A Arma que domina a Mente

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Bem-vindos ao Mundo do Povo do Chão!

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FICHA TÉCNICA A Arma que Domina a Mente Alberto Rocha EDIÇÃO: edições Vírgula® (Chancela Sítio do Livro) AUTOR:

CAPA:

Ângela Espinha Alda Teixeira

PAGINAÇÃO:

Lisboa, dezembro 2020 ISBN:

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TÍTULO:

978-989-8986-29-0 473030/20

DEPÓSITO LEGAL:

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© ALBERTO ROCHA

Todos os direitos de propriedade reservados, em conformidade com a legislação vigente. A reprodução, a digitalização ou a divulgação, por qualquer meio, não autorizadas, de partes do conteúdo desta obra ou do seu todo constituem delito penal e estão sujeitas às sanções previstas na Lei. Declinação de Responsabilidade: a titularidade plena dos Direitos Autorais desta obra pertence apenas ao(s) seu(s) autor(es), a quem incumbe exclusivamente toda a responsabilidade pelo seu conteúdo substantivo, textual ou gráfico, não podendo ser imputada, a qualquer título, ao Sítio do Livro, a sua autoria parcial ou total. Assim mesmo, quaisquer afirmações, declarações, conjeturas, relatos, eventuais inexatidões, conotações, interpretações, associações ou implicações constantes ou inerentes àquele conteúdo ou dele decorrentes são da exclusiva responsabilidade do(s) seu(s) autor(es). Esta é uma obra de ficção, pelo que, nomes, personagens, lugares ou situações constantes no seu conteúdo são ficcionados pelo seu/sua autor/a e qualquer eventual semelhança com, ou alusão a pessoas reais, vivas ou mortas, designações comerciais ou outras, bem como acontecimentos ou situações reais serão mera coincidência. PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:

www.sitiodolivro.pt publicar@sitiodolivro.pt (+351) 211 932 500

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Dedico este livro aos meus filhos: Bruno, Diana e Guilherme

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INTRODUÇÃO

O nosso MUNDO num futuro muito, muito, distante…

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Viviam-se momentos conturbados em todo o Mundo. A crise económica, social e das instituições estendia-se a uma quantidade imensa de países, e a guerra era o espetro que se configurava no horizonte. Conjuntos de países reuniam-se para encontrar formas de contornar os diversos problemas com que se debatiam nas suas relações comerciais e institucionais, mas no final tudo era inconclusivo. Cada país procurava manter a sua independência, não cedendo às pressões exteriores. A última grande esperança residia na conferência mundial que teria lugar na sede da Organização das Confederações Unidas (OCU) em Nova Iorque, presidida por Sambar Oll, da qual todos esperavam saísse a solução para a sobrevivência de uma série de países. Sambar Oll, de origem africana, era considerado um acérrimo defensor das minorias e dos mais pobres e desfavorecidos. No entanto, nos últimos tempos, e face ao retrocesso do Programa de Apoio aos Países em Decadência e também devido a algumas pressões de países mais ricos, o seu discurso era agora mais contido, depreendendo-se que, provavelmente, a solução que viesse a defender como solução final tivesse uma conotação menos abrangente relativamente aos países em situação económica difícil. Por outro lado chegavam rumores de que a guerra podia eclodir na África Central com o apoio de potências da Europa e da América, o que iria 7

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causar algum desconforto para o início da conferência. Na sede das Confederações Unidas alguns chefes de estado e de governo desdobravam-se em reuniões preparatórias para levarem algumas moções estratégicas à conferência, face às últimas notícias e ao efeito bola de neve que poderia ter a guerra da África Central. Mas as reuniões, tendo em conta interesses envolvidos, revelavam-se infrutíferas e pouco consensuais, e portanto tudo estava dependente do que seria dito pelo presidente dentro de dois dias. As autoridades de Nova Iorque tinham montado um forte dispositivo de segurança bem longe da sede das Confederações Unidas face às manifestações de repúdio da população, relacionadas com o aumento da instabilidade no Planeta, que certamente se traduziriam em violência no dia da Assembleia Geral. As estações de televisão planetária e de projeção holográfica cósmica, bem como controladores de órgãos de comunicação avançada, posicionavam-se nos locais previamente definidos e davam início às suas reportagens computorizadas remotamente, sempre com a mesma dúvida a pairar no ar: que tipo de discurso iria ser feito por Sambar Oll e que reações se poderiam esperar dos membros da organização, isto porque, fosse qual fosse a sua atitude face aos últimos desenvolvimentos, teria sempre que lidar na reunião com o possível início de uma guerra em pleno coração de África. Por outro lado alguns analistas posicionavam-se mais para o provável pedido do presidente junto dos membros da organização para que formassem pequenos núcleos de apoio aos países em decadência e que procurassem evitar conflitos entre nações, os quais só iriam agudizar mais as relações internacionais. Entretanto nos bastidores da assembleia-geral circulava a notícia de que Sambar Oll havia recebido à porta fechada os presidentes de três confederações mundiais: Confederação da América do Norte e Central, Confederação da Europa e Leste e Confederação da 8

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Introdução

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Ásia e Oceânia, precisamente aquelas que dominavam a grande parte do Mundo. Portanto haviam ficado de fora as restantes três: Confederação de África, Confederação da América do Sul e a Confederação de Estados Não Vinculados. À margem de toda esta situação, o presidente da Confederação de África marcara uma conferência de imprensa em que iria revelar tudo o que se estava a passar na África Central, o que poderia trazer à reunião novos contornos e uma análise mais concreta sobre o futuro das nações que ali era discutido.

