Urika ou a Jovem Negra

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URIKA OU A JOVEM NEGRA

Madame de Duras URIKA

OU A JOVEM NEGRA

tradução e apresentação

Aníbal Fernandes

T ÍTULO DO ORIGINAL: OURIKA OU LA JEUNE NÉGRESSE

© SISTEMA SOLAR CRL

RUA PASSOS MANUEL 67B, 1150-258 LISBOA tradução © ANÍBAL FERNANDES, 2024

ISBN: 978-989-568-156-3

1.ª EDIÇÃO: JULHO DE 2024

NA CAPA: SIMON MARIS, ISABELLE (1906)

REVISÃO: DIOGO FERREIRA

DEPÓSITO LEGAL: 535352 /24

IMPRESSÃO E ACABAMENTO: EUROPRESS

O deus da civilização ocidental é uma energia cósmica com a sua eternidade num Nada sempre embaraçoso para a inteligência humana. E às tantas, com uma vocação vulcânica, fez-se explodir sabe-se lá porquê num Grande Estrondo. A energia excessiva deste Grande Estrondo converteu-se na primeira matéria sólida, aquela a que hoje damos o nome de astros, uns com esse fogo que na noite terrestre cintila, outros com essa luz nocturna fixa, que brilha porque pediu de empréstimo àquele fogo a sua luz.

Estamos portanto a falar de planetas; dos que giram incansáveis em redor da sua estrela; e em especial de uns quantos, nesta e noutras galáxias, com a graça de serem filhos do Estrondo mais complexo que lhes deu uma atmosfera — uma atmosfera com ós e agás — e, com ela, uma ameaça de vida. No planeta que melhor conhecemos e ao qual chamamos Terra — o terceiro de oito irmãos de um sistema solar — os ós-dois envolveram o astro, tornando-o respirável, e mais acima os ós-três puseram-se a filtrar ozonamente os malefícios irradiados pela iluminadora estrela. Mas os agás, pouco propícios a funcionarem sozinhos, assaltaram avassaladoramente os ós. Dois agás amalgamados com um ó fizeram a molécula da água.

E o deus-energia, sentindo-se verdadeiramente Iahweh, com uma atmosfera oxigenada e água à sua disposição, ainda se fez mais Criador. Começou a haver, com esta matéria e estes gases, dimensões de Espaço e Tempo. Mas foi um princípio, dir-se-á, gerido com cautela. Um Iahweh inexperiente pôs nas águas umas coisas simples que demoraram séculos e séculos a tornarem-se anfíbias; pensou depois em insectos, em batráquios e em répteis, em animais do mar, em aves e até em mamíferos. Mas não foi esteticamente feliz. Inventou esses feíssimos animais ferozes a que hoje chamamos dinossauros e espalhou-os por toda a Terra. E este Iahweh, desgostoso com a sua Criação, e sem saber o que fazer com tão feios e imprestáveis animais, desviou um grande meteoro da sua trajectória inofensiva para fazê-lo colidir com a Terra no lugar de um futuro Chicxulub e de um futuro Iucatã, e envolvê-la numa duradoura poeira espessa que ocultou por completo a luz do sol. A sua Terra ficou desiluminada, ficou fria e quase morreu, com dinossauros a reduzirem-se à curiosidade científica de futuros fósseis. E só quando essa espessa poeira muito, muito lentamente assentou, Iahweh voltou a pensar numa nova Criação.

Este Iahweh, agora mais experiente, sentiu que sabia construir belos animais. Aproveitou um resíduo de dinossauros para fazer aves, e entregou-se a uma criação completamente nova. Se um ou outro não lhe saiu tão bem, se em maus momentos fez, por exemplo, o rinoceronte e a moreia, chegou assim mesmo à admirável elegância dos felinos, ao decorativo

espalhafato do pavão e à meiguice da pomba. Mas achou que lhe faltava um supra-sumo entre os animais que mamavam. Resolveu fazer um animal à sua imagem. Mas pouco satisfeito com a escultura viva dos seus primeiros homídios, dos seus cromagnons e dos seus neandertais, viu que a sua imagem vertical não estava perfeitamente reproduzida. Pensou num Adão a quem daria o seu corpo de Iahweh novo, não o que Miguel Ângelo milhões de anos mais tarde iria pintar velho e com barba no tecto da Sistina, mas aquele que muitos milhões de anos mais tarde seria imitado para inundar a estatuária grega.

Os autores de O Livro, com um Génesis que retoca com sopros poéticos estas duras realidades físicas, dizem que o Adão e a sua primeira companheira (ali sem nome, mas conhecida como Lilith) foram paralelamente modelados a partir do barro. Ora, esta Lilith paralela em criação ao homem Adão desapareceu de O Livro. O Criador, sabendo que os seus seres humanos iam organizar-se em sociedades masculinas e machistas, que baixariam a mulher até à secundarização doméstica, aptas para dar à luz e pouco mais, matou Lilith para criar, uns quantos versículos mais à frente, a nova mulher para o Adão viúvo; adormeceu-o, roubou-lhe neste sono anestésico uma costela, e fez Eva sair completa deste osso toráxico; era uma Eva que ficava, com esta dependência física, inferiorizada mas aceite pelo orgulhoso domínio dos machos.

