O Antiquário Conimbricense

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O ANTIQUÁRIO CONIMBRICENSE SEGUIDO DE

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CONQUISTA DE COIMBRA POR FERNANDO MAGNO


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O Antiquário Conimbricense seguido de Elvenda ou Conquista de Coimbra por Fernando Magno autor: Manuel da Cruz Pereira Coutinho (1808-1880) recolha dos textos e notas: Mário Araújo Torres edição gráfica: Edições ex-Libris® (Chancela Sítio do Livro) paginação:

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título:

Paulo S. Resende Ângela Espinha

arranjo de capa:

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1.ª edição Lisboa, junho, 2020 isbn:

978­‑989-8867-91-9 469208/20

depósito legal:

© Mário Araújo Torres

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MANUEL DA CRUZ PEREIRA COUTINHO

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O ANTIQUÁRIO CONIMBRICENSE SEGUIDO DE

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CONQUISTA DE COIMBRA POR FERNANDO MAGNO

Recolha de textos e notas por Mário Araújo Torres


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NOTA PRÉVIA MANUEL DA CRUZ PEREIRA COUTINHO (1808-1880): NÓTULA BIOBIBLIOGRÁFICA

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Manuel da Cruz Pereira Coutinho nasceu na freguesia de Almagreira, concelho de Pombal, em 1808, no seio de uma família de parcos recursos, tendo, ainda moço, vindo para Coimbra trabalhar como caixeiro de um botequim, à Sé Velha. Por ocasião do seu falecimento, em 24 de janeiro de 1880, recordou Joaquim Martins de Carvalho que “na primeira quadra deste século, e ainda alguns anos depois, havia um botequim (…) à Sé Velha”, onde se via “a servir os fregueses, um mocinho, chamado apenas Manuel da Cruz (…). Nos intervalos de aviar os fregueses agarrava-se logo aos livros, que lia com avidez, e, à falta de mestres, pedia a alguns frequentadores da loja para o ensinarem. O mocinho de então, totalmente desajudado e limitado exclusivamente aos seus próprios esforços, acaba de falecer nesta cidade (…) na idade de 72 anos. Do pobre filho do povo, do caixeiro do botequim, saiu o sr. P.e Manuel da Cruz Pereira Coutinho, amanuense da Administração-Geral deste Distrito em 1837, Vice-Reitor do Colégio dos Órfãos a cargo da Misericórdia, secretário particular do Reitor da Universidade, Conde de Terena [Sebastião Correia de Sá, 1.º Conde de Terena, Reitor da Universidade entre 1841 e 1848], prior de S. Pedro, prior de S. Cristóvão, cónego honorário da Sé de Coimbra, associado provincial da Academia Real das Ciências, sócio efetivo do Instituto de Coimbra, vice-presidente da secção de arqueologia, distintíssimo paleógrafo, investigador e escritor incansável! Tanto podem o trabalho e a força de vontade.” (O Conimbricense, n.º 3390, janeiro de 1880). A iniciativa bibliográfica de maior vulto de Manuel da Cruz Pereira Coutinho foi indubitavelmente a edição de O Antiquário Conimbricense (1841-1842), por ele fundado, dirigido e inteiramente redigido. Foi a segunda mais antiga publicação periódica impressa em Coimbra (a seguir à Minerva Lusitana, de 1808-1811) e “a primeira publicação periódica portuguesa dedicada exclusivamente a


