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ANTÓNIO CARVALHO DA COSTA
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COMARCAS DE COIMBRA E DE MONTEMOR-O-VELHO
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FICHA TÉCNICA
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arranjo de capa: Ângela Espinha paginação: Alda Teixeira
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título: Corografia Portuguesa: Comarcas de Coimbra e de Montemor-o-Velho autor: António Carvalho da Costa (1650-1715) edição: edições Ex-Libris® (Chancela Sítio do Livro) recolha dos textos e notas: Mário Araújo Torres
1.a Edição Lisboa, maio 2021
isbn: 978-989-9028-21-0 depósito legal: 482071/21 © Mário Araújo Torres
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COMARCAS DE COIMBRA E DE MONTEMOR-O-VELHO TRATADOS I (DA COMARCA DE COIMBRA)
E II (DA COMARCA DE MONTEMOR-O-VELHO)
DO LIVRO PRIMEIRO (DA PROVÍNCIA DA BEIRA) DO TOMO SEGUNDO DA
COROGRAFIA PORTUGUESA
E DESCRIÇÃO TOPOGRÁFICA
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DO FAMOSO REINO DE PORTUGAL
Recolha de textos e notas por Mário Araújo Torres
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“Clérigo do hábito de São Pedro, matemático, natural de Lisboa” é como António Carvalho da Costa se apresenta nos três tomos da sua obra mais conhecida: Corografia Portuguesa e Descrição Topográfica do famoso Reino de Portugal, com as notícias das fundações das Cidades, Vilas e Lugares, que contém; Varões ilustres, Genealogias das Famílias nobres, fundações de Conventos, Catálogos dos Bispos, antiguidades, maravilhas da natureza, edifícios e outras curiosas observações. Segundo informa Diogo Barbosa Machado (Biblioteca Lusitana Histórica, Crítica e Cronológica, Tomo I, Lisboa, António Isidoro da Fonseca, 1741, págs. 233-234), António Carvalho da Costa, filho de António Carvalho e de Ana da Costa, nasceu em Lisboa a 20 de abril de 1650, tendo sido batizado no imediato dia 3 de maio na Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Freires da Ordem Militar de Cristo. E acrescenta: “Ainda que a natureza lhe deu corpo pequeno e algum tanto disforme, teve o espírito grande capaz para compreender as ciências, às quais se aplicou desde a primeira idade até à última, com sumo desvelo e incansável estudo, sendo as suas maiores delícias as disciplinas matemáticas, em que fez agigantados progressos, investigando com profunda especulação os arcanos que estavam ocultos na Astronomia, Geometria e Cosmografia, Hidrografia e mais espécies em que se divide a grande ciência da Matemática”. Foram esses domínios científicos aqueles em que António Carvalho da Costa primeiro se notabilizou. Aos 26 anos edita a Primeira Parte da Via Astronómica, dividida em dois Tratados: O primeiro, contém a fábrica do Globo e seus principais usos; o segundo, a Trigonometria Plana e Esférica: vários Problemas da Astronomia pertencentes à doutrina do primeiro Móvel e à Navegação (Lisboa, Francisco Vilela, 1676, 148 páginas), “primeiro fruto de meus estudos e ocupação dos meus primeiros anos” (da Dedicatória a D. Francisco de Sá e Menezes, 1.º marquês de Fontes e 4.º conde de Penaguião). Nesse “breve com-
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pêndio”, procurou o autor recopilar o conteúdo de “dilatados volumes” com “as notícias da Astronomia (que todos reconhecem rainha das Matemáticas)”, o que pela primeira vez sucedia no nosso idioma (do Prólogo). No ano imediato, prosseguindo o esforço pioneiro de divulgação destas matérias em língua portuguesa, sai a Segunda Parte da Via Astronómica, distribuída em quatro Tratados: O primeiro, da Navegação; o segundo, das Estrelas; o terceiro, dos Eclipses da Lua; o quarto, dos Eclipses do Sol (Lisboa, António Craesbeeck de Melo, 1677, 208 páginas), dedicado a D. Álvaro José Botelho de Távora, 2.