Poemas
Acaso ou talvez não...!
Mário Pão-Mole
FICHA TÉCNICA
título: Poemas – Acaso ou talvez não...!
autor: Mário Pão-Mole
edição: edições Vírgula ® (Chancela Sítio do Livro)
arranjo de capa: Ângela Espinha
paginação: Alda Teixeira
1.ª Edição
Lisboa, março 2024
isbn: 978-989-8986-82-5
depósito legal: 525968/23
© Mário Pão-Mole
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INTRODUÇÃO
A vida!
A minha vida!
O acaso ou talvez não das circunstâncias da minha vida!
O sofrimento, a felicidade, a alegria e o amor que revelo neste livro de poesia e pequenas narrativas, retrata o que vivi enquanto solteiro e posteriormente casado onde a vida me proporcionou conhecer o verdadeiro amor, a amizade, a cumplicidade, a saúde e a doença. Foi longa e duradoura a vida do casal unido e amado que sempre fomos. Não merecíamos a infelicidade que Deus nos deu. Sofremos rudes golpes com a morte de dois filhos. E esses episódios enlutaram-nos para o resto das nossas vidas.
Eu, Mário Pão-Mole, pensei se algum dia chegaria a ser feliz! Recentemente e depois de uma vida cheia de sofrimento e de luta também a minha querida esposa faleceu. Isto faz-me pensar que, nascemos para ser felizes, contudo no percurso das nossas vidas há muitos momentos de infelicidade. Esses momentos mais tristes e de luto estão gravados no meu coração e acabaram por moldar as circunstâncias da minha vida. Contudo, encontro-me bem, de sorriso no rosto e partilho belos momentos na companhia das minhas netas, do meu neto e dos meus filhos que eu adoro mais que a própria vida e que me ajudam a levar a vida com mais alegria.
O acaso ou talvez não….
Mário Pão-Mole Preview
Vivi num monte Alentejano, dos 4 aos 9 anos e saí desse monte no dia em que faleceu a minha mãe. Este dia coincidiu com o meu nono aniversário.
Este poema foi escrito no dia que fiz 14 anos, 5 anos após o falecimento da minha mãe. Julgo que a tristeza e a saudade fizeram de mim poeta, porque foi a chorar que juntei os seguintes versos com lágrimas. (retirar e foram rimadas)
Foi o meu primeiro poema.
O ÓRFÃO
Preview
Órfão de pais o menino
Sem saber para onde ir
Sem saber o seu destino
Sem fome nem frio sentir.
Mesmo a chorar levanta
Os braços para o céu estrelado
Minha mãe estou cansado
Nada na terra me encanta
A tua falta é tanta
Não quero estar aqui sozinho
Quero ter o teu carinho
Diz-me mãe onde tu estás
Minha morte seria paz
Mas não sei o meu destino.
Eu contigo iria ter
Por muito que tenha que andar
Tendo mesmo que me matar
Fá-lo-ei com prazer
Se me poderes dizer
Diz-me que eu estou a ouvir
Eu já nem sei sorrir
Nem brincar com outra gente
Meu corpo está dormente
Fome nem frio vou sentir.
Ingrata vida de alguém
Que nasce já condenado
Vá ele para qualquer lado
Em lado nenhum está bem
É tratado com desdém
Sem amor e sem carinho
Mais tranquilo está sozinho
Estando sempre a pensar
Já não tem por quem chamar Órfão de pais o menino.
A fome e o frio vai passando
A ser sempre desprezado
Chega a noite já cansado
Olha para o céu e pensando
Que tanto lhe está faltando
Uns braços para o cobrir
Parece que está a ouvir
A voz de sua mãezinha
Que será desta criancinha
Sem saber para onde ir.
No dia 20-07-1950, dia em que faleceste e me deixaste sozinho no meu nono aniversário.
Foi esta a prenda de aniversário que Deus me deu nesse amargurado dia e que me marcou para a toda a vida. AS ESCADARIAS
Que me aperta o coração. Preview
Vou subir as escadarias
Quero ao fim do mundo ir ter
Procuro nas energias
A força para te ver.
Julgo que estás no céu
Tu que eras uma santa
Tantas saudades tenho eu
Que me aperta a garganta.
