Lagoa Henriques, Eu e a minha casa - excerto

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LAGOA HENRIQUES eu e a minha casa edição de

Maria João Gamito

D O C U M E N TA


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© Maria João Gamito, 2016 © FBAUL © Sistema Solar, Crl (chancela Documenta) Rua Passos Manuel, 67 B, 1150-258 Lisboa imagens © António Vieira de Castro, Arquivo Histórico de Sintra, Carlos Amado, Carlos Gomes, Diário de Lisboa, Diário de Notícias – Madeira, Diário de Notícias, Dominique Labaume, Esp. LH, Fábio Costa, Fernando Guerra-FG + SG (cortesia CGD), Fundação Mário Soares, Gonçalo Couceiro, Hugo Lopes Martins, Inácio Ludgero, J. Lobo, JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, João Abel Manta, João Conceição Ferreira, Joaquim Barbosa, José Baptista Fernandes, José Esteves, Lagoa Henriques, Lívio Morais, Manuel Nicolau, Maria João Gamito, Mário Cabrita Gil, O Jornal Ilustrado, O Jornal, O Primeiro de Janeiro, Pedro Saraiva, Pierre Deloche, República, Revista Arquitectura, Rogério Taveira, Vasco Ludgero 1.ª edição, Fevereiro de 2016 ISBN 978-989-8618-85-6 Revisão: António d’Andrade Depósito legal: 406272/16 Pré-impressão, impressão e acabamento: ACDPrint Rua Marquesa de Alorna, 12 A, Bons Dias 2620-271 Ramada Portugal


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Sobe o Pano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Fotocronologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Eu, António Augusto Lagoa Henriques 1. O Círculo Inadiável . . . . . . . . . . . . . . 2. O Olhar Inadiável . . . . . . . . . . . . . . . 3. O Risco Inadiável . . . . . . . . . . . . . . . 4. A Palavra Inadiável . . . . . . . . . . . . . .

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A Minha Casa . . . . . . . . . . . . 1. O «Guardador de Nuvens» 2. «Constelações de Verão» . . 3. O Regresso ao Paraíso. . . . 4. A Expulsão do Paraíso . . .

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Cai o Pano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Apontamento manuscrito num diário gráfico. N. ass. e n. dat. Esp. LH.

Homem para quem a poesia está na raiz de todas as artes, pedagogo, divulgador do património cultural português, artista, poeta, humanista, coleccionador, figura relevante da cultura portuguesa contemporânea, Lagoa Henriques (1923-2009) é uma das mil personalidades eleitas pelo Diário de Notícias (22 Novembro 1995), como tendo marcado o imaginário do século XX. E é feliz a sua dimensão pública porque demonstra lapidarmente a simplicidade com que ele decidiu, e ocupou, o lugar onde queria viver. Nesse lugar, que era tanto o do seu espaço interior como o das condições do seu próprio despojamento, ou o das convicções individual e publicamente assumidas, Lagoa Henriques quis-se Mestre. Mestre de todos os que com ele aprenderam que «ver com olhos de ver» é estar mais atento às possibilidades críticas da visão do que à mera qualidade da sua tradução gráfica ou plástica. A todos ensinou Fernando Pessoa e Cesário Verde e tantos

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outros, juntamente com poemas da sua autoria, onde era uma constante o entendimento da vida como uma aventura plenamente vivida entre a possibilidade de tudo e a inevitabilidade do nada, para quem nasce «condenado à morte desde a primeira hora». A todos se dirigiu, com muitos manteve relações profissionais, a quase todos ficou afectivamente ligado, para todos foi uma referência. Em exuberantes associações entre a palavra e a imagem, Lagoa Henriques inventou novos contornos para as coisas que garantiam, em cada momento, que o centro e as margens são apenas pontos de vista permutáveis para quem está disposto a decidir criticamente o seu lugar. Em arte como na vida. É por isso que não pode ser institucional o discurso que melhor o evoca. Nem esse discurso, ou qualquer outro, será capaz de eleger os primeiros ou os últimos de todos os que tiveram o privilégio de com ele contactar. Eleger alguém, sempre na dimensão individual que para Lagoa Henriques era indissociável do humano, seria referir justamente aqueles que quase em silêncio partilharam o seu quotidiano mais silencioso. Seria referir Carlos Amado que, ao longo de mais de cinquenta anos, foi seu discípulo, colega e amigo, e António José Rocha da Silva, que durante mais de vinte anos diariamente os acompanhou. Ou talvez nem isso. Um ano e pouco mais de oito meses depois da morte de Lagoa Henriques (21 de Fevereiro de 2009), morre Carlos Amado (1 de Novembro de 2010), ficando pela segunda vez interrompido o projecto de inventariação, classificação, catalogação e conservação do espólio que Lagoa Henriques legou em testamento à Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Foi na expectativa da conclusão desse trabalho e da preservação da memória de Lagoa Henriques, que, com Pedro Saraiva, apresentei em 2011 ao Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes (CIEBA) da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, o projecto Atelier Lagoa Henriques: o work in progress como espaço habitado. Contando numa primeira fase com a colaboração de Pedro Saraiva, o projecto estruturava-se em torno de um conceito de espaço muito singularmente vivido pelo seu habitante: Lugar de criação e dispositivo de criatividade — casa, atelier, museu, gabinete de curiosidades, biblioteca, estúdio, bastidores de teatro, cenário, espaço mágico de memórias e encontros, como alguns se lhe referiram, e cujo espólio o artista doou à FBAUL — este universo privado, tão generosamente partilhado, está em vias de desaparecer, sem dele restar qualquer estudo sistematicamente desenvolvido.

Para além do levantamento, estudo e divulgação desse espaço, entre os objectivos do projecto contavam-se a elaboração de uma cronologia, a estabilização de uma

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bibliografia de base e a redacção de uma biografia, que pudessem abrir caminho a futuras investigações sobre a sua múltipla obra. Os suportes seriam o livro e o DVD. Com o inestimável apoio do CIEBA, da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), da área científica de Desenho da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e, sobretudo, com o contributo da verba saída da doação de Lagoa Henriques a esta faculdade, o livro aí está, também como prova de resistência à erosão do tempo e ao esquecimento dos homens. Com as suas qualidades e os seus defeitos, o livro aí está, nada mais pretendendo ser do que um retrato de Lagoa Henriques. Retrato individual e de grupo que voluntariamente prescinde dos retratos colectivos em que ambos se disseminam nas ventanias da História e das suas narrativas. Retrato também no sentido de o trazer de novo para o deixar falar ainda nesta outra Última Lição desejavelmente por concluir. Porque é disso que se trata: de uma lição na continuidade de todas as outras, tantas, da sua vida, uma vez mais proferida no quadro referencial da sua obra e dos autores que recorrentemente citava, todos eles presentes na sua biblioteca, ou o que dela foi sobrando nos vários hiatos dos tempos da burocracia. Nesta lição tão demorada como a vida, o autor apresenta-se no sabor dos textos que poupam as palavras à função de tradutoras ou revisoras dos pensamentos alheios. Reunir num só livro as várias conjunturas da vida e da obra de Lagoa Henriques, contadas também pelos que nela tiveram voz, foi o princípio que presidiu à organização deste livro construído de acordo com a dinâmica das entradas múltiplas, próprias dos mapas. É nessa dinâmica que o autor se apresenta, a si e à sua casa. Em primeiro lugar na «Fotocronologia» que sumariza a sua vida e a sua obra no contágio entre os lugares e as narrativas, que na primeira pessoa os esclarecem, o público e o privado, o objecto e o processo, a notícia e o acontecimento, a palavra e a imagem. Depois, na sequência dos quatro capítulos — «O Círculo Inadiável», «O Olhar Inadiável», «O Risco Inadiável» e «A Palavra Inadiável» — que sob o título genérico «Eu, António Augusto Lagoa Henriques» se desdobram nos domínios pelos quais dividiu a sua actividade: a docência, os programas televisivos, a escultura e o desenho, e a poesia. Uma vez mais todos eles se estruturam na palavra de Lagoa Henriques e dos que com ele conviveram e dos que, como ele, contribuíram para a edificação do espírito de uma época, como todas as outras, simultaneamente histórica e antropológica, aqui se ressalvando esta última dimensão, também como modo de elidir a adjectivação em que se funda a nossa tão celebrada menoridade. No final, a Casa. A Casa-Atelier e a Casa-Museu nos seus tempos de nascimento, crescimento e morte, dados a ver nas palavras que lhes foram contemporâneas e nas imagens possíveis que lhes sobreviveram.