Este Iahweh, com horas de mau feitio, avisou o seu novo casal que só os queria, como os outros animais, com uma irra-

cionalidade regida pelos instintos, e não se atrevessem a comer o fruto da árvore que os faria distinguir o Bem do Mal.

Mas já havia um anjo rebelde, o Belo Zebu expulso da convivência divina, com o seu lugar cheio de chamas mas sem almas com pecado para queimar. Este tédio de um inferno com chamas inúteis foi colmatado pela sua transformação em serpente fálica e perversa que tentou Eva, que a incitou ao fruto (diz-se que sabia a maçã) e fê-la sentir-se de repente sapiens.

Eva disse em adamês ao seu companheiro: «Não ligues ao Velho, come este fruto e torna-te sapiens como eu.» Adão hesitou. «Vá lá», disse-lhe Eva, «julgas que eu vou para a relva com um irracional? Achas que o nosso futuro Caim pode matar Abel sem consciência do que está a fazer? A história humana sem o crime entre irmãos seria ferida no seu âmago.» (Isto, em adamês, era um pouco menos elaborado). Adão cedeu; e o desobediente casal, com a sua nova consciência sapiens reparou que estava nu. Adão olhou para o triângulo negro de Eva, sentiu-se em estado de excrescência e disse-lhe: «Tapa-me lá isso, ou levas já.» Ela respondeu: «Com o quê, se ainda não há damasco, batista nem sequer chita?» — «Remedeia-te com uma folha de parra.» — «E como é que a prendo à cintura se ainda não há cordéis?» — «Dona Eva, desenrasque-se.» Ele próprio foi a uma parra e cobriu-se, depois de ver como é que Eva tinha resolvido a situação. Mas logo a seguir surgiu um anjo de azorrague em punho. «Foge porque vem aí um gabriel», disse Adão. Era um gabriel feroz e mais ágil, que os expulsou do Paraíso e fê-los ir

para leste, para a difícil tragédia do homem que trabalhava para ganhar a sua vida.

Nestes primeiros tempos de mundo humano Iahweh provisoriamente admitiu, para ele se povoar com «degredados filhos de Eva, gemendo e chorando neste vale de lágrimas», a promiscuidade sexual dos incestos. Era preciso pôr gente na sua Terra. E como a sua Terra era vasta, e os descendentes do casal futuramente judeu não chegavam para a vida humana desejável em tanta superfície, para variar fez seres de cores diferentes; mas O Livro, que pena!, omite o que se passou com esses negros, esses amarelos, esses vermelhos. Também teriam comido o bom-mau fruto? Teriam alguma vez vivido num Paraíso? Por que razão os obrigou a sentir um irreprimível anseio de deuses, a inventarem deuses falsos, todos arredados da Verdade Única contida n’O Livro?

Voltemos porém à mulher d’O Livro e à civilização d’O Livro que a destinou a um papel secundário no mundo dos homens, com a injustiça de eles nunca quererem reparar que o ser humano, finalmente sapiens, se deveu à desobediente intervenção feminina. O homem de hoje inteligente, culto e capaz de inventar o seu progresso, existe porque a mulher não quis saber das autoritárias limitações impostas por Iahweh, e lhe desobedeceu. Mas séculos e séculos passaram, com eles esquecidos ou desinteressados desta verdade, forçando-a a ser muito doméstica, muito alheia às profissões masculinas, sem nunca ser sapateira, nem carpinteira, nem quase tudo o que fosse considerado profissão de homens, excluída da mais elevada instrução, sem

direito a voto nas democracias, sem aceder a cargos de chefia: a receber, para trabalhos iguais, um salário mais baixo do que o salário do homem.

Houve, é verdade, excepções célebres que se excluem de toda a regra, de mulheres que se encheram de poder. Lembramo-nos da grega-macedónia que se chamou Cleópatra e reinou com grande força no Egipto; lembramo-nos da alemã Catarina que semeou na Rússia, seguindo a vocação de alguns antecedentes seus, o germe vitalício do império; lembramo-nos da rainha de Sabá, para os lados da Etiópia, que ansiou por um descendente de alta qualidade mental e foi até Salomão com a esperança de um filho de bom sémen; e até da Ana de Sousa à portuguesa, rainha Ginga à angolana, que se mostrou poderosa e combativa com as pedras e as flechas do reino do Dongo. Com a exclusão destes e de outros pináculos, a mulher à europeia e à ocidental bordava, arrumava a sua casa, cantava, paria, tinha direito ao piano e ao cravo, ao violino, ao violoncelo e à harpa, mas era imprópria para dar o seu fôlego a instrumentos de sopro; se a custo chegava à flauta e à gaita, nunca punha os lábios no fagote nem no trombone. Esteve quase ausente da composição musical, com Clara Schumann a mostrar-se como nome muito isolado. As artes plásticas, essas, foram a auges sem nomes femininos, e todo o Renascimento viveu e morreu sem uma pintora nem uma escultora que sejamos obrigados a conhecer e a levar em conta no meio do grande grupo dos Ângelos, dos Da Vinci, dos Rafaéis.

