Codine

Page 1

www.sistemasolar.pt

T ÍTULO DO ORIGINAL: CODINE

© SISTEMA SOLAR, CRL (2023)

RUA PASSOS MANUEL, 67B, 1150-258 LISBOA tradução © ANÍBAL FERNANDES

1.ª EDIÇÃO, AGOSTO DE 2023

ISBN 978-989-568-040-5

REVISÃO: DIOGO FERREIRA

DEPÓSITO LEGAL 520193/23

ESTE LIVRO FOI IMPRESSO NA TÓRCULO

A minha vida é feita de oásis perdidos num deserto que só eu desconheço, disse a perplexidade de Istrati quando se definiu numa «Autobiografia» resumida, exterior às páginas do enorme romance de si próprio que se espalhou por treze livros. De um modo geral, as personagens surgem ali com verdadeiros nomes; mas ele próprio se excluiu por firme decisão dessa autenticidade nominativa, e para ser na literatura — sempre — o seu duplo Adrien Zograffi 1 .

Nascido em 24 de Agosto de 1884 na Roménia, em Braila, teve para efeitos legais um pai abstracto a que Zoïtza Istrati, a sua mãe, nunca deu oficialmente um nome. Zoïtza tinha vivido com Gherassion Valsamis, um grego contrabandista de tabaco que a abandonou em 1885. Era lavadeira, engomadeira, e por ter de enfrentar duras exigências de trabalho incompatíveis com as atenções de uma boa mãe entregou-o (até aos cinco anos de idade) aos cuidados da sua avó. A morte desta avó transferiu-o para o lar materno que foi sempre, na sua memória, um lugar de regras vigiadas pelos rigores de uma amena severidade.

Da miséria que se abre aos meus olhos, nada vi na nossa casa; dois quartos sempre arrumados; nós sempre bem vestidos e com boa alimentação. Sem nunca haver dívidas. Brioches e

1 Este nome, inventado a partir do grego zografos, significa «pintor».

ovos vermelhos na Páscoa, porco no Natal, brinquedos uma vez por outra. Amigável proibição de brincar na rua: — «Se rasgares a roupa ou partires uma vidraça dos vizinhos, ferires alguém ou fores ferido, morro de desgosto e ficarás sozinho no mundo.» Nunca contrariei os seus desejos, e fomos amigos até nos separarmos. Punições corporais e blasfémias, só dos vizinhos conheci. Ela não sabia ler nem escrever, e não tinha nenhum vício. Isto, assim, até eu ter sete anos; nessa altura comecei a frequentar a escola, onde fui estudante bem comportado e medíocre até acabar as quatro classes do ensino primário obrigatório.

A vida de Istrati começou a traçar-se, a partir dos doze anos de idade, num complexo desenho de localidades e profissões, num desvairado desvio à compostura materna. Foi empregado de café e de uma mercearia, mas logo depois pasteleiro; fez-se aprendiz nas docas do porto de Braila (de onde me expulsaram por roubo, confessa ele), a seguir serralheiro, pescador (sonho e felicidade!), empregado numa fábrica de cordas (pouco faltou para eu me enforcar!). É também dele este desabafo, repetido com poucas variações quando se refere aos acontecimentos de uma grande parte da sua vida: Deriva, cem profissões, nenhuma estabilidade, desolação da minha mãe.

Aos dezassete anos, para desviar dela os maus passos de um comportamento que a desiludia, Istrati mudou-se para Bucareste, a capital, onde passou por outras profissões: a de criado num hotel, a de agente num estabelecimento de empregos, a de servente num hospital de doenças venéreas… — E temo-lo, nas suas palavras

autobiográficas, a enfileirar mais desgraças e a mostrar-se mais sombrio: Miséria, fome, sem abrigo, piolhos, beatas de cigarro.

Informa-nos também, como cúmulo de esforço físico, que descar-

Apresentação 6

regou em Giurgiu vagões de sal e sentiu uma fome indescritível: só de dois em dois dias um pouco de pão com chá, dados pela piedade de arménios. Como é que não morri? A minha mãe levou-me para a sua casa. Em Braila, e de novo sob a asa da mãe Zoïtza, pintou casas. E tudo pareceria correr-lhe pelo que era menos mau se a sua apaixonada Anette não se casasse traiçoeiramente com outro. A dolorosa visão de uma amada em braços alheios voltou a afastá-lo para as distâncias de Bucareste; viveu, à procura de uma sucedânea de Anette, com sucessivas mulheres e entre conflitos que a sua sensualidade instável determinava, por vezes com voos de uma leviandade que teve o seu mais alto ponto quando trouxe de Sotir uma muito jovem prostituta resgatada das zonas secretas de um bordel, e que era… pouca sorte a sua… de menor idade; Istrati foi preso, acusado de rapto.

Depois desta prisão e de uma animosidade para com a Roménia, que tão mal lhe tratava a vida profissional e amorosa, pareciam sedutoras as oportunidades do trabalho que o Egipto fazia então soar na Europa. Mas teria de ir até Marselha e embarcar num navio até Alexandria. E foi; e embarcou no Shagalin; mas… como passageiro clandestino. Apanharam-me entre quatrocentos emigrantes, conta ele, e fui despejado, cheio de vergonha, em Nápoles. Tive um mês de miséria negra, a dormir na rua, seis dias em que só comi saladas. Mas vi museus, Pompeia e Herculano. Depois escondi-me por desespero num barco alemão luxuoso, mas também generoso porque a tripulação me descobriu e manteve oculto; fui alimentado e transportado direttissimo da Napoli a Alessandria.

