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DESCASCO AS IMAGENS E ENTREGO-AS NA BOCA Lições António Reis
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DESCASCO AS IMAGENS E ENTREGO-AS NA BOCA Lições António Reis textos
José Bogalheiro Maria Filomena Molder Nuno Júdice Manuel Guerra Fátima Ribeiro Maria Patrão edição
José Bogalheiro Manuel Guerra
D O C U M E N TA
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A iniciativa do Departamento de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema — Instituto Politécnico de Lisboa e o acolhimento da editora Documenta foram determinantes na concretização desta edição. [J.B. e M.G.]
© SISTEMA SOLAR, CRL (DOCUMENTA) RUA PASSOS MANUEL, 67 B, 1150-258 LISBOA © OS AUTORES, 2020 1.ª EDIÇÃO, MAIO 2020 ISBN 978-989-9006-05-8 NA CAPA E CONTRACAPA: MARIA PATRÃO, PROJECTO MEIA-LUZ, 2020 PÁGINA 2: ANTÓNIO REIS, POR EDUARDO LUIZ, REPRODUZIDO DE ANTÓNIO REIS, POEMAS DO CAIS (PORTO: LIVRARIA PORTUGÁLIA, 1949) REVISÃO: LUÍS GUERRA DEPÓSITO LEGAL 469701/20 IMPRESSO NA ACD PRINT RUA MARQUESA D’ALORNA, 12-A (BONS DIAS) 2620-271 RAMADA PORTUGAL
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Índice
José Bogalheiro, Nota introdutória ..........................
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LIÇÕES ANTÓNIO REIS
Maria Filomena Molder, Causas que seguem os efeitos ou ameixas doiradas com orvalho — Sobre Jaime de António Reis ......................................................
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Nuno Júdice, Uma poesia próxima da vida ................
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Manuel Guerra, Da atenção ardente ........................
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José Bogalheiro, Uma torrente chamada vida .......... 133 HOMENAGEM
Fátima Ribeiro, António Reis, nosso mestre .............. 171 CONTINUAÇÃO
Maria Patrão, Meia-luz............................................. 187 Notas biográficas dos autores ........................................... 203
Índice
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Nota introdutória
Sob a designação «Lições António Reis», em Outubro de 2018, durante a semana de abertura do ano lectivo, o Departamento de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) do Instituto Politécnico de Lisboa organizou uma homenagem ao cineasta António Reis, professor desta Escola entre 1977 e 1991. A obra cinematográfica de António Reis tem sido objecto de análise e de diversas retrospectivas, mas atendendo a que, durante grande parte da sua vida de cineasta, António Reis foi também professor na Escola de Cinema, nesta ocasião procurou-se privilegiar a singularidade do seu magistério, não tanto numa perspectiva de evocação memorialista, mas antes indagando que aspectos, tópicos, dimensões «daquilo que António Reis nos legou» podem hoje ser propostos à nossa atenção. Durante quatro tardes, entre os dias 1 e 4 de Outubro, tiveram lugar as projecções de Jaime (1974) e Trás-os-Montes (1976) e lições com o propósito de pensar como estas obras e o ensino de António Reis foram atravessados por questões «perscrutadas» e «convividas» noutros domínios, nomeadamente na estética e na poesia. A projecção dos filmes em cópias restauradas, em película, no formato de 35mm, foi feita graças à colaboração da Cinemateca Portuguesa — Museu do Cinema. Nota introdutória
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Tendo, inicialmente, sido deixado ao critério de cada convidado fazer, nas sessões que então ocorreram, a sua intervenção nos moldes que melhor entendesse, para a presente edição em livro adoptou-se um procedimento análogo relativamente ao que cada um dos autores desejaria ver publicado. A presente publicação inclui, assim, as «Lições António Reis», constituídas por um texto mais desenvolvido a partir da transcrição da intervenção oral, no caso de Maria Filomena Molder; no caso de Nuno Júdice, pelo texto que serviu de base à sua intervenção, mas com um novo título; pelo texto revisto e aumentado no caso de Manuel Guerra, por forma a integrar aspectos referentes à exposição «Chamas: António Reis, Poeta da Atenção Ardente», que esteve patente nos dias 3 e 4 de Outubro de 2018, no foyer do Grande Auditório da Escola Superior de Teatro e Cinema; e pelo meu texto, revisto e corrigido. No que respeita à «Homenagem» publica-se um texto, da autoria de Fátima Ribeiro, que é uma versão mais desenvolvida da nota biográfica lida na sessão solene em que foi atribuída a António Reis, a título póstumo, a Medalha de Mérito do Instituto Politécnico de Lisboa. Fez ainda parte desta homenagem a atribuição do nome de António Reis à Sala de Visionamento do Departamento de Cinema. Estando já esta edição em curso, foi uma felicidade nela poder incorporar um sinal de que, apesar da escassez de registos relativos ao magistério de António Reis, na procura do ouro não há motivo para largar a picareta: o exercício de laboratório que Maria Patrão, à data aluna da ESTC, desenvolve, e no livro aparece como uma «Continuação», confirma que ainda há tesouros. José Bogalheiro 8
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Nota introdutória
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… Eu já sou uma Continuação dos Outros — como Outros serão uma Continuação de mim… António Reis 1
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1 Epígrafe inscrita no segundo livro de António Reis, Luz (Porto: Livraria Portugália, 1948), e que ressurgirá noutros livros de juventude do autor.
