«Júlio Pomar: Ver, Sentir, Etc. — Obras do acervo do Atelier-Museu Júlio Pomar»

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CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA

ATELIER-MUSEU JÚLIO POMAR

PRESIDENTE Fernando Medina

Directora, Curadora Sara Antónia Matos

VEREADORA DA CULTURA Catarina Vaz Pinto

Adjunto de Direcção Pedro Faro

DIRECTOR MUNICIPAL DE CULTURA Manuel Veiga

Conservação e Produção Sara Antónia Matos Pedro Faro Joana Batel

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA EGEAC Joana Gomes Cardoso Sofia Meneses Manuel Veiga

Comunicação e Assessoria de Imprensa Pedro Faro Investigação Sara Antónia Matos Pedro Faro Coordenação Editorial Sara Antónia Matos Serviços Administrativos Isabel Marques Teresa Cardoso Apoio ao Serviço Educativo Teresa Cardoso Atelier-Museu Júlio Pomar / EGEAC Rua do Vale, 7 1200-472 Lisboa Tel: + 351 215 880 793 www.ateliermuseujuliopomar.pt

Apoio / Parceria

CENTRO INTERPRETATIVO DO TAPETE DE ARRAIOLOS Responsável Técnico Rui Miguel Lobo Responsável pelo Serviço Educativo Carla Barroseiro Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos Praça do Município, n.º 19 7040-027 Arraiolos Tel: + 351 266 490 254 c.i.tapete@cm-arraiolos.pt www.tapetedearraiolos.pt


JÚLIO POMAR:

Ver, Sentir, Etc. Obras do acervo do Atelier-Museu Júlio Pomar

DOCUMENTA CADERNOS DO ATELIER-MUSEU JÚLIO POMAR

2019





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CENTRO INTERPRETATIVO DO TAPETE DE ARRAIOLOS Jorge Macau [Presidente da Câmara Municipal de Arraiolos]

Sendo o Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos um espaço museológico que tem como principais objetivos a promoção, divulgação, valorização e salvaguarda do Tapete de Arraiolos, não deixamos de ter bem presente a importância de valorizarmos outras expressões, outras técnicas, outras instituições e outros protagonistas da cultura portuguesa. E é fundamentalmente na realização de exposições temporárias que melhor se tem revelado essa nossa opção por uma vasta abrangência temática. Com a realização da exposição «Júlio Pomar: Sentir, Ver, Etc.» damos mais um importante passo nesse percurso. É com um enorme gosto e orgulho que nos associamos a um nome grande da arte portuguesa. Júlio Pomar deixou-nos uma marca de tamanha dimensão que será, porventura, o mais reconhecido e identificável artista português da contemporaneidade para uma larga franja da população portuguesa e uma referência incontornável. No seu longo e preenchido percurso artístico de sete décadas, Pomar deixou-nos uma obra fabulosa, principalmente na pintura, sem que se tenha deixado de aventurar, com reconhecido sucesso, na escultura ou na poesia. Todavia, o seu legado vai muito além da sua obra. Merece também o nosso apreço a sua intervenção cívica, o seu exemplo de cidadão comprometido com os valores da liberdade e a sua firme resistência ao Estado Novo. Por todas as razões referidas, muito nos honra a realização desta exposição no Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos e muito agradecemos a imediata disponibilidade e entusiasmo manifestados pelo Atelier-Museu Júlio Pomar.



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ATELIER-MUSEU JÚLIO POMAR Sara Antónia Matos [Directora e Curadora]

