Da Serra Veio a Alzira

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Da Serra Veio a Alzira

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Versos de Autoria, Estórias, Advinhas, Trava-Línguas e Anedotas


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Edição: Edições Vírgula® (chancela Sítio do Livro)

Título: Da Serra Veio a Alzira – Versos de Autoria, Estórias, Advinhas, Trava-Línguas e Anedotas Autora: Alzira Dias Gonçalves

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Capa: Patrícia Andrade

Paginação: Sítio do Livro 1.ª edição

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Lisboa, novembro de 2015 ISBN: 978-989-8821-13-3

Depósito legal: 399533/15 © Alzira Dias Gonçalves PUBLICAÇÃO:

www.sitiodolivro.pt


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Alzira Dias Gonçalves

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Da Serra Veio a Alzira

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Versos de Autoria, Estórias, Advinhas, Trava-Línguas e Anedotas


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Antigamente as pessoas entretinham-se à roda do fogo e diziam palavras engraçadas como «acomodar» – não era cá deitar! O deitar era «trás aí a retalheira [manta de retalhos] para tapar a minha cangueira [pescoço]». São os dizeres de antigamente. Lembro-me de ouvir o meu pai a dizer estas coisas à minha mãe.


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Índice

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Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Versos de autoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Recordações da minha vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 À minha vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 À minha escolinha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Venho agradecer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 Ao mar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 O tempo que estou a conhecer . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Eu escrevo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 À Quinta do Cartaxo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Aos gostos e sabores da Mexilhoeira Grande . . . . . . . . . . . 39 À prima Zulmira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Lembrança aos idosos de Alcalar . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Num jantar do grupo da piscina, no restaurante A Marisqueira 43 Dedicado ao professor que temos na piscina . . . . . . . . . . . 44 Carnaval na piscina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Época da roubalheira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Ao encontro de cinco casais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Boa amiga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 Outra amiga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 Excursão no cruzeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53


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Excursão ao Fundão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Casa-de-banho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 No Hotel Penina, pelo 25 de Abril . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Versos da amiga Aliete, feitos para mim . . . . . . . . . . . . . 62 Ao meu neto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 Estes são tempos modernos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 À aldeia de Alcalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 Lar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 Retrato da minha mãe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 O destino dos idosos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 À rua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 Excursão à Galiza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 Para o Dia da Mulher . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 Excursão a Belmonte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 Excursão a Lourdes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 D.ª Ferreira (Açores) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 Excursão a Gibraltar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 Excursão a Tarouca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 Incêndios de 2008 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 Excursão ao Gerês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 Natal de 2010 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Testamento do Entrudo de 2010 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 Na minha cabeça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 Com a chegada do 25 de Abril . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Excursão ao País Basco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 A crise em Portugal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 Calendário do passado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 Bom ano novo de 2013 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 Versos e estórias de tradição oral . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 Advinhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127 Trava-línguas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 Anedotas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137


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Prefácio

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Os atributos de Alzira são singulares: é conhecida de muitos pelas suas anedotas, muito procuradas para alegrar serões, seja de Inverno seja de Verão; mas, para este livro, a autora também traz o manto dos seus saberes, das lengalengas e das estórias de encantar – coisas que ouvia contar diante da lareira, ao cair da noite. Alzira Dias Gonçalves nasceu a 29 de Agosto de 1937 no Boião, em São Marcos da Serra – uma aldeia pequena do concelho de Silves com apenas uma escola, construída no ano de 1944. Entrou na escola com sete anos de idade, em 1944. No dia em que completou a 3.ª classe, era a mais enfezada de todos os que lá estavam e ocupava a carteira da frente por causa do seu nome (nessa altura, os alunos eram dispostos na sala por ordem alfabética). As crianças que viviam no campo só faziam até à 3.ª classe; os da vila é que faziam a 4.ª classe. Conta a Alzira: «O professor Sebastião chamou a professora Constantina, que era a minha professora, e disse-lhe para me preparar para fazer a prova da 4.ª classe com os alunos do povo. A minha mãe foi chamada pela professora, mas a resposta foi: “Ó D.ª Constantina, para ela escrever cartas aos namorados?! De hoje para amanhã já saberá mais do que os irmãos todos”». 11


