LOHAUME - Uma viagem para além das areias proibidas

Page 1



w

MÁRIO DE ABREU

Pr ev ie

Lohaume

uma viagem para além das areias proibidas

Loahume - Uma historia improvavel.indd 3

19/07/21 11:46


w

Pr ev ie

FICHA TÉCNICA

título:  Lohaume – uma viagem para além das autor:  (texto e ilustrações): Mário de Abreu edição:  edições Vírgula © (Chancela Sítio do Livro)

areias proibidas

revisão de texto:  Roberto Leandro (www.alfaiatedostextos.pt) capa:  Ângela Espinha paginação:  Alda Teixeira

1.a Edição Lisboa, julho 2021

isbn: 978-989-8986-44-3 depósito legal: 485170/21 © Mário de Abreu

Todos os direitos de propriedade reservados, em conformidade com a legislação vigente. A reprodução, a digitalização ou a divulgação, por qualquer meio, não autorizadas, de partes do conteúdo desta obra ou do seu todo constituem delito penal e estão sujeitas às sanções previstas na Lei. Declinação de Responsabilidade: a titularidade plena dos Direitos Autorais desta obra pertence apenas ao(s) seu(s) autor(es), a quem incumbe exclusivamente toda a responsabilidade pelo seu conteúdo substantivo, textual ou gráfico, não podendo ser imputada, a qualquer título, ao Sítio do Livro, a sua autoria parcial ou total. Assim mesmo, quaisquer afirmações, declarações, conjeturas, relatos, eventuais inexatidões, conotações, interpretações, associações ou implicações constantes ou inerentes àquele conteúdo ou dele decorrentes são da exclusiva responsabilidade do(s) seu(s) autor(es). Esta é uma obra de ficção, pelo que, nomes, personagens, lugares ou situações constantes no seu conteúdo são ficcionados pelo seu/sua autor/a e qualquer eventual semelhança com, ou alusão a pessoas reais, vivas ou mortas, designações comerciais ou outras, bem como acontecimentos ou situações reais serão mera coincidência.

publicação e comercialização:

www.sitiodolivro.pt publicar@sitiodolivro.pt (+351) 211 932 500

Loahume - Uma historia improvavel.indd 4

19/07/21 11:46


w

INDEX

Bamadie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 A Guerra entre os Elementos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

Pr ev ie

Lohaume . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Os Guardiães . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Agrabel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 Tharomer e Herazan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Os Jogos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 Hockar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 As areias proibidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 O Subterrâneo e Miorabei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

Loahume - Uma historia improvavel.indd 5

19/07/21 11:46


w

Pr ev ie Loahume - Uma historia improvavel.indd 6

19/07/21 11:46


w Miguel, Inês e Ruben

Pr ev ie

a:

Loahume - Uma historia improvavel.indd 7

19/07/21 11:46


w

Pr ev ie Loahume - Uma historia improvavel.indd 8

19/07/21 11:46


w

Pr ev ie

Para todo esforço há fruto... (Provérbios, 14;23)

Loahume - Uma historia improvavel.indd 9

19/07/21 11:46


w

Pr ev ie Loahume - Uma historia improvavel.indd 10

19/07/21 11:46


w

Pr ev ie Loahume - Uma historia improvavel.indd 11

19/07/21 11:46


A História do nosso planeta é tão antiga que grande parte dos seus episódios permanecem escondidos. São memórias do nosso mundo escritas em livros ocultos, arquivadas em templos misteriosos que vagueiam pela escuridão do Universo. Por isso é tão difícil à memória humana neles entrar e, assim, poder contemplar e reviver

w

a maravilhosa aventura vivida por todos os elementos e seres vivos que atravessaram todas as épocas da História deste nosso magnífico planeta.