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A recolha de testemunhos orais junto de amigos, colegas e pessoas que profissionalmente contactaram com Lagoa Henriques, a consulta dos seus poemas e textos manuscritos, o rastreio exaustivo da bibliografia disponível, o visionamento de materiais audiovisuais, especialmente as séries televisivas de que foi autor e apresentador, a prospecção sistemática das suas obras, dispersas por Portugal, Macau, Brasil e Canadá, a fixação em representações técnicas da Casa-Atelier e da Casa-Museu, bem como o seu registo em visitas virtuais em vídeos 3D, foram os critérios adoptados numa metodologia que se furtou, tanto quanto possível, à tentação invasiva da correcção e do comentário. Neste contexto se inscreve a opção de transcrever todos os poemas de Lagoa Henriques em letra maiúscula — «letra de caixote» como ele a designa — deixando, entre parênteses rectos, pontuais correcções de gralhas ou erros ortográficos. Na certeza de que muito haverá ainda a descobrir na obra de um homem que não coube na sua vida, aí ficam então os textos e as imagens e as histórias que ambos dão a ver, que nada mais são do que as histórias contadas por um incansável contador de histórias. Mas porque «quem conta um conto acrescenta um ponto», cumpre-me esclarecer que o ponto que acrescentei apenas pretende ser o ponto que ilumina o seu caso pessoal no universal, para usar uma expressão de Almada. E iluminá-lo foi apenas estar disponível para continuar a ouvi-lo, com o que lembro dele, primeiro como sua aluna na Escola de Belas-Artes de Lisboa, depois como sua assistente na mesma Escola, mais tarde, já perto do fim, como ouvinte dos seus poemas, dos seus temores e dos seus cuidados relativamente à obra, às colecções e aos espaços — da Casa-Atelier e da Casa-Museu — e ao que por eles poderia ainda ser feito. Nessa altura iniciámos o projecto de ex-alunos seus fotografarem meticulosamente o atelier, através das muitas janelas que o revelavam sempre como um novo lugar a descobrir. Mas já não houve tempo e a lista dos fotógrafos terá ficado, como outras coisas, no computador algures de Carlos Amado. Lagoa Henriques contava comigo para este tempo depois, e se dúvidas tivesse, vim a confirmá-lo quando, na leitura dos seus diários gráficos, encontrei a referência que serve de epígrafe a este texto. Parafraseando Matisse e o próprio Lagoa Henriques, fiz o que pude sem o poder fazer melhor, com a ajuda de todas as pessoas de boa-vontade que colaboraram neste livro e a quem nunca será demais agradecer: os seus amigos, com um especial destaque para Manuel Rosa, editor deste livro, José Baptista Fernandes, Inácio Ludgero, Vasco Ludgero, Manuel Nicolau e Dominique Labaume, que cederam graciosamente muitas das fotografias reproduzidas no livro; Eunice Muñoz, Gonçalo Couceiro, Manuel Pinto, Carlos Avilez, Luís d’Oliveira Nunes, António Valdemar, Miguel Faria,

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António José e Sílvia Chicó; os Professores da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa que comigo foram dialogando, designadamente Pedro Saraiva, Alípio Pinto, João Duarte, Ana Duarte Baptista Pereira, Fernando António Baptista Pereira, Luís Filipe de Abreu e Rogério Taveira, autor do levantamento fotográfico do espaço da Casa-Atelier e da Casa-Museu; a Professora Lúcia Almeida-Matos da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, sempre disponível para mais um esclarecimento; os alunos do Mestrado Integrado de Arquitectura do ISCTE-IUL, que nos anos lectivos de 2011-2012 e 2012-2013 frequentaram a unidade curricular optativa «Do livro ao Projecto», no âmbito da qual procederam ao levantamento e à realização do vídeo 3D dos edifícios da Casa-Atelier e da Casa-Museu de Lagoa Henriques, com uma referência especial a Hugo Lopes Martins e Fábio Costa que, concluída a unidade curricular, continuaram a trabalhar no projecto até à sua finalização; Sandra Henriques, autora do vídeo sobre a Casa-Atelier, realizado já no período inicial do seu declínio; por imprescindíveis informações, Francisco Bagulho, Marco Daniel Duarte, Luís Augusto Roque Martins, Manuel Costa e António Galrinho; os responsáveis e funcionários das Bibliotecas das Faculdades de Belas-Artes das Universidades de Lisboa e do Porto com destaque para Licínia Santos; os funcionários não-docentes das várias escolas onde Lagoa Henriques leccionou; os funcionários da Biblioteca Nacional, da Biblioteca Calouste Gulbenkian, das Bibliotecas Municipais de Lisboa e do Porto, da Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Biblioteca da Ordem dos Advogados; os funcionários do Serviço de Bibliotecas e Centros de Documentação de muitas Câmaras deste país; os funcionários dos Museus Barata Feyo e Amadeu Souza-Cardoso, do CNC; Filomena Fernandes do Arquivo da RTP; a Fundação Mário Soares, a Caixa Geral de Depósitos e a Assembleia da República; Graça Manta pela generosa disponibilidade; Helena Gamito, primeira revisora do texto, e todas aquelas que me esqueço de mencionar. A todos gostaria de enviar pessoalmente as palavras de Manuela de Azevedo: … ninguém ficará a dever algo à sua consciência, reconhecendo nele a pública imagem do mestre e do artista, sensível e generoso, comunicativo e sonhador, cuja obra, a que transpõe as portas da escola, atinge sempre a forma de uma lição, de uma proposta, de uma polémica, talvez porque a obra e o homem que não se discutem são os únicos que morrem. (Azevedo, 1988: 64).

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27 de dezembro António Augusto Lagoa Henriques nasce em Lisboa na Rua Ilha Terceira, n.º 36, 2.º andar, na freguesia de Arroios, em casa dos pais, Delfim Augusto Henriques, de 42 anos, empregado do comércio, e Palmira Castália de Almeida Lagoa Henriques, de 39 anos, doméstica.

1923

Certidão de nascimento. Esp. LH.

Eu nasço ali para os lados da Estefânia, no Bairro Açores, na Rua da Ilha Terceira, e vivo lá até aos três anos. (Victor Candeias — Lagoa Henriques Contado por Ele). Já se sabe que eu trago comigo os genes dos meus bisavós, dos meus avós, do meu pai e da minha mãe. (Luís Filipe Rodrigues — Entrevista ao escultor Lagoa Henriques). O meu pai trabalhava no comércio e também era actor amador, representou em todas as sociedades dramáticas de Lisboa. O meu avô era alfaiate, a minha mãe professora primária, … o meu avô materno era relojoeiro e inventou um relógio. Tudo gente simples e honrada. (Artur Queiroz — Lagoa Henriques: o poeta das formas transfiguradas).

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1924

«António Augusto aos nove meses de edade. 27-9-924». Fot. Esp. LH.

Lembro-me de ir com ele [o pai] ao teatro ver o Estêvão de Amarante e este, pegando-me ao colo, dizer: se o teu pai tivesse continuado, seria melhor actor do que eu. (José Carlos de Vasconcelos — Lagoa Henriques, a paixão pela vida). A minha mãe começou a estudar tarde — porque o pai dela morreu e a minha avó ficou em circunstâncias difíceis —, nasceu no Alentejo, mas depois veio para Lisboa. A minha avó tinha três filhos: um rapaz e duas raparigas. Uma das raparigas fez o curso de professora primária. O meu tio Júlio foi um alto funcionário dos Correios, Telégrafos e Telefones, CTT, mas começou a estudar na Casa Pia de Lisboa porque a minha avó não tinha dinheiro. (Luís Filipe Rodrigues — Entrevista ao escultor Lagoa Henriques).

1925

Fot. Esp. LH.

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E a minha mãe estudou num colégio paralelo que pertencia à Santa Casa da Misericórdia, que é o Colégio de S. Pedro de Alcântara, fica ali perto do Jardim de S. Pedro de Alcântara. Entrou com quinze anos e fez logo a instrução primária num ano — porque já sabia ler e escrever — e depois fez um curso médio e foi convidada para professora de Francês, Inglês e Desenho, porque teve o privilégio de ser discípula de um dos maiores pintores portugueses, o Columbano Bordalo Pinheiro. A irmã dele, a Maria Augusta Bordalo Pinheiro, foi professora de Desenho da minha mãe no Colégio de S. Pedro de Alcântara. (Luís Filipe Rodrigues — Entrevista ao escultor Lagoa Henriques).

1927

Por morte da avó paterna, Guilhermina Augusta Garcia Henriques, a família muda-se para casa do avô, Jacinto José Pedro Henriques, na Rua dos Douradores, n.º 21, 2.º Esq., em Lisboa.

