José David — O Teu Rosto como o Rosto da Pintura

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josé david o teu rosto como o rosto da pintura

o teu rosto

como o rosto da pintura

ton visage comme le visage de la peinture

textos | textes

José Luís Porfírio

Madalena Pena

Raquel Henriques da Silva

josé david

Sumário | Sommaire

José Luís Porfírio

Carta ao José David ..........................................................

Lettre à José David ............................................................

Madalena Pena

José David — Um pintor que se faz pintando ..................

José David — Un peintre qui se fait en peignant ..................

Raquel Henriques da Silva

José David — Dar o rosto à pintura ..................................

José David — Donner un visage à la peinture ......................

Lista das Obras | Liste des Œuvres ..............................................

Antologia de textos | Anthologie de textes ..................................

Susana Paiva

Um dia no atelier de Paris | Un jour dans l’atelier de Paris ....

José David (1938-2018) ..........................................................

Exposições | Expositions ............................................................

Agradecimentos | Remerciements ..............................................

Amigo

Partiste mesmo no dia dos meus anos, não ligo aos aniversários, mas assim, deste modo, não dá para esquecer e depois, depois, ficou tanta coisa por dizer em tua casa, à tua mesa, na tua sala e, sobretudo, no atelier diante das pinturas e do seu constante fazer e refazer.

Olho agora a tua obra sem imagens por perto, como eu gosto de fazer, i.e., ver enquanto escrevo, esse modo de ver de que o Pedro Morais tanto lembrava, ver sem ver, porventura vendo mais com a memória, com o espírito e sobretudo com a presença que só algumas obras nos inscrevem na mente. Ver assim é uma espécie de gesto infinito que alguns pintores, pintando ou não, me ensinaram e tu foste um deles.

A tua pintura era, não era, é uma necessidade, tua e de quem a vê.

A tua pintura é um corpo, é mesmo o teu corpo que partilhas connosco no desenho de pintor que vi na Casa da Cerca, em exposição organizada por outro amigo presente/ausente, o Rogério Ribeiro, que por essa altura nos apresentou. E por essa altura, apesar da aparência, já não era de auto-retrato ou de autofiguração que se tratava, mas de algo mais visceral e profundo, de uma profundidade que nada devia à metáfora, mas à própria realidade da pintura, corpo, retrato, rosto; quero dizer com isto:

O TEU ROSTO COMO O ROSTO DA PINTURA !

E o rosto transforma-se em paisagem, e, esta, torna de novo a ser rosto, numa espécie de vai e vem onde a pintura se transforma num território bem junto ao chão que pisamos e ao chão que pisaste no teu Ribatejo natal, ultrapassando assim, por dentro, a célebre definição de quadro do Maurice Denis: «Um quadro antes de ser um cavalo de batalha, uma mulher nua, ou uma qualquer anedota, é essencialmente uma superfície plana coberta de cores reunidas numa certa ordem.» (1890).

Contigo essa coisa que tantas vezes designamos por superfície do suporte desaparece, para ficar uma terra que tu lavras, desgastas, inundas, recompões depois e, de algum modo, não acabas nunca, tal como um rosto todo feito de mudança ou uma paisagem que só é fixa e imóvel por um esforço de abstracção.

Conseguiste, José, algo de parecido como o estabilizar de um movimento perpétuo, dando sempre, continuamente, a ideia da mudança e da transitoriedade nas tuas pinturas sempre inacabadas, e, mesmo que a partir de agora não lhes possas mexer mais, elas permanecem como um retrato da alteridade e, no caso dos rostos, como o retrato da insatisfação, da tua insatisfação.