APRESENTAÇÃO O Atelier-Museu Júlio Pomar tem por missão conservar, divulgar e aprofundar o conhecimento da obra de Júlio Pomar nos seus diversos aspectos, fomentar a reflexão crítica e o debate em torno das artes e da cultura contemporâneas. A estrutura museológica integra um conjunto de equipamentos culturais do município de Lisboa que promove junto dos públicos um acesso às artes e à produção cultural. Desde Janeiro de 2015, o Atelier-Museu passou a integrar a rede de equipamentos culturais geridos pela EGEAC. Operando no domínio da arte contemporânea e procurando abarcar a pluralidade de expressões que constituem o seu corpus actual, o Atelier-Museu é palco de diversas exposições e eventos, procurando semear a liberdade do olhar, a postura crítica e a abertura que caracteriza o autor que lhe dá nome. HISTÓRIA E ENQUADRAMENTO DO PROJECTO ARQUITECTÓNICO Em 2000, a Câmara Municipal de Lisboa adquire um antigo armazém na Rua do Vale, na freguesia das Mercês, destinado a ser o atelier do artista e, mais tarde, museu a integrar a rede de estruturas museológicas do Município. O nome do equipamento que veio a ser criado – Atelier-Museu – , segundo um projecto de requalificação de Álvaro Siza Vieira, transporta a memória do programa fundador e adequa-se às características funcionais do espaço. De recorte austero e linhas depuradas, integrando-se discretamente na malha arquitectónica do bairro, o edifício, composto por dois pisos, apresenta um corpo central de área expositiva, duas reservas, zonas de serviço, escritório e recepção, escondendo um pátio exterior em seu redor por onde é feito o acesso dos visitantes. Dispõe ainda de um conjunto de equipamentos de auditório, com meios audiovisuais e capacidade para 60 lugares sentados, adaptável ao espaço e a cada situação pontual, permitindo a realização de conferências, lançamento de livros/catálogos e o acolhimento de outros eventos.


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PROGRAMA MUSEOLÓGICO E ACTIVIDADES COMPLEMENTARES Como lugar de especificidade e pólo de divulgação da obra de Júlio Pomar, o Atelier-Museu engloba um programa de exposições que procura dar conta da pluralidade técnica e temática da obra deste autor, reconhecido, por várias gerações, como um artista multifacetado. O acervo abrange um vasto conjunto de obras que não pode ser apresentado numa única mostra mas vai sendo exposto periodicamente, a par de um programa de actividades complementares, práticas e teóricas, que envolvem arquitectos, artistas, curadores, pensadores das diversas áreas e público em geral. Privilegiando o depósito, mas recorrendo também a obras emprestadas que se consideraram seminais na produção artística de Júlio Pomar, o programa expositivo abrange mostras parciais do acervo, antologias de desenho, ilustrações para obras literárias, artes decorativas, entre outras vertentes, que certificam a dimensão plural a que a sua obra está ligada. O Atelier-Museu acolhe também exposições de outros artistas, da sua e de outras gerações, nacionais e internacionais, emergentes e consagrados, propondo um diálogo com o espaço e com a obra de Júlio Pomar. ACERVO O Atelier-Museu Júlio Pomar conta com um acervo de várias centenas de obras, doadas pelo artista à Fundação Júlio Pomar e depositadas por esta no Atelier-Museu. A relevância deste acervo, que inclui pintura, escultura, desenho, gravura, cerâmica, colagens e assemblage, prende-se também com o testemunho histórico que envolve. O conjunto de obras que compõe o depósito mostra, talvez como nenhum outro no panorama das artes plásticas nacionais, o percurso de um artista que experienciou diferentes épocas, períodos e contextos políticos, absorvendo influências plásticas e, simultaneamente, quebrando-as. Assim, a um só tempo, este acervo constrói e integra em si uma parcela da história da arte, num arco temporal que vai do neo-realismo à completa assunção da modernidade, espelhando a conquista da autonomia artística e dos seus desenvolvimentos plásticos. Além das obras de arte, o acervo documental e bibliográfico referente ao artista é composto por centenas de imagens, livros e catálogos, artigos de jornal e outros registos históricos. Estes permitem enquadrar a obra do artista em cada época e contexto, e perceber o seu impacto estético e sociocultural. Considerando este domínio, o trabalho do museu envolve também o estudo e sistematização contínuos do acervo.