Eu vivia com os meus pais [na] Rua da Ilha Terceira. O meu avô paterno … morava na Rua dos Douradores, em plena baixa pombalina. Ele ficou viúvo e o meu pai não quis deixá-lo sozinho, por isso mudámos para lá. O meu avô tinha uma nespereira na varanda do 2.º andar que dava nêsperas todos os anos. (Artur Queiroz — Lagoa Henriques: o poeta das formas transfiguradas). O meu avô era uma personagem espantosa! Era um homem elegantíssimo talvez por ser mestre alfaiate da chamada «obra de cinta», isto é, fazia apenas roupa chique, como casacos e fraques. Eu era muito pequeno, mas lembro-me muito bem do barulho das tesouras a cortar o tecido e dos elaborados desenhos a giz sobre as fazendas finíssimas estendidas numa grande mesa. (Lagoa Henriques: poesia em pedra). O meu avô, apesar de ser alfaiate, era um pedagogo extraordinário. Lembro-me de uma vez me ter levado até junto do Cais das Colunas. Aí, pegou-me na mão, mergulhou-a no azul e disse-me para sentir a água. Nunca mais me esqueço desse dia. Foi uma revelação maravilhosa. (Dora Santos Rosa; Mário Galiano — Lagoa Henriques: e se eu fosse… jardineiro). … aí eu começo a descobrir o mundo duma forma muito mais objectiva […] e vejo a Rua dos Douradores de que o Cesário fala e o Fernando Pessoa, e que hoje praticamente é inexistente. (Lagoa Henriques Contado por Ele).

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Lagoa Henriques na Nazaré. Esp. LH.

No Verão, com o meu pai e a minha mãe, a praia. A praia da Nazaré onde brincava com tudo e com todos, descobrindo o mar e a terra num deslumbramento e numa alegria sem limites. (Inês Pedrosa — Lagoa Henriques: «actuar em alegria»).

Em primeiro plano Lagoa Henriques na praia da Nazaré. Esp. LH.

A minha mãe para além de me levar ao Jardim Botânico, isso é muito importante porque foi onde descobri a natureza, levou-me a outros jardins, como o Jardim da Estrela, por exemplo. Levava-me, também, …ao miradouro de Santa Luzia … enfim começou a mostrar-me a cidade. O meu avô por determinados percursos e a minha mãe por outros … e eu vou descobrindo o mundo dessa maneira. (Bruno Araújo-Gomes — Lagoa Henriques: o coleccionador e a casa-museu) fotocronologia

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1928

Fot. Esp. LH. «Palmyra, Delfim e António Augusto. Lisboa 26-5-928». Lagoa Henriques com a mãe. Fot. Esp. LH. Cópia de Lagoa Henriques, datada de 3 de Dezembro de 1932. Esp. LH.

… uma das primeiras memórias que eu tenho, não só da própria Rua dos Douradores, é o descobrir a Praça do Comércio, o Terreiro do Paço. E aí o deslumbramento foi máximo. E então eu pedia à minha mãe e ao meu avô: «eu quero ir ver o Zé Cavalo», portanto, o D. José I a cavalo … Esta presença é fortíssima porque me sensibiliza para o universo da escultura, indiscutivelmente. (Victor Candeias — Lagoa Henriques Contado por Ele). … o meu avô que já nessa altura tinha bastante idade mas era um homem extremamente vivo … tinha tido um colega na escola primária que era contínuo no Museu de Arte Antiga. Eu chegava ao museu, ele começava a conversar com o seu amigo e eu ficava perdido naquelas salas. … lembro-me que, nessa altura eu devia ter seis, sete anos, descobri o universo … das artes: da escultura e da pintura. (Victor Candeias — Lagoa Henriques Contado por Ele). Lembro-me de uma vez, era eu miúdo, a minha tia me ter perguntado: «Ouve lá, o que é que queres ser quando fores grande?». Contava ela que eu fiquei perplexo com a pergunta e comecei por dar uma resposta que parecia não acabar: «Quero ser varredor de ruas, enfermeiro, alfaiate, bombeiro, actor». Enfim, queria ser tudo. Esse meu desejo de ser tudo ainda me habita. Mas hoje, quando voltam a fazer-me a pergunta, a resposta é jardineiro. Gostaria agora de ser jar-

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dineiro. O contacto com a terra e a descoberta mágica do crescimento das formas naturais [toca-me] profundamente. (Dora Santos Rosa; Mário Galiano — Lagoa Henriques: e se eu fosse… jardineiro) Frequenta a escola primária Junção do Bem, pertencente à Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Caridade, da Igreja Paroquial de S. Nicolau, a funcionar no 4.º andar do n.º 57 da Rua dos Douradores.

1930

1932

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Era um aluno difícil: gostava de passear, ver as coisas, desenhar, mas não estudar: a minha mãe é que me tinha que obrigar a fazer os deveres. Lembro-me que lhe perguntava: para que é que serve a Gramática? (José Carlos de Vasconcelos — Lagoa Henriques, a paixão pela vida). A escola era uma coisa muito complicada. Ficar preso numa sala era um tormento. Eu era mau estudante, embora tivesse boas notas. Tinha-as porque a minha mãe me obrigava a fazer os trabalhos. Um dia, a minha professora disse-lhe que eu era bom aluno. A minha mãe respondeu que só era porque ela me obrigava a isso. A professora não acreditou e decidiram fazer uma experiência: durante uma semana a minha mãe não conferia se eu fazia ou não as tarefas. Claro que ao fim de uma semana perceberam que eu não fazia nada. Queria era brincar, fazer os meus desenhos, descobrir o mundo. Sempre fui mais voltado para a realidade das coisas do que para as teorias. (Dora Santos Rosa; Mário Galiano — Lagoa Henriques: e se eu fosse… jardineiro).

Lagoa Henriques a representar numa peça teatral, presumivelmente na Nazaré. Fot. Esp. LH.

Uma vez numa festa em casa de uma tia minha, numa altura em que não se cantavam os «parabéns a você» e o aniversário, o dia em que festejavam o dia dos meus anos, era precisamente um acto cultural, falava-se das memórias, dos avós, do que estava a acontecer com os nossos pais, com os nossos tios, os nossos primos; era realmente uma homenagem à família no sentido global, não só da nossa família, como da grande família humana … E então faziam-se saúdes, recitava-se, tocava-se piano e eu, que era miúdo, nessa altura devia ter seis ou sete anos,

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… peguei num copinho e fiz uma saúde. Bem, todos ficaram impressionados com o miúdo que tinha dito aquelas palavras. Deram-me muitas palmas e eu lembro-me depois a minha mãe contar, e o meu pai, que o juiz [que lá estava] foi ter com os meus pais e disse: «este rapaz tem uma capacidade enorme, ele deve vir a ser um grande advogado». (A Propósito de Agostinho da Silva: centenário do nascimento de Agostinho da Silva).

Programa da «troupe» O Mundo Novo. Esp. LH.

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1933

Lagoa Henriques ao centro, com uma camisa de quadrados. No grupo de trás, e os primeiros da esquerda, a mãe e o pai. Fot. Esp. LH. Legenda no verso: «Nazareth. 28 Fevereiro 1933. Carnaval».

O meu encontro com o mar surge desde que eu nasci. Porque a minha mãe era muito amiga de uma senhora que tinha sido discípula dela e que era da Nazaré. E que a convidou para lá ir passar umas férias e essas férias foram de tal ordem que eu todos os anos passava dois meses na Nazaré. … É através da Nazaré que se dá o meu encontro com o teatro. Porque todos os anos na altura das festas do Sítio da Nossa Senhora da Nazaré se armava um pequeno teatro desmontável na areia junto ao paredão que era o Cine Teatro Desmontável Companhia Mimi Muñoz, portanto a mãe da Eunice… Eu gostava de ter sido artista [no atelier que ardeu] tinha um pequeno teatro. Fiz um pouco de teatro experimental com amigos. Eu encenava mais, inventava mais o espectáculo. … Era um teatro sem texto, era um teatro que ia acontecendo, surgia uma ideia e as pessoas construíam a própria peça. (Carlos Cruz — Carlos Cruz Quarta-Feira)

1934

Devia eu ter os meus nove anos. Uma prima minha «femme savante» dada às letras e às artes convidou-me para a acompanhar ao fotógrafo. Da Rua da Madalena descemos à Praça da Figueira, a festa do mercado, parámos no Rossio — os lagos, as sereias, os jogos de água, o monumento a D. Pedro IV (a minha prima Ema explicou-me que quem lá estava era Maximiliano I que ali tinha ido parar por uma troca na fundição, nunca mais me esqueci). Em frente o Teatro Nacional, as colunas gigantescas, o frontão com Gil Vicente no topo acompanhado pela Tragédia e pela Comédia… Mas falemos do fotógrafo. Foi o primeiro artista que conheci, misto de mágico e duende, fascinante nos gestos, modelando o espaço. As mãos, os dedos duma expressividade singular. Depois a encenação da «pose», a opção da atitude consequente duma conversação penetrante.