De há muito que se tornou claro que podemos entender a pintura como uma série de aluviões sobrepostos que pode contar uma, ou mesmo várias histórias: de mudanças, arrependimentos, contradições, mentiras e falsidades ou, nos casos mais sérios, dizer da impossibilidade de acabar com a consequente necessidade de recomeçar continuadamente. Toda uma série de tecnologias, da radiografia à reflectografia de infravermelhos, foram criadas para explorar a pintura como se de um território arqueológico se tratasse. No teu caso estamos com a utilização e sobreposição de suportes de papel intermediários que, primeiro, tapam para depois serem destapados através da sua destruição parcial, e tudo fica mais agressivo quando raspas, mais contundente quando inundas, pois a água é, desde sempre, um terrível

inimigo da pintura destruindo a(s) camada(s) cromática(s), um inimigo que tu cultivaste a teu bel-prazer, num contínuo refazer do Kaos original suscitando a cada passo mundos novos, ou fragmentos deles ou, mais simplesmente, criando a necessidade da sua existência em constante devir. Não creio que na tua pintura se trate de subversão, mas de uma imperiosa vontade de transformar, e mais, de assinalar cada quadro como um ente em viagem, eminentemente mutável, atravessando a famigerada superfície do suporte, transitória sempre, como o próprio quadro. Assim, a tua pintura é uma viagem com origem mais ou menos conhecida e destino incerto, morando provisoriamente no instável e torturado relevo de cada um dos teus quadros.

O que é um quadro senão um fragmento de um todo mais vasto, atravessando o espaço de uma galeria, ou pousando numa parede, mapa que se confunde com o território, lugar onde a visão, o tacto e todos os outros sentidos e sentimentos são comunicação e partilha, chão que partilhamos, terra, a tua e a nossa terra, vivida como morada do Ser, um Ser todo feito de mudança.

A pintura, qualquer pintura, não é imóvel nem inalterável e tu desde muito cedo, quando foste passando para além da imagem, i.e., emigrando da ilustração à pintura, tiveste disso plena consciência, por isso andavas sempre como que correndo atrás dela, dentro e fora dela, ao lado dela, sempre inquieto e sempre certo, e, por isso mesmo, embora sem palavras, os teus quadros, na sua respiração contínua, são a melhor autobiografia do José David enquanto pintor e, por isso, a pintura está sempre contigo, homem inquieto numa era inquieta, a pintura e a vida ontem, hoje e sempre.

Nossa Senhora da Graça de Póvoa e Meadas, 23 de Outubro de 2018

Lettre à José David

Mon ami

Tu nous as quittés le jour de mon anniversaire, je ne fais pas attention aux anniversaires, mais comme ça on ne peut l’oublier, et puis, et puis il reste tant à dire chez toi, à ta table, dans ton salon, et surtout, dans l’atelier, devant les peintures constamment travaillées et retravaillées.

Je regarde à présent ton œuvre sans images à portée de main, comme j’aime le faire, c’est-à-dire voir pendant que j’écris, cette façon de voir que Pedro Morais rappelait souvent, voir sans voir, en voyant peut-être davantage par le souvenir, l’esprit et surtout par la présence que seules certaines œuvres impriment dans notre âme. Voir ainsi est une sorte de geste infini que certains peintres, en peignant ou non, m’ont appris, et tu en fais partie.

Ta peinture était, non, est une nécessité pour toi et ceux qui la voient.

Ta peinture est un corps, c’est même ton corps que tu partages avec nous dans le dessin du peintre que j’ai vu à la Casa da Cerca, lors d’une exposition organisée par un autre ami présent/absent, Rogério Ribeiro, qui nous a présentés à cette occasion. Et à cette époque, malgré les apparences, il ne s’agissait déjà pas d’autoportrait ou d’autofiguration, mais de quelque chose de plus viscéral et profond, d’une profondeur qui ne devait rien à la métaphore, mais à la réalité même de la peinture, corps, portrait, visage; je veux dire par là:

Et le visage se transforme en paysage, et celui-ci devient à nouveau visage, dans une sorte de va et vient où la peinture se transforme en un territoire tout près du sol que nous foulons, et du sol que tu as foulé dans ton Ribatejo natal, dépassant ainsi, de l’intérieur, la célèbre définition d’un tableau par Maurice Denis : « Un tableau, avant d'être un cheval de bataille, une femme nue ou une quelconque anecdote, est essentiellement une surface plane recouverte de couleurs en un certain ordre assemblées. » (1890). Avec toi ce que l’on qualifie souvent de surface de support disparaît, pour ne laisser qu’une terre que tu laboures, dégrades, recomposes ensuite, et d’une certaine façon, que tu n’achèves jamais, comme un visage totalement fait de changement, un paysage qui n’est fixe et immobile que par un effort d’abstraction.

