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James Hogg CONFISSÕES DE UM PECADOR JUSTIFICADO
James Hogg MEMÓRIAS ÍNTIMAS E CONFISSÕES DE UM PECADOR JUSTIFICADO tradução e introdução de
José Domingos Morais
Uma feroz e profunda parábola sobre o fanatismo.
www.sistemasolar.pt
James Hogg MEMÓRIAS ÍNTIMAS E CONFISSÕES DE UM PECADOR JUSTIFICADO
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José Domingos Morais
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TÍTULO DO ORIGINAL: THE PRIVATE MEMOIRS AND CONFESSIONS OF A JUSTIFIED SINNER
© SISTEMA SOLAR CRL, 2016 RUA PASSOS MANUEL, 67B, 1150-258 LISBOA NA CAPA: CASPAR DAVID FRIEDRICH, WANDERER ABOVE THE SEA OF FOG, 1818 REVISÃO: ANTÓNIO D’ANDRADE ISBN 978-989-8833-11-2 1.ª EDIÇÃO, SETEMBRO 2016
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Introdução
Memórias Íntimas e Confissões de um Pecador Justificado é um livro com uma história muito singular. O seu autor, James Hogg, nasceu no ano de 1770, desconhecendo-se o dia e o mês. O local do nascimento foi a aldeia de Ettrick Hall situada num dos extremos de Ettrick Valley, uma região a sul da cidade de Edimburgo, já muito próxima da fronteira da Escócia com a Inglaterra. Hogg foi o segundo dos quatro filhos de um pequeno e muito pobre proprietário rural, que o matriculou numa escola primária, onde a sua instrução teve a escassa duração de apenas seis meses. Por razões económicas o pai viu-se obrigado a interromper a educação do filho e, tinha este sete anos de idade, confiou-lhe a guarda de uma manada de vacas. É a pastorear o gado do pai e de outros senhores que James Hogg vai crescendo. E é também como guardador de rebanhos que dá início à sua vida de poeta e de escritor, por mérito próprio, diga-se desde já, e por influência da mãe que lhe transmitiu o gosto pela poesia e pelas baladas que constituíam a vasta tradição oral e folclórica da região das Fronteiras (The Borders). Talvez caiba ao avô materno alguma responsabilidade no caso, pois dizia-se ter sido ele o último homem a conversar com as fadas e ninguém sabe o que às fadas apetece fazer. Certo é que em plena adolescência, com cerca de catorze anos, Hogg, por sua iniciativa e seu exclusivo esforço, aprendeu a ler, a escrever, a tocar rabeca e a compor versos e canções para os encontros de jovens das Fronteiras que, por sua vez, lhe chamavam «Jamie, o Poetinha».
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Introdução
Este jovem e ignorado poeta acaba por conseguir que uma revista escocesa, The Scots Magazine, publique um poema de sua autoria quando tinha vinte e três anos. Num meio social muito limitado passa a ser conhecido pelo cognome de Ettrick Shepherd (o Pastor de Ettrick), mas só em 1813, com a publicação de um longo poema intitulado The Queen’s Wake (O Despertar da Rainha), o poeta e pastor de Ettrick adquire alguma celebridade literária. É uma outra revista escocesa, The Blackwood Magazine, que acolhe a produção de James Hogg, sem nunca referir a sua origem rural e humilde que aliás Hogg não tentava esconder. Quando exercia a actividade de pastor de gado nas terras de um proprietário escocês de nome William Laidlaw, conhece um dos amigos do patrão com quem estabelece uma relação de amizade que lhe viria a ser muito proveitosa. O seu novo amigo era o famoso escritor Sir Walter Scott, autor de uma vasta obra novelística, da qual se destaca Ivanhoe. Ambos se interessavam pelo folclore e pelas baladas das Fronteiras e Hogg coligiu para Scott um bom número desses poemas populares. Em 1817 é publicada a primeira novela de James Hogg e em 1820 uma colectânea de contos a que se segue a sua obra de ficção, que não chega a alcançar uma dezena de títulos. As memórias e confissões aqui traduzidas são publicadas em 1824. Walter Scott acompanha a escrita de Hogg e reconhecia-lhe talento de prosador, embora lamentando uma certa falta de bom gosto e senso comum, como diz numa das suas cartas: «Os contos de Hogg revelam um génio considerável e original, mas nem sempre denotam bom gosto e bom senso.» Segundo alguns especialistas da literatura escocesa, esta atitude crítica de Scott em relação a Hogg assenta no facto de Scott ter prestado sempre muita atenção à literatura europeia, em particular à germânica, ao passo que Hogg se encontrava única e exclusivamente enraizado na tradição e no patri-