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Depois o jogo mágico da luz. Projectores cruzados, o comando subtil e afirmativo da graduação de intensidades. O apagar e acender, o baixar e subir das luzes dirigidas. Hoje ao lembrar esse momento único que mais tarde haveria de redescobrir na lumino-técnica do teatro e do cinema surge-me de imediato a afirmação de Le Corbusier: «Eu modelo com a luz». No fotógrafo Sampayo sentia-se o pintor e o escultor, … dando ao rosto humano a síntese expressiva reveladora duma personalidade, temperamento e carácter desenhados pelo ponto de vista inteligente, iluminados num enquadramento, numa atmosfera que ofereciam por vezes ao modelo uma dignidade e um aprumo que ultrapassavam a sua condição humana feita de qualidades e defeitos. (Lagoa Henriques — Devia eu ter… Esp. LH.).

Fot. Ema da Luz Henriques. Esp. LH. Legenda no verso: «Rua dos Douradores. Outubro 1934».

Conclui, com distinção, as provas de exame do 2.º grau do Ensino Primário Elementar (4.ª classe).

Eu começo a desenhar, não foi sobre o papel, nem foi com o lápis. Foi sobre pedaços de tecido que caíam quando ele [o avô] estava a desenhar, a talhar, os fatos, as fardas, … e com aqueles pedacinhos de giz que caíam quando ele desenhava os fatos, eu desenhava … os meus primeiros desenhos foram feitos assim. (José Mexia — Entre Nós: Lagoa Henriques). fotocronologia

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Desenho de Lagoa Henriques, datado de 12 de Junho de 1934. Esp. LH.

1935

Faz os estudos liceais no Colégio D. Filipa de Vilhena, na Rua Praia da Vitória, n.º 31, onde é aluno de Avelino Cunhal que recorda como um «professor excepcional e de imaginação prodigiosa». Realiza os exames finais nas escolas Gil Vicente e Fernão Lopes.

1937

Fot. Esp. LH. Legenda: «Com amizade. António Augusto Henriques. 1937».

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Eu estava nessa altura no meu 3.º ou 4.º ano do liceu … havia uns senhores que pertenciam à Sociedade de Geografia que iam fazer umas conferências às escolas, aos liceus. E contavam coisas muito bonitas. Eu lembro-me nessa altura, esse homem que eu já não sei quem é … que contou aquela história porque é que se chama aos habitantes do Porto tripeiros e aquilo impressionou-me muito. E mais tarde quando eu vim a fazer um monumento no [Padrão do] Ouro, servi-me dessa informação que, de resto, é o Zurara que a conta. (Carlos Cruz — Carlos Cruz Quarta-Feira)

1939

Fot. Esp. LH.

Inscreve-se no curso de Iniciação ao Desenho na Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA) onde, em História da Arte, é aluno de Armando de Lucena.

1940

No Liceu Passos Manuel conclui o exame das disciplinas de Ciências Geográficas e Filosofia, do Curso Complementar de Letras (7.º ano).

1941

Fot. Esp. LH.

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1942

8 de Outubro No Liceu Camões conclui o Curso Complementar de Letras, com a classificação final de onze valores.

1943

A preparar-se para o exame de admissão à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde vem a realizar as «Pedagógicas», recebe lições de Português do Professor Rodrigues Lapa e tem aulas particulares de História e Filosofia com o Professor Agostinho da Silva, por sugestão de quem decide fazer o exame à Escola de Belas-Artes de Lisboa (EBAL), tendo em vista a matrícula no curso de Escultura, ao qual se candidata, vindo a reprovar nas provas de admissão.

Grupo de alunos, entre os quais Lagoa Henriques, candidatos ao exame de aptidão à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Fot. Esp. LH. Legenda no verso: «Exame de aptidão à Faculdade de Letras de Lisboa. Agosto 1943».

Recenseia-se para o serviço militar do qual fica isento.

… a minha intenção, terminado o Liceu, [era] seguir o curso de Direito ou de Letras. Decidi-me pelas Letras e para me preparar para o exame de admissão

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recorri a um explicador, o Professor Agostinho da Silva —um pedagogo extraordinário no sentido mais socrático do termo. (Desenho. Lagoa Henriques).

… o Professor Agostinho da Silva dava aulas particulares, na sua casa junto ao Jardim Zoológico. Eu sabia da existência dele por uns cadernos que editava à sua custa, obras de difusão cultural. Também editava pequenas biografias. Tinha sido expulso do ensino oficial e ganhava a vida com aulas particulares e essas edições. Um dia ele perguntou-me: o que lhe interessa para além da História e da Filosofia? (Artur Queiroz — Lagoa Henriques: o poeta das formas transfiguradas).

Composição de fotografias de Lagoa Henriques e amigos não identificados. Esp. LH.

Confessei-lhe a minha paixão pelas Belas Artes, e que sempre gostara de desenhar. Parece que o estou a ver. Então traga-me esses desenhos, pediu-me. Eu havia frequentado as aulas nocturnas da Sociedade Nacional de Belas-Artes, de iniciação ao desenho. À luz eléctrica jorrando de altos lampiões, representávamos, a carvão sobre folha de Ingres, cópias em gesso da escultura greco-latina e alguns frisos manuelinos dos Jerónimos. Em casa, na rua dos Douradores, no meu quarto, desenhava retratos de amigos.

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Foram esses os desenhos incipientes mas apaixonados que mostrei a Mestre Agostinho da Silva. Ao vê-los disse: Mas você está enganado! O que você é ou poderá vir a ser, é escultor. Experimente trabalhar em barro. E ele mesmo, logo ali, pela lista telefónica, me deu a morada de uma olaria ao Desterro. Comprei a argila e modelei uma pequena cabeça e um grupo de figuras. Quando Mestre Agostinho da Silva as viu, foi determinante: Você deve fazer Belas Artes. Você é um escultor! Creio que isso me terá decidido, em definitivo, pela carreira das Artes Plásticas. (Desenho. Lagoa Henriques).

1944

Decidido a repetir o exame à EBAL, tem aulas particulares com Eugénia Coelho, professora da Escola António Arroio, em cujo atelier conhece os futuros arquitectos Sena da Silva e Maurício de Vasconcelos, a prepararem-se para o mesmo exame. 14 de Dezembro Por deliberação da Direcção da SNBA é aprovado Sócio Titular e, como tal, inscrito com o n.º 679.

Fot. Esp. LH.

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Entusiasmou-me a eu fazer uma aptidão à Escola de Belas-Artes de Lisboa. Assim aconteceu. Eu inscrevi-me, faço as provas e … quando vou ver as notas estava … excluído. Vamos ter coragem, reprovado. (Victor Candeias — Lagoa Henriques Contado por Ele). Quando cheguei a casa, a minha mãe disse-me: «Olha, o Prof. Agostinho da Silva já telefonou. … Ele esteve a falar connosco e pediu para que tu, logo que chegasses, fosses à casa dele». … Fui a casa dele. Tinha as paredes todas cobertas de estantes e disse-me: «Ali em cima naquela estante está um livro de Rodin. Tire lá esse livro da estante». Eu tirei o livro: «leia aqui se faz favor». E eu li, surpreso, que Rodin tinha frequentado uma pequena escola de artes decorativas (la Petite École), mas quis passar para uma «Grande École», que era a Escola de Belas-Artes de Paris. Fez o 1.º exame de aptidão e ficou reprovado, fez o 2.º e ficou reprovado, fez o 3.º e ficou reprovado e, como se sabe, veio a ser o maior escultor da França. «Isto é mais uma prova de que você não pode desmoralizar. Agora para entrar na escola tem de arranjar uma pessoa que lhe ensine as técnicas, porque o seu desenho é perturbante e eles pretendem algo mais académico, mais normalizado», acrescentou o professor. E assim foi. Arranjei uma senhora que era professora na Escola António Arroio e entrei para a escola. (José Carlos Abrantes — À conversa com … mestre Lagoa Henriques)

1945

Alunos da Escola de Belas-Artes no Terreiro do Paço, em Lisboa. Lagoa Henriques encontra-se à esquerda do estudante que, à direita na fotografia, segura o cartaz. Fot. Esp. LH.

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Matricula-se no Curso Especial de Escultura da EBAL, que frequenta apenas um ano, e onde é aluno de Leopoldo de Almeida nas disciplinas de Desenho de modelo vivo e Desenho de estátua. No tempo em que permanece na EBAL é colega e torna-se amigo de João Abel Manta, Jorge Vieira, Carlos Calvet, Lima de Freitas, Maurício de Vasconcelos, Duarte Castel-Branco, António Sena da Silva e José Dias Coelho, entre outros.

Da Escola de Lisboa lembro o velho mestre Piloto, grande professor, arquitecto hoje esquecido mas com uma obra exemplar ao nível do desenho e da funcionalidade, como é o caso do Mercado da Ribeira, a dois passos do Cais do Sodré; de desenho de estátua foi meu professor Leopoldo de Almeida, sempre atento, cumprindo com rigor absoluto a sua actividade pedagógica. (Entrevista com Lagoa Henriques…). Interrompe o curso por razões de saúde (uma tuberculose determina o seu internamento durante um ano e meio no Sanatório das Penhas da Saúde).

