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SANTA RITA PINTOR polémicas e controvérsias
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ana bailão carlos silveira fernando cabral martins fernando rosa dias guilherme floro de santa rita joão macdonald joão mendes rosa luís de barreiros tavares luís leite luís lyster franco marta soares raquel henriques da silva sofia marçal
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SANTA RITA PINTOR polémicas e controvérsias coordenação fernando rosa dias
D O C U M E N TA
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aPoio À edição cieba – centro de investigação e de estudos em belas-artes museu da guarda academia nacional de belas-artes
© sistema solar, crl (documenta), 2019 rua Passos manuel, 67 b, 1150-258 lisboa textos © os autores 1.ª edição, deZembro 2019 isbn 978-989-9006-20-1 na caPa: santa rita Pintor, fotografia de Pedro lima, em PORTUGAL FUTURISTA, 1917 na contracaPa: santa rita Pintor, RETRATO DE VIOLINISTA ou CABEÇA, c.1912 revisão: miguel Pereira dePÓsito legal 465708/19 imPresso na acd Print rua marquesa d’alorna, 12-a (bons dias) 2620-271 ramada Portugal
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ÍNDICE
introdução fernando rosa dias
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INTRODUÇÕES A SANTA RITA PINTOR santa rita Pintor na historiografia da arte portuguesa raquel henriques da silva
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Passageiro clandestino: a recepção percepção exótica de santa rita Pintor nos anos 10 e 20, e uma singularidade madrilena joão macdonald
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o grande iniciador fernando cabral martins
SANTA RITA PINTOR NA ACADEMIA o jovem santa rita enquanto aluno de belas-artes sofia marçal .
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santa rita Pintor: aspectos visuais da sua obra luís lyster franco .
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avaliação do estado de conservação da pintura de santa rita Pintor pertencente à faculdade de belas-artes da universidade de lisboa ana bailão
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santa rita estudante de arte em Paris: a ruptura com a academia carlos silveira
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SANTA RITA PINTOR E O FUTURISMO santa rita Pintor: Abstracção congénita intuitiva (matéria-força) – uma pintura esquecida; seguido de um extra-texto de Orpheu 2 – face a face luís de barreiros tavares
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cabeças, afias e radiografias: à volta dos hors-textes de santa rita marta soares .
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obra e autor: as existências concomitantes em santa rita Pintor joão mendes rosa .
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afinal o que foi e quem estava na sessão futurista? fernando rosa dias
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DEPOIMENTOS, ENTREvISTAS, INTERvENÇÕES entrevista: memórias familiares de santa rita Pintor e de augusto santa rita e leituras da Cabeça futurista .............................
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guilherme floro de santa rita
depoimento: santa rita Pintor luís leite
o regresso do Orpheu: lisboa (santa rita Pintor); seguido de breves reflexões em torno de Abstracção congénita intuitiva (matéria-força) de santa rita Pintor josé leite
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SANTA RITA PINTOR: BIOGRAFIA fernando rosa dias
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INTRODUÇÃO fernando rosa dias
«o único futurista declarado, que até agora entre nós tem aparecido, sou eu.» santa rita Pintor, in República, 4 maio de 1916
guilherme de santa rita (que, no caso e em rigor, deve sempre ser escrito sem hífen), também conhecido como «guilherme Pobre» ou «adivinhão latino», ficou para a história da arte portuguesa como santa rita Pintor. mas é essa mesma história da arte que tem tido dificuldades em trabalhar e descodificar a sua complexa figura, de lhe encontrar sentidos que não se envolvam de imediato com dúvidas ou, sobretudo, com polémicas. se o seu enquadramento é recorrentemente estabilizado no futurismo, por culpa do próprio artista, que mais que uma vez assim se assumiu, isso não bastou para fornecer estabilidade nem orientação ao seu entendimento. os factores são vários, como a escassa informação e a pouca obra que chegou até nós, escassez que, paradoxalmente, concentra um excesso de díspares interpretações, que antes de estabilizarem sentido se envolvem num novelo de significações e hipóteses, como se desenvolveu logo nas imediatas narrativas póstumas; ou também a carência de instituições e investigadores em assumirem tanto o fascínio como o risco de o estudar e expor, não evitando assim o facto de o seu legado ser um dos mais perturbadores para a historiografia da arte mais vanguardista de Portugal, e onde o seu modernismo mais se arriscou. de facto, sendo sempre referido como figura central nos momentos mais épicos das vanguardas do primeiro modernismo português, portanto sempre lembrado, a verdade é que estudos específicos sobre o autor e a sua obra têm escasseado, como se fosse também, e paradoxalmente, um artista esquecido. no fundo, este aparente paradoxo, diz-nos que tem sido quase como um tabu ou maldição da nossa história da arte, um peculiar caso historiográfico, que nos coloca entre o fascínio e a perturbação, como se a história no esforço de exercer-se, facilmente (ou fatalmente) resvalasse para a lenda ou o mito. nestas hesitações, a verdade é que, ultrapassados já mais de cem anos da sua morte, nem em vida, nem postumamente, se realizou uma exposição individual de santa rita Pintor ou a ele dedicada1. 1 embora se destaquem os esboços das homenagens de rui mário gonçalves na exposição Pioneiros da Arte Moderna Portuguesa (1976), uma exposição evocativa no âmbito do congresso internacional da aica, na sociedade nacional de belas-artes, com destaque a santa rita Pintor na arte portuguesa. com esforço mono-
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este livro é o resultado de dois dias de conferências, debates e de uma exposição artística e documental, que decorreram na faculdade de belas-artes da universidade de lisboa, nos dias 3 e 4 de maio de 2018. o evento pretendeu homenagear e discutir a polémica figura de santa rita Pintor, decorridos cem anos do seu falecimento, a 29 de abril de 1918. o referido evento foi constituído por uma exposição bibliográfica na biblioteca da faculdade de belas-artes e outra na academia nacional de belas-artes, com obras e documentação desta instituição e da faculdade de belas-artes, mais algumas curiosidades de colecções privadas, com obras e documentos até então pouco vistos ou mesmo inéditos em exibição pública. esta exposição, com curadoria de ana bailão e liliana cardeira, partiu de ideia e organização geral de fernando rosa dias. Por razões de segurança e logística, funcionou apenas através de visitas guiadas e marcações prévias. se a organização pertenceu à faculdade de belas-artes da universidade de lisboa, com naturais articulações com o seu centro de investigação (cieba), estes trabalhos contaram com a colaboração da academia nacional de belas-artes, do instituto de história da arte da faculdade de ciências sociais da universidade nova de lisboa e do centro de estudos de teatro da faculdade de letras da universidade de lisboa. o evento foi ainda integrado no âmbito do ano europeu do Património cultural. tal evento significou um regresso de santa rita Pintor à escola e à academia de belas-artes, com as quais esteve directamente relacionado durante cerca de 1/3 da sua vida. e esta nota biográfica coloca santa rita em mais um curioso paradoxo, como um caso marcante de um dos artistas que mais assumiu a radicalidade da vanguarda, sobretudo futurista, e que, contudo, teve um percurso académico muito completo na escola de belas-artes. aos conferencistas e outros especialistas que na data não puderam estar connosco, foram solicitados os textos e ensaios que constituem este livro. tal como nesse evento, este livro pretende ser um conjunto plural de ensaios, com novas abordagens, informações, reflexões e discussões em torno da particular importância de santa rita Pintor na história da arte portuguesa. assim, o livro aborda questões várias que marcam a sua figura tão mítica e polémica, como até marginal, em torno de várias problemáticas que o envolvem: a sua relação com a escola e a academia; as suas polémicas enquanto bolseiro, com o envio de uma cópia da Olympia de manet ou o conflito com joão chagas, ministro republicano de Portugal em Paris, que levou à suspensão das bolsas; o seu reivindicado futurismo, com as suas blagues gráfico, a pequena exposição de obras e documentação organizada por fernando rosa dias e com curadoria de ana bailão e liliana cardeira, nos cem anos da morte de santa rita Pintor, na faculdade de belas-artes e na academia de belas-artes, em lisboa (3 e 4 de maio de 2018) e a homenagem organizada por joão mendes rosa, no âmbito do salão de outono do museu da guarda (7 novembro de 2018 a 8 janeiro 2019) que juntou um conjunto de obras, e que culminaria na criação de uma sala santa rita Pintor poucos meses depois.