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antiguidades medievais que foi editada entre nós” (Mário Jorge Barroca, Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422), vol. II, tomo I, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2000, pág. 1659). Como assinala Francisco Augusto Martins de Carvalho: “Este jornal é hoje apreciadíssimo, pois contém importantes documentos inéditos encontrados no cartório da Câmara Municipal, no mosteiro de Santa Cruz, e em vários conventos extintos de Coimbra, bem como diversas notícias, fac-similes interessantes, e reproduções de inscrições lapidares de caracteres antigos, quer desta cidade, quer das suas proximidades, o que representa um trabalho de alto valor e de reconhecida utilidade para o estudo da nossa história arqueológica” (O Arqueólogo Português, vol. XXIV, 1919/1920, págs. 238-240). No seu Dicionário Bibliográfico Português (tomo I, Lisboa, Imprensa Nacional, 1858, pág. 77), Inocêncio Francisco da Silva anota: “Saíram apenas nove números desta publicação, contendo ao todo 72 páginas, com algumas estampas e documentos litografados. Aí se publicaram várias inscrições, notícias, fac-similes e documentos inéditos, curiosos e de bastante utilidade para os estudos da nossa história arqueológica. A maior parte foi extraída dos livros e arquivos dos conventos extintos. O autor deste jornal, o reverendo P.e Pereira Coutinho, atual Prior de S. Cristóvão de Coimbra, escrevendo-me há tempo acerca do mesmo jornal em resposta ao que eu lhe perguntara, me diz com a modéstia que lhe é própria: «O meu Antiquário ficou interrompido no número 9, não por falta de matéria, mas porque me sobrecarreguei com outros trabalhos de mais interesse, empregos que convinha não desprezar, e daqui proveio escassez do tempo necessário para continuar a publicação daquele mesquinho jornal»”. Em 1869, Manuel da Cruz Pereira Coutinho editou um prospeto anunciando uma sua nova iniciativa: o lançamento de uma publicação que deveria intitular-se Epigrafia Conimbricense ou Coleção de inscrições lapidares. Nesse prospeto constavam as primeiras linhas de três epitáfios gravados nos túmulos de S. Teotónio e de D. Fernando Fernandes Cogominho, no templo de Santa Cruz, e do P.e Lourenço, nas ruínas do mosteiro de S. Jorge, junto a Coimbra. Os propósitos da nova publicação eram assim expostos: “Dois


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fins há nesta resolução: 1.º – libertar da destruição do camartelo, do enxadão e do tempo as memórias epigráficas dos nossos remotíssimos antepassados, reproduzidas aos olhos do leitor e transmitidas às gerações futuras, nos caracteres originais, em tudo exatíssimos, menos na proporcional redução a mais pequena forma; 2.º – habilitar os curiosos na leitura da paleografia lapidar, para o que damos em frente de cada estampa de caracteres antigos, outra, devidamente numerada, em tipos modernos. Em caracteres antigos sobem as inscrições de 50 a 60, e nos modernos excedem o número de 200, sendo umas e outras acompanhadas de uma breve notícia histórica, tanto dos monumentos e factos que memoram como dos varões que neles figuram”. Este projeto não chegou a concretizar-se, mas alguns dos elementos já reunidos foram oferecidos pelo seu herdeiro, Gonçalo de Meireles, em 22 de junho de 1880, à secção de arqueologia do Instituto de Coimbra, donde transitaram, em 1911, para o Museu Machado de Castro. Em 1858 havia Manuel da Cruz Pereira Coutinho publicado o romance Elvenda ou conquista de Coimbra por Fernando Magno: romance histórico e moral, elaborado sobre factos do século XI (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1858, XI+225 págs.), a propósito do qual Inocêncio Francisco da Silva anota: “Segundo se lê na advertência preliminar, foi este romance elaborado sobre um velho códice de pergaminho, já em parte deteriorado pelo tempo, que pertencera a uma das extintas casas religiosas do distrito de Coimbra. Sem pretender contestar a afirmativa do autor, no que diz respeito às existências do antigo manuscrito, é certo que nesta obra se envolvem de mistura com a narrativa do facto histórico considerações e ideias que inculcam ser de data mais recente e versam principalmente sobre a necessidade de reforma no sistema de educação moral e religiosa, substituindo quanto seja possível ao emprego da autoridade os métodos da convicção como mais eficazes e profícuos para melhorar nesta parte o estado social e estabelecer sobre bases sólidas o conhecimento dos deveres individuais” (Dicionário Bibliográfico Português, tomo V, Lisboa, Imprensa Nacional, 1860, págs. 404-405). Este romance viria a ser reproduzido, em folhetim, em O Despertar – Bissemanário republicano independente, que depois o


