Chita — Uma Memória da Ilha do Fim

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Lafcadio Hearn

cHita Uma memória da ilha do Fim

tradução e apresentação

Aníbal Fernandes

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títULo do originaL: Chita, a MeMory of Last isLand © SiStEMa SoLar, crL (2022) rUa PaSSoS ManUEL, 67B, 1150-258 LiSBoa tradução © aníBaL FErnandES 1.ª EdiÇÃo, JanEiro dE 2022 iSBn 978-989-8833-98-3 na caPa: dESEnHo dE JoÃo Jacinto rEViSÃo: diogo FErrEira dEPÓSito LEgaL 494343/22 EStE LiVro Foi iMPrESSo na ULZaMa

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em 1890 Lafcadio hearn foi para o Japão e por lá ficou até ao fim da sua vida. Casou-se com uma japonesa, filha de um samurai que lhe deu três filhas e um filho. foi professor de literatura inglesa em yokohama, Matene, Kumamoto, Kobe e tóquio; obteve a nacionalidade japonesa, e com ela abdicou do que era o seu nome ocidental para se chamar yakumo Koizumi. — Lafcadio encontrou este Koizumi no nome de família da sua mulher (significa «Pequena fonte») e o outro na primeira palavra do mais antigo dos poemas japoneses conhecidos, com o significado — dentro da fluidez que os kanji desse idioma possuem — de «oito nuvens» para uns ou, mais poeticamente para outros, «Lugar de onde surgem as nuvens». este período final da vida de Lafcadio hearn deixou-o ligado a um grande número de textos que têm o Japão como tema; é hoje lembrado sobretudo por Kwaidan, que reúne histórias tradicionais dominadas por «fantasmas japoneses», e por outras obras que levaram à língua inglesa um grande número de realidades, lendas e histórias da tradição nipónica. Quando morreu em setembro de 1904, o mundo literário ocidental reconheceu-o como escritor de excelente inglês e bem trabalhado estilo, apaixonado por uma singularidade temática e um exotismo sentidos por dentro, que na sua verdade vivida se afastavam do outro, lido em livros de «orientalistas de viagem» — escritores europeus que ape-

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nas por acidente e curiosidade cediam à diferença decorativa, aos perfumes exóticos do oriente. temos um exemplo deste reconhecimento no austríaco hugo von hoffmansthal, que escreveu no seu diário: «talvez tenha sido ele o único europeu que conseguiu perceber perfeitamente e amar aquele país. não se trata do amor do esteta nem do erudito, mas o mais forte, raro e vasto amor do que vive a vida interior do país amado.» e também esta referência de Marguerite yourcenar: «Lafcadio hearn adopta o Japão como se entra numa ordem; casa-se com ele da mesma forma que escolhe a filha de um samurai e conquista, por assim dizer, a sua salvação no fundo de uma pequena cidade à beira do Mar da China; depois de lamentáveis odisseias na europa e na américa, exalta o seu país de adopção em livros sempre emocionantes e algumas vezes belos.» antes deste Lafcadio hearn dominado pela sedução japonesa há, portanto, o Lafcadio das «lamentáveis odisseias na europa e na américa», onde encontramos o autor de chita, o seu primeiro romance — de 1887 no Harper’s Magazine de nova iorque, e dois anos depois em livro numa versão ligeiramente modificada. * o japonês yakumo Koisumi teve como o seu primeiro nome inteiro Patricio Lafcadio tessima Carlos hearn, o que lhe foi dado quando nasceu no ano 1850 em Lêucade, uma ilha do Mar Jónico nessa altura sob ocupação inglesa e hoje pertencente à Grécia. Charles hearn, o seu pai, era um cirurgião irlandês militarmente destacado para trabalhar no hospital inglês de Lekvas, e casou-se com uma grega aristocrática — casamento desde o início pouco tranquilo. Lafcadio teve os primeiros anos da infância espalhados