Algumas escreveram, mas com a literatura feminina a ser olhada de soslaio, uma coisa de mulheres excêntricas que invadiam abusivamente um terreno onde só devia brilhar o génio dos homens; devemos fazer notar que em pleno século XIX as irmãs Brontë só se atreveram a enfrentar o publico disfarçando-se com os nomes masculinos Currer, Ellis e Acton Bell; que a inglesa Mary Ann Evans achou por bem masculinizar-se na literatura com o nome George Eliot; que a francesa Amandine Aurore Lucile Dupin se sentiu mais segura aparecendo como George Sand. Mas surgiram na França mulheres de letras explicitamente femininas, as escritoras-madames. A palavra madame a preceder o nome dava a entender que a veleidade da escrita era tolerável em mulheres com ócio doméstico, servidas por muitos criados e com uma vida palaciana que desculpavam o seu esquisito desvio, a pretensão de serem avaliadas como criadoras de uma escrita literária. Surgiram à luz desta benesse Madame de Staël, Madame de Genlis, Madame de Sévigné, Madame de la Fayette, outras numa extensa lista… e nesta relação de mulheres com direito à escrita, a que foi Madame de Duras.

«Essa desconhecida», foi dito, não porque tivesse biografia vaga, mas porque o seu mérito literário se mostrou fugidio na memória dos investigadores da literatura, distraídos da sua singularidade entre as madames da escrita. Sainte-Beuve,

mais atento, reconheceu: «Simples, rápida mas ainda assim reservada, um estilo à maneira de Voltaire mas numa mulher.»

Claire Louisa Rose Bonne de Coëtnempren de Kersaint era de Brest, nascida em 1777, filha do conde de Kersaint, um conde pobre que se limitava a ter funções de primeiro-tenente da armada ao serviço da Martinica. Mas, caído nas boas graças dos que mandavam nas Ilhas do Vento, foi incitado a casar-se com uma herdeira de grande fortuna; e esta bem tutelada união, que parecia ter condições para navegar em boas águas e ao sabor de uma confortável herança, rapidamente se fez entediada e às vezes irritada, sobretudo pelo liberalismo de espírito e o carácter firme deste conde que se opunham aos conservadorismos da sua mulher. Em 1792, o casal Kersaint teve regulada a sua separação judicial. O conde, para mais, tinha-se feito político com ideias de vanguarda. Pertencia à «Sociedade dos Amigos da Constituição e da Liberdade», ligada aos girondinos, que advogava restrições ao poder do rei. Mas Kersaint, apesar de ligado aos valores girondínicos estava longe de concordar com a morte guilhotinada de Luís XVI. Fez na tribuna da assembleia um discurso inflamado, com palavras fortes e mal medidas, que chamou assassinos aos robespierres da Revolução. Este destempero condenou-o à morte; e em 5 de Dezembro de 1793 o pobre conde subiu, também ele, os degraus da guilhotina.

A divorciada (restituída ao seu antigo nome d’Éragny) e a sua filha, a fugirem desta França e da sua onda de cabeças

cortadas que varria indiscriminadamente os nobres e os ricos, só no porto de Bordéus e num barco que as levaria até às Antilhas souberam aquilo que se tinha consumado dias antes na praça da Revolução, hoje da Concórdia.

Tiveram, mãe e filha, um breve tempo de Antilhas, o suficiente para Madame d’Éragny tomar posse da fortuna que lhe cabia por herança; e foi notória a desenvoltura com que a jovem Claire soube vencer os tortuosos meandros da burocracia.

No seu regresso à Europa estas duas mulheres (Madame d’Éragny com um saco cheio de notas) escolheram Londres, distante das convulsões de uma França onde tudo o que era nobre tinha a cabeça a prémio. Claire, já em idade de se casar, estava atenta ao que havia de aceitável naquele grupo de emigrados. Um deles era Amédée Bretagne Malo de Durfort, marquês e depois duque de Duras, que fazia o papel de conselheiro na câmara do Luís XVIII exilado. Em Novembro de 1797 Claire de Kersaint, com um noivado rápido, já estava casada; e três anos depois a morte do seu sogro fazia dela duquesa. Mas a literatura, ainda à sua espera, só iria conhecê-la como Madame de Duras.

As finanças do casal permitiram-lhe, de volta a uma França já menos hostil a nascimentos nobres, fazer a compra do castelo d’Ussé na Touraine. E é nesta altura que Chateaubriand surge — resplandecente — na vida de Madame de Duras.

Chateaubriand, longe de ser o escritor pré-romântico que hoje chega a poucos leitores, o autor que continua a ligado

a romances conhecidos a maior parte das vezes só de nome

— Atala; René; Les Aventures du dernier Abencérage — o esquecido autor de muitos ensaios e das Mémoires d’Outre-Tombe, fascinava facilmente com a sua juventude bem-parecida e a sua desenvoltura intelectual. Claire ficou conquistada e fez de imediato, numa carta a uma amiga, este retrato que se cola mal ao Chateaubriand da posteridade: «Um homem extraordinário que une um muito belo génio à simplicidade de uma criança. Eu não o conhecia; mas encontrei-o; e veio depois à minha casa; espero que este primeiro contacto leve a um conhecimento mais sólido; é tão simples e tão indulgente, que nos sentimos à vontade junto dele. Vê-se que só aprecia as qualidades da alma.»