Foi um tempo fundamental para mim, sobretudo pelo que reflecti e pelo que li, de Thomas Mann a Balzac e a Torga. E os meus colegas da Escola escreviam-me cartas espantosas. (José Carlos de Vasconcelos —Lagoa Henriques, a paixão pela vida).

Fot. Ema Luz Henriques. Esp. LH. Legenda no verso: «Casa do António Augusto. Julho 1945».

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Com João Abel Manta, Carlos Calvet, Lima de Freitas, Jorge Vieira, Sena da Silva, Castro Rodrigues e Joaquim Correia, participa numa exposição colectiva «informal», organizada pelo primeiro dos artistas mencionados e aberta ao público num anexo do jardim do atelier de Abel Manta.

1. Vista parcial da exposição no anexo do atelier de Abel Manta. 2. Da esquerda para a direita, Jorge Vieira, Sena da Silva e Lagoa Henriques. Fots. João Abel Manta. Esp. LH.

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1946

Participa no Salão da Primavera da SNBA, com um retrato do pai e um retrato de Sena da Silva.

1. Fot. Esp. LH. Legenda no verso: «Desenhando Ema da Luz Henriques. Agosto 1946». 2. Delfim Augusto Henriques. Bronze (já danificado pelo incêndio que consumiu o atelier, no dia 13 de Julho de 1972). 30 × 23 × 13 cm. Fot. Manuel Nicolau. Esp. LH. 3. Delfim Augusto Henriques fotografado junto do seu busto. 4. Sena da Silva. Bronze. 5. Lagoa Henriques, Sena da Silva e, entre os dois, o busto. Fots. 3., 4., 5. Esp. LH.

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Matricula-se no 1.º ano do curso de Cenografia (Secção de Teatro) do Conservatório Nacional, onde é colega de Maria Barroso, vindo a anular a matrícula em Junho de 1948.

1947

1. Fot. Esp. LH. Legenda no verso: «Visão de conjunto do logar onde trabalho. Julho 1947». 2. Fot. Esp. LH. Legenda no verso: «Mestre Lagoa Henriques no Jardim da Estrela».

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1948

26 de Julho Pretendendo ser aluno de Barata Feyo, pede transferência para a Escola de Belas-Artes do Porto (EBAP), onde ingressa com uma bolsa de estudo, vindo a ter também como professores Joaquim Lopes, Dórdio Gomes e Heitor Cramês. 16 de Outubro Por despacho ministerial, é transferido da EBAL para a EBAP.

Fot. constante na ficha de inscrição na EBAP.

Quando eu fiz a cadeira de Desenho, no primeiro ano, fazia-se o desenho de estátua e desenhava-se a Vénus de Milo, o imperador Augusto e Vitellius, mais nada. Depois, ia-se para o segundo ano e fazia-se o modelo vivo, mas o modelo naquelas poses académicas e convencionais. Ora, isso fez com que eu ficasse um pouco perturbado. E, sabendo que no Porto havia um quadro de professores notável, resolvi ir para o Porto para ser discípulo de Desenho do pintor Dórdio Gomes e do professor de Escultura, o professor-escultor Barata Feyo. (Luís Filipe Rodrigues — Entrevista ao escultor Lagoa Henriques). Durante dois anos, partilha atelier na Rua Garrett, em Lisboa, com os pintores Querubim Lapa e António Ayres.

Nunca tinha ido sequer ao Porto. Meti-me num comboio, cheguei à estação de S. Bento, resolvi dirigir-me logo para a Escola. Com o meu espírito de descoberta, meti-me por aquelas ruas, cheguei ao Largo do Actor Dias e fiquei deslumbrado. Como o fiquei depois, na Escola, ao ver, pela primeira vez, reproduções de Miguel Ângelo. (José Carlos de Vasconcelos — Lagoa Henriques, a paixão pela vida).

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Maio Participa na IV Exposição Geral de Artes Plásticas, na SNBA, com as peças Cabeça de Jovem, Máscara de Amigo, Menino e Cabeça de Joly Braga Santos.

1949

A escola dava técnica mas realmente a grande aprendizagem é feita no atelier do Barata Feyo, porque eu trabalhava no atelier do Barata Feyo. Ele facultou-me essa possibilidade. … todas as manhãs, eram 8.30h, eu é que abria o atelier, acendia o fogão, varria o atelier, preparava o barro, molhava o barro, e foi esse sentido de oficina quase medieval, quer dizer, no circuito de aprendiz, oficial e mestre, que me deu, digamos, uma aprendizagem enraizada muito forte. (Victor Candeias — Lagoa Henriques Contado por Ele).

Lagoa Henriques com António Reis, Eduardo Luís e Joaquim Barbosa, em Abril de 1949, no Porto. Fot. Esp. LH.

1950

1-8 de Março Com António Ayres e Querubim Lapa, expõe na Galeria da Livraria Portugália, no Porto. Abril É premiado (terceira medalha) pelo júri de classificação dos trabalhos de escultura expostos no Salão da Primavera, na SNBA: António Ayres, Cabeça e Jovem. Recebe ainda o 2.º prémio de Escultura Soares dos Reis, instituído pelo Secretariado Nacional de Informação (SNI) para o mesmo Salão.

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Maio Participa na V Exposição Geral de Artes Plásticas, na SNBA, com as peças O Pintor Aníbal Alcino, Máscara e Cabeça. Recebe o 2.º prémio Soares dos Reis. Através de Barata Feyo, recebe as primeiras encomendas de escultura.

Acabei por ficar lá [na EBAP] durante 14 anos, como assistente do meu mestre Barata Feyo. (Artur Queiroz — Lagoa Henriques: o poeta das formas transfiguradas).

Fot. Esp. LH. Legenda no verso: «Lisboa 1950».

1951

Maio Participa na VI Exposição Geral de Artes Plásticas, na SNBA, com duas máscaras e Cabeça.

Com Escultura, Figura e Cabeça, participa na XLVIII Exposição Anual de Pintura a Óleo e Escultura, na SNBA, por ocasião do 50.º aniversário daquela instituição.

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O importante ao visitar uma exposição é receber a mensagem do artista, acreditar na honestidade e na seriedade da sua obra, recordar o que há de generoso no simples facto da exposição que nos oferece. (Lagoa Henriques — O importante ao visitar uma exposição…).

Faz a sua primeira viagem ao estrangeiro (Paris).

É fundamental ir lá fora porque … o conhecimento da obra de arte, do objecto artístico através da imagem é insuficiente … Foi muito importante para mim, em 1950, a primeira vez que saio do país, vou directo … a França, … vou a Paris. E aí tenho o primeiro contacto com aquilo que eu apenas conhecia dos livros, das imagens em segunda mão. Eu vejo a escultura egípcia, eu vejo a escultura grega, eu vejo a escultura do Renascimento, eu vejo a arte moderna, o Brancusi, vejo o Braque, vejo o Picasso, vejo o Rodin. Isso para mim foi de uma importância máxima. Porque … eu começo a comparar aquilo que eu tinha feito com aquilo que esses génios fizeram. E depois outra coisa ainda: a relacionar a dita obra de arte com aquilo que lhe deu motivo. Porque é que esses artistas fazem o que fizeram? Isso obrigou-me a reflectir e a arte é muito um processo de reflexão que condiciona depois a construção das formas, a corporização dessas formas. (Victor Candeias — Lagoa Henriques Contado por Ele).

4 de Outubro Inicia a sua actividade docente, como professor provisório do 5.º Grupo — Desenho, no ciclo preparatório da Escola Comercial e Industrial da Póvoa de Varzim, onde permanece até ao final do ano lectivo 1951/1952. É aí que realiza a cabeça em bronze do filho de um pescador, com a qual virá a ganhar o Prémio de Escultura na II Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Após a minha formação, e antes disso, fui um estudante-trabalhador «avant la lettre». Estava a acabar o meu curso e, por razões económicas, o meu pai deixou de trabalhar e não tinha reforma. Tive de ir trabalhar e fui ensinar. Aqueles meus dois últimos anos na Escola Superior de Belas-Artes foram feitos em simultâneo com o ensino. No primeiro ano, leccionei na Escola Industrial e Comercial da Póvoa do Varzim. (José Carlos Abrantes — À conversa com… mestre Lagoa Henriques). fotocronologia

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Lagoa Henriques (ao centro, atrás) com professores e alunos da Escola Comercial e Industrial da Póvoa de Varzim. Fot. Esp. LH.

