Ambuíla, A Batalha do Reino

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Ambuíla: A Batalha do Reino

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FICHA TÉCNICA TÍTULO:

Ambuíla: A Batalha do Reino – História Completa AUTOR: Menakuntuala ® EDIÇÃO: Edições Vírgula (Chancela Sítio do Livro) Liliana Simões CAPA: Ângela Espinha PAGINAÇÃO: Alda Teixeira 1.a Edição Lisboa, agosto 2020 ISBN:

978-989-8986-21-4 471406/20

DEPÓSITO LEGAL:

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© EMERSON SOUSA

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Esta é uma obra de ficção, pelo que, nomes, personagens, lugares ou situações constantes no seu conteúdo são ficcionados pelo seu/sua autor/a e qualquer eventual semelhança com, ou alusão a pessoas reais, vivas ou mortas, designações comerciais ou outras, bem como acontecimentos ou situações reais serão mera coincidência. PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:

www.sitiodolivro.pt publicar@sitiodolivro.pt (+351) 211 932 500.

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Em 1660, as terras do Reino do Congo estavam

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a ser invadidas, dominadas, e o seu povo escravizado. O que antes era um trato comercial, agora

transformara-se numa dominação insaciável…

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eles queriam tudo!

Foi numa tarde que o rei Nteka Ya Nimi I, rei

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do Congo, foi recebido pelo governador das terras ocupadas pelos portugueses, Dom Gustavo de Cascais, um condecorado explorador da Coroa de Portugal.

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Recebido na sua sala de reuniões, em Luanda,

conjuntamente com os seus digníssimos conselheiros reais, iniciou-se a conversa: — Boas e digníssimas saudações, meu rei, a que

devo a honra desta visita à nossa capital — saudou, muito cautelosamente, Dom Gustavo de Cascais. 5

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— Saudações recebidas, mas venho com uma situação muito desagradável, que o meu povo tem vivido desde o nosso último tratado — informou o rei do Congo, mas com um ar de remorso e exclamação, e depois prosseguiu. — Desde a vossa

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chegada, nós fizemos bons negócios. O meu povo aceitou a vossa igreja. Eu converti-me. Vocês ensinaram a ciência aos nossos filhos…

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— Mas aonde quer chegar, meu rei!? — perguntou, muito astuciosamente, Dom Gustavo. O rei continuou.

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— Vocês não estão a respeitar os acordos! Estão a levar o nosso povo como escravo nos vossos navios — respondeu rapidamente o rei. — Mas isso estava no acordo, rei! — Eram apenas os criminosos do reino, os

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rebeldes e os vassalos dos Reinos da Quissama e da Matala, ou até os nossos inimigos do Sul… mas nenhum membro ou clã da realeza, seja de qual for o seu reino, deve ser escravizado!

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E esse era o maior impasse da reunião, que reuniu os dois líderes por duas horas… Quando entra o capitão Rocha, da Marinha Portuguesa, na sala, com o seu olhar sombrio e penetrante, questionando em voz alta:

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— Oh, Fodas! O que é que esses pretos querem

agora!? Já vos ensinámos muitas merdas, o que querem mais?!

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— Xeee! Você é armado. É muito malandro,

sabe, né! Tá, fala assim com o mô Rei… Cão! — respondeu ferozmente Nkanga Dji, um dos mais

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jovens habilidosos guerreiros a integrar a guarda do rei do Congo.

Num clima quase de pancadaria geral, entre os

conselheiros e os seus capitães…

— Calem-se! Vamos pôr termo a isto! — gritou

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Dom Gustavo, prosseguindo. — Então, meu rei, como quer que façamos agora? Muito pensativo, o rei olhou para os seus súbdi-

tos, conselheiros e generais de guerra… — Vocês têm de ir embora! 7

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— Mas, meu rei, isso é impossível… A Coroa de Portugal não vai permitir isso. Vós sabeis perfeitamente! — exclamou, espantado, Dom Gustavo, não por medo, mas pela ousadia do rei do aparentemente.

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Congo em enfrentar um poder bélico superior… — Vocês vão partir, essa é a minha decisão! Em nome do Reino do Congo, eu Nteka Ya Nimi

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I, primogénito do clã Nimi, com os poderes reais

que me são conferidos, revogo todos os tratados

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outrora feitos pelos meus antecessores!

Sem mais delongas, o rei e os seus homens saí-

ram da sala, meio em fuga e desconfiados de qual-

quer retaliação.

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Saindo da capital dos portugueses, em Luanda,

em direcção ao Reino do Congo, eles decidiram fazer a sua primeira de duas paragens obrigatórias para abastecer e descansar. Todos repousavam, os guardas controlavam

os cavalos, outros já haviam abastecido o stock de 8

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água para a viagem e tinham espalhado algumas armadilhas, à volta do acampamento, para caçar alguns animais para a viagem. Eis senão quando… começa-se a ouvir barulho na mata. O guarda de vigia nocturna, escalado, ao ver

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o que se estava a passar, é surpreendido por um soldado português. A cada guarda que era indi-

cado para seguir o barulho, era logo imobilizado e

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amarrado. Até que um, mais corajoso, tenta reagir e dá um disparo, que desperta a guarda principal. O Nkanga Dji acorda o rei do Congo e ordena

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a sua fuga com mais dois guerreiros especialistas em fuga nas sombras das florestas, enquanto ele serviria de manobra de atraso dos soldados portugueses.