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PROJECTO EDITORIAL A fim de facultar ao público ferramentas de análise, o Atelier-Museu Júlio Pomar continua a apostar fortemente no seu projecto editorial, tendo editado até à data cerca de 27 publicações, entre as quais se destacam os catálogos e as entrevistas a artistas, nomeadamente a entrevista de fundo realizada, durante dois anos, ao pintor, com o título: O Artista Fala... Conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro [2014], e as entrevistas aos artistas/autores: Rui Chafes [2015], Julião Sarmento [2016], Pedro Cabrita Reis [2017], Alexandre Melo [2018] e Luisa Cunha [2019]. No que se refere ao projecto editorial, são de destacar ainda os três volumes dos textos críticos que o autor publicou entre 1942 e 2013, podendo pela primeira vez ter-se acesso à «Parte Escrita» da sua obra – a qual tem sido considerada por diversos pensadores tão importante quanto a parte plástica: Notas Sobre uma Arte Útil; Da Cegueira dos Pintores; Temas e Variações [2014]. PROGRAMA DE ITINERÂNCIAS Além das exposições que desenvolve no seu interior, o Atelier-Museu, em 2015, começou o seu programa de itinerâncias levando “portas fora” a obra de Júlio Pomar, tendo criado parcerias com várias instituições no sentido de levar a obra do autor a outras regiões do país, descentralizando-a assim da capital, Lisboa, onde o museu está sedeado. Neste âmbito enquadra-se a exposição «Júlio Pomar: Ver, Sentir, Etc.», com obras do acervo do Atelier-Museu Júlio Pomar, no espaço museológico do Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos, em Arraiolos, com quem foi um privilégio colaborar.



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VER, SENTIR, ETC.1 Júlio Pomar

É corrente ouvir perguntar: «Como hei-de eu ver este quadro – ou esta escultura? – Como hei-de eu sentir esta pintura ou esta estátua?» Notemos, desde já, que formular uma tal pergunta pressupõe uma boa vontade, uma capacidade de modéstia, que, nos tempos que vão correndo, me parece muito de louvar. Porque, dia e noite, se ouvem condenar as mais variadas coisas, sejam elas quadros ou esculturas, mesmo antes de qualquer modesta tentativa para o seu entendimento. E não é verdade que perante um quadro ou uma estátua aparece sempre, pelo menos, um cavalheiro que diz ter na família um primo que faz melhor, e mesmo muito melhor, que aquilo? Esta superabundância de primos e primas, valores ignorados, seria de fazer rir, se não implicasse, na verdade, coisas bem mais sérias – e bem mais tristes. Bem triste é, de facto, o espectáculo da ignorância – e bem mais triste é o da prosápia tola. Porque nada há mais fácil (e mais baixo) do que rir alvarmente e fazer a inteligência surda. O contentamento da própria ignorância é a atitude mais cómoda – e a mais abjecta. – Com ela se defrontaram sempre todos os artistas que o mundo lembra hoje – embora o seu lugar na história tenha sido pago, por vezes, pelo mais trágico preço. Lembremos Rembrandt, de quem hoje qualquer fala (embora lhe desconheça as obras), a braços com a miséria, incompreendido e troçado pelos seus contemporâneos. Lembremos Goya debatendo-se com os pavores da inquisição – ou Van Gogh, acabando pelas próprias mãos a sua curta vida. Falámos em capacidade de modéstia. Talvez esta seja uma das primeiras características do verdadeiro trabalhador intelectual, talvez seja esta uma das primeiras virtudes a conquistar por quem não queira andar no mundo por ver andar os outros. Só o néscio é que julga saber tudo, e por isso mesmo se desconhece a si próprio. Uma capacidade de modéstia. Hokusai, o velho japonês «louco de desenho», na quadra dos noventa, convictamente afirmando que aos cento e dez anos saberia enfim desenhar; ou Cézanne, quase na mesma idade, confessando que,

1 O presente artigo foi extraído de uma palestra, lida pelo autor numa sessão promovida pela Associação Académica da Faculdade de Ciências de Lisboa.


