A Vida Apaixonada da Grande Catarina

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Título do original: La Vie amoureuse de la Grande Catherine

© SISTEMA SOLAR, CRL (2022) RUA PASSOS MANUEL, 67B, 1150-258 LISBOA tradução © ANÍBAL FERNANDES 1.ª EDIÇÃO, ABRIL 2022 ISBN 978-989-568-017-7 NA CAPA: retrato de catarina II por Dmitri Grigoryevitch Levitsky (c.1780) DEPÓSITO LEGAL 497462/22 este livro foi impresso NA ULZAMA

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Houve quem reparasse — com a Índia, o Egipto e Pitágoras bem firmados na sua cultura — que Augustine Joséphine Agnès Marie de Rohan Chabot tinha nascido numa época em que a alma de George Sand, ansiosa e fora de corpo, vagueava entre Nohant e Paris à procura de um novo alojamento; e que teria encontrado em Paris, na madrugada de 24 de Maio de 1876 e numa das casas elegantes da rua De La Tour-Maubourg (numa família de sociedade alta, como convinha à alma de Sand, baronesa de Dudevant) a recém-nascida ideal para a sua transmigração. Diziam esses convictos que Sand se entregara de alma a uma futura escritora; que lhe transmitira talentos literários e desenvolturas de comportamento capazes de esgrimir contra a apertada condição feminina da sua época. Convenhamos, porém, que isto se fazia em tom menor. Sand tinha posto um ostensivo George masculino no seu nome da literatura; vestira trajos masculinos e olhara o mundo com um charuto viril, aceso entre os dedos (contradições numa luta que achava útil travestir-se até ao homem para reivindicar os direitos da mulher). A futura Princesa Lucien Murat, essa, iria manter-se com bem visíveis atributos do seu sexo. George Sand entregava-se masculinizada a Chopin e a Musset, desviando para o leito uma bem aceite sugestão homossexual; mas Marie (escolhamos este nome próprio entre os quatro que lhe enfeitaram o baptismo)

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amaciava o Lucien masculino do seu nome literário com o atributo bem feminino de Princesa, e nos amores mostrava-se (seja dado este nome a ligações só muito vinculadas a compromissos sociais) integralmente mulher. Foi durante toda a vida «grande dama» da sociedade francesa, embora hostil às limitações impostas ao seu sexo; e sem se importar de dizer, para mostrar desenvoltura: Eu preferiria ter má reputação do que não ter nenhuma. Nesta transmigração também esmoreceu a poderosa energia de uma mão literária; a de uma George Sand que incansavelmente se espalhou por peças de teatro, textos políticos, contos de fadas e romances que chegaram a cerca de sessenta, perscrutadores de uma folclórica província francesa cheia de ingenuidades e optimismos a que o seu brilho literário não tirou algum tédio, e se reduziu na Murat transmigrada a seis títulos — cinco escritos pela Princesa Lucien Murat, um último por Marie de Chambrun — todos a olharem biografados que saltaram para lateralidades, fazendo uma provocatória fuga às mais previsíveis normas do comportamento humano. O seu pai Alain foi nada menos do que o ilustríssimo conde de Porhoët, marquês de Blain, décimo terceiro príncipe de Léon, e depois décimo primeiro duque de Rohan. Na infância de Marie houve as previsíveis sumptuosidades de um castelo provençal, mas travessuras impróprias de uma filha de conde-marquês-duque-e príncipe-de-Léon que arrastava altivas nobrezas de sangue entre as personalidades plebeias de uma república francesa. Ela própria se conta assim: Outrora vivi na Provença, às portas de Cannes, num jardim maravilhoso onde as laranjeiras se espalhavam até ao mar. Nessa época eu não era mais alta do que uma roseira-anã, mas já fazia alarde da minha independência. Sentada a cavalo no ramo mais bifurcado da singela árvore, esperava que