Acontece que, por vezes, os ventos celestiais que percorrem o Cosmos conse-

guem entrar nesses templos perdidos algures no infinito, retirando-lhes, ao acaso, capítulos desses livros presos nas estantes do tempo, para de seguida os trazerem até

nós na forma de inspiração, audaz invasora dos corações dos mais curiosos. Assim

Pr ev ie

como a pequena centelha acende a fogueira e nos ilumina e conforta na escuridão

da noite, também nos ilumina a visão que nos chega, por vezes, do infinito, trazendo parcela ainda desconhecida do nosso longínquo passado. Outras vezes, quando o pretérito desconhecido se ilumina perante os olhos do presente, pode transformar-se em conhecimento que só o futuro compreenderá. Talvez por isso, somente no futuro viremos a saber onde ocorreu a história que se segue.

A crónica que deu origem ao que aqui se conta foi deixada por uma comunidade

que tinha por habitação as próprias montanhas, às quais chamavam Bamadie, ficando

essa civilização também conhecida pelo mesmo nome.

Os seus habitantes, muito diferentes de tudo o que hoje nos é dado a conhecer,

faziam parte de uma civilização totalmente diferente da nossa.

Conviviam em total harmonia, e a forma de comunicação usada era a mais per-

feita, pois não usavam linguagem. O que cada qual pensava e sentia era assimilado pelo seu interlocutor, o que evitava os mal-entendidos que as palavras mal colocadas por vezes geram. Este atributo permitia igualmente comunicar com todos os outros elementos que compõem a Natureza, recebendo da mesma o conhecimento e os mistérios envolvidos na sua criação. Não era necessário o uso das palavras para ilustrar um pensamento ou estado de espírito, como acontece no presente. Na verdade, a invenção das palavras só aconteceria muito mais tarde, com o declínio desta

harmonia perfeita. Esta característica repelia a malvadez, porque ao ser sentida distintamente no íntimo de alguém, logo seria apontada e combatida. Tampouco essa possibilidade era opção, já que não era conhecido o contrário da harmonia que regia o povo de Bamadie. A característica morfológica deste povo era muito parecida com a dos pré-adolescentes actuais, divergindo apenas no comportamento: em vez de desenvolverem 12

Loahume - Uma historia improvavel.indd 12

19/07/21 11:46


cada qual uma característica diferente e individualista, agiam, em contrapartida, como possuindo um só espírito, guiados por uma só inteligência e um só interesse. Tudo o que realizavam tinha sempre como objectivo a comunidade e toda vida existente ao seu redor. Muitos deles podiam percorrer tanto a Terra como as águas do único Oceano que existia nesse período. A ocupação de toda essa comunidade – ocupação bem interessante e incomensurável – era a de terem de aprender os segredos escondidos na diversidade de toda a vida na Terra, gerando total compreensão e respeito entre cada ser.

w

Embora possa parecer tarefa fácil, por não ser necessário o uso de vocábulos, que muitas vezes destroem a pureza do pensamento e, em vez de clarificar o entendimento, semeiam trevas, era, não obstante, necessário fazerem um esforço constante

para conseguirem compreender as diferenças de cada ser, planta ou mineral e o que cada qual, na sua espécie, representa na intrínseca composição global deste planeta sempre em transformação.

Pr ev ie

Haverá conhecimento maior que aprender o valor de cada elemento que dá vida

contínua a este planeta, em união perfeitamente organizada entre si?

Quanto conhecimento teria adquirido o povo de Bamadie, ao comunicar com as

velhas rochas das montanhas, alicerces do nosso planeta!

Quantas histórias se poderiam contar da épica formação desta magnífica esfera

que gira à volta do sol?

Visto não utilizarem a palavra, a audição também não era necessária, pois não?

— poderíamos perguntar.

Não era, de facto, utilizada para escutar palavras, mas era fundamental para

ouvir sons. Penso ser sensato afirmar que, nesta civilização, onde se vivia de forma tão íntima e harmoniosa com toda a Natureza, a sensibilidade atingiu uma tal dimen-

são que fez surgir melodias de beleza nunca mais atingida daí para o futuro. Alguns desses trechos sublimes teriam sido, também eles, arrebatados pelos ventos celestiais aos arquivos perdidos no tempo, trazidos, muitos séculos depois, a este planeta, onde espíritos sensíveis os transcreveram para obras que hoje classificamos como música erudita.