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finalmente, a pintura lhe começava então a abrir as portas, são exemplos altos a apontar aos que encontrando-se vazios, e desconhecendo o hábito honesto da investigação, apontam a dedo os «erros» de perspectiva de um Giotto ou de uma miniatura persa, riem depreciativamente do que lhes parece ser a «grosseria» de uma máscara negra, ou, depois de digerirem gostosamente as pernas de Betty Grable, se ofendem e falam de pornografia perante a nudez magnífica de uma estátua hindu ou de uma pintura de Modigliani. Creio que, se há alguma coisa incompatível com a arte, é a hipocrisia, e daí que esta seja a sua inimiga número um. São terrenos irredutíveis, porque no campo da arte é impossível andar sem ser de coração aberto. É impossível dar um passo se não nos munirmos de simpatia prévia pelo objectivo a alcançar, se não nos dispusermos a escutar, modesta e atentamente a sua mensagem. A faculdade de crítica só ganha raízes verdadeiras após o convívio longo com o objecto. Se queremos julgar os homens, temos de os conhecer primeiro. A obra de arte digna deste nome é sempre um retrato do homem em corpo inteiro, e na sua verdadeira altura. Nela cabe a razão fria e a força do instinto, nela se conjugam, passo a passo, o irracional e o racional, nela está inteiro, complexo e harmónico o cérebro que a criou. Os «girassóis» de Van Gogh não são apenas um pobre vaso com girassóis; como os bisontes de Altamira não são apenas a carne de que o troglodita se nutria. É toda uma experiência humana, um vento de amarguras e de esperanças, que dá a configuração das chamas às pétalas das flores de Van Gogh; é o desejo de subsistir levado até à ferocidade que dá às pinturas das cavernas a sua força misteriosa. Toda a obra de arte, a mais pequena obra de arte, é a visão sintética e apaixonada de um mundo, é uma parte, quanta vez angustiante, de nós próprios. É impossível arremessar o disco ou fazer voos à Codona se, previamente, não tivermos educado os músculos, a visão, o raciocínio, se o músculo, o nervo, a inteligência não trabalharem em uníssono. Do mesmo modo, dizia alguém, para o ouvido não musical a mais bela música não terá qualquer sentido. Do mesmo modo, diremos nós, para a visão não educada, do ponto de vista plástico, a catedral gótica ou o templo grego serão incapazes de despertar emoções profundas. Quer isto dizer que é necessária uma educação dos sentidos, para poder sentir a música ou as artes plásticas. E na base desta educação tem de estar uma lenta habituação do indivíduo ao espectáculo da arte. Tal educação não poderá jamais ser conquistada de um golpe, porque é impossível reduzi-la a meia dúzia de chaves. O curioso que se debruça sobre um quadro tem de perder a ilusão de que, mediante pequena explicação dada por alguém entendido no assunto, ficará de um jacto apto a entendê-lo. Poderá e deverá esse alguém entendido no assunto dar-lhe, na verdade, contribuição de valia. Poderá chamar-lhe a atenção para mui-


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tos aspectos que ignorava, poderá fazer-lhe ver o objecto sob uma luz nova; mas o que jamais poderá suprir será a necessidade do convívio contínuo, dessa lenta habituação à linguagem das formas, que nasce dia a dia do interesse vivido pela obra de arte – e este interesse mais não é, no fim de contas, do que o interesse do próprio homem em conhecer-se. Parece-me desnecessário frisar que tal habituação não poderá, em circunstância alguma, ser conquistada a frio; isto é, ela tem de partir, inevitavelmente, de uma forte curiosidade, de uma capacidade de amor, de um legítimo desejo de o indivíduo se conhecer cada vez mais a si mesmo e ao mundo que o rodeia, de uma decidida confiança no homem. E porquê? Porque a arte não é outra coisa senão um poderoso e apaixonado meio de conhecimento, uma forma superior de comunicação, um instrumento que o homem tem ao seu alcance na luta contra a alienação. A obra de arte digna desse nome é sempre um instrumento de progresso, é um testemunho de campos sempre novos arrancados pelo espírito às forças que o negam.

«Ver, sentir, etc.», in Vértice, Coimbra, vol. 11, n.º 95, Julho, 1951, pp. 360-362


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JÚLIO POMAR Estudo para O Mundo Desabitado De José Gomes Ferreira, 1960 Tinta-da-china sobre papel 35 × 25,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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JÚLIO POMAR Estudo para O Mundo Desabitado De José Gomes Ferreira, 1960 Tinta-da-china sobre papel 25,5 × 35 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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JÚLIO POMAR Casamento 1961 Xilogravura (duas cores) Mancha 25,7 × 37,7 cm / Papel 42 × 52,5 cm Ed. 8/30 Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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JÚLIO POMAR Casamento 1961 Técnica mista Mancha 37,5 × 54,4 cm / Papel 41,5 × 55,7 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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JÚLIO POMAR Martelo (e Três Frutos) 1991 Acrílico sobre tela 114 × 146 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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JÚLIO POMAR Cartilha do Marialva (Abécédaire du Marialva) 2005-2012 Acrílico, carvão e pastel sobre tela 146 × 230 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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BIOGRAFIA JÚLIO POMAR

