Gato Sem Segredos

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Gato Sem Segredos

Edição Revista

Luís Montenegro Rui Mota

GATO SEM SEGREDOS

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FICHA TÉCNICA

título: Gato Sem Segredos (Edição revista)

autores: Luís Montenegro, Rui Mota

edição: edições Ex-Libris ® (Chancela Sítio do Livro)

revisão: Isabel Campos

ilustrações de capa: Mariana Vilas Boas

arranjo de capa: Ângela Espinha

paginação: Alda Teixeira

1.ª Edição

Lisboa, julho 2023

isbn: 978-989-9028-85-2

depósito legal: 516028/23

© Luís Montenegro, Rui Mota

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publicação e comercialização:

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Rui Mota

GATO SEM SEGREDOS EDIÇÃO REVISTA

por Isabel Campos

Luís Montenegro
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7 ÍNDICE CAPÍTULO I – HISTÓRIA E PROVÉRBIOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Joana Matias CAPÍTULO II – ADAPTAÇÃO AO AMBIENTE DOMÉSTICO OU COMO MELHORAR O BEM-ESTAR DO GATO EM 10 PASSOS 17 Jaume Fatjó CAPÍTULO III – O QUE SABER ANTES DE TER UM GATO . . . . . . . . 33 Luís Montenegro CAPÍTULO IV – PRINCIPAIS DOENÇAS INFECIOSAS NOS GATOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Marta Pinto CAPÍTULO V – GATOS, GRAVIDEZ E TOXOPLASMOSE . . . . 51 Isabel Campos CAPÍTULO VI – NOÇÕES DE COMPORTAMENTO DO GATO 59 Maria Isabel Santos CAPÍTULO VII – NUTRIÇÃO FELINA E OBESIDADE . . . . . . . 87 Nuno Silva CAPÍTULO VIII – MEDICINA PREVENTIVA . . . . . . . . . . . . . . . 97 Ana Cota Preview
GATO SEM SEGREDOS 8 CAPÍTULO IX – REPRODUÇÃO FELINA . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 Luís Montenegro CAPÍTULO X – SISTEMAS ORGÂNICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 1 – A DIGESTÃO NOS GATOS 115 Xavier Roura 2 – SISTEMA CARDIOVASCULAR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 Dr. Gérman Santamarina/Dra. María L. Suárez 3 – SISTEMA RESPIRATÓRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Dr. Gérman Santamarina/ Dra. María L. Suárez 4 – SISTEMA URINÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 Cathy Langston 5 – OFTALMOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 Rafaela Rego 6 – DERMATOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195 Debora Trenti e Didier-Noel Carlotti 7 – AS PATOLOGIAS ENDÓCRINAS MAIS FREQUENTES 211 Edward Feldman 8 – NEUROLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233 Vânia Evaristo CAPÍTULO XI – PRINCÍPIOS DE ONCOLOGIA FELINA . . . . 241 Josep Pastor CAPÍTULO XII – COMO LIDAR COM UM GATO INTERNADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253 Kerry Simpson Preview
HISTÓRIA E PROVÉRBIOS 9 CAPÍTULO XIII – AS INTOXICAÇÕES MAIS COMUNS NOS GATOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 269 Rui Mota CAPÍTULO XIV – GERIATRIA 279 Ana Cota CAPÍTULO XV – A DOR NOS GATOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289 Cláudia Rodrigues e Izaskum Rodríguez Preview
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CAPÍTULO I

HISTÓRIA E PROVÉRBIOS

Joana Matias

Os ancestrais mais antigos de felinos datam de há 45,000,00 anos atrás . De facto, esta espécie tem acompanhado o Homem ao longo de toda a sua evolução pelo que está presente em diversos episódios da história da Humanidade . Desde a sua adoração pelo povo Egípcio à abominação durante a Idade Média, o gato doméstico tem sido associado a diferentes crenças e papéis na vida do Homem, de uma forma muito curiosa, até que conquistou o seu lugar nas nossas casas como animal de companhia de eleição, por muitos de nós .

O gato doméstico atual, tal como o conhecemos, deriva da evolução adaptativa do gato-africano, muito popular no Egito .

Existem várias espécies silvestres felinas, originárias também da Europa, que se crê terem contribuído para a formação da linhagem do gato moderno. Contudo, a sua influência não é, ainda, muito clara .