º conde de S. Miguel. A que se segue o Tratado Compendioso da Fábrica e Uso dos Relógios de Sol, dividido em quatro Secções: A primeira trata de alguns Problemas da Geometria prática necessários para a inteligência e construção dos Relógios; a segunda, dos Relógios do Sol por regra e compasso, e por Trigonometria; a terceira, de vários Relógios universais; a quarta, dos Relógios do Sol delineados pelo Globo (Lisboa, António Craesbeeck de Melo, 1678, 142 páginas). Apresentado como uma introdução prática aos relógios, “enquanto vou pondo a limpo a nossa Astronomia Metódica” (do Prólogo), foi dedicado a D. José Luís de Lencastre, 3.º conde de Figueiró. A anunciada Astronomia Metódica, distribuída em três Tratados: O primeiro, da Teórica do Sol; o segundo, da Teórica da Lua; o terceiro, da Teórica dos Planetas menores, viria a ser editada em Lisboa, na Oficina de Francisco Vilela, em 1683. Contém esse livro “a mais relevante doutrina que há entre todas as Matemáticas, a Astronomia Metódica, que mede e considera o movimento dos planetas, superiores regentes do universo, cujas notícias, sendo sumamente importantes ao fundamental conhecimento da navegação e de muitas outras artes necessárias ao governo militar e político, até ao presente se não acham escritas em idioma vulgar” (da Dedicatória da obra ao rei D. Pedro II), “mostrando o modo mais abreviado de calcular o movimento a cada um desses planetas em particular” (do Prólogo). Nas três primeiras obras, o autor surge referenciado como “Matemático lusitano, natural de Lisboa”, sendo a Astronomia Metódica, de 1683, a primeira em que acrescenta a qualidade de “Padre”.
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Como “Padre António Carvalho da Costa, matemático natural de Lisboa” edita, em 1686, a sua última obra publicada nestes domínios científicos: o Compêndio Geográfico, distribuído em três Tratados: O primeiro, da projeção das esferas em plano, construção dos Mapas universais e particulares e fábrica das Cartas Hidrográficas; o segundo, da Hidrografia dos Mares; o terceiro, da Descrição Geográfica das terras, com várias proposições pertencentes a esta matéria (Lisboa, João Galrão, 1686). Nela se declara “Capelão” da personalidade a quem a dedica: D. Manuel Coutinho de Meneses, filho segundo de D. António Luís de Meneses, 1.º marquês de Marialva e 3.º conde de Cantanhede. O motivo que guiou o autor ao “tratar de novo (...) a delineação dos mapas por trigonometria” foi o parecer-lhe que “seria muito útil esta lição aos curiosos, pela novidade da linguagem e clareza do estilo, de que se poderão aproveitar os que ignorarem o idioma latino, e ainda os mais peritos nesta ciência” (do Prólogo). As mesmas preocupações de produzir trabalho útil para os leitores e colmatar lacunas que inferiorizavam Portugal face às restantes nações europeias levaram António Carvalho da Costa à vultuosa empresa de publicar a Corografia Portuguesa, em três tomos, num total de 1846 páginas de texto, em cuja produção consumiu anos de vida, a saúde e os seus bens. Como assinala Diogo Barbosa Machado: “Querendo ilustrar o Reino de que era filho se arrojou a lançar os alicerces a uma máquina que era insuportável a ombros mais robustos que os seus, descrevendo topograficamente as cidades, vilas e lugares de que ele se compõe; os varões famosos que produziu; a fundação dos conventos mais antigos e célebres, os catálogos dos bispos que floresceram nas suas dioceses, além das antiguidades veneráveis e prodígios da natureza com que se enobrece. Para conseguir o fim de empresa tão gloriosa, gastou o pouco cabedal que a fortuna, sempre infausta aos créditos, com parca mão lhe concedeu, discorrendo pela maior parte do Reino para ocultamente se instruir do que havia de escrever, até que, concluído o seu intento com maior dispêndio que permitiam as suas posses e maior trabalho que sofriam as suas forças, publicou esta grande obra, a qual, ainda que tenha alguns defeitos,
