Emmanuel Bove «A Armadilha»

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Emmanuel Bove

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tradução e apresentação

Aníbal Fernandes

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TíTulo originAl: Le PiÈge © SiSTEmA SolAr, Crl (2021) ruA PASSoS mAnuEl, 67B, 1150-258 liSBoA tradução © AníBAl FErnAndES 1.ª EdiÇÃo, ABril 2021 iSBn 978-989-9006-84-3 nA CAPA: FElix nuSSBAum, Medo (1941) rEViSÃo: diogo FErrEirA

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em 1923, o austríaco Adolf Hitler organizou o golpe de estado fracassado que o deixou durante um ano à sombra da prisão em Landsberg e lhe permitiu ditar ao paciente emil Maurice a primeira parte do seu mein Kampf; já livre, esta vocação de literato «ditador» encontrou Rudolf Hess, outro escriba disposto a ouvi-lo e a transcrever a segunda parte do mesmo manifesto. Hitler sentia-se ferido com as más consequências do Tratado de Versalhes, humilhantes para a Alemanha derrotada na Primeira guerra Mundial, a que tinha visto fugir da sua geografia uma parte da Alsácia; a que tinha visto a Bélgica ficar-lhe com eupen e Malmedy, o seu leste germânico ser agora polaco, a Renânia desmilitarizada, o Sarre administrado pela Sociedade das Nações… A naturalidade austríaca de Hitler diluía-se num insuperável orgulho inspirado pelos valores míticos e líricos da supremacia alemã. Hitler residia na Alemanha desde os vinte e quatro anos de idade; servira as fileiras do seu exército e tinha atravessada no peito, e a sangrar, a derrota de 1918. Pouco depois, o Partido Alemão dos Trabalhadores seduziu-o com a fermentação de uma energia sem nome que viria a ser centro no partido do nationalsozialismus (palavra que se contraiu, abdicou de zonas mortas intermédias como tionalso e ial, para chegar à simplicidade de nazismus). em 1933, as liderantes qualidades de Hitler já o tinham feito chefe deste partido e dilatavam-lhe no peito projectos

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políticos só possíveis com ajuda de uma poderosa autoridade. Para tê-la a um gesto da mão, foi-lhe preciso ganhar democraticamente eleições legislativas. — ganhou-as; e olhou sem complacências para uma Alemanha em situação económica catastrófica. Fez-se Führer; estudou o efeito de uma melena atravessada na testa, de um bigode vertical que lhe ligava as narinas à boca, e empolgou com discursos de superlativo histrionismo um povo muito receptivo às promessas de uma nova grandeza ariana. A sua estratégia de poder expansivo, de uma europa liberta de ideologias democráticas, liberta por extermínio de «raças impuras» como a dos ciganos e a dos judeus, da «praga antiviril» dos homossexuais, da «aberração» comunista, começou por levá-lo à anexação fácil da Áustria e do Luxemburgo; mas a seguir tornou-se mais ambicioso e complexo: porque este Hitler nazi e o estaline soviético conseguiram entender-se com um acordo assinado a 23 de Agosto de 1939, onde a Rússia prometia ajuda política, militar e económica àquela Alemanha anti-comunista, anti-semita e pangermânica; e em segredo sussurraram uma futura partilha dos territórios da europa do Leste. A certeza desta benevolência e desta colaboração soviéticas permitiu-lhe uma primeira audácia bélica: a invasão da Polónia; a seguir a formação do protectorado da Boémia-Morávia; a anexação com fictícios governos nacionais dos Países Baixos, da Bélgica, da Sérvia, da grécia, da dinamarca, da iugoslávia, do Norte da França e da Noruega; a aceitação da Bulgária e da Hungria como aliados; a adopção da itália fascista de Mussolini como «amiga»; o faz-de-conta que pouparia, até ver, os autoritarismos fascizantes de espanha e Portugal. A inglaterra e a França declararam-lhe guerra, e foi um desastre de mortes e atrocidades. ora, a par desta voragem nazi,

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não quis estaline atrasar-se na sua volúpia expansionista. Já invadida pelos Alemães, a Polónia também foi invadida em 17 de Setembro de 1939 pelos Russos e parte da Finlândia anexada; esta má sorte virou-se depois para a estónia, a Letónia, a Lituânia, para uma boa porção da Roménia. Mas esta partilha prevista por acordos, esta competição germano-russa, era uma veleidade mal sentida pela orgulhosa supremacia de Hitler. Perante este desacato, perante este impertinente «como não?, eu cá também…» de estaline, a aliança russa fez-se dispensável; e como Hitler queria para si toda a europa, mesmo a que se estendia até à Ásia, mesmo a que seria obrigada a desentreter-se um pouco do armazenamento humano dos seus gulags para pensar em combatê-lo, em 1941 invadiu-a pondo em prática a operação Barbarossa. os hitlerianos chegaram a estar a trinta quilómetros de Moscovo; mas este incomodado estaline com um bigode que ainda mais se retorcia, com um exército preparado por treinos exemplares, uniu-se aos Aliados da europa ocidental e foi decisivo para a capitulação da Alemanha. Fez-se um dos salvadores da europa; a sua ajuda tirou-a das ambições de Hitler, e ele percebeu que a nova paz e tudo o que os países do ocidente lhe deviam, levá-lo-iam à concretização de um velho sonho: a dilatação «pacífica» do seu império, a de um comunismo imposto como modelo a nações de tradição democrática; aquele que durou, bem espalhado e tutelado por vigiadíssimas dependências, até 1989. Mas a França? A conquistada pelos Alemães do nazismo, a que vai interessar-nos neste surpreendente romance de emmanuel Bove? Lembremos que as tropas de Hitler começaram a invadi-la a 10 de Maio de 1940. Perante a força alemã os exércitos francês, britânico e belga depuseram armas; e o governo francês

