Memórias da Paradinha

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título: Memórias

da Paradinha Assunção e José Cerca edição: Edições Ex-Libris ® (Chancela Sítio do Livro) autores: Norvinda

fotografias:

Norvinda Assunção e José Cerca Margarida Rocha capa: Ângela Espinha paginação: Paulo Resende

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revisão:

1.ª edição Lisboa, julho 2021 isbn:

978­‑989-9028-27-2 483960/21

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depósito legal:

© Norvinda Assunção e José Cerca

Todos os direitos de propriedade reservados, em conformidade com a legislação vigente. A reprodução, a digitalização ou a divulgação, por qualquer meio, não autorizadas, de partes do conteúdo desta obra ou do seu todo constituem delito penal e estão sujeitas às sanções previstas na Lei. Declinação de Responsabilidade: a titularidade plena dos Direitos Autorais desta obra pertence apenas ao seu autor, a quem incumbe exclusivamente toda a responsabilidade pelo seu conteúdo substantivo, textual ou gráfico, não podendo ser imputada, a qualquer título, ao Sítio do Livro, a sua autoria parcial ou total. publicação e comercialização :

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REGRESSO ÀS ORIGENS

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Índice 9

PARTE I  PARADA NO TEMPO E NO ESPAÇO

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PARTE II  EVOCAÇÕES FAMILIARES

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PARTE III  OS RIOS DA PARADINHA

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PARTE IV  O PASSADO, O PRESENTE E O FUTURO DA PARADINHA

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PARTE VI  A PARADINHA EM TELA

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PARTE V  A PARADINHA E O GEOPARQUE AROUCA

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CONCLUSÃO 143

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REGRESSO ÀS ORIGENS Introdução

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Toda a nossa existência é marcada pela vivência que tivemos na nossa infância e juventude, pelos ambientes que frequentámos, pelas experiências que vivemos, pelas descobertas que fomos fazendo. É por isso que a terra onde nascemos e onde passámos a nossa infância e juventude, por mais pequena ou simples que seja, deixa sempre em nós laços inquebráveis que nos hão-de ligar sempre às origens da nossa existência. Regressar a essas origens, percorrendo os caminhos da nossa infância, evocando os sonhos da nossa juventude, saboreando as peripécias das nossas aventuras, recordando, enfim, o passado que, apesar dos anos ou da distância, permanece vivo e indelével na sensibilidade da nossa memória, é quase sempre uma experiência gratificante que nos faz recuar no tempo e esquecer, por momentos, o inevitável e cíclico correr dos anos. Norvinda Assunção e sua irmã Maria dos Anjos quiseram, numa linda tarde de primavera, viver essa experiência, evocando os laços que, apesar dos anos passados, as mantêm ligadas ao lugar onde nasceram: a Paradinha! Foi em 23 de abril de 1992 que elas fizeram esse regresso ao passado para, através de imagens e de sons, testemunharem esse regresso às suas origens que ficou plasmado num pequeno vídeo que então realizámos. Nessa altura, o lugar da Paradinha estava praticamente a ficar deserto, pois a maioria dos seus habitantes, ou tinha emigrado à procura de melhores condições de vida, ou tinha mesmo falecido. Habitavam lá apenas duas famílias e a maior parte dos terrenos já mostrava as consequências bem visíveis do seu abandono. Por sua vez, grande parte das casas evidenciava já sinais preocupantes dessa desertificação humana e social. 9


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Quase 30 anos depois, voltámos lá de novo, acompanhados das mesmas personagens, para registarmos, desta vez em livro, estas “Memórias da Paradinha”. Percorremos todo o lugar e verificámos, com grande satisfação, a recuperação equilibrada e bastante criteriosa da maior parte das casas de xisto, num louvável respeito pelo ambiente natural que rodeia a aldeia e pela traça arquitetónica das suas habitações. Este quase renascer das cinzas permitiu transformar esta povoação, completamente abandonada, num agradável e tranquilo local para a prática do turismo de natureza, graças aos recursos naturais de que dispõe e que foram devidamente preservados e alguns até criteriosamente bem rentabilizados. Referimo-nos, entre outros aspetos, à criação da praia fluvial da Paradinha pela Câmara Municipal de Arouca em 1997, com os respetivos equipamentos de apoio, bem como à criação da Associação dos Amigos da Paradinha, em 13 de março de 2000 que construiu, mesmo junto ao rio, um agradável espaço de merendas com as estruturas básicas para aí se grelhar ou fazer pic-nics destinado a grupos e aos sócios da coletividade. Por sua vez, a realização de alguns eventos, quer de cariz cultural, como o concerto dos “Sons da Água”, quer de cariz religioso e social, como a “Missa do Rio”, realizados mesmo nas margens do rio Paiva, contribuíram para divulgar e valorizar as potencialidades deste lugar que em 2012 entrou para a rede das “Aldeias de Portugal”. Quem hoje visita a Paradinha desconhece como era a sua vida nesta aldeia, antes deste feliz renascer. Por essa razão, estas “Memórias da Paradinha” que Norvinda Assunção e sua irmã Maria dos Anjos nos deixam foram registadas e fixadas em livro para que possamos regressar ao passado, melhor compreender o presente desta ressuscitada povoação e melhor intuirmos o seu futuro como excelente espaço para a fruição de um equilibrado e saudável turismo de natureza. José Cerca 10