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Excerto da conferência do presidente da Confederação de África, Abul Bigang, no dia anterior à reunião da assembleia-geral: – “Meus senhores aproveito o facto de se estar a poucas horas de sabermos qual o destino do nosso Mundo, para fazer algumas revelações importantes e informar qual o ponto da situação no continente africano. Em primeiro lugar lamento que as três Confederações mais ricas do nosso Planeta se tenham reunido com o doutor Sambar Oll para, se calhar, já estarem a preparar um rumo que certamente não será o melhor, pois só irá beneficiar as nações mais ricas e fazer esquecer o programa de apoio aos países em decadência. Repudio veementemente esse encontro, e, por tal motivo, atrevo-me desde já a adiantar que estes jogos de bastidores antes de tão importante reunião já estão a causar movimentos de tropas no meu continente. As informações que me têm chegado são preocupantes: tropas da Organização Militar Mundial já se estão a posicionar ao longo da costa central de África para invadir pelo menos dois países: República de Omus e Ceritreia, países que estão devedores a grandes potências da Europa e da América. É mau pronuncio, e penso que este será o principio do fim do nosso Planeta…” Na sala os presentes olharam-se incrédulos, “O que queria Abul Bigang dizer com princípio do fim? O que saberia ele que mais ninguém sabia?” – “Doutor Bigang pode explicar melhor o que, no seu entender, se está a passar?” – questionou um dos controladores de comunicação cósmica avançada. 9

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– “Para já apenas posso adiantar que se configura problemático para toda a organização estes interesses escondidos dos países mais ricos e temo que esta reunião seja portadora de um grande mal-estar para todo o Mundo” – respondeu Abul Bigang, ao mesmo tempo que escutava o que o seu assessor, sentado do lado esquerdo, lhe sussurrava ao ouvido. – “Acabei de saber mesmo agora que a República de Omus e Ceritreia estão já a ser invadidos…como vêem tudo se configura para o que acabo de dizer” – adiantou. – “Que medidas pensa tomar?” – perguntou um representante de projeção holográfica planetária. – “Terei de entrar em contacto com os presidentes de ambos os países para saber mais pormenores, e solicitar junto das restantes confederações envolvidas, bem como da OMM, a suspensão imediata desta incursão que só levará a uma guerra sem fim”. – De novo o seu assessor lhe voltou a segredar algo ao ouvido ao qual fez um aceno positivo com a cabeça. – “Podem colocar uma última questão”. As dezenas de controladores de comunicação, e representantes holográficos e de televisão planetária que se encontravam na sala, procuravam, quase ao mesmo tempo, colocar a última questão ao presidente da Confederação de África, mas este apenas apontou para um jovem que estava a poucos metros da mesa. – “O doutor Abul Bigang falou em “princípio do fim” e “numa guerra sem fim”, o que acha que realmente vai acontecer a este conturbado Mundo após a reunião de amanhã?" Abul Bigang respirou fundo, alinhou melhor os seus óculos, fitou a plateia e, cortando um silêncio contrastante com a confusão mediática destas ocasiões, pronunciou: – “Vamos deixar-nos de hipocrisias…o destino está traçado, países subjugar-se-ão a países e as independências estarão em perigo, portanto tudo culminará numa enorme devastação de guerra, e naturalmente no colapso deste Planeta Terra!” 10

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O silêncio manteve-se na sala, enquanto Abul Bigang se retirava acompanhado da sua comitiva. Estava lançado o primeiro grande aviso ao Mundo.

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O dia seguinte começava com a pior notícia possível: Abul Bigang falecera! Grande revés no seio da organização e das confederações mundiais. Os motivos da morte eram contraditórios, mas tudo apontava para ataque cardíaco. Logo após a conferência de imprensa do dia anterior, Abul Bigang e os seus assessores haviam-se retirado para o quartel-general da Confederação de África, no Hotel Astoria Gold. Ainda nesse dia e princípio de noite, todos os elementos da confederação, incluindo o seu presidente, desdobravam-se em contactos com chefes de estado e de governo de vários países africanos, e não só, no sentido de alterar o rumo dos acontecimentos quer na República de Omus quer no pequeno principado de Ceritreia. Por fim, Abul Bigang conseguiu entrar em contacto com o general John Mallvick, líder de todas as missões da Organização Militar Mundial (OMM). O teor dessa conversa era desconhecido, embora as motivações da mesma não o fossem, e foi após esses “vinte minutos agitados de conversação”, segundo um dos assessores, que o presidente da confederação africana se sentiu mal e foi conduzido ao Hospital Central de Nova Iorque onde viria a falecer uma hora depois. Não seria muito difícil perceber que, do outro lado, o poderoso general da OMM havia recusado toda e qualquer negociação que impedisse a invasão por parte das suas tropas daqueles territórios. Os relatos que chegavam à sede da Organização das Confederações Unidas davam a entender a quase total rendição das tropas dos países invadidos, colocando-se a questão de quem seria a força dominadora 11

