeneração orgânica, como a que vemos nos animais mutilados que se completam através da sua força íntima e cumprem o plano do que é a sua forma perfeita. Como é sabido, tanto mais êxito estas regenerações obtêm quanto menos desenvolvido e acabado estiver o organismo. É exactamente o caso de Béroul. Ele próprio assimilava elementos das mais diversas origens, por vezes bastante heteróclitos, sem que essa disparidade o chocasse nem o incomodasse, tanto mais que os fazia passar com frequência por uma espécie de acomodação que bastava para lhes dar uma homogeneidade superficial. O Béroul moderno pôde portanto proceder como ele, ressalvando-se que melhor escolha e melhor gosto lá introduziu. Ao fragmento que dá continuação ao fragmento de Béroul, à tradução alemã de um poema vizinho do que Béroul escreveu, a Thomas e aos seus tradutores, às alusões e aos poemas episódicos, e até mesmo ao romance em prosa, ele foi buscar material para reconstruir no pedaço conservado um prolongamento e um fim, mas procurando sempre, entre as múltiplas variantes da história, a que mais convinha ao espírito e ao tom do fragmento autêntico. Depois — e é este o esforço mais engenhoso e mais delicado da sua arte — tentou dar a todos estes pedaços dispersos a forma e a cor que Béroul lhes teria dado. Eu não seria capaz de jurar que não escreveu todo o poema em versos o mais possível parecidos com os de Béroul, para os traduzir depois em francês moderno e com cuidado idêntico ao que teve a traduzir os três mil versos conservados. Se o velho poeta regressasse e investigasse o destino que hoje cabe à sua obra, maravilhar-se-ia por ver com que devoção, inteligência, trabalho e êxito foi retirada do abismo onde apenas sobrenadava um fragmento, e como foi posta

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de novo a navegar, sem dúvida mais completa, brilhante e atenta do que a outra, lançada outrora por ele ao público. Trata-se, pois, de um poema francês dos meados do século XII mas composto no final do século XIX, aquilo que o livro de Bédier contém. E é desta forma que convirá apresentar-se aos leitores modernos a história de Tristão e Isolda, porque foi com o trajo francês do século XII que ela dominou outrora todas as imaginações, e porque todas as formas que assumiu depois remontam a essa primeira forma francesa, uma vez que somos forçosamente levados a ver Tristão com uma armadura de cavaleiro e Isolda na longa veste rígida das estátuas das nossas catedrais. Este trajo francês e cavaleiresco não é, porém, o seu primeiro trajo; pertence tão pouco aos nossos heróis como pertencem os que a Idade Média vestiu aos da Grécia e de Roma. Disto nos apercebemos em mais de um vestígio que os adaptadores mantiveram. Mesmo Béroul, que a si próprio se aplaudiu por ter apagado alguns vestígios da barbárie primitiva, muitos outros deixou ficar; até Thomas, mais cuidadoso a observar as regras da cortesia, não deixa aqui e além de nos abrir estranhas perspectivas sobre o verdadeiro carácter dos seus heróis e do meio onde eles se movem. Combinando as indicações dos narradores franceses, bastantes vezes muito fugidias, chega-se a vislumbrar o que talvez tenha sido entre os Celtas este poema selvagem, todo embalado pelo mar e envolto pela floresta, com um herói mais semideus do que homem, apresentado como o mestre ou até inventor de todas as artes bárbaras matadoras de veados e javalis, exímio trinchador de carne de caça, lutador e saltador incomparável, navegador audacioso, entre todos hábil a fazer vibrar a harpa e a guitarra; que sabia imitar até à ilusão o canto de todos os pássaros e somando-se a isto, como é natural, o seu carácter de herói invencível nos combates, domador de monstros, protector dos seus fiéis,

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impiedoso para com os inimigos, a viver uma vida quase sobre-humana, constante objecto de admiração, devotamento e inveja. Este tipo formou-se garantidamente em épocas muito remotas no mundo céltico; e muito indicado é que fosse completado pelo amor. Não vou aqui repetir que carácter tem, na lenda de Tristão e Isolda, a paixão que os acorrenta e o que faz desta lenda, nas suas formas diversas, a incomparável epopeia do amor. Limitar-me-ei a lembrar que a ideia de simbolizar o amor involuntário, irresistível e eterno por esta beberagem com um efeito — e nisto difere dos filtros vulgares — prolongado a toda a vida e que até depois da morte persiste, ideia que dá à história dos amantes o seu carácter fatal e misterioso, tem evidente origem nas práticas da velha magia céltica. Também não quero insistir nos traços de costumes e sentimentos bárbaros que há pouco indiquei, e a todo o instante fazem um efeito muito singular e poderoso na narrativa calma dos contadores franceses. Como é natural, Bédier recolheu-os com predilecção e, para completar a obra de Béroul, fazendo um trabalho de industrioso mosaico. Sem dificuldade os leitores irão localizá-los e sentir como a história que os nossos poetas franceses do século XII contavam aos seus contemporâneos era estranha ao meio em que eles a divulgavam e no qual se esforçavam em vão por a enquadrar. Na história de Tristão e Isolda, apesar de todas as dificuldades e obscuridades que ela apresentava já consagrada na forma dos poemas em versos octossilábicos, e apesar de estar nisto, de facto, o êxito do seu empreendimento e ter valido a esta história uma popularidade sem precedentes, desde que foi conhecida pelo mundo romano-germânico, atraía-os o espírito que a anima de uma ponta à outra, que em todos estes episódios circula como a «bebida amorosa» nas veias dos dois heróis: a ideia da fatalidade do amor que o eleva acima de todas as leis. Encarnada em dois seres de ex-