Tu as réussi, José, quelque chose qui ressemble à la stabilisation du mouvement perpétuel, en donnant toujours, en permanence, l’idée du changement et du transitoire dans tes peintures toujours inachevées, et même si à partir de maintenant tu ne peux plus les modifier elles demeurent comme un portrait de l’altérité, et s’agissant des visages comme le portrait de l’insatisfaction, de ton insatisfaction.

Il est clair depuis longtemps qu’on peut comprendre la peinture comme une série de sédiments superposés, qui peut raconter une, ou même plusieurs histoires : de changements, de repentirs, de contradictions, de mensonges et de falsifications, ou dans des cas plus sérieux, qui peut dire l’impossibilité d’achever avec la nécessité de recommencer en permanence qui en découle. Diverses technologies, de la radiographie à la réflectographie infrarouge, ont été développées pour explorer la peinture comme s’il s’agissait d’un champ archéologique. Dans ton cas on est en présence de l’utilisation et de la superposition de supports de papier intermédiaires, qui couvrent d’abord pour être ensuite découverts à travers une destruction partielle, puis tout devient plus agressif quand tu grattes, plus contondant

quand tu mouilles, car l’eau est, depuis toujours, un ennemi terrible de la peinture qui détruit la/les couche/es chromatique/es, un ennemi que tu as cultivé selon ton bon plaisir, dans une recréation continue du Chaos originel en suscitant à chaque pas des mondes nouveaux, ou des fragments, ou, plus simplement, en créant la nécessité de son existence en devenir constant. Je ne crois pas que dans ta peinture il s’agisse de subversion, mais d’une volonté impérieuse de transformer, et plus encore, de signaler chaque tableau comme un être en voyage, éminemment mutant, traversant la surface noble du support, toujours transitoire, comme le tableau lui-même.

Ta peinture est ainsi un voyage d’ont l’origine est plus ou moins connue et la destination incertaine, occupant provisoirement le relief instable et torturé de chacun de tes tableaux.

Qu’est-ce qu’un tableau sinon un fragment d’un tout plus vaste, traversant l’espace d’une galerie, ou accroché à un mur, carte qui se confond avec le territoire, lieu où la vue, le toucher et tous les autres sens et sentiments sont communication et partage, sol que nous partageons, terre, la tienne et la nôtre, vécue comme le lieu de l’Être, d’un Être tout entier fait de changement.

La peinture, toute peinture, n’est pas immobile ni inaltérable et toi très tôt, quand tu es passé au-delà de l’image, c’est-à-dire que tu as migré de l’illustration vers la peinture, tu en as pris pleinement conscience, c’est pourquoi tu avançais comme si tu courais derrière elle, à l’intérieur et en dehors d’elle, à côté d’elle, toujours inquiet et toujours certain, et pour cette même raison, quoique sans mots, tes tableaux dans leur respiration continue, sont la meilleure autobiographie de José David, et pour cela, la peinture est toujours avec toi, homme inquiet dans une ère inquiète, la peinture et la vie, hier, aujourd’hui et pour toujours.

Nossa Senhora da Graça de Póvoa e Meadas, 23 octobre 2018 [Trad. Isabelle Hourcade]

qui est la mélancolie de son absence. Plus que le beau ou l’horrible nous assistons à la propagation facile du kitsch : le « kitsch », comme disait Hermann Broch, n’est pas le « mauvais art », mais « le mal dans le système de valeurs de l’art », la non-valeur par excellence. Mais une non-valeur redoutable : système clos, il alimente les formes les plus tyranniques de pouvoir, dont le « kitsch » nazi ou stalinien sont l’exemple. Qui surgit aussi dans la crise de valeurs propre aux « démocraties gélatineuses », quand l’absence de pensée politique engendre tous les cynismes et les esthéticismes. La production en série génère l’insensibilisation : l’horrible pour l’horrible devient infantile, habituel, insignifiant. Le beau pour le beau devient vide, frustrant. De l’excès de consommation d’images horriblement belles naît l’ennui. José David ne se laisse pas emprisonner par ces faux-semblants — de la contemporanéité — c’est contre eux qu’il peint, avec la force avec laquelle d’autres crient. Il y a une énergie vitale, politique dans cette peinture qui appelle le retour du travail de l’œil, l’authenticité de la peinture, sa capacité de rébellion contre les paramètres établis, son don de célébration des interdits — comme aujourd’hui le vieillissement de la peau, la proscription des histoires qui s’ouvrent sur l’affaissement des visages. José David a conscience que la beauté saura nous inquiéter, nous émerveiller d’autres fois, en un autre lieu — dans ce lieu en mutation où le beau s’affirme comme une connaissance profonde de l’incertitude. C’est dans ce territoire abandonné — celui de la recherche personnelle, de la fissure, de la fracture, de la lumière en mouvement — que José David existe, peintre infatigable, audacieux, exposé, avec son trait singulier, la densité de son savoir, le pouvoir extraordinaire de ses visages.