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Nasceu numa família de quatro filhos, três «moças» e um «moço», sendo a última da irmandade. Acerca do seu nascimento, conta: «O meu pai fazia aquelas cadeiras de atabua; a minha mãe foi levar-lhe o almoço, pois ele andava na ribeira. Diz que foi levar o almoço e, antes dele, fizeram o aperitivo… e então nasci eu». A sua mãe dizia sempre: «Fiz esta linda peça em cima de um molho de atabua». Alzira pesca desde a década de 60; nessa altura não se conhecia nenhuma outra mulher que tivesse tal atividade como hobby. Pesca à cana e é também mariscadora (de mexilhão, lingueirão, amêixoas e ostras). Diz que aprendeu sozinha – observando os outros. Quem a conhece sabe que é boa contadora de estórias e principalmente de anedotas. Foi registando as anedotas que conhecia e outras que foi ouvindo, assim como estórias e lengalengas que aprendeu em criança. Este trabalho de registo já o vem fazendo desde há anos, e pensou que este seria o momento de reunir parte desse material e apresentá-lo neste livro, esperando perpetuar o seu saber e a sua memória.

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Susana Santos


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Introdução

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O material reunido neste livro apresenta diversos estilos de literatura de tradição oral. Alguns versos da autora reflectem as suas vivências enquanto foi crescendo e formando a sua personalidade, num contexto social e cultural muito comum nos espaços rurais algarvios durante o antigo regime político – marcado pela escassez de recursos financeiros por parte de famílias que, pertencendo à classe social mais baixa, tinham de trabalhar imenso com baixo retorno. Outros versos são o fruto da observação e da reflexão sobre acontecimentos que ocorrem ora no local onde reside, ora no país em geral. Os versos e estórias de tradição oral aqui apresentados foram aprendidos com os seus pais e com outras crianças, na escola, e eram cantados para facilitar a memorização. O mesmo acontece com as advinhas e os trava-línguas. As anedotas compõem a última parte do livro, e o seu estilo difere entre as mais tradicionais e as de índole sexual. Susana Santos

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Versos de Autoria


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Aquela simples terra foi a aldeia onde nasci. Chama-se S. Marcos da Serra, de lá nunca me esqueci.

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Recordações da minha vida

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Aos sete meses de gestação já sabia chorar. Para a minha mãe foi admiração e a muita gente foi contar.

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Mãe, sofreste ao me parir, logo depois veio o desgosto. Não sabias o que estava para vir no dia 29 de Agosto. Cheguei no Domingo à noitinha para não ver claridade. Veio mais esta menina para juntar à irmandade. Mãe, só querias um rapaz mas para o pai era o que vier. Para mim tanto faz, não me importo de ser mulher.

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Depois veio o pior porque eu era muito enfezada. Meu pai dizia: «Não vejo melhoras; ou será a menina maltratada?».

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Acho que toda esta criação seria de alguma pobreza. Quase não havia alimentação para muita gente portuguesa.

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Era o que o meu pai dizia de cada vez que me vinha ver: «Será que isto nem se cria?», tanto eu gostava de ver crescer.

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Eu fui má de começar a andar, dentro de uma canastra vivia. Nem tinha com que brincar e era sempre assim, todos os dias.

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Sempre fechada entre quatro paredes enquanto os meus pais iam trabalhar. Passei fomes e muitas sedes, o meu brinquedo era chorar.

Meus irmãos iam brincar. Se alguém perguntava por mim a resposta era: «Ela não sabe andar». Não se pode trazer assim, muitos diziam que eu era parvinha. Meu pai dizia: «De parvinha não tem nada». 18


Mas foi esta a minha sina ou por Deus fui ajudada.

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Foi difícil de me criar. Contar isto tudo, é o que sei. E só comecei a andar já tinha três anos e meio.

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Como podia eu ser esperta com tanto que sofri? Nunca tive uma porta aberta que me ajudasse a sair dali.