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cepção, esta ideia que responde ao sentimento secreto de tantos homens e tantas mulheres, emocionou mais os corações por estar aqui purificada com o sofrimento e como que pela morte consagrada. No meio da fragilidade trivial dos afectos humanos, das decepções renovadas que a ilusão sempre instável sofre, o casal Tristão e Isolda desde o início subjugado por um laço que é, misteriosamente, impossível de desatar, fustigado por todas as tempestades e resistindo-lhes, tentando em vão libertar-se, e por fim arrastado num último e eterno abraço, surgia e ainda surge como uma das formas desse ideal que o homem não se cansa de fazer planar acima do real, e com aspectos múltiplos e opostos que apenas são manifestações diversas da sua obstinada aspiração à felicidade. Se esta forma é das mais sedutoras e mais emocionantes, também é uma das mais perigosas: a história de Tristão e Isolda, não saberíamos duvidar disto, em mais de uma alma verteu outrora um veneno subtil; e ainda hoje, preparada pelo mágico moderno que lhe associou a força do encantamento musical, a bebida do amor por certo perturbou, e talvez tenha desvairado, mais de um coração. Embora não exista ideal com encanto isento do que é o seu perigo, não sabemos privar de ideal a vida sem a condenarmos à insipidez ou ao sombrio desespero. Quando passamos à frente da gruta das sereias, temos de saber permanecer firmemente amarrados ao mastro mas sem renunciarmos a ouvir a divina melodia que aos mortais faz vislumbrar as felicidades sobre-humanas. Não obstante, mesmo que toda a atracção do velho poema subsista na «renovação» que se vai ler, o perigo que ele poderia apresentar para os contemporâneos de Béroul está, para os nossos, singularmente atenuado. Para as almas, as paixões são tanto mais contagiosas quanto mais se verificarem em almas que lhes são semelhantes; quando se trata de almas longínquas e muito diferen-

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tes, se não no fundo pelo menos nas condições exteriores da sua actividade, as paixões conservam toda a grandeza e a beleza perdendo embora muito da sua força sugestiva. Ressuscitados por Bédier com trajos e atitudes de outrora, com as suas formas de viver, sentir e falar semimedievais, os Tristão e Isolda de Béroul serão para os leitores modernos como as personagens de um velho vitral; têm gestos abruptos, expressões ingénuas, fisionomias enigmáticas. Mas atrás desta imagem marcada pelo cunho especial de uma época vemos que a paixão, como o sol atrás do vitral, fá-la resplanceder sempre idêntica a si própria, e ilumina-a, e põe-na por completo a flamejar. Um tema eterno das meditações do pensamento e das perturbações do coração representado por figuras com um interesse que reside no seu próprio arcaísmo, ora aqui temos por inteiro o poema do renovador de Béroul. Existe nisto quanto basta para encantar os leitores com curiosidade, ao mesmo tempo, por história e poesia. Mas o que não pude expressar e será descoberto com enlevo na leitura desta obra antiga, é o encanto dos pormenores, a misteriosa e mítica beleza de certos episódios, a feliz invenção de outros mais modernos, o imprevisto das situações e dos sentimentos, tudo o que faz deste poema mistura única de antiguidade imemorial e frescor sempre renovado, de melancolia céltica e graça francesa, de poderoso naturalismo e delicada psicologia. Não duvido de que ele volte a encontrar, junto dos nossos contemporâneos, o êxito que obteve junto dos nossos antepassados do tempo das Cruzadas. Pertence, de facto, a essa «literatura do mundo» de que falava Goethe. Tinha por má e imerecida sorte desaparecido: e será preciso sabermos expressar um agradecimento infinito a Joseph Bédier, por tê-la trazido de novo até nós. (1900)

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i as infâncias de tristão

Du wærest zwâre baz genant: Juvente bele et la riant! (Gottfried de Strasbourg)

enhores, gostaríeis de ouvir um belo conto de amor e morte? É de Tristão e de Isolda a rainha. Escutai como em grande alegria e grande dor se amaram, e num mesmo dia morreram, ele por ela, ela por ele.

