Corpo de Dúvida | Diário dos dias impossíveis

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Luís Filipe D. Carvalho

Corpo de Dúvida Diário dos Dias Impossíveis Romance Poético Autobiográfico

Edições Vírgula ®


Edição: Edições Vírgula ® (chancela Sítio do Livro) Título: Corpo de Dúvida – Diário dos Dias Impossíveis Autor: Luís Filipe D. Carvalho Capa: Patrícia Andrade Paginação: Sítio do Livro 1.ª Edição Lisboa, Março de 2015 ISBN: 978-989-8678-94-2 Depósito legal: 389960/15 © Luís Filipe D. Carvalho PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:

Rua da Assunção, n.º 42, 5.º Piso, Sala 35 1100-044 Lisboa www.sitiodolivro.pt


LuÍs Filipe D. Carvalho

O Céu de Neptuno Romance Poético Autobiográfico 2001-2003:

Corpo de Dúvida Diário dos Dias Impossíveis

SESIMBRA


Por vontade expressa do seu Autor, o presente texto não se rege pelo mais recente Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.


Corpo de Dúvida

Perdi as linhas do teu rosto

E a cor dos teus olhos, na confusão do tempo. E a música do teu corpo não existe, desfez-se ao vento. No tumulto dos Dias, tua lembrança ardente apagou-se… E agora se te quero evocar, a ti, que vivias no íntimo da minha alma Tenho de recompor uma Flor de Cinza Que a imperceptível aragem desfaz e lev …

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Corpo de Dúvida

Índice Florde Flor deCinza Cinza .

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I. Prisioneira do desejo O momento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . É tempo de regressar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O acordar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O desconhecido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O sedutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Luz ardente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O primeiro voo de devoção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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II. Corpo de dúvida Como é belo o horizonte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Nada mais senão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Procuro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Até ao limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Não consigo deixar de pensar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Vida, bela vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Na outra margem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Voz maldita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Amo-te, Tristeza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O pântano da preguiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quero ser livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A minha família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Noites de delito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Está aí alguém? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A música . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

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Luís Filipe D. Carvalho Vencido pelo tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Melodias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . «Um dia sem nome» . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Folhas multicolores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sei que . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Lembrança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Esse prazer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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III. A terceira metade Sol de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . As duas almas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pérolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . À beira da areia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Uma túlipa em rebento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Abismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Noite de Lua Nova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Aguarela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Presença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Reminiscência sonora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Habitat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Filhas do incesto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Antes da mordaça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O tufão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Destinos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Uma praia submersa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Crucificado por si . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Os dias mais rosados das nossas vidas . . . . . . . . . . . . . . .

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Nota Final Nota final .

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Corpo de Dúvida

Quero construir o Templo Da Suprema Glória Rainha

Foste a Princesa que me deu Coragem P’ra colocar a primeira pedra

Para aquela cujo nome Esculpi um dia no meu coração As duas meias-luas Que num triângulo se fecharam

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Corpo de Dúvida

«Sonho contigo

Sonho…

Sonho contigo todas as noites. Sonho contigo Sempre que te quero recordar. Sonho… Sonho para te ver, Sonho para te ter, Sonho contigo e comigo Juntos num eterno amanhecer… Coloridos de amor, Sedentos de prazer, Deitados sobre o mar. Sonho que te tenho Colada na minha pele. Sonho que ouço O teu caloroso respirar. Sonho… Sonho e sinto O vibrar da tua energia As formas da tua textura, O crescente movimento Do teu corpo de luz nua, De cor crua e pensamento. Sonho… Sonho que sonhámos Voltar a nasce !»

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in «Falar ao Coração – Uma iniciação à poesia» (inédito) 11



I. PRISIONEIRA DO DESEJO Alma Inflamada

«Trago nos lábios a memória do perfume da tua pele sedosa E nos dedos a leveza do Teu Corpo desenhado a saliva Arredondado pela intensidade do Mistério Polido na ardência do Desejo de um beijo macio…»



Corpo de Dúvida

O momento D

espe-te, Amor, despe-te! É chegada a hora para a nossa união! Passeavas nuazinha naquela praia bela, Cantando e dançando feliz à beirinha do mar. Fascinava-te a maresia e o desenrolar das ondas Com a água mexida a bater e o vento selvagem a soprar. E ele batia… Batia-te leve e subia Atrevido pelas pernas acima até à cintura. E, quanto mais subia, mais se mexia E mais te estremecia a vontade de nele entrar. Agora ele tem-te pelos braços e enche-te de frescura E salmoura. Repara no seu corpo enorme a respirar… E a entrar-te sorrateiro, para te lavar a alma! Repara na fresca brisa a soltar-te o cabelo! Repara como é lindo, como é bom e como é belo O seu gentil modo de te satisfazer e de te deitar na sua cama. «Dá-me todo o teu amor selvagem…», pediste. «Dá-me todo o teu amor antes de esta Viagem termina !»

