Martha Nussbaum – Uma Filosofia Comprometida com a Cidade

Page 1



Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 1

Et h os e Polis / 10


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 2


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 3

MARTHA NUSSBAUM Uma filosofia comprometida com a cidade


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 4


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 5

Fernanda Henriques

MARTHA NUSSBAUM Uma filosofia comprometida com a cidade

D O C U M E N TA


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 6

A direção científica da coleção ETHOS E POLIS está a cargo do

Grupo de Filosofia Prática LabCom.IFP


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 7

ÍNDICE

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

11

Capítulo 1 Humanidades, democracia, justiça e igualdade. . . . . . . . . . . . . . .

15

Capítulo 2 Filosofia e Literatura. Explorando o tema no pensamento de Martha Nussbaum e de Paul Ricoeur . . . . . . . . . . . . . . . .

33

Capítulo 3 Reconhecimento, capacitação e justiça social. Lendo em conjunto Martha Nussbaum e Paul Ricoeur . . . . . . . . . . .

63

Capítulo 4 A modernidade normativa e universalista do feminismo de Martha Nussbaum. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

83

Anexo: Informação bibliográfica de Martha Nussbaum . . . . . . . . . . 127

Índice

7


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 8


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 9

Em memória de Filomena Barros


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 10


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 11

Apresentação

Martha Nussbaum é, sem qualquer sombra de dúvida ou de controvérsia, uma das mais conhecidas personalidades filosóficas da atualidade. Ao longo da sua carreira tem recebido um leque variado de prémios, entre eles, em 2021, o Holberg Prize, premiando a contribuição que a sua obra tem dado quer no campo da filosofia, quer em campos afins. Na verdade, a sua vastíssima obra 1, embora com uma consistente coerência teórica, cobre uma diversidade de temáticas todas elas alinhadas com questões centrais no debate filosófico contemporâneo e, por outro lado, expressando uma clara decisão de trazer a filosofia para o espaço público onde se jogam os grandes problemas da nossa vida coletiva, retirando-a do mero enclausuramento académico. Esta ideia do compromisso da filosofia com a vida percorre toda a atividade de Nussbaum, tendo sido, contudo, acentuada depois da sua permanência como consultora de investigação no WIDER — World Institute for Development Economics Research. Uma entrevista publicada a 10 de julho de 2018, por Marilyn Cooper, em Arts and Culture, com o sugestivo título de «Martha Nussbaum: The Philosopher Queen», releva esta ideia do compromisso da atividade filosófica de Nussbaum, dizendo, na apresentação: Nussbaum is determined to make philosophy relevant to the 21st century. She transcends the field’s traditional boundaries to explore race, gender and sexuality and advocates that international development be based on a set of __________ 1

Ver anexo, p. 127.

Apresentação

11


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 12

universal rights and values. Above all, she insists that philosophy must be useful — not esoteric.

Esta vontade de trazer a filosofia para a praça pública também se manifesta na clareza do seu estilo e na apresentação sistemática de argumentos e de fontes de trabalho e, por outro lado, no seu cuidado em que a reflexão filosófica que desenvolve tenha um enraizamento numa certa dimensão empírica da vida das sociedades, de modo a que as teorias que propõe possam ser recebidas e integradas por quem as lê. Um outro aspeto dessa, chamemos-lhe, proximidade do seu pensar à realidade efetiva das vidas das pessoas, está expressa no seu querer restaurar duas dimensões que identifica na cultura grega, de que é uma especialista eminente: (1) a sua profunda intencionalidade prática que determinava que fosse orientada pela questão de como deveriam os seres humanos viver para serem, efetivamente, humanos e (2) aquilo que se poderá designar como uma constitutiva dialogicidade intertextual que se alimentava da reflexão especulativa, mas também das tragédias gregas ou do teatro em geral. Do seu ponto de vista, infelizmente, a filosofia tem-se desviado deste caminho grego e, muitas vezes seduzida pelo ideal de cienticidade das ciências naturais, chega a adotar uma discursividade que não só é empobrecedora da imensa riqueza da linguagem natural que deveria cultivar, como, por outro lado, a afasta das dimensões existenciais da vida e do viver, catapultando-a para um espaço sobre-humano, quase divino. Nas suas palavras: A filosofia considerou-se a si mesma, com frequência, como uma forma de transcender o meramente humano, uma forma de dar ao ser humano um conjunto de atividades e afetos novos e mais próximos do divino. A alternativa que eu exploro vê a filosofia como uma forma humana de ser e de falar humanamente. Esta ideia será significativa apenas para quem realmente quer ser humano, para quem vê na vida humana tal como é, com as suas sur12