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e provocações; os seus envolvimentos em Orpheu e na edição de Portugal Futurista, esta praticamente apreendida à saída da gráfica; a sessão futurista com almada negreiros que é caso único na sua dimensão extremamente precursora na história da performance (se é este o termo justo) em Portugal; a polémica da atribuição e identificação da mais famosa cabeça cubo-futurista da arte portuguesa (que diogo de macedo indicou ter como título Retrato de Violinista), que se sabe que o amigo manuel jardim trouxe postumamente de Paris como sendo uma pintura de santa rita Pintor; a destruição da sua obra plástica, sobretudo a de vanguarda, deixando um vazio provocatório ao seu entendimento póstumo, entre outras. santa rita Pintor, numa vida curta mas fulgurante, deixou mais polémicas para discutir que obras de pintura para interpretar. como novo paradoxo herdado, a sua obra sobrevivente é quase toda da fase académica, conhecendo-se a maioria da sua obra vanguardista por reproduções de época, a partir do n.º 2 de Orpheu (1915) e de Portugal Futurista (1917). mas toda esta e a restante, que estava nas mãos da família, seria destruída pelo irmão de santa rita Pintor, o poeta augusto de santa rita, a pedido do próprio pintor antes de falecer – embora tudo indique que essa produção não seria muita. dela pouco sobreviveria, mas destaca-se o referido Retrato de Violinista, colecção do estado, hoje no museu de arte contemporânea do chiado, que o seu amigo, o pintor manuel jardim, trazia de um barbeiro de Paris como sendo de santa rita – obra única, grande e solitário ícone das vanguardas portuguesas, com a qual, na época, só a melhor pintura de amadeo de souza-cardoso consegue dialogar, mas também com pouco paralelo no cubo-futurismo internacional (de que faz boa síntese com o seu hibridismo estético). a obra está em actualizado acerto na espantosa síntese que faz das vanguardas actuantes em Paris por volta de 1912, protagonizadas através do cubismo e do futurismo 2. a pintura dificilmente será anterior, mas também não poderá ser muito posterior (sempre antes de 1914, ano do regresso de santa rita de Paris), sendo para nós este ano de 1912 uma adequada probabilidade para o início da sua execução. a pintura Orpheu nos Infernos, reproduzida em Portugal Futurista, é certamente obra que foi realizada ainda na fase académica, embora com grande probabilidade retocada depois, revelando particular marcação expressionista que, para nós, excede esse enquadramento escolar, mesmo sendo um estudo (e disso sabia o pintor ao reproduzi-la na revista, cerca de uma década depois da sua primeira execução). esta pintura sobrevivia por pertencer então ao conde de monsaraz, encontrando-se hoje em colecção particular. 2 era questão de debate a partir de várias exposições, sobretudo em Paris, de que destacamos: a exposição do pintores futuristas na galerie bernhaim-jeune em fevereiro de 1912, Le Salon des Indépendants de março a maio de 1912, Le Salon de la Section d’Or em outubro e o Salon d’Automne que abriu também no mesmo mês.
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durante a referida sessão de homenagem dos 100 anos do falecimento de santa rita Pintor, que organizámos na faculdade de belas-artes, e que está na base deste livro, fomos contactados no âmbito da existência de três desenhos inéditos seus. os desenhos teriam per tencido a josé campas, companheiro de santa rita Pintor na escola de belas-artes de lisboa, que fez parte do grupo que teve as bolsas suspensas, e depois ao antiquário américo francisco marques, tendo sido as suas filhas a contactar-nos. os desenhos, que entretanto já foram expostos no museu da guarda e que reproduzimos na parte documental, são diferentes e estabelecem diferentes articulações com o percurso de santa rita Pintor. um deles apresenta estudos de um modelo feminino, que tem paralelo em outros trabalhos conhecidos que chegaram até nós do pintor. outro é um rosto fantasmagórico ou espectral, que remete para memórias de outro quadro sobrevivente, apresentado por joaquim matos chaves como O Louco, mas que foi reproduzido na revista Serões com o título O Monstro Quasimodeo, acompanhando poema de santos vieira (Hybernal ) 3, mas também permitindo aproximações a figuras da pintura Orpheu nos Infernos. mais fascinante, o terceiro desenho, parece um estudo para Orpheu nos Infernos, ou um esboço de uma das ambiciosas figurações delirantes de santa rita em quadros que imaginou e que nos chegaram apenas em descrição. uma espécie de figuração emerge no topo sobre uma figura que sonha ou delira um imaginário figurativo que sobre ela se desenrola. a figura lembra a que sonha na famosa gravura de goya El Sueño de la Rázon Produce Monstruos (c.1799), da série Caprichos, mas aqui supomos ser uma espécie de auto-retrato de santa rita, sendo possível associá-lo através do perfil e também do barrete que lembra o que era usado por santa rita, enfiado na cabeça até aos olhos, e com o qual foi fotografado duas vezes. imaginamos santa rita a delirar pinturas, tornando-as mais imaginadas e performativas que reais, num domínio total do artista sobre a obra visual, que a expõe como ideia, mas que não a realiza. um aspecto a colocar em diálogo com toda uma obra que afinal foi pouco concretizada e em grande parte destruída. na verdade conhecem-se várias dessas pinturas imaginárias. raul leal deixaria a memória do «sonho pictural O Papão» «que este grande artista pretendia exprimir nos jerónimos [no tecto do mosteiro dos jerónimos em lisboa], em vários frescos terrìvelmente alucinantes, do que só peias burocráticas o impediram»4. «guilherme santa-rita queria representar em abstracto, isto é, na sua expressão abstracta, não figurativamente, todo o mundo infernal, verdadeiro peso astral, mais diabólico do que divino, que os nossos heroicos navegadores julgavam espraiar-se além do cabo bojador e, depois, do cabo das tormentas, 3
Serões, lisboa, n.º 55, janeiro 1909.
4 raul leal, «o abstraccionismo trágico de artur bual», in Tempo Presente, lisboa, n.º 25, maio 1961, pp. 21-25.