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A domesticação dos gatos teve início a 1600 a .C pela civilização do Antigo Egito . Inicialmente, esta espécie era muito apreciada pela sua extraordinária capacidade de caça controlando as infestações por ratos e recolhendo pequenas peças de caça como peixes e pássaros selvagens . Mais tarde, o gato começou a ser visto como um agente sagrado, imagem de veneração à deusa Bastet que representa a fertilidade das plantas e da mulher assim como boa saúde e felicidade . Assim, o gato foi elevado a um nível religioso conquistando, também legalmente, uma posição de devoção e estima em que a sua morte implicava mesmo a prática de luto pelo dono que depilava as sobrancelhas como demonstração de respeito e o corpo do animal era mumificado e enterrado em cemitérios próprios. A afeição a esta espécie era tão grande por parte do povo Egípcio que a sua exportação para fora do país era proibida, punível por lei com a pena de morte . Ainda assim, não tardou a que esta espécie se disseminasse por outras regiões clandestinamente .

A adoração por este felino continuou-se pelos países Islâmicos e era mesmo o animal preferido de Mohammed . Mais tarde, devido à sua personalidade muito independente e aos seus olhos atentos e vivos, o gato foi associado à deusa da lua, Diana, e era utilizado por esta para ridicularizar Apolo, o deus do sol . No entanto, foi graças ao movimento Cristão que esta espécie sofreu um maior abalo no seu curso evolutivo . No início, era muito usada para controlo de pragas e querida pelo povo . Especialmente na Europa Cristã, no século XIV, quando

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se deu o surto de Peste Negra que era disseminada por ratos, o gato foi uma das armas mais eficazes para erradicar esta doença . Esta espécie foi também adotada por monges em mosteiros para proteger os manuscritos de roedores e consoante a preferência por certas cores e tipos de pelagem, começaram a surgir as primeiras raças de gatos .

A Idade Média foi uma era muito marcante para esta espécie que se viu num movimento de extermínio em massa por ser acusado de estar associado a maus espíritos e bruxaria: o gato seria agora símbolo de um culto herege e os membros desta seita eram punidos e torturados até à morte . De fato, na Era da Inquisição, os gatos eram mesmo queimados em praça pública juntamente com os seus donos . Ainda hoje em dia, o gato preto está relacionado com má sorte para aqueles mais supersticiosos .

É difícil afirmar inequivocamente que o gato é uma espécie completamente domesticada . O processo de domesticação implica uma evolução seletiva para produzir alterações físicas, fisiológicas, morfológicas e comportamentais desejadas . Assim, comparando este felino dos dias de hoje com os de antigamente, estas mudanças não são de todo significativas e são várias as discussões acerca deste assunto . Considera-se, então, que o gato sofreu, ao invés, um processo de “autodomesticação” em que o papel do Homem foi limitado, tendo a sua presença apenas permitindo uma maior hipótese de sobrevivência e proliferação da espécie . Sem dúvida

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que, dada a proximidade com pessoas, o gato atual tornou-se muito mais afável e simpático e, por isso, apreciado como animal de companhia . Definitivamente, a história da evolução deste felino é muito atribulada: entre amor e ódio, visto com propósitos de trabalho ou de simples companhia, a verdade é que tem caraterísticas muito peculiares e apreciadas por muitos chegando mesmo a assumir uma extrema importância afetiva e social . Em especial para crianças e idosos, está comprovado cientificamente que o contato com gatos tem um efeito psicoterapêutico positivo e é frequentemente um recurso utilizado em terapias de distúrbios comportamentais . O gato é mesmo considerado um membro da família para aqueles mais apaixonados por esta espécie e assume facilmente um papel de suporte emocional muito grande nas nossas casas .

Os provérbios e ditados populares são frases que se desconhece o seu autor e nos trazem verdades baseadas no senso comum . Graças à sua personalidade distinta e características tão apreciadas por quem os conhece bem, também os gatos têm provérbios dedicados só a eles .

Dedicados à sua excelente habilidade de caça:

“A casa que não tem gatos, tem muitos ratos . ”

“Filho de gato mata rato . ”

“Quando em casa não há gato, folga o rato . ” Preview

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“Enquanto o gato anda pelo telhado, anda o rato pelo sobrado . ”

Dedicados à sua inteligência e prudência:

“Gato escaldado, de água fria tem medo”

“Gato a quem morde a cobra, tem medo à corda . ”

“Gato nasce com unhas e de olhos fechados mas não arranha a sua mãe . ”

Dedicados àqueles mais preguiçosos e gulosos:

“Bem se lambe o gato depois de farto . ”

“Atirar-se como gato aos bofes .”