Júlio Pomar, que nasceu em 1926 em Lisboa, frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e as Escolas de Belas-Artes de Lisboa e Porto, tendo participado em 1942 numa primeira mostra de grupo, em Lisboa, e realizado a primeira exposição individual em 1947, no Porto. Nesses anos, a sua oposição ao regime de Salazar acarreta-lhe uma estada de quatro meses na prisão, a apreensão de um dos seus quadros pela polícia política e a ocultação dos frescos com mais de 100 m2, realizados para o Cinema Batalha, no Porto. Permanece em Portugal até 1963, ano em que se instala em Paris. De uma obra que se prolonga por sete décadas, destaca-se, após o período inicial, dito neo-realista, as exposições «Tauromachies» e «Les courses» (Paris, 1964 e 1965); a participação numa mostra dedicada ao quadro de Ingres Le bain turc pelo Museu do Louvre (1971); as séries de pinturas Mai 68 (CRS SS) e Le bain turc (Lisboa); as exposições «L’espace d’Eros» (Bruxelas, 1978) e «Théâtre du corps» (Paris, 1979); «Tigres» (Paris, 1981 e Lisboa, 1982); «Um Ano de Desenho – Quatro Poetas no Metropolitano de Lisboa» (Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, 1984); «Ellipses» (Paris, 1984); e «Mascarados de Pirenópolis» (Madrid, 1988). No final da década de oitenta, uma estada no Alto Xingú, na Amazónia, está na origem das exposições: «Los Indios» (Madrid) e «Les Indiens» (Paris), em 1990, a que se segue «Pomar/Brasil», antologia organizada também pelo CAM e apresentada em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Lisboa. O Ministério da Cultura francês convidou Júlio Pomar a realizar um retrato de Claude Lévi-Strauss, que precedeu o do presidente Mário Soares para a galeria oficial do Palácio de Belém (1991). Seguiram-se as exposições «Pomar et la littérature» (Bélgica, 1991), «Fables et portraits» (Paris, 1994), sendo a temática ficcional retomada em «O Paraíso e Outras Histórias» (Lisboa, 1994), e «L’année du cochon ou les méfaits du tabac» (Paris, 1996). A presença da Amazónia reaparece em «Les joies de vivre» (Paris, 1997) e «Les Indiens – Xingú 1988-1997» (Biarritz). A série La chasse au Snark é mostrada em Paris (1999) e em Nova Iorque (2000).


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Mostrou «Pinturas Recentes», inéditas em Portugal, em Aveiro (2000), e em 2002 «Os Três Efes – Fábulas, Farsas e Fintas» em Lisboa, a que se sucedem «Trois travaux d’Hercule et quelques chansons réalistes» e «Méridiennes – Mères indiennes» (Paris, 2002 e 2004); «Fables et fictions» (Tunísia, 2004), que se prolonga em «A Razão das Coisas», assemblages e bronzes, na Casa de Serralves, no Porto (2009, depois itinerante). Em 2004, apresenta uma exposição antológica no Sintra Museu de Arte Moderna – Colecção Berardo a que deu o nome «Autobiografia», e as décadas recentes da obra de Júlio Pomar foram mostradas no Centro Cultural de Belém, sob o título «A Comédia Humana». Em 2008, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, incluiu numerosas assemblages inéditas na mostra «Cadeia da Relação». Em 2009 expôs «Nouvelles aventures de Don Quixote et trois tristes tigres» (Paris), e em 2012-2013 «Atirar a albarda ao ar» na Cooperativa Árvore, Porto, e Galeria 111, em Lisboa. Além da obra de pintura, desenho, escultura, cerâmica, gravura, etc., Júlio Pomar escreveu Catch: thèmes et variations, Discours sur la cécité du peintre, Et la peinture? (Éditions de la Différence, Paris, 1984, 1985 e 2000), os dois últimos traduzidos por Pedro Tamen com os títulos Da Cegueira dos Pintores (Imprensa Nacional, 1986) e Então e a Pintura? (Dom Quixote, 2003), e duas colectâneas de poesias, Alguns Eventos e TRATAdoDITOeFEITO (Dom Quixote, 1992 e 2003). Júlio Pomar instituiu, em 2004, uma Fundação com o seu nome, reunindo uma colecção com cerca de 400 obras em pintura, escultura, desenho, gravura, serigrafia e artes decorativas, da sua autoria, que depositou no Atelier-Museu Júlio Pomar – o qual abriu as portas ao público, a 5 de Abril de 2013, com uma exposição centrada na colecção que a sua Fundação depositou no acervo do Atelier-Museu. No ano de 2013, já com o Atelier-Museu em pleno funcionamento, foi atribuído ao artista o grau de Doutor Honoris Causa, pela Reitoria da Universidade de Lisboa. E em 2014, como forma de reconhecimento pela cooperação da Câmara Municipal de Lisboa e pelo trabalho do Atelier-Museu/EGEAC, faz uma nova adenda à doação para acrescentar um número significativo de obras de arte à colecção em depósito no museu, alargando assim as suas possibilidades de trabalho. Faleceu com 92 anos de idade em Maio de 2018, em Lisboa.



