Jean Cocteau, O Livro Branco

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Jean Cocteau O LIVRO BRANCO

Jean Cocteau O LIVRO BRANCO seguido de O FANTASMA DE MARSELHA

tradução e apresentação por

Aníbal Fernandes

Por mais atrás que eu volte, encontro rastos do meu gosto por rapazes.

www.sistemasolar.pt

Jean Cocteau O LIVRO BRANCO seguido de O FANTASMA DE MARSELHA


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Jean Cocteau O LIVRO BRANCO seguido de O FANTASMA DE MARSELHA

tradução e apresentação

Aníbal Fernandes


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TÍTULO ORIGINAL: LE LIVRE BLANC

© SISTEMA SOLAR, CRL RUA PASSOS MANUEL, 67B, 1150-258 LISBOA tradução © ANÍBAL FERNANDES NA CAPA: DESENHO DE JEAN COCTEAU 1.ª EDIÇÃO, OUTUBRO DE 2015 ISBN 978-989-8618-82-5


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Uma audácia, em 1928, anunciada na confissão de uma primeira frase: Por mais atrás que eu volte, e mesmo na idade em que o espírito ainda não influencia os sentidos, encontro rastos do meu gosto por rapazes. Os melhores criadores de histórias na literatura francesa passavam ao lado de afirmações directas sobre a atracção sexual entre homens. Tinha havido Balzac e o seu Vautrin de vários livros, personagem que se dava a suspeitas pela recusa do amor feminino, por delicadezas pouco viris na sua amizade com Rastignac e Rubempré; em 1914 surgira Jesus-la-Caille de Francis Carco e a surpresa de não ignorar o mundo de chulos e proxenetas, da prostituição feminina e masculina que gravita nos bares e nos hotéis de Pigalle e da praça Blanche; desde há oito anos existia o barão Charlus de Marcel Proust, mas a pagar hábitos não aceites pela sociedade com uma lenta pintura de degradações e crueldades frias, próximas da loucura; e também uma franja de insinuações pressentidas em gestos homo-eróticos de romances como Azyadé e Mon Frère Yves de Pierre Loti, ou como Les Frères Zemganno de um Edmond de Goncourt melancólico e já viúvo do seu irmão Jules de Goncourt. Jean Cocteau congeminou, então, o que parecia o seu momento literário de grande coragem. E se ele assim, já no centro das letras porque autor das prosas Le Potomak, Le Grand Écart, Thomas l’Imposteur, porque


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poeta publicado de poemas como Cap de Bonne Espérance e L’Ange Heurtebise, com um ruído de provocatória vanguarda colado pelo escândalo teatral de Les Mariés de la Tour Eiffel, deixasse para a literatura do seu país uma ficção de amor entre homens argumentado como determinação da natureza, possível de coexistir com sentimentos católicos, tão querido ao Deus cristão como o amor entre sexos diferentes, ramo paralelo ao amor benquisto na maior parte da sociedade francesa dessa primeira metade do século XX? Decisão de a si próprio se contar, de expor para mais claro o que já eram clarezas da sua vida sentimental e sexual. Imaginemo-lo com os seus trinta e oito anos de 1927, e num momento em que evita o centro urbano da Madeleine e se protege nas calmarias de Chablis; num Natal em que se instala no Hotel de l’Étoile, acompanhado pelo Jean Desbordes que ele usa para esquecer outro adolescente, o Raymond Radiguet daquela maturidade literária saída não se sabe de onde e atirada às páginas do romance Le Diable au Corps, marcado para o destino que interrompeu em Cocteau uma tarefa de Pigmaleão quando o viu morrer tão jovem, com uma febre tifóide que a medicina da época não soube ou não fez toda a sua força para acalmar. Povoado por este jovem que tinha vivido a solidão das palavras, Cocteau dissolvia o seu desgosto em ópio e religião católica. Jacques Maritain levara-o com habilidade aos consolos de Deus, e os fumos da papoila tinham-lhe oferecido fantasmas que apagavam ou diluíam o Radiguet tão cruamente desprometido à glória; mistura que ele tinha exaltado até às desintoxicações clínicas em hospitais (as que lhe soprariam o belo ensaio Opium, publicado em 1930).