Chateaubriand começa a chamar-lhe neste convívio «querida irmã» e ela a retribuir-lhe um «querido irmão». E ele está também encantado: «Uma forte e viva amizade enchia-me o coração», é dito nas Mémoires d’Outre-Tombe. «A duquesa de Duras tinha a imaginação de Madame de Staël e no rosto um pouco da sua expressão. Podemos avaliar-lhe o talento com Urika. Regressada à França, depois da emigração, esteve durante vários anos fechada no seu castelo de Ussé, à beira do Loire, e foi nos belos jardins de Méréville (na casa de Madame de Noailles) que ouvi pela primeira vez falar dela, apesar de eu ter estado em Londres sem a encontrar. Regressou a Paris por causa da educação de Félicie e Clara, as suas encantadoras filhas. Ligações de família, de província, de opiniões literárias e políticas abriram-me a porta ao seu convívio. O calor da

alma, a nobreza do carácter, a elevação do espírito, a generosidade do sentimento, faziam dela uma mulher superior.»

Em 1814, na França destituída de Napoleão Bonaparte e com um Luís XVIII regressado, sujeito a uma monarquia constitucional que lhe negava todas as veleidades de absolutismo, a marquesa de Duras teve na rua De Varenne um prestigiado salão. O seu marido ocupava na intimidade de Luís XVIII um lugar privilegiado, e as noites de Varenne encheram-se de frequentadores ilustres. A duquesa, com esta nova força intelectual e mundana, com um marido que assistia ao levantar do rei, conseguiu que Luís XVIII nomeasse Chateaubriand embaixador na Suécia, lugar que o escritor rejeitou; e depois, longe de se ofender com esta nega, o nomeasse embaixador em Berlim. Desta vez o escritor sujeitou-se (por pouco tempo) e foi logo a seguir embaixador em Londres; e não só; a instâncias repetidas da duquesa, entre 1822 e 1824, foi escolhido para desempenhar o cargo de ministro dos negócios estrangeiros.

A duquesa, sempre fiel a este Chateaubriand caprichoso que lhe contava com brilhantismo coisas da literatura, que a fascinava com os seus livros, começou a ter frases de um entusiasmo temperado por cautelas e perplexidades: «Temos de amá-lo, embora não possamos contar com ele em qualquer coisa que lhe exija sacrifícios.» — E esta conclusão: «Monsieur de Chateaubriand só se convencerá de que estou doente se me vir morta: ele é assim, e isto poupa-lhe muitas inquietações; pudesse eu ter esta maneira de amar e tudo me correria, penso eu, bastante melhor.»

Em 1821, a duquesa consciente do seu talento literário começa a ser na literatura Madame de Duras. Ainda não é ficcionista. O seu livro chama-se Pensées de Louis XIV e limita-se a extrair das obras e das cartas do rei-sol as frases que a sua leitura atenta achou dignas de uma independente posteridade.

Mas a escritora não pára. No espaço de um ano (18211822) escreve singulares novelas: Ourika, Édouard, Olivier ou le Secret e Le Moine; e ainda escreveu Mémoires de Sophie, Le Paria, Amélie e Pauline. Madame de Duras escreve textos que não chegam a edições comerciais, que são distribuídos e lidos a amigos, e não faz esforços para ser conhecida como escritora.

Com este programa destina Urika a uma edição privada, lida aos seus íntimos. No seu Diário há em 1822 esta dúvida: «Fiz Urika sem saber se vale alguma coisa.» E quando está a terminar Édouard, escreve a Chateaubriand: «Estes romances fazem-me mal, remexem-me no fundo da alma um resto de vida que só serve para eu sofrer.» E quando escreve Olivier ou le Secret diz-lhe também isto: «Estou a escrever com um tema que já vos tentou [a impotência sexual]. Trata-se uma vez mais de um isolamento, é só isto o que eu sei fazer.» E um pouco mais tarde: «Não fazeis ideia do êxito de Olivier junto das poucas pessoas a quem deixei que o lessem. Mas vou atirá-lo para o fogo.»

Urika, Édouard e Olivier (salvos deste fogo que só era epistolar) acabam por ter edições públicas de poucos exemplares. E Urika, apesar desta divulgação restrita, incita a prolongamentos e a adaptações a outras formas literárias e teatrais.

Em 1824, Madame de Duras não se salva de ter Urika transformada num vaudeville medíocre e de saber que Alexandre Duval escreveu um Urika em três actos, que não chegou a ser representado; não se salva de ter Urika ou a Órfã Africana transformada num melodrama escrito por Merle e Courcy, assobiado pelo público; não se salva de ver o seu texto a circular numa edição pirata belga; não se salva de ver o seu texto transformado em verso (Urika, estâncias elegíacas) assinado por um nome feminino que era um pseudónimo de Pierre-Ange Vieillard; não se salva de ter uma edição russa (em francês) com modificações exigidas pela censura do czar no que tocava a reflexões sobre a Revolução Francesa; não se salva dos versos de Delphine Gay (Urika, elegia), que lhe parecem «bonitos»; não se salva de saber que há no Salão de Agosto um quadro do barão Gérard (hoje sem paradeiro conhecido) e com um título extenso: Urika conta a sua história e as suas desgraças; não se salva de saber que Luís XVIII encomendou a Gérard um vaso com uma Urika, actualmente no castelo de Ussé.

Em 1825, Madame de Duras fica a saber que tem o seu texto traduzido pela segunda vez em espanhol, e agora com um curioso e muito explicativo título: Urika, la negra sensible ou los efectos de una educación equivocada: suceso verdadero.

Há na obra literária de Madame de Duras três singulares novelas com temas relacionados, de formas diferentes, com a solidão.