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Introdução
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mónio rural da sua Escócia natal. E acentuam que Scott era um fiel e leal partidário da política conservadora de Edimburgo, com aspirações aristocráticas e senhor de uma requintada educação também recebida em Edimburgo, enquanto Hogg não passava de um autodidacta que nunca conseguiu sacudir o rótulo rústico de Ettrick Shephard. Quando da sua publicação em 1824, como já referido, As Memórias e Confissões depararam com a hostilidade da generalidade da crítica. Na introdução à edição de 1991, o ensaísta David Groves esclarece que a novela foi entendida como um «grave atentado contra a religião e um insulto ao gosto moderno», acrescentando que um dos críticos do tempo a considerava «inspirada pela insolência e pelo whisky» e que tinha como único objectivo «averiguar até que ponto o público inglês permitiria ser insultado». David Groves diz-nos ainda que «a novela permaneceu na sombra até que, em 1947, foi republicada com um entusiástico posfácio do francês André Gide». Com efeito, no início do seu texto Gide confessa que mal pegou no livro em 1944, «mergulhou de imediato na sua leitura com um espanto e uma admiração que de página em página não cessavam de aumentar». Diz também não descortinar explicação para o facto de uma obra como esta não ter encontrado celebridade, «uma obra tão singular e reveladora, susceptível de interessar apaixonadamente qualquer espírito preocupado com a religião e a moral, tal como, embora por outras razões os psicólogos e os artistas, em particular os surrealistas, sempre ávidos de questões demoníacas». Ao longo das três partes do livro, Hogg conta-nos a história de um jovem chamado Robert Wringhim que se considera predestinado por Deus para expurgar do mundo o mal e o pecado, eliminando os ímpios e os devassos que atentam contra a rectidão e a moral. A estrutura da narrativa não é, porém, linear. Na primeira parte, um suposto «editor» dá-nos a conhecer o protagonista Robert, a sua
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Introdução
família e o seu meio social e descreve-nos as relações pessoais que mantém ou pretende manter com um irmão. Mas a «narrativa do editor» é escrita em 1823, mais de cem anos após terem ocorrido todos os acontecimentos que refere e esclarece-nos sobre a rigidez do fanatismo calvinista que no século XVIII estava enraizado numa boa parte da sociedade escocesa. A segunda parte é constituída pelas Memórias Íntimas e Confissões de um Pecador, ou seja é escrita pelo protagonista Robert. Alguns dos acontecimentos incluídos na narrativa do editor são agora contados de um modo menos objectivo mas muito mais angustiado e, tanto estes como diversos novos episódios, ilustram a luta que Robert trava consigo próprio, luta que consiste no esforço para prosseguir na sua «carreira de exterminador» e na «limpeza do santuário» pelo uso da espada. Robert tem a seu lado, para o instruir e encorajar na sua implacável tarefa, a figura misteriosa e perturbadora de Gil-Martin, que tem o poder de ler na mente dos seus interlocutores e de assumir o semblante e as maneiras destes. Gil-Martin assegura a Robert que a sua vida foi predestinada para cometer todas e quaisquer acções necessárias para eliminar os iníquos e não crentes e assim limpar o mundo. Nada tem a recear, pois ainda o mundo não existia e já a sua alma estava escolhida e eleita por Deus para pisar o caminho da salvação eterna. Não se sabe quem é Gil-Martin, cabe a cada leitor identificá-lo. É por certo um demónio e talvez tenha um pé de cabra. Mas também pode ser um outro Robert Wringhim, uma invenção ou uma ilusão da sua imaginação, o seu duplo ou mesmo (por que não?) a sua consciência, boa ou má. O que pelas suas memórias sabemos é que Robert ao fugir nos seus últimos dias pelo meio da Floresta de Ettrick a caminho do sul, se sentia só, degradado e sem esperança e que chorava a pensar naquilo que poderia ter sido e naquilo em que na verdade se tornara. Só encontrou uma solução para este desespero e é ele quem confessa que a sua vida