Em Alexandria, acrescenta Istrati sem abandonar o tom do condenado a invencíveis desgraças, miséria e sedutoras propostas

Apresentação 7

de futuro… Chulo! (Estou agradecido!) Pintor de casas, criado, distribuidor de cartazes e quase homem-sanduíche… Vida rica, no que respeita a miséria e a acontecimentos.

É desta época, e de um desiludido regresso à Roménia, o seu primeiro contacto público com o mundo das letras. Istrati tem vinte e sete anos de idade quando surgem as suas primeiras evidências ligadas à escrita: os textos que ele envia para A Roménia Operária, publicação pertencente ao Partido Social-Democrata Romeno. Mas não tarda que a social-democracia lhe pareça, perante as realidades sociais do seu país, uma resposta pouco audaz. Istrati faz-se militante socialista; e a sua vida, politicamente agitada e tão contrária aos valores domésticos da sua mãe, fazem-na sonhar para o seu filho a panaceia de um casamento pacificador. Houve uma recusa da minha parte, confessa ele. O melhor que tinha a fazer, era ir para Paris. Paris, a cidade da cultura, pertencia ao país onde vivia Romain Rolland, o escritor que lhe tinha dado quatro meses de leitura apaixonante; que lhe tinha feito devorar os dez volumes do seu Jean-Christophe e estudá-los página a página. No dia de Natal de 1913, uma boa sorte fê-lo hóspede de Eugène Ionesco, outro romeno expatriado — não o escritor com este nome, mas um sapateiro.

Volto para Braila, diz-nos Istrati quando conta o que lhe sucedeu ao sair deste interregno parisiense, e a mostrar-se mais rendido a uma vida estável: Crio uma sociedade de pintores de casas e depois uma herdade para a criação de porcos. Rebenta entretanto a Grande Guerra. Entro em discórdia com o Centro Socialista, por me sentir demasiado à sua esquerda. E em 1915 caso-me legitimamente com Janette Maltus, uma inteligente judia que é oradora socialista em comícios, mas pouco apta para criar porcos. Casamento infernal, e não apenas por culpa dela. Chega então o terrível 30 de Março de 1916, em

Apresentação 8

que beijo pela última vez a minha mãe1; em que abandono a minha mulher e vou, dois dias depois, para a Suíça. A Suíça; em tempos de guerra, a esperança de alguma paz. Mas o que podia aquele país de cantões oferecer às suas necessidades de cultura e de política? Com ele, ainda por cima, a verter sangues de tuberculoso e a ser internado num sanatório de Lausana? Houve em tudo isto, reconhece ele, um lado positivo: Em três meses de completo repouso fiz leituras assíduas dos clássicos franceses com a ajuda de um dicionário… Pintei paredes dos chalés do sanatório, fui criado, operário de escavação de terras… Fui pintor nómada através dos cantões suíços e condutor de tratores. Arrastei-me por todo o lado com livros, às vezes com um piano e sempre com uma bonita mulher. Istrati escreve nesta época a Romain Rolland uma carta sombria, datada de 20 de Agosto de 1919, onde lhe confessa os quatro meses de paixão pelo seu Jean-Christophe. (Carta devolvida, por ter o endereço do remetente mas a indesculpável distracção de ignorar o do destinatário.) A impossibilidade de uma resposta do autor foi muito dolorosa, embora a sua obra chegasse para me desviar da ideia de um suicídio; eu tinha deixado de acreditar fosse no que fosse; e a minha pessoa — estranhamente formada por um primitivo desejo de aprender e amar tudo o que fosse belo, mas ao mesmo tempo devastada por paixões que a atiravam com frequência para a lama — tinha-se tornado insuportável. Christophe ensinara-me, no entanto, qualquer coisa como um começo onde tudo acabava. Levantei de novo a minha cruz e andei… mas a cambalear!

Dois anos de muito duro caminho, acrescenta; outra mulher, outras desgraças, amigos a decepcionarem-me (em Paris,

Apresentação 9
1 Istrati nunca mais a viu. Zoïtza morreu em 21 de Abril de 1919.

1920). Mas em Nice, derrotado por vinte e cinco anos de batalha com a vida, tento matar-me. Só consegui ficar com a parte inferior do pescoço paralisada. E quando saí do hospital… fiz-me fotógrafo.

Em 1921, quando parti dois dedos, o sangue derramado trouxe-me a primeira carta de Romain Rolland e a falar-me directamente num tom profético. Nas suas cartas eu poderia esquecer-me de tudo, mas nunca desta frase entre todas mais cara: «Vejo brilhar em si, com clarões, o divino fogo da Alma!»

Só isto eu tinha pedido à vida que me fosse reconhecido. Depois, um ano mais tarde — num momento de estimulante revolta ele disse-me com muita dureza: «Não espero de si cartas exaltadas. Espero pela obra! Faça a obra; mais essencial, mais perdurável do que a sua pessoa que só é a sua vagem.» (Cito de memória.) Comecei então a esquadrinhar o meu passado.