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editou em formato de livro (volume III da Biblioteca de «O Despertar», Coimbra, 1930, 240 págs.), e, mais tarde, também em folhetim, do n.º 3894, de 29/1/1939, ao n.º 3960, de 1/7/1939, da Gazeta de Coimbra (Coimbra, 1911-1952; direção de João Ribeiro Arrobas). Manuel da Cruz Pereira Coutinho foi admitido como sócio do Instituto de Coimbra em 4 de fevereiro de 1860, no período da Direção presidida por Francisco de Castro Freire, em que igualmente entraram para essa academia outras personalidades que muito contribuiriam para o seu dinamismo, entre elas Augusto Filipe Simões (em 13 de janeiro de 1859) e Filipe do Quental (em 17 de dezembro de 1859). Foi um elemento excecionalmente relevante na Secção de Arqueologia do Instituto, Secção de que foi vice-presidente. Em 26 de abril de 1896, na sessão solene de inauguração do Museu de Antiguidades, da responsabilidade dessa Secção, na alocução proferida pelo então seu Presidente, Doutor António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, foi evocada a memória de Manuel da Cruz Pereira Coutinho nos seguintes termos: “Foi o primeiro conservador, com carácter ainda provisório, que teve o museu do Instituto, quando começava de organizar-se, e algumas vezes, na qualidade de vice-presidente, dirigiu os trabalhos da Secção. Arqueólogo distinto, os seus serviços são assaz conhecidos para carecermos de especificá-los. Indubitavelmente foi um dos homens que fizeram larga propaganda, de viva voz e por escrito, em ordem a chamar a atenção pública para os documentos, que da antiguidade nos restavam. O Antiquário Conimbricense serve para se avaliar o seu zelo neste sentido.” (O Instituto, vol. XLIII, n.ºs 4-5, abril-maio 1896, pág. 258). Assíduo colaborador da revista O Instituto, nela promoveu a reprodução de diversos documentos antigos e publicou, de sua autoria, estudos históricos (“Ponte de Coimbra”, no vol. I, 1853; “Breves reflexões históricas sobre a navegação do Mondego e cultura dos campos de Coimbra”, nos vols. II e III, 1853-1854; “As Emparedadas de além da Ponte de Coimbra ou as Agostinhas Calçadas do Convento de Sant’Ana”, no vol. XII, 1863; e “Destronação de D. Afonso VI de Portugal”, nos vols. XII e XIII, 1863-1864) e bibliográficos (“André Falcão de Resende: Introdução à publicação do poema Microcosmografia e descrição do mundo pequeno que é o


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homem”, no vol. XII, 1863; “Dicionário Biobibliográfico, de Inocêncio Francisco da Silva”, no vol. XII, 1863; “Estudos sobre a história de direito pátrio”, no vol. XII, 1863; “Uma crónica inédita: Mosteiro de Grijó”, nos vols. XII a XIV, 1863-1865; “Pedro, Poesia oferecida a Sua Santidade o Papa Pio IX, por António Pereira da Cunha”, nos vols. XII e XIII, 1864; e “O Semanário Portuense, de viagens, usos e costumes de povos, descrições de países, com a parte oficial, notícias e mais coisas relativas ao ultramar, à marinha e ao exército, apresentando em separado a legislação e as ordens do exército e à armada”, no vol. XIII, 1864). Colaborou em diversas publicações periódicas, como Crónica Literária da Nova Academia Dramática (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1840-1841), O Prisma – Periódico da Academia Dramática de Coimbra, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1842-1843 (cf. Manuel Alberto Carvalho Prata, Imprensa Estudantil de Coimbra – Vol. I – Repertório Analítico (Século XIX), Coimbra, Imprensa da Universidade, 2006, pág. 279); O Conimbricense – Jornal Político, Instrutivo e Comercial, Coimbra, Imprensa de E. Trovão, 1854-1908, fundado por Joaquim Martins de Carvalho, onde publicou (no n.º 520, de 18 de janeiro de 1859) um “Juízo crítico acerca do Dicionário Bibliográfico Português”; Revista Jurídica – Periódico Jurídico e Literário (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1856-1858), com o artigo “Da exportação da prata” (1857); e O Zéphyro – Publicação Literária (dirigida por António Augusto Gonçalves, Coimbra, Tipografia de Manuel Caetano da Silva, 1872), onde surgiu o seu artigo “Chão da Torre”, sobre a Torre dos Sinos do primitivo Convento de S. Domingos em Coimbra, reproduzido nesta edição. Foi um prestimoso e valioso colaborador do monumental Dicionário Bibliográfico Português, de Inocêncio Francisco da Silva, como este assinalou no citado tomo V, pág. 405: “O dever de reconhecido agradecimento não consente que eu deixe de solver neste lugar pelo modo possível a obrigação em que estou para com o sr. Pereira Coutinho, que tão nobre e desinteressadamente aquiesceu ao meu pedido, prestando-se a solicitar em Coimbra (onde foi meu primeiro e, durante algum tempo, único correspondente) os esclarecimentos e informações de que carecia para preencher as indicações