Catalogue de l’exposition de José David, Todos os Rostos / All Faces, Casa Fernando Pessoa, Lisbonne, 2011 [Trad. Isabelle Hourcade]

Seigen

José David le va-nu-pieds — fait et défait, refait et recommence à faire pour raréfier en peinture.

Seigen

José David o pé descalço — faz e desfaz, refaz e volta a fazer para rarefazer na pintura.

Continuidade e mudança

Nuno Júdice

A pintura de José David leva-nos de uma totalidade, que é o rosto único ocupando o espaço da tela, à multiplicidade em que o todo se distribui em parcelas. Nessa ruptura, saímos de um arquétipo crístico, presente na tradição da pintura ocidental, para a ruptura que põe em causa o modelo para apelar a uma outra dimensão do ser: as imagens sequenciais, fragmentárias, que ocupam o interior dessa outra tela que é o ser, onde se imprimem os momentos de uma vivência expressa em imagens. A ruptura nasce de um já distante cubismo, mas não se lhe refere senão como citação estética. O que desse passado modernista José David herdou foi a necessidade de encontrar uma estrutura que suporta a imagem, e que vai sendo sucessivamente trabalhada e reaproveitada sem que, no final, as diversas fases do seu exercício figurativo se contraponham.

Poderíamos aproximar essa busca do mais profundo da imagem ao caminho para um inconsciente que talvez determine esse jogo plural que, por vezes, evoca os primeiros instantes da arte cinematográfica. Se o refiro é porque, neste processo, o pintor passa da imobilidade hierática desse rosto que se reproduz, tal como o homem atravessa as suas diversas idades, num processo que evoca entre outros o precursor Rembrandt, a uma dinâmica visual que podemos seguir, nos seus quadros de cadência sequencial, como se estivéssemos perante uma construção de movimentos simultaneamente para dentro e para fora de si. Paradoxalmente, esse caminho para o interior

do ser, que habitualmente se associa ao nocturno do inconsciente, tem aqui uma perspectiva luminosa que contraria os grandes planos do rosto, em que está mais presente a alusão tenebrista.

Neste conjunto de José David, o que imediatamente ressalta, para lá da fidelidade a um percurso que se tem mantido com uma sólida coerência, é a renovação de uma pintura que aponta para novas linhas de desenvolvimento, indicando propostas que correspondem a um pensamento não apenas do ser mutante e interior que procura sobreviver à diluição no tempo, mas também do próprio espaço do gesto de pintar num mundo dominado pela imagem efémera e gratuita que ocupa o nosso quotidiano.

Catálogo da exposição José David, Galeria Monumental, Lisboa, 2017

Continuité et changement

La peinture de José David nous entraîne d’une totalité, qui est le visage unique occupant tout l’espace de la toile, à la multiplicité où tout est divisé en parcelles. Dans cette rupture, nous sortons d’un archétype christique, présent dans la tradition de la peinture occidentale, pour aller vers la rupture qui met en cause le modèle pour en appeler à une autre dimension de l’être : les images séquentielles, fragmentaires, qui occupent l’intérieur de cette autre toile qu’est l’être, où s’impriment les instants d’un vécu exprimé en images. La rupture nait d’un cubisme déjà distant, mais ne s’y réfère que comme citation esthétique. Ce que José David a hérité de ce passé moderniste c’est la nécessité de trouver une structure qui supporte l’image, et qui soit tour à tour travaillée et réutilisée, sans qu’au bout du compte, les différentes phases de cet exercice figuratif ne s’opposent.