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Mas enquanto convalescia de Radiguet, Cocteau começava a receber cartas apaixonadas de um Jean de List que afinal era Desbordes; outro jovem, outro aspirante a escritor e «o mais reconhecido que é possível» ao mestre «capaz de tamanhas belezas». Quando o viu pela primeira vez trazia vestida a farda mais encantadora do mundo, que era a do seu serviço militar. E um pouco mais tarde estavam a amar-se de mestre a discípulo, de financiador a financiado, para a glória deste sedutor que não lhe oferecia os espantos da escrita de Radiguet e tinha, por isso, de ser pacientemente inventado. Numa carta a Bernard Faÿ, sentimos-lhe a fascinação: Raymond regressou sob outra forma e está constantemente a tirar a máscara. No ano seguinte, a leitura de J’Adore, o livro de Desbordes que a editora Grasset será convencida a publicar, não ilude a mão que lhe marca as imagens, os ritmos, os tiques. É menor, é epígono, mas impressiona Max Jacob, Paul Morand e Julien Green; mas escandaliza católicos agredidos por aquelas sensualidades sofridas sob a asa de uma severa consciência religiosa. E Cocteau não resiste a repetir Claudel no texto em que fez o esforço de compreender Rimbaud: é um místico em estado selvagem. Lado a lado no Hotel de l’Étoile, Cocteau e Desbordes escrevem as suas novidades de 1928. Desbordes revê e acrescenta páginas a J’Adore, é lido e amorosamente incendiado por Cocteau; Cocteau, esse, passa ao papel palavras do que virá a chamar-se O Livro Branco, autobiografia sexual cortada por atrições místicas, cheia de máscaras e portas falsas. Os reconhecidos símbolos da sua futura obra já ali se alinham num cortejo anunciador de homens-cavalos, ciganos, marinheiros, espelhos onde o narciso se reflecte e vence a superfície que o mostra a en-


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velhecer, a aproximar-se da morte. São personagens e objectos, dirá ele, que ao correrem para a sua verdade o arrastavam até à mentira; são o coração e os sentidos a formarem uma tal mistura, que lhe parece difícil comprometer aquele ou estes sem o resto ir atrás. O narrador, órfão de mãe a viver com o pai, inverte o órfão de pai que vive na vida real com a mãe; o amante H. soma e confunde Radiguet e Desbordes, ambos escritores, ambos bissexuais que o «traíram» com mulheres; a insatisfatória aventura com Jeanne é memória da sua própria ligação com a actriz Madeleine Cartier durante alguns meses frios de 1909; o Hotel M. é o Marquise’s Hotel da praça Pigalle; o tatuado com as palavras Sem Sorte existiu em Marcel Servais, para Cocteau o marinheiro em estado puro, essência de mitificações associadas aos seus encontros clandestinos do porto; Dargelos, que conserva da vida real o verdadeiro nome e estará na sua obra como deslumbramento perante a virilidade exibida mas nunca oferecida, surge pela primeira vez neste Livro Branco mas no ano seguinte em Les Enfants Térribles e depois em todo um texto de Portraits-souvenirs, e depois espalhado nos versos de poemas eróticos subtraídos aos livros da sua poesia central; o padre X. é evidente transposição de Jacques Maritain, o filósofo católico que quis mostrar-lhe Deus como solução para os seus transtornos emocionais; Miss R. é a Beatrice Hastings amiga de Ezra Pound e Bernard Shaw, o modelo preferido de Modigliani, amante de Radiguet; a casa de saúde onde morre H. surge como eco da sua derradeira visita à casa de saúde da rua Piccini, onde morreu Radiguet; a viagem de H. e Marcel repete a «fuga» de Radiguet para a Córsega com o escultor Brancusi. Convocando estas per-


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sonagens à sua própria vida e reencontrando-as com o seu olhar distribuidor de oráculos, surge O Livro Branco. Cinco anos antes, Cocteau tinha escrito no romance Le Grand Écart: Desde a infância ele sentia o desejo de ser aqueles que achava belos, e não que eles o amassem. Este Cocteau sem nome também procura fundir-se naqueles que lhe surgem belos e transformar-se neles; é o Narciso insatisfeito com a imagem do espelho, que anseia dos seus-outros o magnetismo animal mas uma espiritualidade de sentidos que lhe salta para cima com brutalidade incrível, a dos seus rapazes com traços de besta, flores de alta estatura, os seus anjos Heurtebise. É ainda o narciso marcado pela má sorte que atrás de aparências diferentes esconde um destino sempre igual. Dir-se-á que Cocteau faz este jogo correr num filme de palavras. Há um momento em que a história chega a desocultar a fonte da sua inspiração: entontecido pelo romanesco do cinematógrafo, o Alfred mandara pintar o cabelo. A leitura do texto vai ao tempo previsível de uma normal sessão de cinema, tem velocidade de uma montagem de frases-planos, é seccionada em sequências e, por vezes, segue na ênfase a lição dos intertítulos do cinema mudo. Não hesita em surpreender com os excessos de melodrama que fizeram êxito e estilo no cinema dos melhores tempos da sua expressão silenciosa, e é talvez por isto que o Cocteau reconhecidamente elegante nas suas relações pôde escrever, falando de si mesmo enquanto narrador: eu devia ter-lhes batido; ou: por fim confessou e enchi-o de pancada; ou: o rapaz tinha a voz e os olhares tão duros, que lhe dei uma bofetada; e que o habitual retocador das emoções até à medida justa não se retraiu ao conceder a Alfred, a H., a Jeanne, a Rose, lágrimas abundantes, arrependimentos que os põem