Nos tempos antigos reinava o rei Marco na Cornualha. E Rivaleno, rei do Loonnois, sabendo que inimigos iam fazer-lhe guerra, transpôs o oceano para uma ajuda lhe dar. Com espada e conselho o serviu, como se fora seu vassalo; e tão fielmente,

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que em recompensa Marco deu-lhe a bela Brancaflor sua irmã, que o rei Rivaleno amava com maravilhoso amor. No mosteiro de Tintagel recebeu-a como mulher. Mal se casou chegou-lhe porém a notícia de que o duque Morgan, seu velho inimigo, caíra sobre o Loonnois arruinando-lhe aldeias, campos, cidades. Rivaleno equipou à pressa as suas naves e levou Brancaflor, nessa altura grávida, para a sua terra distante. À frente do castelo de Kanoel pôs o pé em solo firme, e a rainha foi confiada à guarda do seu marechal Roaldo — o leal Roaldo, a quem chamavam todos pelo belo nome Roaldo o da Palavra Honrada; e, reunidos depois os seus varões, partiu para enfrentar a batalha. Brancaflor muito tempo esperou; mas, ai dela!, Rivaleno nunca mais regressaria. E uma vez soube que o duque Morgan tinha-o traidoramente morto. Não o chorou; nem gritos nem lamentos se ouviram, mas ficou com membros frágeis e sem vida; a sua alma com forte desejo quis soltar-se do corpo. Roaldo esforçou-se por lhe dar consolo: — Rainha — dizia ele — nada consegue ganhar-se fazendo luto atrás de luto. Não devem todos os que nascem morrer? Receba Deus os mortos e preserve os vivos!… Mas ela não queria escutá-lo. Três dias esperou que o seu querido senhor viesse ter consigo. No quarto dia trouxe ao mundo um filho e disse, tomando-o nos braços: — Filho, desde há muito eu desejava ver-te; e vejo agora a mais bela criatura que uma mulher trouxe alguma vez dentro de si. Dei com tristeza à luz, com tristeza faço esta primeira carícia, e por tua causa estou mortalmente triste. E como chegaste ao mundo por tristeza, o nome de Tristão terás. Dizendo estas palavras beijou-o e, mal tinha dado o beijo, morreu.

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Roaldo, o da Palavra Honrada, recolheu o órfão. Mas já os homens do duque Morgan cercavam por todos os lados o castelo de Kanoel. Como é que Roaldo podia sustentar longo tempo a guerra? Com justeza se diz: «Desmesura proeza não é.» Teve de render-se à mercê do duque Morgan. Mas receando que ele decapitasse o filho de Rivaleno, por seu próprio filho o marechal fê-lo passar, e entre os seus filhos o criou. Sete anos decorridos, chegado o tempo de ele ser retirado ao convívio das mulheres, Roaldo confiou-o a um erudito professor, o bom escudeiro Gorvenal. Em poucos anos Gorvenal ensinou-lhe as artes que aos varões convêm. Ensinou-lhe o manejo da lança, da espada, do escudo e do arco, a lançar os discos de pedra, a transpor de um salto os mais largos fossos; ensinou-o a detestar toda a mentira e toda a felonia, a socorrer os fracos, a manter a palavra dada; ensinou-lhe diversas formas de canto, a dedilhar a harpa e a arte do monteiro; e quando a criança cavalgava entre jovens escudeiros, dir-se-ia que formava com o cavalo e as armas um só corpo, e nunca tinham estado separados. Vendo-o tão nobre e tão altivo, largo de ombros, delgado de ilhargas, forte, fiel e bravo, todos louvavam Roaldo por tal filho ter. E porque Roaldo pensava em Rivaleno e em Brancaflor, de quem ele fazia reviver a juventude e a graça, quis a Tristão como a um filho, e em segredo o venerou como seu senhor. Ora, aconteceu que toda a alegria lhe foi roubada no dia em que mercadores da Noruega atraíram Tristão à sua nave e o levaram como bela presa. Enquanto singravam para terras desconhecidas, Tristão debateu-se como o jovem lobo caído na armadilha. Mas é verdade provada, como todos os marinheiros sabem, que a contragosto o mar leva as naves pérfidas, e nem