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Quando comecei a andar era tão grande a alegria: mesmo com as perninhas a tropeçar atrás dos irmãos eu já ia. Fui uma criança diferente destas crianças de agora. Não deixei de ser inteligente quando fui para a escola.

Foi em 1944 que entrei para a escola; da segunda-feira não me vou esquecer: não levei livro nem sacola, apenas uma pedra e giz para escrever. À noite, ao pé do fogo a arder, meu pai cansado ia sentar: «Filha, vem para te ouvir ler; nunca me canso de escutar». 19


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Todas as partidas que eu fazia minha mãe era logo garrear. Meu pai com tudo se divertia: «Ainda bem, tem ideias das inventar». Quando meu pai abalou estas palavras ele dizia. Toda esta lembrança ficou, dizia que criada nunca me via.

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Foi sempre o meu protector, em tudo me defendia. Era sinal de muito amor pois eu chorei muito nesse dia.

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Aos 10 anos sei o que perdi de tanto amor que ele me deu. Nunca mais dele me esqueci porque sei que ele sofreu.

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A escola para mim foi prazer: tudo o que eu estudava aprendia. «Tens de ir trabalhar para comer», era o que a minha mãe dizia. Também ia morrendo afogada, minha irmã salvou-me da morte. Sendo parvinha e enfezada sempre tive uma hora de sorte. Dos 11 anos em diante veio o que não esperava: 20


apareceu um homem diferente, em tudo era ele que mandava.

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Algumas pancadas levei sem ser merecedora. De trabalhos nunca me pouparam; do que ganhava não era senhora. Até horas de sono me tiraram, foi uma vida mesmo traidora.

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Aos 12 anos o mal continuava: tinha de trabalhar para comer; tardes inteiras já eu mondava trigo em companhia das mulheres.

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Aos 13 anos já eu ceifava para ganhar um pão por dia. Ao ouvirem isto nem vão acreditar que tudo isto eu já fazia.

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Eu guardei gado com frio e às vezes calor. Digo isto em qualquer lado, seja aqui seja onde for.

Só não aprendi a roubar nem a ser moça desonesta. Até na comida eu tinha de poupar, para comer melhor em dia de festa. 21


Ao almoço ou ao jantar era grão ou arroz com feijão. De carne nem se ouvia falar e por vezes uma sopa de pão.

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Descalça nunca andei, rasgada também não. Nesta vida tudo passei e as memórias cá estão.

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Chegava o grande dia sagrado. Era para nós diferente: bebia-se café de pão queimado e azeitonas com pão quente.

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Naquele tempo, qualquer coisa se comia e não havia nada que fizesse mal. Não aparecia colesterol ou tensão ou anemia nem tanta diabetes em Portugal.

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Aos 16 anos é que comecei a olhar para quem me via a sofrer. Tive a sorte de ele me admirar e me dizer: «Gosto de ti a valer».

Foi em Domingo gordo de Carnaval que isto me aconteceu. Meu coração parecia um vendaval quando o grande amor apareceu. 22


Eu nem sabia o que era carinho; fiquei muito atrapalhada quando ele me roubou um beijinho sem eu poder dizer nada.

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Se eu fosse dizer era logo porrada, o atraso de vida era assim. Por todo o lado me espreitava quando ele se aproximava de mim. Apareceu-me a luz divina, penso que foi mandada por Deus. E disse-me: «Esses teus olhos, menina, ainda um dia hão-de ser meus».

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Minha mãe uma noite foi deitar e nós ficámos namorando. Ela por cima da porta foi espreitar viu-me dar um beijo… até porrada ia dando.

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Eu também só me queria defender porque já em nada acreditava. Só queria ser boa mulher para o amor que me esperava.

Deitada na minha cama tantas vezes a pensar: «Será que Deus me engana, ou o meu sofrimento vai mesmo acabar?». Acabou-se a 25 de Setembro, para mim dia sagrado. 23


Com esta escrita vou-me esquecendo deste meu destino passado.

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Depois de casada ainda quis mandar: «Ó mãe, agora é diferente. Já mando em mim para trabalhar, não sou a escrava de antigamente.

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No outro tempo mandava em mim, agora estou entregue a quem me quis. O meu sofrimento chegou ao fim, espero que seja muito feliz.