Se Édouard, a personagem central da novela com este título, é vítima da intransigente diferença de classes da França

Gravura de Louis-Jacques Carrey (1856), feita a partir da tela do barão François Pascal Simon Gérard
Vaso pintado por Gérard em louça de Sèvres, a pedido de Luís XVIII, a partir da sua tela (1823)

anterior à Revolução, se Olivier esconde o segredo da sua impotência sexual (Stendhal lembrar-se-ia dele para escrever Armance), Urika, a negra desde criança a viver no meio de uma sociedade elegante e requintada, é vítima de um anti-racismo que a faz simultaneamente alvo de um racismo discreto e lhe fecha as portas do amor e do casamento; para Urika, negra entre brancos europeus oitecentistas, a desesperada opção do convento não significa mais do que a garantia de um retiro onde vai sentir diluído o confronto com um mundo que a tolera (a sua educação dá-lhe o comportamento exigido pela alta sociedade onde a sua protectora se movimenta) mas faz constantemente sentir que a sua raça não tem ali, naquela Europa nobre, naquela sociedade burguesa, direito a um amor realizado.

A sua «entrega a Deus» disfarça mal a vontade de se isolar de uma sociedade onde não consegue realizar «o desejo de ocupar o seu lugar na cadeia dos seres», ver realizada a sua «necessidade natural de afecto». E Urika tem uma frase decisiva e significativa quando diz a Charles, o homem que ela ama: «Charles, deixa-me ir para o único lugar onde vai ser-me permitido pensar constantemente em ti.»

Em 1826 Madame de Duras, tuberculosa, acrescenta aos seus maus pulmões uma hemiplegia que lhe paralisa metade do corpo. Em Janeiro de 1828 morre em Nice. Uma incontestável fidelidade conjugal ao duque, seu marido, não excluía a exigente amizade amorosa confessada numa carta a Chateaubriand: «Uma amizade como a minha não admite partilhas; tem os inconvenientes do amor e, confesso, não tem os seus

proveitos. De resto, já somos suficientemente velhos para isto estar fora de questão.»

Chateaubriand, pelo seu lado, depois da sua morte confessa e arrepende-se: «Desde que perdi esta pessoa tão generosa, com uma tão nobre alma, um espírito que juntava qualquer coisa da força e do pensamento de Madame de Staël à graça do talento de Madame de La Fayette, quando a choro não deixo de censurar-me pelas asperezas com que eu pude afligir por vezes corações que me eram devotados. Estejamos atentos ao nosso carácter. Pensemos que nos é possível, apesar de um profundo apego, não deixar de envenenar os dias que voltaríamos a comprar com o preço de todo o nosso sangue. Quando os nossos amigos descem ao túmulo, que meios temos para reparar os nossos erros? Os nossos inúteis remorsos, os nossos arrependimentos inúteis serão remédio para as penas que lhes infligimos?

Eles gostariam mais de um sorriso, enquanto foram vivos, do que todas as lágrimas depois da sua morte.»

Madame de Duras, autora de Urika , à cabeça do seu texto lembra-se de Byron: «Isto é estarmos sozinhos, isto, isto é solidão.»

This is to be alone, this, this is solitude.
Byron

INTRODUÇÃO

Eu tinha vindo, desde há poucos meses, de Montpellier, e desempenhava em Paris a profissão de médico, quando fui uma manhã chamado ao bairro de Saint-Jacques para observar num convento uma jovem religiosa doente.

O imperador Napoleão tinha desde há pouco autorizado que alguns destes conventos fossem reabertos; aquele para onde eu me dirigia destinava-se à educação e pertencia à ordem das Ursulinas. A Revolução arruinara uma parte do edifício; o claustro tinha um dos seus lados abertos, devido à demolição da antiga igreja, da qual só restavam alguns arcos de abóbada. Uma religiosa introduziu-me neste claustro, e atravessámo-lo andando sobre longas pedras planas que formavam o pavimento destas galerias.

Apercebi-me de que eram túmulos porque todas tinham inscrições, na sua maior parte apagadas pelo tempo. Algumas destas pedras tinham sido partidas durante a Revolução. A irmã fê-lo notar, dizendo que ainda não tinha havido tempo para as repararem. Como eu nunca tinha visto o interior de um convento, era um espectáculo novo para mim. Do claustro passámos ao jardim, para onde tinham transportado a irmã doente, segundo me disse a religiosa.

Vislumbrei-a, de facto, na extremidade de uma longa álea arborizada. Estava sentada, e o seu grande véu preto envolvia-a quase por completo.

— Aqui tens o médico — disse a irmã, e nesse mesmo momento afastou-se.

Aproximei-me timidamente por ter o coração apertado pela visão daqueles túmulos, e imaginei que ia contemplar mais uma vítima dos claustros; os meus preconceitos da juventude acabavam de ficar visíveis; e o meu interesse, em relação àquela que eu ia observar, exaltava-se de acordo com o género de infelicidade que eu lhe atribuía.

Voltou-se para mim, e fiquei estranhamente surpreendido ao notar que se tratava de uma negra! O meu espanto ainda aumentou mais com a polidez do seu acolhimento e a escolha das expressões que utilizava.

— Vindes visitar uma pessoa muito doente — disse ela. — Agora quero curar-me, mas nem sempre o desejei e foi isso, com certeza, que tanto mal me fez.