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raptos nem traições ajuda. Ergueu-se pois em fúria, envolvendo em treva a nave, e oito dias e oito noites expulsou-a para longe, à aventura. Atrás da névoa, os marinheiros acabaram por ver uma costa eriçada por falésias e recifes, onde ele queria despedaçar-lhes a quilha. Arrependeram-se. Sabendo que o mar se enfurecia por causa da criança em má hora raptada, fizeram o voto de a libertar, e aparelharam uma barca para a deixar na costa. Não tardou que ventos e vagas amainassem, o céu brilhasse; e enquanto a nave dos noruegueses desaparecia ao longe, ondas calmas e risonhas levaram a barca de Tristão às areias de uma praia. Com grande esforço subiu à falésia e, para lá de uma charneca com vales e desabitada, viu uma floresta estendida a perder de vista. E estava Tristão a lamentar-se, com saudades de Gorvenal, do seu pai Roaldo e da terra do Loonnois, quando o som distante de uma trompa de caça lhe alegrou a alma. Um belo veado surgia na orla da floresta. A matilha e os monteiros desciam seguindo o rasto com alto ruído de vozes e trompas. Mas como os sabujos se penduravam já em cacho no couro da cernelha, a uns passos de Tristão o animal flectiu os jarretes e rendeu-se. Um monteiro deu-lhe o golpe do venábulo. E enquanto os outros caçadores, em círculo, tocavam o sinal de peça abatida, foi com espanto que Tristão viu o monteiro-chefe dar um grande talho na garganta do veado, como se quisesse cortar-lhe o pescoço. Gritou: — O que fazeis, senhor? Será mister tão nobre animal ter a cabeça cortada como um porco? Será costume deste país? — Belo irmão — respondeu o monteiro — o que terei feito para estares surpreendido? Sim, começo por cortar a cabeça do veado, e talharei depois o corpo em quatro partes que ao rei Marco, nosso senhor, levaremos penduradas nos arções das se-

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las. Assim procedemos; desde o tempo dos mais antigos monteiros, os homens da Cornualha sempre fizeram isto. Mas conhecendo tu costume mais louvável, mostra-o; empunha esta faca, belo irmão; aceitaremos de bom grado o que ensinares. De joelhos, Tristão esfolou o veado antes de o esquartejar; depois despedaçou o animal deixando a descoberto, como é da boa prática, o osso do fim da espinal medula; e a seguir retirou os miúdos, o focinho, a língua, os testículos e a veia do coração. Debruçados, monteiros e servos dos cães com fascinação o olhavam. — Amigo — disse o monteiro-chefe — são boas as tuas práticas; em que terra as aprendeste? Diz-nos qual é o teu país e que nome tens. — Chamam-me Tristão, belo senhor; e estes costumes aprendi-os no meu país do Loonnois. — Tristão — disse o monteiro — Deus recompense o pai que tão nobremente te educou! Será, sem dúvida, varão rico e poderoso. Mas Tristão, que sabia falar tão bem como calar-se, com astúcia respondeu: — Não, senhor, o meu pai é mercador. Deixei em segredo a sua casa e numa nave que partia para traficar em terras distantes, porque desejava aprender como se comportam os homens das terras estrangeiras. No entanto, se me aceitardes entre os vossos monteiros seguir-vos-ei de bom grado, belo senhor, e far-vos-ei conhecer outros recreios da montaria. — Belo Tristão, espanta-me haver terra onde os filhos de mercador sabem o que filhos de cavaleiros noutros lados ignoram. Vem connosco, já que é o teu desejo, e bem-vindo sejas. Vamos levar-te à presença do rei Marco, nosso senhor.

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Tristão acabou de retalhar o gamo. Aos cães deu o coração, a carniçaria e as entranhas, e aos caçadores ensinou como devem preparar-se a carne e os restos para a matilha. Depois espetou os pedaços bem divididos em forcados, e confiou-os aos diversos monteiros: a um a cabeça, a outro o quarto traseiro e os grandes lombos; a estes as espáduas, àqueles as coxas, ainda a outro o gordo interior do ventre. Ensinou-os a juntarem-se aos pares, para cavalgarem em boa ordem e de acordo com a nobreza das peças de caça erguidas nos forcados. Puseram-se então a caminho, a conversar, até vislumbrarem um rico castelo. À sua volta tinha prados, vergéis, águas correntes, pescarias e terras de lavoura. Numerosas naves entravam no porto. O forte e formoso castelo levantava-se frente ao mar, bem apetrechado contra qualquer assalto e todos os engenhos de guerra; e a sua torre mestra, erguida outrora por gigantes, estava assente em grandes e bem talhados blocos de pedra dispostos como um tabuleiro de xadrez sinople e azul-mineral. Tristão perguntou como se chamava o castelo. — Distinto servidor, chamam-lhe Tintagel. — Tintagel! — exclamou Tristão. — Por Deus abençoado sejas, e abençoados sejam os teus anfitriões! Senhores, tinha sido ali que o seu pai Rivaleno com grande alegria desposara outrora Brancaflor. Mas isto, ai de mim!, Tristão ignorava. Chegados perto do torreão, as fanfarras dos monteiros atraíram às portas os varões e até o rei Marco. Depois de o monteiro-chefe contar a aventura, Marco admirou a bela equipagem da cavalgada, o gamo bem retalhado e o grande sentido dos costumes da montaria. Mas sobretudo admirou a bela criança estrangeira, sem poderem os seus olhos