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de joelhos, tristezas que os atiram para o chão, inspiram gestos de desespero e cabelos em desalinho; tudo o que não foi, afinal, compreendido por André Gide, como adiante irá ler-se. Com o texto levado ao fim, Cocteau hesita e esmorece sem coragem para se ver tão publicamente reflectido e com um estandarte erguido alto para aquela audácia. Se há biógrafos que o explicam pelo receio «de dar um desgosto à sua mãe»1, não se ignorem as ondas que teria de enfrentar, as rejeições do homossexual proferidas por vozes sonoras e com audiências privilegiadas nas vanguardas intelectuais e políticas da época. André Gide, que numa edição confidencial de 1911 e numa edição pública de 1924 se tinha atrevido ao Corydon, pesado esforço de didactismos para conferir às preferências pelo mesmo sexo um lugar indesmentível na natureza, fora insultado, caluniado, contemplado com cortes de relações, o de Paul Claudel definitivo. No ano anterior Henri Barbusse, escritor oficial do Partido Comunista francês que nos seus prestígios somava a autoria de Le Feu (talvez o melhor dos romances escritos nessa altura sobre a guerra 14-18), num inquérito à homossexualidade na literatura tinha declarado: «Acho que a perversão de um instinto natural é indício da profunda decadência social e moral de uma certa faixa da sociedade dos nossos dias.» (O Livro Branco responde-lhe, aliás, com uma das suas frases finais: Compreendo muito bem que um ideal de térmitas, como o ideal russo que visa o plural, condene uma das mais nobres formas do singular.) E André Breton, o severo papa surrealista que não 1 J.-J. Kihm, H.-C. Behar e E. Sprigge em Jean Cocteau, l’Homme et les Miroirs, Paris, La Table Ronde, 1968.


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evitava idolatrar Sade mas queria à sua volta a ortodoxia dos costumes, nesta mesma altura escrevia em La Révolution Surréaliste: «Acuso os pederastas de proporem à tolerância humana um défice moral e mental que tende a erigir-se em sistema e a paralisar todos os empreendimentos que eu respeito.» Com razões destas a assustá-lo, Jean Cocteau desistiu de se mostrar em nome no texto que teria por título O Livro Branco1, segundo os dicionários recolha de documentos sobre determinado assunto (aqui processo sobre a homossexualidade do narrador) mas também «branco» pela ausência de assinatura; um texto, aliás, que se propunha ao público sem nome de autor nem de editor (hoje sabe-se que Les Quatre Chemins, onde o Cocteau do ensaio Le Mystère Laïc, à glória de Chirico, acabava de ser publicado). Uma obra com tiragem de vinte e um exemplares quase não existe como objecto, é um fantasma, determina que muito poucos a leiam, e correu mais de um ano para André Gide poder anotar no seu Journal: «Li O Livro Branco de Cocteau, emprestado por Roland Saucier enquanto espero pelo exemplar que Cocteau me prometeu. Que inútil agitação nos dramas que ele conta! Que afectação no estilo! Que preocupação na galeria das suas atitudes!… Quanto artifício!… Reconheça-se, no entanto, que certas obscenidades são contadas de maneira encantadora. O que choca, e muito, são os sofismas pseudo-religiosos»2. Na sua decisão não fica como caso único. Em 1954, Jouhandeau publicará Tiresias sem nome de autor nem de editor; Roger Martin du Gard, com um romance concluído nos anos 40 do século XX (Le Lieutenant-colonel de Maumort) nunca se decidirá a publicá-lo e, de acordo com uma vontade testamentária, a sua única edição é póstuma e de 1983. 2 André Gide sempre esteve entre os que mais severamente olharam para a obra literária de Jean Cocteau. Para lá das razões que a sua análise pudesse honestamente dar-lhe, a mais importante chave desta indisfarçável malquerença está hoje bem denunciada no livro Le Ro1