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Luís Filipe D. Carvalho

É tempo de regressar F

oste atirada para terra firme e nada te fazia acordar. Passaram-se longas horas e ainda continuavas embriagada Pelo suor ressequido daquele que te levara ao altar. Ainda tinhas nas tuas costas as suas marcas vincadas a areia E nos teus seios notavam-se os salientes contornos Da exótica beleza que ele ajudara a realçar. Traçam-se agora linhas nesse manto onde repousas Silenciosa e aliviada da tua própria dor. Desenham-se agora linhas brancas entre as dunas Que a ventania ajudou a construir. Enchem-se agora a sol e a cor as tuas formas morenas Que a noite e o mar quiseram juntar e sentir! Acorda, são horas de regressar a casa! Abandona agora esse lugar e regressa à multidão! Abandona agora esse recanto de secreta satisfação… Paz de camaleão, que teu olhar cega e abrasa! «Será que alguém me viu?…», perguntaste. «Será que alguém me viu abraçar esta doce ilusã ?»

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Corpo de Dúvida

O dia O dia é uma mulher que se transforma pela luz… Observa o seu ventre de crepúsculo, Os seus cabelos ruivos de sonho, Os seus olhos risonhos e a sua alma de vinho! Observa, por uma vez, o lado secreto e feminino Daquele que, pela sombra, te monta e conduz!

O dia é um lobo com pele de cordeiro. Observa os seus olhos, aprecia o seu cheiro! Sente os seus dentes afiados a entrarem-te na carne! Sente o instinto predador do seu coração solitário Saciar-se no teu vermelho corpo desflorado! Sente-te ser levada pelo pulso dessa amada claridade! Entrega-te, Prisioneira do Desejo, filha da noite, Alma inflamada! O dia é aquilo que quiseres que seja: Tão rico e deslumbrante como pobre e amante! Entrega-te, e o fascínio terá a face que queres que tenha! «Já só quero que ela me veja e transforme…», disseste. «Já só quero que ele me cace, me tome e protej !»

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Luís Filipe D. Carvalho

O acordar C

om quem estás e onde passaste a noite inteira? Onde está a tua visão, agora, nesta hora de cegueira? Levantaste-te a correr e abriste a janela do quarto, A claridade entrou de repente e bateu-te na cara. Puseste a mãos na cabeça e, inconsciente, perdeste o tacto. Deixaste de te sentir, e desfalecida, caíste no chão. Em pouco tempo o Tempo mostrou as suas marcas E na tua memória desfilaram retalhos de lugares, De vozes, e de faces que há tanto te tinhas esquecido. A segunda lufada de ar fresco purifica-te E de novo começas a sentir um perfume solto e matinal Que te faz recuperar o fôlego e abrir para a vida. Libertaste-te das garras do sono e o dia trouxe-te Luz nova, energia renovada e força vital. A tua amiga e companheira noite foi-se, e agora, só, Combates o medo de no esplendor caíres para a solidão. «Deixarei que me tomes, Corpo de Magia!…», disseste. «Deixarei, sim, se o teu brilho profeta for amor e companhi !»

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Corpo de Dúvida

O desconhecido Num piscar de olhos ele surgiu ao teu alcance

E atingiu-te com o olhar, Sentiste o seu cheiro furtivo tocar-te Devagarinho por debaixo da blusa E as suas palavras mornas entrarem-te no ouvido. Passo-a-passo ele desceu e passou-te ao lado, Fixou-te por instantes e fintou-te Deixando-te com um sorriso rasgado E um breve momento de romance. Terás por ventura adormecido ou parado de sonhar? Ele continuou, e não o conseguiste agarrar Ele levou-te consigo, e nem reparaste! Ele tinha saído, tal como tinha entrado E para trás ficavam as marcas do desejo Que te arderam no peito E que nunca esperaste voltar a sentir. «Talvez ele volte…», pensaste. «Talvez ele volte para me sorri .»

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