Fiz-lhe perguntas sobre a sua doença.

— Sinto uma contínua opressão — disse ela — não tenho sono e a febre não me larga.

O seu aspecto só confirmava esta triste descrição do seu estado; tinha uma magreza excessiva, apenas com muito grandes olhos a brilharem e dentes de uma ofuscante brancura a iluminarem-lhe a fisionomia. A alma ainda tinha vida mas o corpo estava destruído, e havia nela todas as marcas de um longo e violento desgosto.

Tocado de uma forma que não se detinha apenas no seu aspecto, resolvi fazer tudo para a salvar; comecei por falar-lhe na necessidade de acalmar a sua imaginação, de se distrair, de afastar de si sentimentos penosos.

— Sou feliz — disse ela — nunca senti tanta calma e tanta felicidade.

O tom da voz era sincero, e aquela voz meiga não podia enganar; mas o meu espanto ia-se tornando cada vez maior.

— Nem sempre pensastes dessa forma — disse eu — e há em vós a marca de muito prolongados sofrimentos.

— É verdade — respondeu — encontrei muito tarde o repouso do meu coração, mas agora sou feliz.

— Pois bem, se assim é — acrescentei — é o passado que temos de curar, e esperamos conseguir fazê-lo. Mas não posso curá-lo sem o conhecer.

— Ai de mim! — respondeu. — Ele não passa de loucuras!

Quando pronunciou estas palavras, apareceu uma lágrima a molhar-lhe a beira das pálpebras.

— E dizeis que sois feliz! — exclamei.

— Sim, sou feliz — repetiu com voz firme — e não trocaria esta minha felicidade pelo destino que noutros tempos tanto invejei. Não há nisto nenhum segredo: essa desgraça é a história da minha vida. Eu tinha sofrido tanto, até ao dia em que entrei nesta casa, que a minha saúde lentamente se arruinou. Mas definhava com alegria por não ver no futuro nenhuma esperança. Era um pensamento que

Charles tomarias com muito êxito a circunstância de seres negra. Adeus, Urika, vou-me embora, e declaro-te que muito menos interessada estou por ti do que estava quando aqui cheguei.

Sorriu para rematar estas palavras. Continuei a sentir-me acabrunhada. O que acabava ela de me revelar? Que pavorosa luz tinha projectado no abismo das minhas dores!

Santo Deus! Era como se uma luz penetrasse até ao fundo dos infernos e fizesse os seus infelizes habitantes lamentarem as trevas. O quê! Eu tinha uma paixão criminosa? Tinha sido ela a devorar-me até agora o coração? Este desejo de ocupar o meu lugar na cadeia dos seres, esta necessidade natural de afecto, esta dor do isolamento, eram queixumes causados por um amor culpado! E agora, que eu julgava ter inveja da imagem da felicidade, essa felicidade fazia-se alvo de votos ímpios!

O que teria eu feito para me julgar atingida por esta paixão sem esperança? Seria impossível amarmos com inocência qualquer coisa além da nossa vida? Que sentimento animava aquela mãe que se atirou à goela do leão para salvar o seu filho? Estes irmãos, estas irmãs que decidiram morrer juntos no cadafalso, e que oravam a Deus antes de até lá subirem, estariam unidos por um amor culpado? A humanidade não cede todos os dias a devoções sublimes? Por que razão me era interdito amar assim Charles, o companheiro da minha infância, o protector da minha juventude?…

No entanto eu não sabia que voz gritava no fundo de mim própria que eles tinham razão e eu era criminosa. Santo Deus! O meu coração desolado vai ter, afinal, de aceitar o remorso? A Urika tem de conhecer toda a espécie de amarguras, tem de passar por todas as dores! O quê! De ali em diante eu teria lágrimas culpadas? Ser-me-ia proibido pensar nele! O quê! Teria de atrever-me a não sofrer?

Estes horríveis pensamentos atiraram-me para um abatimento que se parecia com a morte. Nessa mesma noite tive febre, e em menos de três dias a minha vida foi considerada em risco. O médico declarou que não haveria um instante a perder se achassem que eu devia receber os últimos sacramentos. Mandaram chamar o meu confessor, mas ele tinha há dias morrido.

Madame de B. recorreu então a um padre da paróquia, que veio dar-me a extrema unção por eu já não estar em condições de comungar. Estava inconsciente, e a qualquer momento se esperava que eu morresse.

Foi nessa altura que Deus, por certo, teve pena de mim. Começou por me manter com vida; contra todas as expectativas, as forças não me abandonaram. Travei uma luta que durou quinze dias; e depois a consciência acabou por voltar.

Madame de B. não me abandonou, e pareceu que Charles tinha voltado a ter por mim o antigo afecto. O padre continuava a fazer-me todos os dias visitas, por querer aproveitar o primeiro momento em que eu estivesse em condições de confessar-me. Era o que eu própria desejava porque um

qualquer movimento me virava para Deus, me dava vontade de estar nos seus braços e procurar neles o meu repouso.

O padre teve a confissão das minhas faltas, e não se assustou com o meu estado de alma. Conhecia, como um velho marinheiro, todas as tempestades. Começou por tranquilizar-me a respeito da paixão que me acusavam de ter.

