Gilbert de Voisins «O Bar dos Dois Caminhos»

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O BAR DOS DOIS CAMINHOS

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TÍTULO ORIGINAL: LE BAR DE LA FOURCHE

© SISTEMA SOLAR, CRL (2021) RUA PASSOS MANUEL, 67B, 1150-258 LISBOA tradução © ANÍBAL FERNANDES 1.ª EDIÇÃO, JUNHO DE 2021 ISBN 978-989-9006-90-4 REVISÃO: DIOGO FERREIRA DEPÓSITO LEGAL: 4848065/21 ESTE LIVRO FOI IMPRESSO NA ULZAMA

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O cinema habitoou-nos às histórias de um Oeste americano quase sempre a preto e branco, com homens de pistolas incansáveis, precisas e rápidas a fazer os seus prodígios; mostrou-os a defender manadas de gado e a posse de terras; a invejarem-se com sangue nas quimeras do ouro; a combater índios pouco pacientes para aquele assalto que os enfrentava com uma superioridade conferida pela «civilização». Ele tudo isto nos fez ver em lugares muito distantes da lei, onde o homem impune recupera o banal sentido da morte dos primeiros habitantes da terra; dos que se defendiam à sua própria custa e sem consciência dos valores morais que o progresso civilizacional viria a conferir-lhes; dos que não podiam recorrer a nenhuma justiça instituída como alternativa ao ajuste de contas directo com os seus semelhantes. Nestas histórias de muito ar livre e paisagens agrestes, há o local privilegiado do saloon. Homens de extravasante virilidade bebem, jogam e ali conquistam o favor de mulheres que às vezes cantam e nesses filmes disfarçam sempre o seu trabalho (para não ser ferido o Código Hays da censura) um pouco atrás da sala visível, onde apagam a sede sexual de homens cheios de pó e cheiro a cavalo, tocados por uma profunda misoginia. Neste Oeste a mulher caseira é heróica, dedicada ao seu marido e veste-se mal; ajuda-o sem hesitar nos mais duros trabalhos; mas a mulher do

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saloon enverga-se com roupas kitsch, capazes de excitar com rapidez e eficiência aqueles homens reduzidos, na maior parte dos dias, à condescendente massagem dos solavancos da sela. A mulher é nestas intrigas um objecto do homem, e o cinema poucas vezes lhe concedeu uma preponderância de comando (só nos lembramos, como significativas excepções, do Rancho Notorious de Fritz Lang ou do Johnny Guitar de Nicholas Ray). Mas se o Oeste desta história, escrita por um francês e publicada em 1909 (numa altura em que o cinema pouco se atrevia a significativas longas metragens) não tem vaqueiros, nem cavalgadas, nem grandes manadas de gado; se não tem índios implacáveis para aqueles que tomam e desfiguram a sua terra; vai no entanto mostrar-nos, entre os símbolos que o cinema impôs, e assim mesmo de forma muito lateral, a paciência dos apanhadores de ouro num rio pouco generoso; e vai pôr em pleno centro o saloon e a sensação de impunidade do homem que se sabe distante da Justiça e não atingido pela sua Lei. O saloon do Bar dos Dois Caminhos concentra várias versões desta impunidade e da indiferença pelos valores morais instituídos numa sociedade tutelada por vigilantes da lei. O narrador da história observa e relata, sem ocultar a sua simpatia ou mesmo a sua apaixonada admiração por Vincent van Horst, o flamengo deslocado da Europa até ao ouro evasivo deste Oeste; que aproveita a impunidade de uma não vigiada distância para eliminar todos os que impedem a impulsiva consumação do seu «amor louco»; e se permite dar largas, com o favor de uma garantida impunidade, a contraditórias violências e estranhas meditações. A tolerância do narrador perante estes impulsos assassinos é explicada no texto com a recusa da razão perante os sentimentos:

