«Da Fábrica Que Desvanece à Baía do Tejo»

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a n t รณ n i o B o L o ta d a L i L a g o n รง a Lv e s martinha maia projecto teatraL ricardo jacinto VA L T E R V E N T U R A


A n tĂł n i o B O L O TA

Sem tĂ­tulo colagem / collage


DA L I L A G O N ร A LV E S

Aluir Barro e รกgua / clay and water. processo de reciclagem / recycling process


M ARTINHA M AIA

Sem tĂ­tulo grafite sobre papel / graphite on paper


r i c a r d o jac i n to

ii solo para violoncelo, eletrónica e objetos ressonantes / solo for cello, electronics and resonant objects

entrAdA ciclo 1 ciclo 2 ciclo 3 ciclo 4 ciclo 5 SAídA duração / duration: 33'36''

cd no final do livro cD at the end of the book

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VA LT E R V E N T U R A

resquício – seis partes para transporte remnant – six parts for transport


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D A F Á B R I C A Q U E D E S VA N E C E À BAÍA DO TEJO c l áu D i a r a M o s

dificilmente o que habita perto da origem abandona o lugar. a migração iv, 167. Friedrich Hölderlin

da fábrica que desvanece à baía do tejo é um rizoma, um projeto que abarca diferentes camadas e que se desenhou sobre a forma de uma residência artística, uma exposição e um projeto editorial. A nomeação desta estrutura rizomática alude a Francisco de Holanda, que publicou em 1571 da Fábrica que Falece à cidade de Lisboa, um tratado de urbanismo que pensa a malha urbana e tece propostas de ordenamento do território. Aqui, interessa-nos esse mesmo movimento, o de delimitar um campo de ação e de confluência traçando sobre o mesmo novas proposições, privilegiando os processos de criação e de investigação para a produção de novos discursos e de pensamento. Ao mesmo tempo, da fábrica que desvanece à baía do tejo foi também o mote lançado aos artistas convidados a intervir no território da antiga cUF, companhia União Fabril, atual Baía do tejo. António Bolota, dalila Gonçalves, Martinha Maia, Projecto teatral, ricardo Jacinto e Valter Ventura estiveram em residência artística ao longo de três meses, produzindo obra e criando um discurso pautado por diferentes modos de estar, pensar e agir. esta residência contou com um atelier comunitário no bairro dos operários e com um campo de investigação que se articulou entre o Museu industrial da Baía do tejo, o centro de documentação e o território. o resultado foi revelado numa exposição, compreendida entre 13 de setembro e 11 de outubro de 2014. A exposição trouxe à luz do dia um lugar de ensaio, um desenho sobre o antigo território industrial que relaciona a paisagem e a prática artística. editou-se um mapa com textos e instruções e convidou-se o espectador a caminhar num espaço que habitualmente está encerrado ao público. Aqui, o espectador é participante, sendo lançado a um enigma sob o qual deverá procurar o seu sentido. o ponto de partida foi o Museu industrial da Baía do tejo para que existisse uma contextualização histórica sobre o lugar, a que se iria aceder, depois dava-se início ao percurso propriamente dito, um percurso que convocava a ideia de caminho e de pensamento. Um percurso que propôs investigar, desocultar, relacionar, desenhando-se por entre instalações, peças sonoras, 40


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fotografia, vídeo, desenho, escultura e paisagem. Assim, um espaço vazio torna-se um espaço de cena, um lugar de habitar. Um lugar a partir do qual se criam imagens é, por assim dizer, um lugar de origem. origem enquanto proveniência histórica, mas também enquanto condição de possibilidade, e aqui a palavra imagem surge vinculada com a palavra aparição, numa quase alusão à doutrina platónica. A presente publicação é o último capítulo deste projeto, não só assume a importante missão de documentar aquilo que fora a instalação compósita na Baía do tejo, como potencia o encontro entre artistas e autores resultando em mais um espaço de discurso, e configurando-se, também, como um espaço de criação, apresentando cinco novos trabalhos, em diálogo com o lugar, com os quais iniciamos o caminho neste fólio. Agora que publicamos orgulhosamente o registo do projeto da fábrica que desvanece à baía do tejo, gostaria de expressar o meu agradecimento à Baía do tejo por acolher e apoiar este projeto, em especial ao Administrador Sérgio Saraiva, que foi incansável ao longo das várias jornadas, agradecer à câmara Municipal do Barreiro na pessoa da Vereadora da cultura regina Janeiro, à Fundação calouste Gulbenkian na pessoa da diretora isabel carlos, à Galeria Via idea na pessoa da dr.ª Ana lourenço, à documenta na pessoa do editor Manuel rosa, à Associação cultural osso, um especial agradecimento à Sara Antónia Matos, bem como aos artistas, autores e toda a equipa que tornou possível a realização deste projeto.