A partir de agora, Panait Istrati decide esquadrinhar o seu passado; faz-se autor de uma narrativa longa onde resolve recordar-se como Adrien Zograffi. Começa por se reflectir em O Tio Anghel, em Kir Nicolas e nas 406 páginas manuscritas de Mikhail; mas durante o seu primeiro encontro pessoal com Rolland, em Novembro de 1922, será incitado à feitura de Kyra Kyralina, escrito com a má luz da cave de Eugène Ionesco e publicado um ano depois com um prefácio de Rolland.

Os títulos do Istrati ficcionista vão aparecendo com uma imperturbável regularidade. Constroem aos poucos uma disfarçada autobiografia onde teremos de destrinçar o realmente vivido do literariamente contado, e que se divide em várias secções. As Narrativas de Adrien Zograffi incluem Kyra Kyralina, O Tio Anghel, Apresentação dos Haiduques e Domnitza de Snagov; A Infância

Apresentação 10

de Andrien Zograffi inclui Codine, Mikhail, As Minhas Partidas e os contos de O Pescador de Esponjas; A Vida de Andrien Zograffi inclui A Casa Thüringer, A Agência de Empregos, Mediterrâneo. Fora deste extenso zograffismo está um dos seus romances mais célebres ( Os Cardos do Baragan ) que as memórias da sua vida inspiram mas escapa à presença explícita do Istrati-Zograffi.

Também aparece, a par com este intenso trabalho de escritor, o Istrati de grandes entusiasmos políticos; o apaixonado pelas diferenças marxistas da Rússia Soviética, onde as sucessivas traduções da sua obra lhe concedem a admiração de Estaline; o que parte a 15 de Outubro de 1927 para Moscovo, como convidado especial do décimo aniversário da Revolução de Outubro e se encontrará — extasiado pelas coreografias marciais da Praça Vermelha — com Victor Serge e Nikos Kazantzaki; e também vê com benevolente entusiasmo o mau filme soviético baseado no seu Kyra Kyralina.

Entre Istrati e Kazantzaki desponta uma amizade súbita e intensa; amam em conjunto as diferenças de uma sociedade que se diz de costas voltadas para o cansado e injusto modelo europeu; e até resolvem fazer uma viagem à reaccionária Grécia, o país natal de Kazantzaki, que ali ao lado se mantém indiferente ao «milagre soviético», e que será boa ocasião para fazerem germinar no seu solo burguês a semente dos novos tempos. Mas tudo se complica em Atenas com «uma perturbação social e uma agitação comunista»

(palavras da reacção oficial), que dão origem a um convite de saída do país, feito aos dois pelo governo grego. Em Março de 1928 estão ambos de regresso à Rússia, o que até lhes permite um pouco entusiasmante encontro com Gorki. Mas agora… aos poucos e com as perspicácias de uma distância mais fria, os encantos da Revolução

Apresentação 11

Russa começam a esboroar-se. Em 1929, o Istrati novamente parisiense é um desencantado e um enraivecido; despeja todos estes sentimentos no relato Em Direcção à Outra Chama, petardo literário lançado numa Europa com informações amaciadas, com verdades bem escolhidas, sempre lúdicas e romantizadas, sobre o regime que Estaline desde há cinco anos impõe ao seu país. Istrati fala num tom duro das prisões em guetos, em asilos psiquiátricos; de uma gangrena totalitária que exerce as suas devastações; do homem escravizado e explorado pelo homem; da burocracia, expressão maligna do poder estalinista.

Houve, como era de prever, uma violenta campanha na imprensa francesa. Não era admissível que pudesse fazer-se, com palavras que embora se reconhecessem de esquerda política, uma tão tenebrosa denúncia do modelo soviético. Istrati mentia e só podia ser um traidor. Até Romain Rolland, tão moderado e apaixonado pelas virtudes da Alemanha de Beethoven, se afastou para cortar cerce as admirações que tinham prefaciado Kyra Kyralina e continuado a afirmar-se nas suas cartas. A hostilidade francesa, as caras voltadas, os punhos fechados, levaram o escritor Panait Istrati a voltar para a sua Braila, para uma Roménia politicamente menos agressiva e mais tolerante. Curiosamente, apesar do livro Em Direcção à Outra Chama, houve em 1931 na Moldávia uma manifestação fascista «contra o comunista Istrati». Pouco importava que ele se tivesse mostrado tão violentamente feroz contra Estaline: era, ainda assim, demasiado esquerdista para os valores europeus. Mas o tempo suaviza as tensões. Em 1934, Istrati voltou a corresponder-se com Romain Rolland. E era citado como grande escritor do seu país. As suas obras, escritas em francês, foram traduzidas para romeno, algumas com um duplo original porque rescritas pelo próprio autor.

Apresentação 12

Mas o acalentado sonho de viver folgadamente com o que lhe dessem os direitos devidos ao seu trabalho literário, mostrou-se pouco realista; Istrati sentiu-se mal pago (ou mesmo não pago); sujeitou-se, para não morrer de fome, a ler e a dar a sua opinião sobre manuscritos dirigidos a uma editora de romances populares. Este leitor profissional tinha deixado de ser Adrien Zograffi; já não era o escritor que contava a sua história; tinha escrito tudo o que as memórias da sua vida lhe consentiam que escrevesse. E a sua saúde piorava. Em 21 de Março de 1935 enviou uma última carta a Romain Rolland. E vinte e seis dias depois, a 16 de Abril, morreu. Enterraram-no em Bucareste, no cemitério de Bellu, mas sem serviços religiosos: Para quê? — Se ele era «um comunista»?