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sempre é digno seu autor de imortal memória.” Apontando algumas deficiências na parte relativa a Esposende, cf. Domingos Azevedo de Almeida Gomes, Breve Comentário à Corografia Portuguesa (Estudo histórico), Esposende, Livraria Esposendense, 1936. Como resulta do Prólogo ao Tomo Primeiro (Lisboa, Oficina de Valentim da Costa Deslandes, 1706, 534 páginas), em que trata da corografia das províncias de Entre-Douro-e-Minho e de Trás-os-Montes, pensava o autor que bastariam dois volumes para completar essa “anatomia do Reino de Portugal, em que se verão miudamente delineadas as partes interiores de que se compõe este grande corpo”. A extensão das notícias recolhidas determinou, porém, que o empreendimento se estendesse três volumes: a segunda parte, ocupando-se das províncias da Beira e do Alentejo, com 640 páginas, foi editada em Lisboa, na mesma Oficina de Valentim da Costa Deslandes, em 1708; e a última, com 672 páginas, descrevendo as províncias do Algarve e da Estremadura, só surgiu em 1712, na Oficina Real Deslandesiana. Nessa empreitada “podemos dizer que perdemos a saúde, o descanso e o cabedal no excessivo trabalho, grande desvelo, muito dispêndio, que trazem consigo jornadas, exames e traslados”; “os catálogos dos arcebispos e bispos tirámos dos cartórios das sés e das histórias eclesiásticas”; “as genealogias das famílias ilustres trasladámos dos livros mais fidedignos”; “com um largo giro, que fizemos por todo este Reino, observámos a arrumação de suas povoações, as distâncias entre umas e outras, as alturas das principais, servindo-nos muito a este fim o estudo, que sempre cultivámos, das matemáticas”; “os olhos nos informaram do estado presente de tudo o que se descreve” (do Prólogo do Tomo Primeiro). As dificuldades financeiras devem explicar a demora sofrida com a publicação do Tomo Terceiro: em maio de 1709 foi autorizada a sua impressão, após ser conferida a conformidade da composição, então concluída, com o original que passara pelo exame do Santo Ofício, do Ordinário da diocese e do Desembargo do Paço; no entanto, a impressão só foi feita três anos depois, em 1712. No parecer que, a solicitação de D. Pedro II, emitiu acerca do Tomo Primeiro, referiu o ilustrado 4.º conde da Ericeira, D. Fran-
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cisco Xavier de Meneses: “O assunto desta obra é tão vasto como o domínio de V. Majestade, e o autor, com incrível trabalho, descreve individualmente todas as suas partes; nelas observei que as alturas foram calculadas com certeza, as distâncias medidas com exação, as antiguidades descobertas com estudo, e as genealogias referidas com verdade; e assim acharão os escritores portugueses neste livro as memórias mais individuais para a cronologia e geografia, que são os dois olhos da história; e como esta de qualquer sorte que se escreva é útil e deleitável, justamente se devem facilitar com a impressão as notícias, que até agora viveram como esquecidas, ou acabaram como desprezadas; sendo tão dignas de fiar-se à posteridade como os monumentos infalíveis das gloriosas ações de tantos heróis portugueses; e assim me parece que V. Majestade deve honrar com a sua aceitação este primeiro volume, para que o autor se anime a terminar esta Corografia, e para que, no feliz século que logra Portugal com o glorioso império de V. Majestade, se vejam as ciências e as artes favorecidas, principalmente as matemáticas e históricas, porque do seu conhecimento não só depende o acerto dos negócios políticos, mas a segurança dos progressos militares, que pela superior direção de V. Majestade, favorecendo as letras e honrando as armas, esperamos ver heroicamente desempenhados”. Alguns críticos, de que se fez eco Inocêncio Francisco da Silva (Dicionário Bibliográfico Português, tomo I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1858, pág. 106), notaram-lhe principalmente “faltas e erros na parte genealógica, em que parece terem sido muito escassos os seus conhecimentos, recebendo por isso sem critério as notícias que os interessados lhe forneciam, abusando da sua sinceridade, ou talvez da condescendência a que o obrigava a míngua de recursos próprios”, a pouca exatidão dos catálogos dos bispos das catedrais do Reino e a adoção sem crítica nem exame, no tocante à origem e fundações das cidades e vilas, “das opiniões de Frei Bernardo de Brito e dos outros escritores do mesmo jaez, que, em seu tempo, andavam em voga e cujos sonhos corriam ainda como verdades indubitáveis”. Mas ‒ conclui Inocêncio ‒ “tais defeitos todavia não obstam a que esta obra seja estimada e procurada dentro e fora do Reino, e os exemplares vão escasseando cada vez mais no mercado,