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chegou ao fim. Saber qual o último destino da sua alma é uma questão sem resposta e não há Gil-Martin que nos dê uma pista. Assim termina a segunda parte do livro, constituída pelas memórias e confissões do pecador justificado, escritas por ele próprio. Na terceira e última parte, o narrador é de novo o suposto «editor». Conta-nos que uma carta de James Hogg publicada no Blackwood’s Magazine lhe deu a saber que o túmulo de Robert Wringhim fora, em tempos passados, aberto e devassado. O «editor» decide reabrir o túmulo, encontra o corpo de Robert num razoável estado de conservação e descobre uma maleta contendo no seu interior um maço de folhas impressas que são, naturalmente, as memórias e as confissões do pecador Robert. Tudo isto se passa cem anos após a morte de Robert e é curioso verificar-se que o autor Hogg introduz-se a si próprio num dos episódios finais da novela. O já citado ensaísta David Groves refere que o autor, ao proceder assim, pretende apenas esclarecer que não é lícito, a nenhum leitor, admitir que o «editor» seja uma espécie de auto-retrato do seu criador James Hogg. É evidente, e a generalidade da crítica britânica assim o salienta, que tanto a narrativa de Robert como a do «editor» assentam num dado fanatismo, sendo o primeiro de ordem religiosa e o segundo de ordem científica ou, pelo menos, racional. E Groves acrescenta que «a narrativa de Robert revela a fragilidade das doutrinas religiosas, enquanto a narrativa do “editor” revela a fragilidade da razão humana», e que «este contraste entre a mentalidade religiosa e a mentalidade científica é o exemplo perfeito daquilo que, mais tarde, Hogg viria a descrever como a mais cuidadosa definição do homem em qualquer período da sua vida», definição que é a seguinte: «A mentalidade dos outros é uma espécie de espelho reflector da nossa própria imagem; e tu acabarás por entender que quanto melhor conheceres os outros homens, melhor será a tua relação contigo próprio.»
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Introdução
Será talvez aqui que reside a explicação para a admiração de Gide pelas memórias e confissões de Robert. Como ele próprio diz no seu já referido posfácio, Gide considera que «o diabo é uma invenção, tal como Deus. Não acredito nem em um nem no outro, mas finjo acreditar». Se assim não fosse, Gide não teria escrito a novela a que deu o título A Porta Estreita, onde nos conta como é difícil franquear essa passagem que nos dá acesso à serenidade e à paz interior. Será que, para André Gide, o diabo, em que aliás não acredita, estará sempre ao lado de cada um de nós, ou no nosso íntimo, ou no modo como os outros nos olham e nos reflectem? Para o pecador Robert Wringhim, o diabo acompanhava-o e chamava-se Gil-Martin. Para uma outra figura da literatura escocesa chamada Dr. Jekyll o diabo era de facto o seu duplo e tinha o nome de Mr Hyde. Dizem os ensaístas britânicos que Robert Louis Stevenson nunca teria escrito Dr. Jekyll and Mr Hyde se porventura não tivesse lido James Hogg e as memórias do seu pecador. Não é de prever que o leitor deste livro siga o exemplo de Stevenson e tente criar uma nova versão literária de Robert e Gil-Martin ou de Jekyll e Hyde. Mas é de desejar que a leitura o torne cauteloso e o aconselhe a olhar à sua volta em busca de um outro Gil-Martin que queira assumir o seu semblante e as suas maneiras. J.D.M.
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MEMÓRIAS ÍNTIMAS E CONFISSÕES DE UM PECADOR JUSTIFICADO escritas por ele próprio com a compilação de factos curiosos e bem conhecidos e outros depoimentos recolhidos pelo editor
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página anterior: O frontispício original, gravado por Robert Scott a pedido de James Hogg, para a primeira edição. em cima: O trecho é extraído do diário de Robert Wringhim (personagem principal deste livro) e supostamente representa a sua caligrafia.
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Ao HONORÁVEL WILLIAM SMITH Presidente do Município de Glasgow etc., etc., etc. É respeitosamente dedicada esta obra pelos EDITORES como um modesto sinal da sua estima como homem e respeito como magistrado.