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desviar-se dela. De onde lhe chegava esta imediata ternura? O seu próprio coração o rei interrogava, sem conseguir compreendê-lo. Era, senhores, o sangue dentro de si a falar, emocionado, e o amor que outrora dedicara à sua irmã Brancaflor. À noite, depois de levantadas as mesas, um jogral galês, mestre na sua arte, avançou por entre os varões reunidos e cantou lais de harpa. Tristão estava sentado aos pés do rei, e porque o harpista fazia o prelúdio a uma nova melodia, ele assim lhe falou: — Mestre, este lai é entre todos o mais belo; fizeram-no antigamente os antigos bretões para celebrar os amores de Grelenta. A ária é suave, e suaves as suas palavras. Tens voz hábil. Arpeja-a bem, mestre! O galês cantou e depois respondeu: — Criança, o que sabes tu, afinal, da arte dos instrumentos? Se os mercadores da terra do Loonnois também ensinam aos seus filhos o jogo das harpas, das cítaras e das sanfonas, levanta-te e para mostrares o teu mérito toma esta harpa. Tristão agarrou nela e tão belamente cantou, que os varões se emocionavam ao ouvi-lo. E Marco admirou o harpista chegado desse país do Loonnois, de onde Rivaleno tinha trazido outrora Brancaflor. Terminado o lai, durante muito tempo o rei se calou. — Filho — disse por fim — abençoado o mestre que te ensinou, e abençoado sejas por Deus! Deus ama os que bem cantam. As suas vozes e as vozes da harpa penetram no coração dos homens, despertam encarecidas memórias e fazem esquecer muita dor e muita malfeitoria. Para alegria nossa, chegaste a esta casa. Amigo, fica muito tempo ao pé de mim! — Sire, de bom grado vos servirei como vosso harpista, vosso monteiro e vosso homem fiel — respondeu Tristão.

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Assim aconteceu, e com uma ternura recíproca a crescer durante três anos nos seus corações. Durante o dia Tristão acompanhava Marco nas audiências e na caça; e à noite, por dormir no quarto real entre os íntimos e os fiéis, se o rei estivesse triste tocava harpa para lhe apaziguar o desconforto. Os varões encareciam-no e, acima de todos e como a história vos ensinará, o senescal Dinas de Lidan. Mas o rei ainda o amava mais do que os varões e Dinas de Lidan, embora tal ternura não consolasse Tristão da perda de Roaldo seu pai, de Gorvenal seu mestre, e da terra do Loonnois. Senhores, narrador que queira agradar deve fugir a muito longas histórias. E como é muito bela e diversa a matéria deste conto, de que serviria alongá-la? De forma breve direi como Roaldo, o da Palavra Honrada, depois de muito errar por mares e países abordou na costa da Cornualha, encontrou Tristão e, mostrando ao rei o carbúnculo que ele tinha há muito oferecido a Brancaflor como estimado presente nupcial, disse: — Rei Marco, este é Tristão do Loonnois vosso sobrinho, filho da vossa irmã Brancaflor e do rei Rivaleno. O duque Morgan detém contra o direito a sua terra. Tempo chegou de ela regressar ao legítimo herdeiro. De forma breve direi como Tristão, recebendo do seu tio as armas de cavaleiro, transpôs o mar nas naves da Cornualha, deu-se a conhecer a antigos vassalos do seu pai, desafiou o assassino de Rivaleno, matou-o e recuperou a sua terra. Pensando depois que o rei Marco não saberia viver feliz sem ele, e porque a nobreza do seu coração lhe revelava sempre o partido mais sensato, reuniu os seus condes e os seus barões, falando-lhes assim:

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— Senhores do Loonnois, com a ajuda de Deus e a vossa ajuda reconquistei este país e ao rei Rivaleno fiz vingança. Mas dois homens, Roaldo e o rei Marco da Cornualha, ampararam o órfão e a criança perdida; devo por isto chamar-lhes pais. Não deverei restituir-lhes também o seu direito? Ora, duas coisas terá de seu um homem nobre: a sua terra e o seu corpo. Por isso a Roaldo, que aqui vedes, abandonarei a minha terra. Ficareis com ela, pai, e o vosso filho depois de vós. E ao rei Marco abandonarei o meu corpo. Vou sair deste país, mesmo que encarecido me seja, para servir o meu senhor Marco da Cornualha. É este o meu pensamento; mas vós, senhores do Loonnois, sois meus fiéis e deveis-me conselho; se algum de vós outra resolução quiser indicar-me, levante-se e fale! Mas todos os varões com lágrimas o louvaram; e Tristão, levando apenas consigo Gorvenal, aparelhou em direcção à terra do rei Marco.