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biográficas relativas a vários escritores que lhe indiquei; não poupando a esse fim diligências e fadigas pessoais, cujo trabalho e enfado só sabem avaliar por experiência os que estão habituados a tais investigações.” Colaborou ainda, em matérias em que era reputado especialista (epigrafia e paleografia), na feitura das obras de Augusto Mendes Simões de Castro (Guia histórico do viajante em Coimbra e arredores, 1867), Augusto Filipe Simões (Relíquias da arquitetura romano-bizantina em Portugal e particularmente na cidade de Coimbra, 1870) e António Francisco Barata (História breve de Coimbra, segunda edição anotada, 1873, justamente dedicada a Manuel da Cruz Pereira Coutinho). Publicou ainda diversas obras de índole jurídica: Tratado sobre as quotas de frutos agrários, denominados rações; em que se prova por documentos que os proprietários particulares os contratavam na transmissão enfitêutica e censítica dos seus terrenos adquiridos por título oneroso, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1856; Os direitos dominicais, foros e rações, julgados na Relação do Porto, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1859; Questão entre a Ordem Terceira da Cidade de Coimbra e o Hospital de S. José e Misericórdia de Lisboa, sobre encargos pios não cumpridos, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1861; Breves reflexões sobre o casamento civil, Coimbra, Imprensa Literária, 1866; Os Bens da Igreja e o Ex.mo Deputado … Doutor Teólogo, Coimbra, Imprensa Literária, 1868; e Estenderetes do Dr. Motta Veiga na questão dos bens da Igreja com Manuel da C. Pereira Coutinho, Coimbra, Imprensa Literária, 1869. Estas duas últimas obras respeitam a polémica com o Lente da Faculdade de Teologia e Deputado Manuel Eduardo da Mota Veiga (Seia, 1831 – Lisboa, 1879), a propósito do regime de amortização dos bens da Igreja.

A PRESENTE EDIÇÃO Na presente edição, reproduz-se integralmente o conteúdo de O Antiquário Conimbricense, mas com nova disposição gráfica: na


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primeira parte, inserem-se, pela ordem em que surgiram nos diversos números, as inscrições lapidares, transcrevendo-se as respetivas leituras e notas históricas; na segunda parte, surgem, sem quebras de sequência, os documentos e notícias divulgados, agrupados por ordem cronológica e proximidade temática. Manteve-se a grafia dos documentos históricos reproduzidos, mas atualizou-se a dos textos da autoria de Manuel da Cruz Pereira Coutinho. Atribuiu-se numeração sequencial às notas de rodapé e completaram-se as referências bibliográficas, com menção completa dos nomes dos autores, títulos, editor, local e data da edição. Quanto à projetada publicação Epigrafia Conimbricense ou Coleção de Inscrições Lapidares, reproduz-se o prospeto que anunciava essa iniciativa, em digitalização cedida pela Biblioteca Universitária João Paulo II, da Universidade Católica Portuguesa, que penhoradamente se agradece. Dos mais de 300 moldes ou calcos de inscrições lapidares que Manuel da Cruz Pereira Coutinho anunciara já ter tirado com destino a essa publicação, acompanhados das respetivas leituras e breves notas de enquadramento histórico, só 23 integraram a parte do seu espólio doado, em 1880, por seu herdeiro ao Museu de Arqueologia do Instituto de Coimbra e que transitaram, em 1911, para o Museu Machado de Castro. Reproduz-se nesta edição a descrição dessas 23 inscrições feita por João Correia Aires de Campos, no “Catálogo dos objetos existentes no Museu de Arqueologia do Instituto de Coimbra a cargo da Secção de Arqueologia do mesmo Instituto – Suplemento compreendendo os objetos oferecidos e depositados desde abril de 1877” (O Instituto, vol. XVIII, 1880/1881, n.º 11, págs. 535-540, e n.º 12, págs. 575-584). Da vasta colaboração de Manuel da Cruz Pereira Coutinho em publicações periódicas, reproduzem-se três artigos, diretamente relacionados com a história de Coimbra: “Ponte de Coimbra” (O Instituto, vol. I, 1853), “As Emparedadas de além da Ponte de Coimbra ou as Agostinhas Calçadas do Convento de Sant’Ana” (O Instituto, vol. XII, 1863), e “Chão da Torre” (O Zéphyro, n.º 8, 31 de maio de 1872), este último sobre a Torre dos Sinos do velho Convento de S. Domingos, em Coimbra.