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«Nunca hão-de ouvir-me censurar a este homem os seus crimes. Não tenho o olhar oblíquo e magoado de um pastor religioso, nem a fria unção de um moralista. Para começar, são coisas que não me dizem respeito; e também me parece abjecto censurar quem é responsável pelo meu bem, com o pretexto de ter sido responsável pelo mal dos outros.» E ainda: «O criminoso de prestigiado comportamento será sempre apoiado. O acto mais ilegal não deixa de levar-nos com ele se tiver nobreza, audácia, ou esse resto de fantasia que o distingue.» Este programa sentimental, e até mesmo estético, dá a O Bar dos Dois Caminhos um dos narradores mais amorais da literatura do princípio do século XX. O saloon desta história é gerido por uma mulher velha e gorda que cobra a três dólares as suas noites de amor com todos os que a solicitam, sem excluir delas o seu empregado adolescente; tem à volta jogadores, bebedores e uma ninfomaníaca esquelética com o rosto sulcado por cicatrizes e uma fealdade exemplar, incomodada por um ardor sensual que o seu marido não acalma; e que não hesita em aplacar a fúria do sexo com a inocente disponibilidade de um belo e muito jovem pobre de espírito. Tem sobretudo Vincent van Horst; o que arrasta ao centro da história os seus crimes de «amor louco» consumados com desumana determinação. «Há momentos em que já não sou eu», diz a mostrar-se sincero, «em que me transformo num animal enraivecido. Nada me pára. O obstáculo não me incomoda. São horas em que só o sangue fala.» Tudo isto vai conseguir que O Bar dos Dois Caminhos fuja, nesta terra de impunidades, à consagrada fórmula do «crime com castigo da lei»; haverá como seu sucedâneo outro crime, crime-resposta, crime-vingança, crime «barroco» (poderia cha-

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mar-lhe assim Herberto Helder), insensível às previsíveis formas da execução mortal; um castigo que pedirá a um tresloucado impulso imaginativas crueldades e surgirá tocado por um desvario paroxístico, com laivos pagãos acompanhados por cânticos de religiosidade cristã; um castigo com lugar merecido entre as negras criações da literatura1. * Foram muitos os Gilbert de Voisins, e com bom assento entre os nobres da França. Um deles, marquês de Villennes, foi guilhotinado num dos ajustes de contas da Revolução. Pelo casamento entrou na família Marie Taglioni, primeira a dançar La Sylphide (bailado anterior a Les Sylphides — o bem conhecido — que passeia por valsas de Chopin). Era filha de Filippo Taglioni, professor na Ópera de Paris que a impôs como primeira bailarina, apesar da sua falta de graciosidade, apesar da torção vertebral que tirava elegância à sua exibição «em pontas». Marie Taglioni, já desviada do esforço que às suas pernas magras os grands écarts exigiam, foi avó deste Gilbert de Voisins, o que teve como nome 1 Numa época em que Hollywood se mostrava atenta a todos os textos que pudessem inspirar-lhe filmes passados no seu Oeste distante da civilização urbana, a história de O Bar dos Dois Caminhos estava fora de todas as possibilidades de escolha porque esbarrava violentamente contra as severidades decretadas pelo Código Hays. Mas em 1972 o cinema francês lembrou-se dele e entregou-o em má hora a Alain Levent, um fotógrafo que também quis ser realizador, que nesta sua única longa metragem assinou um filme banal com a história transportada para o Canadá e a retorcer até à comédia as negras imaginações de Auguste De Voisins. Duas surpresas ainda se acrescentam a este mau cinema: ter sido escolhido o cantor Jacques Brel para interpretar, com muita distância da personagem de De Voisins, o forte e violento Van Horst; e ainda outra, por reconhecermos uma muito jovem Isabelle Huppert a interpretar Annie Smith.

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próprio um equívoco Marie Augustus. (Marie? A virgem cristã enfeitou piedosamente o nome de muitos De Voisins.) No entanto, quando se mostrou escritor publicado riscou-o da capa dos seus livros; e também dispensou o Augustus, para se apresentar resumido ao sobrenome ilustre, o que desde há muitas gerações se multiplicava com prestígio entre os membros da sua família — Gilbert de Voisins Nascido em 1877, marcado pelos requintes de uma educação pensada para ricos e nobres, frequentou ainda assim um liceu de Marselha; e não lhe faltou o cosmopolitismo de muitas viagens que a sua fortuna pessoal permitia, por vezes com o exotismo que um gosto dominante na época incitava. Por morte do pai, com vinte anos de idade foi conde. O jovem conde deixou Marselha e instalou-se em Paris, que lhe deu intimidades de prestígio como a de Claude Debussy e a de Pierre Louÿs; que lhe permitiu três anos depois ser escritor publicado: a mostrar-se poeta, ensaísta, mas sobretudo romancista. Em 1909 — depois de La Petite Angoisse (1900), Pour l’amour du laurier (1904) e Le Démon secret (1907) — De Voisins foi confortado pelo grande êxito de O Bar dos Dois Caminhos. Nessa mesma altura Victor Segalen, naqueles salões de Paris que foram verdadeiros bastidores da literatura e primeiros lugares dos seus anúncios, fazia alarde das suas teorias sobre o Exotismo, procurando desviá-lo da sua evidente função decorativa. Frédéric-Charles Bargone (como homem de letras, Claude Farrère) apresentou-os; e uma porção de interesses comuns aproximou-os. A memória dos que privaram com este De Voisins vêem-no grande, um pouco curvado, com olhos escuros e «perfurantes», e a partir de certa altura com uma longa barba castanha que lhe

