Mário Cesariny «Uma Última Pergunta»

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UMA ร LTIMA PERGUNTA Entrevistas com Mรกrio Cesariny


A. Sérgio S. Silva Afonso Cautela Álvaro Guerra Ana Marques Gastão António Cândido Franco António Duarte António Guerreiro Bernardo Pinto de Almeida Bruno da Ponte Bruno Horta César Antonio Molina Claudia Galhós Elisabete França Francisco Belard Francisco Vale Maria Bochicchio Maria Leonor Nunes Maria Teresa Horta Mário Cesariny Mário Galego Ricardo Duarte Torcato Sepúlveda Vladimiro Nunes


UMA ÚLTIMA PERGUNTA Entrevistas com Mário Cesariny (1952-2006)

organização, introdução e notas

Laura Mateus Fonseca prefácio

Bernardo Pinto de Almeida posfácio

Perfecto E. Cuadrado

D O C U M E N TA


© FUNDAÇÃO CUPERTINO DE MIRANDA, 2020 © HERDEIROS DE MÁRIO CESARINY © ENTREVISTADORES OU HERDEIROS DOS ENTREVISTADORES © HERDEIROS DE CARLOS BOTELHO prefácio © BERNARDO PINTO DE ALMEIDA introdução © LAURA MATEUS FONSECA posfácio © PERFECTO E. CUADRADO fotografias © AUTORES OU HERDEIROS DOS AUTORES © SISTEMA SOLAR (DOCUMENTA) RUA PASSOS MANUEL, 67 B 1150-258 LISBOA 1.ª EDIÇÃO, NOVEMBRO DE 2020 ISBN 978-989-9006-58-4 REVISÃO DE LUÍS GUERRA DEPÓSITO LEGAL: 476493/20 IMPRESSÃO E ACABAMENTO: PUBLITO — ESTÚDIO DE ARTES GRÁFICAS PARQUE INDUSTRIAL DE PINTANCINHOS, 4700-727 BRAGA


Índice

prefácio Entre nós e as palavras de Mário Cesariny, Bernardo Pinto de Almeida ..............................................

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introdução Corpo visível, com alma e mundo, Laura Mateus Fonseca...............................................................

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Mário Cesariny entrevista Carlos Botelho ......................

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Mário Cesariny: «A nossa literatura actual é a pior possível», Bruno da Ponte ........................

69

Entrevista com Mário Cesariny de Vasconcelos: «No processo de libertação dos espíritos não é mais importante o movimento surrealista do que o dadaísmo», Bruno da Ponte.............................

79

Conversa com Mário Cesariny, Maria Teresa Horta....

87

O diálogo em 1972, Mário Cesariny de Vasconcelos, Mário-Henrique Leiria e Cruzeiro Seixas conversam com Álvaro Guerra ..........................

93

7


Fulgor e morte do surrealismo e uma tarde com Mário Cesariny, Francisco Belard ......................

111

Mário Cesariny: Um surrealista polémico – «Os pigmeus não escrevem sempre nas páginas do Diário de Notícias», António Duarte...................

137

Mário Cesariny: «Não vamos dizer surrealismo, vamos dizer poesia», Francisco Vale ....................

153

Cesariny: «Somos todas as épocas…», Francisco Belard

171

Três perguntas a Mário Cesariny, A Phala.......................

187

Mário Cesariny: Um almirante de um navio de espelhos, Bernardo Pinto de Almeida ..............................

195

Cesariny: «Fernando Pessoa? Um emprego público», A. Sérgio S. Silva ................................................

207

A aventura de um poeta: «Morri duas vezes, à terceira é de vez», Afonso Cautela ..................................

221

Cesariny: «Do surrealismo não resta nada», César Antonio Molina ......................................

237

Mário Cesariny: «Emanava de Breton um poder magnético», Torcato Sepúlveda ..........................

255

Pascoaes nas palavras de Cesariny, António Cândido Franco ................................................................

269

Entrevista a Mário Cesariny: Memórias do surrealismo em Portugal, Claudia Galhós .............................

279

8


«Sou um poeta esgotado…», António Guerreiro e Francisco Belard ...............................................

295

«Não sei o que seria se tivesse nascido numa democracia», Bruno Horta ......................................................

309

Cesariny: «O surrealismo falhou», Bruno Horta ...........

317

Um sopro de Liberdade, Maria Leonor Nunes e Ricardo Duarte .................................................

325

Mário Cesariny: O retrato de uma vida, Mário Galego ..

339

«Fui suspeito de vagabundagem», Vladimiro Nunes .....

349

«A maravilha do acaso», Maria Bochicchio..................

367

Histórias reais e surreais, Elisabete França ...................

375

«O Mário para mim é o vivo», Ana Marques Gastão entrevista Cruzeiro Seixas......................................

391

posfácio Cesariny (des)entrevistado e apenas entrevisto Perfecto E. Cuadrado .......................................

409

Origens das Entrevistas – Referências ............................... Índice Remissivo ............................................................

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Sou um homem um poeta uma máquina de passar vidro colorido Mário Cesariny, «Autografia I», Poesia, Assírio & Alvim, 2017

É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia é preciso dizer azul em vez de dizer pantera é preciso dizer febre em vez de dizer inocência é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem Mário Cesariny, «Exercício espiritual», Poesia, Assírio & Alvim, 2017



prefรกcio

Entre nรณs e as palavras de Mรกrio Cesariny

Bernardo Pinto de Almeida


Bernardo Pinto de Almeida e Mรกrio Cesariny em Matosinhos, diante da Capela de Santo Amaro, c.1994.


Para o Paulo e Rosarinho Pimenta

1. Conheci Mário Cesariny em 1981. Tinha-lhe enviado o primeiro livro de poemas, edição de autor, ele escreveu-me de volta, sugerindo que o visitasse, o que fiz, movido pelo entusiasmo de ir ao encontro do Poeta que fora, no fim da adolescência, descoberta maior, nunca traída até hoje. O homem que encontrei, por uma tarde chuvosa, no modesto estúdio e refúgio, à Graça, chegava então aos 60 anos, mais trinta que os meus, o que, todavia, deixava de se fazer sentir assim que começava a falar, em digressões que passavam, sem descontinuidade, das memórias de vida a reflexões sobre Llull, Breton, Artaud. Tudo tinha a mesma origem. Nesse pequeno espaço, prescindido mais tarde pelo quarto-atelier na Basílio Teles, às Portas de Benfica, onde viveu toda a vida, dezenas de pinturas espalhavam-se, desordenadas, pelo espaço disponível, das paredes ao chão, e mesmo às almofadas pintadas, esquecidas sobre o sofá gasto, de molas soltas, onde o gato dormia. Tudo coberto de pintura. Além dele, do Poeta não restava sinal. A pintura tinha-se tornado já actividade principal, queixando-se ele de ter sido abandonado, de vez, pela poesia, o que jamais me pareceu ser verdade. Homem só, sereno, capaz de uma gargalhada formidável, era soberano nessa solidão, indiferente a agradar, incapaz do que fosse para ir ao encontro de qualquer aplauso, de que desconfiava. A partir de então travou-se Amizade que durou até ao fim, e o tempo tornou sólida, vivida e fortificada por admiração crescente, 15


sobretudo na descoberta, rapidamente feita, de estar diante de um ser humano absolutamente excepcional. Decente, probo, nítido, vertical, intolerante para com a mediocridade geral, de exigência que nunca roubava na bondade, indomável nas convicções da sua imensa, absoluta liberdade, de integridade e inteligência únicas. Tudo o que dizia ressoava, então ainda, dessa mesma voz que, desde a juventude, eu ouvira nítida em poemas e escritos vários. E uma forma selvagem de habitar o mundo completava a silhueta de tão alta figura, já então impressionante, do príncipe anarquista em que se tornara. Ouvi-lo, era confirmar, em comoção de descoberta, a possibilidade de haver mundo em que a poesia era muito mais que literatura, para se constituir voz, ou fala, desse mesmo mundo, existindo ao alcance do olhar, mas paralelo do nosso. Um mundo de gente numerosa, livre, a chegar misteriosamente de uma longínqua Idade Média, em parte mítica, anterior no tempo às navegações e à ordenação moderna, que o estado jamais dominara e se exprimia, ainda, na obscuridade das ruas da cidade, noite dentro, em folias ou arruaças até de madrugada, aglomerando-se contra a arquitectura orgânica dos bairros populares, paisagem humana onde encontros breves, furtivos, selavam todavia o compromisso absoluto com uma vida verdadeira 1. Não tinha verdadeiramente idade, pois era, ao mesmo tempo, muito, muito antigo, a ponto de tornar credível haver reencarnação, 1

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Emanuele Coccia aludiu a este espaço comunicante, baudelairiano, da cidade: «É como se, graças aos muros, cada cidade tivesse dois corpos: um “mineral”, que ocupa o espaço e lhe dá forma, e um semiótico, ou simbólico, que apenas existe na pele do primeiro, cuja consistência é quase onírica. Estes corpos sobrepõem-se, mas nunca coincidem.» Cf. O Bem nas Coisas, Documenta, Lisboa, 2017, p. 32.


e tão recente no tempo como uma criança, já que a infância nunca o abandonara e nele persistiu como traço fundo de uma alegria viva de estar no mundo. Só vi isso, além dele, em Agustina e em António Dacosta, também eles seres intempestivos. Esguia figura, a sua, de uma elegância aristocrática e viril, vinda talvez da ascendência romana dos Cesarini-Rossi, que depois adoptou em assinaturas várias, fora decerto moldada, ou esculpida, pela vida, feita tanto da exaltação, das viagens e visões, quanto do confronto permanente com a opressão que, por meio século, e também depois, o quis aprisionar a uma normalidade que jamais poderia ter, por irrespirável. A mesma que, através de uma polícia recrutada de entre os mais venais, quis ferreamente domar e dominar o pouco que restava, ainda, desse povo em tempos chamado Portugal. Povo desgraçado e malandro, malicioso, tolerante nos costumes, capaz do bom e do pior, do medo e da coragem, da humildade e da sagaz urdidura, que desaparecia, já então, numa difusa bruma. Esse que a Inquisição, Pombal depois, e o salazarismo finalmente, haviam empurrado para fora do centro e, mais tarde, até das margens que restavam nas últimas vielas escuras do Bairro Alto, da Mouraria ou da Sé, agora destinadas ao turismo. Mas que o Poeta, qual etnólogo, queria ainda encontrar sob a pedra gasta das calçadas, ou nas tabernas, numa voz ou num gesto, numa forma de dizer ou de olhar, de pensar as coisas ou de caminhar e dançar, que nada tinham que ver com aquela espécie de gente que, não muito depois, na assim chamada democracia, aos poucos serviu a substituí-lo para efeitos de serviço. Mas arrumada, agora de vez, em apartamentos periféricos de modesta renda, na esperança de, por troca confiada e servil, ganhar direito a frigoríficos a prestações e a outras comodidades que o cavaquistão consagrou como bens essenciais de uma nova religião, pior 17


do que todas as que a precederam, e os que se seguiram confirmaram em desígnio pátrio de excelência e virtude para afeiçoar votantes. Era este o homem que encontrei, vezes sem conta depois, fiel a si mesmo, até que partiu, cansado de tanto ver, não muito depois da morte da sua companheira de vida, Henriette, a irmã e confidente que, em tudo semelhante dele, protegeu e louvou por décadas, cuja morte prenunciou a sua («Se um dia a perco, morro eu» — dizia, entre dentes, com ternura). Incapaz da mentira ou da intriga, do vitupério e da maldade, tinha a travessura da criança e a paixão nunca perdida por uma liberdade que nem cem anos de opressão e castigos vários lhe roubariam. Este era o Mário que conheci. Que me apresentou, depois, os de Pascoaes, o João e a Maria Amélia, maravilhosos seres, chegados de outro tempo, fiéis guardiães da casa do Poeta, e os Assírios, o Hermínio e o Manuel Rosa (estes, mais tarde, meus editores), gente boa, sã, da sua tribo. Graças a ele, aos poucos, aprendi outro idear da vida e da poesia e, devendo-lhe, nas minhas próprias, mais do que saberia contar, é apenas natural que, não o tendo jamais esquecido, o que escreva sobre ele ressoe do afecto que gerou essa lição de vida.