Foi uma experiência maravilhosa e um período de grande criatividade, estimulado por todo este ambiente de mar, pesca, sargaceiros e pescadores. (José Carlos de Vasconcelos — Lagoa Henriques, a paixão pela vida). Porque aprendi imenso com os alunos. Aprendi a espontaneidade, a ingenuidade, a pureza, a resposta imediata sobre a qual nos interrogamos. Estas coisas são muito importantes. Ao nível das Artes Visuais e do ensino do desenho, tinha havido uma grande transformação, uma grande reforma feita por dois homens notáveis. Um deles morreu tragicamente pois suicidou-se: Calvet Magalhães. O outro era um escultor de Leiria, Luís Fernandes. Estes dois homens fizeram, de uma maneira extraordinária, a reforma do ensino básico do desenho. (José Carlos Abrantes — À conversa com … mestre Lagoa Henriques).

12 de Dezembro Com António Ayres e Querubim Lapa, expõe no Ateneu Comercial do Porto.

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No dia da Festa da Biblioteca, no qual se comemorou o 82.º aniversário da fundação da biblioteca do Ateneu Comercial do Porto, é inaugurado o busto de Almeida Garrett, de sua autoria, destinado ao átrio da mesma biblioteca.

Almeida Garrett. Bronze. A. 78 cm. Fot. Maria João Gamito.

1952

Como professor provisório do 5.º Grupo — Desenho, fica colocado na Escola Artística Soares dos Reis, onde desempenha funções docentes até ao final do ano lectivo de 1953/1954.

1953

2-20 de Maio Participa no Salão da Primavera da SNBA, com Escultura para Jardim, Bronze e Escultura. Pela sua participação recebe a 1.ª medalha e o 1.º prémio de Escultura Soares dos Reis. 27 de Setembro No Largo da Igreja, em S. Martinho da Gândara, e por ocasião do seu 90.º aniversário, é inaugurado o monumento a António Luís Gomes, de sua autoria, erigido por iniciativa de um grupo de conterrâneos. Na sequência dos numerosos furtos de esculturas públicas verificados na região em 2011, o busto encontra-se actualmente na Casa Paroquial da mesma vila.

Em cima: António Luís Gomes. Bronze. Pedestal: Granito. 204 × 63 × 63 cm. Fot. Esp. LH. Ao lado: Pasta: 06356.000.057. Título: Lagoa Henriques esculpindo o busto de António Luís Gomes. Assunto: António Luís Gomes posando para o artista Lagoa Henriques, no momento em que este esculpe o seu busto. Legenda no verso: Agosto 53. Data: Agosto de 1953. Fundo: DSZ — Documentos Abel Salazar. Cortesia Fundação Mário Soares.

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[A primeira escultura exposta ao público] foi um busto de António Luís Gomes, o pai do Professor Ruy Luís Gomes. Está exposto em S. Martinho da Gândara. (Artur Queiroz — Lagoa Henriques: o poeta das formas transfiguradas). Outubro Com Estudo de Panejamento, Academia, Grande Composição, Retrato, Beethoven e três máscaras, participa na II Exposição Magna da EBAP. 10 de Dezembro de 1953 — Fevereiro de 1954 Representa Portugal na II Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, organizada pela Comissão Portuguesa do IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo. A representação portuguesa, na modalidade de Escultura, contou ainda com a participação de Francisco Franco (que não chegou a expor por a sua peça se ter danificado), Canto da Maya, Barata Feyo, Martins Correia, António Duarte, Vasco Pereira da Conceição, Jorge Vieira e Fernando Fernandes.

Realiza Cabeça de Rapariga, pertencente ao espólio do Museu Nacional Soares dos Reis.

Em cima: Cabeça. Bronze. 51 × 28 × 29 cm. Fot. Esp. LH. Em baixo: Cabeça de Rapariga. Bronze sobre base de granito. 37 × 29 × 27cm. 1953. MNSR: Inv. 241 Esc MNSR. Fot. Maria João Gamito.

1954

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Janeiro A convite da Comissão Portuguesa do IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo, participa na exposição das obras que constituíram a representação nacional à Bienal, e que decorreu no Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, vindo a ser distinguido com o prémio conferido por esse organismo.

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2 de Julho Tendo requerido em 31 de Março deste ano a admissão à Prova de Tese (Concurso de Grande Composição) para obtenção da Carta do Curso Superior de Escultura, conclui essa prova com a classificação de vinte valores. O Concurso confiava aos alunos a escolha do lugar, nos jardins da Escola, em que a peça devia ser instalada. Actualmente, a peça encontra-se no piso térreo do Pavilhão Carlos Ramos (antigo Pavilhão de Arquitectura).

1. Lírica (Juventude). Cimento pintado. 170 × 100 × 70 cm. FBAUP Inv. n.º 99. ESC 75. 2. Lírica (Juventude) (Pormenor). Fots. Esp. LH.

Lírica (Juventude). Fot. Esp. LH.

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Outubro Com Lírica (Juventude) (esboceto e desenvolvimento), apresentada em Prova de Tese, participa na III Exposição Magna da EBAP.

Com a maqueta Cidade, Trabalho do Homem, é classificado em terceiro lugar no concurso para os elementos decorativos da Praça D. João I, no Porto, promovido pela Câmara daquela cidade. Os dois primeiros classificados foram o escultor João Fragoso (1.º Prémio) com Douro, e o escultor Henrique Moreira (2.º Prémio) com Triunfo do Trabalho. Cidade, Trabalho do Homem. Fot. publicada no jornal O Primeiro de Janeiro (18 Dez. 1954).

No Suplemento Literário do Diário de Notícias, publica o texto «A génese de uma estátua», a propósito da estátua de Almeida Garrett, da autoria de Barata Feyo, inaugurada seis dias mais tarde. Com uma bolsa concedida, em concurso público, pelo Instituto de Alta Cultura, parte para Itália onde permanece durante três anos. Em Roma, entre Abril de 1955 e Junho do ano seguinte, reside no Instituto Português de Santo António onde deixa como recordação um estudo de uma cabeça feminina que se conserva no acervo artístico do mesmo instituto. Na Academia de Belas-Artes de Roma frequenta um curso de escultura em pedra. De Roma parte para Milão onde, durante um ano, trabalha na Academia Nacional de Belas Artes de Brera, sob a orientação do escultor Marino Marini. Durante este período, visita escolas de arte em Florença, Siena e Pádua e viaja pela Grécia, Egipto, Inglaterra, França, Bélgica e Holanda. Igualmente deste período data a sua colaboração no Suplemento «Cultura e Arte» do jornal O Comércio do Porto, dirigido por Costa Barreto: «Cartas da Europa e do Brasil: de Roma: Pintura — Abril — 1955» (26 Jul. 1955).

1955

Mal acabei o curso, concorri por concurso público a uma bolsa do Instituto de Alta Cultura e ganhei. Estive fora três anos, na Itália, Grécia, Inglaterra, França, Bélgica e Holanda. Na Itália … visitei as escolas de Florença, Siena, Pádua e Roma. Em Paris revisitei o que já tinha visto em 1950 e até consegui ir ao Egipto, não com o dinheiro da bolsa mas com as minhas poupanças. Isso deu-

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-me uma visão ampla do ensino do desenho e da escultura. (Artur Queiroz — Lagoa Henriques: o poeta das formas transfiguradas).

Ao lado: Fot. Esp. LH. Legenda no verso: «1955 Milão?» Em baixo: Postal enviado aos pais (3 Set. 1955), de Epidauro, na Grécia. Esp. LH.

Chego a Itália, vou direito a Roma e, em Roma, frequento a … Academia de Roma. … um curso de técnica de pedra. Mas a minha finalidade era trabalhar com o Marino Marini porque era o escultor que eu, nessa altura, e ainda hoje, admiro muito. Era um homem com uma vastíssima cultura e era um homem que nos fazia acreditar que o universo das artes é qualquer coisa que vai passando de mão em mão. E foi uma experiência muito forte, muito rica, porque ele era um extraordinário professor, era um homem de grande capacidade de síntese, a crítica que fazia as trabalhos era muito directa. (Victor Candeias — Lagoa Henriques Contado por Ele).

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Carta aos pais (12 Jul 1955), enviada de Roma. Esp. LH.


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Foram três anos fundamentais para mim como escultor e como professor, em que deambulei pela Europa e pelo Egipto. ... A minha vida é feita de episódios quase mágicos, que me acontecem porque eu aceito as coisas com uma grande verdade e uma grande espontaneidade. Quando estive no Egipto, por exemplo, sucederam-me coisas espantosas, coincidências felizes, que me permitiram prolongar a minha estadia por três meses em vez de um. (Lagoa Henriques: poesia em pedra).

Maio É autor da Alegoria ao Comércio e à Indústria, instalada na parede sul do ginásio da Escola Industrial e Comercial de Setúbal (actual Escola Secundária Sebastião da Gama).

Alegoria ao Comércio e à Indústria. Pedra calcária. Fot. Pedro Saraiva.