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o mistral se dignasse a fazer cair aos meus pés uma laranja madura. Só a minha tia era capaz de me descer desse poleiro. Era ela quem me ensinava duas coisas: a esborratar papéis com aguarelas e reverências. Mas nesta campestre infância de árvores também houve um desvio mórbido e quase sacrílego: As minhas férias eram passadas no cemitério de Saint-Gobrien, à volta do ossário onde eu brincava com tíbias e arrumava crânios em pirâmides sob o benevolente olhar do coveiro… Prazeres inocentes encorajados pela minha criada, que tricotava sentada num túmulo abandonado. Oiçamos ainda a sua neta Salomé Chalandon: «Alimentada por leituras na maior parte clandestinas, a inteligência de Marie desenvolve-se; a sua imaginação fica febril e o seu espírito enche-se de extravagantes achados, deliciosos para os pequenos e assustadores para os crescidos. Atrevida para uns, terrível criança para os outros, Marie ora partia um braço, ora um tornozelo ao dançar em camisa de noite, ao cair de um burro ou de uma mala transformada em cadeira, para onde tinha subido para oprimir com sermões as engomadeiras do castelo.» Com doze anos de idade (em Fevereiro de 1888), Marie fez com a sua família uma viagem a Portugal, a convite da duquesa de Bragança. E a sua futura memória de escritora dir-nos-á que foi recebida em Belém pelo rei D. Luís I e a rainha Dona Maria Pia de Saboia, velha e inesquecível majestade que parecia um Goya, com a sua franja frisada e uma boca em fenda de mealheiro; que houve dias de Sintra e do castelo da Pena (estranha acumulação de todos os estilos imagináveis, como a mais descabelada residência de Luís II da Baviera) com Dona Amélia, a futura rainha, a recebê-los. São tão vivas as minhas recordações, que ainda vejo os fetos gigantes a recortarem-se no

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esmalte do céu, os bosques de camélias com folhas brilhantes, as pétalas pesadas caídas no caminho arenoso, as manchas de sol a brincarem entre as urzes brancas. Aprecie-se ainda este seu olhar sobre D. Luís I: Tão louro como a palha, um pouco embonecado, com faces gordas e rosadas, um aspecto de peónia que destoava ao pé das peles fuliginosas dos portugueses. Ágil, inconstante, gostava de se divertir e rir. Para ele o prazer era um dever a que não quereria subtrair-se, mesmo pelo preço de um reino. Galhofar em Paris, em Londres, dar tiros a grous e faisões era todo o seu programa. Esta jovialidade agradou-me. Gostava de música, e com uma voz encantadora e fresca cantou-nos romanças. Tempos depois esta rapariga, que se agravava dia a dia em impertinências, teve a coragem de dizer ao seu pai: Nasci com a República, sou republicana, e republicana me hei-de manter! Marie hostilizava assim, com frases e actos, as convenções preservadas numa família onde a sucessão de títulos monárquicos fazia tão generosamente a sua exibição. As suas relações com o pai marcaram-se por diferenças tumultuosas. E por causa disto os seus dezoito anos, que deviam ser assinalados pela tradição de um baile sumptuoso com centenas de convidados, depois de muitas controvérsias acabou por ser trocado por qualquer coisa que a afastava estrategicamente de Paris no dia do seu aniversário — uma viagem à Rússia. Marie, a sua mãe e uma criadagem que incluía Émile, Vincent e Adèle, partiram num expresso do Oriente que ia parando em capitais da Europa até chegar dez dias depois a Petersburgo, onde a alta sociedade falava francês atraiçoando a língua russa de futuros Tolstóis e Dostoiévskis, descendo-a até ao contacto com criados ou a acidentais falas com gente do povo.

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Imaginem-se estas convidadas numa sucessão de castelos, bailes e reverências; destinatárias de convites que não lhes deixavam tempo para sentir a verdadeira Rússia, exterior a dourados salões. Marie encantou-se com o rasto deixado pela imperatriz Catarina nos cenários que ia percorrendo e que insistiam, apesar de um século já passado, em não apagar o seu poderoso fantasma. Salomé Chalandon escreverá: «Marie partilha com a imperatriz um ponto comum: uma ingénua candura que oculta por vezes o raciocínio de uma aguda inteligência. E muitas outras coisas quando começar, anos mais tarde, a escrever a sua biografia e descobrir que atrás de A Vida Apaixonada da Grande Catarina se perfila num ponto e noutro a vida da própria Marie.» No seu regresso a França começam a fazer-lhe sentir que se aproxima a idade do casamento. Há, de facto, pretendentes a multiplicarem pedidos, e a quem os seus pais respondem sem Marie ter uma palavra a dizer sobre o assunto. Em 1896 entra nesta cena matrimonial o príncipe Lucien Murat; porque a Imperatriz Eugénia, a esposa de Napoleão III exilada na Inglaterra, convence a mãe de Marie que este seu sobrinho seria para ela um bom partido. O pai Rohan acha-o «muito bem, agradável e simpático», mas avisa a sua filha de que o príncipe Murat dispõe de uma reduzida fortuna; que se anuncia com vinte e cinco mil francos de renda, um número que os seus informadores baixam até aos dez mil. E o seu pessimismo até acrescenta: «Não tardará que só seja um príncipe de cinco mil. Reflecte bem, antes de te decidires. Com cinco mil de renda viverás sempre preocupada, e não será fácil vires com frequência à França.» Mas Marie, vencida por insistências e depois de uma alteração na atitude dos seus pais, acabará por casar-se com este príncipe Lucien Murat: amante incompetente, que lhe desilude por completo