2. Caiu-me isto ao espírito quando me pediram, e logo aceitei por dever certo de Amizade e de memória, que escrevesse alguma coisa na edição conjunta das suas entrevistas, que Laura Mateus Fonseca, a quem só por isso devemos gratidão, cuidadosamente recolheu e foi desencantar em adormecidas folhas de jornal e agora regressam finalmente à luz do dia. Deve haver mais, que o seu falante andou cá por tanto tempo, em tão variadas actividades, que é forçoso ter atraído mais 18


Mรกrio Cesariny, Henriette Cesariny e Bernardo Pinto de Almeida, c.1996.


curiosidade. Outras, então, acrescentarão adiante a estas, que já são, ainda assim, muitas. Testemunhos esparsos de vida e circunstâncias várias, de memórias de geração ou de publicação de livros, de notícia espantada de abertura de exposições ou de reedições aumentadas e refeitas dos seus livros, intervenções abrasivas, ou atribuição de prémios, sempre tardios e minguados na vontade. A presente recolha tudo isso recolhe e mais. Mas, disso recolhendo, lhe falta, no seu lado menor, o que Georges Charbonnier 2 foi buscar a Breton: a coerência de um pensamento, de uma história, de um combate longo, persistente, que coerentemente interrogou, preparado que estava para o fazer, sistematizando ao futuro a memória vasta do Poeta. Ressentem-se, estas, da repetição de curiosidades menores, de cusquice envergonhada sobre o picante das opções sexuais, em vez de procurarem, além disso, a dimensão política e de pensamento, de invenção e até de história que havia, de facto, para contar, e sobressai mais evidente no belo filme — Autografia — que sobre ele rodou, com pouco mais de vinte anos, Miguel Gonçalves Mendes, onde o Poeta guia a longa conversa que sustenta a exaltante narrativa. Aqui, muita coisa se repete. A eterna revisitação do haver ou não haver ou ter havido um surrealismo em português. De saber se o Pacheco era para tomar a sério, ou se era só às terças e sábados. De auscultar a circunstância de um prémio ou a oportunidade de uma exposição polémica, raras vezes indo além do que serve a aquecer o gravador. Entrevistas, na maioria, conduzidas por impreparados jornalistas servos da circunstância ou do apetite frouxo por tricas da cultura 2

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Georges Charbonnier entrevistou muitos dos Surrealistas (mas também Lévi-Strauss) tendo colhido importantes depoimentos de todos eles. Cf. também VV.AA., André Breton, Entretiens, Gallimard, Paris, s/d.




introdução

Corpo visível, com alma e mundo

Laura Mateus Fonseca


Mรกrio Cesariny. Fotografia de Joรฃo Cutileiro, c.1968.


Ao Paulo, ao Afonso e ao Martim

Livres digo livres e isso é não só a grande rua sem fim por onde vamos Mário Cesariny, «Corpo visível»1

Esta antologia de entrevistas surgiu como forma de dar a conhecer, ou melhor, trazer para o corpo visível do livro entrevistas que pela proximidade fácil com o entrevistado (o Mário, por ele mesmo) se transformaram em «conversas» abertas, onde os temas, os nomes, as palavras surgem de um sopro de liberdade. Num assomo de irreverência e confronto, o Cesariny poeta, pintor e surrealista, sem perder de vista o seu passado, comenta diferentes tempos de Portugal. Estas são conversas que começam como entrevistas e que, frequentemente, levam o entrevistador a desviar-se do guião, para ele mesmo acompanhar o voo do condor. Criado o corpus de mais de vinte entrevistas, a partir de aturada e longa pesquisa bibliográfica de periódicos na Hemeroteca Municipal de Lisboa e outras consultas, foi possível balizá-lo entre 1962 e 2006, sendo publicada uma entrevista póstuma em 2007. 1

Os poemas aqui citados estão incluídos em Mário Cesariny, Poesia, edição, prefácio e notas de Perfecto E. Cuadrado, Assírio & Alvim, 2017.

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A arquitectura deste livro seguiu duas linhas: a do texto e a das imagens. São reproduzidas as entrevistas seguindo uma ordem cronológica e, oportunamente, conforme a sua relevância documental, são reproduzidos os correspondentes recortes de jornais. Curiosamente, abrimos o volume com um Cesariny no papel de entrevistador e fechamos com uma entrevista sobre Cesariny (feita a Cruzeiro Seixas, no ano da morte de Cesariny). Ainda no final, surge a útil lista de referências bibliográficas das entrevistas, à data da sua primeira publicação. O entrevistado é sempre o mesmo, Mário Cesariny. Poeta-pintor, surrealista, que se exprime quando lhe apetece, como lhe apetece, porque gosta e porque sim. Se pintor, e mesmo poeta, for entendido como uma «profissão», no sentido burocrático da palavra, como um modo de vida habitual, com horários a cumprir, idas ao escritório, papéis por resolver, assuntos por tratar, então Cesariny não se encontra neste patamar de actividades laboriosas e de mais ou menos industriosas produtividades correspondentes a um posto de trabalho. Ou seja, não é um poeta, ou escritor ou pintor, daqueles que produzem, por encomenda, telas ou poemas endereçados a um mercado: Ah! Heróis do trabalho, que coisas raras fazeis! Não sou um proletário — vê-se logo […] E agora, era fatal, falto ao escritório, falto ao escritório, pontualmente, todas as manhãs. Mário Cesariny, «Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos»

Numa entrevista ao suplemento «Tabu», do semanário Sol, de 7 de Outubro de 2006 (pp. 349-366), revela que a vida era «para não 52


trabalhar em escritórios e aturar o patrão nojento. Éramos, de facto, todos vagabundos». A este propósito, o seu amigo e editor da altura, Manuel Hermínio Monteiro, num número d’A Phala refere-o «como o gato desprendido que pára onde quer, […] o filho de ourives, abria pela noite as portas do mar. A cidade inundada […] muita tinta lhe emprestou para escrever os poemas». A imagem do gato que se espreguiça e cresce, que salta para a noite, lugar onde guarda o segredo da escrita, está sempre presente. Praticante do não, preserva a poesia das garras das culturas dominantes. Pratica o seu surrealismo, sem filiações estereotipadas. A toda a hora surpreende, inventa e reinventa tudo o que se liga à linguagem: o amor, a realidade, a vida quotidiana, construindo uma poética que se concretiza por uma libertação da linguagem, que rejeita as coisas servis, as leis morais, e segue uma fusão dos contrários. A pergunta «O que é o Surrealismo?» surge, inevitavelmente, em quase todas estas entrevistas. As respostas podem repetir-se, mas, na sua essência, o Surrealismo vivido por Cesariny e amigos surrealistas é retratado como aquele movimento que perseguiu uma «liberdade livre», honrando Rimbaud, em detrimento das liberdades artificiais e padronizadas. Pondo em causa as balizas psicoafectivas, estimula o mundo sensível que assume novas coordenadas, gerando uma realidade própria. São estas motivações pessoais que organizam, num caos aparentemente paradoxal, a obra «surreal» de Cesariny, que não tem de ser clara para existir e exercer a sua acção numa escrita que cai «verticalmente no vício». Mário Cesariny, além das obras publicados e da sua pintura, desenvolveu intensa actividade de articulista com a publicação de vários artigos em publicações periódicas (jornais e revistas, nacionais e estrangeiras), ora de crítica literária, ora sobre o movimento surrealista em Portugal, ora como resposta a críticas que lhe foram dirigidas, ora como 53


polémicas que alimentavam as tertúlias jornalísticas da época — de insulto-resposta-insulto-resposta… e assim sucessivamente. Quase todos os periódicos tinham suplementos literários que eram o lugar de encontro da plêiade intelectual da época. Os jornais são já livros feitos em comum. O «escrever em comum» é um sintoma curioso que faz prever um grande aperfeiçoamento na arte da escrita. Talvez cheguemos a poder escrever, pensar, agir em comum. Comunidades inteiras, e mesmo nações poderão empreender uma obra. Novalis citado in Mário Cesariny, «Primavera Autónoma das Estradas», 1980

Neste enquadramento, as entrevistas a Mário Cesariny constituem mais um espólio de grande relevância para o conhecimento, na primeira pessoa como aquilo que tem mais à mão, de uma vida literária, artística e pessoal, e para o estudo de uma actividade surrealista e surrealizante, onde o entrevistado Mário fala de si, da sua homossexualidade, das balizas do poder reinante, da censura, das suas manifestações do maravilhoso, de um real quotidiano e, ainda, de um gato «procurado no Areeiro e finalmente comprado no Mercado da Ribeira. Ambos, “Cadáver Esquisito” e gato, animam o encontro. O gato saltaria depois para os poemas de Cesariny…»2. Estas conversas polémicas, controversas, capazes de prender horas a fio, livres como o gato desprendido que deambula por onde quer, quando quer e como quer, revelam um Mário que nem sempre reunia consensos em torno das suas irreverências, ou se gostava ou se detestava. Inspirava ódios e invejas. Era o único a interrogar a sua noite, por 2

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«Mário Cesariny: “Não vamos dizer surrealismo, vamos dizer poesia”», entrevista de Francisco Vale, Jornal de Letras e Artes, n.º 38, 3 de Agosto de 1982.


isso parecia um fantasma — nem sempre aceite, muitas vezes contestado. Exuberante e extravagante nas suas atitudes, a sua presença impunha-se sempre que aparecia e por onde deambulava. Quem lê Cesariny, mesmo nas frases curtas das entrevistas, rasgadas, firmes, muitas vezes desconcertantes, outras quase aforísticas, numa permanente construção e desconstrução de sentidos, não fica indiferente, pelo contrário deixa-se contagiar por este vertiginoso jogo dos sentidos, onde Entre nós e as palavras há metal fundente entre nós e as palavras há hélices que andam […] palavras diamantes palavras nunca escritas palavras impossíveis de escrever […] Entre nós e as palavras, os emparedados e entre nós e as palavras, o nosso dever falar Mário Cesariny, «You are welcome to Elsinore»

A palavra veste. A imagem desnuda. É por isso mesmo que Cesariny, num grito de liberdade, desnuda o discurso, veste as palavras, tornando-as ainda mais incisivas, pela acidez do sarcasmo. Sendo seu o «dever falar». Das mais de vinte entrevistas, haverá algumas que ficaram por fazer, como a entrevista que o jornalista e escritor José Viale Moutinho, curiosamente, fez e não fez. Deste episódio rocambolesco de uma entrevista que afinal não ficou gravada restam as perguntas, encontradas no espólio de Cruzeiro Seixas, e um relato inédito de Viale Moutinho sobre este acontecimento «surreal»: 55


Em meados dos anos 80, em Santiago de Compostela, o escritor e pintor surrealista Eugenio Granell falava-me com grande entusiasmo da poesia de Mário Cesariny de Vasconcelos. Considerava-o um dos expoentes do Surrealismo. Para ele só comparável a André Breton, que também era das suas relações. Confesso que a ênfase com que Granell disse aquilo me obrigou a uma releitura da obra de Cesariny. Eu conhecera este no final dos anos 1960, na velha Galeria Divulgação, no Porto. Conversámos longamente aos microfones de um gravador que, por inépcia do engenheiro de som, não gravou uma palavra! Desde então mantínhamos uma relação ocasional. Porém, desta releitura mais madura extraí um entendimento bastante interessante. Mesmo mais fascinante. É que em Cesariny cada palavra é um instrumento de liberdade nos vários sentidos. Os seus textos estão rigorosamente correctos e disponíveis para quem deles se queira apossar. Constitui a sua poesia a essência do Surrealismo. Por isso, quando Granell me falava da sua exponência eu, inocente, perguntei: Do Surrealismo Português? E ele, não ligando às maiúsculas, respondeu: Do Surrealismo. ( José Viale Moutinho, 2015)

O percurso por estas entrevistas dá a conhecer um Cesariny de torpor interventivo, um prestidigitador dado a caprichos e para quem «há um sol esplendente nas coisas»3. Cada palavra é um «instrumento de liberdade», são textos ricos e livres, que ficam para sempre, actuais, 3

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Mário Cesariny, «O prestidigitador organiza um espectáculo», Poesia, edição, prefácio e notas de Perfecto E. Cuadrado, Assírio & Alvim, 2017, p. 161.