Tenho passado bastante tempo em casa … e como ando a estudar o Santo António não tenho necessidade de sair. (Carta aos pais [6 Fev 1956], enviada de Roma. Esp LH.).

1956

Recebi notícias do Santo António, gostaram imenso. (Postal aos pais [4 Mai. 1956], enviado de Roma. Esp LH.). … seguem conforme o prometido fotografias do estudo do S. António que tem apenas 45 cm nesta primeira étape. Uma delas corresponde à primeira fase da maquete com o Santo ainda nú e as restantes envergando já o hábito de S. Francisco; as últimas foram tiradas no telhado de S. António dos Portugueses, recortando-se a figura sobre os telhados de Roma. (Carta aos pais [9 Mai 1956], enviada de Roma. Esp LH.).

Outubro Com Retrato (barro cozido), Peça Decorativa (bronze prateado) e doze estudos, participa na V Exposição Magna da EBAP.

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9 de Dezembro Pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, é inaugurada a Igreja Paroquial de Santo António de Moscavide. Com traço dos arquitectos João de Almeida e António Freitas Leal, a fachada é revestida com um painel cerâmico de Manuel Cargaleiro. No interior, a estátua do santo padroeiro e o crucifixo do altar-mor são de Lagoa Henriques, sendo o baldaquino do pintor José Escada.

1. Santo António Doutor. Mármore lioz. A. 160 cm. N. ass. e n. dat. 2. Cristo. Bronze. A. 76 cm. N. ass. e n. dat. Fots. Esp. LH.

1957

Janeiro Participa no Salão de Inverno, na SNBA. 20 de Junho-1 de Julho Com três desenhos — Castália (o retrato da mãe) e duas figuras — participa na I Exposição Nacional de Escultura e Desenho de Escultores: homenagem a Francisco Franco, na SNBA. Com o escultor Martins Correia (ambos na qualidade de representantes da Direcção da SNBA) e os escultores António Duarte e Jorge Vieira, e o Arquitecto Conceição Silva (representantes dos expositores) integra a comissão que coordenou a exposição. 23 de Julho Data do falecimento do pai, que vem a ser sepultado no Cemitério do Alto de S. João, em Lisboa.

Castália. Grafite sobre papel. 36,5 × 23 cm. N. ass. e n. dat. Esp. LH.

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7-31 de Dezembro Participa na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) com Varinas (Homenagem a Cesário Verde) (bronze), Cabeça (mármore rosa) e Busto (terracota).

Ao lado: Varinas (Homenagem a Cesário Verde). Foto reproduzida no catálogo. Em baixo: 1. Estudo num Diário Gráfico. Grafite. N. assin. e n. dat. Fot. Esp. LH. 2. Esboceto. Bronze. 60 × 40 × 18 cm. N. ass. e n. dat. Fot. Esp. LH.

Pessoa era um poeta de Lisboa. Ele, o Cesário Verde, o Gomes Leal e o António Botto são os grandes poetas de Lisboa. Eu costumo dizer que Pessoa foi o meu mestre da realidade interior e Cesário Verde o meu mestre da realidade exterior. … Ele ensinou-me a ver o grande espectáculo plástico das pessoas e com ele aprendi que a palavra ressuscita a imagem. … (Artur Queiroz — Lagoa Henriques: o poeta das formas transfiguradas). Porque Cesário é um poeta extremamente gráfico e visual. … «Vazam-se os arsenais e as oficinas, / Reluz, viscoso, o rio; apressam-se as obreiras; / E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras, / Correndo com firmeza, assomam as varinas. // Vêm sacudindo as ancas opulentas! / Seus troncos varonis recordam-me pilastras; / E algumas, à cabeça, embalam nas canastras / Os filhos que depois naufragam nas tormentas.» Essa definição das figuras, …, duma arquitectura da cidade, foi para mim realmente muito importante e foi o Cesário que me ensinou. Aquela peça, uma das peças que marcam, digamos, o meu trabalho de escultor, que aparece na I Exposição de Artes Plásticas da Gulbenkian, as Varinas, foram-me … sugeridas pelo Cesário: «seus troncos varonis recordam-me pilastras». (Victor Candeias — Lagoa Henriques Contado por Ele). fotocronologia

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… devo dizer que quando eu estava a estudar na Escola de Belas-Artes do Porto …, uma das provas que eu fiz de Grande Composição foi um monumento ao Cesário, que seria composto de três elementos. Um … são [as] varinas. Mas essas varinas dialogavam com um grupo de árvores — que era outro grupo escultórico — e o terceiro elemento era o retrato do poeta sentado. Nunca cheguei a fazer esse monumento, mas gostaria muito de o fazer. (Alice Vieira — Mestre Lagoa Henriques: «O mais importante da minha vida foi ter dado alegria às pessoas»).

Novembro Com Retrato, Figura Sentada e dois desenhos, participa na VI Exposição Magna da ESBAP.

É Vogal Suplente da Direcção da SNBA.

Preside ao júri de admissão e classificação da Escultura da 53.ª Exposição Anual de Pintura a Óleo e Escultura (Salão Primavera), na SNBA.

Publica o texto «O importante ao visitar uma exposição …» no catálogo José Júlio: 4.ª exposição de pintura e desenho.

1958 Por proposta dos arquitectos Alberto José Pessoa, Hernâni Gandra e João Abel Manta, autores do projecto habitacional situado no troço entre a Rua de Santana à Lapa e o antigo Aqueduto, na Avenida Infante Santo em Lisboa, é autor da escultura colocada na fachada do lote n.º 5 da mesma avenida, cuja escritura é outorgada em 6 de Outubro de 1956 e assinada em 19 de Novembro desse ano.

Menina da Bicicleta. Bronze patinado a prata. A. 200 cm. Fot. Maria João Gamito.

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17 de Abril-19 de Outubro É um dos artistas a representar Portugal na Exposition Universelle et Internationale de Bruxelles, sendo distinguido com um Diploma e uma Medalha de Honra.

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10-22 de Dezembro Com Bronze e Basalto, participa no 1.º Salão de Arte Moderna da Casa da Imprensa (Caixa de Previdência de profissionais da Imprensa de Lisboa). Dedicada à memória do pintor Manuel Ribeiro de Pavia, a exposição foi promovida por esta associação, por iniciativa de Artur Portela Filho e Benjamim Marques.

1. Fot. Esp. LH. Legenda no verso: «Abril-58». 2. Fot. Esp. LH. Legenda no verso: «Setembro 1958». 3. Vista parcial da exposição. Fot. publicada no jornal Diário de Lisboa (10 Dez. 1958).

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Dezembro Com Máscara (basalto), Figura (bronze) e dois desenhos, um dos quais um retrato, participa na VII Exposição Magna da ESBAP.

Recebe o prémio de Escultura da Sociedade Cultural de Luanda.

Uma réplica em terracota da estátua de Santo António, pertencente à Igreja de Moscavide, é colocada no átrio de entrada do Museu de S. Vicente de Fora, em Lisboa.

Santo António Doutor. Réplica em barro cozido do original pertencente à Igreja de Moscavide. Fot. Maria João Gamito.

1959

23 de Janeiro Toma posse como 2.º Assistente do 6.º Grupo de disciplinas – Escultura na FBAUP (Diário do Governo, II Série, n.º 28, de 3 de Fevereiro de 1959). Proposto pelo Director da FBAUP, Carlos Ramos, em reunião de Conselho Escolar do dia 16 de Outubro de 1958, o Conselho aprovou por unanimidade a sua contratação.

Começámos em 1958 [a restruturação do ensino na ESBAP] e o Professor Carlos Ramos foi o grande impulsionador dessa mudança, apoiou-me muito. Foi ter comigo a Itália e eu mostrei-lhe o que de melhor se fazia por lá. Decidimos introduzir na escola do Porto, ao nível da escultura, as tecnologias da pedra, da madeira e do aço. Na pintura, os frescos e os mosaicos. O Professor Dórdio Gomes acolheu estas ideias com grande entusiasmo. … … os meus alunos gostavam do novo ensino. Comecei a dar aulas ao ar livre, do ensino clássico eles saltaram para a descoberta da realidade. … Os alunos começaram a desenhar crianças, adultos, velhos, bichos, árvores, nuvens. Um dia levei

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os alunos de escultura a uma praia, apanhámos seixos e eles fizeram a transposição da escala. Depois começaram a fazer o mesmo com ramos de árvores e animais. (Artur Queiroz — Lagoa Henriques: o poeta das formas transfiguradas).

21 de Janeiro-7 de Fevereiro Com Bronze e Basalto, participa na 1.ª Exposição de Arte Moderna na Galeria Alvarez.

Em cima: Bronze. Fot. reproduzida no catálogo. Ao lado: Bronze. 19 × 12,5 × 23 cm . N. ass. e n. dat. Esp. LH. Fot. Maria João Gamito.