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ii o moroldo da irlanda

Tristrem seyd: Y wis, Y wil defende it as knizt. (Sir Tristrem)

uando Tristão para lá voltou, Marco e toda a sua varonia cumpriam pesado luto. Porque o rei da Irlanda equipara uma frota para devastar a Cornualha se Marco mantivesse a sua recusa, que desde há quinze anos durava, em saldar o tributo outrora pago pelos seus antepassados. Ficai então sabendo que antigos tratados tinham permitido aos Irlandeses extorquirem no primeiro ano à Cornualha trezentas libras de cobre, no segundo ano trezentas libras de prata fina e no terceiro trezentas libras de ouro. E, chegado o quarto ano, tinham levado trezentos jovens rapazes e trezentas jovens raparigas com idade de quinze anos, escolhidos por sorteio entre as

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famílias da Cornualha. Ora, o rei irlandês enviara naquele ano a Tintagel o Moroldo1, um cavaleiro gigante nunca vencido em combate, que era irmão da sua esposa. Por missivas seladas o rei Marco convocara então à corte todos os varões do país, para serem ouvidos em conselho. Na altura aprazada, com os varões reunidos em assembleia na sala de abóbada do palácio, e Marco sentado sob o dossel, foram estas as palavras do Moroldo: — Rei Marco, ouve pela derradeira vez o mandamento do rei da Irlanda, meu senhor. És intimado a pagar o tributo que lhe deves. E porque desde há muito tempo te recusas a fazê-lo, exige que me entregues neste dia trezentos jovens rapazes e trezentas jovens raparigas com idade de quinze anos, escolhidos por sorteio entre as famílias da Cornualha. A nave que tenho ancorada no porto de Tintagel levá-los-á, para nossos servos passarem a ser. No entanto… e apenas de ti faço excepção, como convém… se algum dos teus varões quiser provar por combate que o rei da Irlanda impõe contra o direito este tributo, aceitarei o desafio. Qual entre vós, senhores da Cornualha, quer combater pela imunidade deste país? Os varões olharam uns para os outros de soslaio e baixaram a cabeça. De si para si, um dizia: «Vê bem, desgraçado, a estatura do Moroldo da Irlanda. É mais forte do que quatro homens robustos. Olha para a sua espada; não sabes que há muitos anos, desde que o rei da Irlanda envia este gigante para os seus desafios em terras vassalas, por um qualquer sortilégio ela faz voar as cabeças dos mais bravos campeões? Queres tu, No original le Morholt que, ao ser precedido de artigo, é um cognome. No Cancioneiro da Ajuda, Carolina Michaëlis dá-lhe várias formas: Marot, Marout, Omaroot... É provável que o nome signifique O Maroto, o Astuto. (N. do T.) 1

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xiii o canto do rouxinol

Tristan defors e chante e gient Cum rossignol que prent congé En fin d’esté od grand pitié. (Le Domnei des Amanz)

uando Tristão regressou à cabana do silvícola Orri, arredou o bordão, despiu a capa de peregrino, e foi claro para o seu coração que chegara o dia de cumprir a jura feita ao rei Marco afastando-se do país da Cornualha. O que estava a demovê-lo? A rainha justificara-se, o rei prezava-a, prestava-lhe honras. Se fosse necessário, Artur tomá-la-ia sob protecção e nenhuma felonia passaria a ser-lhe nociva. Por que teria de rondar mais tempo pelas vizinhanças de Tintagel? Estava a pôr inutilmente em risco a sua vida, a vida de Orri e a tranquilidade de Isolda. Tinha de partir, de facto, e com trajo de peregrino sentira pela última vez na Campina Branca o corpo de Isolda nos seus braços.