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desses países daí para a frente. Talvez parte da resposta viesse nesse mesmo dia com a intervenção de Sambar Oll, o qual recusara a possível suspensão da reunião. No entanto as bandeiras de todas as nações da organização haviam ficado a meia haste e fora aprovado um voto de pesar no dia da assembleia. Cerca das dez horas da manhã dava-se início aos trabalhos da 12.ª Assembleia Geral da Organização das Confederações Unidas. Muito se esperava dessa reunião e, por tal motivo, a expetativa era elevada na sala, onde se encontravam os representantes dos duzentos e cinco países do Planeta bem como os presidentes das seis confederações mundiais. Os inscritos para tomar da palavra, todos eles, como nota introdutória, lamentando a morte de Abul Bigang, foram fazendo as suas explanações, incidindo, naturalmente, na situação complicada em que se encontrava o Mundo, nas dificuldades por que estavam a passar certos países, nas ameaças que esses mesmos países sentiam quer de embargos à sua economia quer da guerra, e no domínio que os países mais ricos queriam ter sobre os mais pobres, com o apoio de algumas confederações mundiais. Os representantes da República de Omus e Ceritreia pediram a compreensão e o auxílio para a grave situação que se estava a verificar nos seus países com a invasão das tropas da OMM. Na mesa da presidência da assembleia, Sambar Oll ia ouvindo as diferentes intervenções com um ar calmo e sereno, mas ao mesmo tempo com um olhar distante. O presidente da organização exercia o seu segundo mandato, e era tido como um homem íntegro e firme nas suas decisões, mas infelizmente o rumo dos acontecimentos a nível mundial bem como as influências de algumas confederações, estavam a alterar a sua postura e era com algum receio que se aguardava pelo seu discurso final. Por fim, cerca das dezoito horas, o presidente em exercício da OCU levantou-se da mesa da presidência e dirigiu-se à tribuna para fazer o 12

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discurso de encerramento. Sambar Oll, com os seus traços africanos, era um homem alto e com uma excelente aparência física. Colocou os óculos, fitou a assembleia com um ligeiro e estranho sorriso, bebeu um pouco de água e iniciou o seu discurso: – “Meus senhores e minhas senhoras, membros desta organização, em primeiro lugar quero lamentar profundamente a morte do presidente da Confederação de África, o doutor Abul Bigang, e solicito que todos me acompanhem num minuto de silêncio” – fez-se um minuto de silêncio após o qual retomou a sua intervenção. – “O momento que o nosso Mundo atravessa é grave! Tem sido falado ao longo dos últimos dias sobre o clima de instabilidade que se vive em alguns países, já concretizado com a guerra que se está a iniciar em dois países da Confederação de África. No entanto, penso que chegámos a um ponto de rutura, ou seja, face à situação económica e de dependência de vários países do Mundo, e tendo também em conta que esses países autonomamente não conseguirão ultrapassar as suas respetivas crises, não vejo outra solução que não seja a sua rendição às forças dominadoras e credoras!” A sala transformou-se imediatamente num terrível barril de pólvora e o discurso não pode prosseguir. O presidente da Organização das Confederações Unidas acabara de decretar a guerra mundial. Representantes de vários países tentaram chegar perto de Sambar Oll com instintos de violência, sendo impedidos pelos seguranças que de imediato o retiraram da sala. Outros abeiraram-se dos presidentes das Confederações Mundiais pedindo explicações sobre tal intervenção, os quais também não tinham resposta, embora se desconfiasse que tudo havia sido bem preparado entre as Confederações da América, Europa, Ásia e Sambar Oll, tal como Abul Bigang previra. Os membros da organização começaram a abandonar a sala e, no meio de tão grande confusão, ainda se conseguiu ouvir: – “O Planeta Terra não mais voltará a ser o mesmo, o homem destruí-lo-á com a sua ganância de poder e domínio!”