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mundo realmente alucinante que muito os aterrava, antes de conseguirem ultrapassá-lo, mas que os atraía também abìsmicamente, contra ele investindo então com desmedida audácia super-humana, plena de heroísmo predestinadamente messiânico»5. este delírio algo megalómano, como o desejo de pintar um ciclo miguelangelesco de frescos no mosteiro dos jerónimos que consideramos ter paralelo na mesma «astralidade convulsionante» de Orfeu nos Infernos, mas a desfigurar até à abstracção «astral», de «coloridos informes» e com «forte impressão alucinatória»6, ou ainda, de vir a ser «conferente» e «director de museus» no contexto duma desejada restauração da monarquia7. confidenciava ainda a sá-carneiro o projecto de enviar um escandaloso quadro destinado ao salão de belas-artes de lisboa, intitulado Portugal, com polémica mais política no destaque dado à bandeira monárquica portuguesa, mas com uma curiosa intenção artística. numa das partes do quadro «vê-se uma mulher olhar pela janela pensando no filho que partiu. mas não se vê essa mulher nem os olhos dessa mulher. mas sabe-se que ela olha…»8. outro quadro de que apenas temos a descrição representaria um «W.c.». santa rita situava o desejo de mostrar mais o que se sabe enquanto se imagina, num aparente delírio visual que descreve, do que o que se vê, com curiosos intentos meta-representativos. estes delírios visuais de obras ambicionadas só nos chegaram através de uma escrita mnemónica e indirecta que emergiu de uma directa apresentação oral de santa rita Pintor, e que foi uma espécie de delirante ekphrasis performativa de obras visionárias que nunca chegariam a existir. consideramos a questão determinante para entender a pouca existência de quadros de santa rita Pintor e apontamos o terceiro desenho como uma autorrepresentação de um destes actos de imaginação pictórica em ekphrasis performativa. contudo, essa ausência de obra artística é uma herança difícil, que tem alimentado tanto a mitificação como a polémica da sua obra, como também algum ostracismo, sem exposições individuais em vida nem nos cem anos depois da sua morte, além de uma carência de monografias, destacando-se o esforço de joaquim matos chaves. enquanto se aguarda o mais recente trabalho (no prelo) de joão macdonald, considera-se esta edição mais particular, menos monográfica, lançando antes vários e diferentes focos sobre santa rita Pintor. Portanto, o propósito deste livro não é o de realizar uma pesquisa específica em torno da biografia artística de santa rita Pintor, mas o de colocar em diálogo vários especialistas que trabalharam a sua obra, segundo focos ou abordagens, em geral e fatalmente proble5
Idem.
6 cf. raul leal; «as tendências orfaicas e o saudosismo», in Tempo Presente, lisboa, n.º 5, setembro 1959. 7 ver carta de mário de sá-carneiro a fernando Pessoa, de 10 dezembro 1912. cf. mário de sá-carneiro, Cartas Escolhidas, vol. i, lisboa: Publicações europa-américa, pp.113-117. 8 Idem.
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máticos. Salvaguardados com estes princípios a orientar os textos, houve uma gestão da diversidade de autores e das respectivas abordagens à obra de Santa Rita Pintor, aceitando-se a riqueza dessa multiplicidade de perspectivas. Integrando essa pluralidade, este livro organizou-se em partes que estruturam os textos pelas suas abordagens: uma primeira parte avaliando a recepção e o lugar historiográfico da figura de Santa Rita Pintor; uma segunda parte sobre a sua fase académica e os primeiros anos de Paris; uma terceira em torno da sua fase futurista. Segue-se outra parte com entrevistas e depoimentos de familiares de Santa Rita e uma parte final com uma biografia do artista, acompanhada com iconografia e reproduções de obras e textos. Esta organização dos conteúdos procurou assim acentuar a diversidade dos textos, dos estilos e das interpretações em redor da obra e da figura de Santa Rita Pintor, com a plena consciência de que este é um trabalho sempre inacabado. Quando estávamos nos trabalhos de edição soubemos que foi encontrado um desenho assinado no acervo da ANBA, certamente uma das obras que o artista enviou como bolseiro de Paris em finais de 1910. A redescoberta de Santa Rita não termina aqui. Mas que este livro seja, no presente, um devido contributo.
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SANTA RITA PINTOR BIOGRAFIA fernando rosa dias
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1889 • Guilherme augusto Cau da Costa de santa rita nasce no dia 31 de outubro às 3h20, na residência dos pais situada na rua de d. estefânia, n.º 20, 2.º, Lisboa. ficaria conhecido para a história da arte portuguesa como santa rita Pintor. • filho de Guilherme augusto de santa rita, oficial do Ministério das obras Públicas, escritor e também deputado, e de Palmira Cau da Costa de santa rita. • É baptizado a 25 de dezembro do mesmo ano na igreja Paroquial de são Jorge em Lisboa. Teve por padrinho o avô materno, o Conselheiro augusto César Cau da Costa (que legalmente se fez representar pelo filho Júlio César Cau da Costa), e por madrinha nossa senhora, tocando na imagem em seu nome d. Maria da Madre de deus Pessoa de amorim Cau da Costa. • Teve seis irmãos: dois rapazes, augusto e Mário, ambos poetas, e quatro raparigas, Guilhermina, octávia, amélia e Beatriz. 1901 • faz o exame do curso de instrução Primária elementar de 2.º grau a 13 de agosto. • a 15 de outubro solicita matrícula/inscrição no 1.º ano do Curso Geral de desenho da escola de Belas-artes de Lisboa, que foi imediatamente diferido. • Por motivo de doença não efectuou nenhuma cadeira nesse ano. 1902 • a 14 de outubro volta a requerer matrícula no mesmo curso e no mesmo 1.º ano. • Tem morada na rua de santa ana à Lapa, n.º 80, em Lisboa. 1903 • Matricula-se no 2.º ano do Curso Geral de desenho da escola de Belas-artes de Lisboa. • na 21.ª exposição anual dos Trabalhos dos alunos da escola de Belas-artes de Lisboa, relativa ao ano lectivo de 1902-1903, apresenta três provas de exame e um estudo (n.º 41 e n.º 42 de catálogo). 1904 • a 10 de outubro solicita matrícula no 3.º ano do Curso Geral de desenho. • Tem morada na rua das flores, n.º 85, residência do seu tio Júlio.