Panait Istrati conviveu com Codine cerca de cinco anos, desde 1891 a 1896, ou seja, desde os seus sete aos doze anos de idade. E a passagem a literatura desta apaixonada admiração põe-nos perante um estranho, incómodo e radical conceito de amizade.

Nas histórias de Adrien Zograffi, a amizade tem um papel importante; é o mais profundo dos sentimentos, aquele que ultrapassa todos os outros, incluindo o do amor sensual. Deste amor sensual há a mais explícita das confissões quando escreve em Narrantsoula: Amo no homem o que ele transporta consigo desde que nasce, o amor-amizade. Amo a mulher quando o seu sangue está abrasado pela paixão carnal. Entrego-me a eles sem condições, com frenesi. Isto custa caro, mas as decepções que sofri nunca me decepcionaram, nunca diminuem a soma dos meus desejos.

Na sua obra há a história de duas amizades masculinas que se destacam por uma brutal violência de sentimentos.

Apresentação 13
*

Mikhail (da novela Mikhail), que percorre com o seu mistério as ruas de Braila; que faz Adrien sentir-se pela primeira vez a arder com o fogo do Amor que ultrapassa a vida e domina a morte. O Mikhail taciturno e sujo resiste como pode à admiração deste jovem que nada tem a ver com ele; e que ainda é maior, por estranho que isto pareça, por uma imprevisível particularidade: O facto capital que dá o impulso à paixão amigável de Adrien — paixão que bramia no fundo do seu coração — era aquele piolhoso ler francês. Mas Istrati salva Adrien desta dominada indiferença de Mikhail, fazendo-o adoecer. Mikhail, perante a fragilidade física do que quer ser seu amigo, desfaz-se dos seus mistérios e abre-lhe o coração; revela-lhe os seus mais profundos segredos, mas isso fá-lo abandonar Braila. Diz Anca Porumb no seu texto «Panait Istrati — a vagabundagem do coração e o esquecimento das injustiças»: «Panait Istrati escolheu Mikhail para fazer um hino à amizade que se confunde por vezes com o amor, de tal modo forte é o sentimento que o autor experimenta na presença do homem. A vida seria desprovida de sentido com a ausência de um amigo que não fosse metade da nossa alma e do nosso espírito.»

A amizade de Codine é diferente e amplamente partilhada. Codine, transformado num fora-da-lei por um sentimento cheio de violência contra a «injustiça», porque o apontam como exemplo de fealdade física e por ter sido alvo de uma cruel rejeição dos seus pais na infância, encontra em Adrien um apaixonado aprendiz do seu desiludido conhecimento dos maus lados do mundo. Aqueles amigos que Codine escolhe para partilharem o seu elevado conceito de amizade, fazem com ele um pacto de sangue com mortais consequências no caso de violação dos seus exigentes princípios. Ah! Irmãozinho Adrien! O amor do homem é um grande milagre!, diz Codine. Quando recebi o primeiro beijo de amigo, o mundo

Apresentação 14

mudou de cor. E um pouco depois: Até ao terrível dia em que os seus lábios, os lábios que eu beijava à frente de todos os amigos, me chamaram «focinho de macaco»! Pela primeira vez na vida chorei. E ainda: Mete lá isto na cabeça, Adrien, para mais tarde te lembrares, os homens não conseguem amar, os homens não sabem julgar!

Adrien procura, em vão, abrandar o lado de animal selvagem que encontra no seu amigo. E Codine chega ao seu fim trágico, preparado com insuperável crueldade por um ódio materno que ignorava, como ele, os mais básicos sentimentos humanos. A mãe Anastasie tinha-se agachado na prispa, perto do cadáver do seu filho e com uma vela de cinco cêntimos na mão. Contemplava-o. A chama da vela vacilava ao vento.

Apresentação 15
A.F.

Antes de morarmos neste pátio habitámos durante vários anos, na época mais consciente da minha infância, no bairro da Comorofca a duzentos passos daqui. É assim, o género da minha mãe: sai de um lugar, mal sente que as intrigas vão arrastá-la no seu turbilhão. E embora só tenhamos vivido nestes últimos dez anos em dois bairros, quando eu era pequeno chegávamos a mudar-nos duas, três vezes por ano: para São Jorge e para São

Demétrio, na Primavera e no Outono. Precisarei de dizer-vos que riqueza de emoções estas mudanças de bairro tinham para mim? Nem a Páscoa nem o Natal eram aos meus olhos acontecimentos tão importantes. Conheci deste modo os bairros, os ulitza mais característicos da nossa cidade: o russo, o judeu, o grego e o cigano. Fiquei em todo o lado a par de costumes e hábitos novos. Mas ao anunciar-me o festim de uma mudança, para ela sempre triste, depois de ter passado por aquilo que o diabo não quer, a minha mãe dizia-me: «As nações rezam de muitas maneiras a Deus, mas todas o ofendem de uma forma idêntica.»