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O Livro Branco voltou a surgir em 1930 numa tiragem de quatrocentos e cinquenta exemplares, agora com a chancela das Éditions du Signe; ainda anónimo mas ilustrado por dezassete desenhos de Jean Cocteau e acompanhado pelo fac-símile de uma página autógrafa que já denunciava (sem denunciar) aquele que vivia atrás do texto: Foi dito que O Livro Branco era obra minha. Suponho ser este o motivo que o levou a pedir-me para eu o ilustrar, e o motivo por que o aceito. Dir-se-á que o seu autor conhece, de facto, Le Grand Écart e não despreza o meu trabalho1. Seja qual for o bem que eu pense deste livro — pudesse dar-se o caso de ser meu — não quereria assiná-lo porque tomaria a forma de uma autobiografia e reservo-me o direito de escrever a minha, ainda mais singular. Contento-me, pois, em aprovar pela imagem este esforço anónimo que tende a desbravar um terreno ainda muito inculto. O terreno muito inculto de O Livro Branco foi aos poucos desbravado. Mais tarde catorze anos, Jean Genet começava a fazê-lo a partir do seu romance Notre Dame des Fleurs que Cocteau atirava ao público numa editora criada por si para esse efeito. Revolta-me, repugna-me e maravilha-me, explicava ele. Qualquer das suas linhas resplandece. As flores obscenas, as flores cómicas, as flores trágicas, as derrocadas de rosas saem de todos os lados. man Secret de Pierre Billard, publicado em 2006. Nunca André Gide perdoou a Cocteau que ele «seduzisse» temporariamente o seu bem-amado de toda a vida Marc Allégret. E também se note que anos mais tarde teve a sua vingança desviando com eficácia o jovem escritor Pierre Herbart da «esfera Cocteau». 1 Em O Livro Branco há, pelo menos, duas marcas evidentes de Le Grand Écart: uma frase idêntica (o velho homem não se despe, tão facilmente como a cobra, dessa roupa leve agarrada às roseiras-bravas) e uma referência que repete a intriga da aventura sexual entre o narrador, Berthe e Jeanne.


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O típico exemplo da pureza ofuscante e inadmissível. É puro, no sentido em que o Diabo é puro por só poder fazer o mal. Com a sua audácia, Genet apagava as que lhe tinham antecedido e surgia na língua francesa como mais alta e sumptuosa expressão literária para um mundo de instintos contra a moral estabelecida e de sentimentos vividos entre seres do mesmo sexo1. Era uma pedra arremessada aos mandamentos da sociedade «bem-comportada» e deixava ao Livro Branco uma palidez de revolta anónima contra o vício dessa mesma sociedade que transformava a rectidão do seu narrador num vício. O narrador-Cocteau saía do seu texto a declarar um exílio; não exílio de um monstro mas de um homem a quem a sociedade impede de viver porque considera erro uma das misteriosas engrenagens da obra-prima de Deus. Era um exílio sofrido como mágoa perante o mundo que condena o raro como crime e o obrigava a modificar inclinações. Depois deste momento de verdade chamada pelo seu nome, ressurgiu no ano seguinte (1929) o anterior Cocteau de literatura assinável e com a sua melhor poesia em romance, Les Enfants Térribles; o que se prolongaria noutros pontos altos, ensaísticos, como Opium ou La Difficulté d’Être, em peças teatrais como La Machine Infernale, Œdipe-roi ou L’Aigle à Deux Têtes; o que foi realizador de seis filmes mais e menos singulares, um deles A homossexualidade dos livros de Genet quis-se ao contrário da normalização, do desejo de aceitação social que o narrador de O Livro Branco desejou. A Genet só interessava mostrá-la carregada de vícios, reprovada, odiada, incluída nas virtudes teologais inversas, a pederastia, o roubo, a traição, desencorajadora das indulgências burguesas. Genet pretendia fazer-se odioso à sociedade dos burgueses, e quando viu que a sua prosa culta tinha neles o único cliente, desistiu de escrever como poeta em prosa ou em verso, para se tornar escritor acidental e apenas político. 1


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Orphée; o que fez desenhos e pinturas; o que se mostrou transfigurador de paredes em capelas de Villefranche, Frejus, SaintMaximin, Milly-la-Fôret e Londres; o que foi visto e fotografado em lugares do mundo, ouvido com inegável brilho verbal a discorrer sobre factos e personalidades do seu quotidiano. Tantos talentos acabaram por levá-lo, na assentada de um só ano, à Académie Royal de Belgique e à Académie Française. E a fazer viver ao lado deles o êxito de uma sedução pessoal que o rodeou de homens e mulheres elegantes, de intelectuais, de outros anjos que se chamaram Marcel Khill, Jean Marais e Edouard Dermit. Em 1981, dezoito anos depois da sua morte, aconteceu a primeira edição francesa de O Livro Branco com nome de autor. O Livro Branco passava a ser um Cocteau assinado, não para ficar entre os seus melhores momentos em prosa mas como sua única confissão sexual directa e associada ao desejo do outro, de se fundir nele e através dele se realizar como narciso, também desejo de ver a sua preferência por rapazes incluída nas tolerâncias da sociedade onde vivia. Já era uma época em que mais tempo e distância concediam ao contestado Cocteau, ao «príncipe frívolo» dos anos trinta e quarenta, o direito às serenidades; em que as críticas se amaciavam com aquela memória do maestro que em singulares momentos da primeira metade do século XX tinha regido sinfonias marcantes da cultura francesa. Angelo Rinaldi pôde reconhecê-lo como «ponto extremo de brilho no aforismo, na máxima e na fórmula», François Mauriac, desde há muito assustado com as entrelinhas «pecaminosas» do seu mundo mental, chegava a concordar que «a morte lhe conferia um carácter de autenticidade»,