— Tendes um coração puro — disse ele. — Fostes vós própria quem o magoou. Mas isso não vos faz menos culpada. Deus vai pedir-vos contas da felicidade que vos concedeu. E do que fizestes com ela? Tendes essa felicidade nas vossas mãos, porque ela permanece no cumprimento dos nossos deveres. Mas dar-se-á o caso de os conhecerdes? Deus é o objectivo do homem; e o vosso qual é? Não percais a coragem; orai, Urika. Ele estará lá com os braços abertos. Para ele não há negros nem brancos; perante os seus olhos todos os corações são iguais, e é vosso mérito tornar-vos digna dele.

Foi assim que este homem respeitável encorajou a pobre Urika. Estas palavras simples levavam-me à alma uma desconhecida paz que eu nunca tinha conhecido. Meditei incessantemente no que significavam e fazia sempre a partir delas, como se fossem uma mina fecunda, uma nova reflexão. Concluí que não tinha tido consciência, de facto, dos meus deveres, os que Deus prescreve tanto às pessoas isoladas como às que dependem do mundo; mesmo que ele as prive dos laços do sangue, concede-lhes uma humanidade inteira no que respeita à família. Eu dizia a mim própria que

a irmã da caridade, mesmo que a tudo renuncie, nunca está só na vida. Arranjou uma família escolhida; é mãe de todos os órfãos, filha de todos os pobres velhos, irmã de todos os infelizes.

Não há homens do mundo que tantas vezes escolheram o isolamento voluntário? Que desejaram estar a sós com Deus? Renunciaram a todos os prazeres para adorar na solidão, fonte pura de todo o bem e de toda a felicidade.

Trabalharam no mais secreto do seu pensamento para fazer a sua alma digna de se apresentar perante o Senhor.

Como é bom, meu Deus, embelezarmos o coração por vós; enfeitá-lo, como num feriado, com todas as virtudes que vos agradam. Mas ai de mim, o que fiz eu? Brinquedo insensato dos movimentos da minha alma, corri em direcção aos prazeres da vida negligenciando a felicidade.

Mas ainda não era tarde demais. Ao atirar-me para esta terra estranha, Deus talvez tenha querido destinar-me a ele.

Arrancou-me à barbárie, à ignorância; com um milagre da sua bondade subtraiu-me aos vícios da escravatura e fez-me conhecer a sua lei; e esta lei mostra-me todos os meus deveres; diz-me qual é a minha estrada; e vou segui-la, meu Deus, sem voltar a servir-me dos teus benefícios para te ofender; não voltarei a acusar-te das minhas faltas.

Este novo dia, à luz do qual eu encarava a minha conjuntura, fez a calma regressar ao meu coração. Fiquei espantada com a paz que sucedia a tantas tempestades; tinha-me sido aberta uma saída a esta torrente que devastava as suas

margens e agora transportava as suas acalmadas ondas para um mar tranquilo.

Decidi fazer de mim uma religiosa. Falei nisto a Madame de B. e ela afligiu-se, embora me dissesse:

— Fiz-te tanto mal ao querer fazer-te bem, que não sinto o direito de opor-me à tua resolução.

Charles foi mais veemente na sua resistência; rogou, conjurou-me a continuar ali. E eu disse-lhe:

— Charles, deixa-me ir para o único lugar onde vai ser-me permitido pensar constantemente em ti…

Com isto, a jovem religiosa acabou bruscamente o seu relato.

Continuei a prestar-lhe cuidados que foram infelizmente inúteis. Morreu no final de Outubro; caiu com as últimas folhas do Outono.

ÚLTIMOS LIVROS SISTEMA SOLAR

[…]