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por uma assinalável variedade geográfica, cumprida ao sabor das ocupações cirúrgicas do seu pai, embora com permanência maior em dublim; isto assim, até à intempestiva separação matrimonial que o deixou entregue aos cuidados de uma tia-avó. Lafcadio hearn, que nunca mais voltou a ver os seus pais, sentiu desde criança uma emocionada sensação de orfandade; e a partir da adolescência complexados incómodos — porque a sua estatura sujeitou-o a só poder mostrar um pouco decorativo metro e cinquenta e sete; porque tinha no rosto um olho esquerdo cego e recolhido dentro da órbita (devido a um acidente), um olho direito míope e exoftálmico. ao «órfão» Lafcadio, entregue a uma conscenciosa tia-avó que o queria metido numa profissão eclesiástica, foi dada uma educação religiosa que começou por interná-lo em colégios ingleses de grande prestígio; e mais tarde, para lhe ser acrescentado o bom tom de um toque francês, o transferiu para ruão, onde frequentou a instituição eclesiástica de yvelot. Mas já havia, neste jovem impregnado por vastas leituras, sonhos que se afastavam de seminários e viviam bastante mais por terras não europeias; era forte, em Lafcadio, a sedução de um convívio com raças afastadas dos hábitos e das morais vividas no seu quotidiano; imaginava-se feliz perto de índios, negros, orientais, e muito menos a acompanhar ingleses, que embora lhe tivessem dado uma sólida cultura europeia, baixo interesse lhe despertavam com a sua forma de viver. Mas antes de poder privar com os que podiam fazê-lo sentir de perto as suas diferenças de raça e civilização, esteve em Paris e Londres a viver precariamente um irresistível desejo de liberdade. os anos de conforto económico da sua adolescência tinham acabado. os seus parentes protectores tinham sofrido um rude golpe; um canto de sereias arruinara-os.

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foi dentro desta realidade pouco sorridente que em 1869 Lafcadio se abalançou ao grande salto, o da convivência com raças não europeias — as que então se misturavam e cruzavam com desenvoltura em todos os países da américa. Conhecemos dele estas palavras: depois de um aventureiro ter feito os meus parentes passarem da riqueza à pobreza […], vi-me aos dezanove anos sem dinheiro na calçada de uma cidade americana. tive momentos difíceis. dormi muitas vezes na rua, trabalhei como criado, tipógrafo, empregado de café, revisor tipográfico, e só muito lentamente cheguei a dispor de alguma estabilidade. nesta américa ainda jovem, Lafcadio afastava-se bastante do padrão comum; tinha a bagagem de muitas leituras e um inegável talento jornalístico: não lhe foi difícil convencer o cincinnati Enquirer a admiti-lo como colaborador. o cincinnati era um jornal sensacionalista, especializado na notícia de assassínios, e teve a sua destreza expositiva a garantir-lhe um acréscimo de popularidade. Mas esta virtude profissional não lhe desculpou a má ideia de um casamento com uma mestiça. a direcção do jornal despediu-o. se naquela américa posterior à secessão já eram legalmente permitidos casamentos inter-raciais, eles denunciavam qualquer coisa vista como uma promiscuidade socialmente inadmissível. não convinha ao cincinnati Enquirer ter entre os seus colaboradores o marido de uma mulher de sangue misto. os seus seis anos de Cincinnati tiveram de ser prolongados por outros, agora no jornalismo de nova orleães, a cidade do Mississipi racialmente mais permissiva, e desta vez na redacção de Le commercial. foi ali, numa confusão urbana que misturava o inglês, o francês, o espanhol, e fazia nascer variantes crioulas, inventoras de palavras com ecos de todas estas línguas, que Lafcadio hearn imaginou o seu primeiro romance — chita (uma redução de