Fernanda Henriques


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 13

presas e as suas relações, as suas penas e alegrias inesperadas, uma história digna de ser tomada em linha de conta. (Nussbaum 1990: 53) 2

Para além do valor intrínseco da obra de Nussbaum e da sua originalidade, a sua projeção e audiência também se articulam com o facto de que o século XX marca um tempo qualitativamente diferente para a vida e para a situação das mulheres, que puderam passar a ser sujeitos de enunciação em relação às coisas do mundo e em relação a si mesmas, abrindo caminhos novos para uma representação do que é ser mulher e do feminino, denunciando e desconstruindo estereótipos e estigmas ancestrais, mas, também, desenvolvendo novas perspetivas de analisar o mundo e a vida. Nesse sentido e no campo específico da filosofia, a projeção e o prestígio de Martha Nussbaum têm paralelo num conjunto de outras filósofas contemporâneas, como é o caso de Adela Cortina, de Nancy Fraser e Seyla Benhabib, para só enunciar nomes que transformaram profundamente a tematização da problemática ética, configurando perspetivas originais. O sentido da presente publicação é o de divulgar o pensamento de Martha Nussbaum entre nós onde ele é parcamente conhecido, ao contrário do que acontece noutras latitudes, nomeadamente na vizinha Espanha, onde a obra de Nussbaum está traduzida pelo menos nos seus exemplares mais significativos 3 e onde, em 2012, recebeu o prémio Príncipe das Astúrias. A presente publicação é dedicada a algumas das temáticas centrais do pensamento de Nussbaum, nomeadamente a das relações entre filosofia e __________ 2

3

No fundo, este ponto de vista articula-se com a leitura de Nussbaum de a filosofia ser um guia de vida. Cfr. Nussbaum, M. (1994). The Therapy of Desire: Theory and Practice in Hellenistic Ethics. New Jersey: Princeton University Press. Ver a análise feita sobre esta perspetiva de Nussbaum e a sua comparação com Michel Foucault e Pierre Hadot: Banicki, K. (2016). Argumentos terapéuticos, ejercicios espirituales y cuidado de sí: Martha Nussbaum, Pierre Hadot y Michel Foucault sobre la filosofía Antigua. Konvergencias. In: Filosofía y culturas en diálogo, 23: 104-139. Cfr. Colmenarejo, R. (2012). Comentarios bibliográficos. Aportaciones de Martha Nussbaum a las ideas de justicia, ética y desarrollo humano. Una revisión bibliográfica. In: Pensamiento, 68, n.º 256: 373-376, onde se indica que dos 23 livros publicados por Nussbaum até 2012, 17 têm uma edição em castelhano.

Apresentação

13


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 14

literatura, a das questões da justiça, a sua defesa das humanidades como sustentáculo da vida democrática e a sua perspetiva sobre o feminismo. O livro é constituído por quatro capítulos, cada um deles desenvolvendo uma temática específica. O primeiro capítulo, com o título «Humanidades, democracia, justiça e igualdade», ocupa-se da perspetiva de filosofia de educação de Martha Nussbaum. O segundo capítulo, intitulado «Filosofia e Literatura», além de uma apresentação da própria temática da relação entre a filosofia e a literatura, faz uma exploração do tema no pensamento de Nussbaum e de Paul Ricoeur 4. O terceiro capítulo, com o título «Reconhecimento, capacitação e justiça social», propõe o cruzamento entre o pensamento sobre as capacidades de Nussbaum e a perspetiva do reconhecimento de Ricoeur, no sentido de levar mais longe a proposta de Nussbaum 5. Finalmente, o quarto capítulo, intitulado «A Modernidade normativa e universalista do feminismo de Martha Nussbaum», parte da polémica entre Nussbaum e Judith Butler para apresentar a posição própria e controversa de Martha Nussbaum acerca do feminismo. Como nota final desta apresentação, quero ressalvar uma situação que o conjunto dos textos comporta. Sendo estudos independentes do pensamento de Nussbaum, alguns temas centrais do seu pensamento são focados em todos os capítulos, nomeadamente três: a sua perspetiva antropológica, o seu conceito de filosofia e também o seu enfoque das capacidades. Procurei sempre, contudo, que a abordagem feita sobre esses temas os focasse de maneira a que não houvesse reiterações.