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cedeu, pedindo um Armistício assinado quarenta e quatro dias depois da invasão. esta França vencida sujeitou-se a uma complexa divisão do seu território com diferentes tipos de submissão ao poder nazi. As suas zonas do norte e do oeste foram ocupadas sem nenhuma camuflagem pelo Terceiro Reich; uma pequena zona do sudeste foi ocupada pela itália de Mussolini; a zona central e a zona do sul tiveram a benévola designação de «zona livre», servida por um duvidoso poder francês dirigido em Vichy pelo marechal Pétain, simpatizante da causa nazi. Neste romance de Bove a personagem principal, secretamente gaullista, deslocar-se-á entre Lião e Vichy, cidades da «zona livre», e voltará à capital ocupada pelos alemães; tudo para realizar o seu sonho: juntar-se ao general de gaulle que organizava na inglaterra um movimento armado resistente e fazia discursos que a rádio difundia, incitando os Franceses à revolta. e o seu «processo», sombreado pelo absurdo labirinto dos inquéritos, lembrar-nos-á inevitavelmente Josef K., a personagem de Kafka. * emmanuel Bove morreu em Julho de 1945, aos quarenta e sete anos de idade; e com razões clínicas — «caquexia e falência cardíaca, consequências de uma série de ataques palustres super-agudos» — que podem causar-nos surpresa quando as lemos sem mais explicações na sua certidão de óbito. Mas existia para esta malária um desleixado convívio com os mosquitos da Argélia; o seu, vivido durante dois anos nessa terra de influência nazi menos directa, a alimentar-se com sonhos de fuga para a inglaterra

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do general de gaulle, aquela onde a «sua» força armada coleccionava uns quantos franceses exilados na ilha britânica. São deste tempo e do lazer desta ansiosa espera os seus últimos romances: A Armadilha, départ dans la nuit, e non-lieu. Mas Bove reapareceria em Paris em outubro de 1944; e fazia-o em mau estado físico, já sem vida para ouvir meses depois a declaração oficial do fim da guerra. despedia-se do mundo, deixou escrito o romancista italiano enrico Terracini a lembrar-se do seu corpo arrastado nas ruas de Argel com vida quase crepuscular: «Por vezes levantava a mão até ao rosto; não para abafar um ataque de tosse, mas escamotear uma careta provocada pela dor. Quando o víamos na rua, pálido e emagrecido, tínhamos a sensação de que ia desaparecer, de que já não estaria entre nós no dia seguinte, nas reuniões das revistas Fontaine, renaissance, l’Arche e dos Cahiers Antiracistes. Ausentava-se com frequência por estar hospitalizado, embora não falasse da sua doença.» os seus vinte e dois anos de vida literária fizeram-no chegar a trinta e seis títulos — escrever até perder o fôlego, tinha uma vez dito para se definir como homem de letras. mes Amis (1924), o seu primeiro livro assinado por emmanuel Bove, foi um êxito de crítica e de vendas, e ele mostrou-se pouco depois capaz de um Armand e de um Bécon-les-Bruyères (ambos de 1927), de la Coalition, de muitos outros, e até de um desvio que iluminou com luz negra un raskolnikoff (1932), la Toque de Breitschwanz e le meurtre de Suzy Pommier (ambos de 1933). Mas em 1928, numa altura em que já tinha um respeitado nome nas letras francesas, fez ao jornal Candide a inesperada revelação de que ainda tinha sido autor de mais livros; que tinha sido um Jean Vallois de romances populares, antes de ser emmanuel Bove: Comecei por