Perguntas formuladas por Viale Moutinho a Cesariny, em Junho de 1967. Biblioteca Nacional, Espรณlio de Cruzeiro Seixas, n38, cx 14-586.



que devem ser lidos e relidos para reflexão, ficando agora mais disponíveis para o grande público. Estas são linhas que podem dizer muito sobre o poeta e pintor, os seus textos e telas, o surrealismo, uma época ou épocas, sobre um determinado momento. Um mar de textos e de vida, «uma linha de água que suporta e separa e contém os dois mundos e ondula…»4 Como últimas notas parágrafas, uma palavra de gratidão a todos os entrevistadores, jornais e Antena 1 que não só autorizaram sem condições a reprodução dos textos das entrevistas, como colaboraram sem reservas quando lhes foi solicitado. Um agradecimento à Hemeroteca Municipal de Lisboa e a toda a sua equipa pelo acolhimento, pela disponibilidade e pelo profissionalismo nas respostas aos pedidos dos recortes, extensivo à Biblioteca Nacional (Reservados). Finalmente, a todos os que directa ou indirectamente contribuíram para a concretização deste projecto, à editora Sistema Solar | Documenta e à Fundação Cupertino de Miranda pelo seu apoio à edição, sem esquecer o contributo inexcedível do José J. Mateus, jornalista. Uma nota especial ao Bernardo Pinto de Almeida, porque foi a estrada que me abriu caminho ao Mário-rosto da Poesia, corpo do Amor, mar da Liberdade. Outra nota de agradecimento à Célia Cardoso, diretora da Galeria Neupergama, em Torres Novas. A Galeria que celebrava o «grande Fazedor de Utopias chamado Mário Cesariny»5.

4 5

Frase contida no manuscrito autógrafo de Mário Cesariny, publicado no discreto folheto da exposição realizada na Assírio & Alvim, em 1986. José Carlos Gonçalves, texto de abertura do catálogo da retrospectiva 47 Anos de Pintura, Galeria Neupergama, Torres Novas, 1993.

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Mรกrio Cesariny entrevista Carlos Botelho


Mário Cesariny à janela do seu atelier junto à Sé de Lisboa, c.1956. Espólio Fundação Cupertino de Miranda.


Carlos Botelho, pintor de Lisboa, fala de arte moderna, do Milagre de Milão e dos seus primeiros tempos de trabalho. Uma vendedeira de fruta, cabaz à cabeça sobre o lenço vermelho, lança o pregão nas ruas… Aqui não há vento que lhe transtorne a ida, mas a luz desses bairros multicores — Alfama, S. Vicente, Tejo ao fundo — o gatito que desce pachorrento a calçada, o ventre em arco das casas que se inclinam para resistir ao tempo e até a uma janela um vulto feminino a observar quem passa previnem-nos de que se trata de uma paisagem humana muito nossa e em plena laboração. Claro que estou falando da pintura de Carlos Botelho… E não há que referir unicamente o perfeito encontro do pintor com o tema, porque a pintura de Botelho é Lisboa em luz inconfundível e harmónica, como Pissarro é França e Manuel de Falla é Espanha. É essa a grande arte que a fez ultrapassar fronteiras, fazendo-a chegar a Londres, a Roma, a Nova Iorque, a Estocolmo… Tive o prazer de ser um dos portugueses presentes à exposição que Botelho efectuou na Galeria Lucy Krohg, ali à Praça St. Augustin… quero dizer, em Paris, em 1947, exposição que mereceu da crítica parisiense o mais caloroso elogio. E há a dizer que da minha parte o elogio foi outro (não quero dizer melhor…). Foi todo o da surpresa de encontrar, no meio de uma cultura que fala — e creiam que 63


Carlos Botelho no seu atelier, Lisboa, 1957. Cortesia Manuel Botelho.


muito bem — francês, um pintor de linguagem mil por cento nossa, que brilhava ali, ao grande sol universal de Paris, com revérbero bastante para aumentar a cor que por lá esplende. Das palavras que trocámos, e pareceram-me poucas — a pintura era-me ali a linguagem maior —, nasceu-me esta vingança de ir agora procurar Botelho à «Galeria de Março» (expôs até 15 de Maio) a fazê-lo falar…

Diga-me, Botelho, como foi que começou a trabalhar? [O criador das figuras humoristas populares, que fizeram larga carreira nas páginas do Sempre-Fixe, responde à disparada:] Desde os tempos de Liceu, no Pedro Nunes. Aí davam grande importância às Artes Plásticas, faziam-se mesmo muitas exposições de alunos e eu fui encarregado de fazer uns cartazes, que foram «reparados». Foi até com o dinheiro de uma «Caixa Escolar» por nós organizada que comprei a primeira caixa de tintas… Isto em 1917… Fazíamos também, fora dos programas oficiais, por nossa conta e risco, aulas de modelos. Depois de terminar Ciências, entrei nas Belas-Artes, onde tive algumas desilusões. Estive lá dois anos… Depois deitei-me à aventura! Fui operário de cerâmica, desenhei no ABC-zinho, então dirigido pelo meu bom amigo Cottinelli Telmo. Com alguns prémios obtidos em concursos de cartazes consegui um pecúlio que me levou a Paris em 1929. Repeti a façanha dois anos depois… Quais os mestres que mais o impressionaram? Sobretudo, Van Gogh e Henri Matisse, o primeiro pela extraordinária cor, o segundo pelo seu poder de síntese… 65


E quando foi que expôs pela primeira vez? Em 1932, na «Bobone», muito bem recebido pelo público e, em especial, pelos meus camaradas José Gomes Ferreira, Bernardo Marques, Ofélia Marques e outros… Houve até festarola no atelier do Bernardo Marques, na Trav. André Valente… [Mudando o rumo ao meu barco… pergunto:] Como é que o Botelho encara a arte «não figurativa», a arte chamada de «imaginação»? Abstraccionimo, surrealismo, etc. Estou perfeitamente de acordo com a arte de imaginação, que é a própria base da arte, seja ela qual for e desde que o seja a sério. Creio que os movimentos que me aponta são ilimitados como é ilimitada a cor e a capacidade de concepção humana… Continuarão, decerto, paralelamente às artes ditas realistas. [Outra pergunta:] O Botelho sabe como e quanto se discute hoje em dia acerca da arte de futuro?… Que pensa dela? A pintura do futuro deverá naturalmente obedecer a um sentido colectivo de conjunto. Obras murais, intervenção e presença nos edifícios públicos ligados à vida moderna… Entendo, porém, que não deve procurar-se o fácil e o medíocre, deve antes requerer-se a compreensão do público e o esforço de trazê-lo a todas as altas esferas dos caminhos da arte. Absolutamente de acordo. Diga-me agora, Botelho, gosta de ir ao cinema? Naturalmente! Mas já que falou nisso, diga também aos leitores de O Rossio que as minhas preferências, não esquecendo o primeiro cinema alemão, vão para o actual cinema francês, inglês e italiano. Principalmente este último. E conto este incidente, de pitoresco sabor: 66


Mário Cesariny à janela do seu atelier junto à Sé de Lisboa, c.1956. Espólio Fundação Cupertino de Miranda.


estava eu em Milão procurando subir às torres da célebre catedral, quando encontrei a praça coalhada de pasmosas pessoas, de estranho ar vagabundo e cavalgando vassouras. O aspecto era inexplicável, dado que eu não fazia a menor ideia de que se tratava da cena final de O Milagre de Milão que estavam a rodar. Um pouco depois, já no telhado da catedral, encontrei o célebre Tótó e a respectiva heroína, que me explicaram tudo… Assisti assim, e em bela perspectiva, à cena final do filme, que é admirável… [Pela Galeria passeiam narizes no ar a receber em cheio a clara luz que escorre do beiral que é sempre a parede onde Botelho expõe… Uma última pergunta, que a série já vai longa:] Botelho, se algum leitor destas linhas quisesse começar a pintar e lhe pedisse conselho, que faria? [Botelho fica um momento suspenso, como que a rever a sua própria experiência… Depois, num volta-face:] Olhe, sem uma sólida base de desenho não há nada a fazer… Mas depois dessa base adquirida o trabalho é só com o próprio e quanto menos ingerências… melhor. [Encontro à saída, de novo, a meridional cidade que habitamos… Entre a pintura de Carlos Botelho e a cor maravilhosa do espectáculo das ruas não existe solução de continuidade…]

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Mário Cesariny: «A nossa literatura actual é a pior possível»

Bruno da Ponte


MĂĄrio Cesariny com Bruno da Ponte, Edimburgo, 1968. Cortesia JosĂŠ da Ponte.


Mário Cesariny de Vasconcelos, figura central do movimento surrealista português, poeta de Planisfério, personalidade ímpar do nosso meio intelectual, não necessita de apresentação. Sobejamente conhecido dos nossos leitores, o seu depoimento constitui, quer pela originalidade das reflexões, quer pela maneira pessoal de as transmitir, o melhor testemunho da sua posição e da sua individualidade. A nossa missão reduziu-se, assim, ao mero registo das suas considerações sobre os temas propostos.

Que pensa da literatura portuguesa actual? Penso que a literatura portuguesa actual é não só a que enfrenta, e representa, algumas das piores condições em que pode gorar-se a literatura, como é também, ela própria, a pior possível. Ela vai lançada numa corrida cuja meta foi há muito retirada da pista. Não quer dizer que não continue a correr — em círculo — acertando, de quando em onde, nalgumas metas falsas postas pela necessidade da organização e pela decência em que há que conter o público. Tão pouco nego a existência dos talentos — mas uma literatura de talentos é a forma mais degradada que pode assumir uma literatura —, dos 71


esforços, dos sacrifícios, menos ainda a obstinação e o sobressalto dos críticos; tão pouco a possibilidade de existir algures, por publicar ou não, não o sabemos (este, nosso, é um povo que não escreve), a obra que reúna condições para forçar sem limites a nossa admiração. Digo-o para que não creia que embarco demais nas teorias da «fatalidade». Nada disto porém é levedura bastante para nos tirar dos ombros essa nuvem asmática, ou didáctica, e em todo o caso ortopédica, que se desprende dos escaparates das montras e segue em linha fluída as cabeças dos editores. Diria muito sobre esta questão, nem faria questão, creia, de dizer tudo, se quanto dissesse não fosse apenas aspecto subsidiário de um fenómeno mais lato, a partir do qual se entende, há muitos anos já, que a literatura normativa, mesmo quando a sério organizada, perdeu todo o direito à consideração das pessoas de bem. Fora dos ambientes escolares que são os gabinetes da crítica, um romancista, um poeta, um novelista, profissionalizado, oficializado, é, em qualquer parte do mundo, algo que pode dar muita vontade de rir. Isto, quanto a galões. Quanto a praças, não sei se sabe que o surrealismo — mas não só o surrealismo —, vai para umas dezenas de anos, anunciou a morte da literatura, num propósito não muito divergente do da filosofia ainda romântica que, no século passado, tocou os sinos pela morte de Deus. Aproveito para declarar-lhe que o que vejo melhor na cultura contemporânea é ainda, e sê-lo-á por muitos e bons, o século XIX. Não o entenderão assim alguns praças novas cá do sítio, mas gostava de saber com que vão esses chegar ao século XX. Com efeito, para quem, com quê, todo esse afã, que se desqualifica e cai na intentona-descoberta-a-tempo, de escrever um romance, um poema, uma novela a 20 valores (fornecidos pelos próprios) de classificação? Quer um exemplo de maus, de péssimos romances? Eu digo-os: os de 72