__________ 4 Este texto resulta da fusão de dois textos anteriores: (1) «Martha Nussbaum e a importância da literatura no pensamento ético». Texto a ser inserido no livro de homenagem à Professora María Teresa Lopex de la Vieja, da Universidade de Salamanca [no prelo]; (2) «A relação entre filosofia e literatura. Dois exemplos na filosofia do século XX». In: Natário, Maria Celeste e Epifânio, Renato (org.) (2011). Entre Filosofia e Literatura. Zéfiro Editora: 11-24. 5 Recupera um texto já publicado: Bernhard Sylla, Irene Borges-Duarte (org.) (2017). Intencionalidade e Cuidado. Herança e Repercussão da Fenomenologia. Atas do V Congresso Luso-Brasileiro de Fenomenologia III Jornadas Ibéricas de Fenomenologia. Edição do Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, Edições Húmus: 207-220.

14

Fernanda Henriques


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 15

capítulo 1

Humanidades, democracia, justiça e igualdade


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 16


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 17

Por isso, quando digo que sou italiana porque escrevo em italiano quero dizer que o sou plenamente e ao mesmo tempo que é só nesses termos que estou disposta a atribuir-me uma nacionalidade. Os outros termos não me agradam ou assustam-me, sobretudo quando se tornam nacionalismo, chauvinismo, imperialismo […]. Elena Ferrante, A Invenção Ocasional


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 18


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 19

Os quatro conceitos que dão título a este primeiro estudo sobre Martha Nussbaum pretendem descrever o sentido essencial da sua perspetiva educativa, consubstanciando a sua Filosofia da Educação, que se poderá caracterizar como uma Filosofia Política da Educação. O tema da Educação tem um papel significativo no pensamento de Nussbaum e bastante relevância na sua produção textual. As publicações que dedica ao tema estão numa linha de coerência direta com o conjunto da sua obra, pelo que as posições que defende estão sólida e profundamente arreigadas filosoficamente. Este estudo irá centrar-se no que considero serem as três obras essenciais de Nussbaum sobre o tema, a saber: O cultivo da humanidade. Uma defesa clássica da reforma educativa liberal, de 1997, Sem fins lucrativos. Porque é que a democracia necessita das humanidades, de 2010, e Educação e justiça social, de 2014. Embora estas três obras estejam dedicadas à temática educativa, não desempenham o mesmo papel na economia do pensamento educativo de Nussbaum. O cultivo da humanidade e Sem fins lucrativos, ainda que diferentes entre si, representam explicitações sistemáticas da proposta de intervenção educativa de Martha Nussbaum, no quadro de um diagnóstico que ambas as obras levam a cabo através de uma aproximação, a que se poderia chamar empírica, e que se centra na situação dos Estados Unidos e na da Índia. Nesse sentido, ambas analisam os modelos educativos vigentes e, com base nos seus pontos críticos, propõem alternativas apresentando, ao mesmo tempo, o conjunto de razões que as sustentam. Humanidades, democracia, justiça e igualdade

19


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 20

Por sua vez, Educação e justiça social, retomando, embora, o cerne da proposta educativa de Nussbaum, manifesta outra intencionalidade que está essencialmente centrada na problemática da justiça e na discussão das perspetivas em torno dela, designadamente a do Contrato Social de Rawls e a das capacidades proposta por Amartya Sen e pela própria Nussbaum. Por isso, embora aborde a questão educativa, o seu propósito essencial é mostrar: 1. Por um lado, como a educação representa um papel determinante no desenvolvimento das culturas e dos povos mais desfavorecidos; 2. Por outro, como a teoria das capacidades está intimamente ligada à problemática dos Direitos Humanos e ao papel que pode desempenhar nos processos educativos; 3. Finalmente, como a educação para uma cidadania cosmopolita é fundamental para promover o diálogo intercultural e uma ideia mais justa de justiça.