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1905 • na 22.ª exposição anual dos Trabalhos dos alunos da escola de Belas-artes de Lisboa, relativa ao ano lectivo de 1903-1904, apresenta três provas de exame (n.º 53 de catálogo). É premiado com menção honrosa pelos valores obtidos nos seus exames finais. • a 12 de outubro solicita matrícula no 4.º ano do Curso Geral de desenho. em nota do diferimento é indicada a «falta do exame de francês». 1906 • na 23.ª exposição anual dos Trabalhos dos alunos da escola de Belas-artes de Lisboa, relativa ao ano lectivo de 1904-1905, apresenta quatro provas de exame e estudos (n.º 81 e n.º 82 de catálogo). • Termina o 2.º ano de Língua francesa na escola elementar do Comércio de Lisboa, com 11 valores. • a 8 de outubro solicita matrícula no 1.º ano do Curso especial de Pintura Histórica. • Terá sido neste ano, e no âmbito dos trabalhos de Pintura Histórica, que trabalhou no tema Orfeu nos Infernos. 1907 • na 24.ª exposição anual dos Trabalhos dos alunos da escola de Belas-artes de Lisboa, relativa ao ano lectivo de 1905-1906, apresenta cinco provas de exame e estudos (n.º 79 e n.º 80 de catálogo). • a 11 de novembro solicita matrícula no 2.º ano do Curso especial de Pintura Histórica. • Poderão ser deste ano os trabalhos em torno de O Remorso de Nero, no âmbito de Pintura Histórica. existe um esboceto, talvez incompleto, que foi retalhado com uma navalha por santa rita Pintor. a peça foi oferecida ao condiscípulo saavedra Machado (1887-1950) que coseu a tela e depois a ofereceu a Henrique de Vilhena (1879-1958). 1908 • em acta do Conselho escolar Mensal da escola de Belas-artes de Lisboa de 12 de fevereiro, Veloso salgado «participa que o aluno santa rita foi dispensado de frequencia por motivos de doença, propondo que lhe abonem as nove faltas que deu durante a doença. foi aprovado.» • em abril entra em conflito com o bibliotecário da escola, tal como indica a acta de 1 de Maio do Conselho escolar Mensal da escola de Belas-artes de Lisboa: «foi por fim lida uma carta do alumno do 2.º ano de pintura histórica, santa rita, queixando-se da maneira incorrecta como foi tratado pelo bibliotecário d’esta escola. o Conselho resolveu que o sr. director fizesse sentir ao primeiro a falta de correcção dos termos da sua carta, e ouviu o bibliotecário sobre o incidente, manifestando-lhe que seria punido legalmente se se repetissem as queixas feitas ao Conselho».
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santa rita Pintor, Orfeu nos Infernos, c.1906, óleo sobre tela, 55 × 65,5 cm, col. particular.
esta pintura já era conhecida por reprodução a preto e branco nas páginas de Portugal Futurista (1917, p. 7), que vinha acompanhada da seguinte inscrição: «este quadro, intitulado “orfeu nos infernos”, foi pintado aos 14 anos de edade por santa rita Pintor, ao tempo estudante da escola de Belas-artes de Lisboa. Ha a notar, na composição do trabalho, a introdução de elementos, como aeroplanos, de todos inarmonicos perante um conceito clássico do tema, sendo notavel tambem a fisiognomia mefistofelica da obra, expressa entre outras cousas, pelo facto rebelde de Veloso salgado, então professor do artista, ser por este colocado entre as personagens do seu inferno». o músico ruy Coelho, amigo de santa rita em Paris e depois em Lisboa nas tertúlias futuristas, deixaria memórias sobre a execução deste quadro: «Quando estudante na escola de Belas-artes em Lisboa, o professor mandou-o, um dia, pintar um quadro subordinado ao tema Orfeu no Inferno. santa-rita começou o seu trabalho. Pouco tempo depois, o professor passou junto do aluno, olhou para o trabalho e reparou que santa-rita
empregava tintas cor-de-rosa. Voltando-se, surpreendido, disse-lhe que um inferno assim cor-de-rosa era impossível. santa-rita fitou o professor, perguntou-lhe: “de que cor é o inferno?” Claro, que o professor não lhe pôde dar resposta». (ruy Coelho, «Histórias da Música – santa-rita, pintor», in Diário de Notícias, Lisboa, 30 Junho 1980). Parece indubitável que a obra foi realizada em fase escolar. Propomos que foi realizada no ano lectivo de 1906-1907, quando santa rita Pintor começou o Curso especial de Pintura Histórica, sendo também provável que tenha sido depois retocada, tal como indica alguma diferença de toque e espessura da mancha, sobretudo na mancha branca, que interfere num mundo quase monocromático de vermelhos e negros, com pequenas marcações a verde. Pelas dimensões a obra já não poderá ser um esboceto, mas corresponderá ainda ao estudo que antecede a versão final, que não terá sido realizada. a pintura fazia parte da Colecção do Conde de Monsaraz, amigo de santa rita Pintor, e que se sabe ter assistido à sessão futurista de 1917. apareceu em 1995 em leilão, pertencendo hoje a uma colecção particular.
santa rita Pintor – Biografia
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• a 15 de Julho, Henriqueta de Castro, filha do político do partido congressista José Luciano de Castro, escrevia a Columbano uma carta em que solicitava: «dizem-me que depende de V. ex.ª a classificação final dum rapaz santa ritta, que deseja ir ao estrangeiro com a pensão Valmor. Venho pois, pedir-lhe se fazia tudo quanto pudesse para que o meu protegido conseguisse o que deseja» (Occidente, n.º 148, agosto 1950). • É premiado no 8.º Concurso do Prémio ferreira Chaves, relativo ao ano 1907-1908. • É premiado no 13.º Concurso do Prémio Lupi com o desenho Fauno do Cabrito. • Concorre ao 25.º Concurso do Prémio anunciação, relativo ao ano de 1907-1908, com a pintura de uma vaca, não sendo premiado. • a 17 de outubro solicita matrícula no 3.º ano do Curso especial de Pintura Histórica • Trabalha para as provas de exame final de Pintura Histórica em torno do tema Oedipo e Antigone. • Terá pintado O Monstro Quasimodeo (reproduzido na revista Serões logo em Janeiro do ano seguinte) e Estudo de Modelo Feminino ou A Velha. 1909 • em acta do Conselho escolar Mensal da escola de Lisboa de 1 de Março, Veloso salgado, «como o aluno santa rita esteve doente e lhe faleceu um irmão [Mário santa rita], pede, em virtude do 3.º art. 15 do regulamento, que lhe sejam abonadas as faltas do mês de fevereiro. • a 5 de agosto é passada uma declaração médica informando que santa rita «não soffre de doença alguma que o impeça de frequentar a escola de Belas-artes de Paris». • a 29 de Maio solicita atestado comprovativo de conclusão do Curso Geral de desenho e do segundo ano do Curso especial de Pintura, para «concurso ao pensionato do estado no estrangeiro como estudante de Bellas artes». • em carta assinada de 22 de Junho candidata-se a admissão para «matricular-se no concurso de pintura histórica, como pensionista do estado no estrangeiro». • entre Junho e setembro pede várias declarações necessárias ao processo de pensionato: de registo criminal, de doença e da situação militar. • Concorre ao 26.º Concurso do Prémio anunciação relativo ao ano de 1908-1909, não sendo premiado. • a 27 de agosto é aprovado no exame de Pintura Histórica do 3.º ano com 15 valores. • Trabalha para a prova de bolseiro da academia em torno do tema Sansão e Dalila. 1910 • expõe na «exposição de Provas escolares dos alumnos de Bellas-artes» de Lisboa, inaugurada a 21 de fevereiro, sabendo-se que apresentou a prova de exame final de Pintura Histórica com o tema Oedipo e Antigone, que teria destaque e reprodução na Ilustração Portugueza (n.º 210, 28 fevereiro 1910, p. 278).
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santa rita Pintor, Fauno do Cabrito, 1908 (desenho premiado no 13.º Concurso do Prémio Lupi), carvão e grafite sobre papel, 60,5 × 44,5 cm, col. Museu do Chiado – MnaC. santa rita Pintor, Oedipo e Antigone, exame final da escola de Belas-artes de Lisboa [original desaparecido], «a exposição das provas escolares do alumnos de Bellas-artes», in Ilustração Portugueza, Lisboa, n.º 210, 28 fevereiro 1910, pp. 276-278. santa rita Pintor, esboceto para Oedipo e Antigone, c. 1909, óleo sobre tela, 31 × 40 cm [localização desconhecida].