“Manter um olho no gato e outro no prato . ”

“Se o gato não come o bife, ou o gato não é gato ou o bife não é bife . ”

Dedicados ao seu espírito de independência e autonomia:

“Gato de fora mia à porta e vai-se embora . ”

“Gato pede miando e come rosnando . Quando não morde, arranha . ”

“O gato foi criado quando o leão espirrou . ”

“A curiosidade matou o gato . ”

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Luna (fotografia: Catarina Pinho)

CAPÍTULO II

ADAPTAÇÃO AO AMBIENTE DOMÉSTICO OU COMO MELHORAR O BEM-ESTAR DO GATO EM 10 PASSOS

Jaume Fatjó

Para conseguir uma boa adaptação do gato doméstico ao seu ambiente precisamos de, em primeiro lugar, perceber a natureza do seu comportamento e, em segundo lugar, aplicar as medidas de maneio necessárias para permitir a expressão de um comportamento o mais natural possível.

A adaptação ao ambiente doméstico

As consultas sobre comportamento felino são muito habituais na clínica diária . Os problemas etológicos (comportamentais) atendidos com maior frequência pelo veterinário são a micção e defecação fora da liteira, a agressividade dirigida a

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outros gatos ou a pessoas e o arranhar com as unhas . Apesar de aparentemente diversos, a maioria dos problemas de comportamento do gato podem ser entendidos como uma má adaptação do animal ao seu entorno físico e social, que em muitas ocasiões resulta num quadro de stress . De modo a compreender a relação do gato com o ambiente envolvente, é fundamental conhecer a natureza do seu antepassado selvagem, e como o processo de domesticação o converteu no animal que conhecemos . Ou, melhor dizendo, que cremos conhecer .

De acordo com as investigações mais recentes, a domesticação do gato teve lugar há pelo menos 9500 anos, provavelmente em algum lugar da região conhecida como Crescente Fértil, entre o delta do Nilo e a Mesopotâmia . O ancestral selvagem do gato doméstico é o gato selvagem africano, cujo nome científico para os mais curiosos é Felis lybica . Este trata-te de um felino de pequeno porte, solitário e territorial, que ainda habita em territórios áridos e semiáridos do continente africano .

O gato selvagem ocupa a maioria do seu tempo a caçar, a cuidar da pelagem, a marcar o seu território e, como um bom felino, a descansar durante várias horas .

É realmente um mistério o processo que levou o gato selvagem africano a adaptar-se à vida ao lado do homem . No entanto, os paleontólogos e os biólogos levaram a cabo uma reconstrução dos factos que o converteram numa nova espécie: o gato doméstico .

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A área de distribuição geográfica do gato selvagem coincidia com as zonas de ocupação dos seres humanos . Estes já tinham aprendido a cultivar as plantas e a obter delas colheitas abundantes que armazenavam durante longos períodos do ano . Tal acúmulo de grãos foi uma oportunidade para roedores, aves e outros animais, que tinham assim acesso a um novo nicho ecológico . Para os gatos selvagens, a aproximação de povoações humanas era sem dúvida uma grande tentação, porém isto constituía um desafio para um animal tendencialmente solitário: ser capaz de viver próximo de outros membros da sua espécie e também de pessoas .

De acordo com a teoria mais aceite pelos científicos, de todos os gatos africanos que viviam naquele lugar, há mais de nove milénios, os exemplares mais tolerantes do ponto de vista social aproximaram-se das povoações humanas para explorar um novo ambiente que oferecia uma nova fonte de alimento abundante e localizada . Gerações após gerações, exemplares tolerantes acasalaram com outros também tolerantes até originar o gato doméstico com o qual hoje em dia convivemos .

Por fim, o comportamento social do gato atual deve entender-se como o produto da tendência herdada do seu antepassado selvagem, que explica o seu lado mais independente, e das mudanças introduzidas pelo processo de domesticação, que nos permite entender a tolerância dos gatos em compartilhar o seu território com pessoas e com outros gatos .

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As medidas para garantir o bem-estar do gato

Do ponto de vista preventivo, o veterinário deveria atuar de três formas:

1 . Recomendar de forma sistemática aos seus clientes a aplicação de um programa de enriquecimento ambiental .

O enriquecimento ambiental considera-se hoje em dia como a principal medida preventiva e terapêutica em medicina de comportamento . A necessidade de levar a cabo programas de enriquecimento tem sido destacada não só por especialistas em medicina de comportamento, mas também por especialistas em medicina interna . Isto deve-se a uma estreita relação que existe entre o stress e a ocorrência de diversos problemas médicos, como por exemplo a cistite idiopática felina .

2 . Atuar de forma preventiva perante situações que podem ser mais stressantes para o gato .