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LIÇÕES ANTÓNIO REIS
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CAUSAS QUE SEGUEM OS EFEITOS OU AMEIXAS DOIRADAS COM ORVALHO — SOBRE JAIME DE ANTÓNIO REIS 1 Maria Filomena Molder
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1 Agradecimentos a José Bogalheiro pela paciência e pelas ajudas preciosas. Salvo outra indicação, as traduções são da minha responsabilidade.
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Dedicatórias (por interposta pessoa) «O teu filme não está feito para passearmos os olhos, mas para penetrarmos nele e sermos inteiramente absorvidos por ele.»2 «[…] um dos mais belos filmes da história do cinema.»3
Entrada «Um traço é feito sob uma pressão emocional.» António Reis, Entrevista a João César Monteiro «Cézanne: “Em cada pincelada, arrisco a vida”.» Robert Bresson, Notes sur le cinématographe Eis duas afirmações hoje em dia muitas vezes esquecidas no campo da arte e em relação a qualquer manifestação das nossas mãos. Mais do que quaisquer outros que eu conheça, os desenhos de Jaime Fernandes, de Jaime, dão a ver essa pressão emocional com uma intensidade extrema. Sim, parece que a vida dele está em jogo. Talvez eles 2 Robert Bresson, Notes sur le cinématographe, prefácio de J.M.G. Le Clézio (Paris: Éditions Gallimard / Folio, 1988), p. 95. 3 João César Monteiro, Introdução da Entrevista «Jaime de António Reis: O inesperado no cinema português», Cinéfilo n.º 29 (20 de Abril de 1974): 22-32. Reeditada no catálogo António Reis e Margarida Cordeiro — A Poesia da Terra, ed. Anabela Moutinho e Maria da Graça Lobo (Faro: Cineclube de Faro, 1997). Está também disponível, como outros textos de António Reis e sobre António Reis, no blogue (http://antonioreis.blogspot.pt) da responsabilidade de António Nunes da Costa Neves.
Causas que seguem os efeitos ou ameixas doiradas com orvalho
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pertençam a uma coisa chamada Art Brut — também se chama Outsider Art, mas não gosto da expressão —, a arte realizada por aqueles que não tiveram formação escolar artística e/ou também por aqueles que estão feridos por uma perturbação perceptiva (loucos, visionários), que é uma forma de acuidade às imagens e às suas metamorfoses, engendradas por forças que essa mesma acuidade reconhece4. Como é o caso de Séraphine Louis (conhecida também como Séraphine de Senlis), uma artista francesa de quem António Reis fala na entrevista a João César Monteiro5. Ela começou muito precoce, às escondidas dos pais — era uma pobre criança dada a visões, de uma família pobre, e continuou às escondidas enquanto limpava casas e açougues. Um grande coleccionador e estudioso alemão de arte moderna, Wilhelm Uhde, interessou-se vivamente pela sua obra, flores e frutos dos «jardins de Deus» (bem como outros coleccionadores e mesmo artistas), mas, a partir de certa altura, na época da Segunda Grande Guerra, durante a ocupação alemã, ele já não estava em condições de comprar mais obras nem de organizar mais exposições, e ela ficou muito isolada, foi para um hospício, deixou de pintar e morreu na miséria6. 4 É curioso observar que a designação e o desenvolvimento do conceito de Art Brut se deve a alguém que tinha formação artística e que estava ileso quanto à ocorrência de perturbações perceptivas, a saber, Jean Dubuffet. Artista que tentou escapar a qualquer forma de sistema artístico, incluindo a escola e o mercado, defensor de uma arte involuntária, sem cultura nem academia, um «primitivismo selvagem», fazendo tábua rasa do passado, privilegiando as obras de inadaptados, internados em hospitais psiquiátricos, por exemplo. 5 As entrevistas e declarações de António Reis a propósito de Jaime são casos de estado de graça. Iremos recorrer abundantemente a essas suas palavras, por comparação com as quais nenhumas outras satisfazem. Por elas, é possível imaginar o que seriam as suas aulas. 6 Cf. Isabelle Spaak, «Art and Psychosis. Séraphine de Senlis (1864-1942). A self-taught naïve painter prodigy’s tormented ascent to fame», Medicographia 103, vol. 32, 2.º (2010): 210-214.
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Maria Filomena Molder
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O caso de Jaime é completamente oposto, a descoberta da pintura é muito tardia, embora a pobreza inicial seja uma irmandade. E não são os jardins de Deus, antes as forças da animalidade que o conjuram. Ele é um homem que, aos 30 anos, vindo do Barco, na Beira Baixa, entra para a 8.ª Enfermaria do Hospital Miguel Bombarda7. Com a sua forma circular, a 8.ª Enfermaria, onde Jaime Fernandes passou metade da sua vida até à morte, é única no mundo. Construída segundo o modelo de Bentham, o chamado Panóptico — um dispositivo central, uma torre, que permitia exercitar a visão inteira do espaço prisional, ou equivalente, num ângulo de 360º —, acabou por abdicar dessa pequena torre — o edifício é térreo —, que chegou a existir, uma vez que, ironicamente, ela a dificultava, bastando a vigilância de um guarda, que poderia executar a tarefa de qualquer ponto do pavilhão. Além disso havia o céu, isto é, tratava-se de um Panóptico a céu aberto.