Como se nutriam esses povos?

Felizes eram eles, visto que não careciam de procurar alimento. A sua nutrição

acontecia de forma natural, porque as moléculas, ao viajarem entre toda a Criação, levavam-lhes o alimento e a energia vital a cada célula de cada ser vivo, sem terem de destruir vegetação ou recorrer à violência para abater outros seres vivos que os alimentassem.

Adquirir conhecimento tranquiliza o espírito; transmitir conhecimento alegra-o; compreender o que nos rodeia e sermos compreendidos é a paz absoluta; viver em perfeita igualdade entre diferentes, sejam gigantes ou microscópicos é a felicidade 13

Loahume - Uma historia improvavel.indd 13

19/07/21 11:46


que cada forma de vida procura. Esta vida idílica que hoje nos parece utópica, era o dia-a-dia desta civilização que habitou Bamadie. Um dos aspectos que contribuía para tamanha harmonia era, com certeza, o facto de esta comunidade ser composta por uma população com a aparência de crianças. No entanto, isso não quer dizer que não acumulavam conhecimento e experiência, porque a sua vida existencial se prolongava indefinidamente. A diferença em relação aos nossos dias é que guardavam, no decurso de toda a existência, o entusiasmo, a alegria e a avidez de conhecimento próprias da infância, bem como a agida inocência.

w

lidade e a energia, sendo todos estes atributos retocados pela curiosidade e ternura Dois destes habitantes destacavam-se pela entrega e brio infinitos na criação

de habitações, geradas a partir das próprias montanhas, que recortavam e esculpiam com delicado apuro estético, mas simultaneamente funcional.

Para a realização desse trabalho, eram-lhes fornecidos utensílios pelo próprio

Pr ev ie

Inavanan, ou «Vindo do Sol», como lhe chamavam. Dele era o poder sobrenatural, que dotava esse povo, bem como todos os elementos, de poderes especiais para

criarem e evoluirem sempre em diálogo mútuo. Dessa forma lhes era possível moldar, com utensílios cobertos de poder único, mesmo as montanhas, que não ofereciam resistência mas também não deixavam ir além daquilo que pudesse contribuir para a insegurança e desequilíbrio.

Com tal aprumo foi criado o esplêndido vilarejo, que serviu esta comunidade

com protecção e abrigo. Ao meio, um grande lago oferecia beleza e paz, bem como rejuvenescimento contínuo, daí ser reverenciado por toda a população de Bamadie. Contudo, nem mesmo esta perfeição existencial, onde todo o equilíbrio era

granjeado sem esforço, permaneceria indefinidamente. É que a perfeição pode ser aparente e muitos são os recantos onde pode esconder-se algo que, deixado ao abandono e descuido, pode, em silêncio, alterar de forma drástica todo o equilíbrio,

transformando tudo em caos.

Infelizmente, esse desequilíbrio aconteceu e de forma muito violenta, mais terrí-

vel e destruidora do que jamais aconteceria daí por diante.

Esta destruição apanhou completamente desprevenida a comunidade de Bama-

die. Os seus dois habitantes mais influentes, os hábeis construtores, estavam nesse momento no topo da última colina por eles concluída. Tinham ficado a admirar este último trabalho que aumentava, ainda mais, a beleza do magnífico local que abrigava

a grande família. Porém, nesse momento, os seus sentidos captaram algo estranho que os deixou apreensivos. Observaram tudo quanto a vista pudesse alcançar à sua volta, com o sentido de descobrirem a origem do mal-estar que de repente se abatera sobre eles.