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Da Fá b r i c a qAuNeTÓ D eNs Iva O nBeOcLeOàTAb a í a D o T e j o

Sem título tijolo, areia, cimento, cal e gesso / brick, 4 7 sand, cement, whitewash and plaster


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Da l i l a G o n Ç a lv e s

luz enquadrada visor 55 2


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DALILA GONçALVES

o eLogio da matéria l u í s a s a n To s

da fábrica que desvanece à baía do tejo foi uma residência artística determinada pelas especificidades do território da antiga companhia União Fabril, atual Baía do tejo, na cidade do Barreiro, em 2014. neste território, dalila Gonçalves desenvolveu um conjunto de trabalhos site-specific. na verdade, poder-se-ia dizer que todo o trabalho de dalila Gonçalves compõe-se das especificidades que determinam os espaços. não se trata tanto de pensar as histórias dos lugares nas suas qualidades de memórias e de narrativas múltiplas mas mais de dar voz ao que, regra geral, permanece em silêncio – a matéria. A metodologia de dalila Gonçalves reside em entender a matéria de cada lugar e elevá-la de um modo que ilumina o invisível e dá voz ao silêncio da memória. esse é o caso dos visores azuis de Luz enquadrada. A um primeiro olhar, poderíamos pensar estar perante projeções digitais, reproduções de imagens de um outro lugar. numa visita ao espaço, a artista reparou nos raios de luz que entravam azuis, através das chapas onduladas transparentes que cobriam o grande pavilhão. numa das salas, decidiu então fechar quase toda a janela que a ligava ao pavilhão, pintar a sala de preto com exceção de um retângulo branco que adotava os tons de azul que a fresta da janela permitia entrar. este ecrã é, assim, uma armadilha: estamos, na verdade, perante uma projeção da luz do dia, ou um filme em tempo real. nos restantes três visores de Luz enquadrada somos quase transportados para o interior de um submarino com as três tampas redondas retiradas de contentores abandonados no exterior e justapostas às janelas. numa espécie de visor para o exterior, convidam a ver, como um miradouro, uma vista para o tejo. enquanto originalmente estas tampas protegiam contentores com os materiais do funcionamento da fábrica, na sua nova vida abrem-se para o exterior da fábrica, também num ato de vigilância. também nos outros trabalhos deste projeto, a matéria disponível no espaço é a protagonista: os arquivos de sombra são documentos recolhidos nas ruínas da fábrica; o empedrar é um conjunto de pastas arquivadoras cujas páginas, expostas aos materiais tóxicos da fábrica, ficaram com uma aparência de pedra. em ambos, ao contrário de na Luz enquadrada, a luz da montagem é artificial e o simbolismo da memória ganha à forma na luta pelo protagonismo. em ambos, não conseguimos 62


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Da Fá b r i c a q u va c ea iàa b a í a D o T e j o MeaD re T si n hn aeM

cinZA de FeS2 ii cinza de pirite sobre parede e chão / pyrite ash on wall and floor dimensões variáveis6/7variable dimensions


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MARTINHA MAIA

Breve história do pó, cinzas e outros nadas M a r i a D o M a r Fa z e n Da

não estive nos espaços ocupados pelos desenhos feitos a pó e cinza, como os descreveu a Martinha Maia. escrever estas notas a partir da documentação fotográfica do lugar, do fazer da obra e do resultado seria insuficiente caso não lhe fosse acrescida a experiência que guardo não apenas de outros trabalhos seus, mas sobretudo de ter convivido e observado o seu processo de trabalho: quando, por uns dias, acompanhei a transformação de um estaleiro (ou a galeria feita atelier) em espaço (a obra de arte, a exposição). Seguem-se reminiscências e outras linhas de fuga em torno da ocupação do espaço com (quase) nada. a Fábrica de nada é uma peça de teatro escrita por Judith Herzberg em 1997, a partir da qual Pedro Pinho realizou um filme, rodado ao longo de vários anos em algumas das fábricas desativadas na periferia de lisboa, que foi finalmente concluído em 2014: é declarada a falência de uma fábrica; os trabalhadores recusam-se a abandonar a sua atividade; reinventam-se gestos e modos de produção. tudo o que era sólido e estável dissolve-se no ar… a famosa passagem do Manifesto do Partido comunista escrito por Marx e engels em 1848 indica a inevitável substituição de uma ordem por outra – o desejo de transformação do mundo. Manuel Mozos, em ruínas (2009), filma uma sequência de planos quase sempre fixos ou com movimentos de câmara diminutos e demorados sobre uma série de edifícios esvaziados, desertificados, obsoletos; a um dado momento, um plano rompe com este olhar silencioso sobre espaços silenciados; na parede do antigo refeitório de uma fábrica lê-se: ousar saBer amar. os contistas não imaginaram que a Bela adormecida acordaria coberta por uma espessa camada de poeira… assim começa a definição de «poeira» no dicionário crítico reunido na revista documents editada entre 1929 e 1930, em que, entre outros, Georges Bataille atribuiu às palavras novos significados, re-narrativizando e profanando certas premissas morais. élevage de poussière é o título de uma fotografia datada de 1920 com a dupla (e conflituosa) assinatura de Man ray e Marcel duchamp. Após uma série de visitas ao atelier de duchamp, ray repara no acumular (cultivo) de pó sobre uma superfície, e um dia fotografa-a. Quem desprevenidamente vê esta imagem procura, sem sucesso, uma referência da escala do que pensa ser uma paisa72