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escrever uma centena de milhares de linhas em romances populares. despachava cem linhas à hora, oitocentas linhas por dia, ou seja, um volume de dez em dez ou doze em doze dias. um trabalho totalmente estranho ao de um escritor. É como se eu tivesse vivido nessa época com outra profissão. este emmanuel-escritor surgiu nos seus «verdadeiros» livros com o sobrenome Bove — habilidade que talvez lhe evitasse a suspeição de ascendência judaica e o mostrasse mais francês do que poderia parecer com o seu Bobovnikov, chegado por baptismo de um pai russo (estranho homem a quem nunca foi conhecida uma profissão definida mas compensado nas ausências de trabalho com a mão larga de emily overweg, sua amante, inglesa e rica). emmanuel arrastou-se por uma escolaridade sofrível; e fez-se desde cedo notar por uma timidez que lhe agravava as asperezas do mundo, ficamos a sabê-lo por voz própria enquanto monsieur Thorpe: Bastava eu imaginar que me atribuíssem um mau pensamento ou me achassem com interesse numa coisa qualquer, para ficar doente. A menor censura transtornava-me. Tudo me fazia corar. no entanto, todos estes escrúpulos não me impediam de cometer constantemente actos menos delicados. Via-me a todo o momento metido em situações desagradáveis, em especial se tinha de justificar-me por um acto que eu reconhecia mau mas tinha a consciência de ter cometido, e tinha de ser justificado perante pessoas a quem eu dava mil vezes razão. isto fez-me ganhar uma fama que em meu redor se exprimia com a acusação de falsidade. emmanuel considerava emily, a amante do seu pai, como segunda mãe; e ficou-lhe a dever estudos generosamente pagos em genebra e na inglaterra. Mas entretanto, nesta largueza de mãos

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houve desgraças: Monsieur Bobovnikov morreu tuberculoso, e a Primeira guerra Mundial destruiu à generosa emily uma grande parte das suas fontes de rendimento. A vida folgada de emmanuel teve de conformar-se com os maus acasos de empregos precários. Viveu em Paris a guiar carros eléctricos, como empregado de cafés, condutor de táxis, em Versalhes como porteiro do Hôtel Suisse… e em 1917 esteve um mês preso por ter um nome irritantemente estrangeiro, viver num hotel suspeito da rua Saint-Jacques e com recursos pouco claros aos olhos da polícia. em 1921, a sua vida de empregos instáveis e mal pagos teve a grande ajuda emocional de Suzanne Vallois, cinco anos mais velha do que ele e professora, rematada pelo casamento e pela ruptura de ambos com os conservadores patriarcas da família Vallois. «Como se chama esse tipo? Bobovnikov? Nem pensar», tinha dito a voz zangada do pai Vallois. Nessa altura já emmanuel Bobovnikov sabia que ia ser escritor; que o seu popularucho e comestível Jean Vallois anular-se-ia para permitir o nascimento de emmanuel Bove; e que o construtor de romances precisava de todo um tempo não condicionado por qualquer outra ocupação. A desgraça austríaca vinha a calhar. ele e Suzanne foram para a Áustria, desvio que o seu irmão Léon explicou numa entrevista: «Foi para lá porque era um país que as consequências da guerra tinham afundado. Com uma moeda que não valia nada. o pouco dinheiro de Suzanne dava para ela comprar schillings austríacos e aguentarem-se durante o tempo que o seu livro exigia. Nasceu assim mes Amis. Mas, encalhados num quarto, quase morriam de fome.» em 1923, com este casal de novo em Paris, mes Amis foi publicado por Colette na sua colecção Colette. Houve surpresas,

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houve curiosidades (Rilke, numa viagem a Paris pediu que lhe apresentassem Bove), mas só destacaremos de todo este ruído a curiosa diferença das palavras do crítico Robert Kemp: «Sinto o coração apertado. Penso que ninguém, depois de Huysmans, escreveu com maior minúcia e de forma mais aflitiva sobre a miséria humana. […] Madame Colette admitiu mes Amis na sua colecção. É lógico. Trata-se de Colette feio, em vez do encantador Colette de les Vrilles de la vigne, de Colette pobre-diabo, Colette mesquinho, sem poesia, sem sorriso, sem jardim, sem animais. […] Leia-se este livro. Talvez não se goste dele. […] Mas vai espantar-vos. […] É um excesso de pessimismo que vai dar à caricatura.» É curiosa, a resposta de Bove a esta caracterização dos seus tão amargos sentimentos: um pessimista só é um indivíduo que vive entre optimistas. o seu casamento com Suzanne Vallois durou quatro anos e teve um fim aristocraticamente consolado por Henriette de Swetschine. (de novo Léon, o seu irmão: «Foi amante de uma dama das que chamamos finas. Conheci-a, e tinha uma maneira de ser muito desagradável. era do género mundano. dizia-se aparentada com a família galitzine, grande nome da corte da Rússia.») o período Swetschine foi literariamente o mais fecundo de emmanuel Bove. Foi visto, nessa época de criações literárias respiradas com fumo de cigarros e mãos que levantavam copos de absinto, como um incansável escritor de cafés, com dias inteiros d’une table l’autre em Saint-germain-des-Près, com uma febre que preenchia as folhas de papel de futuros Armand, un soir chez Blutel, la Coalition… de artigos para jornais como le Quotidien, detective, Paris-Soir, Vendredi, regards… Mas Bove, farto de Madame Henriette voltou a casar-se; desta vez com Louise ottensoover,