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dava ao rosto quase feminino um diabolismo «à Dostoiévski». As fotografias acrescentam-lhe o peito exageradamente inchado, a tendência para se exibir de cotovelos afastados e mãos nas ancas, o olhar que enfrenta a objectiva com alguma afectação. O conceito de exotismo argumentado por Segalen afastava-se daquele que Auguste De Voisins procurava, um exotismo visual e à superfície das coisas, bem mais atento às suas exterioridades, encantado com o que ele podia dar de extravagante espectáculo. Segalen, esse, via-o com uma sensibilidade que procurava a compreensão interior da sua «distância». Quando De Voisins soube da vontade de Segalen em viajar até ao Oriente, não pôde conter um: «Posso ir contigo?» De Voisins dispunha de uma larguíssima riqueza material; oferecia-se para desviar trinta mil francos das suas rendas e financiar a expedição. Esta soma cobriria despesas comuns, cavalos, tendas, espingardas de caça. Para as despesas pessoais de Segalen também avançaria o necessário, mais tarde reembolsado sem obrigação de nenhum prazo. Segalen hesitava: — Meu amigo — disse-lhe então De Voisins com uma liberalidade tocada por alguma precaução, como ele próprio registou no Écrit en Chine — não vais, por certo, fazer disparates nem loucas despesas com aquilo que a viagem te mostrar de mais aliciante. Pensa que a Yvonne e o teu filho não devem ter dificuldades; pensa apenas no que te diz respeito, naquilo que queres; que vais fazer estritas despesas pessoais e ser sensato. Segalen, conformado com esta dependência material, partiu primeiro e chegou por viagem marítima a Pequim no dia 12 de Junho de 1909. Mas só a 5 de Julho, retido em Paris pelas cerimónias frívolo-culturais do lançamento de O Bar dos Dois Caminhos,

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De Voisins desembarcou em Tien-Tsin, depois de muitos dias de Transiberiano. Uma carta de Segalen a Claude Farrère diz-nos como viu o seu companheiro de viagem: «É um nobre ser, com algumas prosas que saberiam entusiasmar-te e com quem passamos delicadas noites a dizer, a ouvir ou a inventar palavras reunidas e ritmadas de acordo com a hora e o capricho.» Memórias posteriores de De Voisins foram mais profundas sobre Segalen: «Magro, seco, observador dos seus próprios gestos e das suas palavras, discreto até ao segredo, violento até à extrema injustiça, silencioso, quase amuado, e depois tagarela como uma criança. […] Irradiava inteligência, e o seu olhar míope revelava uma incansável e insaciável curiosidade por tudo o que era nobre, alto, puro e ao mesmo tempo singular, forte e misterioso. Eu nunca tinha visto, nem voltei a ver, um tão perfeito exemplo de homem possuído pela arte.» Uma viagem de oito meses, com as treze caixas da bagagem de De Voisins a serem arrastadas por carregadores em desafectos caminhos, fê-los passar (com paragens intermédias em muitos locais com nomes difíceis de reter) pela Manchúria (Julho de 1909), Pequim (Agosto de 1909), Chungking e Xangai (Janeiro de 1910) e Cantão (Março de 1910). Depois de um novo mês em Pequim, De Voisins regressou à França e Segalen tomou a decisão de se instalar durante um ano a dois passos da Cidade Proibida (a que lhe inspirou o romance René Leys). Nestas andanças, diferenças entre os dois homens alimentaram uma estimulante rivalidade. O Bar dos Dois Caminhos vendia-se bastante mais do que Os Imemoriais, o livro de Segalen publicado três anos antes, confronto que às vezes punha no ar um cordial incómodo. Ambos tomavam notas (comparadas) que