Melville, os de Dostoievski, os de Gogol, os de H. Miller, os de Joyce, os de Sade, os de Maturin, os de Broch, os de Hesse, os de Junger, os de Gracq, os de Kafka, os de Proust, os de Jarry, os de Lautréamont, os de Genet. São livros que ignoraram os quatro séculos da eclosão burguesa e, de um ou outro modo, se reportam a um género de comunicação muito mais próximo do Libre de Evast e Blanquerna, de Ramon Llull, ou do Quixote espanhol — é só um exemplo — do que da literatura normativa que começou a vestir-se com Sainte-Beuve. Do mesmo modo, o teatro de Brecht, contemporâneo moderno da expressão medieval, passada a ferro bem quente. Quer um péssimo poeta? Fernando Pessoa. É péssimo, não estou a distrair. No entanto, com Pascoaes, é ele o nosso grande, o nosso querido antigénio. É que, com estes livros e estes homens, a literatura deixa de interessar — mas pergunto-me se, como tal, ela chegou a interessar alguém, em qualquer época — para dar lugar ao reconhecimento de uma expressão moral, de uma progressão no humano, de uma genialidade, de uma desmesura, que nada têm de comum com as artes da escrita. Para nós, só mais três nomes de péssimos poetas: Raul Brandão, Agustina Bessa-Luís, António Maria Lisboa. [Sabendo que Mário Cesariny interviera directamente na polémica acerca dos prémios atribuídos pela Sociedade Portuguesa de Escritores, pedimos-lhe que esclarecesse os seus pontos de vista sobre os prémios em geral e a habitual constituição dos júris. Eis a resposta:] Os prémios literários significam sempre o prémio do bem escrever e são sumamente ridículos pois se, como creio, o génio é incompatível com a habilidade, à Humanidade só os génios interessam, por muito que se esfreguem os talentos à porta da Humanidade. O que é, 73


vamos lá, premiável, ou não, é o ser moral representado no homem, analfabeto que seja, amoroso de maior liberdade, maior realização, mais espaço para a morte. Note que não penso que a cabeça do poeta só depois de morta deva ser coroada, mas isso é outro assunto, ou o único assunto verdadeiro. E note que quando digo poeta não digo fazedor de poemas, digo poeta, figura bem mais vasta do que andam a dar a ler aos tipógrafos. «Coroar-se de rosas» é apelo íntimo de todo o homem em plenitude, seja esta a idade da sabedoria da vida, seja a da própria vida nas várias idades da sabedoria. Se há pouca gente a aparecer coroada, se só a poesia «sonha», ou não se importa, ou deseja, é porque são necessárias forças triplas para surgir em palco iluminado, e, quando tal sucede, é o poeta o primeiro a olhar de soslaio as rosas bravas que um dia lhe ofereçam, não venham lá do fundo manchadas de sangue, de veneno sombrio, do lado da escuridão. Essa história de prémios para a poesia desfolha com um sorriso, a velocidade máxima, um problema de dados muito agudos, quais sejam a intentona de compensação por se existir poeta numa sociedade que assustadoramente não depende de uma vida exaltante, já nem digo poética, para ser sociedade. Ante o estranho apetite dos Camões (da tripa, do estômago, do sexo, dos olhos, do espírito, das mãos), a sociedade, qualquer sociedade, incluídas as sociedades de escritores, não torce um parágrafo ao seu regimento, nem sei se o poderia fazer, mas costuma, de quando em onde, sagrar um imortal para consumo próprio e euforia da classe. Concede então, sestércios, e celebridade, ou mais celebridade, com o que atinge ser quadradamente ofensivo, pois não há como a poesia para saber que o dinheiro é ouro desvirtuado, não transforma nada, não garante nada, não dá direito a nada. Quanto à celebridade… Se 74


MĂĄrio Cesariny com Bruno da Ponte, Edimburgo, 1968. Cortesia JosĂŠ da Ponte.



vê contradição neste meu arrazoado, porque falo e acredito, e quase concorri a um prémio de poesia, e faço versos que andam publicados, digo-lhe já que o foram em última instância, digo: em defesa própria, isto é, julgo saber como é tratado quem não tem seu, ao menos, o cartão de escritor para mostrar aos paisanas. Porém, não engano: confunde-se tão pouco o exercício da poesia com a sua celebrização como um nascimento com um óbito. Para o melhor dos casos: com uma boda. Claro que não faz dano que o poeta ponha fato novo ou, como me foi dito, possa comprar bilhete para ir ver mais mundo. Mas não é isso o que os nossos dos júris, os nossos da edição e os da crítica tramam, perdão, é isso para outra coisa horrível, destinada a selar e a perpetuar a inautenticidade dos juízos. Eu aceitaria um júri que fosse recrutado como os dos tribunais franceses ou americanos, colhido ao acaso entre a cidadania. Depois de cidadãos, os jurados seriam o que quisessem: camponeses, letrados, médicos, serventes, metalomecânicos, pescadores, tanto dá. Mas, antes de cidadãos, coisa nenhuma com direito a direito de opinião e de crítica. Uma vez mais, e última: não me interessam, não interessam os juízos literários, tal como eles foram sendo chocados, sobretudo a partir do século XVIII, de mãos dadas com a indústria da edição. Poderia definir a situação em que surgiu o surrealismo português, caracterizar a mentalidade a que se opôs e indicar o sentido da sua actuação? Há não tão pouco tempo como isso havia duas maneiras de aparecer fortemente recomendadas pela crítica: a maneira de aparecer neo-realista (gregários) e a maneira presencista de aparecer (individuais). Estes, apesar de tudo, os melhores, pois umas terceiras escritas aparecidas — lembro os «independentes» com Jorge de Sena nos 77


Cadernos de Poesia — caíram numa matemática que ainda hoje está para melhores dias. Mas, à canonização do literário proposta pelos magísteres da Presença contra os excessos da exaltação da vida trazidos pela gente do Orpheu; primeiro, contra a «má escrita», depois, do neo-realismo, para o qual toda a página estava óptima desde que incursa no traço ideológico característico, veio sucedendo com o mesmo neo-realismo, não o menosprezo do literário, embora a princípio parecesse e a espaços se afirmasse, mas a dignificação, outra vez, do literário, agora usando os votos da maioria e utilizando-lhe quanto possível os bens. E dado que a maior parte dos novos escritores eram província formada em Coimbra — outro traço de semelhança com os da Presença, outro de dissemelhança com os do Orpheu —, a literatura encheu-se de ti Anas, ti Júlios, ti Caniços, não vinda ainda a hora entre todas cristiana, de estudar o seu landim. Foi neste espaço artístico-intelectual que, entre nós, o surrealismo fez erupção, pois estas figuras outras, bem mais capazes de alimentar a nossa necessidade de exemplarismo do que a estreia do Redol, com Gaibéus, ou a gritaria de Régio, n’As Encruzilhadas de Deus, pareciam extintas ou existiam longe da disponibilidade.

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Entrevista com Mário Cesariny de Vasconcelos: «No processo de libertação dos espíritos não é mais importante o movimento surrealista do que o dadaísmo»

Bruno da Ponte


Desenho de MĂĄrio Cesariny para A Cidade Queimada, publicado pela primeira vez na AssĂ­rio & Alvim, 2000.


Tendo regressado há pouco do estrangeiro onde, primeiro em Paris e depois em Londres, se entregou, como bolseiro da Fundação Gulbenkian, ao estudo da obra de Vieira da Silva, Mário Cesariny acaba de publicar, em edição especial, ilustrada com desenhos de Cruzeiro Seixas, o livro de poemas A Cidade Queimada. No sábado passado, Mário Cesariny leu, na Livraria Divulgação, todos os poemas de A Cidade Queimada, tendo também autografado grande número de exemplares. Através da leitura dos poemas, o público que ainda desconhecia a obra pôde tomar contacto com os novos elementos e a nova visão que o poeta — transitoriamente ou em definitivo? — incorporou ao seu universo já revelado, através de uma expressão que atingiu um rigor inexcedível. No final da sessão, Cesariny leu o que será o primeiro prefácio da Antologia Dadá, que está a organizar, uma carta de Cruzeiro Seixas, um texto de Virgílio Martinho e um poema que dedicou a Vieira da Silva. Interessados nos diferentes aspectos da sua actividade mais recente, procurámos obter, nesse mesmo dia, algumas declarações de Mário Cesariny de Vasconcelos.

O que significa A Cidade Queimada, título do seu último livro de poemas? E a que se deve? 81


A Cidade Queimada é o título de um quadro de Vieira da Silva que vi em Grenoble. Tanto me impressionou a tela e o título que, mais tarde, pedi ao autor, em Paris, me autorizasse a usá-lo. Não digo que haja relação directa entre o quadro e os poemas do livro; há mais, mais forte do que isso: dois extremos que se tocam, se abraçam, partidos ambos de mundos diversos. Por um texto que publicou há tempos no Jornal de Letras e Artes, sou levado a crer que a obra que está a escrever sobre Vieira da Silva não exprimirá o ponto de vista de um «crítico de pintura», no sentido corrente da expressão. A obra será, ao mesmo tempo, mais e menos do que isso. Será, parece, outra coisa. Poderia esclarecer a sua «maneira» de entender e falar de Vieira da Silva? Gostaria que os elementos que colhi sobre a pintura de Vieira da Silva pudessem focar alguns aspectos, que considero importantes e que não vejo explanados em quaisquer dos ensaios críticos vindos a lume até agora. Com Vieira da Silva, integrada pela crítica na chamada Escola de Paris, passa-se um pouco o que de resto acontece aos valores que, desde a primeira década do século, demandaram a capital francesa como terreno ideal de realização artística: integra dados a que os críticos da dita Escola de Paris — designação, aliás, suficientemente genérica para chamar a si todos os valores — nem sempre atendem integralmente. Não me proponho portanto «descobrir» este pintor — descoberta e desbravada, sobretudo a partir de 1950, pela atenção espantada e pelo elogio unânime dos críticos, mas chamar a atenção das pessoas para algumas chaves magnas da obra de Vieira no caminho da sua afirmação; isto no momento em que a primeira retrospectiva, aberta em Grenoble e levada a Turim, facilita, creio que pela primeira vez, este género de empresa. 82


Desenho de MĂĄrio Cesariny para A Cidade Queimada (pormenor), publicado pela primeira vez na AssĂ­rio & Alvim, 2000.


Arpad Szenes, Vieira da Silva e Mรกrio Cesariny no Loire. Fotografia de Alberto de Lacerda.


Que relação existe entre o seu «universo» e o de Vieira da Silva? O «universo» de Vieira da Silva toca-me tão de perto como o de um Kafka, ou de um Borges, com os quais, aliás, tem estreita relação. Interessa-me, mais, intrigou-me, como pode intrigar uma visão que, no silêncio total de que se reveste, grita incessantemente, obstinadamente, a sua descoberta, a sua força de destruição e reconstrução, intermináveis, do mundo. Realmente, não me ocupa um trabalho de crítica de arte, embora aqui ou ali por lá se atravesse, mas a observação, e os caminhos de relação de uma visão do mundo que, para mim, se inicia no século XII italiano, passa aos primitivos flamengos, se oculta durante os séculos clássico e romântico, para deflagrar, com violência inaudita, e inaudita realização na pintura de Vieira. Sabemos que está a organizar uma Antologia Dadá, que é o resultado da descoberta de textos dadaístas recentemente revelados ou da releitura, a uma nova luz, de escritos já conhecidos. Essa Antologia pretende contribuir para uma revalorização do dadaísmo e das suas relações com o surrealismo francês? Não é mais importante o movimento surrealista do que o dadaísmo no processo de libertação dos espíritos a que a Europa assistiu, entre divertida e aterrada, à partida da Primeira Guerra Mundial. Somente jogam com valores diversos. E acho que é urgente, no momento em que o surrealismo atinge o «decepcionante triunfo» a que Breton se refere, inquirir, nas origens do movimento, estreitamente ligadas a Dadá, como se sabe, o que foi confirmação e o que foi desvio entre a necessidade de revolta e a vontade de afirmação. Um passo de Déjà Jadis, de Ribemont-Dessaignes, diz-nos que é preferível sair-se pobre dos grandes cataclismos do que com as aparências da riqueza. 85


A «pobreza» refere-a Dessaignes à morte do movimento dadá, tocando a «aparente riqueza» aos avatares que o surrealismo conquistou. Este é outro trabalho que só agora pode ser tentado, em melhores termos, — saídos enfim do silêncio de terramoto que o hitlerismo provocou — por alguns dadaístas alemães que prosseguiram, mais ou menos até ao advento de Hitler, e não ligados ao surrealismo francês, o caminho de dadá no mundo. Outros, como Picabia, só agora atingem a sua total dimensão. A publicação, em Nova Iorque, de The Dada Painters and Poets, há quinze anos, abriu as primeiras páginas do processo Dadá, agora em curso. A «minha» antologia dará, entre nós, cumprido meio século sobre o nascimento, em Zurique, do movimento, algumas páginas reveladoras.

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Conversa com Mรกrio Cesariny

Maria Teresa Horta


Lançamento do livro 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres, na Livraria Quadrante. Natália Correia, Mário Cesariny, Henriette Cesariny e Germano, 1971. Espólio Fundação Cupertino de Miranda.