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de uma família de banqueiros; uma mulher rica, notava-se com satisfação, e simpaticamente mundana. Até 1937, o escritor emmanuel Bove multiplicou-se como romancista e até escreveu um policial (la Toque de Breitschwanz), romance «à Simenon» com o pseudónimo Pierre dugast. Mas Adieu Fombonne, de 1937, anuncia o início de um período silencioso onde se reconhecem algum desânimo e dificuldades editoriais ligadas ao período da Segunda guerra Mundial. A crítica de edmond Jaloux a Adieu Fombonne foi decisiva: «A obra de emmanuel Bove é uma das mais características do nosso tempo, apesar de nunca ter conseguido o grande êxito que poderia obter. de facto, nenhum dos seus livros é um êxito total, e alguns podem mesmo considerar-se fracassos. Adieu Fombonne, por exemplo. Um romance começa por ser qualquer coisa que podemos contar. e poderemos contar Adieu Fombonne? isto apesar de ele ser um romancista entre os que merecem o maior dos interesses, justamente por a sua personalidade não se parecer com nenhuma outra.» A guerra mobilizou-o em 1940 como trabalhador militar integrado numa fundição de Cher. Foi desmobilizado em Julho — por si próprio, com um certificado em que a sua própria assinatura o desmobiliza, como será explicado pela personagem (até certo ponto autobiográfica) de A Armadilha. o sonho de Londres tinha-o levado até Argel mas o paludismo devolveu-o à França de outubro de 1944, a França libertada, a de uma recuperada situação política que já permitia a publicação de A Armadilha, o seu melhor romance, posto à venda em Abril de 1945, na véspera do seu aniversário, dois meses antes da sua morte. Bove já não pôde ter conhecimento de todo um entusiasmo que repetia outro, velho de vinte e um anos, suscitado pela no-

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vidade de mes Amis, nem o artigo de les lettres Françaises em 26 de Maio de 1945, que dizia pela mão de Louis Parrot: «Uma arte tão contida e, podemos dizê-lo, tão cheia de desconfiança, desde há muito faz deste escritor uma das mais discretas e sensíveis testemunhas do nosso tempo. […] No livro que emmanuel Bove agora publica, A Armadilha, é que as suas qualidades de romancista “realista” são postas em evidência com maior mestria. […] Quando se termina a leitura deste livro ofegante, que se lê de um trago sem sentirmos o mais leve cansaço e com últimos capítulos animados por uma força dramática intensa […], extraídos do nosso mundo quotidiano, a este mundo cruel que nos rodeia, não nos cansamos a todo o momento de ficar maravilhados.» Mas não podemos deixar de deter-nos, como exemplo desta capacidade de Bove para suscitar admirações, em mais um testemunho; o desta surpreendente carta que em 1972, vinte e oito anos depois da sua morte, chegou às mãos de Philippe Soupault: «Caro Senhor, «espero que me não leve a mal a indiscrição que consiste em escrever-lhe sem o conhecer, ainda mais indesculpável por se tratar de um pedido de informações. desde há tempos me interesso pela leitura da obra de emmanuel Bove, hoje completamente desaparecido, não só da visibilidade mas dos fundos das livrarias. imagino que tenha tido a oportunidade de falar com ele, uma vez que o essencial da sua obra é de uma época em que o víamos animar os movimentos literários contemporâneos. Seria para mim um grande privilégio se pudesse dar-me algumas informações que lhe dizem respeito.

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«Quem era ele? Que género de pessoa era? Que rastos deixou? eu soube que Madame Bove ainda está viva. Terá condições para descobrir onde posso encontrá-la? «Surpreendê-lo-á esta curiosidade que não pertence ao normal exercício das minhas funções; mas se é proibido ao ministro das Finanças ter um coração, di-lo pelo menos a fama, não lhe está proibido interessar-se pela literatura. «Valéry giscard d’estaing.» Quem diria. A.F.

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capítulo primeiro

desde que Bridet estava em lião, esforçava-se por encontrar uma forma de ir para a inglaterra. não era fácil. Passava os dias a correr de um lado para o outro, para ver se tinha a sorte de dar com amigos que ainda não tivesse voltado a ver. Frequentava a cervejaria que fica perto do grande teatro onde se reuniam os jornalistas que então se consideravam «em retirada», passeava na rua de la république, procurando descobrir nas esplanadas dos cafés figuras suas conhecidas, voltava diversas vezes por dia ao seu hotel, com a esperança de encontrar lá uma carta, ter lá um encontro, um qualquer sinal do exterior. mas não havia lugar para o menor sentimento de solidariedade nesta barafunda que tinha invadido lião, no meio das dificuldades que todos sentiam, no meio de toda esta gente que embora conhecida não tinha em Paris relações. davam-se apertos de mãos, fazia-se um esforço para mostrar o mesmo ar contente, tanto ao primeiro como ao décimo encontro, mostrava-se simpatia na imensa catástrofe, fingindo acreditar que a desgraça unia mais do que dividia; mas bastava deixarmos de falar na miséria geral e fazermos a tentativa de interessar alguém por um caso particular, para encontrarmos à nossa frente um muro. À noite, Bridet voltava para o hotel extenuado. Para conservar o quarto devia simular todas as semanas uma partida,