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Desejava-se que a sentença decretada pelo presidente das Confederações Unidas pudesse não constituir uma ameaça para o Mundo. Na realidade, os homens com poder de decisão, exercendo os mais importantes cargos governativos, poderiam pela via do diálogo e da diplomacia resolver a grande questão pendente: não deixar que se acorrentassem várias nações a outras dominadoras, com poder militar e, além disso, com a total conivência da Organização Militar Mundial. Mas certamente tal não iria acontecer, antes pelo contrário, o mote havia sido dado por Sambar Oll, e mesmo aquelas nações que estariam determinadas a requerer o seu direito sobre nações insolventes, tinham agora a porta aberta para esquecer todas as negociações e partir para a guerra. Era importante também saber qual o papel da OMM e do seu comandante-geral, John Mallvick, nesse contexto. Provavelmente um papel nada de acordo com os propósitos para a qual a OMM havia sido fundada, isto é, ser uma força armada defensora e instauradora da paz e não precursora da guerra ao serviço de alguns países e confederações poderosos. Por isso se dizia que a OMM era um conjunto de mercenários comandados por um general sem escrúpulos e trabalhando a soldo. Mas este general era bem mais ambicioso pela posse do Mundo! Neste clima de instabilidade todas as vias de negociação haviam sido esgotadas, portanto o Mundo estava à mercê de uns quantos senhores da guerra que, muito em breve, começariam a sua demanda devastadora. Os países mais enfraquecidos, por seu lado, com poucos recursos e alguns quase sem exércitos (fruto de grandes guerras anteriores), procuravam encontrar soluções não-diplomáticas que lhes permitissem evitar a invasão dos seus territórios e a subjugação das suas populações. Defender-se-iam até ao limite das suas forças para conservar a sua inde14

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pendência. Ficava a ideia que se tinha recuado até há Idade Média, em que as invasões e as conquistas de novos territórios, que permitissem alargar impérios, eram uma constante nessa época. Agora as motivações eram diferentes: não se tratava de conquistar novos territórios e alargar impérios mas sim de receber em géneros aquilo que não podia ser pago em dinheiro, e a única maneira era “tomar conta” dos países que deviam, e que, dessa forma, saldariam a sua divida. Era essa a motivação da guerra mundial e do início do colapso do Planeta. Outra grande questão era a de quem iria invadir quem e se haveria mais do que uma potência a querer invadir outro território. Daí que o conflito não se reduziria só à invasão dos países devedores e sem recursos mas de quem o iria fazer, e aí haveria uma disputa paralela, entre as forças opressoras. O Mundo havia ficado suspenso por notícias que relatassem quaisquer movimentos de tropas com fins de invasão de territórios. As Confederações Mundiais, também elas em decadência, desenvolviam todos os esforços para evitar o pior cataclismo de sempre no Planeta Terra. Mas a guerra fria já era uma realidade, que culminaria num conflito quase certo muito em breve. O Mundo estava a prover-se!

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ie w 1.º Capítulo

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República da Kardóssia, sul da Escandinávia. O governo de transição, que substituíra o anterior governo demissionário, decretara recolher obrigatório depois dos tumultos dos últimos tempos. A maioria da população vivia no limiar da pobreza. Face à dívida externa desmedida não havia alimentos, depois de todos os cortes impostos pelos países vizinhos. O subsolo estava estagnado, a economia em decadência, e a ameaça de invasão tornava-se cada vez mais certa. Três países com os quais a República da Kardóssia fazia fronteira, e todos seus credores, discutiam entre si quem deveria tomar a iniciativa de a invadir. Face à indecisão, provavelmente constituiriam uma força única de ataque. Tal como se previra anteriormente, este conflito armado já se estendia a outros pontos do Mundo, em que o domínio sobre os territórios mais desfavorecidos e sem condições de pagar as suas dívidas externas era exercido de forma cruel pelas grandes potências. Estava-se no Conselho de Crise da República da Kardóssia. Face aos últimos desenvolvimentos causadores de séria instabilidade interna, e também devido às mais recentes informações provenientes do Ministro do Exterior, que davam conta da forte possibilidade de o país ser invadido a médio prazo, o primeiro-ministro decidira convocar o Conselho de Crise para encontrar uma ou várias soluções que determinassem a posição do governo de transição face à conjuntura desfavorável do país. Nessa reunião estavam presentes os sete ministros do governo, o primeiro-ministro e os seus dois conselheiros, e ainda o comandante das forças armadas, general Oleg Klun. O primeiro-ministro, Brian de Myll, um homem de estatura alta e pesada, fazia um balanço junto 19

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dos restantes conselheiros sobre o que realmente se estava a passar no Mundo após a Assembleia Geral da Organização das Confederações Unidas, informação essa que lhe havia sido transmitida pelo presidente da Confederação da Europa e Leste: – Meus senhores, o Mundo está a iniciar uma guerra que poderá por fim ao próprio Mundo. Pelo menos treze nações já perderam a sua independência, e as invasões não param. Já não há qualquer poder ao nível da Organização das Confederações Unidas, e já nem há Confederações…é cada um por si! – Após uma curta pausa em que procurou organizar alguns papéis com várias informações, prosseguiu a sua explanação. – O nosso país está na mesma situação de muitos outros. A conjuntura mundial de crise económica e social generalizada trouxe-nos a esta realidade, e agora estamos perante a ameaça de perdermos a nossa independência. Convoquei de urgência este Conselho de Crise, para que possa ser aprovada uma resolução que altere o rumo dos acontecimentos e que garanta o nosso futuro como nação. Peço ao doutor Luke Visgen que nos apresente a solução que, no meu entender, melhor se configura para que o nosso país sacuda a ameaça que paira sobre ele. Luke Visgen era um jovem ministro que fora convidado para integrar o governo de transição com a pasta das Tecnologias Avançadas. Essencialmente o seu ministério encarregava-se de coordenar todas as atividades diretamente relacionadas com tecnologias de ponta, novos armamentos, desenvolvimento espacial e centrais de produção de energia. Era um conceituado cientista, responsável por grandes projetos na área da investigação espacial e muito vocacionado para uma visão do Mundo totalmente contrária ao comum dos mortais: acreditava no poder do nosso cérebro para a transformação do Universo. Pena era o facto de o país estar à mercê de terceiros e não ter a capacidade eco-