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serviriam de base a futuros livros «concorrentes»: o Briques et Tuiles de Segalen, o Écrit en Chine de De Voisins; o primeiro com textos cuidadosamente polidos, frases que corriam sem sobressaltos, uma observação das coisas sempre perturbada por um subtil mistério; o segundo com langores dignos de um fumador de ópio e tonalidades fim-de-século, cheio de velocidades, spleen e exóticos devaneios. As asperezas da viagem começaram a ter visíveis consequências na saúde de De Voisins. «Não invejo a saúde do Augustus», diz Segalen numa carta à sua mulher; «há nela muitas misérias, mas também muita coragem.» Segue-se uma referência a «síncopes», que parece evitar uma brutalidade maior, a que poderia sentir-se afirmando explicitamente «ataques de epilepsia». Uma relação que começou por ser protectora, com De Voisins a mostrar ao seu companheiro uma segurança de irmão materialmente desafogado na vida, teve uma inversão de papéis quando Segalen se transformou no dedicado vigilante de uma saúde frágil. De novo em Paris, De Voisins instalou-se na rua De Lisbonne; e Segalen, desde o seu regresso também viveu lá como seu hóspede. Houve um período de pouca actividade literária para ambos; mas em 1913, neste período sem letras impressas, De Voisins escreveu o argumento para O Festim da Aranha, o célebre bailado de Albert Roussel. Mas os encantos do Oriente eram irresistíveis. Em Outubro deste ano os dois partem de novo para a China. Segalen vai acompanhado pela sua cunhada, e todos participarão num esforço científico a que foi dado o nome «Mission Archéologique Segalen-Lartigue-Voisins» (este Jean Lartigue é o futuro almirante, morto em 1940 por uma desastrosa bomba dos bombardeamentos alemães).

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O seu destino é agora o Tibete. Um laborioso estudo de textos obscuros tinha-os feito prever a possível descoberta de túmulos e esculturas; trabalho arqueológico de máquina fotográfica em punho, também muito literário porque se enche de poemas (sobretudo o longo poema Tibete de Segalen) e prosas com uma visão lírica bastante menos seca do que as habituais redacções dos relatórios de arqueólogos. Mas aos quatro investigadores está reservada a grande surpresa do dia 10 de Agosto de 1914. «À hora em que o sol se escondia atrás da muralha do Tibete», conta De Voisins, «um missionário holandês, que por acaso encontrámos, perguntou-nos no mais pacífico e neutro dos tons: “Sabem que a Europa está a ferro e fogo?”». Este longínquo anúncio da Guerra de 14 decide o imediato regresso à França; De Voisins passará a integrar o Vigésimo Primeiro Regimento de Artilharia Colonial, reformado no ano seguinte por epilepsia; Segalen, médico com uma já esquecida carreira a bordo de navios, volta à medicina perto da frente de Dunquerque. Novos tempos de paz vão dar a De Voisins, não só La Conscience dans le mal (1921), um dos seus êxitos literários, mas outros romances como Le Jour naissant (1923), L’Absence et le retour (1928), Les Grands Voiliers (1930), La Vieille et ses trois (1934). Desde há muito apaixonado por Louise de Heredia, mulher de Pierre Louÿs, aproveita o divórcio que os separou para se casar com «o único amor da sua vida» (uma Louise tuberculosa que apenas terá mais cinco anos de vida). De Voisins-viúvo passa a ter à sua frente um tempo cheio de melancolias; escreve; aparece menos em sociedade mas vai todos os anos a Veneza juntar-se às

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celebrações de um curioso grupo, os membros do Clube dos Bigodes Compridos, escritores nostálgicos que se reúnem no Café Florian, onde «fumam charutos, sonham com Stendhal» — porquê? — «e prestam culto ao passado vivo». Em 1926, o Grande Prémio de Literatura da Academia Francesa pelo conjunto da sua obra só consegue dar-lhe sabores amargos; e como as memórias literárias e sentimentais da casa na rua De Lisbonne se fazem insuportáveis, muda-se em 1931 para a rua De Messine, onde morrerá a 8 de Dezembro de 1939. Com ele se extingue, em plena República Francesa, a aristocrática linhagem dos condes Gilbert de Voisins. A.F.

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capítulo primeiro

O aguaceiro acabava de fugir dali. No horizonte, um arco-íris desenhava a sua girândola fabulosa. O meu pai chamou-me: — Ó, meu grande imbecil; e se prestasses atenção ao trabalho, em vez de ficares a olhar para as nuvens? Eu estava na nossa casa, ao fundo do cercado dos póneis. Era a época em que o caminho-de-ferro do Norte, entre Skykomish e Tocoma, no extremo do Far West, estava a ser estendido até ao seu extremo, para lá de Idaho. — Ei!… Chega aqui! Há dezasseis anos, a minha mãe tinha sucumbido quando me trouxe ao mundo, e o humor do meu pai tinha-se mantido na mesma; quero dizer ríspido, tempestuoso, ou pelo menos estranho. — Vem cá!… E um pouco mais depressa! Nesse dia, o meu pai estava a irritar-se com pouco. Eu só me tinha esquecido de prender o cabresto da Tolinha, e a Tolinha tinha fugido. Apesar de eu ter reconduzido o animal à estrebaria, sem demoras nem acidente, o meu pai insultava-me. — Olha-me nos olhos, canalha! Olha para mim! Aproximei-me dele, mantendo preso pela rédea o Lobardo, um pequeno cavalo baio que eu ia levar ao ferrador. Olhei para o meu pai.