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JÚLIO POMAR Navio Negreiro (Vaisseau négrier) 2005-2012 Acrílico, carvão e pastel sobre tela e dobradiças 146 × 230 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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JÚLIO POMAR Caderno de Desenhos «15, Louvre, Musée de l’Homme, Paris, 1960» 1960 Marcador e esferográfica sobre papel 32,5 × 25,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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JÚLIO POMAR Caderno de Desenhos «15, Louvre, Musée de l’Homme, Paris, 1960» 1960 Marcador e esferográfica sobre papel 32,5 × 25,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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JÚLIO POMAR Caderno de Desenhos «15, Louvre, Musée de l’Homme, Paris, 1960» 1960 Marcador e esferográfica sobre papel 25,5 × 32,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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JÚLIO POMAR Caderno de Desenhos «15, Louvre, Musée de l’Homme, Paris, 1960» 1960 Marcador e esferográfica sobre papel 25,5 × 32,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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JÚLIO POMAR Caderno de Desenhos «15, Louvre, Musée de l’Homme, Paris, 1960» 1960 Marcador e esferográfica sobre papel 25,5 × 32,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu



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LISTA DE OBRAS EM EXPOSIÇÃO Estudo para O Mundo Desabitado De José Gomes Ferreira, 1960 Tinta-da-china sobre papel 35 × 25,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu

Auto-retrato 1991 Grafite sobre papel 33,4 × 37,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu

Estudo para O Mundo Desabitado De José Gomes Ferreira, 1960 Tinta-da-china sobre papel 25,5 × 35,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu

Martelo (e Três Frutos) 1991 Acrílico sobre tela 114 × 146 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu

Duplo Auto-retrato do Artista 2012 Acrílico, carvão e pastel sobre tela 115 × 148 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu

Casamento 1961 Técnica mista Mancha 37,5 × 54,4 cm / Papel 41,5 × 55,7 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu

Auto-retrato 1946 Grafite sobre papel 37,5 × 21,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Auto-retrato s.d. Grafite sobre papel 21 × 13,3 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Auto-retrato 1968 Grafite sobre papel 31,5 × 23,8 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu

Casamento 1961 Xilogravura (duas cores) Mancha 25,7 × 37,7 cm / Papel 42 × 52,5 cm Ed. 8/30 Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Cartilha do Marialva (Abécédaire du Marialva) 2005-2012 Acrílico, carvão e pastel sobre tela 146 × 230 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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Le chateau 1976 Serigrafia a 9 cores Mancha 111 × 76,3 cm / Papel 119,5 × 80 cm Ed. 100 + 30 PA Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Rouge 1976 Serigrafia a 6 cores Mancha 111 × 76,3 cm / Papel 119,5 × 80 cm Ed. 100 + 30 PA Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu La chambre noire 1976 Litografia Mancha 76,3 × 111 cm / Papel 80 × 119,5 cm Ed. 100 + 30 PA Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Le corps jaune 1976 Serigrafia a 8 cores Mancha 76,3 × 111 cm / Papel 80 × 119,5 cm Ed. 100 + 30 PA Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu La couleur 1976 Serigrafia a 3 cores Mancha 76,3 × 111 cm / Papel 80 × 119,5 cm Ed. 10/30 Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu

Graça Lobo, em vermelho, com um perfil desenhado a lápis 1973 Acrílico sobre tela 162 × 114 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Navio Negreiro (Vaisseau négrier) 2005-2012 Acrílico, carvão e pastel sobre tela e dobradiças 146 × 230 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Três Negras com Cargas à Cabeça 1959 Tinta-da-china sobre papel 34,6 × 24,7 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Casal de Negros 1959 Tinta-da-china sobre papel 34,6 × 24,7 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Negra 1959 Tinta-da-china sobre papel 34,7 × 20 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Caderno de Desenhos «15, Louvre, Musée de l’Homme, Paris, 1960» 1960 Marcador e esferográfica sobre papel 32,5 × 25,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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Caderno de Desenhos «15, Louvre, Musée de l’Homme, Paris, 1960» 1960 Marcador e esferográfica sobre papel 32,5 × 25,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Caderno de Desenhos «15, Louvre, Musée de l’Homme, Paris, 1960» 1960 Marcador e esferográfica sobre papel 25,5 × 32,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Caderno de Desenhos «15, Louvre, Musée de l’Homme, Paris, 1960» 1960 Marcador e esferográfica sobre papel 25,5 × 32,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Caderno de Desenhos «15, Louvre, Musée de l’Homme, Paris, 1960» 1960 Marcador e esferográfica sobre papel 25,5 × 32,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Retrato de Camponês (Évora) 1945 Óleo sobre cartão colado sobre tela 42 × 34 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Estudo para o Ciclo Arroz 1953 Têmpera sobre aglomerado 27 × 27,5 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu

Estudo para o Ciclo Arroz 1953 Tinta-da-china sobre papel 31 × 29,9 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Estudo para o Ciclo Arroz 1953 Tinta-da-china sobre papel 31 × 22 cm Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Ciclo Arroz II 1954 Linogravura Papel 52 × 36 cm Ed. Autor, Lisboa Ex. 2/30; ass., dat. Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu Ciclo Arroz III 1954 Linogravura Papel 29,2 × 21,5 cm Ex. n.n.; ass., dat. Colecção Fundação Júlio Pomar / Acervo Atelier-Museu


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Colecção CADERNOS DO ATELIER-MUSEU JÚLIO POMAR / DOCUMENTA Caveiras, Casas, Pedras e uma Figueira | 2014 Júlio Pomar, Álvaro Siza Vieira, Luís Noronha da Costa, Fernando Lanhas Textos de Sara Antónia Matos, Delfim Sardo Notas Sobre uma Arte Útil – Parte escrita I (1942-1960) | 2014 Júlio Pomar Edição de Sara Antónia Matos, Pedro Faro Da Cegueira dos Pintores – Parte escrita II (1985) | 2014 Júlio Pomar Tradução de Pedro Tamen; introdução de Sara Antónia Matos; organização de Pedro Faro Tratado dos Olhos | 2014 Júlio Pomar Textos de Sara Antónia Matos, Paulo Pires do Vale, Catarina Rosendo Temas e Variações – Parte escrita III (1968-2013) | 2014 Júlio Pomar Apresentação e organização de Sara Antónia Matos, Pedro Faro O Artista Fala… Conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro | 2014 Júlio Pomar, Sara Antónia Matos, Pedro Faro Fotografias de Luísa Ferreira Incandescência – Cézanne e a pintura | 2015 Tomás Maia Apresentação de Sara Antónia Matos Edição & Utopia – Obra gráfica de Júlio Pomar | 2015 Textos de Sara Antónia Matos, Maria Teresa Cruz, Pedro Faro Júlio Pomar e Rui Chafes: Desenhar | 2015 Textos de Sara Antónia Matos, João Barrento, Maria João Mayer Branco Rui Chafes: Sob a pele | 2015 Conversas com Sara Antónia Matos Rui Chafes, Sara Antónia Matos