Rememoração Em 1976 era eu professora de Liceu e estava a fazer o estágio. Como uma das actividades previstas, decidira organizar uma semana dedicada à psiquiatria e à antipsiquiatria. Nessa época estava inteiramente votada à defesa da antipsiquiatria com todas as armas possíveis. Fui ter com Margarida Cordeiro ao Hospital Miguel Bombarda e ela 7 Há muitos anos desactivado e sob ameaça de requalificação, uma das palavras mais finas e feias que os poderes urbanos municipais & associados inventaram para derrotarem os hábitos comuns da vida dos habitantes de uma cidade.
Causas que seguem os efeitos ou ameixas doiradas com orvalho
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UMA POESIA PRÓXIMA DA VIDA Nuno Júdice
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A poesia de António Reis é escassa. Começa por publicar Poemas Quotidianos em 1957, a que se segue Novos Poemas Quotidianos em 1960, livros que vão ser coligidos em 1967 na editora Portugália, na colecção «Poetas de Hoje», com o título da primeira recolha: Poemas Quotidianos. Esta década que vai de 57 a 67 tem muita importância para avaliarmos o que significou esta poesia no contexto dessa época marcada pela Ditadura, nos seus anos mais negros em que se dá o início da guerra colonial, em 1961; e um título como Poemas Quotidianos, para um público formatado pela poesia de intervenção e pelo domínio da escola neo-realista, destoava da expectativa de muitos desses leitores que, mais do que novas propostas estéticas, pretendia sobretudo mensagens apelando à revolução e denúncias da opressão. No entanto, é durante esse período que surgem linguagens alternativas, como a da «poesia 61», e nomes como António Ramos Rosa, Herberto Helder, Ruy Belo, para não falar de Eugénio de Andrade, propunham poéticas que iam no sentido de uma modernidade na expressão de temas e formas que se libertavam, quando não contestavam, essa obrigação de escrever a partir do sonho dos «amanhãs que cantam», traduzidos sob a designação sintética de «esperança» e com a cor «rubra», para não dizer «vermelha», cor que a Censura não autorizava, das papoilas. Uma poesia próxima da vida
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António Reis traz um outro tipo de poesia. O poema não vem de uma voz colectiva, não pretende ser a expressão de uma comunidade, de um grupo, de uma ideologia, mas é apenas a expressão de um eu que habita a cidade, de um homem que sofre as pequenas coisas desse «quotidiano»; e esta palavra é central para percebermos o que poderia ter causado estranheza: o quotidiano é o oposto do tempo da epopeia, o tempo da História em que o presente, e as suas pequenas coisas, pouco contam. Pelo contrário, este poeta é um «narrador» de episódios banais do dia-a-dia, que se alegra com coisas simples como o amor e sofre com a mediocridade do pequeno emprego, da cidade sem perspectiva, alguém que se apresenta como um coleccionador de instantes; e o poema capta essas imagens que são o documento da vida banal em que nada adquire a dimensão exclamativa e apelativa do neo-realismo. A juntar a isto há o que se pode chamar a forma poética: versos curtos, só excepcionalmente chegando às sete sílabas, estrofes mínimas, entre os dois a três ou quatro versos, e poemas igualmente breves, numa expressão sintética completamente alheia à nossa tradição, acompanhando a forma elíptica da poesia japonesa ou, mais perto de nós, do imagismo anglo-americano. E é esta palavra imagem que talvez nos aproxime daquilo que representa a originalidade de António Reis. Diz-se que «uma imagem vale por mil palavras»; e o que é essencial nestes poemas é precisamente essa qualidade fotográfica que nos dá a ver um pormenor desse quotidiano e prescinde de excessos descritivos ou explicativos. Exemplos (António Reis, Poemas Quotidianos, Lisboa: Tinta-da-china, 2017): 70
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Nuno Júdice
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DA ATENÇÃO ARDENTE Manuel Guerra
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Permitam-me que agradeça à comissão organizadora, nas pessoas dos professores José Bogalheiro, Manuela Viegas e Vítor Gonçalves, Mestres na verdadeira acepção da palavra, pelo convite, mas sobretudo pela dedicação e empenho com que abraçaram e colocaram em marcha esta bela e louvável iniciativa. Estou certo de que as «Lições António Reis» nos ajudarão a inventar o presente — inventar no sentido primordial da palavra, invenio-, no sentido de «descoberta», «encontro» —, naturalmente pela grandeza do cineasta e poeta da «atenção ardente», António Reis, cuja vida e obra, se é que podem ser dissociadas, tantas lições e questões nos continuam a suscitar. Além do mais, participam nesta homenagem pensadores que tanto prezo como os professores Maria Filomena Molder, Nuno Júdice, José Bogalheiro e Fátima Ribeiro. Devo ainda uma palavra de especial agradecimento ao professor João Milagre, e uma vez mais ao professor José Bogalheiro, orientador, conjuntamente com os professores José Pedro Serra e Nuno Venturinha, da investigação que estou a levar a cabo, pela generosidade com que, já depois de ter saído desta «casa», continuaram a inscrever inúmeras marcas, a insigna-re. Na plateia estão também muitos professores e trabalhadores desta casa, entre os quais alguns responsáveis, através dos seus relatos únicos e cheios de vitalidade, por ter tido a oportunidade de intuir Da atenção ardente