PARTE I

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PARADA NO TEMPO E NO ESPAÇO

O teu nome

És um lugar paradisíaco, sossegado e tranquilo, colocado à beira do rio Paiva, na freguesia de Alvarenga, Arouca. Não sei, minha Paradinha, quem te pôs o nome, mas ouvi dizer que, vindo uns almocreves de Lamego para Arouca, com as suas mulas carregadas de mercadorias, faziam aí uma pequena parada, para pernoitarem, e assim terá nascido, possivelmente, o teu nome. 11


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Também há quem diga que Paradinha tem a ver com parada que era, noutros tempos, o foro que o povo pagava aos senhores da terra, bispos, autoridades eclesiásticas e senhoriais, quando por ali apareciam ou “paravam”. Esse foro ou essa obrigação consistia em terem prontos mantimentos ou dinheiro para manter os senhores e sua comitiva. Será talvez por isso que ainda hoje há dezenas de nomes de localidades com o nome de Parada, Paradinha ou Paradela. Próximo de Arouca, por exemplo, existe o nome de Parada de Ester, pertencente a Castro Daire. Paradinha e Paradela, segundo dizem os entendidos, eram localidades onde o povo pagava um foro menor ao senhorio. Não sei se Paradinha tem a ver com isso, pois há quem diga que Paradinha se refere também a uma pequena parada que os caminhantes faziam para descansar a sesta e depois atravessarem o rio rumo a Arouca. Não sei se foi assim que nasceu o teu nome, pelo menos foi o que ouvi falar dos meus antepassados. Paradinha…, só sei que foste um pequeno lugar com muita vida e que agora estarias condenada ao abandono, visto que os teus moradores, uns morreram, outros emigraram à procura de melhores condições de vida e outros, levados pela solidão, saíram também para diversos lugares. 12


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Estavas a ficar um lugar abandonado e em ruínas, até que alguém se lembrou de começar a reconstruir a sua casa abandonada. Foi um pequeno passo para te levantares de novo e recomeçares a ter vida. Hoje, tens quase todas as casas reconstruidas, tens estrada, luz, água canalizada, telefone e um bar que faz parte da praia fluvial. E tens muita gente que te habita e que te visita. Tens, novamente, vida!… Não sei ao certo como nasceste, mas sei que foi aqui que eu nasci, foi aqui que eu vi a luz do dia e é de ti, minha querida Paradinha, que eu vou tentar falar, recordando os belos tempos que por aqui passei, enquanto ia crescendo. Que prazer nostálgico eu sinto ao percorrer, tantos anos depois, as tuas ruas e vielas! Cada pedra que piso me recorda a minha infância e juventude. Sinto-me, às vezes, como se fosse a última sobrevivente da face da terra! Pergunto-me a mim mesma: porquê eu? Já em ti habitou tanta gente e só eu, o marido e poucos mais? Sinto a minha mente baralhada com tantas lembranças lindas e tantas tristezas com saudades dos que já partiram. A todos eles a minha saudade e gratidão. É, pois, com este sentimento de saudade, misturada com alguma tristeza, que vos vou falar da Paradinha, das suas gentes, dos seus costumes e da vida que então lá existia.

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Os habitantes da aldeia

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Na Paradinha cada casa tinha o seu nome próprio, assim como as suas ruas. A “casa D’acolá” era a última do lugar. Era a primeira para quem vinha dos lados da Cabranca. Nela habitavam seis pessoas: Manuel Soares Mendes, sua esposa, Emília Mendes e seus filhos José, Joaquim, Olinda e Custódia. Viviam da agricultura e do pastoreio de ovelhas. Na segunda casa, a “casa do Tio António”, vivia ele com sua esposa e a filha Aurora. Viviam igualmente da agricultura e dos animais. A terceira casa era chamada a “casa do Joaquim”, que emigrou para o Brasil e por lá ficou. A quarta casa era a “casa da Tia Margarida”, habitada por José Mendes, Margarida e suas filhas Emília e Maria (a Micas como era conhecida). A Micas casou com António Lapadas e teve dois filhos, José António e Paulo. Mais tarde a Emília casou com o José da Cabranca e tiveram como filhos Adélio, Elizabete e Fátima. A quinta casa era a “casa da Maria Rosa” e sua filha Bernardina, tecedeira de profissão. A sexta casa era a “casa da Carreira” constituída por José 14