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narrativa do editor
Segundo a tradição, e também alguns registos paroquiais ainda existentes, as terras de Dalcastle (ou Dalchastel, como frequentemente se escreve) eram há cerca de cento e cinquenta anos, e pelo menos um século antes dessa data, propriedade de uma família de nome Colwan. Supunha-se que esta família era um ramo de outra mais antiga, a família Colquhoun, e é certo ter sido desta que nasceram os Cowans que vieram a espalhar-se pela região da Fronteira 1. Averiguei que em 1687 George Colwan herdou de um seu tio com o mesmo nome as terras de Dalchastel e Balgrennan; e como isto é tudo o que a história me pôde transmitir sobre a família, vejo-me obrigado a recorrer à tradição para relatar o resto das estranhas e diversas aventuras daquela casa. Mas da matéria fornecida por esta última e autorizada fonte, não tenho razões de queixa: foi posta à disposição do mundo com uma prodigalidade ilimitada. E estou certo que, ao relatar os horríveis acontecimentos que se seguem, não faço mais do que contar, à maior parte dos habitantes de pelo menos quatro condados da Escócia, coisas de que já estão perfeitamente bem informados. Este George era um homem rico, ou supunha-se que assim era. Já em idade avançada casou, ou casaram-no, com a herdeira única, menina de grande e boa reputação, de um Bailio2 de Glasgow. Fronteira é o nome dado à região fronteiriça entre a Escócia e a Inglaterra. (N. do T.) Bailio era, na Escócia antiga, o conselheiro municipal encarregado da defesa dos interesses e dos bens dos nobres. (N. do T.) 1 2
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Esta união não foi do agrado de nenhum dos cônjuges. É bem conhecido que os princípios da Reforma exerciam, desde há muito tempo, um forte poder sobre os corações e os afectos do povo da Escócia, embora de modo não generalizado e nem sempre com o mesmo grau de intensidade. E aconteceu que o casal recém-casado não conseguia entender-se sobre a questão. Tendo isto em atenção seria de admitir que o laird 1, aquele rico proprietário de terras, devido à sua vida retirada fosse o mais concordante com as severas doutrinas dos Reformados; e é igualmente de admitir que a jovem e jovial dama citadina adoptasse os livres princípios do partido da corte, princípios extremamente acarinhados e totalmente opostos aos dos seus severos e rigorosos contemporâneos. Todavia, o que aconteceu foi exactamente o contrário. O laird era aquilo que os seus vizinhos do campo chamavam «um parceiro divertido e descuidado», que no coração alojava um muito reduzido temor a Deus e um pouco mais do que nada de temor dos homens. O laird não tinha deliberadamente feito mal nem ofendido nenhum dos partidos e, consequentemente, não via nenhuma necessidade de aplacar qualquer vontade de vingança contra si. Estava convencido de que convivera sempre nas mais cordiais relações com a grande maioria dos habitantes da terra e, particularmente, com os detentores dos mais altos poderes. Mas mal dele se rapidamente não se convencesse da falácia de uma tão condenatória tranquilidade! Porque, na verdade, a sua dama e senhora era a mais severa e mais desabrida de todas as fanáticas dos princípios da Reforma. Não se contentara em adoptar os dogmas dos grandes reformadores e tinha-os significativamente exagerado e deformado. 1 Laird era o termo usado na Escócia antiga para designar um rico proprietário de terras. (N. do T.)
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Os dos reformadores eram um unguento difícil de engolir, mas os dela eram o mesmo unguento muito mais amargo e de tal modo escaldante que a natureza não conseguia suportá-lo. Ela fora beber as suas ideias às doutrinas e aos ensinamentos de um único teólogo, partidário inflamado da predestinação; e estes princípios eram tão rígidos que se tornaram num embaraçoso estorvo para muitos dos seus irmãos e ofereceram aos inimigos do seu partido uma ferramenta preciosa e eficaz para virar contra eles a máquina do Estado. Os festejos das bodas nupciais em Dalcastle revestiram-se de toda a alegria, não da alegria daqueles tempos austeros e implacáveis, mas da que era própria de épocas anteriores. Houve um belo banquete, danças, gaitas-de-foles e cantigas. Os licores circularam em grande abundância, a cerveja em enormes canecas de madeira e a aguardente em compridos chifres de boi. O laird deu livre curso à sua grosseira satisfação. Dançava, estalava os dedos ao compasso da música, batia palmas e gritava quando a melodia mudava. Saudava todas as raparigas da sala cuja figura era aceitável e