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porque os hotéis só estavam reservados a viajantes de passagem. «mas é realmente grotesco», pensava ele, «ao fim de três meses eu não ter encontrado uma forma de me pôr a milhas. Chega mesmo a ser perigoso.» Toda a gente acabava por duvidar de que ele desejasse partir. nada põe mais a nu as intenções do que uma longa impotência. Quando pedimos e nunca obtemos, acabamos por dar de nós a ideia um pouco ridícula de pertencer à categoria dos homens com desejos demasiado grandes para as suas possibilidades. * no dia 4 de Setembro de 1940, Bridet acordou mais cedo do que era hábito. ocupava o pequeno quarto 59, o último do hôtel Carnot. dava para a praça Carnot, à frente da estação de caminhos-de-ferro Perrache. Toda a noite tinha ouvido partidas e chegadas. os Franceses nunca tinham viajado tanto. Antes de o dia nascer ouvira os primeiros carros eléctricos. A vida continuava como antes! Afinal, ainda havia operários a ir para o trabalho! E esta vida regular, que os choques matinais entre viaturas e este ruído de rodas de ferro em carris evocavam, tinha qualquer coisa que desesperava. o sol tinha nascido, mas ainda não ultrapassava as casas plantadas do outro lado da praça; e estes raios, que não pousavam sobre nada e se espalhavam simplesmente no espaço, davam ao céu um aspecto primaveril. de repente, uma luz pálida e dourada pousou no tecto. Bridet lembrou-se das manhãs de férias, e sentiu um aperto no coração. A vida continuava a ser bela. E ele também tinha vontade de viajar. mas o

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que encontraria melhor em Avinhão, em Toulouse, em marselha? Sufocava-se em todo o lado. Em qualquer sítio para onde fôssemos, sentíamo-nos esmagados por uma polícia cada vez mais numerosa. Todos os agentes eram duplicados por outro agente, às vezes até por um civil com tão grande pressa de começar o seu serviço, que nem tinha esperado pela entrega de uma farda. «isso aborrece-me, mas tenho mesmo de encontrar-me com o Basson», murmurou Bridet. Todos os dias pensava que tinha de ir a Vichy. Censurava-se por ter esperado tanto. Andara a vaguear por Ardèche, por drôme, à espera sabia lá de quê, e estava consciente do que teria podido fazer na confusão, a seguir ao Armistício, e que era agora dia a dia mais difícil. Tinha amigos, por exemplo Basson. E ele podia conseguir que lhe dessem a cumprir uma missão qualquer, um passaporte. uma vez fora da França, saberia desenrascar-se. A inglaterra não era, ainda assim, inacessível. «Tenho mesmo de encontrar-me com o Basson», repetia. Só precisava de esconder o seu jogo. diria a todos que queria servir a revolução nacional. «mas vão acreditar-me?», perguntava de si para si. Acabava de lembrar-se de que tinha falado muito; durante muito tempo não se incomodara por dizer o que pensava, e ainda agora lhe acontecia não conseguir reter-se. Parecia, até agora, que esta loquacidade não tinha tido consequências; mas de repente, na altura em que devia actuar, ficava com a ideia de que toda a gente lhe conhecia os projectos. Para ganhar coragem pensou que as pessoas, no fundo, não nos julgam a partir do que dissemos — elas próprias tantas coisas dizem — mas

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a partir daquilo que agora dizemos. Só teria de avançar sem medo, a favor do marechal. Era um homem maravilhoso. Salvara a França. graças a ele, os Alemães respeitavam-nos. Superavam a sua vitória. E nós, nós superávamos a nossa derrota, permitindo assim que os dois povos se falassem quase de igual para igual. Era isto o que ele precisava de dizer. À frente de um excitado, até podia chegar-se mais longe. Se todos os franceses perscrutassem o fundo de si próprios, e estivessem de boa fé, deviam reconhecer que um enorme alívio se tinha sentido com a assinatura do Armistício. «Andávamos pelas estradas e agora estamos em nossa casa», tinha dito o marechal. Bridet só tinha de dizer a mesma coisa. não devíamos sentir nenhum escrúpulo em enganar gente como essa. Podíamos dizer-lhe qualquer coisa, não importava o quê. mais tarde, quando ele fosse juntar-se a de gaulle, emendaria a mão. * depois de se vestir, saiu. Cem metros mais à frente entrou noutro hotel para fazer à sua mulher a habitual visita de todas as manhãs. o famoso cartaz que representava uma bandeira tricolor, e ao seu centro a cabeça do marechal, por modéstia quase a três quartos e voluntariamente refinada, com um engomado colarinho falso, um quépi sem nenhuma inclinação, um ar de profunda honestidade, de leve amargura, de uma firmeza que não excluía a bondade, essa que os maus artistas tão bem sabem transmitir, escondia o grande espelho central.