De acordo com o que ficou dito acima, o presente texto procurará analisar o conjunto das propostas educativas de Nussbaum, articulando-as com a globalidade do seu pensamento, estando organizado em três partes: 1. Uma primeira parte dedicada à configuração da problemática tal como a autora a concebe; 2. Uma segunda parte onde se analisarão as linhas específicas da sua proposta educativa e se procurarão algumas articulações dessa proposta com outros temas do seu pensamento; 3. Uma última parte onde proporei aquilo que, a meu ver, explica melhor as suas posições educativas.

Definindo a problemática Diversos setores analíticos convergem na ideia de que, hoje em dia, existe um problema real nas políticas educativas no mundo ocidental, que resulta basicamente de três ideias-chave: 20

Fernanda Henriques


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 21

• A ideia da operatividade imediata da formação educativa, fazendo depender os currículos e os processos educativos da empregabilidade; • A ideia de especialização, fragmentando conhecimentos e aprendizagens e isolando-os em campos disciplinares específicos e sem comunicação entre si; • A ideia da importância fundamental das aquisições técnico-científico-naturais e, simultaneamente, a desvalorização total ou quase total daquilo que, na nossa tradição, se denominou como humanidades, que são concebidas como irrelevantes ou mesmo inúteis.

Para Nussbaum, esta situação representa uma «crise silenciosa», uma espécie de cancro que está a minar os alicerces das nossas sociedades por dentro. Diz ela: Estamos no meio de uma crise de proporções gigantescas e de enorme gravidade a nível mundial. Não, não me refiro à crise económica global que começou nos começos do ano 2008. […] Não, na realidade refiro-me a uma crise que passa praticamente inadvertida, como um cancro. Refiro-me a uma crise que, com o tempo, pode chegar a ser muito mais prejudicial para o futuro da democracia: a crise mundial em matéria de educação. (Nussbaum 2010: 19-20)

Para sustentar a sua posição, Nussbaum apresenta uma série de exemplos de situações políticas e institucionais, ocorridas nos Estados Unidos, demonstrando que as humanidades estão a ser desatendidas tanto pela intencionalidade das políticas públicas como pelas próprias famílias que pressionam algumas instituições relevantes para que, em lugar das humanidades, que consideram supérfluas, as suas filhas e filhos «adquiram capacidades objetivas e tendendo para o êxito económico» (Ibidem: 23).6 __________ 6 Desses exemplos quero destacar os três seguintes por representarem três pontos de vista diferentes sobre o tema: um de políticas públicas, o outro referente à posição das famílias sobre o assunto e o terceiro sobre a perceção social do mesmo: 1) em 2005, por ocasião de um retiro para professores de uma escola de referência nos Estados Unidos — frequentada, por exemplo, pelas filhas de Obama e centrando-se em figuras como Sócrates e Dewey, do mundo ocidental, ou Tagore, na Índia —, para

Humanidades, democracia, justiça e igualdade

21


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:46 Page 22

A resposta de Nussbaum a esta situação é muito clara: só as humanidades podem salvar uma vida democrática eficaz porque só o que ela chama de «o espírito das humanidades» permite um processo educativo que potencie a formação de uma cidadania cosmopolita, em consonância com a interdependência global que hoje define a vida das nossas sociedades, salientando a importância de se desenvolver um pensamento crítico e reflexivo que valorize o autoexame, mas também a abertura à alteridade, através do cultivo da imaginação que permite a «compreensão empática de uma variedade de experiências humanas» (Ibidem: 26). Sobretudo em Sem fins lucrativos, o diagnóstico da crise educativa apresentado por Nussbaum tem um tom quase apocalítico, como uma voz profética, simétrico, aliás, da veemência com que apresenta as razões da sua defesa das humanidades como salvação da democracia. Ambas as situações decorrem do papel que a autora atribui à educação não apenas no desenvolvimento pessoal dos indivíduos, mas também na vida das sociedades e, sobretudo, da qualidade dessa vida. Para ela, a educação é não só estruturante da formação humana como, acima de tudo, um processo de empoderamento das pessoas singulares e dos povos, capacitando umas e outros para criarem dinâmicas de vida coletiva — cultural e política — mais justas e mais igualitárias. A sua experiência de trabalho e de investigação na Índia, no contexto da sua participação no WIDER, permitiu-lhe compreender como a educação é, simultaneamente, emancipadora, libertadora e promo———————— pensar no tema da educação para a cidadania democrática, os professores sentiram que algo estava errado e explicaram que estavam a receber uma enorme pressão de famílias ricas «Impacientes com a aprendizagem do que consideram supérfluo e ansiosas para que seus filhos e filhas adquiram capacidades objetivas e tendendo ao sucesso económico» (Ibidem: 23); 2) em 2006, a Comissão sobre o Futuro do Ensino Superior, nomeada pelo Departamento de Educação dos Estados Unidos, publicou um relatório sobre a situação do ensino superior naquele país, que teve a vantagem de criticar a desigualdade no acesso ao ensino médio, mas, ao mesmo tempo, do ponto de vista dos conteúdos curriculares, focou-se inteiramente na educação para o benefício económico nacional (Ibidem: 21); 3) ainda em 2006, outra universidade de destaque nos Estados Unidos realizou um grande simpósio em comemoração de uma data importante e em que um dos temas centrais seria o debate sobre o futuro da educação humanística. Algum tempo antes da data do simpósio, os participantes daquela secção receberam a notícia de que o tema já não era um eixo central do simpósio porque «um simpósio sobre educação humanística não ia “causar sensação”» (Ibidem: 24).