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— Baixa-me esses olhos, insolente! Baixei os olhos e encolhi os ombros. — O quê… o que é lá isso!… Tu… Praticou a sua má acção… E, por causa dela, três anos mais tarde não chorei quando soube da sua morte.

Georges Saruex, o meu pai, era um homem instruído e nalgumas coisas cavalheiro. Protestante do Jura, atravessara metade do mundo para fazer fortuna, embora só tivesse conseguido chegar a um desafogo medíocre. Sabia muitas coisas, sem dúvida. Se eu tivesse ficado ao pé dele, em vez de passear no vasto mundo, talvez fosse mais sábio, embora muito menos esclarecido. E também não teria dinheiro nenhum. Mas sejamos justos: o meu pai ensinou-me a olhar, a raciocinar e a sofrer. A natureza encarregou-se do resto, dotando-me de bons músculos. E depois, o que é que querem! Era uma casa intolerável! Preces de manhã, preces à noite, discursos, exortações, cânticos entoados ao longo dos domingos. Havia-os em excesso!… Sem contar as mil invectivas que terminavam com explosões de fúria. O grande inimigo do velho era o papa. Não sei o que é que o papa lhe tinha feito, mas o meu pai não deixava um dia acabar sem se mostrar violentamente contra ele, e em termos dos mais crus. E para lhe ser desagradável, sem dúvida, chamou-me Olivier! O nome do Cromwell! Que bonito nome: Olivier Saruex! Que belo nome para um protestante!

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Ah! O meu pai conhecia bem o Céu! Adivinhava os desígnios de Deus, previa os seus desejos… e que desgraça a nossa, se as previsões não se realizassem! Imagina-se isto?… A uma vida destas faltava encanto! O velho tratava os homens da herdade como cães, e o seu filho ainda pior. Bem podia falar-nos de Deus ao longo do dia, porque não conseguia fazer-nos amar essa força invisível, cruelmente inimiga do papa, e que tinha adoptado como único confidente um protestante jurassiano, emigrado no Far West.

Como eu encolhi os ombros, o meu pai praticou a sua má acção: cuspiu-me no rosto. Aos dezasseis anos já eu era de sangue quente. A coisa não tinha remédio. Dar um pontapé no rabo a rapazolas, puxar-lhes as orelhas, aceitava-se; mas cuspir no rosto de um homem de dezasseis anos!… Oh! Não! Não! Impossível! Agarrei na corda pendurada na sela do Lobardo e dei nas costas do velho uma chicotada; uma bela chicotada que lhe enfraqueceu o vermelho até ao pálido. O resto aconteceu com rapidez. O velho correu até à casa, trouxe de lá a Bíblia, uma bíblia coberta de notas que tinha pertencido à mãe da minha mãe, e fez sobre ela a grande jura de não mais voltar a ver-me durante a sua vida, ou de me partir a cara. É raro estas histórias serem úteis. — Eu não fazia tenções de ali permanecer. — Fui-me embora… Mas o velho, ao cabo e ao resto, dizia a verdade! Se não me partiu a cara, pelo menos não voltou a ver-me. Agora está

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morto e eu a escrever um livro; mas fui nessa manhã buscar um agasalho e dirigi-me à estação de caminhos-de-ferro, onde tinha amigos. A estação ficava a oito horas da nossa casa. Quando lá cheguei, a noite descia. O comboio acabava de entrar e ficaria ali parado durante a noite. Oh! Como tão bem me lembro dessa noite, que já estava pouco depois muito escura e diminuía a extensão da paisagem! Nenhum luar, poucas estrelas… Mal se via o caminho. E a sorte veio ter comigo. O homem que devia limpar a locomotiva estava bêbado. E como eu ali me encontrava, ajudei-o no trabalho; e como recompensa pedi-lhe que me transportasse no dia seguinte até aos estaleiros do assentamento da linha. Foi a minha primeira etapa. * Barracões, cabanas, botequins, carris amontoados, vagãos que serviam de lojas, uma porção de trabalhadores chegados daqui, dali e de acolá. Singular ajuntamento, na sua maioria malandrins; alguns homens decentes, muitos negros, e um assinalável número de imbecis e brutos. Ah! Se eles quisessem, se pudessem contar as suas aventuras… que espantosas histórias não seriam! Estávamos a cerca de oitenta e cinco milhas de Spokane Falls e a trezentos passos do Columbia, grande rio azul, príncipe de toda a paisagem. Desde há um mês eu ajudava a construir aquela maldita linha férrea, a contar que juntaria dinheiro. De tempos a tempos íamos até às margens do rio matar salmões com uma garrafa cheia por metade de cal viva; mas