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a sensualidade. Marie descobre que o seu esposo lê com atenção A Pequena Bíblia dos Jovens Casados, escrita por um Doutor Montalban, uma obra que insiste na utilização virtuosa do coito disciplinado. «Ainda mal refeita da desilusão, salvaguarda as aparências», informa a sua neta numa página da prolixa biografia Marie Murat, uma Mulher Louca pela Liberdade. «Mas é tudo mais forte do que ela; tem um gosto excessivo pela vida, para se inclinar perante um fracasso.» Marie será durante trinta e seis anos esposa (tão fiel quanto possível) de Lucien Murat; e realizar-se-á — exteriormente ao tédio conjugal — como pintora e sobretudo como escritora. Mas com alguma surpresa, a afirmativa e impulsiva «republicana» que se excedia perante o seu pai em convicções anti-monárquicas, assinará cinco livros com o nobre título bem evidente no seu nome de autor: — Princesa Lucien Murat. Nesses anos do princípio do século XX, duas princesas com o título impresso na capa dos seus livros alimentavam os salões literários de Paris: a Princesa Bibesco (hoje conhecida como autora de Au Bal avec Marcel Proust) e a Princesa Lucien Murat. Marie era por vocação uma escritora-biógrafa. Publicou Rasputine et l’aube sanglante e La Fayette, ambos sem uma data de impressão que nos permitam assinalar o ano do seu aparecimento nas livrarias; mas em 1927 foi autora de A Vida Apaixonada da Grande Catarina, em 1933 de Les Errants de la Gloire (que inclui «La Fayette», «Murat devant le Sphinx», «La Duchesse d’Abrantès», «L’Aiglon à la gloriette de Schoenbrunn» e «La Duchesse de Berry»), em 1934 de La Reine Christine de Suède. Desde meados do século XIX eram conhecidas as Mémoires de l’Impératrice Catherine II par elle-même, a principal fonte da biografia da Princesa Lucien Murat. Este texto, sem grande va-

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lor literário, deu à princesa o direito a pormenores que poderiam, na descrição de cenários e sentimentos, tomar-se por liberdades de um biógrafo-romancista. Embora haja nesta obra elementos exteriores às confissões íntimas da imperatriz, poderá dizer-se que é na sua maior parte fiel à visão que a própria biografada dá a respeito do seu percurso amoroso e do seu triunfo político; e que se fez seu principal encanto a «passagem a autêntica literatura» de um texto escrito em francês por uma imperatriz russa sem vocação para as letras. (Refira-se aqui que este texto biográfico e confessional também deu origem a outra esplendorosa «transfiguração» da chamada «Messalina do Norte» com o filme de Joseph von Sternberg, o que em 1934 surgiu com o título The Scarlet Empress e pôs Marlene Dietrich — amada plano a plano por uma talentosa câmara — a passear num cenário por vezes enlouquecido e que consegue, no seu demencial excesso, conferir por transcendência visual uma acrescida dimensão à decadência de valores políticos e humanos da corte da czarina Isabel.) Os anos do seu casamento com o príncipe Lucien Murat foram vividos sob uma desagradável tensão de relações. Ele preferia habitar o seu castelo do Cáucaso, rodeado pelas solidões de uma espessa floresta que desaconselhava passeios não tutelados pela arma e pela atenção de um acompanhante treinado a enfrentar ursos. A própria permanência no castelo parecia necessitar de uma apertada vigilância. «A sua liberdade afastava-se a passos largos», escreve a este respeito Salomé Chalandon; «ela passava as noites guardada por Mossé, condenado a dormir no chão, na ponta de um tapete atravessado à frente da porta do seu quarto. Quanto a passeios, é evidente que homens bem armados a acompanhavam para protegê-la de encontros imprevistos, ursos, salteadores ou impetuosas correntes de água.»

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Uma fotografia oferecida à princesa por Jean Cocteau.