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Enquanto a tentativa de assassinar o rei do

Congo se frustrava, diante do olhar sombrio do capitão Rocha, este decide por si próprio dar a cara na batalha:

— Não quero escravos. Matem todos esses

pretos! 9

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Apercebendo-se já da fuga do rei, decide recuar a tropa para Luanda. Nesse caminho, é atingido por uma lança no pescoço… mais uns dois centímetros e estaria sem a cabeça. — Apanhem-no! Tragam-no vivo!

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Os homens perseguiram Nkanga Dji até à margem do rio, quando este foi atingido no braço.

Os soldados encurralaram-no e chamaram pelo

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capitão, que apareceu logo a desembainhar a sua

espada e iniciou, de imediato, uma batalha individual contra Nkanga Dji.

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— É desta vez que eu acabo contigo seu… — gritava o capitão Rocha, enquanto dava o golpe de morte a Nkanga Dji, espetando a sua espada na garganta do guarda real.

— Não o mate, capitão! Ele é da guarda real,

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poderá ser muito útil nos nossos planos de ataque — exclamou um soldado. Contudo, de muito pouco adiantou, pois o capi-

tão já havia consumido a sua sede de vingança pelo ferimento que Nkanga Dji tinha no pescoço, bem como pela frustração de ter falhado a missão 10

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que Dom Gustavo lhe conferiu — assassinar o rei do Congo. Durante a fuga do rei, este estava muito cansado e ao mesmo tempo preocupado com a vida

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dos guerreiros que ficaram para trás. Sentia-se cul-

pado, mas os seus guardas acalmaram-no, quando Reino.

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avistaram a gruta que daria acesso às portas do

Passando a gruta, chegaram ao Reino e foram

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devidamente recebidos e assistidos. Estavam todos espantados e preocupados com a situação em que o rei e os seus guardas voltaram do que seria, em princípio, uma visita real à capital.

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O rei do Congo convocou uma reunião de emer-

gência conjuntamente com os seus conselheiros, generais de guerra, sobas e chefes dos clãs dos Reino. Dada a presença desses digníssimos representantes do Reino do Congo, o rei Nimi I fez um

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apelo à união do Reino, para juntos poderem combater os portugueses: — Eu, rei Nteka Ya Nimi I, primogénito do clã Nimi, em nome do Reino do Congo e da casa real…

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Declaro guerra aos portugueses! Daí, todos os emissários saíram em direcção aos reinos vassalos, para apelar à união dos reinos do

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Sul, a fim de, estrategicamente, expulsarem os portugueses das suas terras.

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Nessas circunstâncias, o rei mandou organizar um funeral condigno aos guerreiros que perderam a vida na sua última tentativa de assassinato, despedindo-se, assim, do corpo do habilidoso jovem

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Nkanga Dji, que foi pelo leito do rio adentro. O rei do Congo mandou recrutar três mil homens

para reforçar a sua força de ataque principal e mais quinhentos homens para a sua guarda real, pois temia que sofresse mais tentativas de assassinato.

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Sentiu-se a necessidade de reunir novos guerreiros para darem alma e corpo às dificuldades da guerra que se avizinhava. Então, o rei elegeu mais dois guerreiros superpoderosos nas suas fileiras:

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Muanza, o Forte, e Nzau, o Veloz. Enquanto o Reino do Congo se organizava internamente para as grandes batalhas, estrategi-

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camente foi boicotando, pilhando e assaltando as linhas de comércio dos portugueses.

Na capital, Dom Gustavo tomou conhecimento

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que começava a ter cada vez mais mercadorias interceptadas pelos guerreiros do Reino do Congo, por isso, ordenou um ataque directo até as portas do Reino.

— Desta vez, não quero ouvir histórias, capitão.

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Acabe com isso de uma vez por todas! — ordenou Dom Gustavo de Cascais aos seus soldados, em Luanda.

— Eu escrevi à Coroa Portuguesa, reportei a

situação de rebelião que nos encontramos e… o rei de Portugal vai mandar uma frota de cinco mil 13

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homens do Brasil, para estancar essa insurgência. Portanto, temos de dar resposta aos ataques até que cheguem mais reforços. Os soldados portugueses saíram da capital em direcção ao rio Kwanza, com armas de fogo, e

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prontos para levar o terror até ao Reino do Congo.

Dom Gustavo temia que o rei de Portugal o subs-

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tituísse da gestão da capital, Luanda. Por isso, sem hesitação, ordenou um ataque com mil soldados

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armados e comandados pelo seu capitão Rocha. Ordenadamente, teriam de fazer uma viagem

de três dias até ao destino de estacionamento das tropas.

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Não muito difícil de se imaginar, um escravo

conseguiu vazar essa informação aos serviços de informantes do rei do Congo, que logo se apercebeu desse movimento militar.

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O rei do Congo decide, então, reunir com os seus generais e elaborar um plano de acção e defesa do Reino: — Bem, meus senhores, como sabem, estamos em guerra. O nosso inimigo decidiu atacar-nos.

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Agora, temos de preparar as nossas forças para defender a nossa casa — explanou o rei, muito sério e com bastante cautela e sensatez.

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— Sabemos perfeitamente que eles têm tácticas

de guerra melhores que as nossas. Pior que isso… têm armas.

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— E não sabemos quantos são, Rei… — acrescentou um dos seus novos guardas reais, Nzau. Claramente, não seria uma batalha fácil, ainda

que o rei do Congo tivesse o dobro de homens que

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Dom Gustavo, eles tinham uma força bélica no terreno considerável.

— Já sei como vamos encurralá-los! — excla-

mou o rei do Congo.

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