Cada mudança de domicílio custava à mamã três dias de trabalho, o que lhe era doloroso — sem falarmos da fadiga, dos objectos quebrados e de outros dissabores. Algumas semanas antes de terminar o arrendamento, ia como uma leoa bater os arredores, com o nariz levantado para localizar o enigmático

anúncio com duas palavras, «para alugar», para ela tão claras como a qualquer pessoa que soubesse ler. Saía de casa de manhã cedo e regressava ao cair da noite, mas não me lembro de ter alguma vez voltado sem encontrar o pretendido alojamento e deixado um sinal. Depois, na véspera da mudança havia o dia duro da limpeza dos dois quartos que o anterior inquilino abandonava quase sempre num lamentável estado de sujidade. Lavava com água quente as madeiras, expulsava os percevejos, arrancava incontáveis pregos, tapava — com sabão, enxofre e uma massa venenosa — todas as fendas das paredes e os buracos dos ratos, dava duas demãos de cal branca na parede e revestia o chão com greda amarela misturada com lama; porque a minha mãe desconfiava dos soalhos que escondem ninhos de percevejos. Com o dia finalmente terminado, havia a divertida viagem atrás da carroça que transportava a bagagem, a altura em que a mamã levava com o maior dos cuidados os nossos dois bonitos candeeiros a petróleo e eu o despertador, os únicos objectos que ela não queria embalar desde a mais desastrosa destas mudanças (para mim memorável), quando encontrou os seus candeeiros em pedaços e o despertador estragado.

Panait Istrati 18

Eu tinha doze anos; fizemos a instalação da nossa nova morada num dia chuvoso do fim de Abril. À noite, muito tarde, com todos os móveis postos mais ou menos no seu lugar, a minha mãe deixou-se cair esfalfada na beira da sua cama, na divisão que também servia de cozinha, e disse-me:

— Pronto, meu filho! Está feito… Descemos um grau na escala… Cá estamos nós na Comorofca, no bairro dos subúrbios com pior fama. Que Deus nos proteja contra os malfeitores! Mas tive de vir para aqui, para economizar na renda dois francos por mês. Isso dá vinte e quatro francos por ano, o preço de uma roupa para ti… Trata de teres juízo, meu filho, como até agora tens tido… Neste bairro as pessoas são ferozes, e não devemos misturar-nos com elas; os homens matam, os miúdos partem uns aos outros a cabeça e arrancam-lhes a pouca roupa que trazem no corpo. Não me dês o desgosto de tomar parte nas suas brincadeiras e nas suas querelas; eu até morreria de dor. A mamã estava nessa altura com pouco dinheiro. Depois de um resfriamento apanhado no Inverno anterior, uma doença tinha-a metido na cama durante mais de um mês e feito gastar todas as suas economias. E além disto outra coisa, porque um mal nunca vem só; depois de curada, tinha encontrado uma parte «das suas casas» tomadas por outras lavadeiras. Ficara durante uma semana por mês sem trabalho, o que significava

para nós muitas privações; porque a minha mãe nunca quis endividar-se no merceeiro nem pedir de empréstimo «carradas de lenha» ou essa «farinha de trigo peneirada» que as pessoas se esquecem sempre de devolver. Fazia ao mesmo tempo questão de me trazer com roupa limpa e nunca me deixar andar descalço. Apesar de estarmos com «o saco às costas», como costuma dizer-se, arranjava forma de encontrar sempre um senhorio que a aceitasse com o seu filho «nada turbulento» e as suas seis galinhas boas poedeiras, «que ela mantinha fechadas»; porque se exceptuarmos o seu filho, todas as alegrias da vida eram para a minha mãe as galinhas e os pintos que alimentava com os restos de pão trazidos das suas «casas», e ainda as numerosas flores em vaso cuidadas de manhã e à noite, mantendo com elas longas conversas, elogiando-as pela sua beleza ou fazendo-lhes perguntas sobre as causas da sua inexplicável tristeza.

Uma vez por mês o tio Dimi — e de seis em seis meses o tio Anghel — vinham visitar-nos e trazer-nos o que tinham: alguma lenha, farinha de milho, feijão, abóboras ou batatas, vinho e aguardente. Mais rico, o tio Anghel perguntava à mamã se precisava de dinheiro e recebia sempre a mesma resposta: — Irmão, graças a Deus não preciso; quando o trabalhador está de boa saúde, não lhe falta o que é necessário.

Era esta a nossa situação quando chegámos à Comorofca; mas o estado da Comorofca ainda ficava muito abaixo do nosso.

Panait Istrati 20

Nestes últimos dez anos, o bairro mudou um pouco de aspecto. Nesse tempo era a aglomeração de casas mais miserável da cidade, e ao mesmo tempo o único subúrbio onde a polícia nunca se atrevia durante a noite a entrar. Eu nada sabia a este respeito, mas logo no dia em que chegámos fiquei a sabê-lo.

Quer a vizinha da direita, amiga de infância da minha mãe e proprietária da casa onde vivia, quer a honrada viúva que acabara de alugar-nos dois quartos, vieram dar-nos uma ajuda; fizeram connosco as refeições e disseram tudo o que era preciso para eu ficar ao corrente da vida atroz que nos rodeava. Queixavam-se à minha mãe:

— Pobre Zoitza, que pena teres chegado a este ponto!…

É verdade que não tens nenhuma filha em idade de amores, e nenhum rapaz para disputar à facada as apaixonadas do bairro com todos estes valdevinos! Mas é realmente um triste meio para educar uma criança, mesmo que seja bem comportada como a tua… Imagina, minha cara, que estes gandulos têm orgulho em seguir as pisadas dos pais: aos treze anos fumam, roubam no porto, embebedam-se, «desfloram» as miúdas e brincam com facas!