14

Loahume - Uma historia improvavel.indd 14

19/07/21 11:46


Ao longe, onde o horizonte da Terra se encontra com o céu, uma cor alaranjada como o fogo progredia rapidamente, avançando sobre eles. Era um espectáculo fascinante — mas aterrador — de se observar. A curiosidade que neles despertou o fenómeno fê-los superar o medo, prendendo-os demoradamente lá no alto. Como foi dito, esta civilização podia comunicar com os elementos, mas neste momento não lhes foi possível fazê-lo. A única resposta que receberam foi um sentimento de pavor como jamais haviam sentido. Entretanto, uma nuvem de pó dourado, empurrada por furioso vento, envolveu-

w

-os e amedrontou-os. Assustados, com dificuldade em ver claramente, desceram o mais rápido que puderam para o abrigo das suas casas, mas aí constataram imediatamente que, por todo o lado, o horror destrutivo tinha já dispersado, com violência indizível e poder incontido da força da Natureza, toda a comunidade. Nada mais havia a fazer a não ser ceder à ira e força impossíveis de controlar ou evitar.

Sem poderem resistir, os dois foram separados e, a partir daí, o único objectivo

Pr ev ie

em mente era lutar para sobreviver. No meio desta confusão, uns corriam desenfreados em todas as direcções, sem realmente saber o que fazer, enquanto outros permaneciam aglomerados junto ao grande lago no sopé da montanha, aturdidos pela

surpresa e esperando que tudo regressasse ao normal.

Infelizmente, a normalidade nunca regressaria, porque a catástrofe global come-

çava a atingir agora aquele lugar idílico. Tudo à sua volta começou a tremer violentamente, desabando. As montanhas rasgaram-se de alto a baixo e muitas desmoronaram-se, assim como o lago, para eles sagrado, se abriu também ao meio ante a ira

incontrolada dos elementos. Toda a água foi sugada pelas entranhas da Terra num esgar, arrastando consigo todos os habitantes que, momentos antes, viviam em paz absoluta entre belezas que desapareceriam ao mesmo tempo que eles. Bamadie foi destruída em apenas alguns momentos! E todo este horror foi causado porque os elementos Terra, Água, Fogo e Ar haviam iniciado entre si uma guerra sem limites…

15

Loahume - Uma historia improvavel.indd 15

19/07/21 11:46


w

Pr ev ie Loahume - Uma historia improvavel.indd 16

19/07/21 11:46


w

Pr ev ie Bamadie Loahume - Uma historia improvavel.indd 17

19/07/21 11:46


O elemento responsável pelo equilíbrio do mundo atrás descrito era composto por um corpo que só existiu nesse período. Chamavam-lhe os habitantes dessa altura Inavanan, que quer dizer «Vindo do Sol». Era o maior ser existente no planeta, composto por cristais carregados de energia pura, tão pura e tão forte que facultava luz durante a noite e participava em todas as alterações e obras que se realizavam quer na Terra quer

w

no Oceano. Era essa energia que protegia do frio todo o ser vivo e lhe proporcionava alimento, permitindo que todos os habitantes do planeta pudessem mover-se tanto pelas profundezas aquáticas como pelos vertiginosos ares, contemplando as maravilhas que brotavam no planeta, como as montanhas apontando seus picos orgulhosamente aos

céus ou os abismos oceânicos com seus mistérios insondáveis. Era Inavanan quem

Pr ev ie

lhes dava esse poder, enquanto delimitava com seu corpo toda a extensão que dividia o Oceano da Terra, permitindo assim a salutar convivência entre ambos.

Quanto maiores eram as montanhas que a Terra criava, mais fundos eram mol-

dados os abismos submersos, os quais até hoje preservam muitos segredos que a

imensa sabedoria da Criação ali esconde. Mas o imprevisto aconteceu: a Terra criou montanhas tão altas que acabou por perturbar outro elemento: o Ar.

Surgiram então os primeiros ventos fortes, sinal de descontentamento do ele-

mento invisível.