A este cenário de literatura gótica preferiu a vida citadina de Paris, muito menos frequentada pelo seu marido seduzido pelo Cáucaso. Para ela esta capital, que lhe permitia um comportamento onde sobressaíam audácias reservadas ao sexo masculino, também lhe dava uma convivência regular com Proust, Cocteau, Marie Laurencin… entre os muitos que frequentavam o seu salão. E em 1926 abriu uma galeria de arte onde a sua intuição artística lhe permitiu não rejeitar Daumier, Toulouse-Lautrec e Utrillo, incompreendidos nessa época pela maioria do público. Ela própria — uma princesa Lucien Murat com liberdades que o seu marido longínquo só através de névoas pressentia — pousou nua para o escultor Aristide Maillol.

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A princesa Lucien Murat, modelo de Aristide Maillol.

Viúva em 1933, mãe de um filho (o príncipe Achille Murat), casa-se um ano depois em Roma com um seu amor de longa data, o escritor e diplomata Charles de Chambrun, que é apenas conde. A escritora-biógrafa esmorece, e só volta em 1941 a publicar aquele que será o seu último livro — Le Roi de Rome. Como já não é princesa, e estranho seria descer de princesa a condessa, é livro de uma autora que apenas se dá a conhecer por Marie de Chambrun. Terá mais dez anos de vida. Aos setenta e cinco anos de idade uma congestão cerebral deixou-a paralisada. O seu sobrinho, duque de Rohan, escreveu: «Contemplava-nos com um ar interrogativo e inquieto, como um pássaro sem asas. Encolhida na ponta da cama, dir-se-ia que era uma rapariguinha frágil. O seu velho marido, tão apaixonado por ela como no primeiro dia, desamparado e infeliz esforçava-se por não deixar cair a conversa dizendo-nos como era favorável à eleição de André Gide na Academia Francesa.» A sua alma george-sandesca teria por sua vez transmigrado para outra escritora do seu país? Que uma mesa de pé-de-galo nos responda. A.F.

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i. a clareira

Antes da guerra, a quinze de Agosto pelo velho estilo, fazia-se a festa da grã-duquesa Maria, tia do czar Nicolau. Tínhamos sido convidados para partilhar nos bosques próximos de Petersburgo o seu almoço campestre; nós, quer dizer, os seus amigos da França, as suas damas de honor, cerca de cinquenta pessoas. A clareira era alegre, a grã-duquesa sorria, nós ríamos para lhe ser agradáveis. A toalha fora atirada para cima da erva; uma baixela de ouro com águias imperiais espalhava-se numa desordem, a importunar ranúnculos e margaridas. Através dos pinheiros, um som picante de pífaros, misturado com o rataplã dos tambores acordava as cigarras adormecidas. Vestidos com blusas cor de amaranto, os barulhentos atiradores da Guarda surgiam naquela aberta de luz. Camponeses de mãos dadas aproximavam-se. Tímidos, graves, dançavam. A Rússia dava a ilusão da alegria. Sentada em almofadas de damasco, a grã-duquesa designava os lugares com um gesto gracioso e segundo as suas preferências. O vestido de seda debruado, com aplicações franzidas da rua De la Paix, caía com um ligeiro plissado; a blusa modelava um peito que já fora admirado, e desenhava ombros com um arredondado de açafate. Um pequeno chapéu de palha preto, sem pretensões, tinha sido atirado sobre a franja frisada. Olhos fulvos, uma boca amorável convidavam

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à confidência. Diziam-na ambiciosa. Como era vizinha do trono escondia as cobiças por recear, sem dúvida, que lhe adivinhassem os sonhos que assombravam a fronte germânica. Obcecada pelo orgulho materno, coroava os seus filhos com esperanças; e orgulhosa da sua beleza máscula, olhava para Cirilo, Boris, André estendidos ao seu lado, sem adivinhar qual seria o seu destino. Como a Revolução estava longe! Era 1913. A jovem Olívia, a princesa Gagarine, as suas damas de honor, animavam a pradaria com inocentes musselinas. Com palavras maliciosas, o príncipe de Beauvau transmitia a Maria Pavlovna a nostalgia do Hotel Continental, dos divertimentos nocturnos de Montmartre e das fontes de Vittel. Esta sociedade frívola desabrochava nas vésperas de desaparecer com uma contida elegância. Hoje parece-nos quase tão distante como a do século XVIII. A música tocava pasos dobles que nos ensurdeciam os ouvidos. O grão-duque Cirilo dava tiros de carabina a garrafas vazias. A sua habilidade espalhava-as num céu cor de anil. Eu tinha-me aproximado de Maria Pavlovna. E porque a felicitei pelo bailado que sob o nosso olhar se improvisava: «Neste país», respondeu ela, «tudo se improvisa e nada muda; o presente casa-se com o passado por negligência e talvez por esquecimento.» A pensar na sua juventude e a misturar também o passado e o presente, com olhos meio fechados continuou: «Estou a lembrar-me de uma anedota que me contaram na altura em que cheguei à Rússia. Quando Monsieur de Bismarck era embaixador em Petersburgo, ao atravessar um