Foi com um baile que Mário Cesariny apresentou o seu último livro, 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão. Provocou esse baile grandes indignações em certos meios intelectuais desta nossa «pequena» Lisboa…

Mário Cesariny, como lhe ocorreu a ideia de dar um baile no lançamento do seu livro? Desculpe, não fui eu que dei o baile mas sim a Maria Alice e o Eduardo Ferreira, editores, que de concerto comigo, com o Mello e Castro e com Cidália de Brito aderiram encantados à ideia. Parece que me limitei a ir ao encontro de um desejo comum, pois todos, e sobretudo a Maria Alice, foram magníficos na efectivação dessa tarde dançante. Mas houve um desejo, um motivo pessoal? Sou contra a leitura de livros nas livrarias. Dá mau aspecto. E desde que vi Allen Ginsberg lançando poemas a uma multidão frenética de muitos milhares de jovens fiquei céptico quanto às alegrias proporcionadas pelo lançamento de um livro entre nós. O cerimonial usado, com leitura de versos feita pelo poeta levado à presença solene de uma pseudocrítica de olho de goraz e passo de mula, faz mal a qual89


quer estado de saúde. Pelo contrário, um baile pode sempre ser um êxito, mesmo à escala caseira, pois organização e requisitos técnicos são de rigor mínimo, basta haver uns discos e trazer o corpo. Muita gente a dançar? Cheio de gente a dançar. E também de gente a não dançar. Desta última, cito-lhe dois casos. Um sacerdote lamentava, junto do amigo que nos apresentou, que as ordens recebidas o impedissem de bailar. Poderá ter falado assim por graça, por finura de espírito, mas a isto chamo eu um êxito e faço sinceros votos de que um tal lamento chegue a reivindicação. Realmente, porque não hão-de os sacerdotes dançar nas livrarias? Depois de mortos não vão poder fazê-lo. Noutro sector, um pequeno representante da chamada Poesia 61 ficou todo o tempo à porta da rua (lado de dentro). Observando tão estranho procedimento fui ter com ele admoestando-o, dizendo-lhe que gozasse um pouco a vida, homenagem que o homem não entendeu, não aceitou, perseverando num mutismo de fazer recta paralela à imobilidade assumida. Aí, achei-o demais e chamei-lhe Poesia 16, que é o que realmente penso, sobretudo no caso do Gastão Cruz, daquilo a que o G.C. chama Poesia 61. A criatura, imagine a Teresa Horta, saiu pela porta fora! Teria mais que fazer, não duvido, mas o certo é que frustrou sabiamente o meu desejo de dizer-lhe mais tarde que no Museu Municipal de Amarante, ou do Marco, ou em ambos ao mesmo tempo, está um quadro meu que lhe é dedicado. Desculpe. Porque diz em ambos ao mesmo tempo? O quadro é do engenheiro Pedro Alvellos que de quando em quando o muda de Museu. É um retrato? 90


Bastante. Chama-se Para o Túmulo de Gastão Cruz. Voltando à Quadrante, é claro que estas pequenas manchas de humidade não empanaram em nada a graça e a frescura da reunião. Estiveram nela o Cruzeiro Seixas, a viscondessa de Atouguia, o Francisco Pereira Coutinho, o António Areal, o Armindo Rodrigues, o João Gaspar Simões, o Maurício de Macedo, a Isabel Meyrelles, o Francisco de Sousa Neves, a Dorita Castel-Branco, o Otelo Azinhais, o Fernando Luso Soares, o Mendes de Carvalho, o Germano Pereira da Silva, o Ruy Malho, o Francisco Esteves, a Jeanne e o João Pinto de Figueiredo, a Maria José Lancastre e o António Tabucchi, a Maria Cristina e o Alexandre Pinheiro Torres, a Natália Correia, a Paula Almada Negreiros, o Dórdio Guimarães, o Rui Mário Gonçalves, a Regina Palla, o Fernando Ribeiro de Mello, a Wanda Ramos, o Mello e Castro, a Cidália de Brito, as minhas irmãs Luísa e Henriette. Mas quem a todos levou a palma foi o Fernando Grade, que valsou do primeiro ao último disco. Excepcional, merecia bem o Aldonso Ortigão! Quer dizer-nos alguma coisa sobre o seu livro? Não. E das palavras, parece que bastante ofensivas, de Nelson de Matos a propósito do baile na livraria? Remeto ao passo de mula caracterizado supra. E a uma correcção: será verdade que tive um «reino» — quem é que o não teve neste País de monarcas? — mas não o é dizer-se que o tenha vendido: dei-o, sem nada em troca, repudiando até a gratidão (de mula) dos que em tal «reino» obtiveram postos. Foi isso no dia em que percebi que os meus amados súbditos não valiam um caracol. Queriam-me, a mim, para rei dos caracóis? Vão para as estacas do Castelo de S. Jorge! Para a Imprensa dos pequeninos! Para o Wisconsin, no Illinois! 91


Tem qualquer outro lançamento em projecto? Um disco que gravei para a Philips com versos de 1942-1949. E um livro que entreguei ao Ribeiro de Mello com cartas e desenhos colectivos de mais ou menos todos os surrealistas, em português e de alguns outros que existem em Paris, Chicago e Amsterdam. Haverá baile, é evidente, mas como se trata de um livro não só meu, irei para o estilo quadrilha, com música de Satie e do primeiro livro de Schmol.

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O diรกlogo em 1972

Mรกrio Cesariny de Vasconcelos (MCV) Mรกrio-Henrique Leiria (MHL) Cruzeiro Seixas (CS) ร lvaro Guerra (AG testemunha e entrevistador)


«Grupo Surrealista de Lisboa»: Mário Cesariny, José-Augusto França e Vespeira (em cima), António Pedro, Alexandre O’Neill e João Moniz Pereira (em baixo), 15 de Maio de 1948. Espólio Fundação Cupertino de Miranda.


Vamos conversar, recusando qualquer formalismo. Pessoalmente, recuso-me a agir como moderador. Penso que, neste caso, não há moderação possível. Gostaria de vos perguntar como é que vocês se encontravam. Em que altura? Em que circunstâncias? MHL Foi por causa de um gato. Um gato que foi oferecido ao sr. Guilherme Filipe. E havia também uma exposição de artes plásticas. Em 1948. Eu mandei obra para exposição, o que me valeu uma carta a dizer mais ou menos: Gostámos, apareça. Ainda tenho essa carta, assinada por vocês e pelo Lisboa. Eu fui, numa noite em que havia a entrega de um gato. Antes, encontrámo-nos no falecido Café Royal. AG Não sei se será importante apurar quem entregou o gato e quem o recebeu… MCV Ah, sim! É muito importante. Tudo começou no Jardim Universitário de Belas-Artes, de que era animador o Guilherme Filipe e composto por umas pessoas, que nem todas seriam tão tristes como pareciam. Eu fui lá, já me não lembro com quem, e estava o Sant’Anna Dionísio e mais outros filósofos, e para-filósofos. Portugueses. MHL Também lá estava o Armindo Rodrigues… MCV Estavam a fazer uma homenagem ao Teixeira de Pascoaes. Mas o Pascoaes filósofo era um equívoco e aquilo tinha o aspecto de um enterro, era o enterro sumário do Pascoaes, que não foi um grande filósofo, mas foi um grande, um imenso poeta. Eu interrompi, creio que AG

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o Sant’Anna Dionísio — talvez a pessoa mais estimável que lá estava — e disse realmente que aquilo era o enterro do Teixeira de Pascoaes. Seguiu-se uma troca de palavras um pouco confusa, mas o Guilherme Filipe sugeriu que nós fossemos ali fazer um debate sobre o surrealismo. Saí muito contente e fui logo dar a boa nova ao António Maria Lisboa, ao Pedro Oom e ao Risques Pereira. O Seixas estava ausente e o Mário-Henrique ainda não tinha aparecido. E então nós fizemos uma coisa infernal, que é o texto d’A Afixação Proibida… MHL Fez-se um outro mais tarde em que eu dizia ter nascido em 1923 e ter morrido como toda a gente sabe, em 1783, em Paris. MCV Onde é que tens esse papel? MHL Não sei perdi… MCV Tens é que ir ao baú procurá-lo. AG Voltemos ao gato. MCV Talvez esteja a alongar-me muito… Mas a «intentona» foi esta: eu li, nessa sessão para que fomos convidados, um «cadáver esquisito». Lembro-me que foi feito em casa do Lisboa, tínhamos vários livros à mão e íamos passando de um livro para outro e misturando várias passagens. Um dos livros lembro-me que era do RabindranathTagore um trecho aliás muito bonito. No fim, resultou um monstro infernal — pensámos nós inicialmente. Mas, ao ler, a coisa revelou-se e afinal, não era nada monstruosa pelo contrário, era claro, até muito claro como intervenção poética. Então, após a leitura do JUBA, ficou tudo muito aflito e a perguntar «o que é? mas o que é?». Nós tínhamos dito o que era. Nessa altura já lá estavam o Cruzeiro Seixas, o Pedro Oom, eu, o Lisboa. Também lemos poemas, mais um texto do Jorge de Sena muito interessante — então, ele considerava muito o surrealismo. Essa intervenção nossa transformou o Jardim de Belas-Artes em algo vivo. 96


Claro que também nós tivemos uma quota-parte de provincianismo (o que nós fazíamos estava por nós próprios recentemente descoberto e era um movimento que existia desde 1924) por culpa nossa, por culpa do meio, ou de ninguém. No meio intelectual lisboeta, a nossa iniciativa teve grande pompa, porque aqui não se sabia o que era — alguns saberiam o que era mas não queriam falar nisso… MHL O que acontece é que nós tínhamos saído da guerra com uma raiva enorme, zangados, a roubar livros de Orozco — lembras-te, Seixas… CS Se me lembro! MHL … e a dizer «Queremos Orozco! Queremos Orozco!». E, afinal, a guerra acabara e nós estávamos tramados. Não havia vitórias. MCV Não havia nenhuma… MHL … de lado nenhum. Estávamos roubados. Então, uns em Lisboa, outros em Carcavelos, outros em Estarreja, começámos a descobrir coisas. Como dizia o França, «o livro de Nadeau trouxe-nos a verdade!». E o Margarido também disse. Mas não foi o livro do Nadeau, não. AG Bem, e o resto da história do gato? MCV Um momento. Eu quero lembrar que nós estávamos, na época, um pouco sós. Por um lado havia os neo-realistas, pelo outro, o chamado Grupo Surrealista de Lisboa. Quanto ao gato, a coisa do JUBA, na qual eles queriam que a gente explicasse o que éramos e o que era o surrealismo. Nós já tínhamos dado a explicação possível e necessária, que era termos estado ali com os nossos textos. Nessas sessões apareceu muita gente: o António Pedro e o «grupo surrealista de Lisboa», uns médicos que fizeram intervenções sobre psiquiatria, o Cândido Costa Pinto, que explicou porque é que fazia aquelas pinturas. O certo é que as pessoas estavam cada vez mais excitadas. Nessa sessão já havia até 97



posfรกcio

Cesariny (des)entrevistado e apenas entrevisto

Perfecto E. Cuadrado


Perfecto E. Cuadrado e Mário Cesariny na casa da Rua Basílio Teles, em Lisboa, c.2004-2005. Fotografia de António Gonçalves.


Em 1996 iniciávamos, um grupo de argonautas amigos, a aventura de tentar uma cada vez mais estreita e fraterna relação entre as terras e as culturas dos dois lados da Raia desde a Poesia e através de uma revista — Hablar / Falar de Poesia — que reunia uma dezena de revistas poéticas espanholas e portuguesas seguindo, embora de maneira muito diferente, o caminho da revista Espacio / Espaço Escrito (1987), as duas publicações com o apoio fundamental da Junta de Extremadura e com os mesmos dez mil capitães que depois passariam sucessivamente a fazer parte da tripulação do Navio de Espelhos, entre eles Ángel Campos Pámpano e Hermínio Monteiro. Para o número 3 de Hablar / Falar de Poesia (2003) pediram-me uma entrevista com Mário Cesariny, e eu confessei que ele nunca tinha querido aceitar esse meu pedido, mas voltei à Rua Basílio Teles, pedi mais uma vez, e ele, com o seu riso convulsivo das grandes ocasiões, disse-me que eu devia inventar a entrevista, e que depois ele confirmava tudo. Não tive coragem — talvez pela suspeita de que depois iria negar tudo sem deixar de rir e antes de um grande abraço de cumplicidade, desculpas e carinho — e acabei por fazer uma entrevista/não-entrevista que agora aqui aparece como posfácio/não-posfácio para lembrar, mais uma vez, o Mestre e companheiro de barricada. A entrevista/colagem ia assinada pelo 411


meu semi-heterónimo Fray Perfecto de Zamora-sur-Mer, transmontano-do-lado-de-lá, visto do lado de cá, e que já foi identificado alguma vez — coisas do acaso objectivo — como pseudónimo do saudoso mestramigo Ángel Campos Pámpano. Vamos lá.