Por exemplo, perante uma mudança de residência ou a chegada a casa de um novo gato, o veterinário deveria, em primeiro lugar, alertar o proprietário do desafio que essa situação pode constituir para o animal e, em segundo lugar, dar recomendações precisas sobre como atuar . Em determinados casos, o veterinário poderá recomendar também a utilização de terapias biológicas

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para prevenir o stress, como a aplicação no ambiente envolvente de feromonas sintéticas (Feliway®) .

3 . Diagnosticar precocemente um quadro de stress. O veterinário deve educar os seus clientes para o reconhecimento dos principais sinais de stress .

O principal objetivo deste capítulo é descrever um protocolo geral de enriquecimento ambiental para gatos, que inclui também a informação necessária para que os proprietários de gatos aprendam a identificar um possível quadro de stress felino .

O enriquecimento ambiental

Porque é importante a realização de um programa de enriquecimento?

O comportamento do gato doméstico é o próprio de um pequeno predador, de temperamento independente e com uma marcada tendência territorial . Em condições de liberdade, os gatos investem a maior parte do seu tempo a descansar, a limpar a pele e a pelagem, a caçar e a marcar o seu território . Para sentir-se bem, um gato deve poder expressar essas tendências naturais, também quando vive numa casa ou apartamento . Independentemente das suas necessidades básicas, como o alimento ou a água, estejam garantidas, também é uma necessidade para o gato a exploração do meio envolvente,

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a marcação de território e brincar a perseguir objetos, como se estivesse a caçar .

Para além de poder fazer aquilo que gosta, um gato deve dispor no seu território elementos que lhe permitam refugiar-se ou isolar-se de situações que lhe sejam desagradáveis, como um ruído muito intenso ou um contacto indesejado com uma pessoa ou com outro gato .

Por fim, os objetivos de um programa de enriquecimento ambiental são, por um lado, permitir a expressão dentro de uma casa dos comportamentos naturais que acabamos de fazer referência, sem que isso resulte em problemas para nós e, por outro, assegurando que o gato se sinta seguro e protegido no seu território .

Em seguida apresentamos as dez recomendações básicas para implementar um programa de enriquecimento ambiental e prevenção do stress felino .

1. Respeitar a sua necessidade de independência e privacidade

Os gatos são animais com comportamento social muito peculiar . São descendentes do gato selvagem africano, um felino com um estilo de vida solitário e territorial . O gato doméstico aprendeu a partilhar o seu território com os seres humanos e outros gatos, com os quais frequentemente estabe-

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lece vínculos afetivos muito intensos . Apesar disso, conserva parte do seu espírito original, independente e territorial .

Independência

Enquanto alguns gatos não estabelecem limites na relação com o ser humano, a maioria manifesta uma tolerância limitada ao contacto, sobretudo físico . Regra geral, devemos deixar que seja o gato quem decide o grau de contacto social que deseja manter connosco . Não devemos forçá-lo em nenhum caso a permanecer ao nosso lado ou acariciá-lo durante mais tempo do que ele considera aceitável .

Privacidade

Frequentemente, os gatos necessitam de desfrutar de um período de tranquilidade, longe do contacto das pessoas e com outros gatos . Costumam situar-se em quartos ou zonas tranquilas da casa . É importante não incomodar o gato nestes momentos .

2. Não castigar

O castigo nas suas diferentes formas é um método educativo utilizado por muitas famílias na educação dos filhos e, por extensão, nos animais de companhia . Contudo, o castigo é um método de aprendizagem totalmente contraindicado na

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educação de um gato . Para além de impedir um comportamento mais equilibrado, o castigo favorece o aparecimento de stress, assim como reações de medo e agressividade em relação às pessoas . É importante que os veterinários dediquem tempo a convencer os seus clientes da inconveniência do castigo na educação do gato .

3. Proporcionar um espaço tridimensional

A conduta natural do gato doméstico e em geral dos felinos inclui a tendência a saltar e a subir a lugares elevados, onde parecem sentir-se mais seguros . Por essa razão, os gatos costumam descansar em cima de móveis, prateleiras e outras superfícies elevadas .

É por isso necessário proporcionar ao gato estruturas onde possam trepar e descansar . No mercado existem designs muito variados, sendo importante a inclusão de plataformas a diferentes níveis do chão e, se possível, um arranhador (Figura 1) .

Estas estruturas devem situar-se na zona da casa mais utilizada pelo gato .

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4. Favorecer o bom uso da caixa de areia

• Dispor de pelo menos duas caixas de areia e colocá-las em diferentes lugares da casa . Se em casa convivem dois ou mais gatos, pode ser necessário colocar mais de duas caixas de areia .