p R Oj E c TO T E AT R A L

empédocles

por / by Gonçalo Ferreira de Almeida, Helena tavares, João rodrigues, Maria duarte e / and André Maranha

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p R Oj E c TO T E AT R A L

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p R Oj E c TO T E AT R A L

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R I c A R D O jAc I N TO

explodido (Partes escolhidas / Selected Parts #2) concerto/instalação para violoncelo, objetos e eletrónica concert/installation for cello, 8 7 objects and electronics


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RICARDO JACINTO

eXpLodido s a r a a n Tó n i a M aTo s

explodido de ricardo Jacinto é uma peça que conjuga as vertentes plástica, sonora e performativa, cujo artista concebeu especificamente para o projecto da fábrica que desvanece à baía do tejo, da curadora cláudia ramos. este programa desafiou cada artista a debruçar-se sobre o território da antiga companhia União Fabril, actual Baía do tejo, na cidade do Barreiro, e a nele intervir reactivando memórias com o sentido de prospectivar um outro olhar e entendimento do lugar. A obra assume a forma de um concerto-instalação, devendo considerar-se que a vertente plástica, intrinsecamente ligada à vertente sonora e ao espaço, não é acessória do som produzido. na intervenção, o artista transforma literalmente o espaço numa «arquitectura electroacústica», convertendo o espaço num dispositivo sonoro, dito de modo mais prosaico, numa «caixa de som» onde o espectador pode entrar e ver o interior a funcionar. o artista serviu-se de uma escada em aço, proveniente de uma das unidades fabris do complexo, abandonada e devoluta à data da intervenção, convertendo a estrutura de aço numa extensão do seu violoncelo. Para isso, fragmentou a estrutura da escada, cortando-a em três lances, que foram depositados noutro hangar do complexo fabril onde o concerto aconteceu. Para que as estruturas de ferro se transformassem em extensões do violoncelo, emissores e receptores de som-vibrações, o artista acoplou-lhes altifalantes de contacto, por sua vez ligados, como vasos comunicantes, ao sistema de amplificação que recebia sinal dos vários microfones distribuídos pelo corpo do violoncelo. de algum modo melancólico, o som das estruturas – como se estas fossem as últimas habitantes do lugar – remete para o abandono, fazendo ressoar e ecoar um som longínquo que parece provir, rugir, de tempos recuados. Para este artista, a reinvenção do espaço parece estar permanentemente ligada a uma necessidade da experiência de abismo, da perda de referências, da colocação do corpo na ausência de coordenadas espaciais e temporais. É importante relembrar que o artista, formado em arquitectura e músico, tem vindo a construir um percurso em que as diferentes formas da espacialidade se cruzam alargando categorias, por vezes operando uma conversão entre os registos visuais, sonoros e espaciais, e em que o corpo – o seu enquanto performer do instrumento e o do espectador 90


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Da Fá b r i c a q u e lT D e srva cu e ràab a í a D o T e j o va v enne T

Promessa / Promise painel de imagens de arquivo do museu industrial da Baía do tejo / panel of images from the industrial museum of Baía do tejo's archive, Barreiro, impressão lazer / laser printing, dimensões variáveis / variable dimensions 95