Chegou até nós o esboceto para Oedipo e Antigone que santa rita Pintor executou como prova de final de curso. a pintura final será a que foi reproduzida a preto e branco na Ilustração Portugueza de 28 de fevereiro de 1910, permitindo datar a execução do esboceto e da obra final entre 1907 e 1909. a obra representa Oedipo depois de cego, a ser conduzido no seu
exílio para fora de Tebas por antígona, sua filha. a composição geral pouco se altera do estudo para a composição final, mantendo algum destaque para a natureza que envolve o caminho. as figuras avançam para o plano do observador seguindo uma pequena estrada que se afunda em sentido contrário desse avanço, fornecendo uma relativa profundidade ao espaço.
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santa rita Pintor, O Monstro Quasimodeo ou Louco, 1908, 57 × 48 cm, col. particular. ilustração para santos Vieira («Hybernal»), in Serões, n.º 55, Janeiro 1909. P.
217 santa rita Pintor, esboceto para Sansão e Dalila, 1908, 31,5 × 39,5 cm, óleo sobre tela, col. MnaC – Museu do Chiado. santa rita Pintor, Sansão e Dalila, 1908-1909, óleo sobre tela, 96 × 120,5 cm, Prova de Bolseiro, col. fBaUL.
apresentada por Joaquim Matos Chaves como Louco, a pintura foi originalmente reproduzida a preto e branco na revista Serões (n.º 55, Janeiro 1909) com o título O Monstro Quasimodeo, acompanhando poema de santos Vieira («Hybernal»). esta reprodução também nos permite aproximar a data e a leitura da inscrição como sendo obra de 1908, afastando a proposta pouco provável de 1901 apresentada por Matos Chaves. a pintura não deixa de
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manifestar um dramático estado emocional, um pathos trágico ou de irrupção da demência que permite aproximações à figura de sansão nas pinturas Sansão e Dalila de datas próximas e concebidas nos últimos anos do percurso académico. Podendo ser um quadro inacabado, considerando a zona inferior onde as manchas se interrompem antes de conceber partes da figura, tal cria um particular efeito expressivo que acentua a força de irrupção da figura.
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Chegou até nós tanto o esboceto como o trabalho final de Sansão e Dalila, tema da prova de bolseiro para Paris, ganha por santa rita Pintor que foi candidato único. se o esboceto já era conhecido, a pintura final foi revelada mais recentemente a partir da sistematização e estudo do acervo da faculdade de Belas-artes da Universidade de Lisboa. o esboceto pertencia à academia de Belas-artes de Lisboa, tendo sido doado e incorporado no Museu do Chiado em 1955. a composição assume em baixo ao centro a figura desesperada de sansão, enquanto dalila faz a mediação com o lado esquerdo de onde espreitam os soldados que entram pela
porta (visíveis no estudo maior). no lado direito domina o espaço contribuindo para algum aprofundamento da especialidade e isolamento da figura de sansão. o centro está nessa figura de sa nsão em primeiro plano e na expressão da sua alienação. a figura, que no estudo maior apresenta para nós curiosas semelhanças com o próprio perfil de santa rita Pintor (e aceitamos aqui também a proposta que nos foi apresentada pelo nosso colaborador nesta edição João Macdonald, de ser o irmão Mário santa rita, falecido na data, talvez mesmo entre o esboceto e o trabalho final), é uma exploração do irrompe r do desespero e da demência.
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• Por despacho de 15 de Março de 1910 é-lhe concedida a bolsa para Paris da academia de Belas-artes de Lisboa, o «unico concorrente ao pensionato de Paris» desse ano com os trabalhos de pintura em torno do tema Sansão e Dalila. fez contrato em 30 de Março. • santa rita Pintor chega a Paris como bolseiro da academia em finais de abril ou inícios de Maio, tendo-se apresentado na Legação de Portugal em Paris a 2 de Maio. • Tem morada em Paris na 19 rue des saints Pères. • desde 30 de Maio trabalha com Jean Paul Laurens (1838-1921) em atelier que este dirige na academie Julian, 35 rue du dragon, tal como este indica em declaração de 10 de dezembro, que santa rita Pintor coloca a acompanhar o material que envia no âmbito dos trabalhos de bolseiro. • está presente numa festa de natal da comunidade portuguesa em Paris. ao lado de santa rita estavam nomes como Homem Cristo filho, José Pacheko, José Campas, eduardo Viana, f. Lobo, francis smith, Manuel Bentes, domingos rebelo, armando Basto, afonso ferraz (arq), o brasileiro Colin (Manuel Mendes, Dordio Gomes, Lisboa: editorial sul, 1958, pp. 84-85; ver ainda memórias de Homem Cristo filho, Diário de Lisboa, 24 de fevereiro de 1926). • Concebe e envia trabalhos de bolseiro para a academia de Belas-artes de Lisboa, constando, em carta datada de 30 de dezembro que acompanha as obras, a seguinte lista: uma importante cópia da Olympia de Manet, uma Cabeça de Velho, 2 desenhos a esfuminho e 6 croquis. segundo saavedra Machado, seu colega e amigo, santa rita Pintor tentou mais tarde apoderar-se das obras para as destruir (Átomo, n.º 36, 30 dezembro 1950, p. 4). 1911 • santa rita Pintor envia carta à academia de Belas-artes de Lisboa, datada de 10 Janeiro 1911, em que recusa a falta que lhe é atribuída (não é clara essa «falta»). • o escultor diogo Macedo narraria que teria conhecido santa rita Pintor pouco depois da sua chegada a Paris, quando, no Museu Carnavalet, na capital francesa, ouviu «de repente uma algazarra estranha, francês e chárábiá, uns gritos anormais e um borborinho de acontecimento». alguém dizia: «É um português. o Pintor santa rita!» santa rita Pintor tinha-se sentado no cadeirão de Voltaire e o guarda do museu tentava levantá-lo. explicaria santa rita aos presentes: «Perdão, senhores! É que, como todas as forças físicas, morais e intelectuaes, por meio de injecção ou do simples contacto, segundo afirma scientificamente o doutor Tal (e citou um nome exquisito, arrevesado), hoje se conseguem como que por milagre, eu sentei-me ali, a ver se o génio de Voltaire, atravez da cadeira…» (Diário de Lisboa, 21 abril 1921). • em carta de 15 de Maio indica que passou a habitar no Boulevard saint Michel.
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Carta de 30 de dezembro de 1910, de santa rita Pintor à anBa, com a lista de obras enviadas no âmbito dos trabalhos de bolseiro: «Tenho a honra de enviar a V. ex. conforme manda o regulamento de 18 de dezembro de 1902, nos termos do art.º 135, os seguintes estudos: Uma cópia [de] “olympia” por Manet (museu do Louvre), uma cabeça de velho [velha?] (óleo), dois desenhos a esfuminho e seis croquis.