Ó minha querida mãe
Há tanto que me deixaste
Que foste para o além
Sozinha, não me levaste.
A tua fotografia
Não é a recordação
Eu recordo noite e dia
Vivo na tua feição.
Com muita mágoa recordo
O dia que me deixaste
Mesmo a dormir quando acordo
Ouvi que tu me chamaste.
E por ti tenho este amor
De eterna duração
Mesmo com profunda dor
A altura em que vivi no referido monte foi o período mais feliz da minha vida, por não me aperceber do que os adultos sofriam para ganhar a vida.
Mais tarde a lembrar-me desse tempo e da liberdade incondicional que tinha, fiz este poema O MEU MONTE
Dormimos em cima do feno. Preview
No Alentejo, o meu monte
Onde eu brincava em pequeno
Bebia água da fonte
Dormia em cima do feno.
Comia pão com toucinho
Ou batatas com bacalhau
Açorda com um ovinho
Ou só com um carapau.
Nunca fazia maldade
Não havia para fazer
Era tanta a liberdade
Que não consigo esquecer.
Ó tempo volta para trás!
Quero voltar a ser criança
A viver em tanta paz
Que não me sai da lembrança.
Falava com a cotovia
Que cantava só para mim
Escutava o que dizia
Ela falava assim.
Olhamos o horizonte
Neste clima ameno
Bebemos água da fonte
Aos 16 anos, já farto de sofrer naquele Alentejo, naquele tempo de miséria, fugi sem destino marcado e fui parar a Santarém. Dou por mim num lugar chamado Casais da Bufinha, freguesia de Achete, onde encontrei pessoas com enormes corações.
Por acaso ou talvez não, fui acarinhado por um casal de idosos que tinham perdido seu único filho, da minha idade e parecido comigo. Talvez por isso eu fui muito bem tratado, como um filho para eles.
Até nas horas da refeição me queriam a comer na sua companhia. Depois de comer começavam sempre uma discussão carinhosa, na disputa de quem morreria primeiro. Eu achei graça e fiz este poema em 1957.
Habitavam dois velhinhos, Em certa aldeia do Norte.
Com noventa anos de idade, Lembravam a mocidade, Esperando em breve a morte.
Em certa noite de inverno, Sentados lá à lareira, O velho mais a velhinha, Na sua simples casinha, Falavam desta maneira.
Já pouco podemos viver.
Dizia o bom do velhinho:
Deus queira que eu morra adiante, Para não sentir tristemente, A falta do teu carinho.
Ouvindo isto a velhota, Responde ao marido assim: Se a morte em breve vier, E consciência tiver, Leva-me primeiro a mim.
Terminando esta conversa, Alta noite, já hora morta, Quando iam para se deitar, Ficaram a escutar, Ouviram bater à porta.
Bateram vezes sem conta, Pergunta o velho em voz forte. Quem está aí a bater?
Então ouviram dizer, Abra a porta que é a morte.
A porta para a morte entrar, Ir abri-la nenhum quer.
Diz então o marido:
Tenho aqui um pé dorido, Vai lá tu abrir mulher.
A mulher cheia de medo, Disse-lhe baixo ao ouvido:
Paz às suas almas Preview
Vê lá que martírio o meu, Que grande dor que me deu, Vai lá tu abrir marido.
Nunca mais se abriu a porta. A morte o que faz depois.
Como é forte e está irada, Entrou com a porta fechada, Chegou lá levou os dois.
Não descrevo as barbaridades que vivi nas guerras por onde passei, porque nem as quero recordar nem dar a recordar a ninguém.
Naqueles dias que a guerra nos dava algum descanso, mesmo sendo militar e estando em zonas de conflito armado, o cérebro de um poeta não parava e foram mais de cem os poemas que foram feitos e ao mesmo tempo esquecidos, por não haver oportunidade de os escrever e guardar.
Mesmo nas zonas de combate, todos nós, lembrávamos as namoradas. Chegávamos a levar meses ou anos sem ver uma mulher. Assim a minha imaginação gerou poemas que mais pareciam sonhos.