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uma ínfima parte do magistério e da presença de António Reis, professor da «Escola de Cinema», antigo Conservatório Nacional e actual Escola Superior de Teatro e Cinema, entre 1977 e 1991, e que, naturalmente, não pude conhecer em vida — nasci precisamente no ano em que o poeta e cineasta nos deixou. A todos, um grande e sincero bem-haja! • Agradecendo a vossa compreensão, permitam-me que inicie esta intervenção dando um passo atrás. Tudo começou em 2012. Nesse momento — e perdoem-me, francamente, pelo desvio momentâneo! — fazia uma descoberta: Ângelo, um jovem com dezasseis anos que acabara de conhecer e que estava prestes a deixar a escola — de que de resto não gostava — para trabalhar como pescador, juntamente com o seu pai, na embarcação Pai do Céu — o que veio a suceder. Em bom rigor, conheci Ângelo quando também estava prestes a deixar a escola — esta! — e ansiava por uma mudança no modo de filmar. Nesse período, participava na produção de um filme realizado pelo meu amigo Luís Nunes, com orientação do professor Luís Fonseca. A dado momento, quando eu e os meus colegas julgávamos que tudo estava preparado para filmarmos numa praia de acesso difícil, soubemos que o pescador que tinha ficado de acompanhar a equipa no dia seguinte, não estava disponível. Subita84
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mente surgiu Ângelo, até à data um «jovem figurante» com quem já tinha trocado algumas impressões, que prontamente afirmou poder ajudar. Nessa mesma tarde, descemos a falésia, uma viagem que não mais esqueci pela experiência directa, autodidacta, que Ângelo mostrava ter do Mundo. No percurso em direcção à Praia do Ribeiro do Cavalo, em Sesimbra, a praia de muitas das histórias da sua infância, vislumbrei um novo caminho. Desde então, deu-se uma viagem de largos meses, anos, em que filmei Ângelo, juntamente com o seu pai e outros trabalhadores, quer em terra, quer em alto-mar, com a ajuda preciosa das nossas famílias e de companheiros de viagem a quem estou muito grato — Abel Ribeiro Chaves, Diogo Allen, Inês Teixeira, Joana Góis, Júlio Pereira, Laura Garcia, Leonardo Simões, Luís Nunes, Mariana Correia, Miguel Cravo, Nuno Pontes, Raul Domingues, Ricardo Penedo, Ricardo Pinela e Sara Faro. Mas por que razão vos trago esta história? Não ouso desconsiderar o espaço que é o da homenagem justa e devida a António Reis. Porém, depois do desafio que me foi endereçado aquando do convite para esta iniciativa, tomei consciência da «justaposição» — para utilizar uma palavra que aprendi a compreender precisamente aqui — que vivi neste período: ao mesmo tempo que era apresentado a Ângelo, travava a descoberta apaixonante por outro mistério, Jaime (1974), de António Reis. Como ficar indiferente ao camponês do Barco, na Beira Baixa, o homem que é um «príncipe», um «rei» — para utilizar uma imagem Da atenção ardente
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presente na poética de António Reis —, o homem cuja Obra esquecida é afinal um tesouro!? Absolutamente exemplar e original, Jaime apresentava-me ao gesto de quem decide corajosamente olhar para dentro de alguém tão grande que constantemente lhe escapa, o próprio Jaime Fernandes, falecido poucos anos antes da realização do filme. Como ficar indiferente ao olhar de câmara, de realizador, com consequências surpreendentes do ponto de vista da experiência estética? Desta forma, e agradecendo uma vez mais a vossa compreensão, decidi acompanhar a intervenção de hoje com algumas imagens registadas nesse período e que têm permanecido guardadas. Creio que são o diário de bordo ou o reverso da reflexão a que hoje me dedicarei e que é tudo menos uma Lição, mas antes a partilha das lições que, de forma mais ou menos coerente, fui colhendo da Obra de António Reis, enquanto me debruçava sobre o meu próprio «grão de areia», Ângelo, de acordo com a acepção de William Blake, em «Auguries of Innocence», para quem é possível «ver um mundo num grão de areia» e a «eternidade numa hora». Feliz por estas imagens encontrarem o seu lugar, nada mais direi sobre elas. Socorro-me apenas das palavras de François Truffaut ao descrever o dia em que faltou às aulas para ir ao cinema e voltou a rever o mesmo filme à noite, com a sua tia, para não confessar a «gazeta» da tarde: C’est très exactement ce jour-là que je m’aperçus à quel point il était envoûtant d’entrer de plus en plus intimement dans une œuvre admirée jusqu’au point où l’on peut se procurer l’illusion d’en revivre la création.1
1 François Truffaut, «A quoi rêvent les critiques?», Les films de ma vie (Paris: Éditions Flammarion, 1975), p. 13.
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UMA TORRENTE CHAMADA VIDA José Bogalheiro
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O felice colui che trova il guado di questo alpestro e rapido torrente ch’ha nome vita et a molti è sì a grado! 1
Ao escolher dois meios versos de Francesco Petrarca para, nestas Lições António Reis, dar um título às minhas palavras, fiquei, de certo modo, cometido a desde o início dizer que neles encontrei a melhor imagem do que foi a passagem de António Reis pela Escola de Cinema do Conservatório Nacional e, concomitantemente, talvez, a mais justa para a sua própria ideia de cinema. Para o dizer de forma mais rasa: à escola ele chegou como uma torrente; para que os que o ouvissem, entendessem: o cinema não é uma corrente. Da felicidade a que o poeta também se refere — e de como alcançá-la — falarei mais para o final, quando voltar ao terceto completo, para então dizer como é que, para António Reis, o cinema tinha a ver com isso.