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jardim na época estival, encontrou uma sentinela de plantão. O que poderia ela guardar? Não era, com certeza, a virtude daquela Vénus de mármore que uma pomba castamente debicava. O diplomata, que gostava de satisfazer as suas curiosidades, pediu ao imperador Alexandre, o meu sogro, que lho explicasse. Foi informado. Havia uma razão desconhecida mas instruções inquestionáveis. No entanto, de investigação em investigação acabaram por descobrir que a Grande Catarina tinha um dia descoberto ali uma campainha branca que anunciava a Primavera, e dera ordem para a sua corola ser protegida. A flor murchara, a imperatriz tinha morrido; e indiferentes durante cem anos a tudo isto, as sentinelas tinham aos poucos envelhecido. «Na Rússia a tradição é eterna. Veja os meus convidados: tiveram antepassados a divertir-se sob as mesmas sombras. Os rostos mantêm-se parecidos e só as modas que vêm sempre de Paris, inventadas por Madame Bertin ou Paul Poiret, acompanham os novos caprichos e se transformam. Quando os cabelos se empoavam, as anquinhas tufavam os vestidos, os corações estariam mais leves? Duvido. Se todos contassem as memórias recolhidas desde o berço, as canções das amas ou os dislates dos camareiros, o passado poderia renascer. Esta clareira foi sempre lugar de encontro das nossas caçadas. Aqui, ao pé do cruzamento destas estradas, a Grande Catarina ouviu a sua primeira declaração de amor. «A imperatriz chegada da Alemanha aos quinze anos para alargar o império dos Russos e modelá-lo à sua maneira, era sentimental, apaixonada ou apenas ambiciosa? Olhe para a sua estátua na Perspectiva Nevski. Reconciliados no bronze, os seus ministros, os seus amantes, os seus generais servem de

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pedestal à sua Senhora Imperial que não é para brincadeiras quando estende o ceptro sobre as suas cabeças. Tem uma fama que fascina, fraquezas que espantam, e paramos assustados no limiar da sua alcova.» * A 21 de Agosto de 1744, os carrilhões de Nossa Senhora de Kazan a vociferar por cima dos telhados verdes, anunciavam as núpcias de Pedro de Holstein, grão-duque herdeiro da Rússia, com Sofia de Anhalt-Zerbst, baptizada pela água ortodoxa como Catarina Alexievna. A pesada coroa de diamantes atravessava com um traço vermelho a testa abaulada de Catarina, que estava com uma enxaqueca quando a imperatriz Isabel a libertou das icómodas pedrarias. Nada era mais atraente do que a câmara nupcial forrada a tecido prateado com ramagens de flores que nos apeteceria colher. Como era sumptuoso, o leito de veludo cor de papoila bordado com grinaldas de prata em alto-relevo, novo em folha, todo a reluzir! Catarina olhava maravilhada para este fausto, exposto por sua causa, embora o seu orgulho nada deixasse transparecer. O marechal da corte, o mestre de cerimónias, o grande camareiro retiraram-se às arrecuas, inclinados até ao soalho. Procedeu-se à grande deita, onde só eram admitidas mulheres. Muito emocionada, a princesa de Hesse enfiou a camisa à jovem esposa, e depois ajeitou-a com gentileza no aparatoso leito. E como a viu enlanguescida, muito franzina e um pouco atemorizada, sentiu vontade de a beijar; mas o que diria a etiqueta? O roupão era galante, com penduricalhos virginais. O grão-