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Yolande também tinha conseguido arranjar um quarto. Tal como o do seu marido, pequeno de mais para dois poderem dormir nele. mas não era uma coisa que o arreliasse excessivamente. Estava num tal estado de abatimento, que preferia dormir sozinho. Tinha amado muito a sua mulher; mas depois do Armistício e sem reparar muito nisso, afastara-se um pouco. Ela tinha mostrado repentinamente vontades, desejos que já não eram os seus. Também fora atingida pela catástrofe, e parecia ter descoberto que havia coisas na vida mais importantes do que o bom entendimento num casal. Ela inquietava-se com a família que tinha ficado em Paris, uma coisa que durante anos não lhe tinha dado preocupação nenhuma. Estava impaciente por voltar a ver pessoas que até ali lhe tinham sido indiferentes. Falava constantemente da sua pequena loja de modas da rua Saint-Florentin, do seu apartamento, como se tivesse vivido lá sozinha. Bridet não sentia que aos seus olhos se tivesse feito um estranho, mas a pouco e pouco uma dessas criaturas a quem não se liga porque nada podem fazer por nós, apesar do amor que nos dedicam. E, no fundo do coração, achava-a com razões para tomar esta atitude. de facto, nada podia fazer por ela. Enquanto tinha havido um exército do qual fazia parte, defendera a sua mulher. mas naquele momento já não a defendia. não podia ser ele a arranjar-lhe um ausweis1, não podia arranjar-lhe um banal quarto nem conseguir um táxi, não podia enviar dinheiro à sua família de Paris nem ocupar-se da loja, não podia fazer absolutamente nada. Ela sabia-o, e muito suavemente ganhava o hábito de contar apenas consigo própria. documento de identidade; na época da ocupação alemã, passado aos cidadãos franceses considerados «não hostis». (N. do T.) 1

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Sentou-se ao pé dela. Até ali, nunca tinha feito a mais pequena alusão ao seu desejo de partir. — Escuta, Yolande, tenho de falar-te a sério. olhou para ele, sem parecer que notava o seu ar mais grave do que era hábito. havia gente no vestíbulo da entrada. Ele tinha de falar em voz baixa, e voltava-se constantemente para trás. — Vem comigo até ali — disse Bridet. — Ficaremos mais tranquilos. Yolande levantou-se. Foram sentar-se lado a lado, no fundo do vestíbulo. — reflecti durante toda a noite — disse Bridet. — Tenho de falar com o Basson. Yolande manteve-se em silêncio. Bridet excitava-se. Estava farto. lamentava não ter feito isso mais cedo. Agora estava decidido. ia falar com o Basson. Faria o ar de quem falava com franqueza. dir-lhe-ia que admirava o marechal… Pedir-lhe-ia o seu apoio. o Basson era um velho camarada. não lho recusaria. mas tantas coisas dizemos quando passamos, descontentes e infelizes, meses juntos, tantos projectos fazemos sem nada se alterar na nossa vida, que ao tomarmos uma decisão reparamos de repente que ninguém terá razões para acreditar em nós. — És louco! — disse ela. Bridet respondeu que tinha feito uma profunda reflexão. — Admiro o marechal — repetiu em voz alta. — ninguém acreditará em ti — respondeu-lhe Yolande ao ouvido. — imaginas que as pessoas são idiotas. Vão prender-te. Toda a gente sabe o que pensas. disseste-o bastantes

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vezes. Por que teimas em fazer isso? Por que não queres que voltemos para Paris? * Enquanto andava ao acaso pela cidade, Bridet perguntava a si próprio se devia falar ou não com o Basson. há comédias que não podemos representar, mesmo que dependa delas o nosso futuro. não podemos dizer que gostamos daquelas pessoas que odiamos. Fá-lo-íamos de uma forma que mostraria a nossa mentira. mas então o que fazer? Voltar para Paris? ir atrás da Yolande? mostrar muito sensatamente os seus papéis aos boches quando passam na linha de demarcação? Ver a cruz gamada a flutuar por todo um Paris deserto? A Yolande dizia que vender chapéus aos alemães, para eles os enviarem às suas mulheres, não era um sinal de má francesa. ganharia muito dinheiro; e ele, sempre a queixar-se de que não tinha tranquilidade para escrever um livro, pois bem, tê-la-ia… Era uma coisa repugnante. no entanto, Yolande amava-o. Estava pronta a fazer por ele o que até ali nunca tinha feito. Achava que as mulheres deviam desempenhar naqueles dias o papel principal, pôr-se à frente, fazer com que os homens fossem esquecidos, para se conservarem intactos até ao momento de voltar a pegar em armas. À noite, no quarto, Bridet sentiu que estava com febre. Ardia. Parecia-lhe, de vez em quando, que ia ter um arrepio. mas não se arrepiava. Era um mal-estar igual ao outro que há um mês tinha feito a sua primeira aparição. Estava sempre com a sensação de que ia ter uma vertigem. Com os olhos

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procurava um banco, uma cadeira, mas sem isso fazer com que ele se sentisse melhor. E não tinha nenhuma vertigem. lá fora, o mistral começava a soprar com extraordinária força. o siroco, o mistral, a brisa genovesa, todos esses temidos ventos têm qualquer coisa que os diferencia dos ventos vulgares; porque de repente, numa casa tranquila, as portas dos armários, as janelas que dão para pequenos pátios, até os objectos que julgaríamos seguros, começam a tremer. Bridet captava misteriosos rumores. «o que fazer?», perguntava a si próprio. Parecia-lhe que ouvia alguém atrás da porta. E não conseguia evitar que o seu pensamento fosse para Basson. A coisa mais desagradável que pode acontecer a um homem orgulhoso é depender de um amigo posto de lado, que nunca lhe mereceu muito crédito, ficar pelos acontecimentos entregue às mãos dele, e convencer-se de que é ele que tem razão, em vez de nós. Bridet acabou por adormecer. E na manhã seguinte tomou o comboio.