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de modo que ao fim de alguns anos terão de tornar-se verdadeiramente raros”. Foi a raridade dos exemplares da primeira edição que conduziu à sua reimpressão, sem qualquer alteração do texto, na Tipografia de Domingos Gonçalves Gouveia, em Braga, nos anos de 1868 e de 1869. Em 2001, a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses editou a Corografia Portuguesa, de António Carvalho da Costa, em disco ótico (CD-ROM), com coordenação de Ana Cristina Nogueira da Silva. Barbosa Machado refere ainda que António Carvalho da Costa terá editado, com outro nome, que não indica qual fosse, a publicação periódica Prognósticos, que teria saído desde 1684 até 1701, e que deixou dois manuscritos prontos para o prelo: Tratado da redução geométrica e esfera, com outros tratados matemáticos, e Corografia insulana ou notícia topográfica de todas as ilhas sujeitas a Portugal. Na coleção de Manuscritos Reservados da Biblioteca Nacional de Lisboa existe um manuscrito (COD 306), com o título Tomo Primeiro da Corografia Insulana, composto de duas partes, intituladas: Da descrição topográfica das ilhas dos Açores (fls. 1-50) e Da descrição topográfica da Ilha da Madeira (fls. 51-77), e, na folha de capa, faz-se menção, em anotação a lápis e com letra atual, do P. António Carvalho da Costa como possível autor. Acolhendo essa autoria, a parte do manuscrito relativa à Ilha da Madeira foi publicada por João Cabral do Nascimento na obra Os Pedreiros-Livres na Inquisição e Corografia Insulana, Funchal, Câmara Municipal do Funchal, 1949, páginas 53 e seguintes. “Cheio de anos e falto de cabedais” ‒ termina Diogo Barbosa Machado ‒ “acabou a vida com grande piedade na sua pátria [Lisboa] a 27 de novembro de 1715, e está sepultado no claustro do Convento do Carmo de Lisboa, cujo enterro lhe fez a Ordem Terceira como a irmão pobre; o que não admira (diz o P. Manuel de Sá, nas Memórias Históricas da Ordem de Nossa Senhora do Carmo da Província de Portugal) quem ler esta notícia por sabido fado dos sujeitos grandes e portugueses”.
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Na presente edição reproduzem-se as primeiras 98 páginas do Tomo Segundo da Corografia Portuguesa, dedicadas às comarcas de Coimbra e de Montemor-o-Velho, com atualização da grafia e acrescento de referências bibliográficas. Aditam-se as partes correspondentes a essas comarcas do Índice alfabético das freguesias, elaborado pelo promotor da 2.ª edição, e da Relação das freguesias de todas as províncias e comarcas do Reino de Portugal e do Algarve conforme a Corografia Portuguesa do Padre António de Carvalho, manuscrito que pertenceu à Livraria do Marquês de Pombal e hoje se conserva na Biblioteca Nacional de Portugal. Por último, reproduzem-se as composições literárias em louvor do Padre António Carvalho da Costa e da sua obra, inseridas nos três tomos da sua Corografia Portuguesa.
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COROGRAFIA PORTUGUESA E DESCRIÇÃO TOPOGRÁFICA DO FAMOSO REINO DE PORTUGAL, COM AS NOTÍCIAS DAS FUNDAÇÕES DAS CIDADES, VILAS E LUGARES QUE CONTÉM, VARÕES ILUSTRES, GENEALOGIAS DAS FAMÍLIAS NOBRES, FUNDAÇÕES DE CONVENTOS, CATÁLOGOS DOS BISPOS, ANTIGUIDADES, MARAVILHAS DA NATUREZA, EDIFÍCIOS E OUTRAS CURIOSAS OBSERVAÇÕES AUTOR
O P. ANTÓNIO CARVALHO DA COSTA
Clérigo do Hábito de S. Pedro, Matemático, natural de Lisboa.