Prossigamos com o que, em tom surrealista e português, poderíamos designar como um último «aviso a tempo por causa do tempo»: o Sr. Mário Cesariny não gosta de entrevistas, principalmente se forem acompanhadas de equipamento audiovisual (gravadores, câmaras, etc.) e, principalmente, se quem as solicita são, ou parecem ser, ou se consideram, ou se dizem que são realmente seus amigos. Não pense o malicioso e bem informado leitor que digo isto por captatio benevolentiae ou mea culpa — é o próprio entrevistado que fala: Não digo não ao seu jornal, como não disse a outros, mas não gosto de entrevistas. Não é um diálogo, uma troca de impressões, falsa ou verdadeira, é um exame, ainda por cima remetido a um terceiro que está ausente. Acho que a única entrevista de que não me arrependo de todo foi a que dei a Afonso Cautela, para A Capital. Eu só disse porra, cus e vão-se foder. Como Afonso Cautela conseguiu dar algum sentido àquela maná, é prova do génio português [TS]. Há mais de quinze anos que conheço Mário Cesariny e outros tantos que procuro fazer-lhe uma entrevista, que está sempre a ser adiada, a aguardar melhor ocasião: «ta, ta, ta… deixa lá isso, hoje estou assim um pouco…» (toca na cabeça com o dedo, acaricia a barriga 412


com a palma da mão, faz caretas de improváveis dores mal definidas), «olha isto aqui…» (pega num livro, aponta para um quadro ou um objecto, levanta-se, move-se inquieto, olha de soslaio para se certificar de que já desisti da entrevista e nem me lembro dela… e faz então o gesto mil vezes repetido de levantar os ombros e abrir bem os olhos e encher o quarto com uma gargalhada triunfal de uma só nota — Ah! ). Apesar do meu insistente assédio de trovador e graças à sua resistência de velha senhora, ainda não tenho a minha entrevista, mas em contrapartida partilhei com ele longos períodos de conversa e silêncio que morrerão comigo (não há mal que não venha por bem). Sim, gostaria de ter registado o seu pensamento em voz alta sobre a história de Portugal e sobre as suas tentativas de a reescrever com urgência, colocando no lugar devido algumas das personagens mais conhecidas dessa história, como o Sr. D. Dinis (dedo para baixo), a sua mulher sofredora e heterodoxa (dedo para cima), a pouca sorte que fez o rei D. Sebastião cruzar-se com o mouro português que o matou em Alcácer Quibir (ou não, quem sabe, alguns ainda o esperam), a verdadeira história de amor no triângulo formado pela freira de Beja, o seu irmão e aquele que viria a ser marechal de França (embora este episódio esteja quase fora da história de Portugal que interessa a Mário Cesariny). A história de Portugal, sem dúvida mais interessante do que a história do Surrealismo, acaba no século XVI [TS]. E para continuar com as histórias da História, gostaria também de poder reproduzir por escrito as suas opiniões sobre algumas das suas (nossas) afinidades electivas, desde Ramon Llull, Arnaut de Vilanova ou Francisco de Holanda a Fourier, Rimbaud, Victor Brauner, Breton ou Antonin Artaud… 413


O Breton é o fim de qualquer coisa. O Artaud é um começo. O Breton levou as coisas até um limite que parece final. O Artaud vai além disso, foi buscar outras civilizações, uma antilinguagem. Gosto mais do Artaud, que decidiu viver o seu drama como tragédia cósmica [FL]. … e de Pessoa Pessoa foi o início de qualquer coisa que ainda não sabemos bem o que é [FL]. … a António Maria Lisboa O António Maria Lisboa é pouco classificável. A sua poesia não é agradável. Mas foi um homem decisivo porque abriu uma nova via, ou talvez uma via esquecida, que será cada vez mais importante. Foi um homem de magia, de um novo saber que concretizou minimamente [FL]. As entrevistas que outros conseguiram fazer com ele, as palavras que outros conseguiram dele, ajudam-me e ajudam-nos a saber algo mais sobre o que pensa o autor de Pena Capital sobre questões que têm que ver com o seu compromisso como pessoa e como artista reunidos numa só paixão. Ou seja, no Surrealismo: Olhe, essa palavra está tão gasta, tão usada, que temos de arranjar outra. O surrealismo foi uma grande esperança. Deu grandes escritores e grandes pintores [FL]. O entrevistador surpreende-se pelo tempo verbal usado e pergunta-lhe se «está a falar em termos de passado», ao que ele responde com rapidez: Na minha óptica não há uma só das premissas do surrealismo que não guarde as suas virtualidades [FL]. Talvez esse «desgaste» tenha algo que ver com o conhecido fenómeno paranormal da «integração» (antes, desintegração) em forma de em414


Perfecto E. Cuadrado e Mรกrio Cesariny na Galeria Neupergama, Torres Novas, 1998. Cortesia de Perfecto Cuadrado.


balsamamento, com fagotes, do ensino universitário e da crítica oficial ou devidamente autorizada: Não está. Não vamos dizer surrealismo. Vamos dizer poesia. Porque surrealismo é o que existe de mais parecido com a poesia. Não se ensina, não é possível. Tudo o que é pedagógico é muito mau. Tudo o que nasce como revolta é um tormento. O surrealismo foi um convite à poesia, ao amor, à liberdade, à imaginação pessoal. O surrealismo reuniu o romantismo, o simbolismo, o futurismo, as tradições libertárias e outras correntes, e deu-lhes um sentido. Esse sentido não vai desaparecer, ficou explícito. Aquilo a que se chamou o surrealismo existiu sempre… [FL] Nas minhas divagações quase históricas e semicríticas defendi (e continuo a defender, pelo menos por enquanto) a existência real de um «movimento surrealista» em Portugal (com todos os «mas» que se queiram), algo que Cesariny não reconhece, assegurando ao mesmo tempo que a inexistência de tal «movimento» foi precisamente o que deu ao Surrealismo português a sua maior força e originalidade. Os motivos (de Cesariny): Acho que o motivo principal foi a existência de uma ditadura. Se fizéssemos um movimento íamos presos. Não era essa a nossa ideia. A nossa ideia era não irmos presos. Claro que era possível ter formado um movimento, é possível ser-se mártir, ou herói, matar-se alguém ou ser-se morto. Mas a verdade é que tínhamos um certo amor à vida […]. Mas por um lado, foi bom que não tenha existido um movimento organizado como em França. Porque aí houve ditames e até expulsões. A ausência de estruturação deu ao surrealismo português uma enorme vitalidade externa [FL]. Em Portugal nunca houve um movimento surrealista, nem sequer no ano de existência pública (1948-1949) do 416


Grupo Surrealista de Lisboa, que depois da edição de quatro cadernos, de um protesto público e de uma exposição de pintura se dissolve, dando lugar a outro grupo que também não tardará muito a dissolver-se. Como seria possível subsistir, ou subsistir-se na ditadura? O surrealismo português viveu e morrerá, talvez, clandestino [CAM]. Movimento organizado ou agrupamento de individualidades, houve uma «intervenção» surrealista e os dardos dessa intervenção tiveram como alvo literário mais imediato a poética dominante em meados dos anos 1940 em Portugal: Há não tão pouco tempo como isso havia duas maneiras de aparecer fortemente recomendadas pela crítica: a maneira de aparecer neo-realista (gregários) e a maneira presencista de aparecer (individuais). Estes, apesar de tudo, os melhores, pois umas terceiras escritas aparecidas — lembro os «independentes» com Jorge de Sena nos Cadernos de Poesia — caíram numa matemática que ainda hoje está para melhores dias [s.a.]. O que resta dessa «intervenção», o que é feito do Surrealismo? Do Surrealismo NÃO RESTA NADA, mas acontece que ESTÃO TODOS. Permanecem intactos os propósitos, fins e meios da intentona surrealista de 1924. […] O Surrealismo continua a ser o último enunciado verdadeiro dos problemas centrais do nosso tempo, para quem quer viver como um homem, e não como um porco farto e satisfeito. Como filosofia, como poética, como busca da direcção desconhecida, da divindade civil: Liberdade, Igualdade, Fraternidade, deram lugar aos mandamentos sagrados do Surrealismo: Liberdade, Amor, Conhecimento [CAM]. Conscientes do abismo que nos separa das palavras, que separa a experiência poética da sua impossível tradução, mas também cons417


cientes do dever (auto-imposto) e da vontade de «falar», de «traduzir» (ver «You are welcome to Elsinore»), Cesariny publicava os seus poemas ao mesmo tempo que lutava com as limitações da pintura, até que um dia passou a dedicar-se quase exclusivamente a esta última: Escrevo desde 1942. A febre durou doze anos. […] No fundo escreve-se sempre o mesmo verso. Escrever poesia é uma espécie de invocação. Mas não se pode estar toda a vida a invocar o mesmo santo, sobretudo se ele não aparece. Assim sendo, não rezo mais. […] A pintura parece não bulir tanto connosco. É imagem à mesma mas parece exterior. É um trabalho de mediação em que parece não se estar implicado. Na poesia, na escrita, estão todas as nossas vísceras [FL]. Trabalho inútil, sentimento de perda, saudade, arrependimento? O entrevistador lembra que «alguém escreveu que a sua poesia é um grito que conhece a sua própria inutilidade» e Cesariny responde: Uma pessoa que está convencida da inutilidade do seu grito, não grita. A poesia que escrevi é uma coisa que me foi e ainda é útil. Se o é para os outros não sei. A questão da inutilidade não se põe. Já Valéry dizia que o poema é o acto de criar, é a criação de um espaço. É um exercício de libertação em que muito daquilo que nos ensinaram não serve para nada, antes pelo contrário [FL]. É por esse carácter de «exercício de libertação», de criação de espaços e tempos íntimos de iluminação e de realidade transfigurada, que — embora aborrecendo poetas e poéticas ou pelo menos assim se manifestando em gesto público e teatral para retirar as águas estagnadas — se reconhece o trabalho e a alegria de quem decidiu armar as suas tendas fora da cidade platónica. Quanto ao resto, traquinas como é, brincalhão e travesso e feliz como uma criança num dia 418


Perfecto E. Cuadrado e Mário Cesariny em Tenerife, 1999. Fotografia de María Payeras.


sem escola, apenas me disse ao telefone o seu penúltimo desejo e vontade: Sabe, ó Prefeito, o que eu tenho pensado é vender parte da minha obra, comprar um carro enorme, contratar um chauffeur e viajar até ao dia da viagem definitiva. Viajar, talvez, em busca daquele gato que um dia Risques Pereira viu como partia para a aventura com o ar elegante, distante e ausente que caracteriza e define aquele animal sagrado, dandy dos telhados, das açoteias e de lugares ainda mais altos, que, como diria Cesariny, os lepidópteros burgueses nunca conseguirão domar. E o Mário ri e ri, e nós rimos, e ri de novo quando coloco por escrito esta colagem maluca de leituras e memórias, esta homenagem desarticulada renovada ao Poeta que me conhece e me ensinou que, no fim, apesar de tudo e quase contra todos, a Pirâmide existe.

nota: Para o quebra-cabeças anterior utilizaram-se as seguintes entrevistas: [s.a.] Jornal de Letras e Artes. Lisboa, n.º 48, 1962, pp. 1 e 12. [FL] Entrevista a Francisco Vale, Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 38, 3-16.8.1982, pp. 2-4. [CAM] Entrevista a César Antonio Molina, Jornal de Letras, Artes e Ideias. Lisboa, 20.2.90, pp. 6-7 [Publicado em espanhol pelo Diario 16 / Culturas]. [TS] Entrevista a Torcato Sepúlveda, Público, 24.5.1991, suplemento «Fim de Semana», pp. 6-9.

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Origens das Entrevistas – Referências Índice Remissivo


Mรกrio Cesariny em Dinan, Franรงa, Marรงo de 2000. Fotografia de MR.


ORIGENS DAS ENTREVISTAS – REFERÊNCIAS

Mário Cesariny entrevista Carlos Botelho, «Entrevistas por Mário Cesariny de Vasconcelos», O Rossio, Ano 1, n.º 1, 1952. Mário Cesariny anunciava para o n.º 2 de O Rossio uma entrevista a Almada Negreiros (in Daniel Brito Rebelo de Sousa Pires, Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX, vol II, 1.º e 2.º tomos, 1941-1974, Lisboa, Grifo, sem data). «Mário Cesariny: “A nossa literatura actual é a pior possível”», Bruno da Ponte, Jornal de Letras e Artes, Ano I, 29-8-1962. «Entrevista com Cesariny de Vasconcelos: “No processo de libertação dos espíritos não é mais importante o movimento surrealista do que o dadaísmo”», Bruno da Ponte, Jornal de Letras e Artes, n.º 225, 19-1-1966. «Conversa com Mário Cesariny», Maria Teresa Horta, A Capital, 4-8-1971. Incluso na obra As Mãos na Água a Cabeça no Mar. Entrevista concedida a Maria Teresa Horta no lançamento do livro 19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão seguidos de Poemas de Londres, edição Livraria Quadrante, Lisboa, 1971. «O Diálogo em 1972», Álvaro Guerra (testemunha), Mário Cesariny de Vasconcelos, Mário-Henrique Leiria, Cruzeiro Seixas (participantes), António Maria Lisboa (também esteve), República, 14-12-1972. A entrevista faz parte do Suplemento «Artes e Letras» todo ele dedicado ao Surrealismo, intitulado «Surrealismo – da exposição (1949) à posição (agora)», publicado no jornal República, 14-12-1972. António Maria Lisboa (1-8-1928 / 11-11-1953) está na fotografia reproduzida no artigo, junto de excertos de A Afixação Proibida.