Junto remeto a V. ex. dois certificados, um do professor com quem estudo, e outro (…) Paris, 30 de dezembro de 1910» segue-se em anexo um certificado datado de 10 dezembro 1911 de Jean Paul Laurens afirmando: «Je certifie que M. santa-rita, demeurant à Paris, 19 rue des st. Péres, travaille régulièrement depuis le 30 Maio 1910 dans l’atelier que je dirige à l’academie Julian, 35 rue du dragon.» [arquivo anBa]
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santa rita Pintor, Cópia de Olympia, 1910, óleo sobre tela, 131 × 191 cm, col. anBa. santa rita Pintor, Menelau e Pátroclo, grafite sobre papel, 1910, 62 × 47 cm, col. anBa.
a cópia da obra de Manet foi o principal trabalho realizado no âmbito das obrigações de bolseiro. em carta escrita em Paris, em 30 de dezembro de 1910, santa rita Pintor envia como trabalho de bolseiro uma cópia da Olympia por Manet (Museu do Louvre), uma Cabeça de Velho [Velha?] (óleo), 2 desenhos a esfuminho e 6 croquis. se a cópia não era estranha a provas de bolseiro, a apresentação de uma cópia de Manet ainda era inédito entre os bolseiros portugueses. a aproximação a Manet deverá justificar-se a partir da amizade de santa rita com Manuel Jardim, que fizera
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parte dos modernistas que partiram para Paris entre 1905 e 1906 e cuja obra era muito marcada pela influência do pintor francês. apesar de ter sido considerado por rui Mário Gonçalves e Joaquim Matos Chaves uma cópia de Veloso salgado, seu mestre na escola de Belas-artes de Lisboa, o desenho Menelau e Pátroclo deverá ter sido realizado por santa rita no atelier de Jean Paul Laurens, que também tinha sido frequentado por Veloso salgado, e terá feito parte das peças que enviou de Paris para a anBa como bolseiro.
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FUTURISTAS O SUICÍDIO DO POETA SÁ-CARNEIRO a uma meza da Brasileira com Santa Rita pintor
o suicídio de sá-Carneiro, numa casa da rua Massé, em Paris, não deixou de ser até hoje um mistério, que interessa quantos, seguindo de perto, o movimento literário entre nós, conheciam o poeta e as suas excentricidades estéticas, que são os de toda uma escola de jovens bárbaros, com tenda de campanha armada ás mesas da pacata Brasileira, do Chiado e no restaurant dos irmãos Unidos. e dêsse mistério sofri todo o poder irresistível de tentação, ainda ontem, passando á porta do café, e descobrindo lá dentro, só, por acaso só, scismando sobre uma chícara da casa, onde fumegava o café, aquêle simpático santa rita pintor, que é no cenaculo boémio dos paúlicos uma figura tão fortemente individualisada… como na rua, onde ninguém, vendo-o, deixará de fixar para sempre a sua figura, toda de negro, óssea, de cabeleira aza de corvo, o que lembra aquêles cercueils ambulants, de que Murger falava, ironisando. Porque não havia eu de apurar de santa rita pintor o segredo do triste fim do poeta? nêsse intuito me aproximei da chícara do café sobre que o seu olhar profundo, esgazeado, mergulhava, scismando… – aterra-me! aterra-me falar para o público! – objectava o famoso artista futurista. Uma interview é de resto, para a minha sensibilidade uma coisa implicativa. desculpe, amigo, mas eu não posso falar… Por fim santa rita pintor, decide-se. e diz: – sá-Carneiro, no meu modo de vêr, era um suicida-nato… Personalidades absurdas. A técnica de viver. Influencias deletérias sobre o espírito de Sá-Carneiro. Sá-Carneiro acha num triste atelier de Montparnasse a alma gémea da sua. e reparando no meu espanto, tornou:
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– Com efeito, nem êle tinha outro modo de resolver a sua personalidade, tão complexa e absurda, neste mundo onde essa pobre natureza, por atavismo condenada, nunca se compreendera. Lembra-me ter-lhe sempre ouvido falar no suicidio como a unica fórmula a aplicar no seu caso. não se trata de um péssimista vulgar, creia. Que êle era um sincero, excuso eu de lho dizer agora. não se trata de não querer viver por mero desdém pela vida, como fez época há anos atraz. Pelo contrário: êle manifestava, na exuberante expansibilidade do seu convivio, uma intensa e anormal joie de vivre. o que no mundo o aterrava era o processo, a técnica, a mecânica da vida, que êle se considerava, por incompetência natural, incapaz de aprender. e assim foi lógico, foi inteligente, foi superior encarando a frio e com aquela serenidade de animo espantosa, que se traduz em certa correspondência recente, onde os indica, o dia, a hora e o processo mais apropriado o menos repugnante á sua maneira do sentir, para pôr termo ao que êle considerava a negação da verdadeira vida. estas considerações, porém, levar-nos iam demasiado longe: o acto deu-se, a realidade é sumária. – E como artista?… – Mas como artista venho eu de lhe falar no suicida. o artista e o suicida são, para o meu caso, uma e a mesma personalidade; ambos eram animados pelo mesmo fluxo de fatalidade. e, a propósito, vou referir lhe certo certo pormenor biográfico da nossa vida em comum, que bem pode elucida-lo sobre esse ponto. entre aqueles amigos de Paris que mais conviveram em Montparnasse com o Mário de sá-Carneiro, um havia, tipo de verdadeiro artista, que muito o influenciou e por quem êle tinha a mais doentia paixão de espírito, um destes tipos que só a italia dos nosso tempos crearia, espectro da decadência latina ameaçadora, admirável e bela… era num vago casebre, servindo de atelier, abrigava-o essa criatura fadada para o triste desperdício de um sonho de arte, que êle prosseguia, histerisado daquela fé, de uma inspiração divina, que só raros possuem. Vivendo numa teia de instinto, antena de uma sensibilidade para além da sua, que um palpite intuitivo da sua intima natureza segredava, êle tinha preconcebido a estética na sua expressão mais pura e abstracta. a esfera representava para êle o organismo mais perfeito da estatuaria e o mais próprio à sua ansiada transfiguração da forma. Bem vê. Trata-se de metafísica plástica, tran scendentalmente encarada. – Compreendo, compreendo… e mordi o lábio inferior com uma estúpida vontade de rir, – porque a minha ignorância era uma coisa rasteira como as hervas, incapaz de compreender a beleza dos ramos mais altos das grandes árvores desdobrando-se no ceu, largo… Um pouco de metafísica e de psicologia doente em torno de uma chicara de café.