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nota do autor

os papéis que, um pouco por todos os lados, foram reunidos pelos amigos de Joseph Bridet depois da sua morte, só têm um interesse relativo. no entanto, se for feita uma nova edição deste livro acrescentar-se-á como apêndice o que consta nesta lista: 1.º Sete poemas escritos entre 1935 e 1939. 2.º umas quantas notas redigidas à pressa e com grandes intervalos na prisão. É evidente que Bridet tinha consciência de viver horas cuja lembrança devia ser preservada; mas devido à ansiedade que o minava, ou à negligência, tinha-as sempre interrompido. 3.º As reportagens que os seus directores tinham em tempos autorizado que assinasse com o seu nome. há uma que talvez possa levar-nos a estabelecer comoventes relações. É a que relata uma execução capital. mas, para brilhar, Bridet adopta um estilo tão artificial, que é impossível encontrar-lhe uma frase de onde se liberte um significado até ali oculto, como é costume libertar-se das palavras ou dos escritos pertencentes àqueles que já aqui não estão. 4.º duas cartas de Basson escritas em londres, depois de Bridet ter sido fuzilado. Estão entretecidas com palavras inglesas de amizade. depois de conhecermos o lamentável fim do destinatário, deixam uma penosa impressão. Basson fala

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com uma auto-confiança e uma presunção chocantes dos perigos a que escapou. E ainda parece mais desagradável que em nenhum momento lhe tenha acudido ao espírito a possibilidade de acontecer ao seu camarada, que continuava na França, qualquer coisa desagradável. 5.º uma emocionada carta de outhenin a Yolande, escrita alguns dias depois da morte de Bridet, e que começa assim: «Acabo de ter conhecimento da horrível desgraça que a atinge…» 6.º uma carta de Yolande a mademoiselle laveyssère, sua cunhada, onde pergunta, fingindo que se encontra perante um caso de consciência, se deve ou não pôr a mãe, madame Bridet, a par dos factos, apesar da proibição que o seu marido a este respeito lhe fez. 7.º uma carta desta última a Yolande. É uma carta de velha infeliz, que embora acabe de receber a notícia da trágica morte do seu filho, não manifesta espanto nem desespero. Fala do filho como de um estranho, e há no seu final um repentino pedido para ele ser vingado. 8.º A carta de Bridet à sua mulher, que o leitor já conhece, escrita antes de morrer mas tornada oficial antes de lhe ter sido remetida com carimbos franceses e alemães, como se os autores do assassínio actuassem, claro está, de acordo com a mais irrepreensível das legalidades. 9.º uma nota datada de 15 de Janeiro de 1941, escrita a lápis pelo ministro do interior em papel com cabeçalho do ministério, que foi entregue a Yolande três meses depois da execução do seu marido, em condições muito misteriosas. Esta nota está endereçada a madame Saussier. Pede que «se

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deixe adormecer» o caso Bridet. A palavra adormecer está sublinhada. Esta nota foi deixada sem explicações na casa do porteiro da rua demours, por um desconhecido ao qual ninguém prestou atenção. 10.º uma carta datada de março de 1943, dirigida a Yolande, proveniente de uma casa editorial alemã em Paris, faz-nos voltar a tempos anteriores. Pouco depois do drama de Venoix, Yolande tinha reunido os poemas e os artigos do seu marido (retirando, por prudência, as notas da prisão e as cartas) numa brochura mandada clandestinamente imprimir com o título escritos de Joseph Bridet (1908-1941) morto pela França. o funcionário alemão que escrevia a Yolande perguntava-lhe por que se tinha escondido para publicar uma brochura com possibilidade de aparecer às claras e onde nada haveria a destacar que pudesse ofender a Alemanha. E terminava de uma forma bastante forte, dizendo que não estava nos hábitos dos seus compatriotas oporem-se a uma manifestação que visava perpetuar sem dissimulação política a memória de um morto.