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e Marguerite Yourcenar a encontrar-lhe «uma grandeza estranha, muito próxima de um poder oculto». Chegava o tempo de ser compreendido de outro modo o que fora observado apenas na dimensão prestidigitadora das palavras, na diversidade polifacetada que ele próprio defendia como recusa do colete ortopédico dos géneros (Le Secret Professionnel), de ao tempo enganar o hábito dissonante cantando de vinte formas diferentes e evitar, assim, o elogio do hábito e as nobres pedras do gelo (Plain-chant), na afirmação provocatória que foi alvo, entre os surrealistas, de um demorado sarcasmo: o poeta é uma mentira que diz sempre a verdade (Secrets de Beauté). Cocteau morreu em 1963, a poucas horas de outra morte, da sua grande amiga Edith Piaf. Uma grande fraqueza física aconselhava aos médicos transfusões de sangue que o fariam prolongar-se sem glória num pouco mais de vida. Na frase da sua recusa à antipoesia desta técnica científica, talvez haja ressonância do título do seu mais velho filme: Nada substitui o sangue de um poeta. E, tempos antes, tinha avisado: Façam de conta que choram, meus amigos, porque os poetas só fazem de conta que morrem. A.F.


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Por mais atrás que eu volte, e mesmo na idade em que o espírito ainda não influencia os sentidos, encontro rastos do meu gosto por rapazes. Sempre amei o sexo forte, que me parece legítimo chamar o belo sexo. Os meus problemas chegaram de uma sociedade que condena o raro como crime e nos obriga a modificar inclinações.

Três factos decisivos me acodem à memória. O meu pai vivia num pequeno castelo, perto de S. O castelo tinha um parque. No fundo do parque havia uma quinta e um tanque que não lhe pertenciam. Em troca dos lacticínios e dos ovos que o homem da quinta diariamente nos trazia, o meu pai tolerava-os sem vedação. Numa manhã de Agosto vagueava eu no parque, a brincar aos caçadores com uma carabina carregada de espoletas, e oculto atrás de uma sebe esperava que um animal passasse, quando vi do meu esconderijo um rapaz da quinta, muito jovem, levar ao banho um cavalo da lavoura. Para entrar na água e por saber que nunca havia quem se aventurasse na-


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quele fim de parque, cavalgava completamente nu e fazia o cavalo soprar a poucos metros de mim. O bronzeado do rosto, o pescoço, os braços, os pés, contrastavam com a pelagem branca e lembravam-me castanhas-da-índia a saltar das vagens, mas os sombreados não se ficavam por aí. Outro me atraía os olhares e ao centro tinha um enigma que se destacava com todo o pormenor. Os meus ouvidos zumbiram. O meu rosto congestionou-se. Fiquei sem força nas pernas. Tinha o coração a bater como um coração de assassino. Sem saber como, perdi os sentidos e só me encontraram depois de uma busca que durou quatro horas. Já de pé, por instinto abstive-me de revelar a razão da minha fraqueza e corri o risco de ser ridículo contando que uma lebre me assustara ao saltar das moitas. Da segunda vez já era o ano seguinte. O meu pai autorizara uns ciganos a acampar nesse mesmo fim de parque onde eu perdera os sentidos. Andava a passear com a minha criada. De repente ela deu gritos e puxou por mim proibindo-me de olhar para trás. Fazia um calor glorioso. Dois rapazes ciganos tinham-se despido e trepavam às árvores. Espectáculo que irritava a criada e a minha desobediência enquadrou de forma inesquecível. Viva eu cem anos, graças ao grito e àquela corrida voltarei sempre a rever um atrelado, a mulher que embala um recém-nascido, a fogueira a deitar fumo, um cavalo branco a comer erva, e empoleirados nas árvores dois corpos de bronze três vezes manchados de negro. Se me não engano, a terceira vez tratava-se de um jovem criado com um nome que era Gustave. A servir à mesa mal conseguia reprimir o riso. Um riso que me encantava. Tantas


