Há poetas de um livro só, e é quanto lhes basta; outros fazem o seu “caminho” por poemas que vão deixando em livros, e naqueles e nestes procuram “ter mão” no que se lhes solta da “pena” que vai arranhando o papel. E perguntam-se a si mesmos:
Quando é que vou ter
a meia-noite da noite
do sapato deixado na sala...
e calçar-to Poesia depois?!
É a tal “magia” que toda a arte encerra, e, por maioria de razão, a arte da palavra. A “varinha de condão”, que é a inspiração de que qualquer poeta se quer possuído, há-de tocar o poema e há-de haver Poesia.
A Deriva da Clepsidra estava na “sala” e, às “badaladas da meia-noite”, acenou ao poeta e este foi no seu encalço... esperando que o “sapato” que tinha encontrado lhe servisse de alguma coisa; que o mesmo é dizer que era este o livro que o poeta queria escrever. Mas... se ainda o não for, o poeta há-de persistir:
Às cegas vou chegando
a cada verso à vista.