A Terra e o Oceano, elementos portentosos, agiram com a prepotência própria

de quem se sente empoderado: de forma individualista e totalmente convencidos de que jamais o outro elemento poderia desafiá-los. Cada um ensimesmado em desen-

freada criação, alheio ao bem comum, acabou por menosprezar o Ar que até então

era tido como dócil, agradavelmente refrescante, afável, inocente e inofensivo. Porém, à medida que era mais e mais provocado pelos outros elementos, o Ar

aumentava em proporção a sua potência, até chegar ao ponto de demonstrar pela

primeira vez o cabal poderio. Sacudiu vigorosamente todo o planeta com imparáveis tempestades que o vento por ele soprado provocou continuamente, causando inefável destruição à sua passagem. Empurrou de tal forma o Oceano, que ondas gigantes se ergueram ao cume das montanhas, espoletando o combate mais impressionante de sempre entre os dois elementos, o que levou, por fim, as montanhas a dispersarem-se por toda a Terra e deixou o Oceano, outrora único, dividido em três soberbos aquíferos, separados à volta do globo. Gigantesca ironia, podemos concluir! Agora desavindos, estes elementos titânicos ficaram misturados entre si!

Mas o pior e mais terrível foi que, à sua passagem, o Ar levou consigo Inavanan, feito de cristais finíssimos como pólen, de cor dourada, e dispersou-o pelo planeta. Disseminado desta maneira, perdeu todo o poder que detinha. 18

Loahume - Uma historia improvavel.indd 18

19/07/21 11:46


Muitas eras volvidas, a exaustão resultante da guerra entre os elementos deixou o planeta adormecido. O corpo de «Vindo do Sol» dispersou-se totalmente sobre a Terra, sobre o Oceano e ainda, talvez a maior parte, que tinha entrado na escuridão do espaço, ficou a vaguear durante muito tempo até encontrar a Lua e nela repousar, mantendo-se lá até hoje. Perdeu-se assim parte do colossal poder de Inavanan para sempre! Isto trouxe grande confusão e medo a toda a Criação, pois viram-se, de repente, privados desse poder que lhes trazia equilíbrio e segurança. Consequenmesma.

w

temente, toda a vida no planeta foi severamente afectada e jamais voltaria a ser a Este estado de coisas deu origem pela primeira vez a sentimentos desconheci-

dos à época, hoje conhecidos como desconfiança, ressentimento, julgamento, rancor, vingança e ódio. Tudo isto não aconteceu num só dia, mas lentamente começaram as

acusações. O Oceano acusou a Terra de ter sido ela a provocar o Ar. A Terra, por seu

lado, acusava o elemento Água de se ter aproveitado do espelho do Oceano para,

Pr ev ie

às escondidas, criar um poder superior no seu leito profundo. Assim, pouco a pouco,

os sentimentos negativos foram surgindo e enraizaram-se rapidamente no planeta. E agora que o ponto de equilíbrio existente em Inavanan deixara de existir, tanto mais

rapidamente a instabilidade se apoderou de todas as formas de vida.

Os habitantes de então, grão de pó invisível em comparação com a imensidão

da Terra e do Oceano, foram vítimas envolvidas involuntariamente nesse confronto

planetário em que as forças titânicas tentaram destruir-se reciprocamente. Foram arrastados e levados ao sabor da violência de Norte para Sul e de Oeste para Este, até que os gigantes acabaram esgotados. Despojados de toda a força, os elementos caíram imobilizados, permanecendo no silêncio incómodo que o fim da guerra produz, e assim ficaram longamente.

Entretanto, o corpo de Inavanan que tinha caído no Oceano, conseguiu reen-

contrar-se, pouco a pouco, atraindo magneticamente partícula a partícula, conforme as correntes marítimas percorriam todo o planeta. Desta vez, aglomerou-se em forma de pérola gigante, fazendo-o discretamente num dos abismos do mar, aproveitando a letargia em que a Terra e o Oceano haviam caído depois do grande gládio. Desta forma, o seu corpo já não permitiria aos outros elementos servirem-se do seu poder, mas seria ele, Inavanan, quem o daria sempre que achasse ser bom para todos. A paz regressara!

19

Loahume - Uma historia improvavel.indd 19

19/07/21 11:46


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.