1 Francesco Petrarca, Trionfi, ed. Guido Bezzola e R. Ramat, Letteratura italiana Einaudi (Milano: Rizzoli, 1957), [Trionfo dell’Eternità], versos 46-48, p. 57, http://www.letteratura italiana.net/pdf/Volume_2/t44.pdf
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1. Onde estão as referências destas Lições, perguntar-me-ão, sendo que é por aí (como sabem os que me conhecem) que eu costumo começar? Todos sabemos que há bibliografia de que dispomos que se deve ao cuidado a que se deram — casos há em que deveríamos mesmo dizer se votaram, tal foi a dimensão dessa entrega — aqueles que escutaram as Lições que estiveram na origem desses livros. Evocarei, brevemente, três exemplos. A Poética de Aristóteles: «Tão poucas obras terão tido uma transmissão tão acidentada» como esta que é a mais antiga que se conserva sobre a arte dramática. Para o comprovar bastará aludir às suas migrações, na tradição manuscrita, entre versão siríaca, tradução e paráfrases em árabe e, nas suas fixações em texto impresso, nas versões latinas, reconstituições a partir da descoberta e comparação de códices, publicação de edições críticas modernas, sendo que «a obra, que chegou até nós, não está completa». É, por outro lado, generalizado o entendimento de que «a Poética é mais um conjunto de apontamentos para aulas do que uma exposição sistemática sobre a matéria»2, uma vez que, na sua origem, era constituída por um conjunto de cadernos destinados ao ensino pelo que, servindo de guia ao professor, estes escritos académicos eram 2 Maria Helena da Rocha Pereira, «Prefácio», em Poética, por Aristóteles (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007), pp. 5-9.
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ouvidos nas aulas por «estudantes avançados, suficientemente familiarizados com seu pensamento e terminologia para poderem acompanhá-lo na sua exposição»3 e, não sendo imediatamente destinados a publicação, isso não anula o propósito de servirem de registo escrito para o próprio e, mais tarde, para outros. A Poética foi composta no século IV a.C., na fase final da vida de Aristóteles, quando este, por volta de 335 a.C., com perto de cinquenta anos, se muda para Atenas, aí funda sua escola, o Liceu, localizada no templo de Apolo. É lá que pratica essa actividade de transmissão oral que prosseguiu durante uns doze anos, até à sua partida da cidade, tendo morrido um ano depois. O Curso de Linguística Geral de Ferdinand de Saussure: Publicado postumamente em 1916 (Saussure morrera em 1913), o texto foi redigido por dois discípulos, Charles Bally e Albert Sechehaye, tendo por base os apontamentos que os alunos tinham tirado durante os três cursos leccionados por Saussure na Universidade de Genève entre 1906 e 1911. Tendo na primeira edição sido usadas predominantemente as notas recolhidas sobre o último curso, o texto foi posteriormente objecto de edições críticas tendentes a dar conta da vivacidade e variações da expressão do pensamento de Sausurre, confrontando outras fontes entretanto disponíveis. Ainda assim, a versão publicada da «obra sobre a qual se edificou, diretamente ou não, toda a linguística moderna», não corresponderá 3 Leonardo Tarán e Dimitri Gutas, Aristotle Poetics: Editio Maior of the Greek Text with Historical Introductions and Philological Commentaries, Mnemosyne Supplements 338 (Leiden / Boston: Brill, 2012), p. 21.
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à tese defendida pelo próprio Saussure. Aliás, ele que «recusava quase tudo o que se fazia no seu tempo»4, solicitado pelos seus alunos a fazer uma publicação do essencial, tinha recusado fazê-lo, com a seguinte justificação: «Quanto a um livro sobre esse assunto, nem pensar nisso: ele deve transmitir o pensamento definitivo do seu autor»5. O Livro Azul e o Livro Castanho de Ludwig Wittgenstein: Se bem que o segundo ainda tivesse, durante algum tempo, sido pensado como um esboço de uma obra a publicar de que, aliás, iniciara uma revisão, os dois livros, depois editados em conjunto, foram na origem notas de alguns cursos leccionados por Wittgenstein em Cambridge entre 1933 e 1935. As do Livro Azul foram ditadas aos seus alunos para que pudessem dispor de algum material em que, posteriormente, segundo testemunho do próprio, corrigiu gralhas e outro tipo de erros, e fez policopiar6. Do segundo livrinho foram feitas inicialmente apenas três cópias dactilografadas, a que só os mais próximos tiveram acesso; mas os que seguidamente lhes acederam por empréstimo fizeram as suas próprias cópias, que por sua vez outros copiaram e puseram a circular. De Wittgenstein, por outro lado, sabemos que, com os seus livros, andou uma vida inteira às voltas, revendo-os e corrigindo-os — de tal modo que em vida apenas um, o Tratactus (1921), foi publi4 Émile Benveniste, Problemas de linguística geral II, trad. Eduardo Guimarães (São Paulo: Campinas, 1989), p. 14. 5 Rudolf Engler, «Préface», em Cours de linguistique générale: Édition critique, por Ferdinand de Saussure e Rudolf Engler, vol. 1 (Wiesbaden: Otto Harrassowitz, 1989), p. X. 6 R.R., «Prefácio», em O Livro Azul, por Ludwig Wittgenstein, trad. Jorge Mendes (Lisboa: Edições 70, 2008).