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nómica para apoiar o seu ministério, o qual se encontrava totalmente decadente. Quanto à sua inteligência, ninguém duvidava dela. – Senhores conselheiros, nós realmente estamos a perder as forças, mas não estamos ainda subjugados a ninguém – começou por dizer Luke Visgen, sentado num dos topos da grande mesa de reuniões. – O que vos quero dizer em primeira mão, na sequência de conversações que decorreram entre o Conselho Cientifico e o nosso primeiro-ministro, é que está concluído um projeto, designado de Projeto Parietal, concebido para a criação de uma arma única no Mundo e que será a chave para evitar a invasão da Kardóssia. – E que arma é essa, doutor Luke? – questionou o general Oleg, com alguma curiosidade. – General, para conhecer todas as potencialidades desta arma temos de nos deslocar à Província de Vulkan, pois é lá que ela se encontra e é lá que têm sido feitas todas as experiências. No entanto posso adiantar-lhe, bem como a todos os senhores conselheiros, que esta arma tem como principal característica o facto de não ser mortífera, apenas funciona com o poder da mente e a força que esse poder pode exercer sobre os outros, dominando-os e controlando as suas reações. O general parecia intrigado com a descrição da arma, franzindo o sobrolho. – Mas acha que essa dita arma é suficientemente poderosa para combater os nossos possíveis invasores? – indagou de novo. – E funciona com o poder da mente? Não se esqueça que os nossos inimigos têm armas poderosíssimas, de fusão cósmica e de radiação magnético-atómica… – General, a arma de que falo é mais potente que todo o armamento que possa existir, mas nós não a utilizaremos sobre qualquer possível invasor, seja ele uma força única ou tripartida…

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Durante alguns segundos houve troca de impressões na sala entre os conselheiros, que continuavam sem saber onde queria Luke Visgen chegar com a sua proposta. Por um lado tinha uma arma misteriosa que controlava a mente, e por outro não fazia tensões de a utilizar para benefício da Kardóssia. Prontamente o cientista e ministro voltou a intervir: – Reparo que existem muitas dúvidas sobre este projeto e naquilo em que ele consiste. Todas as vossas dúvidas se dissiparão quando virem a arma em funcionamento no nosso laboratório em Vulkan. – Doutor Luke, para chegar a Vulkan é preciso atravessar os Lagos do Norte, só possível por ar – lembrou o ministro da Defesa e Segurança. – A deslocação de uma comitiva governamental a esse território tem que ser feita na máxima segurança. Já ponderou a situação? – Sim, naturalmente. É muito complicado deslocarmo-nos por terra, mas por via aérea a nossa segurança não será posta em causa – assegurou. – Eu e os meus colegas nas viagens que temos efetuado ao nosso laboratório nunca nos deparámos com qualquer problema, pois o nosso avião está preparado para não ser detetado pelos radares dos rebeldes. O mesmo se passará com a comitiva do governo da Kardóssia que for comigo a Vulkan. Os Lagos do Norte formavam uma região situada na parte norte da Kardóssia, fazendo fronteira com a região mais a norte daquele país, a província de Vulkan. Essa região (Lagos do Norte) reclamava há vários anos a sua independência. Era uma zona rica de subsolo, destacando-se do resto do país pela sua forte expansão económica, apesar da conjuntura menos favorável nessa altura. Vários confrontos já haviam surgido entre as forças dos Lagos do Norte e as da Kardóssia, inclusive com vários atentados terroristas a vitimarem pessoas inocentes entre os habitantes da capital. Entretanto o cessar-fogo fora assinado entre os rebeldes dos Lagos do Norte e o governo da Kardóssia. No entanto 22