Nous pourrions rapprocher cette recherche au plus profond de l’image du cheminement vers un inconscient qui détermine peut-être ce jeu pluriel qui, parfois, évoque les premiers instants de l’art cinématographique. Si je m’y réfère, c’est parce que, dans ce processus, le peintre passe de l’immobilité hiératique du visage qui est reproduit, tout comme l’homme traverse les différents âges de la vie, dans un processus qui évoque entre autres Rembrandt le précurseur, à une dynamique visuelle que nous pouvons suivre, dans ses tableaux à la cadence séquentielle, comme si nous étions en présence d’une construction de mouvements simultanés au-dedans et en-

dehors de lui-même. Paradoxalement, ce chemin vers l’intérieur de l’être, habituellement associé à la part nocturne de l’inconscient, revêt ici une perspective lumineuse qui contrecarre les larges plans du visage, où est davantage présente l’allusion ténébriste.

Dans cet ensemble de José David, ce qui ressort d’emblée, au-delà de la fidélité à un parcours qui a conservé une cohérence solide, c’est le renouvellement d’une peinture qui signale de nouvelles lignes de développement, avec des propositions qui correspondent à une pensée non seulement de l’être mutant et intérieur qui tente de survivre à la dilution dans le temps, mais aussi de l’espace proprement dit du geste de peindre dans un monde dominé par l’image éphémère et gratuite qui envahit notre quotidien.

Catalogue de l’exposition José David, Galeria Monumental, Lisbonne, 2017 [Trad. Isabelle Hourcade]

Um dia no atelier de Paris

Un jour dans l’atelier de Paris

2007 Susana Paiva

(-)

Nascido em Almeirim (Ribatejo) em 1938, num meio muito modesto, José David começou a trabalhar em cafés aos dez anos, após a morte do pai, onde aproveita os momentos de sossego para desenhar e, sobretudo, realizar caricaturas dos clientes. Gosta de ler e recebe, entre outros, conselhos e incentivos por parte de um poeta local, Francisco Henriques, que lhe empresta livros da sua biblioteca e lhe fala com entusiasmo sobre arte e artistas.

Aos dezasseis anos, deixa Almeirim e vai para Lisboa, onde, respondendo a um anúncio no jornal, encontra trabalho, novamente num café, e frequenta assiduamente as aulas nocturnas da Sociedade Nacional de Belas-Artes (aulas de desenho e pintura a óleo: desta formação artística, a única que recebeu, nasceu o auto-retrato de 1957 mostrado nesta exposição [p. 44]).

Aos dezoito anos, ingressa numa agência de publicidade como desenhador, antes de ser chamado para a tropa e partir durante dois anos para Macau, onde realiza a sua primeira exposição.

De regresso a Lisboa, retoma o seu trabalho como ilustrador publicitário, casa-se e tem um filho.

Em 1969, decide emigrar para Londres, mas faz uma paragem em Paris, onde começa por trabalhar como desenhador, antes de se dedicar à ilustração, meio no qual se torna muito conhecido e apreciado, realizando capas de livros para várias editoras, nomeadamente Gallimard, Le Seuil ou ainda Anne-Marie Métailié. Sempre a par da vida artística, manteve igual-

mente muitos contactos e laços de amizade com artistas portugueses tais como Manuel Alvess, Lourdes Castro ou Jorge Martins, e com escritores,

Andrée Chedid, António Lobo Antunes, José Luís Luna, entre muitos outros.

No início dos anos 80, decide dedicar-se à pintura, começa a expor em Paris e em Lisboa e divide o seu tempo entre Paris e Portugal. Instala-se primeiro em Lagoa, perto de Mafra, e finalmente em Lisboa em 2015. Possuído pela pintura, trabalha incessantemente, parando apenas para se encontrar com amigos próximos, mostrar-lhes os seus quadros e discuti-los. Amigos como Pedro Morais, José Luís Porfírio, Guilherme Lopes Alves, Carlos Saboga, e tantos outros…

A sua última exposição teve lugar na galeria Monumental, em Lisboa, em 2017, um ano antes da sua morte.