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TOMO PRIMEIRO [Províncias de Entre-Douro-e-Minho e de Trás-os-Montes], oferecido ao rei D. Pedro II, Lisboa, Oficina de Valentim da Costa Deslandes, 1706, XVI+534 páginas (2.ª edição, Braga, Tipografia de Domingos Gonçalves Gouveia, 1868, XII+464+L páginas). TOMO SEGUNDO [Províncias da Beira e do Alentejo], oferecido ao rei D. João V, Lisboa, Oficina de Valentim da Costa Deslandes, 1708, VIII+642 páginas (2.ª edição, Braga, Tipografia de Domingos Gonçalves Gouveia, 1868, VIII+422+XLIV páginas). TOMO TERCEIRO [Províncias do Algarve e da Estremadura], oferecido à rainha D. Maria Ana de Áustria, Lisboa, Oficina Real Deslandesiana, 1712, XVI+674 páginas (2.ª edição, Braga, Tipografia de Domingos Gonçalves Gouveia, 1869, XIV+462+XVIII páginas).
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Este livro sai à luz depois de muitos anos de esperado e de desejado, disséramos, se não se equivocara a utilidade da obra com a insuficiência do autor; em nenhum tempo pudéramos recear mais a censura dos críticos que no em que se imprime, porque o menor reparo basta para destruir ao maior artífice, sem advertirem que aqui o estilo é um acidente, que não ofende a essência, pois se não devem buscar nesta obra mais que as notícias ou, se nos é lícito dizê-lo assim, uma anatomia do Reino de Portugal, em que se verão miudamente delineadas as partes interiores de que se compõe este grande corpo, até agora tão pouco examinadas dos autores que tocaram esta matéria, que nos não foi necessário menos estudo para emendar os erros de alguns que para suprir a falta de outros. Rodrigo Mendéz Silva, na sua Población General de España1, se mostrou mais antiquário que geógrafo, dando melhores notícias das antiguidades que das situações das vilas, não fazendo menção de grande número delas, nem das muitas particularidades, que nesta obra ajuntámos. A este seguiu a Geografia Blaviana2 e outros estrangeiros, entre os quais é o que melhor trata do histórico e da corografia deste Reino, Pierre d’Avity, no seu Mundo3, acrescentado por Rocoles; das alturas o famoso P. Giovanni Battista Riccioli4,
1 Rodrigo Mendéz Silva, Población general de España, sus trofeos, blasones y conquistas heroycas, Madrid, Diego Dias de la Carrera, 1645; 2.ª edição, Madrid, Roque Rico de Miranda, 1675. 2 Joan Blaeu, Atlas Mayor, sino Cosmographia Blavania, en la qual exactamente se descrive la Tierra, el Mar, y el Cielo, 10 volumes, Amsterdão, Oficina de Juan Blaeu, 1658-1672. 3 Pierre d’Avity, Les États Empires, Royaumes et Principautés du Monde, continué par Ranchin et Rocoles, Genéve, Jean Antoine e Samuel de Tournes, 1665. 4 Giovanni Battista Riccioli, Geographiae et hydrographiae reformatae libri duodecim, Bononiae, Heredes Victorij Benatij, 1661.
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da Companhia de Jesus, Baudrand, na sua Geografia5, e entre os Mapas tem o primeiro lugar o de Sansão. Mas todos estes autores, como foram estrangeiros, estão cheios de muitos descuidos, que não destroem a sua capacidade, porque escreveram de um país que não viram, fiados em relações que costumam ser fabulosas. Para as antiguidades tivemos melhor socorro nos autores da Monarquia Lusitana6, no ilustríssimo D. Rodrigo da Cunha7, em
Filippo Ferrari / Michel Antoine Baudrand, Novum lexicon geographicum in quo universi orbis urbes, regiones, provinciæ, regna, maria, flumina novis, & antiquis nominibus appellata, suisque distantiis descripta recensetur, Paris, Jacobi de Cadorinis, 1696. 