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Mais três dias demorou, sem conseguir desligar-se do país onde a rainha vivia. Porém, ao quarto dia despediu-se do silvícola que o albergara e disse a Gorvenal: — Belo mestre, chegou a hora do longo afastamento; vamos para a terra de Gales. Com tristeza, ainda noite deitaram-se à estrada. Mas o caminho ladeava o pomar fechado com estacas onde Tristão esperara em tempos a sua amiga. A noite tinha um brilho límpido. Numa volta do caminho e não longe da paliçada viu contra a claridade do céu o tronco robusto do grande pinheiro. — Belo mestre, espera por mim no bosque porque estarei em breve de volta. — Aonde vais? Louco! Quererás procurar incansavelmente a morte? Mas já Tristão franqueara com um salto seguro a cerca de estacas. Aproximou-se do grande pinheiro, perto do socalco de mármore claro. De que serviria deitar agora na fonte cascas de árvore bem talhadas? Isolda já não viria ao seu encontro! Através do caminho que a rainha outrora utilizava, com passos leves e prudentes ousou aproximar-se do castelo. No seu quarto, Isolda mantinha-se acordada nos braços de Marco adormecido. E pela vidraça entreaberta, onde brincavam raios de luar, entrou de repente o canto de um rouxinol. Isolda ouvia o canto sonoro surgido a encantar a noite, e essa voz de lamento até um coração cruel, um coração de assassino, teria enternecido. Pensou: «De onde vem esta melodia?…» De repente compreendeu: « Ah! É Tristão! Para me agradar, na floresta do Morois ele imitava assim os pássaros cantores. Vai-se embora, e é o seu derradeiro adeus. Como se lamenta! Exactamente como o rouxinol no fim do Verão, quando faz com grande tristeza a sua despedida. Amigo, nunca mais voltarei a ouvir a tua voz!»

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A melodia vibrou ainda mais ardente. — Ah! O que exiges tu? Que vá ter contigo? Não! Lembra-te de Ogrino, o eremita, e dos juramentos feitos. Cala-te porque a morte nos espreita… Mas que importa a morte? Chamas por mim, desejas-me, e eu vou! Desfez-se do abraço do rei e pôs no corpo quase nu um manto forrado com grisisco. Precisava de atravessar a sala contígua, onde dez cavaleiros todas as noites velavam por turnos. Enquanto cinco dormiam, os outros cinco vigiavam de pé e armados no exterior, à frente das portas e das sacadas. Para sua sorte todos estavam adormecidos; cinco nos seus leitos, cinco nas lajes. Isolda transpôs os corpos dispersos e levantou a barra da porta. O anel fez um ruído, mas sem despertar nenhum dos vigilantes. Quando franqueou o limiar, o cantor calou-se. Sob as árvores, sem dizer uma palavra, apertou-a contra o peito; os braços enlaçaram-se com firmeza à volta dos corpos; e, como se tivessem laços a uni-los, até de madrugada não desfizeram o abraço. Apesar do rei e daqueles que vigiavam, deram largas à sua alegria e aos seus amores. Esta noitada alucinou os amantes; e porque o rei nos dias seguintes se afastou de Tintagel para dar audiências em Saint-Lubin, Tristão voltou para a casa de Orri. Todas as manhãs teve a audácia de percorrer com sol claro o pomar e de se introduzir nos quartos das mulheres. Um servo que o surpreendeu foi ter com André, Denoaleno e Gondoíno. — Senhores, o animal que julgastes expulso da toca regressou ao covil. — Quem?

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xix a morte

Amor, condusse noi ad una morte. (Dante, Inf. Cap. V)

al Tristão chegou a Carhaix, na Pequena Bretanha, aconteceu-lhe guerrear um varão chamado Bedalis para prestar ajuda ao seu querido companheiro Caerdino, e caiu numa emboscada que ele e os seus irmãos tinham armado; a todos os sete irmãos matou mas foi ferido com um golpe de lança, e a lança estava envenenada. Com grande dificuldade voltou ao castelo de Carhaix e pediu que lhe tratassem das feridas. Um grande número de médicos acorreu, nenhum capaz de curá-lo de um veneno que nem mesmo descobriam qual era. Não souberam fazer nenhum emplastro que puxasse para fora do corpo o veneno; em

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vão esmagaram e moeram as suas raízes, colheram ervas, compuseram beberagens. Tristão só piorava, com o veneno a espalhar-se no corpo; ficou pálido e os seus ossos começaram a notar-se sob a pele. Sentiu que perdia a vida, compreendeu que teria de morrer. Quis então voltar a encontrar-se com Isolda a Loura. Mas como chegar junto dela? Tão fraco, o mar matá-lo-ia; e mesmo que chegasse à Cornualha, como é que evitaria não cair nas mãos dos seus inimigos? Lamentava-se, o veneno angustiava-o, esperava a morte. Como era leal o amor que Tristão e Caerdino sentiam um pelo outro, mandou chamá-lo em segredo para lhe dar notícia da sua pena. Só aceitou que Caerdino, e mais ninguém, ficasse no seu quarto, e nem mesmo quis que estivessem pessoas nas salas contíguas. Isolda, a sua mulher, sentiu-se profundamente espantada com tão estranha vontade. Com ela se assustou, e quis ouvir o que ambos iam dizer. Fora do quarto, encostada à parede mais próxima do leito de Tristão, escutou; e, para não ser surpreendida, um dos seus fiéis guardou a entrada. Tristão reuniu forças, levantou-se e foi apoiar-se na muralha; Caerdino sentou-se ao pé dele, e enternecidas lágrimas os dois choraram. Choraram a boa camaradagem de armas tão cedo interrompida, a sua grande amizade e os seus amores; agarrados um ao outro, lamentaram-se. — Belo e sereno amigo — disse Tristão — estou numa terra estrangeira onde não tenho parentes e onde sois a minha única amizade. Apenas vós me destes neste país alegria e consolo. Perco a vida, e queria voltar a ver Isolda a Loura. Mas como? Através de que astúcia poderei dar-lhe a conhecer o meu desejo? Ah! Soubesse eu de um mensageiro disposto a procurá-