A mulher que fugiu a cavalo, D.H. Lawrence

Porgy e Bess, DuBose Heyward

O aperto do parafuso, Henry James

Bruges-a-Morta – romance, Georges Rodenbach

Billy Budd, marinheiro (uma narrativa no interior), Herman Melville

Histórias da areia, Isabelle Eberhardt

O Lazarilho de Tormes, anónimo do século XVI e H. de Luna

Autobiografia, Thomas Bernhard

Bubu de Montparnasse, Charles-Louis Philippe

Greco ou O segredo de Toledo, Maurice Barrès

Cinco histórias de luz e sombra, Edith Wharton

Dicionário filosófico, Voltaire

A Papisa Joana – segundo o texto de Alfred Jarry, Emmanuel Rhoides

Bom Crioulo, Adolfo Caminha

O meu corpo e eu, René Crevel

Manon Lescaut, Padre Prévost

O duelo, Joseph Conrad

A felicidade dos tristes, Luc Dietrich Inferno, August Strindberg

Um milhão conta redonda ou Lemuel Pitkin a desmantelar-se, Nathanael West

Freya das sete ilhas, Joseph Conrad

O nascimento da arte, Georges Bataille

Os ombros da marquesa, Émile Zola

O livro branco, Jean Cocteau

Verdes moradas, W.H. Hudson

A guerra do fogo, J.-H. Rosny Aîné

Hamlet-Rei (Luís II da Baviera), Guy de Pourtalès

Messalina, Alfred Jarry

O capitão Veneno, Pedro Antonio Alarcón

Dona Guidinha do Poço, Manoel de Oliveira Paiva

Visão invisível, Jean Cocteau

A liberdade ou o amor, Robert Desnos

A maçã de Cézanne… e eu, D.H. Lawrence

O fogo-fátuo, Drieu la Rochelle

Memórias íntimas e confissões de um pecador justificado, James Hogg

Histórias aquáticas – O parceiro secreto, A laguna, Mocidade, Joseph Conrad

O homem que falou (Un de Baumugnes), Jean Giono

O dicionário do diabo, Ambrose Bierce

A viúva do enforcado, Camilo Castelo Branco

O caso Kurílov, Irène Némirowsky

Nova Safo – tragédia estranha, Visconde de Vila-Moura

A costa de Falesá, Robert Louis Stevenson

Gaspar da Noite – fantasias à maneira de Rembrandt e Callot, Aloysius Bertrand

Rimbaud-Verlaine, o estranho casal

O rato da América, Jacques Lanzmann

As amantes de Dom João V, Alberto Pimentel

Os cavalos de Abdera e mais forças estranhas, Leopoldo Lugones

Preceptores – Gabrielle de Bergerac seguido de O discípulo, Henry James

O Cântico dos Cânticos – traduzido do hebreu com um estudo

sobre o plano a idade e o carácter do poema, Ernest Renan

Derborence, Charles Ferdinand Ramuz

O farol de amor, Rachilde

Diário de um fuzilado, precedido de Palavras de um fumador de ópio, Jules Boissière

A minha vida, Isadora Duncan

Rakhil, Isabelle Eberhardt

Fuga sem fim, Joseph Roth

O castelo do homem ancorado, Joris-Karl Huysmans

Tufão, Joseph Conrad

Heliogábalo ou o anarquista coroado, Antonin Artaud

Van Gogh o suicidado da sociedade, Antonin Artaud

Eu, Antonin Artaud

A morte difícil, René Crevel

A lenda do santo bebedor seguido de O Leviatã, Joseph Roth

O Chancellor (Diário do passageiro J.R. Kazallon), Jules Verne

Orunoko ou o escravo real (uma história verídica), Aphra Behn

As Portas do Paraíso, Jerzy Andrzejewski

Tirano Banderas (novela de Terra Quente), Ramón del Valle-Inclán

Cáustico Lunar seguido de Ghostkeeper, Malcolm Lowry

Balkis (A lenda num café), Gérard de Nerval

Diálogos das carmelitas, Georges Bernanos

O estranho animal do Vaccarès, Joseph d’Arbaud

Riso vermelho – fragmentos encontrados de um manuscrito, Leonid Andreiev

A morte da terra, J.-H. Rosny Aîné

Nossa Senhora dos Ratos, Rachilde

O colóquio dos cães incluído no Casamento enganoso, Miguel de Cervantes

Entre a espada e a parede, Tristan Bernard

A vida de Rembrandt (história a ir para onde lhe dá), Kees van Dongen

Os meus Oscar Wilde, André Gide

As aventuras de uma negrinha à procura de Deus, George Bernard Shaw

Meu irmão feminino – «Noites Florentinas», Marina Tsvietaieva

Jean-Luc perseguido, Charles Ferdinand Ramuz

O filho de duas mães, Edith Wharton

A armadilha, Emmanuel Bove

Um jardim na margem do Orontes, Maurice Barrès

Erotika Biblion, Conde de Mirabeau

A minha amiga Nane, Paul-Jean Toulet

Paludes, André Gide

O bar dos dois caminhos, Gilbert de Voisins

Sol, D.H. Lawrence

Cagliostro, Vicente Huidobro

As magias do Ceilão, Francis de Croisset

Má sorte que ela fosse puta, John Ford

Chita – uma memória da Ilha do Fim, Lafcadio Hearn

A mulher 100 cabeças, Max Ernst

A dificuldade de ser, Jean Cocteau

O duplo Rimbaud (com um preâmbulo de Benjamin Fondane), Victor Segalen

A vida apaixonada da grande Catarina, Princesa Lucien Murat

Casa de incesto, Anaïs Nin

Morte de Judas seguido de O ponto de vista de Pôncio Pilatos, Paul Claudel

Os domingos de Jean Dézert seguido de contos, Jean de la Ville de Mirmont

Ser ou não ser – Três histórias, Honoré de Balzac

Babilónia, René Crevel

O encontro (uma história incerta), Henri de Régnier

Carmilla, Sheridan Le Fanu

Mulheres na vida, Guy de Maupassant

O plantador de Malata, Joseph Conrad

A mandrágora, Jean Lorrain

A biografia de Vénus, deusa do amor, Francis de Miomandre

Viagem ao país dos Tarahumaras, Antonin Artaud

O nevoeiro de 26 de Outubro e outras lições de abismo, Maurice Renard

Salomé, Salomés…, Gustave Flaubert, Oscar Wilde, Guillaume Apollinaire e ainda Mário de Sá-Carneiro, Eugénio de Castro, Fernando Pessoa

Battling Malone, pugilista, Louis Hémon

Kyra Kyralina, Panait Istrati

Codine, Panait Istrati

Carmen seguido de Lokis, Prosper Mérimée

Jésus-La-Caille, Francis Carco

Don Juan da Inglaterra ou o sonho de Lord Byron, Guillaume Apollinaire

O concílio de amor – Uma tragédia celeste, Oskar Panizza

Coração das Trevas, Joseph Conrad

Moscardino, Enrico Pea

Do Andrógino – Teoria Plástica, Joséphin Péladan

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