desafiava os seus namorados a tomarem a mesma liberdade com a sua noiva, em guisa de retaliação. Esta permanecia sentada ao fundo da sala, imóvel na sua beleza resplandecente e recusando com firmeza dar um só passo de dança com qualquer um dos cavalheiros presentes. O único prazer de que parecia desfrutar consistia em trocar, uma vez por outra, duas ou três palavras de amena conversa com o seu pastor favorito, a propósito de assuntos divinos. Com efeito, ele tinha-a acompanhado a casa, depois de a ter unido ao marido, para ver se ela estava bem instalada na sua nova morada. Por várias vezes a tratou pelo seu novo nome, Mrs Colwan, mas ela virava a cabeça com aversão e olhava com dó e desdém o velho pecador descuidado que pulava e saltava no máximo do regozijo pecaminoso e incorrigível. O ministro compreendeu o que se passava naquela mente piedosa
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e devota e de aí em diante passou a tratá-la pelo título cortês de Lady Dalcastle, o que soava um tanto melhor pois não associava o seu nome ao de um ímpio malvado. Além disso, havia também fortes razões para acreditar que, a despeito dos votos solenes que ela tinha proferido, votos singularmente exigentes sobretudo para o laird, ela o desprezava naquele momento, se porventura não o detestasse mesmo, do mais fundo do seu coração. O bom vigário abençoou-a de novo e preparou-se para sair. Ela despediu-se com lágrimas nos olhos, suplicando-lhe que não deixasse de a visitar com frequência naquela terra pagã de Amorreus, Hititas e Girgasitas1. Ele deu o seu consentimento, sob várias condições solenes e bem definidas, posto o que a elegante noiva se retirou para o quarto, para rezar. Naqueles dias era costume que a dama de honor e o seu par, tal como alguns amigos e amigas escolhidas, visitassem os recém-casados depois destes se terem recolhido, para beberem um copo à saúde dos noivos e à sua felicidade e para lhes desejar uma posteridade numerosa. Mas o laird não se mostrou entusiasmado com a ideia. Preferia guardar a sua joia só para ele e, deslizando secretamente para longe dos seus joviais companheiros, retirou-se para o quarto, para junto da sua bem-amada, e trancou a porta. Encontrou-a mergulhada nos escritos dos Evangelistas e terrivelmente recatada. O laird aproximou-se para a acariciar e ela começou a falar das loucuras dos homens velhos e a dizer qualquer coisa sobre a estrada larga que conduz à perdição. O laird não compreendeu completamente a alusão mas, num estado de grande excitação devido à bebida e disposto a tudo aturar de bom grado, limitou-se 1 Amorreus, Hititas, Girgasitas são tribos do Antigo Testamento expulsas das terras de Canaan por Moisés. (N. do Editor)
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a fazer notar, enquanto descalçava os sapatos e as meias, «que o casamento tanto podia ser largo como estreito, mas chegara a hora de ambos se meteram na cama». — Seguramente, Mr Colwan, não quereis ir para a cama, num momento tão importante da vossa vida, sem primeiro rezar umas orações em vossa e em minha intenção. Quando ela disse estas palavras, ele tentava desapertar a fivela dos sapatos e tinha a cabeça inclinada, quase rente ao chão. Mas ao ouvir orações, numa noite como aquela, ergueu subitamente o rosto, que se achava tão inflamado e tão vermelho como uma rosa, e respondeu: — Orações, minha senhora! Que Deus Nosso Senhor venha em auxílio da vossa cabeça tonta, será esta, uma noite para orações? Teria sido melhor ter permanecido quieto e calado. Foi tal a torrente de profunda teologia que desabou sobre ele que o laird sentiu vergonha, tanto por si como pela sua recentíssima esposa, e não soube o que havia de dizer, mas a aguardente veio em seu auxílio. — Quer-me parecer, minha querida, que as devoções religiosas estão um tanto deslocadas esta noite — disse. — Por mais belas que sejam e mais benfazejas, se estivéssemos a usá-las em todos os passos da nossa vida estaríamos também, e constantemente, a fazer delas uma farsa. Seria o mesmo que estar a ler a Bíblia e um livro de anedotas, alternando um versículo de um e um versículo do outro. A vida do homem tornar-se-ia uma trapalhada de absurdos e confusões. Contra o palavreado do fanático e do hipócrita não há raciocínio que valha. Pode cada um argumentar até ao fim da sua vida e todavia a infalível criatura será sempre a única a ter razão. Foi o que o laird aprendeu. A um texto da Escritura seguiu-se um outro sem a menor ligação com o primeiro; a uma sentença dos sermões
