O Marulhar das Palavras

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O Marulhar das Palavras

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Paulo Salústio


Imagem da Capa: Paulo Salústio Capa: Marisa Ferreira Paginação: Marisa Ferreira 1.ª edição Lisboa, junho 2021

© Paulo Salústio

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ISBN: 978-989-8986-42-9 Depósito legal: 481729/21

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Título: O Marulhar das Palavras Autor: Paulo Salústio Edição: Edições Vírgula® (Chancela Sítio do Livro)

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Índice Visita

7

Vidas Perdidas

41

A Sombra

8

O Horizonte

42

O Encontro

9

A Ti

44

10

Banco da Saudade

46

Vida

11

Versos de Amor

47

Ruído

12

Brisa Amena

49

O Irrisório

13

Factualidades

51

Devaneio

15

Inconstâncias

53

Páginas Escritas

16

O Espelho

54

Portuguesa

17

O Pensar

55

A Inconsciência dos Tiranos

18

Rosa

56

Noites de Amor

20

As Simples e As Complexas

58

O Dia Incompleto

21

Sonhos

60

Primavera e Poesia

22

Alfazema

62

Tempestade

23

O Desafio do Mundo

64

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Injustiças

24

Passeio

66

O Esboço de Um Sonho

25

Um passo

67

A Incerteza

26

Aplausos

68

As Grades

27

Do Outro Lado do Mundo

70

Natal

28

Sem Nome

72

Natal

29

Os Dias

74

O Tempo

30

Harmónica

75

A Tua Presença

31

O Sol

76

Silêncio

32

Pétala

77

O Aroma

33

O Tempo Que Não Para

79

Frio

34

A Rua

80

Porque é Que Te Olho

35

Abandono

82

Ao Espaço do Amor

36

Aniversário

37

Horas Tardias

38

Correntes de Desejo

39

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A Minha Alma

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O Marulhar das Palavras

Visita Vou ter que te ir visitar, Mas sim pelo desejo de a saciar.

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Não pelo que a saudade me obriga,

Despojado por completo da intriga,

Lá desço eu, ao de leve, a azinhaga ao luar

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Repleta de vida em melodia amiga.

Torno-me um viandante neste andar, Percorrendo o espaço que nos liga

Com o intento de te poder abraçar.

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É um trajeto sem uma única urtiga

Que não causa embaraço no pensar

E, assim, medito em algo que nos coliga,

De modo a que tenha mesmo que te amar. Não sei se me reconhecerás à antiga

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Com os teus beijos suculentos em paladar,

Mas sei que me receberás com uma cantiga Com o único intuito de me quereres agradar.

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Paulo Salústio

A Sombra Volto a sentir-me tão distante de mim,

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Como se fosse uma sombra afastada do meu Eu, Não tenho nenhum sentido do meu próprio fim, Nem nenhuma recordação de tudo que se viveu.

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Dou passos desconcertados sem qualquer direção, Tentando encurtar o espaço que me obsidia,

Sinto a incerteza no limiar da minha perceção

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De que há um caminho isento de ousadia. Há sorrisos perversos por todas as ruas, Criando mantos de hilaridade obscena,

À minha sombra chegam provocações cruas E, ao meu Eu, o ridículo da própria cena.

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Ainda sou uma amálgama material e espiritual, Nesta condição de envelhecimento com o tempo, As marcas aparecem como se se tratasse de um ritual E a purificação divina como um mero passatempo. A sombra afasta-se de mim a cada momento, Deixando-me na agonia da verdadeira solidão, Não tenho outro remédio senão esperar com alento Que ela não me abandone sem qualquer compaixão. 8


O Marulhar das Palavras

O Encontro Olho a encosta dos segredos,

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Verdejante em todo o seu esplendor, Sinto que me afasta dos degredos,

Mitigando ao meu ser a própria dor.

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Nela, há rios de felicidade infinita, Onde o teu olhar está presente,

Transmite-me uma sensação bendita,

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Ao sentido meu que te pressente. Não tenho relíquias escondidas,

Nem riquezas no meu cantinho,

Sou um desafortunado sem medidas,

Ao tilintar das minudências em miudinho.

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Tens uma melodia encantadora,

Sempre ao raiar de mais um dia, És uma bênção tranquilizadora, Que me deixa a alma toda sadia. Por fim, subo a encosta ofegante, Com a esperança de te visualizar, É uma atitude deslumbrante, Que faço questão de a concretizar. 9


Paulo Salústio

Injustiças Não estamos num Mundo parado...

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Por vezes, o movimento inebria, Deixando o Ser num estado alucinado, A viver, a viver atolado em alegoria.

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Ouvem-se vozes inexpugnáveis,

Cheias de rias da razão do nada,

Subalternizam-se as ideias admiráveis,

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Em prol das atitudes de fachada.