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os rebeldes haviam isolado toda a região e só com a sua autorização se poderia ali entrar. Ar, mar e terra eram permanentemente vigiados pelos rebeldes, receosos de possíveis ataques. O Povo do Norte, assim chamado aos seus habitantes, era governado por Viktor Oldmark, um homem sem escrúpulos e inimigo número um dos governantes da Kardóssia, tanto que ponderava anular o cessar-fogo e declarar de novo guerra ao país dominante, entrevendo a sua decadência e a falta de forças armadas capazes. – Doutor Luke deixe-me colocar mais uma questão… – Sim general esteja à vontade! O general Oleg endireitou-se na cadeira, pôs um olhar geral nos presentes e, passando uma rápida vista sobre um pequeno bloco de apontamentos, começou por dizer: – Estamos aqui presentes para deliberar sobre como nos havemos de defender caso o nosso país seja invadido pelos países credores. Segundo a introdução inicial do senhor primeiro-ministro, o doutor Luke Visgen vinha apresentar a este Conselho de Crise a solução que evitasse a guerra na República da Kardóssia. Acaba por nos falar de uma arma misteriosa, que ainda tenho dúvidas da sua capacidade, e termina dizendo que afinal a mesma não é para ser utilizada. Então diga-me doutor Luke, porque nos falou da arma quando afinal não é para nosso benefício? Se calhar não funciona mesmo… – A resposta à sua pergunta, general Oleg, penso que pode ser dada pelo nosso primeiro-ministro – respondeu Luke, olhando de lado para Brian. Brian de Myll tinha-se mantido em silêncio assistindo à troca de ideias entre Luke Visgen e o general Oleg. Face à sugestão de Luke tomou da palavra para tecer algumas considerações sobre o resultado das conversações com o Conselho Cientifico. 23

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– Efetivamente, meus senhores, todo este projeto foi-me apresentado na reunião que há poucos dias tive com o Conselho Cientifico, e é o resultado de investigações que já estão ser desenvolvidas há bastante tempo. Daí o facto de eu próprio ter solicitado ao doutor Luke que hoje mesmo o apresentasse neste Conselho de Crise. Do que eu sei a arma que está a ser produzida poderá ser a salvação da humanidade, assim ela seja bem utilizada. A ideia subjacente é que ela evite a destruição do Planeta, ou seja, que afaste a utilização de outras armas de destruição massiva nas possíveis invasões de uns países por outros, tentando assim evitar o colapso. Mas a arma, como já disse Luke, não será utilizada pelo nosso país, visto que os planos da sua utilização vão ser cedidos à OMM, e em troca esta organização militar irá nos defender de qualquer invasão, ou seja, a OMM passará a ter um exército permanente na República da Kardóssia que assim reforçará as nossas forças armadas e a nossa defesa. – “Agora sim, já tenho a certeza do que se está a passar…confirma-se então que a OMM está envolvida e que a arma realmente existe!”- pensava silenciosamente o general Oleg. – Como? Entregar planos a um mercenário? – perguntou, após a sua meditação. – General foi ele que financiou o projeto! – exclamou Luke. – É verdade – continuou o primeiro-ministro – se não fosse ele, este projeto não iria avançar. O doutor Luke pretendia desenvolver o projeto Parietal, que consistia na produção de uma arma não mortífera, apenas dependente do poder da mente. A Província de Vulkan era a única região onde se poderia desenvolver o projeto, pois o seu subsolo contém uma substância rara no Mundo importante para controlar a potência da arma. Esta arma, como já disse, e num contexto de guerra mundial com a possível destruição do nosso Planeta, constitui uma grande solução para o evitar. Foi desta forma que o projeto Parietal foi apresentado 24

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à Organização Militar Mundial. Como todos sabem esta organização, independentemente do que se possa dizer, tem um papel preponderante na conjuntura mundial. Países ricos e poderosos têm recorrido à OMM para invadir outros países seus devedores… – “John Mallvick não é quem vocês pensam, idiotas!” – continuava o general Oleg nos seus pensamentos. – Caro general, além disso esta organização pode ter muita importância no futuro do Planeta e eu explico porquê – retomou o primeiro-ministro. – A OMM na pessoa do seu comandante concordou em financiar o projeto, precisamente pelo facto de o poder desenvolver com outros países e assim evitar o colapso da Terra. E foi desta forma que avançámos. Por sua vez a OMM, estando ao serviço de qualquer país credor, poderá utilizar esta arma não para destruir o país invadido mas sim para o dominar, levando a que todos os seus habitantes, sem qualquer reação, se subjuguem ao país dominador, sem a destruição da guerra… – O que eu penso é que ter a OMM no nosso território é muito arriscado – disse o general. – Tenho no entanto de concordar que as nossas tropas estão sem armamento à altura, e não são uma alternativa de proteção deste país! Depois de um breve silêncio o general Oleg voltou a questionar Luke Visgen. – Doutor Luke, já agora explique-me como é que se utiliza a arma? – Como já disse, pelo poder da mente e pela capacidade de o transmitir à arma, a qual o descodificará em ondas atmosféricas cerebrais. Essa capacidade tem de ser treinada com a arma…é um processo complexo. Mas poderá ver a sua força em Vulkan, e também a verá em ação numa cobaia: o Povo do Norte.