22

Fernanda Henriques




Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:47 Page 129

MARTHA C. NUSSBAUM Ernst Freund Distinguished Service Professor of Law and Ethics Department of Philosophy and Law School The University of Chicago

publicações em livro Aristotle’s De Motu Animalium, Princeton University Press, 1978 (paper edition 1985). The Fragility of Goodness: Luck and Ethics in Greek Tragedy and Philosophy, Cambridge University Press, 1986. Translated into Spanish and Italian; German in progress. Updated Edition with new Introduction, 2001. Czech translation as Krehkost Dobra (Prague: Oikoumene, 2003). Dutch translation as De Breekbaarheid van het Goeden (Amsterdam: Ambo/Anthos, dated 2006, released spring 2007). Chinese translation spring 2008 (Yilin Press). Portuguese translation spring 2009 (Sao Paolo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda.). Serbian translation 2009. French translation 2016. Chinese translation 2018. Love’s Knowledge: Essays on Philosophy and Literature, Oxford University Press, N.Y. and Clarendon Press, England, 1990 (paper edition 1992). Spanish translation as El conocimiento del amor (Madrid: A. Machado, 2006). German edition forthcoming; abridged edition in Swedish, forthcoming in Dutch. Introductory section, “Form and Content, Philosophy and Literature,” reprinted in Carolyn Korsmeyer, ed., Aesthetics: The Big Questions (Oxford: Basil Blackwell, 1998) 201-7. A smaller portion of this section as “The ‘Ancient Quarrel’”, in Ethics, Literature, Theory: An Introductory Reader, ed. Stephen K. George (Lanham: Rowman and Littlefield, 2005), 139-51. French translation, Paris: Cerf, 2010. Greek translation (Athens: Pataki, 2015). The Therapy of Desire: Theory and Practice in Hellenistic Ethics, Princeton University Press, 1994 (paper edition 1996). Updated Edition, Italian translation (Milan: Vita e Pensiero), 1998; Spanish translation (Barcelona/Buenos Aires/México: Paidos), 2003. Chapter 13 reprinted as “The Therapy of Desire in Hellenistic Ethics”, in Antike Philosophie Verstehen – Understanding Ancient Philosophy, ed. Marcel van Ackeren and Jörn Müller (Darmstadt: WBG, 2006), 218-42. Chinese translation, Peking University Press, 2018. Greek translation 2015. Croatian translation, publisher Mizantrop, 2019. Updated edition (with new Introduction), 2009. Poetic Justice: The Literary Imagination and Public Life (The Alexander Rosenthal Lectures, 1991), Beacon Press, 1995 (paper edition 1997). Italian translation published as Il Giustizio del Poeta, Feltrinelli, 1996. Spanish translation as Justicia Poética, Andrés Bello, Anexo