Ao longo deste dia não parara de descrever o bairro; e a minha mãe, muito pudica, estava sempre de sobrancelhas franzidas,

a tocar nas suas amigas com o cotovelo e o pé para fazê-las calar-se, com muito medo de que eu ouvisse coisas «impróprias para ouvidos de crianças».

O que me fez abrir as orelhas e ficar curioso foi começarem, durante o chá da noite, a falar a meia voz dos nossos vizinhos da esquerda. Eu estava mal situado para as ouvir, e não queria desagradar à minha mãe mostrando-me indiscreto. As duas boas mulheres franziam os olhos e faziam expressões cadavéricas, mordiam os lábios, profetizavam desgraças e abanavam a cabeça. As palavras «mãe Anastasie», «Codine», «pobre mulher», «magarefe», apareciam constantemente e em voz baixa nas frases. Compreendi que um maldoso homem, chamado Codine, acabava de sair da prisão; que este homem devastava todo o bairro, procurava armar zaragatas com uns e outros, dava facadas.

Nessa noite deitei-me cheio de terror; durante muito tempo não consegui adormecer. Das paredes do novo quarto soltava-se um bom cheiro a cal; mas do chão — untado com bosta de vaca e uma grande quantidade de excremento de cavalo — subia uma exalação fétida que me dava náuseas.

Os primeiros dias na Comorofca nada me trouxeram de especial.

Eu ia à escola; como era longe, fazia as refeições na aula com as crianças pobres que moravam nos subúrbios como eu. Mas no domingo seguinte saí, para tomar conhecimento do que tinha à volta, e aos meus olhos um mundo novo se revelou.

A praça da Comorofca tinha o aspecto de um vasto terreno oval, em anfiteatro, e com duas entradas nas extremidades:

Panait Istrati 22

uma dava para o matadouro — pouco frequentada — a outra para a caserna da cavalaria, mas também se ia dar através dela à cidade e ao porto. A praça tinha pelo menos dois hectares de superfície e a toda a sua volta pequenas casas que se alinhavam em desordem, com fachadas pinceladas a cal branca ou amarela, salpicadas de lama; com as duas janelas pintadas a azul marinho ou a verde berrante; com os quintais devassados, de portas e paliçadas vacilantes. Tinha ao meio qualquer coisa a que só poderia chamar-se um verdadeiro amontoado de imundícies domésticas, montes de sujidades, buracos e pequenos charcos de água verde onde jaziam cadáveres de gatos, cães, galinhas e leitões que porcos gordos e esfomeados vinham devorar, a patinharem nos charcos e a investigarem-nos com o focinho.

Ah! Aquilo nenhum prazer me dava! A nossa casa ficava na extremidade do oval que dava para a caserna da cidade. Quase à frente das nossas janelas, do lado oposto ao grande redondo que servia de terreno de exercício à cavalaria ficava o famoso café da viúva Angeline, que o terrível Codine tinha tornado célebre e foi fechado pela polícia depois do seu segundo e derradeiro crime. Ao som de um realejo que berrava lamentosamente uma canção na moda, jovens bebiam, gritavam e dançavam; e à frente do café rapazes de todas as idades, que uma camisa limpa endomingava, fumavam cigarros e mastigavam sementes de girassol — a invejarem os que podiam dançar e embriagar-se.

Já se estava na parte da tarde. O sol, que eu até ali conhecia como amigo generoso, levantava miasmas pestilenciais que subiam sobretudo dos montes de chucrute podre, desde o início da Primavera atirados às vasilhas cheias para a rua. Os meus desagra-

Codine 23

dados olhos procuraram no lado do matadouro o espaço de verdura que ao longe se desenhava, e para esse espaço salvador me encaminhei.

À frente de cada porta, as mulheres agachavam-se na estrada de mau piso a tagarelar, a mastigar sementes que as vendedoras eslovacas lhes despejavam na concavidade do avental. Olhavam para mim de uma forma incomodativa, como se eu fosse a novidade do dia; e tinham realmente razão; eu era o único garoto bem vestido, calçado com botinas e com um colarinho postiço. Dezenas de miúdos corriam como possessos no terreno baldio a brincarem sem chapéu, descalços, esfarrapados, sujos, magricelas e cheios de maldade. Corei até às orelhas ao ver pela primeira vez órgãos genitais que alguns deixavam sair dos andrajos.

Mal ficaram para trás as últimas casas do bairro, um forte ar primaveril prematuramente quente envolveu-me com o seu cheiro de campo húmido. Erguiam-se por todo o lado ervas daninhas alegres e luxuriantes. E distingui então um largo fosso entre mim e o matadouro, vestígio das antigas fortificações de Braila, onde o caminho-de-ferro passava no meio de duas pendentes de ervas riscadas por carreiros.

Esqueci-me nesse mesmo instante da minha aversão ao bairro; e a correr por um dos caminhos abri os braços e jovialmente gritei: «Que bonito!»

Nessa altura também ouvi atrás de mim um assobio. Voltei-me. Um homem deitado numa reentrância do terreno fazia-me um sinal para eu me aproximar. Fui ter com ele. Era um suburbano que andava pelos trinta, muito cuidadosa ou mesmo luxuosamente endomingado, diria eu, com um luxo barroco e popular.