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as fontes

O capítulo I do nosso romance (As Infâncias de Tristão) é uma drástica condensação de diversos poemas, mas principalmente de Thomas como surge nas suas readaptações estrangeiras. — Os capítulos II e III (O Moroldo da Irlanda, A Busca da Bela dos Cabelos de Ouro) foram tratados a partir de Eilhart d’Oberg (edição Lichtensteis, Estrasburgo, 1878). — O capítulo IV (O Filtro) surge do conjunto da tradição, sobretudo de Eilhart. Alguns pormenores foram tirados de Gottfried de Strasbourg (edição W. Golther, Berlim e Estugarda, 1888). O capítulo V (Brangiana Entregue aos Servos) deve-se a Eilhart. — No capítulo VI (O Grande Pinheiro), a chegada de Isolda ao encontro debaixo do pinheiro começa de acordo com o fragmento de Béroul, que fielmente seguimos nos capítulos VII, VIII, IX, X, e XI (O Anão Frocino, O Salto da Capela, A Floresta do Morois, O Eremita Ogrino, O Vau Aventuroso), mas num ou noutro ponto interpretando-o através do poema de Eilhart e de várias contribuições tradicionais. — O capítulo XII (O Julgamento pelo Ferro ao Rubro) é um resumo muito livre do fragmento anónimo que faz continuação ao fragmento de Béroul. — O capítulo XIII (O Canto do Rouxinol) foi inserido na história segundo um poema didáctico do século XIII, o Domnei des Amanz. O capítulo XIV (O Guizo Maravilhoso) foi extraído de Gottfried de Strasbourg. — Os capítulos XV, XVI e XVII (Isolda de Brancas Mãos, Caerdino, Dinas de Lidan) foram, nos episódios de Caerdino e Tristão leproso, tirados de Thomas; o que resta resulta, em geral, de Eilhart. — O capítulo XVIII (Tristão Louco) é readaptação de um pequeno poema francês episódico e independente. — O capítulo XIX (A Morte) foi traduzido de Thomas, embora tenha episódios extraídos de Eilhart e do romance em prosa francesa que existe no manuscrito 103 da Biblioteca Nacional. Joseph Bédier

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índice

Ali, bem perto…. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Prefácio de Gaston Paris . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

13

As Infâncias de Tristão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Moroldo da Irlanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A Busca da Bela dos Cabelos de Ouro . . . . . . . . . . O Filtro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Brangiana Entregue aos Servos . . . . . . . . . . . . . . . O Grande Pinheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Anão Frocino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Salto da Capela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A Floresta do Morois . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Eremita Ogrino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Vau Aventuroso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Julgamento Pelo Ferro ao Rubro . . . . . . . . . . . . O Canto do Rouxinol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O Guizo Maravilhoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Isolda de Brancas Mãos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Caerdino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Dinas de Lidan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tristão Louco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A Morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

21 31 39 53 59 65 75 81 91 103 109 117 125 133 137 147 153 161 175

As Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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livros publicados

Os génios, seguido de Exemplos, Victor Hugo O senhor de Bougrelon, Jean Lorrain No sentido da noite, Jean Genet Com os loucos, Albert Londres Os manuscritos de Aspern, Henry James O romance de Tristão e Isolda, Joseph Bédier A freira no subterrâneo, Camilo Castelo Branco Paul Cézanne, Élie Faure, seguido de O que ele me disse…, Joachim Gasquet

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REVISÃO: ANTÓNIO LAMPREIA DEPÓSITO LEGAL 348255/12 IMPRESSO NA GUIDE — ARTES GRÁFICAS, LDA. RUA HERÓIS DE CHAIMITE, 14 ODIVELAS

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tradução e apresentação de

Aníbal Fernandes

As lendas respiram Deformam-se, perturbam-se, explicam-se Iguais na diferença do seu narrador.

O ROMANCE DE TRISTÃO E ISOLDA

O ROMANCE DE TRISTÃO E ISOLDA

O ROMANCE DE TRISTÃO E ISOLDA renovado por Joseph Bédier


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