129


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:47 Page 130

1997. Hebrew translation, published by Haifa University Press, 2003. Chinese translation, Peking University Press, 2011. Chapter 3 published as “Rational Emotions” in Paul J. Heald, ed., Literature and Legal Problem Solving (Durham: Carolina Academic Press, 1998), 99-124. Chinese translation, published by Peking University Press, 2010. Chapter 3 translated into Portuguese in Direito e Literatura, ed. A.K. Trinidade, R.M. Gubert, and A.C. Neto (Porto Alegre: Nuria Fabris, 2010), 345-78. For Love of Country: A Debate on Patriotism and Cosmopolitanism (lead essay mine, with responses), Beacon Press, 1996. Italian translation, Feltrinelli, 1997. Updated Edition, 2002. Greek translation 2004. Cultivating Humanity: A Classical Defense of Reform in Liberal Education, Harvard University Press, 1997. Extract published in The Norton Reader: An Anthology of Non-Fiction Prose, shorter tenth edition (New York: W.W. Norton, 2000), 633-47, and in Tenth edition pp. 1119-31. Italian translation published as Coltivare L’Umanità (Rome: Carocci, 1999). Spanish translation as El cultivo de la humanidad (Barcelona: Paidos, 2005). Chapter 8 published in Portuguese as “Sócrates na universidade religiosa”, in Entre a Dúvida e o Dogma, ed. Debora Dinia, Samantha Buglione, and Roger Raupp Rios (Brasilia: LetrasLivres, 2006), 9-20. Polish translation as W trosce o czlowieczenstwo (Wroclaw: Dolnoslaska Szkola Kyzsza, 2008). Chinese translation, Chengchi University Press, 2009. A different Chinese translation, Shanghai Joint Publishing, 2013. Korean translation 2018. A chapter published as “Citizens of the World,” in The Idea of the University, ed. Ronald Barnett and Michael A. Peters. V. 2 (New York: Peter Lang, 2018), 393-411. Sex and Social Justice, Oxford University Press, 1999. Winner, book award of the North American Society for Social Philosophy, 2000. Greek translation published by Scripta, Athens, 2005. Extract in The Human Rights Reader, ed. Micheline Ishay (New York: Taylor and Francis, 2007), 422-30. Women and Human Development: The Capabilities Approach, Cambridge University Press, N.Y., 2000. Indian edition published 2000 by Women Unlimited, New Delhi, India. Italian translation, Il Mulino, 2001, under title Diventare persone: Donne e universalità dei diritti. Also translated into Japanese and Spanish. French translation, Edition des Femmes, 2008. Turkish translation in progress. Upheavals of Thought: The Intelligence of Emotions, The Gifford Lectures for 1993, Cambridge University Press, 2001. Italian translation as L’intelligenze delle emozioni (Bologna: Il Mulino, 2004). Dutch translation as Oplevingen van het Denken (Amsterdam: Ambo, 2004). Hiding From Humanity: Disgust, Shame, and the Law, Princeton: Princeton University Press, 2004. Italian translation as Nascondere l’umanità: Il dusgusto, la vergogna, la legge (Rome: Carocci, 2005). Japanese translation 2011. Korean translation 2015. 130