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como era proibido fazê-lo, esfacelávamos-lhes o fundo da boca ou cortávamos as guelras para no mercado não haver marcas de que tinham sido pescados com métodos ilegais, em vez de apanhados com rede ou anzol. Logo no primeiro dia fui contratado. Inspiro confiança porque olho as pessoas no rosto; mas tenho realmente de dizer que o trabalho era duro para um rapaz com dezasseis anos de idade. Trabalhavam no caminho-de-ferro três mil operários. E como a região não era muito plana, avançávamos lentamente. Começávamos por fechar os buracos, tarefa do primeiro grupo; depois o segundo vinha pôr em ordem o trabalho e tornar o terreno plano; o terceiro assentava os carris; o quarto… mas isto não interessa porque eu pertencia ao segundo. Aqui um parêntesis porque convém, penso eu, descrever um pouco este Olivier Saruex de quem estou a falar. Olivier Saruex… Pois bem, imaginem um jovem muito delgado, muito seco, bastante vigoroso devido a uma força nervosa e nada mais, mas que me tornava resistente, apesar de um aspecto que me dava um ar quase enfezado. Eu não era alto, mas muito ágil. Com cabelo preto, sobrancelhas pretas e emaranhadas, olhos de um azul escuro que à noite parecia cor de tinta; uma boca móvel, com o maxilar muito delineado, belos dentes (o meu orgulho), a tez queimada, sangue logo debaixo da pele e sem um pêlo nas faces; mãos magras, braços magros, músculos pequenos e duros; com aperto forte quando estava em cima de um cavalo. Quanto à aparência, sei lá; é difícil dizê-lo, embora me pareça que devia ter um ar muito decidido

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e às vezes um tanto sonhador… Sonhador, sim… e a falar com voz suave e baixa. Estarão a ver-me? Ora, se um homem de rendimentos deve saber contar os seus lucros, um acrobata caminhar sobre as mãos e com a cabeça no chão, por ser esse o seu destino, um tipo de dezasseis anos por que terá de viver com a espinha curva, a pôr terra onde ela falta e tirá-la onde está a mais, quando a sua idade o autoriza a vaguear pelos bosques?… Não tenho, aliás, de ser recriminado… Quando penso nesta época da minha vida, ela parece-me distante ao ponto de lhe encontrar um interesse dramático, quase igual ao que sentimos pelo quinto acto de uma peça no dia seguinte ao da sua representação. No entanto, lembro-me como se fosse ontem da abominável fadiga que me deixava abatido no final de cada dia. De cair na cama e ser todo eu uma dor; de que bastava eu pensar numa parte do corpo, para ela de imediato me doer. Numa noite em que ainda mais enraivecido me sentia, decidi mudar de trabalho; e veja-se que ideia tive. Desta ideia continuo eu a orgulhar-me; primeiro, porque havia hipóteses de correr bem, e realmente correu (para benefício de outros, devo confessá-lo); e depois porque era filha de uma ambição prática, e não de um devaneio ideológico. Faltavam ao nosso campo muitas coisas; mas uma, em especial, fazia-nos muita falta. Podemos viver num deserto ou no cimo de uma montanha, mas é sempre agradável sabermos se o resto do mundo continua a estar no sítio que lhe pertence. Mesmo que nos fosse possível enviar cartas tão facilmente como o peixe do rio