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do profundo Mr Wringhim seguiu-se outra para provar que a oração em família era um dever. E assim continuou até que o laird perdeu a paciência e, atirando-se para a cama, disse despreocupadamente que por uma noite deixava aquele dever nos ombros dela. A pacífica resolução de Lady Dalcastle ficou um tanto abalada com esta súbita evolução. Sentiu-se numa situação embaraçosa. No entanto, para mostrar ao seu esposo desprovido de consciência que estava decidida a salvaguardar a sua integridade, ajoelhou-se e orou em termos clamorosos que a deixaram convencida de o ter impressionado. E assim aconteceu, pois após um tempo muito curto, o laird começou a dar-lhe respostas tão fervorosas que ela ficou completamente estupefacta, correndo o risco de romper o encadeamento das suas orações. Ele começou, com efeito, a fazer ressoar uma corneta nasal com uma intensidade fora do vulgar, emitindo notas musicais um pouco menos fortes do que as de uma trombeta militar. A dama tentou continuar, mas cada nota que da cama lhe respondia, estourava-lhe nos ouvidos cada vez mais forte, mais fanhosa e a repicar mais longamente. A ternura destes acordes tornou-se tão patética que a pacífica resolução da senhora ficou completamente desfeita e, depois de verter uma torrente de lágrimas, ergueu-se da sua posição ajoelhada e retirou-se para o canto da chaminé com a Bíblia no regaço, para passar tantas horas em devota meditação, quantas as que o embriagado trombeteiro necessitasse para acordar e recuperar o sentido das conveniências. O tempo foi passando e o laird não despertava, pois encontrava-se vencido pela fadiga e pela bebedeira e, à medida que o sono se tornava mais profundo, a música de Morfeu adquiria maior intensidade. A estrutura musical variava apenas ligeiramente e a sucessão de acordes soava, quase invariavelmente mais
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ou menos deste modo: «Hic-hoc-uii!». Era profundamente grotesco e não deixaria de suscitar o riso a qualquer um, salvo a uma noiva piedosa, desiludida e humilhada. A boa senhora chorou amargamente. Por nada no mundo poderia ela ir despertar o monstro e solicitar-lhe um cantinho para a receber, mas por certo retirou para qualquer lado, pois o laird, ao acordar na manhã seguinte, descobriu que continuava deitado sozinho na cama. O seu sono tinha sido um verdadeiro e dos mais profundos sonos e, enquanto durou, nem uma só vez pensou em mulheres, crianças ou namoradas, salvo em sonhos. Porém, devido aos efeitos de um bom repouso, o seu espírito retomava lenta e progressivamente o caminho das bordas da razão, ia também ganhando força, leveza e alegria e os sonhos começaram a partilhar dessa mesma alegria — oh sim! — a um grau quase impossível de exprimir. Sonhou que dançava a jiga, a escocesa e outras danças vivas e saltitantes. O corpo ganhou tal elasticidade que saltava por cima da cabeça das raparigas e os pés roçavam o tecto, enquanto ao mesmo tempo o êxtase se apoderava dele. Estas canções tornaram-se tão ardorosas que as grilhetas do deus do sono perderam toda a eficácia. De um momento para o outro a trombeta do seu nariz cessou de ressonar e deu lugar a uma espécie de risadas febris. «Para a frente, toquem, toquem diabinhos!», gritava o laird, sem mudar de posição na almofada. Mas o esforço para manter os rabequistas a trabalhar não tardou a acordar de vez o sonhador deleitado que, embora sem conseguir refrear o riso, começou a encadear e relacionar os factos e acabou por se aperceber da sua real situação. «Onde estás tu, minha rabina? Que te aconteceu, minha querida?», gritava o laird. Não se ouviu nenhuma voz, nem se via ninguém para lhe prestar atenção e responder. Abriu as cortinas, julgando encontrá-la ainda de joelhos, tal como a vira. Contudo ela
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não estava por ali, nem acordada nem a dormir. «Rabina! Mrs Colwan — gritou tão alto quanto pôde, acrescentando logo de seguida, — Deus salve o rei, perdi a minha mulher!» Levantou-se num salto e abriu as portadas da janela. A luz do dia começava a raiar a Oriente, pois a Primavera já chegara, as noites eram curtas e as manhãs muito longas. Num instante o laird vestiu-se, só metade da roupa, e percorreu apressadamente todas as salas e compartimentos da casa, abrindo as janelas à medida que passava e escrutinando cada leito e cada canto. Chegou ao salão onde decorrera a festa do noivado e, ao abrir as persianas das janelas, vários pares de namorados começaram a fugir como lebres surpreendidas, já no fim da manhã, no meio da erva nova e fresca. — Eh lá, eh lá! Ah, estão com medo! — gritou o laird. — Ah, ah, a