Preview
A NUVEM É MINHA CAMA
Numa nuvem vou deitado
Voando alto a céu aberto
Quanto mais alto mais perto
Do céu bem iluminado
Olhando para todo o lado
Vejo estrelas cintilando
Assim fico imaginando
Como é o teu olhar
Teus olhos a cintilar
Ao ritmo do coração
A tremer de emoção
Por não poderes alcançar
A nuvem que vai no ar
De onde eu sonho acordado
Ó vento leva um recado
Ao meu amor lá tão longe
Não sou missionário nem monge
Mas vivo bem desterrado
Neste lindo e verde prado
E tenho por companhia
O cantar de alegria
Das aves que me acompanham
A solidão e paz me apanham
Sempre em meditação
Minha sólida opinião
Estou bem acompanhado.
Quando terminávamos uma missão, depois de um reconfortante banho e o aconchego de uma boa refeição cozinhada, fazia-se uma soneca bem merecida e tudo ficava capaz de mais.
Guerra é guerra! E é bom não recordarmos tudo o que se passou, mas nem sempre conseguimos fugir das memórias, que mais nos enervam e descontrolam. É como fugir de nós próprios.
De quê e por quê vou fugir, Se eu não fujo de mim.
Eu só fujo ao sentir, Que se fugir tem um fim.
Fugir de quê e para quê, Se minha sombra me acompanha.
Toda a gente sente e vê,
Que é tristeza e não vergonha.
Tristeza que toda a gente, Algures, teve um pouquinho.
E tem de seguir em frente, Uns dias com mais carinho, Outros mais triste que nunca, A desejar estar sozinho.
Fui para a Marinha de Guerra Portuguesa, onde fui selecionado para fuzileiro, fazendo todas as provas e cursos. Em 1963 fui incorporado no 4.º destacamento de Fuzileiros Especiais e fomos para Angola, indo de avião pela urgência e necessidade da nossa presença na Guerra que travávamos neste País africano.
Andámos 2 anos por aqueles matos, sempre seguindo a mesma regra: ou disparas primeiro ou morres.
Foi lá que me lembrei no dia em que assentei praça no Alfeite da Marinha e fiz este poema.
VIDA MILITAR
Quando assentei praça, No Alfeite da Marinha, Tiraram-me toda a graça, À pouca graça que eu tinha.
Levaram-me ao barbeiro, Meu cabelo me raparam, Juro e sou verdadeiro, Os meus olhos choraram.
Fiz faxinas à cozinha, Só para lavar os pratos.
Triste sorte foi a minha, Até lavava os meus trapos.
Pegava na vassourinha, E varria a caserna.
Parecia uma sopeirinha, Sem usar meia na perna.
Quando foi para marcar passo, Uma salsada a preceito. Com todo o desembaraço, Levava o joelho ao peito.
Mas tudo desencontrado, Foi só no primeiro dia. Uns quantos dia passados, Já toda a gente sabia.
Assim três meses passaram, À bandeira fui jurar.
E sempre me prepararam, Para a guerra no Ultramar.
Mais três meses de I.T.E., Para aprender de tudo um pouco. Toda a marinharia e até, Combater um fogo louco.
Mais três meses de outro curso, No curso de especiais.
Fortaleza como a do urso, Que saiu de homens normais.
Angola foi o destino, Março de sessenta e três. Em sessenta e cinco o término, Voltamos para cá outra vez.
Em 1965, regressamos de Angola. Chegados a Portugal e novamente pela urgência da guerra em Moçambique, somos destacados para esta esta ex-colónia.
A regra mantem-se: quem dispara primeiro vive! Foram mais 2 anos de arma na mão. E para levantar a moral nos intervalos da mesma saiam mais uns poemas.
VIDA MILITAR
A seguir foi Moçambique, Aí ficamos mais dois anos.
Sempre em zonas das mais chiques, Por já sermos veteranos.
Alguns tiveram azar, A maioria com mais sorte.
Ser o primeiro a disparar, Isso contava, vida ou morte.
Tudo isto foi passado, Do que hoje não há vaidade.
E mesmo que magoado, Lembramos com saudade.
Difícil compreender, Esta nossa lealdade.
Saudades podem crer, De toda a nossa irmandade.
