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João Jacinto
TEBAIDA textos | texts
Sérgio Fazenda Rodrigues Bernardo Pinto de Almeida
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TEBAIDA Sérgio Fazenda Rodrigues
Um dia, a propósito do seu trabalho, João Jacinto dizia-me que gostava de pensar que as obras surgem na expectativa de prolongar um momento especial. Esse momento, que creio não ser uma ilustração do que se idealiza, nem um eco do que se produz é, talvez, a descoberta de um fascínio que se quer continuado. Porém, para assim ser, para o envolvimento se manter e o encanto perdurar, não devemos fixar ou estancar a vontade intrínseca das coisas, pois esta existe num permanente estado de mudança. Paradoxalmente, dir-se-ia que a única forma de a captar reside na possibilidade de a manter em permanente transformação. O trabalho de João Jacinto assenta num processo onde cada obra se faz e refaz, com todas as outras, em paralelo. Um processo que não é imediato e se gere num tempo próprio, onde as coisas surgem por camadas e se mostram lentamente. Se por vezes esse tempo é rápido, noutra instância ele demora dias, semanas, meses ou até anos. Mas, no seu decorrer, ele é sempre um tempo mágico, inquieto, onde a cadência não é linear e as imagens deixam-se sobrepor, intersectar e revolver. Dir-se-ia, então, que a vontade das coisas (que está sempre em transformação) impele uma acção que explora, ensaia e repete. Algo que dá corpo às obras com a mesma curiosidade, vontade e impeto com que uma criança se deixa fascinar; de forma prolongada.
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As obras que João Jacinto apresenta na exposição Tebaida, na Galeria Sete, em Coimbra, gravitam entre uma proximidade à figuração e a afinidade a um registo abstracto, de carácter vincadamente matérico. Entre estas duas vertentes, actuando como uma ligação entre algo aparentemente distinto mas intimamente ligado, surgem duas pinturas que nos mostram o estúdio do pintor Francis Bacon. Nestas pinturas, entre a aparência caótica do local e o rigor sensível das obras que ali surgiam, ressalta a imagem de um espelho redondo, de parede, que se centra na composição e capta a nossa atenção. Como na invocação de um olho, o espelho puxa o olhar e fita-nos do fundo da sala. Em seu redor, no chão, dispõem-se utensílios, sobras de material e possíveis trabalhos ainda em evolução. Na parede, bordejando o seu formato circular, existem duas manchas que acusam a passagem do tempo e a marca repetida dos pincéis. Entre a vontade de ver e o corpo do que se tenta criar, estas obras captam a natureza do estúdio e focam-se na essência da pintura. Em torno destes dois elementos situam-se outros dois grupos de trabalhos que, de forma complementar, reforçam o que as pinturas invocam. Assim, num lado, exibe-se um conjunto de desenhos sobre papel que se detém na representação de quem observa. Mas, mais do que retratar um excerto do rosto, o que João Jacinto faz é auscultar a natureza da visão que, de várias formas, nos segue ao longo da sala. Estas são obras que se desenvolvem entre a expressividade da feição apresentada (ou a intensidade com que uma parte da face é captada e nos confronta), a base que a enquadra e a natureza do papel onde a mesma se inscreve. O diálogo entre a figura e o fundo é delicado e assertivo, e articula-se pela gestão de um espaço vazio que demarca, ajusta e potencia o recorte do olhar. Na relação que se estabelece entre ambos e na ligação entre o suporte e a inscrição, existe, simultaneamente, um carácter áspero e delicado. Algo que prepassa entre
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A POSSIBILIDADE DE UM ROSTO Bernardo Pinto de Almeida
Não condenemos os pensamentos de ninguém, antes de os examinar de raiz. Camilo Castelo Branco
A perspectiva de um castigo moderado, mas inevitável, causará sempre uma impressão mais forte do que o vago temor de um suplício terrível, em relação ao qual se apresenta alguma esperança de impunidade. Cesare Beccaria