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VA LT E R V E N T U RA

proBLemas de memória celso M arTins

operar como artista num espaço físico como aquele onde outrora se sediou a cidade industrial que o grupo cUF construiu no Barreiro é, inevitavelmente, colocarmo-nos diante de um território cujas muitas camadas temporais sedimentam a nossa história, as suas configurações económicas e sociais e na presença de um conjunto de convicções que determinaram sobremaneira a face do Portugal pré-revolucionário. esse é, em última análise, um encontro com a memória, no caso, com a memória industrial portuguesa cuja ausência de preservação parece corresponder a uma espécie de recalcamento coletivo. no contexto da metodologia artística de Valter Ventura, a memória é sempre o início e o fim, o lugar de permanência que só é efetivo se for palco de um ato transformador da perceção. Há outro denominador comum nas várias intervenções que o artista realizou no lugar. essas operações resgatam condições das práticas industriais ligadas à vocação do complexo, que são simultaneamente estruturais e invisíveis. na ausência das pessoas, já desaparecidas ou definitivamente apartadas por uma funcionalidade e uma produção que se extinguiram, ficam os materiais, os despojos. A imagética de Valter Ventura é completamente alheia à estética da ruína. Para ele, esse é, sobretudo, um índice informativo, e neste caso, um conteúdo que está ou ficou oculto ou desfasado do campo da memória partilhada que urge revivificar. Veja-se o caso do ciclo de fotografias resquício. Ventura fotografou segmentos de parede soltos, objetos industriais fragmentados, matérias químicas solidificadas e, em imagens de grandes dimensões, ofereceu-lhes uma presença que traz em si rumores anatómicos, quase táteis, como se aqueles elementos tivessem sido arrancados ao grande corpo fabril de onde, na verdade, saíram. cada destroço é como uma peça de um puzzle que já não veremos inteiro e a sua presença enfática assegura isso mesmo, a imagem de uma perda. Um princípio semelhante ilumina o conjunto de imagens que agora se adicionam às que foram vistas na exposição. As fotografias mostram matérias uniformes e coloridas dentro de frascos como se pertencessem a um qualquer catálogo industrial. Sabemos que foram encontrados no local mas nenhuma legendagem ou classificação nos 106


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Da Fá b r i c a q u e D e s va n e c e à b a í a D o T e j o

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A Baía do tejo tem como missão e responsabilidade a gestão de antigos territórios industriais, atualmente Parques empresariais, promovendo a sua requalificação urbanística e ambiental. estes territórios, pelo seu passado e presente, têm um relevante impacto na morfologia urbana das cidades e possuem uma forte identidade que moldou o perfil social das comunidades que os envolvem. A empresa atua de forma positiva nos territórios onde se insere, procurando adotar uma atitude participativa, cumprindo a sua responsabilidade perante o meio envolvente, apoiando iniciativas que fomentem o desenvolvimento social, cultural e artístico. A Baía do tejo encara as atividades culturais como um importante meio para a promoção da regeneração urbana e para o desenvolvimento dos territórios sob sua gestão, com a criatividade a desempenhar um papel relevante, envolvendo artistas, comunidades locais e investigadores. As intervenções artísticas em meio urbano são catalisadoras de processos de desenvolvimento territorial, potenciando a existência de ambientes criativos e inovadores. os antigos espaços industriais, carregados de simbolismos e significados, não devem permanecer cristalizados no passado, têm de ser encarados como um património disponível para novas funções, emergindo com novas interações com as cidades e as suas comunidades, mas também como um território para ser estudado e reinterpretado. Foi neste âmbito que o projeto da fábrica que desvanece à baía do tejo abraçou a singularidade de um território único em Portugal, o atual Parque empresarial da Baía do tejo no Barreiro. A residência artística desenvolveu um trabalho de reinterpretação sobre este território, em que se abordou a questão do pós-industrial na arte contemporânea. Além do património edificado da empresa, o Museu industrial e o centro de documentação da Baía do tejo disponibilizaram um conjunto de informações que contam a história do que foi o maior complexo socioindustrial português do século XX, permitindo novas leituras por parte dos seis artistas convidados. o projeto permitiu a expressão de diversas disciplinas e práticas artísticas, patente ao público numa exposição que abriu à comunidade espaços que habitualmente se encontram inacessíveis, potenciando a transformação do território numa plataforma de processos artísticos. Proporcionar à comunidade uma experiência transversal no universo das artes, explorando um território singular, criou os alicerces para a construção de um cluster criativo na Baía do tejo. a administração da Baía do tejo, janeiro de 2018 113



ficha técnica

Outros Agradecimentos / Others Acknowledgements Ana Marta Ferreira David Antunes EGEAC Filipa José Francielle Campos Fundação da Juventude Maria Rolo Sofia Soares Tatiana Macedo Umbigo Sistema Solar, Crl. (Documenta), Rua Passos Manuel, 67 B, 1150-258 Lisboa Publicado em março 2018 / Published in March 2018 ISBN 978-989-8902-06-1 Curadoria e Coordenação Editorial / Curatorship and Editorial coordination Cláudia Ramos Textos / Texts Celso Martins, Cláudia Ramos, Luísa Santos, Maria do Mar Fazenda, Sara Antónia Matos, Administração Baía do Tejo S.A. Tradução / Translation Sofia Quintas Fotografia / Photography Jorge Graça, Projecto Teatral (pp. 77 à 85) Design Gráfico / Graphic design Vivóeusébio Revisão / Proofreading Helena Roldão Tiragem / Print run 450 exemplares Depósito legal / Legal depot 437932/18 Impressão / Printing Gráfica Maiadouro, SA www.casinfancia.com Organização / Organization

Mecenas / Patron

Apoios / Support

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dafabrica_06.indd 114

18/02/22 17:24



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