Hoje quando nos juntamos, Que falamos no passado, É um prazer que mostramos, Desse tempo aventurado.
Passamos pelo Niassa, Esse lago virtuoso. As coincidências que o abraça, A Portugal primoroso.
De comprimento tem milhas, Como o ano tem seus dias.
Também tem algumas ilhas, Como contos de fantasia.
Também a sua largura, Em milhas, dá as semanas. Sendo a verdade pura, 52 e não te enganas.
Sessenta e sete em novembro, Acabaram estas férias.
Sem alguém já estar sabendo, O que são ruas ou artérias.
Para terminar esta história, Que hoje estou a recordar.
Pascoal tem a glória, De tudo isto começar.
PASSEIO À LUZ DA LUA
Sozinho vou passear
Pelo campo à luz da lua
Liberdade para pensar
Sem ninguém incomodar
Não se passa assim na rua.
Na rua encontra-se gente
Amigos e conhecidos
Preview
E é muito frequente
Responder a essa gente
Uns sinceros outros fingidos.
Gosto muito mais de estar
Sozinho em pensamento
E só comigo falar
É mais fácil acreditar
No que sinto de momento.
Sinto-me alegre e feliz
E muito bem acompanhado
A esposa que sempre quis
Dois filhos que bem se diz
Meu orgulho inflamado.
Orgulho de pai contente
Porque eles felizes são
Assim fosse toda a gente
Numa família decente
Onde se vê união.
Para sair do mutismo silencioso, sai sempre qualquer coisa alegre, como lembrar as namoradas e peripécias da juventude.
A imaginação do ser humano é fértil, principalmente em assuntos de amor. Pois aí lhes mando uma pomba, que diz do que o amor é capaz.
O SEGREDO DA POMBA
Veio uma pombinha branca
Pousar no meu ombro esquerdo
Afinou sua garganta
Para me dizer um segredo.
Um segredo confessado
Que continua a ser segredo
Ficará bem guardado.
Vai pomba, não tenhas medo
E por ti está a sofrer. Preview
Se a pomba um dia pousar
No teu ombro, podes crer
Que ela te irá contar.
Sem que tu possas ver
Que alguém te está a amar
Quando eu declamava um destes poemas, quase todos me pediam para os mandar para as suas namoradas.
Na véspera do Dia da Mãe, um camarada pediu-me para eu fazer um poema para ele mandar para a sua mãe. Assim fez-me recordar a minha triste vida de não poder fazer o mesmo.
DIA DA MÃE
Ó minha mãe tão querida
Que eu amo mais que a vida
E hei de amar eternamente
Sinto falta dos teus carinhos
Desses teus doces beijinhos
Que davas alegremente.
Hoje não fazes igual
A simples razão de tal
É eu estar longe e somente
Beijas minha fotografia
Mas, mãe é com alegria
E com teu pranto ardente.
Eu não declaro meu amor
Mas é tão grande esta dor
Que magoa teu filhinho
Preview
De tanta a saudade
Desta triste eternidade
Com falta do teu carinho.
Não quero lágrimas nenhumas
Não chores não te consumas
É só isto que te peço
O tempo há de passar
E a alegria chegar
Quando for o meu regresso.
Quanta nostalgia suportamos, ao lembrar a nossa mocidade no tempo escolar, com todas aquelas grandes amizades de gente pequena.
É isso que eu estou a recordar, agora depois dos oitenta e tantos anos, lembrando o tempo dos 10 anos.
VOU APRENDER A SONHAR
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Quero sonhar contigo um dia
Em pequenos na escola
Quando eu de ti fugia
Provocando-te arrelia
Escondendo tua sacola.
Gostava de te ver zangada
Achava-te mais bonita
Com energia revelada
Na tua face bem corada
Imagem que tenho escrita.
Quando penso ainda vejo
O teu olhar carinhoso
O prazer de um grande beijo
Era assim nosso desejo
Eu ficava tão vaidoso.
O tempo quis apagar
O que eu nunca esqueci
Volto sempre a recordar
A saudade faz voltar
Lembro-me sempre de ti.
Os amigos nunca esquecem
Quando a amizade é sincera
Amizade que merecem
As crianças que enriquecem
Um amor de primavera.
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