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Mendes e sua esposa, Maria Martins Assunção e seus filhos Aníbal, Laurinda, António, Delminda, Manuel, Orlando, Maria do Carmo, Glória, José e Fernando. Eram ainda da família a mãe do José Mendes e os seus tios Emília e António que viviam na casa chamada da Eira. Com eles vivia também outra tia, a Tia Rosa. Tinha passado a sua vida em Lisboa e regressou para passar a sua velhice junto dos seus, na “casa do Tear”. Viviam da agricultura, dos seus rebanhos e do barco de que falarei mais adiante. A sétima casa designava-se “A casa D’Além” e nela viviam Albino Soares, a sua mulher Ana, os seus filhos José Manuel e Emília. Estes, emigrados do Brasil, viviam da agricultura e de esmolas da vizinhança. Nasceram também alguns filhos de Emília: Isaura, Odete e Isidro. A oitava casa era a “casa do Ribeiro” por estar junto ao ribeiro, pequeno rego de água límpida, que ainda hoje persiste, levando as suas águas até ao Paiva. Mais tarde viria a ser conhecida pela “casa do Cereeiro”, por nela se fabricarem velas de cera e outros artigos feitos do mesmo material. Esta casa, datada de 1868, foi construída por José Soares Mendes (meu bisavô), que vivendo numa casa mais pequena, onde nascera e também junto do ribeiro, tomou a decisão de construir uma maior para viver. Era casado com Custódia, que tinha vindo de Canelas, da “casa da Ramada”, e lá vivia com as suas filhas Emília, Custódia e Margarida. Mais tarde nela viveram a sua filha Emília, o seu marido Manuel da Costa e Silva, as suas duas filhas Arminda e Custódia, o seu genro Manuel José Duarte (casado com a filha Arminda) e os seus netos, Norvinda, Nelson e Maria dos Anjos – também conhecida por Miquitas do Ribeiro. Viveram também nesta casa dois sobrinhos da Emília que os tios criaram com muito amor e que se chamavam Jerónimo e Maria da Conceição. Esta última ficou com a família até à morte. A Maria da Conceição era para os netos uma avó muito querida. 15


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Mais duas pequenas casas existiam no lugar, onde morou Aníbal Mendes e a sua mulher Prazeres, com os filhos José e Isaura. Ele, Aníbal, era oriundo da “casa da Carreira” e ela do lugar de Vilar de Cervos. Foi curta a sua permanência no lugar, pois foram viver para Alvarenga. Numa das pequenas casas do Ribeiro viveu um homem sozinho, chamado Lourenço, a quem a solidariedade do senhor Manuel Cereeiro permitiu abrigar. Em dias determinados da semana, deslocava-se à sede da freguesia, pois estava encarregado da correspondência — era o carteiro do lugar. Moraram ainda na Paradinha, Manuel Mendes e a sua esposa Maria, assim como o seu filho Joaquim, que aí nascera. São estas as pessoas da minha lembrança que viveram nesta aldeia, que amei, amo e amarei sempre. 16


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Nela trabalhavam, quase diariamente, muitas outras pessoas. Mais adiante, ao longo deste livro de memórias, falarei delas, do porquê da sua vinda, como eram tratadas e do sentido comunitário que existia na Paradinha. Já falei, oh Paradinha, de quantos eram os teus habitantes e evoquei os seus nomes e as casas onde habitavam. Agora vou falar como se vivia naquele tempo, ou seja, como eram os usos e costumes nesta linda e pacata povoação ribeirinha.

Usos e costumes na Paradinha: a azeitona

A Paradinha sempre foi muito rica em azeite, pois eram numerosas as oliveiras que cobriam os seus campos. A “casa do Ribeiro” possuía muitos olivais e a azeitona era toda apanhada à mão e ripada para mantas que se estendiam no chão. Mas antes, já se iam apanhando, diariamente, à mão, aquelas azeitonas que iam caindo no chão, para evitar que os animais ou os bichos as comessem, ou que as pessoas as esmagassem, ao passarem pelos caminhos. Assim, logo pela manhã, lá íamos nós, as crianças, com pequenos cestos e, por vezes, com as mãos regeladas, dar a volta aos olivais.