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Fui boa filha e obediente, sempre a soube respeitar. Chegou a hora e o tempo de ter a minha casa para mandar. O meu marido, em primeiro lugar, foi quem me deu a liberdade. Santo dia que foi casar, para conhecer a felicidade». Ao fim de um ano apareceu o rebento do nosso amor. Foi um menino que Deus me deu, pois foi mais uma flor. Ajudei sempre o meu marido: trabalhava no que aparecia, andava com ele em sentido porque esta liberdade lhe devia. 24


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Trabalhei numa fábrica de peixe. Nem tive vergonha de o dizer. Eu acho que era um desleixo se não tivesse nada que fazer. Também ensinei alguém a ler do pouco que eu sabia. Quando não tinha que fazer era a ensinar que me entretinha.

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Depois foi na indústria hoteleira que tudo aprendi a fazer. Tirei carta profissional de copeira, assim a reforma vai dando para comer.

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Aos 38 anos comecei outra missão. Mais uma vez a pouca sorte: apareceu outro amor do coração que me fará companhia até à morte.

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É por ele que tenho de olhar. É o que nós temos de mais certo: que a um lar vamos parar se ainda estiver algum aberto. Tenho de os amar como são, para nós são perfeitos. São os amores do coração, sempre os amarei de todo o jeito.

Mesmo com esta vida hei-de lutar por este amor longo e profundo, 25


para que nada nos vá faltar enquanto me encontrar neste Mundo.

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Vou estando velha e cansada a visão me vai falhando. Que não me falte mais nada; este amor ainda vai dando.

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O amor é o mais belo sentimento que se aninhou no meu coração. Quando é puro não há fingimento que destrua uma paixão. Serei eu uma mãe diferente, tanto sofri quando nasceram. Foi Nossa Senhora quem não esteve presente ou foi Deus quem de mim se esqueceu.

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Muitas lágrimas tenho derramado por este destino que Deus me deu. Mas tenho um marido muito amado; é pena ter um destino igual ao meu. Saibamos ser todos amigos, não sintam alguma desigualdade. Vejam se, nos tempos antigos, havia velhos abandonados. Para terminar esta escrita estou a escrever com atenção. Que tenham sorte mais bonita, desejo-o de todo o coração. 26


Quem será que me pode ajudar quando eu chegar ao fim? Com os meus filhos não posso contar, que são quem precisa de mim.

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Quando à noite me vou deitar o meu pensamento é assim. Com o meu amor chego a sonhar, que nunca o separem de mim.

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Para mim era grande dor sofrer tão grande traição. Só a morte me tira o amor que me acompanha o coração.

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O meu pensamento é como o vento que me quer sempre acompanhar com o meu pouco talento. Não o tenho a quem deixar. Por isso gostava de ver no livro o meu pensamento. Que os meus não vão esquecer como os amo em todo o tempo. Agora, com esta idade, a vida é muito boa: estou a conhecer tanta maldade que nós andamos à toa. Eu toda a vida trabalhei, nunca passei da cepa torta. 27


Até com a reforma que descontei tenho de ajudar os da Troika.

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Nasci num belo dia de Verão, mesmo ali, à noitinha, no sítio do Baião; ainda está lá a velha casinha. A minha vida é um livro aberto, por isso pensei em o escrever. Que seja de longe ou de perto toda a gente o pode ler.

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Esta criança, quando nasceu, qual seria a sua sina? Hoje sabe que aprendeu a chorar antes de nascida.

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À minha vida

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Nunca fui desejada: pelos tempos de miséria era atrasada. Assim se foram passando os anos umas vezes com fomes outras vezes brincando com os manos.

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Aos 10 anos o meu brinquedo foi o trabalho para comer. É triste uma criança ter isto para dizer. Já crescida continuou o mesmo sofrimento: não estavam para poupar carne para cães comer. Trabalhei ainda mais tempo, até que a minha vida aos 17 anos devia mudar. Apareceu este ser humano e, com tanto amor para me dar, olhou para mim e disse: «Tem de ser, com amor e sentimento, hás-de ser minha mulher». 29


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