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-duque apresentou-se enfeitado com adornos do mesmo género, cambraias, rendas e laços brancos. Céus! Como era feio sem a peruca. Todo saraivado pela varíola, com rosto entumescido e olhos pestanejantes, mais parecia o macaco de Frederico do que o Querubim de quem só tinha, que desgraça, a mesma juventude. Afectuosa, com a lágrima no olho, a imperatriz Isabel deu a bênção aos casados e palmadinhas nas faces que coravam. As «varejeiras», ou seja, as damas de honor, fizeram três reverências profundas e deixaram a sós o casal imperial. O dia tinha finalmente acabado. O sonho de Catarina realizava-se. Perante Deus, os boiardos1 e os servos, era a grã-duquesa mulher do herdeiro. O incenso aromático respirado na catedral tinha-lhe subido à cabeça, e estranhamente a embriagava. Seria mesmo ela, a pequena Sofia, a adulada por todos aqueles senhores, a que tinha ouvido o seu nome cantado num concerto de vozes que a transportava para longe da triste igreja luterana onde outrora recitava os seus salmos em alemão? Era mais fácil adoptar esta liturgia voluptuosa, do que acomodar-se ao esposo que já roncava. Embora não tivesse muitas ilusões, sentia o amor-próprio ferido. Durante o longo noivado ele nunca soubera, com uma efusão, convocar a sua ternura. A imperatriz ralhava com ela; mas ele, que era sonso, ria-se à socapa tomando partido contra a sua noiva. Nada se modificara nele, desde o primeiro encontro na casa do seu primo, o bispo de Lubeck. Nessa entrevista Catarina tinha dez anos e Pedro mais um ano do que ela. O infame rapaz emborrachara-se em sua honra, e com um esgar de prazer 1

Designação que então se dava aos nobres russos. (N. do T.)

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beliscara-lhe a barriga das pernas. Nenhum dos convivas deste banquete familiar dos Holstein e dos Anhalt tinha imaginado que o garoto tão mal comportado na ponta da mesa seria chamado a Petersburgo pela sua tia, a imperatriz Isabel, como herdeiro da coroa; e que a sua pequena prima Sofia seria por sua vez para lá mandada, numa noite de Setembro de 1743, para partilhar a sorte do enfezado rapazinho. Estranho destino de uma filha da Alemanha que raciocina como um homem; que já calcula e se observa. Na véspera do casamento, antes de soprar a vela escrevia no seu canhenho: «O coração não me prenuncia grande felicidade; só a ambição me sustém; mas sinto que cedo ou tarde chegarei a ser por direito soberana da Rússia.» Quando Catarina despertou depois da noite de núpcias, tão ignorante como uma freira, ainda tinha as curiosidades adormecidas e os sentidos a dormitar. Pedro deixou as semanas correrem sem lhe ensinar os jogos do amor. Mal ela adormecia, entrava ele na cama com botas, esquivando-se antes do despertar como se tivesse medo do seu contacto. Encolhida contra os travesseiros empilhados, ela tentava fugir do insuportável cheiro do seu esposo. Eram estranhos um ao outro. Ao regressar dos seus beberetes, com uma palmada que caía ao acaso Pedro arrancava-a por vezes à doçura do sonho, para lhe impor o relato minucioso e fanfarrão das suas traições; porque se julgava apaixonado por todas as mulheres, com excepção da sua. As suas preferências iam para as desarranjadas e corcundas. E assim foi que Catarina, facto incrível na corte mais depravada do século, durante sete anos se manteve casta. Nada a atraía para o amor, afastada pela grosseria do seu marido.

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Ao pé deste homem violento e leviano, o seu orgulho irritava-se. Sentia a sua superioridade negligenciada. O corpo desdenhado fez-se o verdadeiro cúmplice de uma vingança com uma extensão que ela não avaliava. «Chorei muito», escreveu Catarina. «Vendo-me com olhos vermelhos, a imperatriz disse-me que só as jovens sem amor aos seus maridos não paravam de soluçar; a minha mãe não me tinha dito que eu não podia sentir nojo por me casar com o grão-duque? Agora, que eu estava casada, tinha de secar as lágrimas.» Impaciente, por causa de uma abstinência tão contrária aos costumes e ao seu exemplo, a imperatriz acabou por dar à senhora Tchoglokov, governante de Catarina, uma ordem: «De ora em diante, a grã-duquesa deverá prestar-se com maior docilidade aos gostos do seu marido; finja o que for preciso para mostrar algum ardor e consumar a tarefa conjugal.» Quando ficou a par desta tarefa imposta, Catarina suspirou: «Se o grão-duque quisesse ser amado, a coisa não seria difícil; eu estava disposta a cumprir os meus deveres.» Mas o grão-duque desviava-se dos seus, sem notar a beleza nascente de Catarina e as suas graças prestes a desabrocharem. Leão Narichkine e Sérgio Soltykov, dois jovens senhores mais descarados do que os outros, amigos inseparáveis e primos de Sua Majestade, mostraram-se mais sensíveis a esta eclosão, e de concerto se excitaram. O primeiro, com um endiabrado espírito atordoava a pequena corte com as suas palhaçadas e as suas farsas. Quanto a Sérgio, o bonito Sérgio, excitava a cobiça de todas as damas com uma beleza surpreendente e a harmonia de um corpo que dava aos seus movimentos uma alegria felina, pondo as mais exasperadas a sonhar. O grão-duque gostava dele ao ponto de convidá-lo a partilhar