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José Bogalheiro
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cado. No entanto, depois de tantos adiamentos, o que relativamente ao seguinte (Investigações Filosóficas, publicado postumamente em 1953) poderia parecer um lamento — ao dizer «teria gostado de ter escrito um bom livro» — não seca a fonte que o alimenta a prosseguir na sua inclinação: «A alegria que me dão os meus pensamentos é a alegria que me dá a minha própria estranha vida. Será isto a alegria de viver?»7 Se nas vicissitudes por que passaram estes livros de fragmentos, notas, esboços, podemos ver em grande o pensamento em acção — «verité à faire» — não ignoro que na escolha destes exemplos possa ser vista uma pequena ironia: pois é bem certo que o cinema — o pensamento cinematográfico, «œuvre à faire» — mais vezes neles tropeçou do que encontrou uma passagem.
2. Voltarei, então, à questão de forma mais directa: qual é, no caso de António Reis, que durante quinze anos leccionou na Escola de Cinema do Conservatório Nacional, o corpus de referência para alguém que fale reivindicando-se das suas Lições? Retomo aqui o que eu próprio expressei a propósito do silêncio que se seguiu à morte de António Reis: 7 Ludwig Wittgenstein et al., Culture and Value: A Selection from the Posthumous Remains (Oxford: Blackwell, 1998), p. 20 (MS 155, 46r: 1931). Tradução de Maria Filomena Molder, «O que é uma inclinação natural?», em Linguagem e Valor: Entre o Tratactus e as Investigações, ed. Nuno Venturinha (Lisboa: Instituto de Filosofia da Linguagem – Universidade Nova de Lisboa, 2011), p. 104.
Uma torrente chamada vida
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HOMENAGEM
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Cartaz da Homenagem «Lições António Reis», por Luís Miguel Castro (2018)
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ANTร NIO REIS, NOSSO MESTRE Fรกtima Ribeiro
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«Sala António Reis». Homenagem da Escola Superior de Teatro e Cinema (2018)
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António Reis, realizador, poeta e professor de cinema, nasce em Valadares, Vila Nova de Gaia, a 29 de Agosto de 1927, e morre na cidade de Lisboa, no dia 10 de Setembro de 1991, pouco depois de celebrar 64 anos. Trabalhava então com a mulher, Margarida Martins Cordeiro, na preparação de uma longa metragem, Pedro Páramo, projecto a partir do livro homónimo do escritor e fotógrafo mexicano Juan Rulfo. Entre esse filme que nunca veremos e o primeiro que dirigiu, Painéis do Porto, um filme de vinte minutos encomendado em 1963 pela Câmara do Porto, tinham passado quase 30 anos.1 António Ferreira Gonçalves dos Reis de seu nome completo, fez estudos secundários no Porto e cedo começa a trabalhar, como empregado de escritório numa fábrica com mil operários, enquanto segue uma intensa formação autodidacta no domínio das Belas-Artes. Intensa é também a sua colaboração ensaística em jornais e revistas ( Jornal de Notícias, Comércio do Porto, Vértice e Notícias do Bloqueio, designadamente), onde escreve sobre poesia, arquitectura e arte. A 1 Os elementos biográficos e as referências documentais constantes do presente texto têm como principais fontes: Jorge Leitão Ramos, Dicionário de Cinema Português (Lisboa: Caminho, 1989); Anabela Moutinho e Maria da Graça Lobo, eds., António Reis e Margarida Cordeiro — A Poesia da Terra (Faro: Cineclube de Faro, 1997); e o blogue de António Nunes da Costa Neves, «António Reis — Vida e Obra do grande cineasta português António Reis (1927-1991)», http://antonioreis.blogspot.com. As duas últimas fontes foram igualmente utilizadas na consulta da imprensa citada.
António Reis, nosso mestre
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CONTINUAÇÃO
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MEIA-LUZ 1 Maria Patrรฃo
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1 Projecto de investigação, orientado por Manuela Viegas, desenvolvido no âmbito da disciplina de Laboratório Experimental da Licenciatura em Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema (2019/2020). O trabalho de investigação tem por base um conjunto de trinta e dois slides, pertencentes ao Arquivo da ESTC, concebidos por António Reis, executados pelos seus alunos e projectados nas suas aulas. Fotografias de Francisco Borges e Maria Patrão.