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«Fulgor e morte do surrealismo e uma tarde com Mário Cesariny», Francisco Belard, A Luta – Jornal Socialista, Pluralista e Independente, n.º 740, Ano III, 10-2-1978. «Mário Cesariny: um surrealista polémico — “Os pigmeus não escrevem sempre nas páginas do Diário de Notícias”», António Duarte, Tempo, 13-9-1979. «Mário Cesariny: “Não vamos dizer surrealismo, vamos dizer poesia”», Francisco Vale, Jornal de Letras e Artes, n.º 38, 3-8-1982. «Cesariny: “Somos todas as épocas…”», Francisco Belard, Expresso, 12-1-1985. «Três perguntas a Mário Cesariny», A Phala, n.º 1, Abril/Maio/Junho, 1986. «Mário Cesariny: Um almirante de um navio de espelhos», Bernardo Pinto de Almeida, suplemento «Das Artes e das Letras», Primeiro de Janeiro, 25-5-1988. «Cesariny: “Fernando Pessoa? Um emprego público”», A. Sérgio S. Silva, Semanário, 4-6-1988 / Semanário, 26-11-1988. «A aventura de um poeta: “Morri duas vezes, à terceira é de vez”», Afonso Cautela, A Capital, 19-8-1989. Reproduz-se e transcreve-se uma carta (autógrafo) de Mário Cesariny dirigida a Afonso Cautela, publicada na revista A Ideia, n.º 71/72, 2013. Cesariny desafia Afonso Cautela a fazer-lhe uma entrevista. «Mário Cesariny: “Do surrealismo não resta nada”», César Antonio Molina, Jornal de Letras Artes e Ideias, n.º 398, 20-2-1990. «Del Surrealismo no queda nada…», de César Antonio Molina, foi publicada em primeira mão no jornal espanhol Diario, Culturas, n.º 236, 16-12-1989 (documento localizado no espólio de Cruzeiro Seixas, na Biblioteca Nacional – n38 cx 24 doc. n.º 1525).

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«Mário Cesariny: “Emanava de Breton um poder magnético”», Torcato Sepúlveda, Público, 24-5-1991. «Pascoaes nas palavras de Cesariny», António Cândido Franco, 26-12-1997. Publicada em António Cândido Franco, Teixeira de Pascoaes nas Palavras do Surrealismo em Português, Lisboa, Licorne, 2010. «Mário Cesariny: Memórias do surrealismo em Portugal», Claudia Galhós, NetParque (jornal digital), 16-7-2001. A primeira publicação desta entrevista foi online, tendo sido republicada em suporte papel, a pedido do próprio Cesariny, na revista Apeadeiro: revista de atitudes literárias, direcção de valter hugo mãe e Jorge Reis-Sá, n.º 2, Primavera 2002. «Sou um poeta esgotado…», António Guerreiro e Francisco Belard, Expresso, 24-11-2004. «Não sei o que seria se tivesse nascido numa democracia», Bruno Horta, Público, 30-11-2004. Curiosamente, a entrevista, feita na casa de Mário Cesariny, na Rua Basílio Teles, estava alinhada para sair numa das edições diárias do jornal, mas devido a um lapso na paginação ficou dividida entre duas edições: dias 30-11-2004 (pp. 40-41) e 1-12-2004 (p. 43). «Cesariny: “O surrealismo falhou”», Bruno Horta, Público, 1-12-2004. «Um sopro de Liberdade», Maria Leonor Nunes e Ricardo Duarte, Jornal de Letras Artes e Ideias, 24-11-2004. «Mário Cesariny: O retrato de uma vida», Mário Galego, Antena 1, 30-11-2005. «Fui suspeito de vagabundagem», Vladimiro Nunes, «Tabu», Sol, 7-10-2006. «A maravilha do acaso», Maria Bochicchio, Expresso, 1-12-2006. Publicada postumamente em Uma Grande Razão, Assírio & Alvim, 2007.

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«Histórias reais e surreais», Elisabete França, Diário de Notícias, 1-7-2002. Republicação da entrevista no Diário de Notícias, 29-12-2006. A entrevista foi originalmente publicada no Diário de Notícias, em 1 de Julho de 2002, por ocasião da estreia em Lisboa da peça Um Auto para Jerusalém, no Teatro Nacional, e das atribulações em torno da censura ao texto durante décadas, desde os anos 1940 até 1975, inclusive. Esta terá sido a única entrevista dada então pelo autor. Mais tarde (em 29 de Dezembro de 2006), a entrevista é parcialmente reeditada, com o mesmo título, no especial «Suplemento 6.ª» que o Diário de Notícias dedicou a Mário Cesariny na sequência do falecimento em 2006. Este Suplemento contou, por um lado, com uma multiplicidade de olhares sobre autor e obra, desde reconhecidos especialistas a jornalistas do próprio jornal, contando com peças originais de Ana Marques Gastão, Isabel Lucas e Pedro Mexia, ao director gráfico do suplemento, André Cayatte, por outro, integrou material de entrevistas anteriormente publicadas no Diário de Notícias, reduzidas ao essencial, cumprindo assim o objectivo do dito Suplemento. Publicamos a entrevista integral. «O Mário para mim é o vivo», Ana Marques Gastão entrevista Cruzeiro Seixas, Diário de Notícias, 29-12-2006.

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ÍNDICE REMISSIVO

Adelaide [afilhada de Teixeira de Pascoaes], 278 Adolfo Casais Monteiro, 160, 218, 395 Afonso Lopes Vieira, 248 Agostinho da Silva, 276 Agostinho de Campos, 248 Agustín Espinosa, 252 Agustina Bessa-Luís, 17, 25, 26, 29, 73 Albert Holly, 37 Albert Vigoleis Thelen, 245, 272, 275 Alberto de Lacerda, 84 Alberto Pimenta, 144 Alexandre O’Neill, 94, 148, 161, 232, 258, 289, 298, 302, 308, 328, 330, 357, 373, 383, 385, 396, 401, 407 Alexandre Pinheiro Torres, 91 Alexandre Pomar, 287 Alfred Jarry, 73 Alfredo Margarido, 97, 272, 275 Allen Ginsberg, 28, 89 Alves Redol, 78, 321, 330 Amadeo de Souza-Cardoso, 214, 230, 251, 328, 405 Amália Rodrigues, 186, 230 Amparo Granell, 175 Anatole France, 177 André Breton, 15, 20, 56, 85, 102, 103, 113, 115, 123, 124, 127, 132, 134, 140, 142, 144, 145, 158, 160, 161, 162, 163, 181, 182, 191, 192, 194, 209, 225, 229, 245, 246, 247, 248, 250, 254, 257, 259, 260, 261, 262, 263, 264, 266, 268, 277, 290, 298, 332, 333, 334, 342, 356, 357, 384, 386, 390, 397, 400, 413, 414 André Gide, 395 André Masson, 262 Ángel Campos Pámpano, 411, 412 Antero de Quental, 194, 234, 306, 312, 384 Antonin Artaud, 15, 47, 118, 145, 161, 162, 163, 164, 182, 192, 210, 225, 228, 229, 231, 245, 254, 257, 266, 356, 373, 413, 414 António Areal, 91, 126, 150, 190, 293, 404

António Barahona, 277 António Botto, 33, 395 António Dacosta, 17, 102, 148, 182, 206, 214, 263, 289, 303, 397, 401 António de Oliveira Salazar, 17, 21, 35, 38, 113, 116, 134, 158, 200, 212, 244, 245, 247, 248, 249, 287, 288, 291, 299, 303, 304, 314, 316, 321, 329, 332, 334, 336, 338, 355, 356, 378, 386, 398, 399 António Domingues, 148, 213, 385 António Ferro, 42, 43, 249, 290, 299, 329 António Franco Alexandre, 23 António Guterres, 284, 338, 344 António José Forte, 293, 300 António José Saraiva, 291 António Lobo Antunes, 347 António Maria Lisboa, 21, 23, 25, 27, 34, 46, 47, 73, 95, 96, 98, 100, 104, 105, 106, 113, 114, 115, 117, 122, 125, 130, 134, 142, 145, 148, 155, 158, 159, 161, 162, 163, 174, 191, 192, 193, 203, 233, 252, 258, 260, 268, 274, 293, 297, 300, 301, 306, 316, 347, 355, 359, 362, 384, 390, 401, 414 António Nobre, 405 António Paulo Tomaz, 100, 107, 150 António Pedro, 42, 43, 94, 97, 102, 103, 148, 161, 251, 258, 282, 287, 288, 289, 290, 298, 333, 356, 357, 360, 384, 387, 397, 401 António Quintela, 200 António Tabucchi, 91 António Telmo, 276 Archiles Gorky, 240 Armindo Rodrigues, 91, 95 Arnaut de Vilanova, 413 Arpad Szenes, 84, 173, 174, 181, 206, 251, 257, 359, 387 Arrabal, 178 Arthur Rimbaud, 21, 34, 44, 53, 110, 114, 179, 220, 229, 266, 304, 334, 386, 413

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Benjamin Marques, 300 Benjamin Péret, 126, 132, 159, 161, 209, 264, 303 Bernardim Ribeiro, 314 Bernardo Marques, 66 Bertolt Brecht, 73, 379 Bocage [Manuel Maria Barbosa du], 34, 241, 242 Borba [padre], 212 Breyten Breytenbach, 126, 152, 265, 305 Bruno da Ponte, 23, 25, 26, 70, 75, 379 Cabaret Voltaire, 382 Café Brasileira, 140, 395 Café Chave d’Ouro, 380 Café Chiado, 395 Café Gelo, 117, 120, 183, 189, 229, 233, 234, 274, 278, 281, 293, 299, 300, 301, 329, 332, 380, 382 Café Herminius, 139, 148, 160, 183, 355, 381, 395 Café Montanha, 189 Café Palladium, 189 Café Royal, 95, 183, 189, 301, 382 Camille Pissarro, 63 Camilo Castelo Branco, 245 Camilo Pessanha, 34, 312 Cândido Costa Pinto, 97, 102, 148, 263, 288, 289, 298 Carl Sagan, 177 Carlos Calvet, 100, 150, 358, 404 Carlos de Oliveira, 23 Carlos Eurico da Costa, 100, 106, 148, 306 Carlos Filipe Moisés, 252 Carlos Malheiro Dias, 277 Carlos Wallenstein, 381 Carmen Cesariny, 352, 353 Carolina Michäelis, 314 Casa de Pascoaes, 236, 272 César Antonio Molina, 24 Cesário Verde, 34, 47, 234, 306 Charles Augustin Sainte-Beuve, 73 Charles Baudelaire, 16, 178 Charles Fourier, 46, 145, 260, 285, 413 Charles Maturin, 73 Charles-Ferdinand Ramuz, 381 Cidália de Brito, 89, 91 Colóquio [revista], 144 Columbano Bordalo Pinheiro, 272 Conde de Lautréamont, 73, 128, 229, 231 Conroy Maddox, 239 Cottinelli Telmo, 65

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Cruzeiro Seixas, 52, 56, 81, 91, 98, 117, 139, 148, 150, 160, 162, 190, 198, 213, 242, 274, 286, 329, 355, 358, 359, 362, 381, 382, 384, 392, 393, 399 D. Diniz, 36, 413 D. Manuel I, 312 D. Sebastião, 312, 413 Dadá, 85, 86, 216, 248, 250, 382, 396 Dante, 41, 191, 204, 249, 370 Domingo Pérez Minik, 252 Dórdio Guimarães, 91 Dorita Castel-Branco, 91 Dorothea Tanning, 240 Dürer, 405 Dutra Faria, 43 E.M. de Mello e Castro, 89, 91 Eça de Queirós, 319 Eckhart, 47 Edmundo Bettencourt, 148 Edmundo de Ory, 194 Édouard Jaguer, 181, 239, 262, 298 Edouard Roditi, 209 Eduardo de Oliveira, 271, 272 Eduardo Tomé, 154, 165, 208, 211, 378 Eduardo Westerdahl, 252 Emanuel Swedenborg, 229, 233 Emilio Adolfo Westphalen, 252 Enrique Carlón, 239, 252 Ernest de Gengenbach, 264 Ernesto Sampaio, 117, 274, 294, 383, 385 Ernst Jünger, 73 Esteban Francés, 239 Eugène Labiche, 300 Eugenio d’Ors, 147, 180, 243 Eugénio de Andrade, 23, 28, 271, 369, 370, 384 Eugenio Granell, 56, 175, 239, 252, 286 Eurico Gonçalves, 150, 286 Ezra Pound, 240 Falcão Trigoso, 213, 355 Federico García Lorca, 131, 243 Fernanda Alves, 294, 383, 385 Fernando Alves dos Santos, 100, 106, 148, 362 Fernando de Azevedo, 148, 213, 232, 298, 300, 358 Fernando Grade, 91 Fernando José Francisco, 100, 107, 148, 213, 214, 329, 355, 358, 362 Fernando Lemos, 148 Fernando Lopes-Graça, 109, 305, 327, 329, 352, 388, 396, 401