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os génios, seguido de exemplos, Victor hugo o senhor de Bougrelon, Jean lorrain No sentido da noite, Jean genet Com os loucos, Albert londres os manuscritos de Aspern (versão de 1888), henry James o romance de Tristão e isolda, Joseph Bédier A freira no subterrâneo, com o português de Camilo Castelo Branco Paul Cézanne, Élie Faure, seguido de o que ele me disse…, Joachim gasquet david golder, irene nemirowsky As lágrimas de eros, george Bataille As lojas de canela, Bruno Schulz o mentiroso, henry James As mamas de Tirésias — drama surrealista em dois actos e um prólogo, guillaume Apollinaire Amor de perdição, Camilo Castelo Branco Judeus errantes, Joseph roth A mulher que fugiu a cavalo, d.h. lawrence Porgy e Bess, duBose heyward o aperto do parafuso, henry James Bruges-a-Morta — romance, georges rodenbach Billy Budd, marinheiro (uma narrativa no interior), herman melville Histórias da areia, isabelle Eberhardt o Lazarilho de Tormes, anónimo do século xVi e h. de luna Autobiografia, Thomas Bernhard

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Bubu de Montparnasse, Charles-louis Philippe greco ou o segredo de Toledo, maurice Barrès Cinco histórias de luz e sombra, Edith Wharton dicionário filosófico, Voltaire A Papisa Joana – segundo o texto de Alfred Jarry, Emmanuel rhoides Bom Crioulo, Adolfo Caminha o meu corpo e eu, rené Crevel Manon Lescaut, Padre Prévost o duelo, Joseph Conrad A felicidade dos tristes, luc dietrich inferno, August Strindberg Um milhão conta redonda ou Lemuel Pitkin a desmantelar-se, nathanael West Freya das sete ilhas, Joseph Conrad o nascimento da arte, georges Bataille os ombros da marquesa, Émile Zola o livro branco, Jean Cocteau Verdes moradas, W.h. hudson A guerra do fogo, J.-h. rosny Aîné Hamlet-Rei (Luís ii da Baviera), guy de Pourtalès Messalina, Alfred Jarry o capitão Veneno, Pedro Antonio Alarcón dona guidinha do Poço, manoel de oliveira Paiva Visão invisível, Jean Cocteau A liberdade ou o amor, robert desnos A maçã de Cézanne… e eu, d.h. lawrence o fogo-fátuo, drieu la rochelle Memórias íntimas e confissões de um pecador justificado, James hogg Histórias aquáticas — o parceiro secreto, A laguna, Mocidade, Joseph Conrad o homem que falou (Un de Baumugnes), Jean giono o dicionário do diabo, Ambrose Bierce

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A viúva do enforcado, Camilo Castelo Branco o caso Kurílov, irène némirowsky Nova Safo — tragédia estranha, Visconde de Vila-moura A costa de Falesá, robert louis Stevenson gaspar da Noite — fantasias à maneira de Rembrandt e Callot, Aloysius Bertrand Rimbaud-Verlaine, o estranho casal o rato da América, Jacques lanzmann As amantes de dom João V, Alberto Pimentel os cavalos de Abdera e mais forças estranhas, leopoldo lugones Preceptores – gabrielle de Bergerac seguido de o discípulo, henry James o Cântico dos Cânticos – traduzido do hebreu com um estudo sobre o plano a idade e o carácter do poema, Ernest renan derborence, Charles Ferdinand ramuz o farol de amor, rachilde diário de um fuzilado, precedido de Palavras de um fumador de ópio, Jules Boissière A minha vida, isadora duncan Rakhil, isabelle Eberhardt Fuga sem fim, Joseph roth o castelo do homem ancorado, Joris-Karl huysmans Tufão, Joseph Conrad Heliogábalo ou o anarquista coroado, Antonin Artaud Van gogh o suicidado da sociedade, Antonin Artaud eu, Antonin Artaud A morte difícil, rené Crevel A lenda do santo bebedor seguido de o Leviatã, Joseph roth o Chancellor (diário do passageiro J.R. Kazallon), Jules Verne orunoko ou o escravo real (uma história verídica), Aphra Behn As Portas do Paraíso, Jerzy Andrzejewski Tirano Banderas (novela de Terra Quente), ramón del Valle-inclán

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Cáustico Lunar seguido de ghostkeeper, malcolm lowry Balkis (A lenda num café), gérard de nerval diálogos das carmelitas, georges Bernanos o estranho animal do Vaccarès, Joseph d’Arbaud Riso vermelho — fragmentos encontrados de um manuscrito, leonid Andreiev A morte da terra, J.-h. rosny Aîné Nossa Senhora dos Ratos, rachilde o colóquio dos cães incluído no Casamento enganoso, miguel de Cervantes entre a espada e a parede, Tristan Bernard A vida de Rembrandt (história a ir para onde lhe dá), Kees van dongen os meus oscar Wilde, André gide As aventuras de uma negrinha à procura de deus, george Bernard Shaw Meu irmão feminino — «Noites Florentinas», marina Tsvietaieva Jean-Luc perseguido, Charles Ferdinand ramuz o filho de duas mães, Edith Wharton

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DEPÓSITO LEGAL 482304/21 IMPRESSÃO E ACABAMENTO: PUBLITO — ESTÚDIO DE ARTES GRÁFICAS PARQUE INDUSTRIAL DE PINTANCINHOS, 4700-727 BRAGA

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