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foram as voltas e mais voltas que a minha cabeça deu às recordações do rapaz da quinta e dos ciganos, que cheguei a sentir muita vontade de tocar com a mão naquilo que os meus olhos tinham visto. Fiz um projecto da maior ingenuidade. Ia desenhar uma mulher, levar o papel ao Gustave, fazê-lo rir-se, pô-lo à vontade e pedir-lhe para me deixar tocar no mistério que à mesa, enquanto ele servia, eu imaginava atrás de uma expressiva saliência das calças. Ora, quanto a mulheres em camisa eu só tinha visto a criada e julgava que os seios duros eram invenção dos artistas, porque todas os tinham realmente caídos. O meu desenho era realista. O Gustave desatou a rir-se, quis saber quem tinha sido o modelo, e aproveitando o seu desconcerto fui direito ao fim com uma inconcebível audácia. Muito corado afastou-me, com o pretexto de sentir cócegas beliscou-me a orelha, e com um medo mortal de perder o lugar levou-me até à porta. Dias depois roubou vinho. O meu pai despediu-o. Intercedi, chorei; mas tudo foi inútil. Acompanhei-o até à estação, carregado com um jogo de pimpampum que eu lhe oferecia para o filho que tantas vezes me mostrava numa fotografia.

A minha mãe tinha morrido ao dar-me à luz e sempre vivi a sós com o meu pai, homem triste e sedutor. Já triste antes de perder a mulher. Mesmo feliz tinha sido triste, e era por isto que eu procurava na sua tristeza raízes mais profundas do que o luto.


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HEURTEBISE

de jean cocteau

No seu ensaio Opium e, sobretudo, em Journal d’un Inconnu, Cocteau conta como lhe nasceu o anjo Heurtebise: …………………………………………………… A semelhança entre as palavras ange (anjo) e angle (ângulo), a palavra ange faz-se angle se lhe acrescentarmos um l (ou asa), é um acaso da língua francesa, se existir acaso em matérias como esta. Mas eu sabia que este acaso deixava de sê-lo em hebreu, onde a palavra anjo e a palavra ângulo são sinónimos. Na Bíblia, a queda dos anjos simboliza a queda dos ângulos, quer dizer, a criação toda humana de uma esfera convencional. Esvaziada da sua alma geométrica, feita de um enredamento de hipotenusas e ângulos rectos, a esfera deixa de assentar sobre os pontos que lhe garantiriam a emissão dos raios. Eu também sabia que a queda desta alma geométrica é que importa em nós evitar, e perder todos os nossos ângulos, ou os nossos anjos, é um perigo que ameaça os indivíduos excessivamente agarrados à vida. …………………………………………………… Acontecia-me, muito intoxicado, dormir intermináveis sonos de meio segundo. Um dia em que fui visitar Picasso à


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rua La Boétie, julguei-me no elevador a aumentar de tamanho, ao lado de qualquer coisa de terrível e que seria eterna. Uma voz gritava-me: «O meu nome está na placa.» Um abalo despertou-me e li na placa de cobre das alavancas: elevador heurtebise. Lembro-me de que falámos de milagres, na casa de Picasso. Picasso diz que tudo é milagre, e milagre era ele não se derreter no banho como um torrão de açúcar. …………………………………………………… Verifico, à distância, como esta frase me influenciou. Resume o estilo de uma peça [Orphée] onde os milagres não devem sê-lo, devem estar ligados ao cómico e ao trágico, intrigar tanto como o mundo das pessoas crescidas intriga as crianças. Eu já tinha deixado de pensar no episódio do elevador. De repente, tudo se alterou. O meu projecto de peça perdeu os contornos. À noite eu adormecia e acordava em sobressalto, incapaz de recuperar o sono. Durante o dia afundava-me e tropeçava numa massa de sonhos. Perturbações que se tornaram atrozes. O anjo habitava-me, sem eu ter qualquer espécie de dúvida, e foi preciso que a pouco e pouco o nome Heurtebise me obcecasse para tomar consciência dele. Por tantas vezes o ouvir, ouvi-lo sem o ouvir, se assim puder dizer-se, ouvir-lhe a forma numa qualquer zona onde o homem não pode tapar os ouvidos, por tantas vezes ouvir um silêncio que gritava esse nome em altos berros, por tantas vezes ser perseguido por esse nome, voltei a lembrar-me do grito do elevador: «O meu nome está na placa», e nomeei o anjo que se revoltava contra a minha tolice; já que ele, e não eu, tinha a si próprio dado nome. Ao ter nome esperei que


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o fantasma de marselha (conto publicado em 1933)