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Aquando da apanha, propriamente dita, aqueles que tinham muita azeitona eram ajudados por pessoas de outros lugares. Esta é uma das razões que faziam da Paradinha uma aldeia comunitária. A azeitona era escolhida à noite, pelos homens e pelas crianças, quando chegavam a casa, enquanto as mulheres iam com um caneco buscar água, fazer a ceia e deitar de comer aos animais. Era escolhida numa criva grande toda ripada a que davam o nome de “ceranda”. Depois era espalhada em salas ou salgada no lagar para se aguentar até se apanhar toda a azeitona e se fazer o azeite. O azeite era feito numa azenha manual que constava de uma grande pia de pedra, uma mó também de pedra, rolando num eixo preso à mó no fundo da pia e a uma trave. Tinha para os lados dois paus onde cabiam quatro pessoas a puxar, sempre à volta da pia para a mó girar e moer a azeitona. Por vezes, também se punha uma vaca a puxar a roda. Depois de moída, o bagaço da azeitona era passado à mão em escudelas feitas de madeira para uma ceira onde se misturava água quente para que o azeite saísse e caísse num pote feito também de madeira ou de pedra. Este tinha uma parte baixa por onde saía a água churra e no cimo ficava o azeite. 18


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Por fim, havia uma grande trave com um peso de pedra que andava à volta e espremia a ceira para que todo o azeite saísse. Havia também uma caldeira sempre com água quente e que era aquecida a lenha. Como era necessária muita lenha, esta era cortada tempos antes, feita aos molhos para que rolasse monte abaixo, ficando no caminho, sendo depois carregada em carros de vacas. De preferência era utilizada a lenha das chamiças que eram as urzes mais altas e com os toros mais grossos. Por vezes havia falta de água. Logo de manhã mandavam-nos a nós, crianças, passá-la com regadores para encher a caldeira. Só Deus sabe quanto nos custava, pois estávamos em pleno inverno e estava tudo cheio de geada. Depois que o azeite se separava no pote, era metido em cântaros de lata e depositado em talhas de barro. Dali, algum dele era vendido e transportado em medidas de folha, à cabeça das mulheres, através das serras. À noite, era muito divertido. Vinham para a azenha os jovens do lugar e de outros lugares vizinhos: Fontes, Pardelhas, Cabranca, Bacelo e outros. Os rapazes e as raparigas puxavam a roda, correndo, para moer a azeitona e quando passavam na parte mais escura aproveitavam para dar umas “apalpadelas”. Havia uma pá para empurrar a massa para baixo conforme ia moendo. Quem andava a puxar corria para que o outro se desequilibrasse, obrigando-o a sair fora e então havia lugar a uma grande risada… Os novos divertiam-se assim, os mais velhos jogavam às cartas, enquanto que as mulheres fiavam lã ou linho nas rocas, ou faziam meias de lã e camisolas.

O linho

O linho era semeado em estreitas margens, com regos pelo meio, para que pudesse ser regado, com um restolho sem mexer na terra. 19


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Quando maduro, era arrancado muito certinho, ripado no ripeiro com dentes para que largasse as sementes. Era divertido, porque as pessoas que vinham ao linhar eram surpreendidas pelas outras que lhe pegavam e batiam com o rabo nas baganhas, o que causava uma certa relutância porque se picavam. Depois de ripado, o linho era feito em pequenos molhos que eram colocados de molho na água do rio. Ficava lá vários dias a fim de sair toda a parte verde, ficando só as hastes. Depois era lavado e posto a secar.

Quando seco, era posto em molhos e levado para um engenho chamado “azenha do linho”, que havia entre as terras da Paradinha e da Cabranca, para ser passado num cilindro tocado pela água do rio com uma grande roda que fazia imenso barulho. Chamava-se a isto amaçar o linho. Vinha gente de longe, porque era único na região. De seguida, eram feitas as mãos-cheias e espadelado com espadelas de madeira – tasca –, na beira de um cortiço para que ele largasse o resto das arestas e se tornasse mais macio e sedoso. Este trabalho da tasca era feito por várias mulheres. Enquanto tascavam o linho, cantavam alegremente para tornar o trabalho mais suave. 20


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Após a tasca, o linho ia para o sedeiro. Era uma caixa de madeira cheia de finos picos e o linho era passado ali tantas vezes que se tornava seda. O mais limpo e puro era o linho, o que não passava no sedeiro era a estopa, os chascos ou tomentos que depois dariam o pano mais grosso. Terminado este processo, o linho ia para a roca. Esta era feita com canas rachadas onde se enrolava o linho. Ia-se puxando e torcendo com o fuso que era feito de madeira e com uma haste de metal. Ia-se molhando com saliva e puxando com uma mão e a outra, enquanto se ia torcendo o fuso. O linho era fiado fininho mas a estopa e a chasca eram mais grossas. Do fuso tiravam-se as massarocas e faziam-se os novelos. Os novelos eram passados no “sarilho” feito de madeira onde se transformavam em meadas. 21


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