correrem como doidos, parece que foram apanhados a fazer maldades! A noiva não estava com eles e viu-se obrigado a continuar a busca. «Deve estar a rezar num canto qualquer, pobre mulher», disse para consigo. «Não servem para nada estas orações. Pela minha parte, receio ter-me comportado muito mal; devo fazer um esforço para me emendar.» O laird prosseguiu a busca e finalmente encontrou a sua querida deitada na mesma cama com a prima de Glasgow que lhe tinha servido de dama de honor. — Oh diabinho ruim e mimado —, disse o laird, — pregaste-me uma bela partida enquanto eu dormia como uma pedra! Nunca vi brincadeira tão espertinha e ao mesmo tempo tão cruel. Ora vamos, tu, mulher malvada! — Senhor, tenho de vos dizer que detesto os vossos princípios e detesto igualmente a vossa pessoa —, disse ela. — Jamais se há-de dizer senhor, que a minha pessoa esteve submetida ao controle
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de um pagão, de um servo de Belial, um mulherengo perseguidor de saias, um bailarino que dança com toda a gente e um jogador de jogos proibidos. Deitai fora a vossa grosseria, senhor, digo-vos eu, e desaparecei da minha vista e da vista da minha prima. — Vamos lá, vamos lá, minha encantadora mulher. Podeis ser o modelo e a pérola de todos os puritanos e a santa de todas as santas, mas sois também a minha mulher e deveis comportar-vos como eu digo e fazer o que eu mando. — Senhor, mais depressa sacrificarei a minha vida do que me submeterei à vossa vontade e aos vossos caprichos sacrílegos. Por isso desisti, assim vos digo, deixai-me em paz e ide-vos embora. Rua! Porém, o laird não teve em atenção nenhuma destas impertinentes declarações. Enrolou-a num cobertor e levou-a em triunfo para o quarto dele, tendo o cuidado de deixar solta uma ponta do cobertor, perto da boca dela, para acudir no caso de se começar a ouvir mais alguma barulheira ultrajante. No dia seguinte a noiva não apareceu à hora do almoço. A criada pediu licença para a ir ver ao quarto, mas George não consentiu que ninguém, a não ser ele, a visse. Por várias vezes a foi visitar e, à saída, deu sempre a volta à chave da porta. Finalmente, serviu-se o almoço e, ao longo da refeição, o laird tentou contar algumas historietas engraçadas, mas foi evidente que desta vez não o conseguiu com o humor e a vivacidade habituais e notou-se também que a ponta do nariz se achava particularmente avermelhada. As coisas, sem dúvida nenhuma, tinham-se passado muito mal entre os recém-casados. E de facto, no decurso do dia a dama desertou dos seus aposentos e regressou para casa de seu pai, em Glasgow, onde chegou depois de ter passado a noite inteira no caminho, pois na região não havia ainda diligências nem barcos a vapor. Embora o Bailio concordasse com a opinião da mulher, que asseverava
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ser a única filha de ambos muito parecida com o pai, ele nunca gostou muito dela nem a admirava. Por esta razão, a conduta da filha não o surpreendeu. Questionou-a rigorosamente, para se inteirar da gravidade das ofensas cometidas e dos insultos proferidos contra ela e não discerniu nada que justificasse um procedimento tão carregado de possíveis consequências desagradáveis. Assim, após madura reflexão, o bailio dirigiu-se-lhe nos seguintes termos: — Ai, ai Raby! Estou a ver que Dalcastle recusou mesmo rezar contigo quando lhe deste ordem para o fazer e tratou-te de maneira brutal e insolente sem ter em conta o respeito devido à minha filha, pelo facto de ser minha filha. Mas quanto àquilo que é devido à sua própria mulher, quanto a isso é ele melhor juiz do que eu. Contudo, já que se comportou dessa maneira com a minha filha, vou vingar-me dele por uma vez; vou acertar contas com ele na pessoa que está mais perto dele, isto é, vou negociar umas coisinhas com a sua mulher… e ele que se arranje. — Que quereis dizer com isso, senhor? — Disse a donzela, estupefacta. — Quero dizer que me vou vingar do que esse tratante fez à minha filha —, disse ele. — Venha para aqui Mrs Colwan, ides pagar por isso. Dizendo isto, o bailio começou a infligir uma punição corporal à esposa fugitiva. É certo que não batia com muita violência, mas gesticulava com grandes floreados, para dar a entender que se achava todo enraivecido, mas somente contra o Laird de Dalcastle. «Grande patife, é o que ele é!» exclamava. «Vou ensiná-lo a comportar-se com uma criança das minhas, seja ela quem for. Já que a ele não lhe posso tocar, vou desancar a que vive mais perto dele. Apanha lá esta, e mais esta, Mrs Colwan, pela impertinência do marido!»