Anexo


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:47 Page 131

Frontiers of Justice: Disability, Nationality, Species Membership, Cambridge, MA: Harvard University Press, 2006. Spanish translation as Las fronteras de la justicia (Barcelona: Paidos, 2006). Dutch translaton as Grensgebieden van het Rccht (Amsterdam: Ambo, 2006). Indian edition, Oxford University Press, Delhi, spring 2007. Italian edition (with new Preface) as Le nuove frontiere della giustizia (Bologna: Il Mulino, 2007). German translation, Suhrkamp, 2010. Japanese translation, Hosei Press, 2012. Portuguese translation (Sao Paulo, Martins Fontes, 2013). Chinese translation, China Renmin University Press, 2016. Winner, Elaine and David Spitz Prize for best book in liberal/democratic theory, American Political Science Association, 2008. The Clash Within: Democracy, Religious Violence, and India’s Future, Cambridge, MA: Harvard University Press, 2007. Italian translation, Il Mulino, 2009. Spanish translation, Paidos, 2013. Liberty of Conscience: In Defense of America’s Tradition of Religious Equality, New York: Basic Books, 2008. Spanish translation, Paidos, 2009. Japanese translation, Keio University Press, 2012. Italian translation, Anicia (Rome), 2018. The Ethics and Politics of Compassion and Capabilities (with Joseph Chan, Joe Lau, and Ci Jiwei), The Hochelaga Lectures 2005, Faculty of Law, The University of Hong Kong (Hong Kong: Faculty of Law, 2007). From Disgust to Humanity: Sexual Orientation and Constitutional Law, New York: Oxford University Press, 2010. Italian translation as Disgustò e umanità: l’orientimento sessuale di fronte alla legge (Milan: Il Saggiatore, 2011). Korean edition, Puriwaipari Publishing Company, 2016, with a new preface by me. Not For Profit: Why Democracy Needs the Humanities, Princeton: Princeton University Press, 2010. Spanish translation, Arcadia, 2011. Italian translation, Il Mulino, 2011. Dutch translation, Ambo Anthos, 2011. French translation, Flammarion, 2011. Finnish translation 2012 (Gaudeamus). German translation 2012 (Tibia). Chinese translation 2012. Korean translation 2011 (Tungree Press, actually released in 2013), with new Preface by me. Sinhalese translation 2013. Greek translation 2013. Croatian translation, Zagreb, 2012 (released 2013). Japanese translation, Tokyo, Iwanami Shoten Publishers, 2013. Russian translation, Moscow, 2014. Vietnamese translation 2015. Portuguese translation, Brazil, 2015. Polish translation 2016, Bibioteka Kultury Liberealnej, Warsaw. Paper edition with new Afterword, 2012. New edition, with new Preface by the author (pp. xiii-xxiv), published 2016. Hebrew translation 2017. Arabic translation 2017. Czech translation 2017. Portuguese translation 2019. Translations into Catalan, Serbian, in progress. Seneca, Anger, Mercy, Revenge. Translated by Robert A. Kaster and Martha C. Nussbaum (with notes and an interpretive essay). In: The Complete Works of Lucius Annaeus Seneca, edited by Elizabeth Asmis, Shadi Bartsch, and Martha C. Nussbaum. Chicago: The University of Chicago Press, 2010. Anexo

131


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:47 Page 132

Creating Capabilities: The Human Development Approach, Harvard University Press, 2011. Spanish translation, Paidos, 2012. Italian translation, Il Mulino, 2012. Dutch translation, AmboAnthos, 2012. French translation, Nouveaux Horizons, 2012. German translation, Herder Verlag, 2015. Swedish translation, Karneval Förlag, 2013. Turkish translation 2018. Chinese translation, China Renmin University Press, 2016 (actually issued in 2019). Philosophical Interventions: Book Reviews 1986-2011, Oxford University Press, 2012. Indian Edition 2014. The New Religious Intolerance: Overcoming the Politics of Fear in an Anxious Age, Harvard University Press, 2012. Dutch and Italian translations 2013. French translation, Climats, 2013. German translation 2014 (WBG). Audiobook edition under contract to Audible. Polish translation, Fundacja Kultura Liberalna, 2018. Political Emotions: Why Love Matters for Justice, Harvard University Press, 2013. Spanish, Italian, and Dutch translations 2014. German, Korean, Chinese editions in progress. Paper edition 2015. Anger and Forgiveness (The John Locke Lectures in Philosophy, Oxford University), Oxford University Press, New York, 2016. Dutch translation, AmboAnthos, 2016. German translation 2017 (WBG). Spanish translation, FCE Mexico, 2018. Italian translation 2017. Chinese translation, Taiwan, 2018. Korean translation 2018. Aging Thoughtfully (with Saul Levmore), Oxford University Press, New York, already proofread, scheduled for September 2017. Translations into Italian, Korean, German, and Spanish contracted. Spanish translation published by Paidos, May 2018. German translation 2018 (WBG). Korean translation 2018. Italian translation, Il Mulino, 2019. The Monarchy of Fear: A Philosopher Looks at Our Political Crisis, Simon and Schuster, 2018. Dutch translation 2018. German translation 2019 (WBG). Spanish translation 2019 (Paidos). The Cosmopolitan Tradition, Harvard University Press, 2019. German translation 2019 (WBG). Spanish translation, Egea, 2019. Korean translation in press with new preface by me. Citadels of Pride: Sexual Abuse, Accountability, and Reconciliation, W.W. Norton, entering production July 1, to be published May 2021. Creatures and Capabilities: Animal Lives and Animal Ethics (title will be changed), under contract to Simon and Schuster, due end 2021. edição de livros Language and Logos: Studies in Greek Philosophy in Honour of G.E.L. Owen (with Malcolm Schofield), Cambridge University Press, 1982. 132