Desde há quatro dias Achille vivia disfarçado de mulher no alojamento das mulheres. Mas não se trata, como poderíeis imaginar, do Aquiles da lenda, nem estareis no início de um conto grego. O Achille de que vos falo era árabe, filho de mãe marselhesa; tinha vinte anos; parecia ter quinze. Era belo, com uma beleza feminina sem ser efeminado. Quero dizer que o seu rosto imberbe era duro; que a sua cintura fina, as orelhas pequenas, permitiam a este estranho jovem usar prestigiosamente os vestidos de uma moda onde a mulher tenta parecer-se com o efebo, e na sua pessoa estas modas feminizavam-se por contraste e davam-lhe um encanto inenarrável, fabuloso (no sentido exacto do termo) e ambíguo. Mas por que motivo o nosso Achille usava um vestido, meias, colares de mulher? Em que local os usava? Devemos à escrupulosa exactidão do nosso relato confessar que se escondia ou, com exactidão maior, o escondiam, o subtraíam às buscas da polícia; que esta astúcia combinada por uma mulher chamada Rachel divertia muito as suas companheiras; e estas companheiras e esta Rachel bem menos vestidas do que o nosso herói, rodeavam-no com risos e gentilezas num quarto secreto de um lugar de muito má nota em Marselha. Para resumir, apesar da sua jovem idade Achille fazia duas raparigas «trabalharem». Rachel, uma delas, trabalhava


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Jean Cocteau

em casa; Marthe, a outra, trabalhava na Canebière e nas ruas vizinhas. Rachel e Marthe gostavam de Achille. Achile gostava delas. Mostrava de indiferença cruel o necessário para desempenhar no meio o seu papel; meio onde a ternura, salvo em raras circunstâncias, não se exibe. Todo este lindo mundo era muito ingénuo, seja o que for que isto signifique; muitas das atitudes mundanas deixariam chocados até ao sangue os membros desta pequena trilogia que não pensava em desgraçar ninguém e seguia os rituais de uma tradição secular. Quis a má sorte que Achille se deixasse arrastar por Victor (um colega) até um cometimento menos oficial — um assalto, para nada ocultarmos — e Rachel e as suas companheiras tivessem a audácia, porque a polícia o procurava, de misturá-lo ao seu grupo. Conquistada pela gentileza de Achille, Madame fez-se cúmplice do estratagema; e desde há quatro dias a polícia procurava o Achille que vestido de mulher se escondia, como o Aquiles do mito, no alojamento das mulheres. Mas as melhores coisas têm infelizmente um fim. Madame estava a contar com uma visita domiciliária, e apesar de o caso oferecer qualquer coisa de escabroso ficou decidido que o nosso herói saísse do Fambloyant e até nova ordem percorresse as ruelas sombrias. Os primeiros passos na rua divertiram Achille. O travesti imprimia à fuga um estilo de carnaval, e o divertimento mascarava-lhe o drama. E a tal ponto o mascarava que em vez de ele se manter, de acordo com o previsto, na sombra


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o fantasma de marselha (monólogo teatral de 1949)

escrito para mademoiselle Edith Piaf, a partir do conto com o mesmo título.

Senhor doutor juiz de instrução: eu cá também tenho instrução, e como deseja que eu lhe conte a história vou contá-la de uma ponta à outra, e contada na sua língua e não na nossa, porque nesta nossa língua o senhor doutor juiz de instrução não ia perceber uma palavra, e quero que saiba tudo, mesmo tudo. Toda a verdade e só a verdade. Porque é uma história muito triste, imagine o senhor doutor, e depois dela acabou-se, posso ficar de bico calado. Façam de mim o que quiserem, estou-me nas tintas. É uma história, senhor doutor juiz, que parece um pouco indecente, mas não é. É uma história tão decente como o Maxime, e uma desgraçada história. Estúpida! Estúpida! E triste… Para acabar com isto, vou contá-la. Tenho de começar por dizer que o Maxime era bonito — bonito como o senhor doutor juiz nem faz ideia, tão bonito que eu até me sentia envergonhada. Sentia-me muito feia, muito feia para o Maxime, e não conseguia convencer-me de que ele estivesse apaixonado por mim. Eu é que estava apaixonada por ele, loucamente apaixonada. Louca de amor, senhor doutor juiz, e muitas vezes dizia a mim mesma: não é


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O Fa n ta s m a d e M a r s e l h a