Já não há o sentido do que é justo, Nem o brio da verdade inegável,

Tudo se faz a um determinado custo,

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Para proveito da elite irresponsável.

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O Marulhar das Palavras

Vida Ó vida, quão bela é a tua essência,

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Na tarde primaveril que se esvai, És do tempo a inegável referência,

Que a morte nem se eleva nem cai.

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Surges do nada definido no Universo, Em seres numa amplitude variegada,

Embelezas tudo em semântica de verso,

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Numa sintonia de mística enlevada.

Vences o caos, de um modo inegável, Existente nos confins do Mundo,

És a razão da fecundação admirável,

À inexistência dela no cosmo profundo.

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És uma linha indefinida de vontades,

Que se espelham em destinos variáveis, Uns vencem, pejados de habilidades, E outros perdem, aos atos abomináveis. Fazes parte de vários troncos etéreos, Que semeiam seres pela terra abrangente, Não cedes aos devaneios dos aéreos, Que te tentam extinguir definitivamente. 11


Paulo Salústio

Ruído Há tantas certezas estranhas,

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Que pululam das mentes assoberbadas,

Mas de certezas desprovidas de entranhas, Só algumas almas se sentem agraciadas.

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No Universo dos inegáveis saberes A dúvida nunca deixou de existir,

Mas há tantos eruditos nos afazeres

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Que até a incerteza fazem extinguir. Apetece-me olhar o horizonte,

Onde o desconhecido se define, Não sei nada daquela fonte,

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Onde a vida, em enigma, se confine.

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O Marulhar das Palavras

O Irrisório São noites, Senhora,

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Que me deixam entregue ao silêncio.

Por sob o desejo, vagueia a sensação de existir,

De existir naquele pequeno recanto do teu ser.

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Disforme no meu sentir,

Mergulho o olhar naquele fictício relógio

Que marca os minutos num compasso ritmado. Irritam-me estas horas,

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Estas horas que me dão a perfeita noção do tempo a passar. Fecho os olhos na escuridão do quarto

E, assim, permaneço num mutismo indelével. Não há ruídos,

Não há presenças,

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Há somente as razões da existência do espaço e do tempo que o compõem. Para lá da porta, a vida é sempre a mesma, Repetindo-se ao longo dos anos no mesmo tom. Aborrece-me perceber isto,

Mas também não faço nada para o alterar. Continuo a viver do lado de cá desta porta, Na companhia do silêncio.

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Paulo Salústio

Resta-me o desejo de estar contigo, Como um mero complemento à minha perfeita solidão.

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É tarde para te ir procurar...

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O Marulhar das Palavras

Devaneio Leves brisas afagam-nos a alma,

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Mas as palavras constroem-nos o ser,

A verdade, fruto da nossa integridade, É a certeza de se ter o sentido de ver.

Não sou nada, para além daquilo que sou,

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Mas sou muito mais do que aqueles que acham que são tudo, E acabam por não ser nada,

Para além daquilo que são, que não é nada...

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Não tenho cortinas

Para esconder os olhos desalentados, Nem espaços fechados

Para ocultar as minhas próprias fraquezas. Também não tenho angústias da perdição, Tenho sim, as faces tocadas pelo vento

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E os murmúrios daqueles que a vida amargurou. Não percorro espaços ínvios, Atolados em maledicência dos pérfidos, Calcorreio sim, caminhos infinitos, Mergulhados em valores socioculturais inestimáveis...

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Paulo Salústio

Páginas Escritas Folheio em silêncio as datas que me esqueci de viver,

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Onde o amor florescia em pétalas perfumadas.

Agora, tenho a angústia de não conseguir esquecer, Todos os olhares imersos em melodias amadas.

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Foram alguns momentos de absoluta distração,

Em que nada mais interessou do que a folia brejeira, Tudo se passou num abrir e fechar de mão,

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Em que a oportunidade foi uma mera passageira. Há, sem dúvida, uma folha completamente vazia,

Expurgada, por completo, de todos os sentidos de vida, É nela que, sem remorso, me envolvo de noite e de dia. Desse tempo, mesmo que queira, nada consigo recuperar,

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Porque tudo se passou sem a preocupação devida, O que me deixou extorquido de todo o meu amar.

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O Marulhar das Palavras

Portuguesa Tenho uma vontade enorme de te falar

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E esperar pelo teu olhar em querença. Contudo, sei que há desejos difíceis de alcançar, Porque estás mergulhada na tua indiferença.

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Não tenho rosas de aromas encantadores Que te possam preencher os sentidos,

Nem tenho versos de conteúdos sedutores

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Que te possam sensibilizar os ouvidos.

Vivo amargurado com este meu desiderato, Herança do meu destino sem calma.

Ao tempo, peço que me liberte do anonimato Para que tu saibas quem t’enleva a tua alma.