Panait Istrati 24

Com uma constituição atlética e de imponente aspecto, o homem continuava apoiado num cotovelo e fazia-me um sorriso amável. O seu rosto, que era deformado por músculos muito salientes, tinha em muitos pontos vestígios de golpes de navalha ainda sangrentos e com pensos feitos de pequenos pedaços de papel de mortalha. O bigode era negro e muito retorcido; os cabelos estavam engordurados com um óleo perfumado e desajeitadamente penteados. Em mangas de camisa com o casaco atirado para a erva, mostrava a glória de um peitilho, punhos às riscas amarelas e brancas, e ainda um colete e sapatos bordados à mão com lã de várias cores. Na parte de baixo do torso hercúleo tinha enrolado com várias voltas um cinto de lã branca que escondia mal uma grande faca embainhada. Ao pé dele, o chapéu novo e um terrível bordão nodoso de uma madeira de cornisolo queimada. Se não fossem os olhos naturalmente ferozes e a estatura de brigão, eu teria à minha frente um desses trabalhadores do porto a que se dá o nome de «vagoneiros», grandes bebedores e bravios apaixonados dos dias de festa. Não sei porquê, apesar da minha aversão a essa pavorosa vida, menos medo esses homens me faziam do que o garoto bom atirador de pedras — e sentia-me atraído pelo mistério da sua vida atormentada, mesmo que não me tivesse atrevido até esses dias a aproximar-me deles.

Dirigi-me cheio de coragem para o homem que me chamava, e tirei o chapéu.

— Diz lá, miúdo — perguntou sem se levantar — serás tão amável que me leves um bilhete à casa que ali vês?

E mostrou-ma, sem esperar a minha resposta.

— Ali à esquerda, a terceira depois da esquina; perguntas pela Irene e vais esperar que ela leia e responda sim ou não. Só isto. Vai lá, meu caro, vai depressa!…

Codine 25

Corri com prazer. No pátio da casa indicada apareceu a um pedido meu uma rapariga com trajo domingueiro, e muito bela mas com olhos chorosos e um mau olhar cheio de astúcia. Leu tudo com rapidez. E já estava de costas voltadas quando respondeu:

— Vou ver… não sei… diz-lhe que não sei. Levei comigo a resposta. O homem mordeu o lábio e rangeu os dentes, ao mesmo tempo que inchava de feia forma os músculos da face. Mas não tardou que um sorriso de bom carrasco lhe cintilasse no rosto e em voz baixa dissesse:

— Espera, para eu te dar um soldo!…

Tirou do bolso uma destas bolsas em talagarça, com pérolas falsas e franjas, que os prisioneiros fabricam nas prisões centrais; ofereceu-me uma moeda de cobre. Eu disse-lhe:

— Obrigado, senhor; não aceito… Muito espantado, deixou a mão cair.

— Não aceitas? Porquê?

— Porque a minha mãe diz-me que não devemos aceitar nada quando prestamos um serviço…

— Ai sim? Não está mal…

Sentou-se.

— Diz-me lá tu, meu rapaz, não andas por acaso extraviado na Comorofca?… Quem é a tua mãe? Onde é que vocês moram?… E que nome tens?…

Senti vontade de rir-me perante a expressão intrigada e a catadupa de perguntas. Não tive hesitações em informá-lo. Quando pronunciei o nome da senhoria, bateu com a mão pesada na erva e exclamou:

— Santo Deus! Somos vizinhos. Chamo-me Codine. Já ouviste falar do Codine?

Panait Istrati 26

LIVROS SISTEMA SOLAR

Os génios, seguido de Exemplos, Victor Hugo

O senhor de Bougrelon, Jean Lorrain

No sentido da noite, Jean Genet

Com os loucos, Albert Londres

Os manuscritos de Aspern (versão de 1888), Henry James

O romance de Tristão e Isolda, Joseph Bédier

A freira no subterrâneo, com o português de Camilo Castelo Branco

Paul Cézanne, Élie Faure, seguido de O que ele me disse…, Joachim Gasquet

David Golder, Irene Nemirowsky

As lágrimas de Eros, George Bataille

As lojas de canela, Bruno Schulz

O mentiroso, Henry James

As mamas de Tirésias – drama surrealista em dois actos e um prólogo, Guillaume Apollinaire