Né à Almeirim (Ribatejo) en 1938 dans un milieu très modeste, José David commence à dix ans, à la mort de son père, à travailler dans des cafés, où il profite des moments de calme pour dessiner, et surtout faire des caricatures des clients. Il aime lire, et il reçoit, entre autres, des conseils et des encouragements d’un poète local, Francisco Henriques, qui lui prête des livres de sa bibliothèque et lui parle avec enthousiasme de l’art et des artistes.

À seize ans, il quitte Almeirim pour Lisbonne où il a trouvé un travail, toujours dans un café, en répondant à une annonce dans le journal, et il fréquente assidûment les cours du soir de la Sociedade Nacional de Belas-Artes (des cours de dessin et de peinture à l’huile : de cet enseignement artistique, le seul qu’il ait jamais reçu, est né l’autoportrait de 1957 montré dans cette

exposition [p. 44]). À dix-huit ans, il entre dans une agence de publicité comme dessinateur, puis est appelé à l’armée et part pour deux ans à Macao. Il y fera sa première exposition.

De retour à Lisbonne, il reprend son activité de dessinateur publicitaire, se marie, a un fils.

En 1969, il décide d’émigrer, à Londres, mais s’arrête à Paris, où il travaille d’abord comme dessinateur, puis se lance dans l’illustration où il devient très connu et apprécié, réalisant des couvertures de livres pour divers éditeurs dont Gallimard, Le Seuil ou Anne-Marie Métailié. Très au courant de la vie artistique, il entretient aussi de nombreux contacts et se lie d’amitié avec des artistes portugais comme Manuel Alvess, Lourdes Castro, Jorge Martins, avec des écrivains comme Andrée Chedid et António Lobo Antunes, José Luís Luna, et bien d’autres.

Au début des années 80, il décide de se consacrer à la peinture, commence à exposer à Paris et à Lisbonne et partage son temps entre Paris et le Portugal, jusqu’à ce qu’il s’installe finalement, en 2014, d’abord à Lagoa, près de Mafra, puis à Lisbonne. Possédé par la peinture, il travaille incessamment, ne s’arrêtant pratiquement que pour rencontrer des amis proches, leur montrer ses tableaux et en discuter. Des amis comme Pedro Morais, José Luís Porfírio, Guilherme Lopes Alves, Carlos Saboga, et tant d’autres…

Sa dernière exposition a lieu à la galerie Monumental, à Lisbonne, en 2017, un an avant sa mort.

EXPOSIÇÕES | EXPOSITIONS

Individuais | Individuelles

1962 Macau, Leal Senado

1976 Paris, Galerie Marthe Nochy

1982 Paris, Galerie Peinture Fraiche

1985 Paris, Galerie du Prévôt

1986 Lisboa, Galeria Ana Isabel

1987 Paris, Caixa Geral de Depósitos

1988 Hambourg, Galerie Amsa

1990 Paris, Caixa Geral de Depósitos

1991 Paris, Galerie Magellan

1991 Almeirim, Biblioteca Condessa do Cadaval

1992 Lisboa, Galeria de Arte Ygrego

1994 Paris, Cité Universitaire, Maison du Portugal

1995 Almada, Galeria Municipal de Arte

1996 Saint-Germain-en-Laye, Musée Vera (com Carlos Cobra)

1999 Abrantes, Galeria Municipal de Arte

2002 Braga, Museu Nogueira da Silva

2003 Almada, Casa da Cerca, Centro de Arte Contemporânea

2004 Paris, Instituto Camões

2006 Paris, Centro Cultural Calouste Gulbenkian

2007 Lisboa, Galeria Cidiarte

2007 Lisboa, Galeria Diferença

2008 Lisboa, Galeria Lino António

2008 Almeirim, Galeria Municipal

2011 Lisboa, Casa Fernando Pessoa

2013 Lisboa, Galeria Diferença

2017 Lisboa, Galeria Monumental

Colectivas (selecção) | Collectives (sélection)