Fernando Luso Soares, 91 Fernando Maristany, 244 Fernando Namora, 380 Fernando Pessoa [Álvaro de Campos], 25, 122, 158, 159 Fernando Pessoa, 24, 25, 27, 31, 32, 34, 73, 122, 147, 155, 158, 159, 186, 194, 201, 209, 217, 218, 229, 230, 243, 244, 249, 278, 305, 306, 319, 320, 400, 405, 414 Fernando Ribeiro de Mello, 91, 92 Fiama Hasse Paes Brandão, 23 Fiodor Dostoievski, 26, 73, 319, 395 Francis James, 216 Francis Picabia, 86 Francisco Aranda, 239, 252, 254, 364 Francisco de Holanda, 413 Francisco de Sousa Neves, 91 Francisco Esteves, 91 Francisco Pereira Coutinho, 91, 404 Francisco Relógio, 182, 214 Franklin Rosemont, 115, 116, 261 Frei Agostinho da Cruz, 34 Friedrich Engels, 122, 123, 261 Garcia de Orta, 314 Gastão Cruz, 29, 90, 91 Geoffrey Chaucer, 218 Georges Bataille, 268 Georges Charbonnier, 20, 231 Georges Ribemont-Dessaignes, 85, 86 Gérard de Nerval, 178 Germano Pereira da Silva, 88, 91 Gerome Kamrowski, 239 Gombrowicz, 30 Gomes Leal, 306 Gonçalo Duarte, 117, 214, 300 Grupo «Os Surrealistas», 43, 106, 274, 299, 316, 358, 384 Grupo Surrealista de Lisboa, 94, 140, 299, 333, 356, 358, 417 Guerra Junqueiro, 271, 272, 306, 312 Guilherme Filipe, 95, 96, 100 Guillermo Díaz-Plaja, 252 Hamann, 47 Hans Arp, 115 Hans Bellmer, 239 Harold Bloom, 24, 35 Hegel, 122, 151 Hein Semke, 214 Hélder Macedo, 300

Henri Brémond, 245 Henri Matisse, 65 Henri Michaux, 178, 182, 192, 404 Henri Pastoureau, 264, 298 Henriette Cesariny, 18, 19, 88, 91, 352, 353, 366 Henrique Risques Pereira, 96, 100, 106, 148, 161, 190, 355, 362, 420 Henriquette Cesariny [tia de Mário Cesariny], 351 Henry Miller, 73, 210 Henry Moore, 109 Herberto Helder, 23, 347, 380 Herman Melville, 26, 73, 201 Hermann Broch, 73 Hermann Hesse, 73 Hermes Trismegisto, 132, 176, 178, 390 Hieronymus Bosch, 404 Ilda Carneiro, 212 Isabel Meyrelles, 91 Jacinto do Prado Coelho, 272 Jacques Prévert, 161 Jacques Vaché, 334, 386 James Joyce, 73 Jean Genet, 73 Jean Lorrain, 268 Jean Schuster, 247, 262 Jean-Baptiste Lully, 259 Jean-Marie Gustave Le Clézio, 204 Jean-Paul Sartre, 395 Jean-Philippe Rameau, 259 Jean-Pierre Duprey, 115 Jeanne Pinto de Figueiredo, 91 João Artur da Silva, 100, 150 João Cutileiro, 126 João d’Ávila, 380 João de Vasconcellos, 18, 272, 273, 274 João Gaspar Simões, 39, 91, 194, 199, 200, 218, 245, 249, 330, 395 João Grosso, 376, 378 João Moniz Pereira, 94, 148, 160, 161 João Pinto de Figueiredo, 91 João Rodrigues, 104, 107, 117, 189, 300, 328, 382 João Teixeira de Vasconcellos, 274 Joaquim Bensaúde, 147 Joaquim Manuel Magalhães, 225 Joaquim Vasconcelos, 314 John Lloyd-West, 261 John Lyle, 177, 178, 261 Jonathan Griffith, 159

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Jorge de Sena, 26, 77, 96, 261, 417 Jorge Luis Borges, 26, 85, 177 Joris-Karl Huysmans, 264 José Álvaro Morais, 174, 257 José Cardoso Pires, 302, 328 José de Almada Negreiros, 23, 28, 43, 146, 183, 230, 244, 246, 423 José Escada, 294, 300, 360 José Gomes Ferreira, 66, 120 José Leonel Martins Rodrigues, 148 José Pierre, 247, 262 José Régio, 78, 160, 217, 395 José Sebag, 117 José Viale Moutinho, 55, 56, 57 José-Augusto França, 42, 43, 94, 97, 103, 107, 142, 148, 161, 232, 258, 290, 299, 300, 377 Juan Larrea, 131, 132 Julian Trevelyan, 251 Julien Gracq, 73 Júlio [Saúl Dias], 148 Júlio Pomar, 139, 160, 302, 328, 358, 403 Kafka, 26, 73, 85 Karl Marx, 103, 114, 122, 123, 334 Kasimir Malevich, 179 Laurens Vancrevel, 261 Leon Tolstoi, 395 Leon Trotsky, 124 Leonardo Coimbra, 275, 276 Louis Aragon, 132, 145, 159, 268 Louis-Ferdinand Céline, 228 Loyola, 47 Lucrécio, 250 Ludwig Zeller, 252, 261 Luigi Pirandello, 379 Luis Buñuel, 131, 254, 381 Luis Cernuda, 131 Luís de Camões, 34, 35, 74, 191, 234, 249, 277, 399 Luís Francisco Rebelo, 200 Luísa Cesariny, 91, 352, 353 Luiz Pacheco, 20, 164, 233, 234, 300, 301, 302, 328, 330, 336, 379, 384 Luiza Neto Jorge, 23 Manuel Cargaleiro, 359 Manuel D’Assumpção, 173, 194, 214, 274, 293, 294, 300 Manuel de Falla, 63 Manuel de Lima, 300 Manuel Hermínio Monteiro, 18, 196, 227, 232, 287, 411

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Manuel Lourenço [M.S. Lourenço], 141, 150, 151 Manuel Vinhas, 404 Maquiavel, 124 Marcel Duchamp, 397 Marcel Proust, 73 Maria Amélia Teixeira de Vasconcellos, 18, 274 Maria Cristina, 91 Maria Emília Correia, 381 Maria Helena Vieira da Silva, 27, 28, 38, 81, 82, 84, 85, 109, 127, 147, 148, 155, 173, 174, 178, 194, 206, 214, 251, 257, 300, 359, 387, 403 María Jesús Ávila, 287, 293 Maria José Lancastre, 91 Maria Mercedes Cesariny de Vasconcelos [mãe de Mário Cesariny], 38, 174, 336, 350, 351, 352, 355, 366, 398 Maria Nobre Franco, 201 Mário de Sá-Carneiro, 159, 244, 245, 373 Mário Dionísio, 120 Mário Eloy, 213 Mário Garcia, 276 Mário Soares, 302, 305, 328 Mário-Henrique Leira, 96, 98, 102, 105, 106, 117, 130, 148, 155, 161, 304, 362, 384, 401 Mark Rothko, 179 Marques de Sade, 34, 46, 73, 241, 268 Martin Heidegger, 240 Maud Bonneaud, 252 Maurice Nadeau, 97, 289, 308, 330, 357, 373, 383 Maurício Macedo, 91 Max Ernst, 240, 257, 262, 320, 342 Max Walter Svanberg, 239 Mendes Carvalho, 91 Michel Carrouges, 247, 263, 264 Michel Leiris, 159 Miguel de Unamuno, 243 Miguel Gonçalves Mendes, 20, 297, 301, 311, 335 Miguel Torga, 150, 160 Moisés Espírito Santo, 347 Nancy Joyce Peters, 175 Natália Correia, 88, 91, 200, 274, 293, 300, 311 Nelson de Matos, 91 Nicolas Calas, 147 Nikolai Gogol, 73 Nora Mitrani, 127 Novalis, 371 Nuno Carinhas, 378 Nuno Gonçalves, 147, 404 Octavio Paz, 178, 252, 266, 333


Ofélia Marques, 86 Oliveira Martins, 194, 314 Olívio Caeiro, 272 Orpheu [movimento], 23, 26, 27, 78, 132, 229, 230, 244, 245, 246, 249, 250, 380 Orpheu [revista], 246, 249 Ortigão Ramos, 200 Óscar Domínguez, 115 Óscar Lopes, 277, 291 Otelo Azinhais, 91 Ovídio, 242 Paul Delvaux, 320 Paul Éluard, 132, 145, 159, 209 Paul Valéry, 166, 372, 418 Paula Almada Negreiros, 91 Paula Rego, 205, 214, 403, 404 Pedro Alvellos, 90 Pedro García Cabrera, 252 Pedro Oom, 96, 106, 100, 115, 117, 120, 130, 134, 139, 146, 148, 155, 161, 184, 192, 213, 258, 293, 297, 316, 355, 358, 362, 384, 401 Penelope Rosemont, 116 Pepe Blanco, 301 Phases [movimento], 114, 173, 181, 239, 252, 262 Phases [revista], 125, 190 Philip Lamantia, 175 Picasso, 42, 265, 290, 397 Pier Paolo Pasolini, 35, 42 Pierre Marie Cesariny Rossi [avô de Mário Cesariny], 351 Platão, 118 Poesia 61 [movimento], 29, 90 Presença [movimento], 27, 32, 78, 180, 250 Presença [revista], 249 Rabindranath Tagore, 96 Ramon Llull, 47, 73, 260, 261, 413 Raul Brandão, 25, 73 Raul Leal, 33, 229, 249, 379, 380 Raúl Perez, 102 Raymond Queneau, 268 Regina Palla, 91 René Crevel, 268 René Daumal, 271 René Descartes, 103, 257, 259, 331 René Guenon, 277 René Magritte, 181, 240, 262, 320 Ricardo Aibéo, 381 Robert Desnos, 159, 268 Roberto Matta Echaurren, 240

Rudolf Nureyev, 262 Rui Cinatti, 23 Rui Mário Gonçalves, 91, 286 Ruy Belo, 23 Ruy Malho, 91 S. Wayter, 251 Sá de Miranda, 34, 35, 191 Salvador Dalí, 181, 190, 240, 262, 320 Sant’Anna Dionísio, 95, 96 Santa Rita Pintor, 28 Sema [revista], 142 Sergio Lima, 116, 261 Shu–zo–Takiguchi, 239 Snu Abecassis, 152 Sophia de Melo Breyner Andresen, 23, 28, 201, 217 Stefan Zweig, 346 Stéphane Mallarmé, 104, 372 Susana Paiva, 298 Suzana Wald, 261 T.S. Elliot, 240 Ted Joans, 180 Teixeira de Pascoaes, 21, 25, 26, 27, 31, 34, 47, 73, 95, 96, 110, 161, 173, 186, 194, 225, 231, 234, 242, 243, 244, 245, 250, 271, 272, 274, 275, 276, 277, 278, 306, 405 Thom Burns, 175 Thomaz de Mello, 251 Timothy McVeigh, 362 Tristan Tzara, 250 Urbano Tavares Rodrigues, 200, 379 Variante [revista], 357, 384 Vespeira, 94, 139, 148, 160, 161, 162, 213, 232, 298, 300, 358, 382 Vicente Aleixandre, 131 Victor Brauner, 115, 182, 263, 298, 356, 413 Vincent van Gogh, 65, 265, 343 Virgílio Martinho, 81, 300 Viriato de Vasconcelos [pai de Mário Cesariny], 174, 352, 354 Vítor Alves, 151 Vitorino Nemésio, 23 Vladimir Maiakovski, 179, 320 Voltaire, 299, 336 Vratislav Effenberger, 136 Wanda Ramos, 91 Wassily Kandinsky, 179 William Blake, 229, 233 Wolfgang Paalen, 115 Zé Cobra, 278

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