6 Frei Bernardo de Brito, Monarquia Lusitana: parte primeira que contém as histórias de Portugal, desde a criação do mundo até o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, Alcobaça, Alexandre de Siqueira e António Alvarez, 1597; Frei Bernardo de Brito, Segunda parte da Monarquia Lusitana, em que se continuam as histórias de Portugal, desde o nascimento de Nosso Salvador Jesus Cristo, até ser dado em dote ao Conde Dom Henrique, Lisboa, Pedro Craesbeeck, 1609; Frei António Brandão, Terceira parte da Monarquia Lusitana, que contém a história de Portugal, desde o Conde Dom Henrique, até todo o reinado d’El-Rei Dom Afonso Henriques, Lisboa, Pedro Craesbeeck, 1632; Frei António Brandão, Quarta parte da Monarquia Lusitana, que contém a história de Portugal desde o tempo d’El-Rei Dom Sancho Primeiro, até todo o reinado d’El-Rei D. Afonso III, Lisboa, Pedro Craesbeeck, 1632; Frei Francisco Brandão, Quinta parte da Monarquia Lusitana, que contém a história dos primeiros 23 anos d’El-Rei D. Dinis, Lisboa, Pedro Craesbeeck, 1650; Frei Francisco Brandão, Sexta parte da Monarquia Lusitana, que contém a história dos últimos vinte e três anos d’El-Rei Dom Dinis, Lisboa, João da Costa, 1672; Frei Rafael de Jesus, Monarquia Lusitana, parte sétima: contém a vida d’El-Rei Dom Afonso o Quarto, Lisboa, António Craesbeeck de Melo, 1683; Frei Manuel dos Santos, Monarquia Lusitana, parte VIII: contém a história e sucessos memoráveis do Reino de Portugal no tempo d’El-Rei D. Fernando, a eleição d’El-Rei D. João I, com muitas notícias de Europa, e compreende do ano de Cristo Senhor Nosso 1367 até o de 1385 na Era de César 1405 até o ano de 1423, Lisboa, Oficina da Música, 1727. 7 D. Rodrigo da Cunha, Catálogo e História dos Bispos do Porto, Porto, João Rodrigues, 1623; História Eclesiástica dos Arcebispos de Braga, Braga, Manuel Cardoso, 1634; História Eclesiástica da Igreja de Lisboa, Lisboa, Manuel da Silva, 1642.
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Gaspar Estaço8, em Jorge Cardoso9, Luís Marinho de Azevedo10, André de Resende11, Manuel Severim de Faria12, e em todos os mais que com tanto acerto foram curiosos indagadores dos monumentos lusitanos; mas um dos nossos principais intentos foi não repetir, do que os outros já referiram, senão o essencial para o nosso contexto, alegando-os em todas as partes em que era preciso e acrescentando-lhe todas as notícias, que laboriosamente descobrimos. Das fundações dos conventos e dos outros edifícios públicos, dizemos o que pudemos alcançar, ainda que de algumas não achámos memórias. Os catálogos dos arcebispos e bispos tirámos dos cartórios das sés e das histórias eclesiásticas. As genealogias das famílias ilustres trasladámos dos livros mais fidedignos, não se reparando nas muitas ilustres de que não tratámos, porque só o fazemos dos que têm algum senhorio nas vilas e lugares que descrevemos, para se ver ao mesmo tempo a mudança do domínio que tiveram e como a grandeza dos nossos reis as repartiu por tão beneméritos vassalos, cujos descendentes ao presente as possuem. Com um largo giro, que fizemos por todo este Reino, observámos a arrumação de suas povoações, as distâncias entre umas e outras, as
Gaspar Estaço, Várias Antiguidades de Portugal, Lisboa, Pedro Craesbeeck, 1625. 9 Jorge Cardoso, Agiológio Lusitano dos santos e varões ilustres em virtude do Reino de Portugal e suas conquistas, Lisboa, Oficina Craesbeeckiana, 1652. 10 Luís Marinho de Azevedo, Primeira parte da fundação, antiguidades e grandezas da mui insigne cidade de Lisboa, e seus varões ilustres em santidade, armas e letras e catálogo de seus prelados, e mais coisas eclesiásticas e políticas até o ano 1147, Lisboa. Oficina Craesbeeckiana, 1652. 11 André de Resende, De Antiquitatibus Lusitaniae Libri Quattuor, Roma, Bernardum Basam, 1597. 12 Manuel Severim de Faria, Notícias de Portugal: declaram-se as grandes comodidades que tem para crescer em gente, indústria, comércio, riquezas e forças militares por mar e terra e as origens de todos os apelidos, e as armas das famíias nobres do Reino e as moedas que correram nesta província do tempo dos romanos até o presente e se referem vários elogios de príncipes e varões ilustres portugueses, Lisboa, Oficina Craesbeeckiana, 1655.