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– Como, os Lagos do Norte vão servir de teste e ficar sob o nosso domínio? – Exato general – respondeu o primeiro-ministro, antecipando-se a Luke Visgen. – É esse o ponto fundamental. Depois de fazermos o teste com a arma nos Lagos do Norte, e se ele for bem-sucedido, em setenta e duas horas teremos a OMM no nosso país. John Mallvick só se quer certificar do real efeito da arma sobre seres humanos… – Dominar o Povo do Norte, com ou sem arma, é um fator muito importante para o futuro do nosso país – constatou o general. – Afinal sempre acabamos por a utilizar em nosso benefício… Todos sorriram perante a afirmação do general. – Mas, doutor Luke preciso de mais uma explicação – insistia o general, como que tentando fazer uma reconstituição imaginária de algo que ia sobressaindo na sua mente. – Temos de partir do princípio que esta arma acaba por ser perigosa…não é difícil imaginar o mal que poderá vir ao Mundo se cair nas mãos erradas…será ainda pior que o clima de instabilidade que se vive na atualidade, inclusive com as sangrentas e destruidoras invasões que já estão a ocorrer… – Concretize, general – interveio Brian – A minha única questão é tão simples quanto esta: quem vai então utilizar a arma e de que forma? – Vou responder-lhe com a frontalidade que este assunto requer – disse Luke, fitando Oleg Klun seriamente nos olhos. – Quem vai utilizar a arma é quem paga o seu serviço! Imagine que o general é o governante de um país credor e que, tendo posses para isso, e neste caso temos de nos deixar de hipocrisias pois só os países ricos o conseguirão, contrata os serviços da OMM. John Mallvick não precisa de invadir o país devedor, com todo um arsenal militar devastador, de forma a cumprir com o contrato assumido, e levar esse país a perder a sua independência. Com 26

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o auxílio da arma e com as coordenadas corretas do país a dominar, serão transmitidas as “ordens” impostas pelo governante do país dominador/credor, sob minha supervisão, subjugando dessa forma o povo do país devedor à vontade do país credor. As mentes serão convertidas, através de estímulos cerebrais transmitidos pelo governante à arma, em mentes obedientes à imposição transmitida, sem guerras destruidoras, quer das infraestruturas do país, quer dos seres humanos, e sem darem por isso, ou seja, as mentes reagirão com naturalidade sem se aperceber que já há um novo líder naquele território. Ninguém, nesta fase do nosso Mundo, pode impedir as invasões de uns países por outros. Se há países que assumem por eles próprios as consequências dessas invasões, outros há que optam por salvar pelo menos o Planeta e manter os seres humanos à face da Terra! Portanto, respondendo em definitivo à sua questão, a arma será apresentada aos países interessados, só por John Mallvick, mas eu estarei a controlar todos os seus movimentos, pois o ser humano também é imprevisível! – Não deixa de ser um risco para o Mundo, esta arma – acrescentou Brian de Myll. – Entre o “fim do Mundo” e o surgimento de uma nova era, baseada no domínio da mente humana e com a garantia da manutenção da sua existência neste Planeta, é aqui que reside a verdadeira solução! Agora entendem o porquê do comandante da OMM querer saber qual o resultado dos testes com esta arma – concluiu. Mas nem tudo seria conforme Luke dissera… Era importante para John Mallvick ver o efeito que a arma exercia nos humanos, só possível numa cobaia humana. Utilizar a arma no Povo do Norte, dominando-o, era o ideal para a Kardóssia e para o convencimento do comandante da OMM. O que Luke “escondia” é que só ele poderia ter o controlo total da arma, ou seja, a arma que domina a mente, estava formatada apenas para Luke Visgen e mais ninguém. Se a arma 27

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caísse em mãos que não as suas, as consequências seriam imprevisíveis! E esse perigo estava eminente. Questão: porque é que Luke tinha criado a arma desta forma? E passaria ela alguma vez para as mãos de John Mallvick? Existia um plano camuflado por Luke Visgen para pôr em prática a arma, que não seria exatamente o teste na cobaia! Os conselheiros presentes começavam a achar o plano interessante, que poderia estabelecer uma esperança renovada para a República da Kardóssia, mais ainda o facto de os Lagos do Norte poderem deixar de ser um problema e passar a ser uma solução para o futuro da Kardóssia, graças à intervenção do projeto Parietal. – “Não fazia ideia deste teste nos Lagos do Norte...mas pouco me importa. O que interessa é que John Mallvick vai tomar conta deste país, e do Mundo, apesar das ideias de Luke em querer supervisioná-lo, e eu gozarei dos rendimentos para sempre!” – pensava o general. – E para quando será a execução desse plano? – questionou o ministro da Defesa e Segurança. – O tempo urge… – Naturalmente que sim, e o plano terá de ser posto em prática rapidamente – respondeu Brian. – Mas primeiro é indispensável que após tudo o que aqui foi falado e discutido se proceda à apreciação final e à aprovação desta deliberação. Meus senhores quem aprova esta solução, baseada no Projeto Parietal? – Todos os conselheiros foram unânimes, levantando o braço direito como forma de expressar a sua concordância. Então o primeiro-ministro dirigindo-se ao porta-voz do Conselho, solicitou a redação da resolução final do Conselho de Crise, na qual era definitivamente assumido o Projeto Parietal e a cedência dos planos da arma à OMM por troca com a sua proteção militar à República da Kardóssia. E assim estava concluída a reunião do Conselho de Crise. O general Oleg Klun, agora com um aspeto mais confiante, fazia questão de 28