Amor de perdição, Camilo Castelo Branco

Judeus errantes, Joseph Roth

A mulher que fugiu a cavalo, D.H. Lawrence

Porgy e Bess, DuBose Heyward

O aperto do parafuso, Henry James

Bruges-a-Morta – romance, Georges Rodenbach

Billy Budd, marinheiro (uma narrativa no interior), Herman Melville

Histórias da areia, Isabelle Eberhardt

O Lazarilho de Tormes, anónimo do século XVI e H. de Luna

Autobiografia, Thomas Bernhard

Bubu de Montparnasse, Charles-Louis Philippe

Greco ou O segredo de Toledo, Maurice Barrès

Cinco histórias de luz e sombra, Edith Wharton

Dicionário filosófico, Voltaire

A Papisa Joana – segundo o texto de Alfred Jarry, Emmanuel Rhoides

Bom Crioulo, Adolfo Caminha

O meu corpo e eu, René Crevel

Manon Lescaut, Padre Prévost

O duelo, Joseph Conrad

A felicidade dos tristes, Luc Dietrich

Inferno, August Strindberg

Um milhão conta redonda ou Lemuel Pitkin a desmantelar-se, Nathanael West

Freya das sete ilhas, Joseph Conrad

O nascimento da arte, Georges Bataille

Os ombros da marquesa, Émile Zola

O livro branco, Jean Cocteau

Verdes moradas, W.H. Hudson

A guerra do fogo, J.-H. Rosny Aîné

Hamlet-Rei (Luís II da Baviera), Guy de Pourtalès

Messalina, Alfred Jarry

O capitão Veneno, Pedro Antonio Alarcón

Dona Guidinha do Poço, Manoel de Oliveira Paiva

Visão invisível, Jean Cocteau

A liberdade ou o amor, Robert Desnos

A maçã de Cézanne… e eu, D.H. Lawrence

O fogo-fátuo, Drieu la Rochelle

Memórias íntimas e confissões de um pecador justificado, James Hogg

Histórias aquáticas – O parceiro secreto, A laguna, Mocidade, Joseph Conrad

O homem que falou (Un de Baumugnes), Jean Giono

O dicionário do diabo, Ambrose Bierce

A viúva do enforcado, Camilo Castelo Branco

O caso Kurílov, Irène Némirowsky

Nova Safo – tragédia estranha, Visconde de Vila-Moura

A costa de Falesá, Robert Louis Stevenson

Gaspar da Noite – fantasias à maneira de Rembrandt e Callot, Aloysius Bertrand

Rimbaud-Verlaine, o estranho casal

O rato da América, Jacques Lanzmann

As amantes de Dom João V, Alberto Pimentel

Os cavalos de Abdera e mais forças estranhas, Leopoldo Lugones

Preceptores – Gabrielle de Bergerac seguido de O discípulo, Henry James

O Cântico dos Cânticos – traduzido do hebreu com um estudo sobre o plano a idade e o carácter do poema, Ernest Renan

Derborence, Charles Ferdinand Ramuz

O farol de amor, Rachilde

Diário de um fuzilado, precedido de Palavras de um fumador de ópio, Jules Boissière

A minha vida, Isadora Duncan

Rakhil, Isabelle Eberhardt

Fuga sem fim, Joseph Roth

O castelo do homem ancorado, Joris-Karl Huysmans

Tufão, Joseph Conrad

Heliogábalo ou o anarquista coroado, Antonin Artaud

Van Gogh o suicidado da sociedade, Antonin Artaud

Eu, Antonin Artaud

A morte difícil, René Crevel

A lenda do santo bebedor seguido de O Leviatã, Joseph Roth

O Chancellor (Diário do passageiro J.R. Kazallon), Jules Verne

Orunoko ou o escravo real (uma história verídica), Aphra Behn

As Portas do Paraíso, Jerzy Andrzejewski

Tirano Banderas (novela de Terra Quente), Ramón del Valle-Inclán

Cáustico Lunar seguido de Ghostkeeper, Malcolm Lowry

Balkis (A lenda num café), Gérard de Nerval

Diálogos das carmelitas, Georges Bernanos

O estranho animal do Vaccarès, Joseph d’Arbaud

Riso vermelho – fragmentos encontrados de um manuscrito, Leonid Andreiev

A morte da terra, J.-H. Rosny Aîné

Nossa Senhora dos Ratos, Rachilde

O colóquio dos cães incluído no Casamento enganoso, Miguel de Cervantes

Entre a espada e a parede, Tristan Bernard

A vida de Rembrandt (história a ir para onde lhe dá), Kees van Dongen

Os meus Oscar Wilde, André Gide

As aventuras de uma negrinha à procura de Deus, George Bernard Shaw

Meu irmão feminino – «Noites Florentinas», Marina Tsvietaieva

Jean-Luc perseguido, Charles Ferdinand Ramuz

O filho de duas mães, Edith Wharton

A armadilha, Emmanuel Bove

Um jardim na margem do Orontes, Maurice Barrès

Erotika Biblion, Conde de Mirabeau

A minha amiga Nane, Paul-Jean Toulet

Paludes, André Gide

O bar dos dois caminhos, Gilbert de Voisins

Sol, D.H. Lawrence

Cagliostro, Vicente Huidobro

As magias do Ceilão, Francis de Croisset

Má sorte que ela fosse puta, John Ford

Chita – uma memória da Ilha do Fim, Lafcadio Hearn

A mulher 100 cabeças, Max Ernst

A dificuldade de ser, Jean Cocteau

O duplo Rimbaud (com um preâmbulo de Benjamin Fondane), Victor Segalen

A vida apaixonada da grande Catarina, Princesa Lucien Murat

Casa de incesto, Anaïs Nin

Morte de Judas seguido de O ponto de vista de Pôncio Pilatos, Paul Claudel

Os domingos de Jean Dézert seguido de contos, Jean de la Ville de Mirmont

Ser ou não ser – Três histórias, Honoré de Balzac

Babilónia, René Crevel

O encontro (uma história incerta), Henri de Régnier

Carmilla, Sheridan Le Fanu

Mulheres na vida, Guy de Maupassant

O plantador de Malata, Joseph Conrad

A mandrágora, Jean Lorrain

A biografia de Vénus, deusa do amor, Francis de Miomandre

Viagem ao país dos Tarahumaras, Antonin Artaud

O nevoeiro de 26 de Outubro e outras lições de abismo, Maurice Renard

Salomé, Salomés…, Gustave Flaubert, Oscar Wilde, Guillaume Apollinaire

e ainda Mário de Sá-Carneiro, Eugénio de Castro, Fernando Pessoa

Battling Malone, pugilista, Louis Hémon

Kyra Kyralina, Panait Istrati

Codine, Panait Istrati

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.