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Narrativa do Editor
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Aflita, a pobre mulher chorou e suplicou, mas o bailio não cedeu nem diminuiu uma pequena migalha à sua severidade. Exasperado, deu-lhe inúmeras chicotadas, muito amplas e vistosas mas não demasiado fortes, e em seguida levou-a para o quarto, cinco andares mais acima, onde a encerrou de porta trancada e provida de pão e água. Tudo isto para se vingar do presunçoso Laird de Dalcastle e, de cada vez que o bailio descia a escada, após ter renovado a refeição da filha, dizia para consigo: «Vou fazer tudo tão bem feito que, ao tornar a ver o laird, ela vai sentir a maior alegria da sua vida.» Lady Dalcastle ficou com tempo de sobra para ler, rezar e meditar, mas sentia uma falta imensa de alguém com quem pudesse debater questões de doutrina religiosa, pois entendia que sem esse passatempo, de que nessa época estava aliás completamente farta, as leituras e os estudos de textos das Escrituras e de intrincadas sentenças doutrinais não lhe serviam rigorosamente para nada. Assim sendo, ela via-se reduzida a sentar-se com frequência à janela, espreitando a chegada do ímpio Laird de Dalcastle. Este herói, passado um considerável lapso de tempo, fez finalmente a sua aparição. Não foi difícil ajustarem-se as coisas, pois a senhora já percebera que a casa de seu pai não constituía um refúgio para ela e, após algumas lágrimas e alguns suspiros, decidiu-se a acompanhar o marido de regresso a casa. Tendo em atenção tudo o que acontecera, as coisas não podiam ter corrido melhor. Ela teimava em converter o laird apesar deste lhe arreganhar os dentes: o laird não queria ser convertido. Ela teimava em pôr o laird a rezar orações familiares, tanto de manhã como à noite. O laird não queria rezar, nem de manhã nem de noite. Nem queria sequer entoar os salmos e ajoelhar ao lado dela enquanto esta executava os exercícios piedosos. Também não queria estar sempre a
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conversar, a toda a hora e em qualquer lugar acerca dos sagrados mistérios da religião, embora a sua dama não perdesse nenhuma ocasião de contradizer com determinação todas as suas afirmações, com o intuito de o obrigar a discutir e argumentar e, desse modo, contribuir para a elevação do seu espírito. O laird conservou o sangue-frio por longos momentos mas acabou por perder a paciência. Interrompia com brusquidão todas as tentativas para o evangelizar e zombava das refinadas fantasias que ela propalava sobre a fé, a esperança e o arrependimento. Atreveu-se também a duvidar da grande e fundamental doutrina da predestinação absoluta, o que colocou a cereja no bolo do ressentimento cristão da senhora. Proclamou que o seu companheiro era um sequaz do Anticristo, alguém que de modo algum podia ser companheiro de vida de uma criatura regenerada. Exigiu consequentemente um alojamento independente e, ainda não eram decorridos seis meses, ficaram amigavelmente ajustados os termos da separação. O mais alto, ou seja, o terceiro andar da mansão foi designado para residência da senhora. Tinha uma porta e uma escada independentes, um jardim à parte e passeios de acesso que não coincidiam nem se cruzavam com os do laird, de modo tal que a separação afigurava-se total e completa. Cada um dos dois tinha o seu próprio grupo de amigos e convidados, escolhidos no seu próprio meio social. No entanto e embora o laird nunca se tivesse irritado por causa das visitas recebidas pela senhora, não foi necessário muito tempo para que esta começasse a intrometer-se com algumas das visitas que ele recebia. — Quem é aquela dama gorda e forte que vai visitar o laird tão frequentemente, e sempre sozinha? — perguntou ela um dia à sua criada Marta. — Oh minha querida senhora, como posso saber? Aqui estamos longe dos conhecimentos e dos bons dizeres dos Evangelhos.
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ÍNDICE
Introdução, José Domingos Morais . . . . . . . . . . . . . . . .
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Narrativa do editor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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memórias íntimas e confissões de um pecador Memórias íntimas e confissões. . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Narrativa do editor (conclusão) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297
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James Hogg CONFISSÕES DE UM PECADOR JUSTIFICADO
James Hogg MEMÓRIAS ÍNTIMAS E CONFISSÕES DE UM PECADOR JUSTIFICADO tradução e introdução de
José Domingos Morais
Uma feroz e profunda parábola sobre o fanatismo.
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James Hogg MEMÓRIAS ÍNTIMAS E CONFISSÕES DE UM PECADOR JUSTIFICADO