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a sua cama; e Catarina olhava, divertida, para as manobras desse apaixonado que procurava agradar-lhe, ao mesmo tempo que fazia um ar de quem amava loucamente o seu esposo. Graças a este estratagema, ele seguia-lhe todos os passos com atenta devoção. Para chegar melhor à felicidade que mendigava, o que não teria inventado este hipócrita? Catarina não era pateta; é provável que lhe ouvisse os suspiros, mas nunca estava sozinha, como convinha ao seu estatuto de princesa. As sete damas de honor atiravam-se como calhava para cima dos colchões e descansavam, à entrada dos seus aposentos; a aia vigiava, as chaves não fechavam ou estavam perdidas; e o olhar aceso dos criados que espiavam de porta em porta tapava com frequência o buraco das fechaduras indiscretas. Irritada com a ronda deste olhar, Catarina logo ao amanhecer fugia pelas escadas de mármore, em direcção ao mar. Saía de casa vestida à caçador, com a espingarda ao ombro, e saltava para uma barca à procura dos pássaros viajantes que davam voltas sobre o Báltico. A noite trazia-a para o palácio a escorrer chuva, com o jaquetão furado, o rosto crestado. E ao alvorecer do dia seguinte voltava a sair a cavalo. Catarina só se sentia feliz a caçar, longe do esposo insípido que perdia tempo em matagais, e na companhia de criados que nunca o abandonavam fustigava cruelmente cães extraviados. Nessas ocasiões audaciosa, galopava através da floresta. As bétulas brancas desapareciam atrás de si como fantasmas silvestres. Nada lhe agradava mais do que a frescura da chuva nórdica que pica, o chuvisco das ondas que o vento trazia. Uma manhã, num cruzamento, a atenta Catarina parou. A matilha fazia-se ouvir com os seus ruídos. Que vereda devia

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tomar para ir ter com o monteiro-mor? Os ramos estalaram, o matagal abriu-se. Um cavaleiro agarrava o seu cavalo pela rédea. — Sérgio, assustastes-me — exclamou ela. Afectuosos, os cavalos aproximaram os pescoços e roçaram-se. Catarina vestia o seu trajo azul-celeste nobilitado por galões prateados, fechado por botões de cristal. Sérgio Soltykov olhou para ela. Com aquele boné preto, era aos vinte e dois anos a mais atraente das princesas. — Desta vez não ireis escapar-me — disse ele. — Deixai que eu vos ame; como sabeis, gosto de vós com paixão. Duvidais disso? Por que haveis de fechar-me a boca com a vossa mão? Senhora, no maior segredo dar-vos-ei a conhecer todos os prazeres que ignorais. Falai, respondei-me. — Mas que audácia! Mas que temeridade! Eu talvez já tenha o coração tomado. Esta afectação atiça-lhe o desejo, excita-lhe o ciúme; tenta agarrar uma mão que se esconde. «Como sois cruel e me agradais!» Catarina, maliciosa: — Podeis sentir prazer imaginando, sem eu procurar impedir-vos disso. — Agradeço-vos a permissão, senhora, mas essa volúpia tem pouco sabor. Olhai para mim e concordai que sou preferível, sem eu ser com isto presumido, a qualquer outra pessoa da corte. Confessai que me preferis. — Concordarei de bom grado que tenho por vós inclinação, mas ide-vos embora, peço-vos. — Não me afastarei sem saber que vos não sou indiferente. O temor de ser surpreendida e talvez o amor, ditaram à grã-duquesa a resposta. Riu-se quando disse:

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— Agradais-me, sim, sim, mas ide-vos embora! Sérgio deixou o seu cavalo ir ter com os caçadores. Mas ergueu-se nos estribos e voltou-se para trás. Obstinada, Catarina sacudiu o seu acinzentado cabelo e exclamou: «Não, não», enquanto ele de longe respondia: «Sim, sim.» Por vezes o destino encerra-se numa sílaba.