Decapitações e outras questões Na longa tradição da história das imagens na arte do Ocidente, o tema da cabeça cortada foi, desde a mais remota idade, objecto de presença recorrente. Encontramo-las cortadas, às cabeças, em representações que aparecem figuradas já na pintura tardo-medieval, ou mesmo bizantina, em que a decapitação foi tema por excelência, normalmente associado à extirpação do Mal. Nesse aspecto, a simbólica medieval, contrariando a grega e a romana, que credenciavam na decapitação forma honrosa de morte, reservada como tal às classes altas, associou antes o corte da cabeça a formas práticas e breves, de sentido altamente punitivo, de extinção do mal e do pecado ou, no seu limite superior, a formas perturbadas de expressão ou figuração do martírio. A decapitação de Paulo de Tarso, ou São Paulo, que numa antecipação do imaginário hollywoodesco Enrique Simonet, pintor valenciano, representou já tardia-
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mente, em 1887, conferia-lhe ainda este prestígio, de memória medieval, do martírio, que se vira celebrada em outras representações, nomeadamente na da famosa decapitação de Cícero [Fig. 1], por ordem de Marco António, no ano 43 a.C., que punira a sua tentativa de usurpar o poder de Roma. Aparece esta exemplarmente representada numa iluminura do século XV, que ilustra o manuscrito Les cas des nobles hommes et femmes, guardada na Biblioteca de Rouen, e evidentemente nela se afixa o testemunho de um sentimento de lamentação cristã face à crueldade que os Romanos reservavam ao tratamento dos seus inimigos políticos, quando estes pertenciam à mesma casta, classe ou família. Nesta pequena imagem, transbordando de significado, Cícero aparece representado como mártir. Assim também nos aparecem os corpos decapitados de São Cosme e São Damiano, por Fra Angelico, na pequena tábua da colecção do Museu do Louvre. Todas essas imagens pertencem, afinal, a uma vasta iconografia martirológica, que teve imensa tradição no imaginário da arte do ocidente. Hoje, muito desse prestígio se perdeu, já que, sobretudo a partir da Revolução Francesa e da consequente decapitação da realeza — inspirada da que, quase cem anos antes, deitara por terra a real cabeça de Carlos I de Inglaterra — e desde então nos séculos mais recentes, ela se tornou no símbolo de uma violência associada à instituição da democracia, como forma exemplar de punição, reservada praticamente aos tiranos, na simbólica típica da Modernidade que, também ela, tem a sua própria arqueologia. Em meados do século XVIII, no seu tratado Dos Delitos e das Penas (Dei delitti e delle pene, publicado pela primeira vez anonimamente, em Milão, 1764), que teve repercussão enorme em toda a Europa, Cesare Bonesama, Marquês de Beccaria, jurista e filósofo iluminista, insurgindo-se contra a noção clássica que associava a tortura a uma forma de vingança social colectiva, estabeleceu uma clara fronteira entre a justiça humana e a divina, ou seja, entre os pecados e os delitos e respectivas consequências. A ele se ficou a dever a noção, tipicamente moderna, depois fundadora das nossas leis e sociedades, de que o criminoso não seria,
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Este livro Tebaida, com obras de João Jacinto, foi publicado por ocasião da exposição com o mesmo título, com curadoria de Sérgio Fazenda Rodrigues, realizada na Galeria Sete – Arte Contemporânea, em Coimbra, de 4 de Maio a 7 de Junho de 2019 This book Tebaida, featuring works by João Jacinto, was published on the occasion of the similarly titled exhibition, which was curated by Sérgio Fazenda Rodrigues and presented at Galeria Sete – Arte Contemporânea in Coimbra from 4 May to 7 June 2019
© Galeria Sete – Arte Contemporânea Av. Dr. Elísio de Moura, 53, 3030-183 Coimbra © Sistema Solar, Crl (chancela Documenta) Rua Passos Manuel, 67 B, 1150-258 Lisboa Imagens | Plates © João Jacinto textos | texts © Sérgio Fazenda Rodrigues, Bernardo Pinto de Almeida Maio| May 2019 ISBN 978-989-8902-80-1 Fotografias | Photographs: Alexandre Baptista (pp. 2-15, 27-55, 59-71, 75-81, 84-86, 89) Nuno Moreira Inácio (pp. 72-74, 82-83, 87) Depósito legal | Legal deposit: 455565/19 Pré-impressão, impressão e acabamento | Prepress, printing and binding: Gráfica Maiadouro SA Rua Padre Luís Campos, 586 e 686 (Vermoim), 4471-909 Maia