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alturas das principais, servindo-nos muito a este fim o estudo, que sempre cultivámos, das matemáticas. Os olhos nos informaram do estado presente de tudo o que se descreve; as etimologias dos nomes, as tradições dos sucessos, os milagres que não estão aprovados e as maravilhas da natureza, que referimos, nem defendemos, nem condenámos, mas ingenuamente expomos ao juízo e credulidade dos leitores, que piedosamente devem perdoar todas as omissões em tão vasta matéria, em que nos foi preciso fiar de informações que nem sempre são verdadeiras e de que procurámos as que nos pareceram melhor intencionadas. Isto é o que podemos dizer desta obra, que agora, se não está perfeita, se vê ao menos terminada, tendo-a principiado muitos grandes autores, entre os quais se conservam com grande mágoa de se não continuarem poucos cadernos do Atlas Lusitano, que doutamente escrevia o muito ilustre no sangue e no talento D. António Álvares da Cunha13, e para que desta sua obra viéssemos a perder tudo, nem esta introdução tivemos a fortuna de ver. O Padre João dos Reis, da Companhia de Jesus, alemão, bom matemático e insigne na perspetiva e pintura, delineou a topografia de Portugal com todo o acerto, e desejáramos poder unir estas plantas com as nossas descrições, para que não ficara que desejar aos curiosos; o que faremos, podendo-o conseguir, se esta obra for bem aceita, na segunda impressão, como também alguns mapas com mais exação que os que se têm impresso. Não devemos restituição ao público em fazer quanto esteve em nós, para que saísse esta obra sem defeito; e podemos dizer que perdemos a saúde, o descanso e o cabedal no excessivo trabalho, grande desvelo, muito dispêndio, que trazem consigo jornadas, exames e traslados; mas tudo daremos por bem logrado se se reconhecer que o zelo, e não o interesse, nos obrigou a tomar tão árdua empresa. Esta esperamos ver conseguida na segunda parte, que se
D. António Álvares da Cunha, Atlas Lusitano em que se descreve histórica e geograficamente o nosso Reino e a descendência de seus Monarcas, manuscrito referido por Diogo Barbosa Machado, Biblioteca Lusitana, Tomo I, pág. 196. 13
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segue, sujeitando-nos a todas as censuras, que os leitores livremente fazem, sem que valha contra o seu rigor nem a sinceridade, nem a submissão. Vale.
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O primeiro tomo desta Corografia Portuguesa depois que correu com a impressão exposto aos diversos juízos dos leitores, me fica pouco que dizer neste prólogo; e depois de agradecer a boa aceitação que achou nos mais benévolos, me não devo queixar dos críticos, assim porque as obras humanas, principalmente as de tão vasto assunto, nunca são livres de defeitos, como porque todos compram com o livro o direito de censurá-lo. Aqueles que acharam difusas as descrições das duas províncias, verão outras duas compreendidas num só volume, sem omitir nenhuma daquelas circunstâncias que contribuem ao desempenho de tão grande ideia. Na presente guerra reconheceram os nossos portugueses e os seus aliados grandíssima falta de mapas exatos para os diversos movimentos dos nossos exércitos; aqui se acharão, nas alturas do polo e distâncias dos lugares, memórias fidedignas para emendar vários erros geográficos, e na descrição dos terrenos a abundância ou esterilidade dos frutos, de cujas notícias tanto necessitam as operações da guerra: na ofensiva, para conhecer as fronteiras, por onde são mais fáceis as entradas; na defensiva, para ponderar os confins de que a situação é mais própria para embaraçar os intentos dos inimigos; e nos quartéis, para que à proporção da riqueza dos lugares seja igual a distribuição das tropas. Da utilidade que podem tirar os estudiosos desta obra demos bastante notícia no prólogo do seu primeiro tomo; como este inclui país mais dilatado, justamente esperamos que seja mais agradável, tornando a protestar que aos milagres, que não são autênticos, não procurámos dar mais crédito que o que dispõem os decretos dos Sumos Pontífices, a quem, como filhos obedientíssimos da Igreja Católica, sujeitamos quanto temos escrito e quanto escreveremos. Também repetimos que não fazemos livro genealógico, e por esta razão não tiveram lugar muitas famílias ilustres, digníssimas de serem tratadas; e todos os que quiserem dar-nos notícias verdadei-
Corografia Portuguesa- Comarcas de Coimbra e de Montemor-o-Velho.indd 23
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