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O duelo, Joseph Conrad A felicidade dos tristes, Luc Dietrich Inferno, August Strindberg Um milhão conta redonda ou Lemuel Pitkin a desmantelar-se, Nathanael West Freya das sete ilhas, Joseph Conrad O nascimento da arte, Georges Bataille Os ombros da marquesa, Émile Zola O livro branco, Jean Cocteau Verdes moradas, W.H. Hudson A guerra do fogo, J.-H. Rosny Aîné Hamlet-Rei (Luís II da Baviera), Guy de Pourtalès Messalina, Alfred Jarry O capitão Veneno, Pedro Antonio Alarcón Dona Guidinha do Poço, Manoel de Oliveira Paiva Visão invisível, Jean Cocteau A liberdade ou o amor, Robert Desnos A maçã de Cézanne… e eu, D.H. Lawrence O fogo-fátuo, Drieu la Rochelle Memórias íntimas e confissões de um pecador justificado, James Hogg Histórias aquáticas – O parceiro secreto, A laguna, Mocidade, Joseph Conrad O homem que falou (Un de Baumugnes), Jean Giono O dicionário do diabo, Ambrose Bierce A viúva do enforcado, Camilo Castelo Branco O caso Kurílov, Irène Némirowsky Nova Safo – tragédia estranha, Visconde de Vila-Moura A costa de Falesá, Robert Louis Stevenson Gaspar da Noite – fantasias à maneira de Rembrandt e Callot, Aloysius Bertrand Rimbaud-Verlaine, o estranho casal O rato da América, Jacques Lanzmann As amantes de Dom João V, Alberto Pimentel Os cavalos de Abdera e mais forças estranhas, Leopoldo Lugones Preceptores – Gabrielle de Bergerac seguido de O discípulo, Henry James O Cântico dos Cânticos – traduzido do hebreu com um estudo sobre o plano a idade e o carácter do poema, Ernest Renan Derborence, Charles Ferdinand Ramuz O farol de amor, Rachilde Diário de um fuzilado, precedido de Palavras de um fumador de ópio, Jules Boissière A minha vida, Isadora Duncan Rakhil, Isabelle Eberhardt Fuga sem fim, Joseph Roth

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O castelo do homem ancorado, Joris-Karl Huysmans Tufão, Joseph Conrad Heliogábalo ou o anarquista coroado, Antonin Artaud Van Gogh o suicidado da sociedade, Antonin Artaud Eu, Antonin Artaud A morte difícil, René Crevel A lenda do santo bebedor seguido de O Leviatã, Joseph Roth O Chancellor (Diário do passageiro J.R. Kazallon), Jules Verne Orunoko ou o escravo real (uma história verídica), Aphra Behn As Portas do Paraíso, Jerzy Andrzejewski Tirano Banderas (novela de Terra Quente), Ramón del Valle-Inclán Cáustico Lunar seguido de Ghostkeeper, Malcolm Lowry Balkis (A lenda num café), Gérard de Nerval Diálogos das carmelitas, Georges Bernanos O estranho animal do Vaccarès, Joseph d’Arbaud Riso vermelho – fragmentos encontrados de um manuscrito, Leonid Andreiev A morte da terra, J.-H. Rosny Aîné Nossa Senhora dos Ratos, Rachilde O colóquio dos cães incluído no Casamento enganoso, Miguel de Cervantes Entre a espada e a parede, Tristan Bernard A vida de Rembrandt (história a ir para onde lhe dá), Kees van Dongen Os meus Oscar Wilde, André Gide As aventuras de uma negrinha à procura de Deus, George Bernard Shaw Meu irmão feminino – «Noites Florentinas», Marina Tsvietaieva Jean-Luc perseguido, Charles Ferdinand Ramuz O filho de duas mães, Edith Wharton A armadilha, Emmanuel Bove Um jardim na margem do Orontes, Maurice Barrès Erotika Biblion, Conde de Mirabeau A minha amiga Nane, Paul-Jean Toulet Paludes, André Gide O bar dos dois caminhos, Gilbert de Voisins Sol, D.H. Lawrence Cagliostro, Vicente Huidobro As magias do Ceilão, Francis de Croisset Má sorte que ela fosse puta, John Ford Chita – uma memória da Ilha do Fim, Lafcadio Hearn A mulher 100 cabeças, Max Ernst A dificuldade de ser, Jean Cocteau O duplo Rimbaud (com um preâmbulo de Benjamin Fondane), Victor Segalen

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