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Finalmente, reproduz-se o romance Elvenda ou Conquista de Coimbra por Fernando Magno, de acordo com a sua edição original (Imprensa da Universidade, Coimbra, 1858), com atualização de grafia.

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O Antiquário Conimbricense foi uma publicação periódica mensal conimbricense, inteiramente redigida por Manuel da Cruz Pereira Coutinho. Editado pela Imprensa da Universidade, foram publicados 9 números, entre julho de 1841 e março de 1842, com 8 páginas de texto em cada número, num total de 72 páginas, e ainda três folhas não numeradas (com ilustrações) nos n.ºs 3 (duas) e 8 (uma). Em regra, cada número inseria a ilustração de uma inscrição lapidar e a sua leitura, acompanhada de notas de enquadramento histórico, e transcrições de documentos, maioritariamente inéditos, copiados dos arquivos municipal e dos conventos extintos, por vezes com reprodução em fac-simile da totalidade ou de partes desses documentos. É o seguinte o sumário dos diversos números: N.º 1 (julho 1841): 1. Monumento ereto à memória da reforma e acrescentamento com que El-Rei D. Manuel engrandeceu a Ponte de Coimbra (1513). 2. Carta de D. Sebastião ao Prior-Mor de Santa Cruz pedindo-lhe a espada e o escudo de D. Afonso Henriques (14 de março de 1578). 3. Cartas do Infante D. Luís, 4.º filho do Rei D. Manuel, ao Prior-mor de Santa Cruz, sobre a educação de seu filho, D. António, futuro Prior do Crato (20 de fevereiro de 1549), e a esse