Janeiro Integra o júri de admissão à I Exposição dos Alunos da Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Os restantes membros do júri foram o arquitecto Carlos Ramos, os pintores Dórdio Gomes, Augusto Gomes e Júlio Resende, e o escultor Gustavo Bastos.

30 de Junho-12 de Julho Participa numa colectiva de Arte Moderna, na Biblioteca Pública Municipal de Vila Nova de Gaia.

A escultura Varinas (Homenagem a Cesário Verde) é colocada à entrada do Hotel Rex, na Rua Castilho, em Lisboa.

Varinas (Homenagem a Cesário Verde). Bronze. A. 187 cm. Ass. e n. dat. Fot. Maria João Gamito.

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O esboceto da escultura no atelier, vendo-se, em primeiro plano, o retrato do pai já danificado pelo incêndio. Fot. Esp. LH.

Sempre acalentei o sonho de fazer um busto de Cesário … Admiti essa hipótese, na altura da apresentação da tese final do curso, mas não foi aceite. Do projecto, restam as varinas, parte integrante do estudo que cheguei a elaborar e que mais tarde, depois de ampliadas, transformei na peça que agora se encontra à entrada do Hotel Rex. (Lourdes Feria — Mestre Lagoa Henriques: o inadiável da poesia).

25 de Novembro É inaugurado o Hotel Ritz. Lagoa Henriques é o autor da escultura Deslumbramento, junto da galeria do bar, e do conjunto escultórico Cavalos Marinhos, no Restaurante Varanda. É ainda o autor de dois modelos de appliques — um em cristal (Chama) e o outro em bronze dourado (Búzio), de factura artesanal — para as áreas de circulação (átrio, galeria e corredores).

1. Deslumbramento. Bronze. 96 × 80 cm. 2. Cavalos Marinhos. Bronze. 150 × 80 cm. 3. Chama. Bronze e cristal. 45 × 30 cm. 4. Búzio. Bronze dourado. 60 × 45 cm. Fots. Maria João Gamito.

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Dezembro Com Varinas (Homenagem a Cesário Verde) (gesso), dois retratos em bronze e seis desenhos, participa na VIII Exposição Magna da ESBAP. Na mesma exposição, é apresentado o 1.º prémio do concurso escolar para uma memória aos «Calafates do Infante», aberto na ESBAP e promovido pela Delegação no Norte da Comissão Nacional das Comemorações Henriquinas, para a realização de um monumento aos obreiros das naus que partiram na expedição a Ceuta em 1415. Das quatro propostas concorrentes, o júri, que integrou, pela ESBAP, Carlos Ramos, Barata Feyo e Rogério Azevedo e, pela Comissão das Comemorações, Fernando Magano e Damião Peres, atribuiu o prémio ao projecto desenvolvido por Lagoa Henriques, Alcino Soutinho, Álvaro Siza Vieira e Augusto Amaral. Em cima: Maqueta do Monumento aos Calafates. Fot. reproduzida no catálogo da exposição Festival de Arte, ESBAP, 1960. Ao lado: Estudo de Lagoa Henriques para o Monumento aos Calafates. Caneta e tinta preta sobre papel. 29,7 × 21 cm. Inscrição: «1959 Monumento aos Calafates. Arqutos Alcino Soutinho, A. Siza, A. Amaral, Lagoa Henriques (escultor)». Esp. LH.

1960

Lagoa Henriques e os pais. Esp. LH.

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Maio Com Escultura e Cabeça de Jovem participa na Exposição de Artes Plásticas promovida pelo Centro Universitário do Porto.

Fot. reproduzida no catálogo. Atrás, a tapeçaria de Júlio Resende, evocativa da conquista de Ceuta.

9 de Agosto-Novembro Participa na Exposição Henriquina com um grupo escultórico, de pequenas dimensões, que figura D. João I a armar os seus filhos cavaleiros. Estas figuras virão a integrar a 1.ª proposta do grupo escultórico alusivo à Entrega da Carta de Foral a D. Manuel I, Apresentada por Lagoa Henriques à Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, na sequência do convite que lhe foi feito (2001).

1. Estudo, em barro, das quatro figuras. Fot. Esp. LH. 2. As mesmas figuras, em bronze. Figuras da esquerda: 17 × 9 × 5 cm. Figuras da direita: 15 × 6 × 7 cm. N. ass. e n. dat. Fot. Maria João Gamito.

27 de Agosto Pelo Subsecretário de Estado da Educação Nacional, Baltazar Rebelo de Sousa, é inaugurado o Monumento à Grei (Padrão do Ouro) no Jardim do Ouro (concebido pelos arquitectos Luís Cunha e Vasco Mendes), no Largo de António Cálem, no Porto. Postal editado por ocasião da cerimónia de O monumento foi encomendado a Lagoa inauguração. Esp. LH. Henriques pelo engenheiro Sá e Melo, da Delegação no Porto da Comissão Executiva das Comemorações Henriquinas. O escultor aceitou a encomenda depois de consulta aos restantes co-autores do projecto do Monumento aos Calafates, que a isso o incentivaram. O monumento evoca o esforço despendido pela «grei» no aprovisionamento da armada que foi na expedição a Ceuta, tomando como referência a descrição de Gomes Eanes de Zurara.

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Outubro Com a estátua do Jurisconsulto Ferreira Borges, dois bronzes e cinco desenhos, participa na IX Exposição Magna da ESBAP.

1961

30 de Abril De sua autoria, é inaugurado o grupo escultórico A Justiça, no parque fronteiro ao edifício do Tribunal Judicial, em Rio Maior, projectado pelo arquitecto Sebastião Formosinho Sanches. Em 1958, Formosinho Sanches apresenta o anteprojecto do Tribunal, onde constava uma fotografia da maqueta do motivo escultórico de Lagoa Henriques, intitulado A Sentença de Salomão.

Na minha modesta experiência de escultor, tive ocasião [numa] peça que eu fiz para o Palácio de Justiça de Rio Maior, que foi dos primeiros Palácios de Justiça que se fizeram sem uma expressão retórica, projecto do Arquitecto Formosinho Sanches, e eu inventei uma escultura simbólica que não era simplesmente a Justiça e a Lei, criei uma composição imprevista e inédita e verifiquei que … populares que assistiram ao descerramento daquele elemento escultórico, entenderam perfeitamente e olharam com respeito … (Carlos Cruz — Carlos Cruz Quarta-Feira).

1. A Justiça. Bronze. A. 440 cm. Fot. Esp. LH. 2. O grupo escultórico no atelier vendo-se, nas paredes laterais, os altos-relevos do edifício da Delegação Aduaneira de Vilar Formoso. Esp. LH.

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bibliografia

Bibliografia activa Fontes manuscritas Correspondência, contratos, memórias descritivas, orçamentos, poemas, propostas e textos de Lagoa Henriques, em diversos suportes: diários gráficos, versos de convites, folhas soltas, toalhas de papel. Por não estarem catalogados, optei por incluir a sua referência no corpo do texto. (Acessíveis na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Esp. LH.).

Fontes impressas Henriques, António A. Lagoa. A ausência … In 2.º Encontro no Revoredo: conversa com Artur Andrade. [S.l: s.n], 1994, n.p. (Santa Cruz: Casa da Cultura). Henriques, António A. Lagoa. A condição do artista. Arteopinião, n.º 11 (Esp. Ver. 1980). Lisboa: Associação de Estudantes da Escola Superior de Belas-Artes, p. 36-43. Henriques, António A. Lagoa. A Cezário Verde. In Lagoa Henriques: passagem das horas. Lisboa: Galeria Arte Periférica, 2005, n.p. [O poema foi reeditado no catálogo Lagoa Henriques: passage des heures]. Henriques, António A. Lagoa. A génese de uma estátua. In Mestre Barata Feyo: exposição retrospectiva. Textos Júlio Resende … [et al.]; fot. Mário Novais, Teófilo Rego e Joaquim Cabral. Porto: Escola Superior de Belas-Artes, 1981, p. 47 [pela 1.ª vez publicado no Suplemento Literário do Jornal de Notícias, 5 Nov. 1954]. Henriques, António A. Lagoa. Almeida Garrett [Busto]. In Simões, João Gaspar. Garrett: quatro aspectos da sua personalidade. Porto: Ateneu Comercial, 1954, [n.p.]. Henriques, António A. Lagoa. Algumas palavras e um beijo … In Catarina de Castro Freire: pintura/desenho. Lisboa: Galeria Diário de Notícias, 1984, [n.p.]. Henriques, António A. Lagoa. Almada por Lagoa Henriques [Poema]. A Capital (24 Jun. 1970). Henriques, António A. Lagoa. A Maria Barreira e Vasco da Conceição: um par ímpar no exercício da escultura. In Retrospectiva da Obra de Vasco da Conceição e Maria Barreira: escultura. Odivelas: Centro Cultural da Malaposta, 1995, [n.p.].

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