Fernanda Henriques


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:47 Page 133

Logic, Science, and Dialectic: Collected Papers on Ancient Philosophy. By G.E.L. Owen, Duckworth and Cornell University Press, 1986. Essays on Aristotle’s De Anima (with Amélie O. Rorty), Oxford: Clarendon Press, 1992. The Quality of Life (with Amartya Sen), Oxford: Clarendon Press, 1993. Spanish translation, La Calidad de Vida, Fondo de Cultura Economica, Mexico City, 1996. Italian translation in progress. Passions & Perceptions: Studies in Hellenistic Philosophy of Mind (with Jacques Brunschwig), Cambridge University Press, 1993. Women, Culture, and Development (with Jonathan Glover), Oxford: Clarendon Press, 1995. Sex, Preference, and Family: Essays on Law and Nature (with David Estlund), New York: Oxford University Press, 1997. Sexual Orientation and Human Rights in American Religious Discourse (with Saul Olyan), Oxford University Press, 1998. Clones and Clones: Facts and Fantasies About Human Cloning (with Cass R. Sunstein), New York: Norton, 1998. Spanish translation published as Clones y Clones: Hechos y Fantasias sobre La Clonacion Humana (Madrid: Catedra, 2000). Japanese translation published 2000. Is Multiculturalism Good for Women? (with Joshua Cohen and Matthew Howard), Princeton University Press, 1999. The Sleep of Reason: Erotic Experience and Sexual Ethics in Ancient Greece and Rome (with Juha Sihvola), Chicago: University of Chicago Press, 2002. Animal Rights: Current Debates, New Directions (co-edited with Cass Sunstein), New York: Oxford University Press, 2004. Japanese edition 2014. On Nineteen Eighty-Four: Orwell and Our Future (with Abbott Gleason and Jack Goldsmith), Princeton: Princeton University Press, 2005. Chinese translation 2013. The Offensive Internet: Speech, Privacy, and Reputation (with Saul Levmore), Cambridge, MA: Harvard University Press, 2010. Korean translation 2012 (Acorn). Equalizing Access: Affirmative Action in Higher Education in India, United States, and South Africa (with Zoya Hasan), Oxford University Press, Delhi, 2012. Subversion and Sympathy: Gender, Law, and the British Novel (with Alison L. LaCroix), New York: Oxford University Press, 2013. Shakespeare and the Law: A Conversation Among Disciplines and Professions (with Bradin Cormack and Richard Strier), University of Chicago Press, 2013. Chinese translation 2015. Capabilities, Gender, Equality: Towards Fundamental Entitlements (with Flavio Comim), Cambridge University Press, 2014. American Guy: Masculinity in American Law and Literature (with Saul Levmore), New York: Oxford University Press, 2014. Anexo

133


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:47 Page 134

Pluralism and Democracy in India: Debating the Hindu Right (with Wendy Doniger), New York: Oxford University Press, 2015. Rawls’s Political Liberalism (with Thom Brooks), New York: Columbia University Press, 2015. Fatal Fictions: Crime and Investigation in Law and Literature (with Alison LaCroix and Richard McAdams), New York: Oxford University Press, 2017 (published fall 2016). Confronting Torture: Essays on the Ethics, Legality, History, and Psychology of Torture Today (with Scott A. Anderson), Chicago: University of Chicago Press, 2018. Power, Prose, Purse: Law, Literature, and Economic Transformations (with Alison LaCroix and Saul Levmore), New York: Oxford University Press, 2019. The Empire of Disgust: Prejudice, Discrimination, and Policy in India and the U.S. (with Zoya Hasan, Aziz Huq and Vidhu Verma), Delhi: Oxford University Press, 2018. Cannons and Codes: War in Law and Literature (with Alison LaCroix, Jonathan Masur and Laura Weinrib), OUP forthcoming 2020.

134

Fernanda Henriques


Fernanda Henriques_Martha Nussbaum.qxp:arte 23/03/22 14:47 Page 135

© FERNANDA HENRIQUES, 2022 © SISTEMA SOLAR, CRL (DOCUMENTA) RUA PASSOS MANUEL, 67 B 1150-258 LISBOA PORTUGAL 1.ª EDIÇÃO, MARÇO DE 2022 ISBN 978-989-568-006-1 DEPÓSITO LEGAL 494345/22 ESTE LIVRO FOI IMPRESSO NA ULZAMA



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.