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O acaso foi o que me levou à descoberta dos slides de António Reis. Da primeira vez o Carlos não quis mostrar. — Não sei, tenho de procurar… Voltámos. O Carlos foi directo ao fundo da arca, do lado direito. A caixa era a única com um cartão branco na tampa. Ainda na arca, abrimos a caixa. Apontámos os slides à luz: Jaime. Nas imagens dos slides, os desenhos e os escritos de Jaime Fernandes. E também pinturas várias fotografadas por alunos de António Reis: Klee, Limbourg… Na superfície dos fotogramas de Jaime, anotações escritas a lápis branco. Números. Slides lado a lado. A imagem de baixo repete em cima. Ver atrás. Ver à frente. Raccords profundos. Pensamento inscrito sobre as imagens? Entre as imagens? Montagem. — Carlos, a ordenação dos slides é do António Reis? Imaginei: na penumbra, a luz sobre os slides e o gesto de parar e olhar. É aqui que as ideias a meia-luz respiram? Meia-luz
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Notas biográficas dos autores
José Bogalheiro Professor Coordenador no Departamento de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), instituição em que, desde 1981, exerceu também várias funções de direcção, nomeadamente como vogal da Comissão Instaladora e como Director do Departamento de Cinema. Estudou Jornalismo na Faculdade de Filosofia da Université Libre de Bruxelles (ULB). Formou-se em Psicologia pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). Fez o Curso de Cinema da Escola de Cinema do Conservatório Nacional. É doutorado em Psicologia, especialidade de Psicanálise, pelo Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA-IU). Na sequência da formação em cinema e de uma primeira experiência profissional na Equipa TV/Cinema da Secretaria de Estado da Emigração (1977-78), na actividade profissional no cinema exerceu várias funções, com destaque para as de produtor na Trópico Filmes (1985-95). Como bolseiro do governo italiano, desenvolveu no Centro Sperimentale di Cinematografia de Roma (1979-81) uma investigação sobre «Ponto de vista em cinema e neo-realismo cinematográfico», trabalho que prosseguiu, a par de toda a sua actividade docente, na sua tese de doutoramento — Empatia e Alteridade: A Figuração Cinematográfica como Jogo (Documenta, 2014), focando-se na experiência fílmica enquanto experiência paradoxal do espectador. No âmbito da representação internacional do Departamento de Cinema que, desde 1990, assegurou no CILECT — Centre International de Liaison des Écoles de Cinéma et de Télévision, foi membro do Comité Executivo do GEECT — Groupement Européen des Écoles de Cinéma et de Télévision (1993-97) e membro do Comité de Acompanhamento do projecto VISIONS — Atelier europeu de Realização documental dedicado à formação e produção de projectos de documentário (1992-99), participando na reflexão sobre o ensino do cinema e nas actividades promovidas no seio destas associações em que estão filiadas as mais importantes escolas de cinema.
Notas biográficas dos autores
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Maria Filomema Molder Professora Catedrática, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). Doutorou-se em 1992 com a tese O Pensamento Morfológico de Goethe (INCM, Lisboa, 1995). É membro do Instituto de Filosofia da Linguagem (IFILNOVA) e do Groupe International de Recherches sur Nietzsche (GIRN). Foi membro do Conselho Científico do Collège International de Philosophie, Paris (2003-2009). Escreve sobre problemas de estética, enquanto problemas de conhecimento e de linguagem, para revistas de filosofia e de literatura, entre outras, Filosofia e Epistemologia, Prelo, Análise, Revista Ler, Sub-Rosa, A Phala, Internationale Zeitschrift für Philosophie, Philosophica, Belém, Dedalus, Intervalo, Rue Descartes, Chroniques de Philosophie, La Part de l’Oeil, Cadernos Nietzsche, Lettre International, Diaphanes. Tem igualmente escrito para catálogos e outras publicações sobre arte e artistas, portugueses e estrangeiros, entre os quais, Jorge Martins, Ruy Leitão, Rui Chafes, Helena Almeida, Ana Vieira, Luísa Correia Pereira, Julião Sarmento, Rui Sanches, António Sena, José Pedro Croft, Bernard Plossu, Juan Muñoz, Noronha da Costa, Antony Gormley, Louise Bourgeois, Francisco Tropa, Amadeo de Souza-Cardoso, Alberto Giacometti, Alexandre Conefrey. Co-autora e locutora do programa de rádio «Ruas de sentido único» (Antena 2, Maio-Julho 2019), actividade do projecto «Fragmentação e Reconfiguração: a experiência da cidade, entre arte e filosofia», apoiado pela FCT (2018-2021), do qual é coordenadora. Principais publicações: Semear na Neve. Estudos sobre Walter Benjamin (Relógio D’Água, Lisboa, 1999 — Prémio PEN Clube 2000 para Ensaio), A Imperfeição da Filosofia (Relógio D’Água, Lisboa, 2003), O Absoluto Que Pertence à Terra (Edições Vendaval, 2005), Símbolo, Analogia e Afinidade (Edições Vendaval, 2009), O Químico e o Alquimista. Benjamin, Leitor de Baudelaire (Relógio D’Água, 2011 — Prémio PEN Clube 2012 para Ensaio), As Nuvens e o Vaso Sagrado (Relógio D’Água, 2014), Rebuçados Venezianos (Relógio D’Água, 2016 — Prémio AICA/FCC 2017), Depósitos de Pó e Folha de Ouro (Lumme Editora, São Paulo, 2016), Cerimónias (Chão da Feira, Belo Horizonte, 2017), Dia Alegre, Dia Pensante, Dias Fatais (Relógio D’Água, 2017— Prémio PEN Clube 2018 para Ensaio).