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– este homem estranho – estou a vê-lo deante de mim – continuou santa rita pintor, colocado em meio de um milhão de esferas, na atitude ascética de um verdadeiro escravo da Beleza, exclamava: «Mais… je suis arrête!…» era impressionante, creia… Um verdadeiro égaré. Modigliani pretendia que, por meio de uma lapidação constantemente trabalhada e religiosamente sofrida, certa hora viria em que o casulo, realizadas todas as suas transformações, transpareceria em crisalida. a esfera subtilizar-se-ia, transluzindo para além de si. e de joelhos, debruçado sobre a sua ilusão, abismado no seu mistério, na atitude súplice de quem espera, seguia o trabalho evolutivo da sua obra, aguardando, como os fieis de Lourdes, a hora do milagre. era o caso do verdadeiro artista na verdadeira arte. Mas, como vê, inverosímil, como inverosímil era, afinal – e o meu pobre Mário reconhecera-o muitas vezes, a psiché do poeta do Céu em fogo. e foi ele mesmo quem, em face de tão sugestivo quadro de inverosimilhança qual o que a individualidade deste interessantíssimo artista revelava, se lhe equiparou em natureza de incompetência nata, aquela mesma a que já me referi ao manifestar-lhe a minha maneira pessoal de interpretar o suicida… Sá Carneiro era futurista? E os outros do «Orfeo»? Futurista em Portugal há só um. Quem é ele? – Sá-Carneiro era o chefe do Futurismo em Portugal… – arrisquei. – não… não… – fez nervosamente santa rita pintor. – o único futurista declarado, que até agora entre nós tem aparecido, sou eu… sá-Carneiro, fernando Pessoa, Álvaro de Campos e outros mais, todos igualmente muito interessantes, embora muito diferentes entre si não atingiram ainda a maturidade do espírito criador na sua arte. e de aí a dificuldade em taxa-los disto ou daquilo… – Mas o que vem a ser o tão famoso paulismo? – o paulismo?… Paulismo, sensacionismo, interseccionismo, simultaneísmo, e tudo o mais que para aí na imprensa se escreveu quando nos criticam com azedume, uma inconsciência de arrepiar, são apenas fórmulas interpretativas da teoria do futurismo, de que Marinetti, o fundador da nova escola, é, por isso mesmo o único chefe. e já com a sua chícara quasi vazia, o extraordinário pintor tornou: – o suicídio de sá-Carneiro foi uma grande perda para a nova geração. ele foi um admirável poeta inovador. e esta deve ter sido a impressão produzida em Milão, sede do futurismo, para donde já comuniquei a trágica nova.
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Carta de Carlos Porfírio para Carlos Lyster franco sobre o futurismo: Lisboa, 5 julho 1917 ex.mo amigo Mais uma vez venho-lhe pedir o seu auxílio para os futuristas. em meu poder poemas futuristas de José almada negreiros, fernando Pessoa, sá Carneiro, Álvaro de Campos. remeto-lhe o Litoral, sublime Poema futurista, que não chegou a sair ao publico. o «santa rita Pintor» está traduzindo Poemas e Manifestos dos grandes Mestres do futurismo. acho uma coisa muito interessante para o seu jornal; posso contar com ele? Brevemente remeto-lhe um oficio da propaganda futurista em Portugal, e como este oficio se prende com a ida dos futuristas a faro.
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eu desejava que o meu amigo publicasse junto um retrato muito original do santa rita. a conferencia futurista é tudo quanto á de mais interessante e sério não será para que esses pretos brancos de faro não percebam o que é o futurismo! o que pretendem os futuristas! será o primeiro manifesto que o seu jornal publicará, logo que o meu amigo deseje fazer-me esse grande favor. Tenho um catalogo ilustrado da exposição de amadeo Cardoso que fazia muito gosto em oferecer-lhe logo que o meu isto lhe interesse. fazendo o meu amigo o favor de publicar o Litoral, pedia-lhe a fineza recomendar aos tipografos o máximo cuidado. fico esperando a sua resposta Muito atento e obrigado. Carlos Porfírio P.s. Muito obrigado pelo jornal. [acervo Lyster franco]
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José de almada negreiros, santa rita Pintor, dactiloscrito dirigido a Carlos Lyster franco, director de O Heraldo, assinado pelos autores enquanto «Comité futurista de Lisboa», datado de 15 de Julho de 1917, 27 × 20,9 cm, acervo Lyster franco. Publicada n’O Heraldo, faro, 5 de agosto de 1917, p. 1.
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santa rita Pintor, Perspectiva Dinâmica de um Quarto de Acordar, 1912 (reprodução in Portugal Futurista, 1917, p. 8) santa rita Pintor, Cabeça = Linha-Força. Complementarismo orgânico, 1913 (reprodução in Portugal Futurista, 1917, p. 9) santa rita Pintor, Abstracção congénita intuitiva (Materia-Força), 1915 (reprodução in Portugal Futurista, 1917, p.10)
se as obras de santa rita Pintor em Orpheu apresentavam uma maior familiaridade e proximidade, tanto na estética como nos títulos, estas expõem uma variação bem maior, procurando apresentar uma pluralidade de experiências de santa rita Pintor. além da pintura Orfeu nos Infernos, que apresentava exemplo de rebeldia da fase escolar, estas reproduções apresentam exemplos de explorações estéticas mais variad as e datáveis, após 1912 e os contactos pessoais com o Cubismo e o futurismo, numa clara intenção de exibir a sua relação com as vanguardas de modo mais prolixo e plural.
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Perspectiva dinamica de um quarto de acordar (1912) apresenta ligações mais ortodoxas com a estética futurista. Cabeça = Linha-Força. Complementarismo orgânico apresenta uma cabeça com aproximações formais ao Cubismo e um título de teor futurista, tornando-a mais próxima das reproduções de Orpheu, embora com algumas variantes. Abstracção congénita intuitiva (Materia-Força), que o pintor data de 1915, portanto, já realizada em Lisboa, com fotografia muito pobre (a obra terá outra reprodução mais explícita a acompanhar texto de Tempo Presente, n.º 3, Julho 1959), admite outra exploração do vazio e da matéria, na redução dos elementos inscritos.
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• a revista centrava-se nos futuristas de Lisboa, com destaque para santa rita Pintor (com dois textos panegíricos de raul Leal e rebelo de Bettencourt, este último assinando Bettencourt-rebelo) e almada negreiros, como também fornecia material da sessão futurista que estes tinham realizado em 14 de abril de 1917. Publicava ainda poemas de fernando Pessoa (Episódios e Ficções de Interlúdio), almada negreiros (Mima-Fataxa, Sinfonia Cosmopolita e Apologia do Triângulo Feminino) e Três Poemas de Mário de sá-Carneiro. de almada negreiros (embora com assinatura colectiva) ainda um texto sobre os Bailados russos em Lisboa e a prosa Saltimbancos. outro destaque eram os dois Ultimatum de Álvaro de Campos e almada negreiros, que pode ser entendida como uma variante portuguesa do princ ípio do manifesto. apresentava reproduções a preto e branco de quadros de santa rita Pintor, e dois de amadeo de souza-Cardoso, mas as verdadeiras iconografias futuristas da revista acabavam por ser as fotografias de santa rita em fato de xadrez e chapéu mole enfiado na cabeça (tal como era conhecido nas ruas e cafés do Chiado), em tom de clown com uma tela vazia ao fundo, e de almada negreiros com o seu azulado fato de operário futurista, certamente do dia da sessão futurista. os volumes impressos anunciam 10.000 exemplares, sendo de supor que o número era muito excessivo e que seria uma blague futurista. • a revista Portugal Futurista tem edição apreendida, não tendo sido de facto publicada, pelo que não tem fortuna crítica nem escândalo no seu próprio tempo. a primeira edição fac-similada seria só em 1981. 1918 • santa rita falecia em 29 de abril de 1918, com 28 anos, vítima de «um infeliz, precipitado e grave incidente de s. [sífilis] e t.p. [tuberculose pulmonar]» (Henrique de Vilhena; «recordando santa-rita Pintor», in Átomo, n.º 36, 30 dezembro 1950). • a pedido do próprio santa rita Pintor, a sua obra vanguardista é destruída pelo irmão, o poeta augusto de santa rita (1888-1956).
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saavedra Machado, Santa Rita Pintor no Leito da Morte, reproduzido em Henrique de Vilhena, Ensaios de Crítica e Estética, Lisboa: Livraria ferin, 1922, p. 256.