Prémio de Curadoria 2015 – AMJP/ EGEAC | 2016 Projecto curatorial de Maria do Mar Fazenda, Vários artistas Textos de Sara Antónia Matos, Maria do Mar Fazenda Decorativo, Apenas? – Júlio Pomar e a integração das artes | 2016 Textos de Júlio Pomar, Sara Antónia Matos, Catarina Rosendo O Museu como Veículo de Desenvolvimento Crítico e Social | 2016 Textos de Sara Antónia Matos, Liliana Coutinho Fotografias de Teresa Santos Julião Sarmento: O Artista como ele é | 2017 Conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro Julião Sarmento, Sara Antónia Matos, Pedro Faro Void*: Júlio Pomar & Julião Sarmento, Vol. I | 2017 Textos de Sara Antónia Matos, Alexandre Melo, Pedro Faro Void*: Julião Sarmento – Dirt, Vol. II | 2017 Textos de Sara Antónia Matos, Alexandre Melo, Pedro Faro Void*: Júlio Pomar – Obras destruídas, Vol. III | 2017 Textos de Sara Antónia Matos, Alexandre Pomar Estranhos Dias Recentes de um Tempo Menos Feliz Prémio de Curadoria 2016/17 – AMJP/ EGEAC | 2017 Projecto curatorial de Hugo Dinis, Vários artistas Textos de Sara Antónia Matos, Hugo Dinis, José Neves, Carmo Sousa Lima, Alexandre Quintanilha, Miguel Vale de Almeida, Tiago Castela


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Júlio Pomar e Cabrita Reis – Das pequenas coisas | 2017 Júlio Pomar, Cabrita Reis Texto de Sara Antónia Matos Cabrita Reis: A voragem do mundo | 2017 Conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro Cabrita Reis, Sara Antónia Matos, Pedro Faro Júlio Pomar: O pintor no tempo | 2017 Irene Flunser Pimentel Apresentação de Sara Antónia Matos Táwapayêra | 2017 Dealmeida Esilva, Igor Jesus, Júlio Pomar, Tiago Alexandre Textos de Alexandre Melo, Pedro Faro, Sara Antónia Matos Chama | 2018 Júlio Pomar, Rita Ferreira, Sara Bichão Texto de Sara Antónia Matos O Que Pode a Arte? 50 Anos do Maio de 68 | 2018 Projecto curatorial de Nuno Crespo, Hugo Dinis, Vários artistas Textos de Sara Antónia Matos, Nuno Crespo, Hugo Dinis, Daniel Ribas, Mariana Pinto dos Santos Alexandre Melo: Cúmplice dos artistas | 2018 Conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro seguido de uma conversa com João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira – Rádio Quântica Alexandre Melo, Sara Antónia Matos, Pedro Faro, João Pedro Vale, Nuno Alexandre Ferreira Júlio Pomar: Obras no espaço público | 2018 Textos de Sara Antónia Matos, Pedro Faro

Luisa Cunha: O material não aguenta | 2018 Conversas com Sara Antónia Matos, Pedro Faro e Hugo Dinis Luisa Cunha, Sara Antónia Matos, Pedro Faro, Hugo Dinis Muitas Vezes Marquei Encontro Comigo Próprio no Ponto Zero Prémio de Curadoria 2018 – AMJP/ EGEAC | 2019 Projecto curatorial de Marta Rema, Vários artistas Textos de António Guerreiro, Joaquim Oliveira Caetano, Maria de Fátima Lambert, Marta Rema, Sara Antónia Matos Júlio Pomar e Luisa Cunha: O material não aguenta | 2019 Júlio Pomar, Luisa Cunha Textos de Sara Antónia Matos, Manuel Castro Caldas, Pedro Faro



EXPOSIÇÃO

CATÁLOGO

Artista Júlio Pomar

Coordenação Sara Antónia Matos Pedro Faro

Curadoria Sara Antónia Matos / Pedro Faro Produção Atelier-Museu Júlio Pomar Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos Montagem Daniel Fernandes Joris Dalle Design Gráfico Paula Prates

Textos © Jorge Macau © Sara Antónia Matos © Júlio Pomar Design Gráfico Paula Prates Fotografias © António Jorge Silva / AMJP © Audiovisuais CMA © Fundação Júlio Pomar © Luísa Ferreira Revisão Atelier-Museu Júlio Pomar Helena Roldão / Documenta Tiragem 800 exemplares Depósito Legal 462194/19 Impressão e Acabamento Maiadouro © Atelier-Museu Júlio Pomar, 2019 © Sistema Solar Crl. (Documenta) 1.a Edição, Outubro de 2019 ISBN 978-989-8902-97-9



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