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viajar até ao extremo norte do país a fim de conhecer melhor todo o projeto. – Gostava de ver de perto essa arma e saber das suas potencialidades. – Exatamente general – concordou o primeiro-ministro. – Proponho que daqui a cinco dias viajemos para a Província de Vulkan, eu, o general Oleg, Luke Visgen, e alguns ministros do governo de transição. Logo após os testes na cobaia iremos contactar o general John Mallvick e avançar com a segunda parte do plano. Enquanto os outros se preparam para invadir o nosso país nós estamos a preparar-lhes uma surpresa. E cinco dias bastariam para alterar o rumo dos acontecimentos… ✳

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– Acho que o ministro da Defesa e Segurança devia participar nesta viagem – sugeriu Luke Visgen a Brian de Myll. – E por outro lado estou um pouco desconfiado dele… – Porque diz isso? Eu tenho plena confiança em Nicolas Thorm… – Não sei, tenho ideia de que ele, ou alguém do ministério dele, andou a rebuscar os planos da arma – Não acredito, Luke, se calhar não passa mesmo de uma ideia sua… – Espero bem que sim – respondeu Luke, dando um ligeiro suspiro. Brian mudou de assunto. – Meu caro, como sabe nem tudo foi dito no Conselho de Crise – desabafou o primeiro-ministro. – Eu conheço a arma e sei bem, ou melhor, nós sabemos bem o que pode acontecer com ela a funcionar, não como teste, mas na realidade. Lembre-se que a cobaia, o Povo do Norte, pode reagir exatamente ao contrário das nossas previsões, e se 29

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não se utilizar a dose correta de substância depois poderá não haver retorno…e pode ser o caos no nosso país e no Mundo! – Nada disso irá acontecer, Brian – sossegou Luke. – Os testes estão todos feitos com resultados positivos. A arma é eficaz e segura, tenho a plena certeza. – Oxalá que sim, que seja mesmo como você diz. Luke, Brian e mais três ministros do governo de transição, rodeados do corpo de segurança, dirigiam-se para um pequeno autocarro solar que os levaria ao avião estatal que os aguardava na pista, este também guardado por vários seguranças em viaturas da polícia militar. O general Oleg já se encontrava no avião, e à chegada da restante comitiva levantou-se a fim de os cumprimentar. Toda a logística rumo a Vulkan havia sido preparada com o maior secretismo, só apenas com o conhecimento de Luke, Brian, Nicolas, e o general Oleg Klun. O ministro da defesa assegurava ao primeiro-ministro que tudo estava dentro da normalidade e que a viagem iria decorrer na maior segurança. – Brian, a viagem demorará cerca de duas horas e meia, e o avião irá aterrar numa pista militar na parte oeste da Província de Vulkan, aliás já utilizada pelos nossos cientistas. Lá estará uma coluna de trinta militares, que já seguiu há três dias para fazer o reconhecimento do terreno e que vos irá escoltar até ao laboratório, segundo as indicações dadas pelo doutor Visgen. O avião está equipado com um sistema que não o tornará visível aos radares dos rebeldes quando sobrevoarem os Lagos do Norte. Ninguém naquela região sabe da vossa presença. Resta-me desejar-vos boa viagem e boa sorte! – Obrigado. É também importante que se mantenha o alerta máximo de invasão, pois assim que nós tivermos este plano concretizado, a nossa segurança estará garantida. 30

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– Certamente que sim, todas as normas de segurança serão mantidas – afiançou o ministro, que ainda aproveitou para acrescentar – penso que o Mundo terá muito a agradecer a este projeto! Logo após a conversação com o ministro da Defesa e Segurança, e já com o barulho dos motores do avião, que se preparava para em dez minutos levantar voo, Brian de Myll pediu a atenção de toda a comitiva e proferiu umas breves palavras: – Meus senhores, todos sabem que esta viagem se reveste de algum risco, não só porque vamos sobrevoar uma região inimiga do nosso país, baseada numa paz pouco estabilizada, mas também porque esta comitiva vai, pela primeira vez, conhecer a arma Parietal e vê-la em ação. Este projeto foi desenvolvido exclusivamente para a não destruição do Mundo. Pode-se dizer que esta arma vai dominar formas de pensar e de atuar, mas também acrescento que ela, apesar de ser “arma”, tem um significado diferente, pois pode salvar-nos a nós e ao nosso Planeta, evitando assim o seu colapso. Asseguro-vos que as armas de destruição massiva já estão a depauperar o nosso Mundo, a fazer mortes em países que estão a evitar à força perder a sua independência, até ao limite das suas energias. Penso que não há países pobres…há sim uma grande pobreza na cabeça dos homens, que preferem a destruição à abnegação. É neste contexto que nós vamos empreender esta viagem, ver a arma em ação e testá-la na cobaia. Assim Deus nos ajude! Uma boa viagem para todos! Os restantes elementos do grupo desejaram o mesmo ao primeiro-ministro, e cada um tomou o seu lugar no avião, que pouco depois já estava a levantar voo do aeroporto militar da Kardóssia. A viagem até à Província de Vulkan demoraria cerca de duas horas e meia, sendo prevista a chegada da comitiva ao início da noite.

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