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Conchita), a personagem feminina que serviria de pretexto à longa evocação da tragédia da ilha do fim. além de se mostrar como jornalista em Le commercial, hearn aproveitava o seu vasto conhecimento da língua e da literatura francesas para encher os jornais da cidade com a tradução de textos de autores que eram, nesses anos, pontos altos da ficção literária europeia. Uma investigação desta actividade reuniu exemplos que o mostram como tradutor de Gautier, nerval, flaubert, Zola, daudet, Maupassant… (a lista inteira causaria aqui algum cansaço.) o seu jornalismo de prosa culta e eficiente, e estas traduções que traziam aos ouvidos louisianos vozes de uma europa não inglesa, permitiram-lhe ganhar um prestígio que o aproximou de alguns escritores locais: citemos, como mais significativos, G race King, K ate Chopin e G eorge Washington Cable. foi numa noite de nova orleães que Lafcadio ouviu George Washington Cable dissertar longamente sobre os furacões assassinos que em diversas ocasiões tinham destruído as terras do sul da Louisiana. esta primeira evocação dos desastres das pequenas ilhas do Mississipi que hesitam entre rio e mar, seria reforçada no Verão de 1884 quando ele próprio passou algum tempo na Grande isle e voltou a ouvir relatos sobre o que restava da ilha do fim e do que não restava da sua sumptuosidade estival. Lafcadio hearn, já a assumir-se como autor de textos de ficcão, escreveu para o jornal times-democrat inventados fragmentos de cartas de um dos sobreviventes dessa catástrofe, e chamou-lhes torn Letters (cartas rasgadas), um êxito que o incitou à narrativa chita, pouco depois publicada no Harper’s Magazine. numa carta de 1888 — a altura em que ele viveu na Martinica como correspondente do Harper’s Magazine e pensava em

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publicar em livro a novela escrita um ano antes para esse mesmo jornal — hearn informa que a «sua Conchita» lhe tinha sido inspirada pelo caso verídico de uma rapariguinha salva por pescadores do desastre da ilha do fim — e marcada, a partir dos quatro anos de idade, por uma paternidade desconhecida. a sua história termina, sugerindo ao leitor a mais provável hipótese de uma Chita destinada a viver anos «selvagens» nunca perturbados pelo epílogo que lhe foi imposto na vida real. Lafcadio hearn, que chegou a conhecer pessoalmente a inspiradora da sua personagem, ficou a saber que a tinha ficcionado sem imaginar o possível aparecimento de parentes reivindicativos, apoiados na força de uma legalidade que dava um fim implacável aos mais felizes anos da sua infância. num dia de má sorte, Conchita ficou a saber que pertencia pelo sangue a uma família de gente abastada. e a rapariga, que desde criança olhava para o mundo com olhos de inocência tocados por um inconsciente panteísmo, viu-se transportada para um convento de freiras educadoras e para uma formação de bom tom, a única admissível numa donzela que se destinava a frequentar a mais abastada classe dos estados do sul. Como era de prever, nenhum rigor educativo estaria apto a modelar uma Conchita de pés descalços às regras da sociedade elegante. a órfã da ilha do fim fugiu do convento; regressou ao ar livre, «ao sopro infinito, à Grande alma azul»; e para viver com maior verdade o seu destino, escolheu para marido um pescador. Quando hearn a procurou, para ver ao vivo a criança da sua imaginação, só encontrou uma mulher de meia idade, batida por uma vida difícil e mãe de muitos filhos. teremos porém de reconhecer que a personagem principal nesta novela é o maravilhoso círculo duplo do azul… sem

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margens, sem nuvens — glórias gémeas de profundidades infinitas que se entre-reflectem enquanto a alma do Mundo repousa tranquila, derramada com uma preciosa luz… Chita introduz-se em chita como pretexto: — como elo físico numa viagem interior onde tudo se move de acordo com uma realidade panteísta povoada por animais e homens em unidade transmigrável, a prenunciarem o Lafcadio dos seus últimos anos japoneses — o que passaria horas de meditação à frente do gordo e sentado príncipe nepalês conhecido pelo nome de Buda, e não queria morrer sem fazer uma ascensão — já incompatível com o seu estado físico — ao sagrado Monte fuji. ao leitor de chita será muitas vezes evocada a força mítica e panteísta do azul. Lafcadio hearn lembra-nos que Xenofonte escreveu: «o azul é deus». e também nos dá a ler a frase: Se quieres aprender a orar, entra en el mar, que remete inevitavelmente para a história de ramakrisna e da sua boneca de sal, a que mergulha no oceano e se dissolve no Grande azul. ele próprio, que um dia escreveu um texto intitulado «Psicologia do azul», confessa-nos a sua relação com essa cor que sobrevoa o mundo e lhe abria as portas do transcendente: no que me diz respeito, a visão do vibrante azul sempre se fez acompanhar de uma sensação de alegria mais ou menos intensa, de acordo com a intensidade luminosa da cor. E quando naveguei em direcção aos trópicos, esta sensação chegou ao êxtase. * Victor hugo, em dia de versos, escreveu os que poderiam ser uma acertada epígrafe de chita:

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eu sou o vasto conflito; réptil quando fui onda, Com asas quando fui vento. força e fuga, ódio e vida, Vaga imensa Que é perseguida e persegue. a.f.

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Mas a natureza, com todos os seus ventos a silvar, faz o que quer e segue o seu caminho.

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A LENDA DA ÎLE DERNIÈRE

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Viajando para sul, desde nova orleães até às ilhas, passamos por uma estranha terra e metemo-nos num estranho mar através de umas quantas e sinuosas vias navegáveis. Podemos, se quisermos, viajar até ao golfo num lugre; mas a viagem pode ser muito mais rápida e agradável num desses navios a vapor, estreitos e leves, especialmente construídos para a deslocação nos bayous1, que em geral recebem passageiros num ponto não muito distante do fundo da velha rua Saint-Louis, bem perto do desembarcadouro do açúcar, onde há sempre actividade comercial e um aglomerado de embarcações — todas as lutarem lado a lado contra o molhe, para conseguir um espaço que dê descanso aos seus peitos brancos — como grandes e fatigados cisnes. Mas o vapor-miniatura onde compramos passagem para o golfo, nunca se demora muito no Mississipi; atravessa o rio, enfia-se na boca de um canal, atormenta-se durante um momento ao longo do canal artificial e depois deixa-o com um grito de alegria; deita baforadas de fumo e toma o caminho livre para descer muitas léguas em bayous densamente sombreados. a seguir talvez nos imponha a travessia do enorme silêncio de arrozais inundados, onde a superfície amarelatermo usado na língua crioula da Louisiana. Em português convém-lhe a designação aproximada de «baía pantanosa». (n. do t.) 1

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-esverdeada é quebrada a longos intervalos pela negra silhueta de uma máquina de irrigação — mas encontra-nos com frequência a vogar, seja qual for o caminho que entre cinco possamos seguir, no sombrio dédalo de uma floresta pantanosa — passando por um conjunto de ciprestes completamente esbranquiçados pelos parasitas tillandsia e tão grotescos como uma assembleia de deuses-feitiço. o vapor volta a deslizar, sempre num braço de rio ou pequeno lago, até um canal ou bayou — e, mais uma vez, desde um bayou ou canal até um lago ou uma baía; e o pântano-floresta por vezes estreita-se visivelmente e desaparece daquelas margens para entrar em lameiros imensos com canaviais onde o solo alagadiço, mesmo em desalentadas noites, vibra com um trovejante som de batida de ondas numa costa: o ruído de tempestade da voz de biliões de batráquios1, que faz o seu apelo a compasso — que surge com um ritmado e prodigioso crescendo e diminuendo — um monstruoso e aterrador coro de rãs!… a ofegar, a gritar, a raspar o leito sobre os bancos de areia — o pequeno vapor esforça-se durante todo o dia, e a jusante das terras pantanosas, por chegar à grande chama azul de uma água aberta; e talvez tenha sorte bastante para entrar no golfo quando o sol estiver a esconder-se. como uma atenção feita aos passageiros, só navega durante o dia; mas há outros barcos que também fazem a viagem de noite — de Verão e inverno abrindo caminho no labirinto dos bayous — por vezes guiados pela Estrela Polar — por vezes, na estação branca das névoas, a tactear o caminho com varas — por vezes guiados no original «répteis». Hearn, como Virginia Woolf em orlando, emprega a palavra répteis para designar as rãs. (n. do t.) 1