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Caminho em busca do que não posso almejar,

Porque é parte da minha sina neste meu viver, Sei, no entanto, que jamais poderás encontrar, Alguém que dedique tanto amor ao teu ser. Proscrito neste esconso do meu sentir, Passo os meus dias numa ladainha, a penar, Nada mais me interessa agora para me iludir, A não ser a certeza de que te vou conquistar. 17


Paulo Salústio

A Inconsciência dos Tiranos Tenho tão pouca certeza do dia do amanhã Mas sei que estou vivo! Por tal,

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Que me deixo ficar sem nada, no dia de hoje,

Desfraldo, ruidosamente, os meus desejos

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E, num movimento determinado, atiro-os sem direção, Do mais alto promontório da incerteza, Para o Além,

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Na plena convicção que nenhum deles será cobiçado Pelos seres que habitam esta terra decadente.

O vento encarregar-se-á de os levar até aos seus destinos... Eu, desnudado de paladares, De sensações, De gostos,

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E de prazeres,

Tornar-me-ei num Eremita

E afundar-me-ei por completo no meu pensar. Com uma caneta escreverei o Mundo E com um lápis esboçarei o Universo. Contudo, deixarei os comportamentos em branco, Ao cuidado de cada um, Porque são eles que definem os Terrenos, 18


O Marulhar das Palavras

Os bons e os maus. Como será o dia do amanhã na Síria, Na República Centro-Africana, E em Myanmar (Rohingyas)?

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No Sudão,

Talvez queiram continuar a viver o dia de hoje, Porque amanhã, Amanhã,

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Com seus escassos desejos,

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Poderão nunca mais saber as razões de terem deixado de existir.

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Paulo Salústio

Noites de Amor Há tantas e tantas noites isoladas,

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Onde o amor se define no seu seio, São preenchidas de volúpias desejadas, Aos que nelas deambulam sem receio.

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Os olhares são belos e encantadores, Expressos em belezas indizíveis,

São pertença dos grandes amores,

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Que emanam de romances indiscritíveis.

Os trejeitos são elegantes e harmoniosos, E embalam as vontades dos apaixonados,

Propagam-se em inefáveis feixes luminosos, Até ao âmago dos seres bem-aventurados.

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Ninguém está só na cronologia do tempo,

Quando o tempo faz parte da noite isolada, É um momento onde o tempo não é tempo, Por cada alma que passa a ser amada. E assim se vão as noites, repletas de nada, Todas aquelas que nunca foram isoladas, Por ali, ficam só as noites em amor pejadas, Que se preenchem em carícias almejadas. 20


O Marulhar das Palavras

O Dia Incompleto Não senti nenhuma pétala,

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Nem tão pouco a ilusória sensação de um leve aroma. As flores encolhidas ao frio cortante,

Nem sequer se atreveram a desabrochar. A Primavera veio magoada!

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A forma agreste com que nos brindou, Espelhou bem a sua revolta. Esteve fria e vazia,

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Trazendo no seu âmago um inegável desconforto. Também a recebi,

Apesar de esperar um pouco mais que a normal mudança de estação. Neste incómodo que me alagou a alma, Atenuou-me a presença de um verso, De uma estrofe,

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E, por fim, de um poema.

Foi a poesia no seu pulsar,

Num desequilíbrio ininteligível, Que acabou por me consolar. Absorto, acabei por guardar o meu desânimo no passado E, dispus-me a fruir o presente, Nos amplos jardins que a vida possui.

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Paulo Salústio

Primavera e Poesia

Por onde irei amanhã? Ficarei imerso na Primavera Ou serei um pequeno verso

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Amanhã,

Serei eu?

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De uma estrofe em alma desnudada? Talvez, quem sabe... Mas se for eu?

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Caminharei por entre hábitos quotidianos

Ou reservar-me-ei ao meu silencioso retiro? Ficarei como um escravo do tempo

Ou permanecerei como um adicto da poesia? Não sei,

O acaso guiar-me-á.

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Amanhã,

Por entre flores e trinares melodiosos, O tempo será harmonioso

E, nos seus espaços vazios, haverá poemas Para embelezar este dia do mês de março.

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O Marulhar das Palavras

Tempestade

Nem tão pouco o seu momento, Fiquei pejado de desalento

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Não descobri o tempo,

Num impasse de um mero contratempo.

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Não senti a chuva,

Nem tão pouco a sua previsão, Fiquei repleto de desilusão

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Num impasse de ter um guarda-chuva. O sol escondido atrás da nuvem densa, Fingia em não me conhecer,

Defendia o tempo e a chuva, a meu ver, Numa ordem de Natureza apensa.

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Não me deixei em nada abater Pela inegável ausência do sol,

Nem sequer me predispus a sofrer Pela inexistência da luz de um farol. Chegou, pé ante pé, a noite fria, Vinha abraçada à chuva e ao vento, Trazia uma melodia que enaltecia As almas sem qualquer fundamento. 23


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