1983 Lisboa, Alliance Française, Pintores Portugueses em Paris

1984 Antibes, Musée du Bastion Saint-André, Rencontre Artistique Internationale

1984 Pau, Musée des Beaux-Arts

1988 Guimarães, Galerie Gilde, 12 Pintores Portugueses de Paris

1989 Paris, Galerie du Prévôt, Art Portugais

1990 Paris, Mairie de Paris, Art Contemporain Portugais

1998 Salon de Mai

1999 Almada, Galeria Municipal de Arte, Anos de Actividade Dez

2009 Lisboa, Museu da Electricidade, Artistas Portugueses Lá Fora

AGRADECIMENTOS | REMERCIEMENTS

Agradecemos ao Banco de Arte Contemporânea – Maria da Graça Carmona e Costa, que tornou possível a realização desta exposição, e à Sociedade Nacional de Belas-Artes, ao seu presidente, João Paulo Gomes de Araújo, ao vice-presidente, o pintor Jaime Silva, e ao director, Rui Manuel Penedo, que nos acolheram com generosidade, assim como às instituições e pessoas aqui mencionadas pela preciosa ajuda e empenho: Nos remerciements vont tout particulièrement au Banco de Arte Contemporânea – Maria da Graça Carmona e Costa, sans lequel l’exposition n’aurait pas pu voir le jour, et à la Sociedade Nacional de Belas-Artes, à son président, João Paulo Gomes de Araújo, à son vice-président, le peintre Jaime Silva, et à son directeur, Rui Manuel Penedo, qui nous ont généreusement accueillis, ainsi qu’à toutes les institutions et personnes suivantes dont l’aide et l’implication nous ont été précieuses :

Ana Sofia Casabre, António e Christina Lobo Antunes, Berta Ehrlich, Adam Biro, Câmara Municipal de Almeirim, Carlos e Catarina David, Claude Oppikofer, Daniel Ribeiro, David Ferreira, Deolinda Santos Costa, Dominique Tavernier, Fernando Veríssimo, Fundação Millenium bcp, Inês Pedrosa, Isabelle Hourcade, Lea Nascimento, Joaquim Barbosa, Joaquim Vieira, José Santos Teixeira, Madeleine e Liberto Cruz, Madeleine Girot, Manuel Costa Cabral, Manuel Rosa, Manuela e Nuno Júdice, Maria do Rosário Magalhães, Maria Virgínia Ferreira de Almeida, Mélanie Tavernier, Pedro Miguel Ribeiro, Rute Magalhães, Sofia Gomes, Susana Barros, Susana Paiva, Vera Teotónio Pereira.

Assim como a todos os coleccionadores que nos emprestaram obras e desejaram ficar anónimos.

Ainsi qu’à tous les collectionneurs qui nous ont prêté des œuvres et ont préféré rester anonymes.

Índice

José Luís Porfírio

Carta ao José David ..........................................................

Lettre à José David ............................................................

OBRAS | ŒUVRES ..............................................................

Madalena Pena

José David — Um pintor que se faz pintando ..................

José David — Un peintre qui se fait en peignant ..................

OBRAS | ŒUVRES ..............................................................

Raquel Henriques da Silva

José David — Dar o rosto à pintura ..................................

José David — Donner un visage à la peinture ......................

OBRAS | ŒUVRES ..............................................................

Lista das Obras | Liste des Œuvres ............................................

ANTOLOGIA DE TEXTOS | ANTHOLOGIE DE TEXTES

Andrée Chedid

[ José David se laisse guider par sa main visionnaire…] ........

[ José David deixa-se guiar pela sua mão visionária…] ........

Andrée Chedid

[À travers l’essor, les imprévus…] ........................................

[Através do crescimento, dos imprevistos…] ....................

António Lobo Antunes

O Camponês de Paris ........................................................

Le Paysan de Paris ..............................................................

Françoise David

Image et métamorphose ......................................................

Imagem e metamorfose ....................................................

Daniel Ribeiro

Em busca da candura perdida ............................................

À la recherche de la candeur perdue ....................................

Francisco Henriques

[ Afirmam que quem sonha é um desertor] ........................

[ On affirme que celui qui rêve est un déserteur] ....................

Inês Pedrosa

No Absoluto da Pintura ....................................................

Dans l’Absolu de la Peinture ................................................

Fernando Veríssimo

O ofício do pintor — José David e o seu métier ................