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possível, menina, ele é bonito de mais para ti, vais ficar sem ele… E fiquei… mas não como eu julgava. É o destino, senhor doutor juiz. Está nas cartas. Está na mão. Contra essas máquinas não há nada a fazer. Ele era tão bonito, tão bonito, que todas as mulheres tinham inveja do seu cabelo, das suas pestanas, da sua cintura, da sua pele. E depois dos assaltos… olhe, está a perceber do que falo… depois do assalto na rua Saint-Christophe, o seu colega Alfred disse-nos: eu cá safo-me disto. E o Maxime, esse tinha de vestir-se de mulher. Foi a causa de tudo, senhor juiz. Foi o que fez a sua desgraça. Mas que ideia tivemos! A polícia andava à procura dele. E como eu tinha uma colega com casa, a casa da Aline, escondemo-lo na casa da Aline e disfarçámo-lo com um vestido da Rachel. O que a gente se ria! O que a gente se ria! Se adivinhássemos! Mas não adivinhávamos. Nunca se sabe. E é assim que as catástrofes acontecem. Pode acreditar ou não acreditar, senhor doutor juiz, mas habituámo-nos a vê-lo vestido de mulher, e já nem falávamos nisso porque achávamos natural. E depois, que engraçado o Maxime era, e com a sua idade! Porque, fique o senhor doutor juiz a saber, conheço alguns da idade dele que ainda são mais velhos do que o senhor — oh!, peço desculpa — mas o Maxime tinha a idade que tinha. Jovem! Jovem! E engraçado! E estava mesmo interessado em sair vestido de mulher, e bem podíamos dizer-lhe que era perigoso; teimava e não ouvia ninguém. Uma noite — um domingo — saiu para dar uma volta. Ainda estou a vê-lo dobrar a esquina da rua, debaixo de um candeeiro. Fez-nos um gesto que não posso mostrar qual foi,


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índic e

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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O Livro Branco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Os Heurtebise de Jean Cocteau. . . . . . . . . . . . . . . 1. Raymond Radiguet. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2. Jean Desbordes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3. Marcel Khill . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4. Jean Marais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5. Edouard Dermit . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

19 61 67 71 79 83 87

Desenhos de Jean Cocteau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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O Fantasma de Marselha O fantasma de Marselha (conto publicado em 1933). . . . . . . . . . . . . . . O fantasma de Marselha (monólogo teatral de 1949) . . . . . . . . . . . . . .

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Os génios, seguido de Exemplos, Victor Hugo O senhor de Bougrelon, Jean Lorrain No sentido da noite, Jean Genet Com os loucos, Albert Londres Os manuscritos de Aspern (versão de 1888), Henry James O romance de Tristão e Isolda, Joseph Bédier A freira no subterrâneo, com o português de Camilo Castelo Branco Paul Cézanne, Élie Faure, seguido de O que ele me disse…, Joachim Gasquet David Golder, Irene Nemirowsky As lágrimas de Eros, Georges Bataille As lojas de canela, Bruno Schulz O mentiroso, Henry James As mamas de Tirésias — drama surrealista em dois actos e um prólogo, Guillaume Apollinaire Amor de perdição, Camilo Castelo Branco Judeus errantes, Joseph Roth A mulher que fugiu a cavalo, D.H. Lawrence Porgy e Bess, DuBose Heyward O aperto do parafuso, Henry James Bruges-a-Morta — romance, Georges Rodenbach Billy Budd, marinheiro (uma narrativa no interior), Herman Melville Histórias da areia, Isabelle Eberhardt O Lazarilho de Tormes, anónimo do século XVI e H. de Luna Autobiografia, Thomas Bernhard Bubu de Montparnasse, Charles-Louis Philippe Greco ou O segredo de Toledo, Maurice Barrès Cinco histórias de luz e sombra, Edith Wharton Dicionário filosófico, Voltaire


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A papisa Joana — segundo o texto de Alfred Jarry, Emmanuel Rhoides O raposo, D.H. Lawrence Bom Crioulo, Adolfo Caminha O meu corpo e eu, René Crevel Manon Lescaut, Padre Prévost O duelo, Joseph Conrad A felicidade dos tristes, Luc Dietrich Inferno, August Strindberg Um milhão conta redonda ou Lemuel Pitkin a desmantelar-se, Nathanael West Freya das sete ilhas, Joseph Conrad O nascimento da arte, Georges Bataille Os ombros da marquesa, Émile Zola


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REVISÃO: ANTÓNIO D’ANDRADE DEPÓSITO LEGAL 398613/15 ESTE LIVRO FOI IMPRESSO NA EUROPRESS RUA JOÃO SARAIVA, 10 A 1700-249 LISBOA


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Jean Cocteau O LIVRO BRANCO

Jean Cocteau O LIVRO BRANCO seguido de O FANTASMA DE MARSELHA

tradução e apresentação por

Aníbal Fernandes

Por mais atrás que eu volte, encontro rastos do meu gosto por rapazes.

www.sistemasolar.pt

Jean Cocteau O LIVRO BRANCO seguido de O FANTASMA DE MARSELHA


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