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Notas biográficas dos autores
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Nuno Júdice Formou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa. É Professor Jubilado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou em 1989 com uma tese sobre Literatura Medieval, O Espaço do Conto no Texto Medieval (Vega, 1991). Entre 1997 e 2004 foi Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal e Director do Instituto Camões, em Paris. Dirigiu, de 1996 até 1999, a revista Tabacaria, da Casa Fernando Pessoa. Em 2009 assumiu a direcção da revista Colóquio-Letras, da Fundação Calouste Gulbenkian. No campo do ensaio sobre temas de poesia, ficção e teoria literária publicou A Era do Orpheu (Teorema, 1986), O Espaço do Conto no Texto Medieval (Vega, 1991), O Processo Poético (INCM, 1992), Viagem por Um Século de Literatura Portuguesa (Relógio D’Água, 1997), As Máscaras do Poema (Aríon, 1998), A Viagem das Palavras (Colibri, 2005), O Fenómeno Narrativo (Colibri, 2005), A Certidão das Histórias (Apenas Livros, 2006). É poeta e ficcionista, tendo actualmente a sua obra publicada nas Publicações Dom Quixote. Publicou o primeiro livro de poesia, A Noção do Poema, em 1972. Está representado em numerosas antologias e está traduzido em diversas línguas. Tendo recebido inúmeros prémios literários, é de destacar na sua obra poética: Lira de Líquen (Edições Rolim, 1985, Prémio PEN Clube Português 1987), As Regras da Perspectiva (Quetzal, 1990 — Prémio D. Dinis), Meditação sobre Ruínas (Quetzal, 1994 — Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores), Geometria Variável (Publicações Dom Quixote, 2007 — Grande Prémio de Literatura DST), A Matéria do Poema (Publicações Dom Quixote, 2008), A Convergência dos Ventos (Publicações Dom Quixote, 2016 — Prémio António Gedeão). E no campo da ficção: Por Todos os Séculos (Quetzal, 1999 — Prémio Bordalo da Casa da Imprensa), O Anjo da Tempestade (Publicações Dom Quixote, 2004 — Prémio Fernando Namora).
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Manuel Guerra Professor do Curso de Comunicação Audiovisual da Escola Artística António Arroio, em Lisboa, onde lecciona a disciplina de Imagem e Som, dinamiza o Cineclube desta instituição, iniciativa que, em articulação com diferentes agentes do sector audiovisual, procura dar a ver a toda a comunidade educativa o património das imagens em movimento e as práticas cinematográficas contemporâneas, promovendo a renovação do olhar e a criação. Integra a Comissão do Núcleo do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (FENPROF) na Escola Artística António Arroio. Pós-graduado em Filosofia, na área de especialização de Estética, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, licenciou-se em Cinema, no ramo de Realização, pela Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa. Realizou alguns filmes curriculares premiados em festivais: Prémio «Take One!» do Festival Curtas Vila do Conde 2012; Prémio «Melhor Filme — Ensaios Visuais» do Festival Caminhos do Cinema Português 2012; Prémio «PrimeirOlhar / Oficial 2012» dos Encontros de Cinema de Viana do Castelo; Prémio «Património Imaterial 2012» do Concurso de Vídeo da Fundação INATEL; Prémio «PrimeirOlhar / Oficial 2009» dos Encontros de Cinema de Viana do Castelo. Em 2013, foi bolseiro do Seminário Internacional sobre Cinema Documental «Doc’s Kingdom — Ideia de uma Ilha», realizado nas ilhas do Faial e do Pico, Açores. Tem participado como júri e orador convidado em diferentes iniciativas. Na juventude foi co-fundador de uma associação de promoção cultural e cívica com intervenção centrada em Corroios, freguesia do concelho do Seixal onde é actualmente presidente da Assembleia de Freguesia.
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Notas biográficas dos autores
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Fátima Ribeiro Nasce em Gáfete, Crato, Portalegre. É licenciada em Direito pela Universidade de Coimbra, em Cinema pela Escola Superior de Teatro e Cinema, e pós-graduada em Artes Performativas. Actualmente dá aulas de argumento cinematográfico na ESTC e faz o doutoramento em Artes. Inicia o seu trabalho no cinema em 1990, como anotadora e assistente; e no teatro em 1993, com a encenação de Menina Júlia, na Casa Conveniente, em Lisboa. O trabalho no teatro revelar-se-ia episódico, no cinema passará a sua vida profissional. Trabalha, entre outros, com os realizadores Fernando Lopes, João César Monteiro, António da Cunha Telles, Catherine Breillat e Fernando Trueba. Entre 1997 e 2011 realiza, e escreve, quatro filmes. O argumento de um deles — Mais Tarde, de 2001 —, foi premiado pela Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos. Partilhou, entretanto, a escrita de argumentos com outros autores nos filmes Aparição, Raiva — prémio de melhor argumento adaptado da Academia Portuguesa de Cinema — e na série «Três Mulheres», todos estreados em 2018. Desse ano é também o Grande Prémio do INATEL para Novos Textos de Teatro, que vence com a peça Bro. Em tudo isso pode estar e ser. É disso que fala nas aulas, é disso que fala nos filmes e nas coisas que escreve. Foi aluna de António Reis.
Maria Patrão Nasceu em Lisboa a 20 de Novembro de 1998. Concluiu os estudos na Escola Artística António Arroio, no curso de Comunicação Audiovisual, especialização em Fotografia. Frequenta o 3.º ano da Licenciatura em Cinema, na área de Montagem, na Escola Superior de Teatro e Cinema.
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