Le métier de peintre — José David et son métier ..................

Adam Biro

Les grands papiers de José David ..........................................

Os grandes papéis de José David ......................................

Nuno Júdice

O Rosto do Ser ................................................................

Le Visage de l’Être ..............................................................

Susana Paiva

José David — Auto-retrato em permanente mutação ........

José David — Autoportrait en mutation permanente ............

Françoise David

Visages ..............................................................................

Rostos ..............................................................................

Ruy Duarte de Carvalho

[…… assestando daqui, de um quarto de hotel…] ............

[…… fixant, depuis une chambre d’hôtel…] ......................

Inês Pedrosa

O Poder da Pintura ..........................................................

Le Pouvoir de la Peinture ....................................................

Seigen

[ José David le va-nu-pieds —] ..........................................

[ José David o pé descalço —] ..............................................

Nuno Júdice

Continuidade e mudança ..................................................

Continuité et changement ..................................................

Susana Paiva

Um dia no atelier de Paris | Un jour dans l’atelier de Paris ....

José David (1938-2018) ..........................................................

Exposições | Expositions ............................................................

Agradecimentos | Remerciements ..............................................

Este livro foi publicado por ocasião da exposição José David — O teu rosto como o rosto da pintura realizada na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa, de 11 de Junho a 20 de Julho de 2024, com curadoria de Françoise David, José Luís Porfírio, Madalena Pena e Raquel Henriques da Silva

Ce livre a été publié à l’occasion de l’exposition José David — Ton visage comme le visage de la peinture tenue à la Sociedade Nacional de Belas-Artes, à Lisbonne, du 11 juin au 20 juillet 2004, avec les curateurs Françoise David, José Luís Porfírio, Madalena Pena et Raquel Henriques da Silva

EXPOSIÇÃO | EXPOSITION

Comissários | Commissaires

Françoise David, José Luís Porfírio, Madalena Pena, Raquel Henriques da Silva

Apoio aos comissários e desenho expositivo | Appui aux commissaires et design d’exposition

Thierry Simões

Investigação | Recherche

Madalena Pena

Conservação e restauro | Conservation et restauration

Sofia Gomes

Coordenação executiva | Coordination exécutive

Rui Penedo (SNBA)

Secretariado | Secrétariat

Fátima Carvalho, Helena Reynaud (SNBA)

Produção | Production

Françoise David, Madalena Pena, Sofia Soares (SNBA)

Apoio à produção | Aide à la production

Edite Gonçalves, Manuela Pinheiro (SNBA)

Montagem | Montage

Ivo Geada, Júlio Geada, Paulo Vinagre (SNBA)

Paulo Morais

Iluminação | Ilumination

Paulo Vinagre (SNBA)

Design e Comunicação | Design et communication

Matilde Sambado (SNBA)

CATÁLOGO | CATALOGUE

© Sistema Solar Crl (Documenta), 2024

Rua Passos Manuel 67 B, 1150-258 Lisboa

imagens | images © Herdeiros do autor | Héritiers de l’auteur textos | texts © Autores | Auteurs

ISBN 978-989-568-160-0

Julho | Juillet , 2024

Fotografias | Photographies : Susana Paiva, excepto | à l’exception de Pedro Tropa (p. 29), Stephane Chollet (p. 102), Câmara Municipal de Almeirim (p. 103)

Traduções | Traductions : Berta Ehrlich, Françoise David, Isabelle Hourcade, José Luís Luna

Concepção e design | Conception et graphisme : Françoise David, Manuel Rosa, Thierry Simões

Revisão | Révision : Luís Guerra

Depósito legal | Dépôt légal : 534533/24

Impressão e acabamento | Production graphique : Gráfica Maiadouro

josé david

o teu rosto como o rosto da pintura ton visage comme le visage de la peinture textos | textes

José Luís Porfírio

Madalena Pena

Raquel Henriques da Silva antologia de textos | anthologie de textes

Adam Biro

Andrée Chedid

António Lobo Antunes

Daniel Ribeiro

Fernando Veríssimo

Francisco Henriques

Françoise David

Inês Pedrosa

Nuno Júdice

Ruy Duarte de Carvalho

Seigen

Susana Paiva

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