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também pela Vésper, que brilha no nosso céu como outra lua e salpica os lagos silenciosos como se por eles passasse um palpitante rasto de fogo prateado. as sombras alongam-se; e atrás de nós, nos últimos bosques, ficam mais pequenas até se transformar em estreitas linhas azuladas; — terra e água ganham de igual modo uma cor luminosa — os bayous abrem-se em largas passagens — os lagos ligam-se também às baías marítimas; — e o vento do oceano fustiga-nos em cheio — mordaz, frio e cheio de luz. o navio começa pela primeira vez a balançar — embalado pelo grande e vivo impulso das marés. E à nossa volta, na ponte, com a vista não afrontada pelas paredes da floresta temos a impressão de que esta terra plana deve ter sido um dia rasgada pelo mar e espargida no golfo com fantásticos farrapos… acima da vasta pradaria de juncos, batida pelo vento, vemos por vezes um oásis que emerge — recife ou pesado outeiro sombreado por uma folhagem impecável de carvalhos com verde perene — uma chênerie1. E do reluzente fluxo também se erguem pequenos montículos de um verde semelhante — formosas ilhotas, todas com o seu cinturão de uma praia de esplendorosa areia e conchas em amarelo e branco — tudo irradiante na sua folhagem semi-tropical, mirtos e palmeiras-anãs, laranjeiras e magnólias. Por baixo das sombras cor de esmeralda, há curiosas aldeias de casebres sonolentos com telhados de folhas de palma, habitados por uma bronzeada população de orientais — pescadores malaios que falam tão bem o crioulo espanhol das Filipinas como o seu próprio tagal, e perpetuam na Louisiana as tradições católicas das índias. Várias vezes no texto surgirá esta palavra francesa que designa um conjunto de grandes árvores. (n. do t.) 1

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nestas aldeias pouco conhecidas habitam raparigas dignas de inspirar qualquer escultor de estátuas — belas com a beleza do bronze vermelho — graciosas como as palmas que acima delas se agitam… Um pouco mais longe, no mar, pode também acontecer que passemos por uma colónia chinesa; um estranho conjunto de habitações de madeira agrupadas em redor de uma vasta plataforma, e que um milhar de pilaretes mantém fora de água; — acima da miniatura de um desembarcadouro, muito dificilmente deixaremos de reparar num letreiro branco pintado com ideogramas escarlates. a grande plataforma serve para secar peixe ao sol; e os fantásticos caracteres do letreiro significam, numa tradução literal, «grande Porção — camarão — abundância.» … Por fim, toda aquela terra se aplana numa desolação de pântanos marinhos com uma tranquilidade que só o pio melancólico de aves de compridas pernas raramente interrompe e, nas estações agrestes, o som perturbador que abala todas as costas quando o misterioso Músico do Mar toca as claves baixas do seu poderoso órgão…

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Cáustico Lunar seguido de Ghostkeeper, Malcolm Lowry Balkis (a lenda num café), gérard de nerval diálogos das carmelitas, georges Bernanos o estranho animal do Vaccarès, Joseph d’arbaud riso vermelho — fragmentos encontrados de um manuscrito, Leonid andreiev a morte da terra, J.-H. rosny aîné nossa senhora dos ratos, rachilde o colóquio dos cães incluído no Casamento enganoso, Miguel de cervantes entre a espada e a parede, tristan Bernard a vida de rembrandt (história a ir para onde lhe dá), Kees van dongen os meus oscar Wilde, andré gide as aventuras de uma negrinha à procura de deus, george Bernard Shaw Meu irmão feminino — «noites florentinas», Marina tsvietaieva Jean-Luc perseguido, charles Ferdinand ramuz o filho de duas mães, Edith Wharton a armadilha, Emmanuel Bove Um jardim na margem do orontes, Maurice Barrès erotika Biblion, conde de Mirabeau a minha amiga nane, Paul-Jean toulet Paludes, andré gide o bar dos dois caminhos, gilbert de Voisins sol, d.H. Lawrence Cagliostro, Vicente Huidobro as magias do Ceilão, Francis de croisset Má sorte que ela fosse puta, John Ford

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