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corre nas águas, ou fazermo-las sair dali através de trabalhadores de passagem que se dirigiam às minas ou às cidades, era o diabo de uma dificuldade recebermos notícias do exterior. Os imigrantes só dispunham de jornais com três semanas de atraso; e quando os barcos ali chegavam pelo Columbia só podiam trazer-nos, de acordo com as suas escalas, gazetas do tempo de Abraão. Num certo sábado à noite, um viajante que vinha a cavalo deu-me jornais do princípio daquela semana como retribuição de um qualquer pequeno serviço que eu lhe fiz. Consegui vendê-los a um dólar cada um. Um dólar! Cinco francos! Pensem lá bem! Isto fez-me reflectir, e não tardou que a ideia germinasse. Eu ia viver à custa da curiosidade pública. Se eu apertasse o ventre, suprimisse metade dos copos de uísque, nunca tocasse numa carta de jogar, chegaria a fazer economias que bastavam para alugar um cavalo. E depois de alugar o cavalo iria a Skykomish comprar jornais (eram três dias e meio de viagem); no regresso vendê-los-ia com lucro e dentro de seis meses teria os bolsos cheios! Não tardou que eu começasse a concretizar o meu projecto. Bastou-me dar um salto até à tasca. Quando o negro que servia se aproximou de mim, encolhi os ombros com um ar superior e saí da lá com dignidade, dizendo: — Hoje não tomo o meu uísque! Tinha enfrentado a tentação; tinha-a vencido… e significava um ganho de quatro cents… Mas olhem! Os nossos sonhos nunca prevêem o acidente!… No momento em que eu transpunha o limiar da porta da tasca, chegava a grande trote uma carroça. E tão absorto eu estava,

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que não soube afastar-me a tempo. Caí. A roda passou-me por cima do braço e o braço teve, sem qualquer espécie de dúvida, uma fractura… * Com dificuldade o confesso, mas garantidamente desmaiei; porque ao abrir os olhos percebi que estava deitado num pequeno quarto desconhecido. Inundado de sol; com um pássaro lá fora a cantar. Também me lembro, com essa forma vaga que é a lembrança dos sonhos, de ouvir muito perto de mim um riso leve. O que tinha acontecido? Tentei dar uma volta na cama. E fui parado por uma dor violenta. Ah! Sim!… O braço partido!… Não tardou que eu me lembrasse das minhas belas esperanças: o cavalo, os jornais!… Que desgraça! Houve mais risos. E alguém falava. Recuperei por completo os sentidos. — O quê! Não há nenhum problema! Mas será possível haver alguém tão piegas? Três horas desmaiado por causa de um braço partido! Debruçado sobre a minha cama, vi pela primeira vez o rosto do Vincent van Horst. Fiquem a sabê-lo! Podemos viver um grande número de dias e passar por mais de uma aventura; mas há factos, gestos, imagens, que nos habitam para sempre a memória. A primeira visão de Van Horst foi um desses momentos. Quando vi aquela bonita face tisnada pelo sol, a testa larga e cortada a direito de uma têmpora à outra pela linha do cabelo louro e

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liso, os olhos severos de um azul de louça, o nariz curvo e depois a pequena boca cruel, apoiada em maxilares de bruto, aquela boca espantosa, quase sem lábios (embora o pouco que se via fosse de um vermelho muito cru, ao ponto de parecerem lábios de uma ferida). Ah! Senti que aquele homem era um homem forte e podia merecer a minha confiança. Olhei para o Van Horst que me sorria de pé, ao lado da cama. Olhei bem para ele. Valia a pena… E aos poucos fiquei com mais consciência do desastre que era para mim aquele acidente. Chegava-me uma espécie de preguiça de alma muito estranha, e era preciso alguém libertar-me dela. Aos dezasseis anos, um braço partido nada é; mas um sonho desfeito é muito. Ora, este apoio que me faltava (o que outros encontram em Deus… mas nem sempre pensamos em dirigir-nos a tão grandes alturas), dava-me o Van Horst sem eu lho pedir. Por causa disto nunca hão-de ouvir-me censurar a este homem os seus crimes. Não tenho o olhar oblíquo e magoado de um pastor religioso, nem a fria unção de um moralista. Para começar, são coisas que não me dizem respeito; e também me parece abjecto censurar quem é responsável pelo meu bem, com o pretexto de ele ter sido responsável pelo mal de outros. Quando soarem as derradeiras trombetas, resolva sozinho os seus assuntos, que eu resolverei os meus. Com isto bem entendido, vou prosseguir.

Van Horst era quem estava na carroça; tinha sido ele a deitar-me abaixo. Fui a seu pedido transportado para um