Características das novas caixas de areia:

• As caixas de areia devem situar-se em lugares a que o gato possa aceder facilmente durante todo o dia .

• A caixa de areia deve ser de bordo baixo e larga, o suficiente para que o gato possa entrar nela e dar uma volta sobre si mesmo de forma cómoda .

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Figura 1 – Arranhador
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• É preferível utilizar-se caixas de areia descobertas, sem tampas e sem bordos de proteção que às vezes se colocam para evitar a saída de areia .

• É recomendável utilizar areia do tipo aglomerante e não perfumada .

Rotina de limpeza:

• Limpar a areia todos os dias e substituí-la totalmente uma vez por semana ou de acordo com o uso que o gato faça de cada caixa de areia .

NOTA: Se o gato já utiliza uma caixa de areia sem problemas, é melhor não alterar as suas características . Contudo, se decidirmos incorporar mais caixas de areia, estas devem cumprir as características que acabamos de referir .

5. Adequar o tipo de alimentação

Muitos especialistas em nutrição felina pensam que a forma como alimentamos os nossos gatos se afasta demasiado das suas necessidades reais . A composição e tipo de administração da dieta é em último caso uma decisão do veterinário, em função das características de cada gato . Contudo, sempre

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que seja possível recomenda-se uma dieta mista, que combine alimento seco e alimento húmido .

É importante proporcionar ao gato mais que um comedouro, em diversos lugares da casa e sempre longe dos bebedouros e das caixas de areia .

A maior parte da água que o gato consome é a que está presente nas presas que captura . Neste sentido, é importante recordar que os animais são compostos em grande medida por água . Assim, quando um predador caça e consome uma presa, ingere portanto uma quantidade importante de água .

O alimento seco contém, como o seu nome indica, uma porção muito pequena de água . Quando o gato é alimentado unicamente com alimento seco, a ingestão de água é insuficiente e deve ser compensada bebendo água do bebedouro . Contudo, os gatos descendem de um felino adaptado a um ecossistema árido, onde a água é um recurso escasso . Poderíamos dizer que o gato não é demasiado propenso a beber água diretamente de um bebedouro como faria um cão ou nós

mesmos .

Para conseguir uma correta ingestão de água podemos, por um lado, adicionar, como já foi dito, uma parte de aliPreview

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6. Promover o consumo de água.

mento húmido à dieta e, por outro lado, promover o uso do bebedouro .

O bebedouro ideal deve ser suficientemente largo para que o gato possa beber sem que os seus bigodes muito sensíveis toquem nos bordos . O bebedouro deve estar sempre com água fresca a transbordar .

Nos últimos anos apareceram no mercado bebedouros automáticos para gatos, parecidos a uma fonte . Longe de ser um simples objeto de luxo, estimulam muito o consumo de água por parte do gato .

7. Permitir a marcação de território com as garras.

O comportamento de arranhar tem três funções conhecidas:

• Depositar marcas olfativas e visuais no território .

Sugeriu-se que estes sinais podiam constituir para um gato uma forma de autoafirmar-se num território. De facto, os gatos costumam marcar objetos que se encontram próximos de si ou lugares de descanso, que podem ser considerados a zona central do seu território .

Quando um gato arranha um determinado local, volta a esse mesmo lugar regularmente .

• Desgastar as unhas .

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ADAPTAÇÃO AO AMBIENTE DOMÉSTICO OU COMO MELHORAR…

• Esticar e tonificar os músculos. De facto, os gatos costumam arranhar objetos após um período de descanso . O arranhar é um comportamento natural, e por isso o gato deve poder expressá-lo sem restrições . O nosso objetivo é disponibilizar um arranhador com características e localização que garantam o seu uso e evitem que o comportamento seja dirigido aos objetos inadequados, como móveis, portas e cortinas .

O arranhador ideal para o gato deve reunir as seguintes características:

• Deve estar localizado perto dos lugares de descanso, mais concretamente, ao lado dos lugares marcados anteriormente .

• A superfície do arranhador deve situar-se num plano vertical .

• O arranhador deve ser totalmente estável . O gato deve poder apoiar-se nas duas patas sem que o arranhador perca estabilidade .

• A superfície do arranhador deve ser atrativa para o gato . Não existe uma preferência única e, em muitos casos, é bom oferecer mais que uma opção ao gato . Os mais comuns no mercado são os de corda ou de esparto .

É melhor que as fibras estejam dispostas em sentido vertical, de cima para baixo, para facilitar o arranhar . Por

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