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Daniel Silves Ferreira
A CAUSA de Tobias Seleiro
A CAUSA de Tobias Seleiro
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Caco assistia a uma reunião dos Círculos Cabo-verdianos para a Democracia que se opunha ao regime de partido único, quando António, seu pai, o surpreendeu. A longa conversa do dia seguinte leva Caco aos anos da adolescência e ao despertar do interesse para questões proibidas pelo regime colonial então vigente. Na decorrência vêm-lhe à mente as peripécias nas quais o Tobias Seleiro se viu metido, e a responsabilidade de alimentar um grupo de combatentes desembarcados e escondidos nas montanhas de Santiago. Homem que tinha conhecido vários infortúnios, Tobias Seleiro, com sentido de dever, mobilizou um grupo sólido, inicialmente para o apoio e, posteriormente, para o grande encontro entre os defensores da Causa e os combatentes da Libertação, que veio a realizar-se na noite do dia 4 de julho de 1971, depois de um aturado trabalho de organização. António constatou que o filho Caco estava ao corrente da situação e dos acontecimentos. Então, resignado e sem desencorajá-lo definitivamente, pediu-lhe que, pelo menos de imediato, se abstivesse de todo o envolvimento político por serem graves os riscos. Estranhamente, um pedido bastante semelhante volta a ser feito anos mais tarde, num contexto que devia ser completamente diferente. Depois da reunião de jovens estudantes opositores ao regime, ele aconselha o filho a priorizar os estudos e a protelar o envolvimento nas lides políticas clandestinas. Porém, tal como no primeiro pedido, Caco não pode responder ao pedido, pois está demasiado comprometido com a Causa de Tobias Seleiro, que admira e acredita não estar ainda plenamente realizada. Embora compreenda as inquietações do pai, que estima muito, não lhe é possível recuar.
Daniel Silves Ferreira é cabo-verdiano, nascido em 1958 na Cidade da Praia onde vive. Médico Psiquiatra de profissão, é também um cidadão atento à situação política, social, económica e cultural do seu país.
Daniel Silves Ferreira