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quarto da hospedaria, e quando despertei já o meu braço tinha passado pelos primeiros cuidados. — Vamos! Arranja lá outra cara menos infeliz! Sim, tens o braço partido. Mas isso cura-se. Vamos já tratar dele. Como é que te sentes? Trabalhavas nos estaleiros? Como te chamas? Não te preocupes. Vou pagar-te os dias perdidos, e um pouco mais pela tua dor. Combinaremos o preço. O quê! Armas-te em esquisito? Chama-me velhaco e desastrado, e não se fala mais nisso. Entre homens são coisas que devem ser rapidamente ajustadas. Vou ficar aqui alguns dias para te tratar. Agora… atenção!… Baixou até mim duas mãos enormes e sólidas; pesadas, endurecidas, assombrosas; mãos que pareciam grandes utensílios de carne. — Grita se te doer!… Grita com força!… Ainda mais!… Grita lá, imbecil! Oh! Que horrível impressão: dois ossos a serem postos no seu lugar, quando esses dois ossos nos pertencem! — Pronto! Acabou! Prestas para alguma coisa! Já vi homens portarem-se pior!… Bebe isto e fica sossegado. Tens um pouco de febre. Tinha-me ligado o braço como um cirurgião. Durante um momento olhou-me gravemente, do fundo dos olhos azuis; depois desatou a rir-se e foi-se embora dali deixando-me só, a olhar para as moscas no pequeno quarto de madeira clara. Durante esse dia não voltei a vê-lo. Pessoas que eu conhecia, vinham de vez em quando saber notícias minhas. Dormi mal, mas dormi. No dia seguinte o Van Horst reapareceu; cuidou das ligaduras e voltou a sair, depois de me dizer:

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O capitão Veneno, Pedro Antonio Alarcón Dona Guidinha do Poço, Manoel de Oliveira Paiva Visão invisível, Jean Cocteau A liberdade ou o amor, Robert Desnos A maçã de Cézanne… e eu, D.H. Lawrence O fogo-fátuo, Drieu la Rochelle Memórias íntimas e confissões de um pecador justificado, James Hogg Histórias aquáticas — O parceiro secreto, A laguna, Mocidade, Joseph Conrad O homem que falou (Un de Baumugnes), Jean Giono O dicionário do diabo, Ambrose Bierce A viúva do enforcado, Camilo Castelo Branco O caso Kurílov, Irène Némirowsky Nova Safo — tragédia estranha, Visconde de Vila-Moura A costa de Falesá, Robert Louis Stevenson Gaspar da Noite — fantasias à maneira de Rembrandt e Callot, Aloysius Bertrand Rimbaud-Verlaine, o estranho casal O rato da América, Jacques Lanzmann As amantes de Dom João V, Alberto Pimentel Os cavalos de Abdera e mais forças estranhas, Leopoldo Lugones Preceptores – Gabrielle de Bergerac seguido de O discípulo, Henry James O Cântico dos Cânticos – traduzido do hebreu com um estudo sobre o plano a idade e o carácter do poema, Ernest Renan Derborence, Charles Ferdinand Ramuz O farol de amor, Rachilde Diário de um fuzilado, precedido de Palavras de um fumador de ópio, Jules Boissière A minha vida, Isadora Duncan Rakhil, Isabelle Eberhardt Fuga sem fim, Joseph Roth O castelo do homem ancorado, Joris-Karl Huysmans Tufão, Joseph Conrad Heliogábalo ou o anarquista coroado, Antonin Artaud Van Gogh o suicidado da sociedade, Antonin Artaud Eu, Antonin Artaud A morte difícil, René Crevel A lenda do santo bebedor seguido de O Leviatã, Joseph Roth

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O Chancellor (Diário do passageiro J.R. Kazallon), Jules Verne Orunoko ou o escravo real (uma história verídica), Aphra Behn As Portas do Paraíso, Jerzy Andrzejewski Tirano Banderas (novela de Terra Quente), Ramón del Valle-Inclán Cáustico Lunar seguido de Ghostkeeper, Malcolm Lowry Balkis (A lenda num café), Gérard de Nerval Diálogos das carmelitas, Georges Bernanos O estranho animal do Vaccarès, Joseph d’Arbaud Riso vermelho — fragmentos encontrados de um manuscrito, Leonid Andreiev A morte da terra, J.-H. Rosny Aîné Nossa Senhora dos Ratos, Rachilde O colóquio dos cães incluído no Casamento enganoso, Miguel de Cervantes Entre a espada e a parede, Tristan Bernard A vida de Rembrandt (história a ir para onde lhe dá), Kees van Dongen Contos bravios, Emilia Pardo Bazán Os meus Oscar Wilde, André Gide As aventuras de uma negrinha à procura de Deus, George Bernard Shaw Meu irmão feminino — «Noites Florentinas», Marina Tsvietaieva Jean-Luc perseguido, Charles Ferdinand Ramuz O filho de duas mães, Edith Wharton A armadilha, Emmanuel Bove Um jardim na margem do Orontes, Maurice Barrès Erotika Biblion, Conde de Mirabeau A minha amiga Nane, Paul-Jean Toulet

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