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BIOGRAFIAS DOS AUTORES
Ana Bailão: Prof. auxiliar Convidada na faculdade de Belas-artes da Universidade de Lisboa (fBaUL). investigadora doutorada em Conservação e restauro de Bens Culturais pela Universidade Católica Portuguesa (UCP) com o apoio da fundação para a Ciência e a Tecnologia (fCT). Membro integrado do Centro de investigação e de estudos em Belas-artes (CieBa-fBaUL) e colaboradora no Centro de investigação em Ciência e Tecnologia das artes (CiTar-UCP). Membro do Grupo espanhol do iiC (GeiiC) e da equipa editorial da revista Ge – Conservación. desde 2005 exerce a profissão de conservadora-restauradora para entidades públicas e privadas. Carlos Silveira: é investigador do instituto de História da arte (noVa fCsH) e autor do livro Adriano de Sousa Lopes. Um Pintor na Grande Guerra (2018). doutor em História da arte pela mesma universidade, tem artigos publicados em Portugal e no estrangeiro. foi um dos curadores da retrospectiva de sousa Lopes no Museu nacional de arte Contemporânea – Museu do Chiado (2015) e da exposição Tudo se Desmorona. Impactos Culturais da Grande Guerra em Portugal (fundação Calouste Gulbenkian, 2017). Fernando Cabral Martins: Professor de literatura portuguesa na Universidade nova. Coordenou o dicionário de fernando Pessoa e do Modernismo Português (2008). Publicou ensaios, entre os quais O Modernismo em Mário de Sá-Carneiro (1994), O Trabalho das Imagens (2000), Julio, o Realismo Mágico (2004), Introdução ao Estudo de Fernando Pessoa (1914) e Mário Cesariny e o Virgem Negra (2016). Fernando Rosa Dias: Professor auxiliar de Ciências da arte na Universidade de Lisboa, faculdade de Belas-artes, investigador do CieBa. Criou e coordenou o Mestrado em Crítica, Curadoria e Teorias da arte (fBaUL). Coordenação Científica Geral da revista Convocarte. Coordenação Científica do catálogo raisonné de antónio dacosta (2010-2019). Tem coordenado vários livros colectivos, tendo publicado como autor: Ecos Expressionistas na Pintura Portuguesa Entre-Guerras (1914-1940) (2011) e António Dacosta – A Tentação Mítica (2016). Comissariou a exposição e catálogo: Carlos Porfírio – Diálogo do Modernismo (Museu de faro, 2019). Guilherme Augusto Floro de Santa-Rita: filho do oficial do exército, tenente-coronel Guilherme augusto alves Branco de santa-rita. neto do poeta augusto César Cau da Costa de santa rita e sobrinho-neto do pintor Guilherme augusto Cau da Costa de santa rita. Licenciado em Geografa pela faculdade de Letras de Lisboa. exerceu funções nos serviços de estatística de Macau e de ensino em escolas secundárias. actualmente é técnico superior na Câmara Municipal de Lisboa (onde chegou a exercer o cargo de assessor do ex-vereador de Cultura José Manuel amaral Lopes). João Macdonald: Jornalista e investigador independente. está a concluir uma biografia de santa rita Pintor. investiga o período final da vida de Mário de sá-Carneiro. Contribuiu com elementos inéditos sobre amadeo de souza-Cardoso para o catálogo da exposiçao ̃ de 2016 em Paris, org. Helena de freitas (fundaçao ̃ Calouste Gulbenkian/réunion des Musées nationaux-Grand Palais). Publicações recentes: «a vanguarda da frente para trás: retroperformance musical portuguesa e comu-
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nicaçao ̃ entre as décadas de 1980 e de 1910-1920» (in Performance na Esfera Pública, org. ana Pais, orfeu negro, 2017); «Porfírio & santa rita, Ld.ª – Um exame à produção de Portugal futurista» (Convocarte, n.º 8, fBaUL-CieBa, 2020). João Mendes Rosa: director do Museu da Guarda. Licenciatura em artes Visuais e em História / arqueologia. É mestre em arqueologia/epigrafa Latina pela Universidade de salamanca. investigador da Universidade de salamanca (departamento de Préhistória, História antiga e arqueologia) na área de arqueologia da Paisagem e epigrafa desde 2008. doutorando em arqueologia pela Universidade de salamanca. Criou no Museu da Guarda a sala santa-rita Pintor (2017). José Leite: formado em engenharia de Máquinas no iseL tendo trabalhado sobretudo no sector agro industrial alimentar animal e humano. É sobrinho-neto do santa rita Pintor, neto da irmã mais nova Beatriz Cau da Costa santa rita (nunes da silva), nascida em 1902 e falecida em 1991. Tem dois livros publicados e um no prelo dedicado a santa rita com o título O Regresso do Orpheu. Luís de Barreiros Tavares: Licenciado em filosofia (Universidade nova de Lisboa). Publicou «ecos de santa rita e Malevitch…» (2015). Três livros sobre autores de Orpheu: O Acto de Escrita de Fernando Pessoa (2015); Amadeo de Souza-Cardoso – A Força da Pintura (2017); 5 de Orpheu: Almada – Amadeo – Pessoa – Santa Rita – Sá-Carneiro (2018). registos vídeo: José-augusto frança – «Guilherme Pobre» (Congresso 100 orpheu – 2015); «100 anos da Conferência futurista» (debate – 2017); «Homenagem a santa rita Pintor» (2018), etc. Vice-director da Nova Águia, colaborador na Caliban e artista plástico. Luís Leite: arquitecto. Licenciado pela esBaL em 1981 e pós-graduado em Planeamento Urbanístico pela esBaL em 1983/84. Professor aposentado do ensino secundário de História da arte, desenho e Teoria do design, em várias escolas secundárias de Lisboa. É sobrinho-neto do santa rita Pintor, neto da irmã mais nova Beatriz Cau da Costa santa rita (nunes da silva), nascida em 1902 e falecida em 1991. Luís Lyster Franco: Licenciado em artes Plásticas – Pintura pela Universidade de Lisboa, especializado em Museologia e Museografia, doutoramento em desenho pela fBaUL e académico Correspondente da anBa. Marta Soares: investigadora doutoranda em História da arte na fCsH-UnL e membro do instituto de História da arte/fCsH/noVa. Licenciada em estudos Portugueses e Lusófonos e mestre em História da arte pela mesma instituição. foi curadora, com raquel da Henriques da silva, da exposição «amadeo de souza-Cardoso / Porto Lisboa / 2016-1916», patente no Museu nacional de soares dos reis e no Museu nacional de arte Contemporânea – Museu do Chiado. Raquel Henriques da Silva: Professora associada da Universidade nova de Lisboa, faculdade de Ciências sociais e Humanas. investigadora do instituto de História da arte da fCsH-UnL. Trabalha nas areas da museologia, historia da arte dos secos XiX e XX e história da cidade, especialmente Lisboa. É directora cientifica a do Museu do neo-realismo desde 2018. Sofia Marçal: Museóloga, mestrado em Museologia pela Universidade de Évora em 2004. Membro colaborador do CieBa (Centro de investigação e de estudos em Belas-artes). É doutorada em Curadoria pela fBaUL. Museóloga e curadora do Museu nacional de História natural e da Ciência desde 2001, onde vem a desenvolver um trabalho de intersecção entre arte e ciência, através de inúmeras exposições, catálogos e conferências.
Biografias dos autores
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