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seu filho (14 de dezembro de 1550). 4. Carta circular de D. Afonso IV dirigida aos Bispos do Reino, em 1352, sobre os crimes e excessos dos eclesiásticos e outros pontos que respeitavam à reforma e tranquilidade da Igreja e da República. N.º 2 (agosto 1841): 1. Inscrição de lápide relativa ao falecimento de D. Pascácio Nunes, em 1290, existente na Sé Velha. 2. Continuação da Carta circular de D. Afonso IV. 3. Carta de D. António, futuro Prior do Crato, ao Prior-mor de Santa Cruz (21 de junho de 1551). N.º 3 (setembro 1841): 1. Epitáfio do túmulo do Conde D. Sisnando, na Sé Velha. 2. Sentença proferida pelo Tribunal da Inquisição, no ano de 1624, contra o Doutor António Homem, Lente de Prima na Universidade e Cónego na Sé de Coimbra. N.º 4 (outubro 1841): 1. Continuação da Sentença do Tribunal da Inquisição contra o Doutor António Homem. 2. Inscrição na lápide relativa ao falecimento de André João Cantor (Chantre) da Sé Velha de Coimbra (3 de setembro de 1383). 3. Carta de D. António, futuro Prior do Crato, ao Prior de Santa Cruz (6 de novembro de 1551). 4. Regimento da Festa do Corpo de Deus. N.º 5 (novembro 1841): 1. Continuação do Regimento da Festa do Corpo de Deus. 2. Inscrição na lápide existente na sepultura de Afonso de Barros (18 de fevereiro de 1515) e de sua viúva, Guiomar de Sá (9 de outubro de 1532), na Igreja do Salvador. 3. A Procissão dos Nus, no Dia dos Santos Mártires de Marrocos (16 de janeiro). 4. Carta de Filipe II de Espanha para a Cidade de Coimbra sobre a convocação das Cortes (5 de janeiro de 1581). 5. Lei das Sesmarias. N.º 6 (dezembro 1841): 1. Continuação da Lei das Sesmarias. 2. Inscrição da lápide de Vermudo Vermudez, na Igreja do Salvador (1186). 3. Esmola das Missas no Século XVI. 4. Circular de Filipe II às Câmaras sobre o desembarque de D. António, Prior do Crato, em Peniche (2 de junho de 1589). 5. Outra vez a espada de D. Afonso Henriques. N.º 7 (janeiro 1842): 1. Carta de D. Sebastião de agradecimento à Cidade de Coimbra pelo socorro a Buarcos (18 de agosto de 1570). 2. Carta do Infante D. Luís (4.º filho de D. Manuel I) recomendando um estudante à proteção dos frades de Santa Cruz (17 de junho de 1553). 3. Inscrição existente no pórtico da Igreja do Salvador (1169).


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4. Continuação da Lei das Sesmarias. 5. Dinheiro achado em Santa Cruz. 6. O Mondego e as suas pontes. N.º 8 (fevereiro 1842): 1. Estatutos da Colegiada de S. Pedro de Coimbra. 2. Inscrição na sepultura de D. João Pais, na Igreja de S. Cristóvão (21 de dezembro de 1169). 3. Carta do Cardeal Rei D. Henrique participando à Câmara de Coimbra a morte de D. Sebastião e a perda do Exército em África (5 de setembro de 1578). 4. Antiga legislação académica. N.º 9 (março 1842): 1. Resposta de D. Pedro I ao art. 15.º das Cortes de 1361. 2. Inscrição em sepultura de Jorge Mendes de Vasconcelos, na Capela da Senhora da Vitória (7 de maio de 1522). 3. Continuação da antiga legislação académica. 4. Continuação dos Estatutos da Colegiada de S. Pedro de Coimbra. Na presente edição, procedeu-se a nova arrumação do conteúdo de O Antiquário Conimbricense: na primeira parte, reproduzem-se, pela ordem em que surgiram nos diversos números, as inscrições lapidares, transcrevendo-se as respetivas leituras e notas históricas; na segunda parte, reproduzem-se, sem quebras de sequência, os documentos e notícias divulgados, agrupados por ordem cronológica e proximidade temática. Manteve-se a grafia dos documentos históricos reproduzidos, mas atualizou-se a dos textos da autoria de Manuel da Cruz Pereira Coutinho. Atribuiu-se numeração sequencial às notas de rodapé e completaram-se as referências bibliográficas, com menção completa dos nomes dos autores, títulos, editor, local e data da edição.


INSCRIÇÕES LAPIDARES

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1.ª – Lápide da ponte manuelina (1513). 2.ª – Lápide relativa ao falecimento de D. Pascácio Nunes (Sé Velha, 1290). 3.ª – Epitáfio do túmulo do Conde D. Sisnando (Sé Velha). 4.ª – Lápide relativa ao falecimento de André João Cantor (Sé Velha, 1383). 5.ª – Inscrição na sepultura de Afonso de Barros (Igreja do Salvador, 1515). 6.ª – Lápide relativa a Vermudo Vermudez (Igreja do Salvador, 1186). 7.ª – Lápide do pórtico da Igreja do Salvador (1169). 8.ª – Lápide na sepultura de D. João Pais (Igreja de S. Cristóvão, 1169). 9.ª e 10.ª – Lápide na sepultura de Jorge Mendes de Vasconcelos (Capela da Senhora da Vitória, 1522).


1.ª INSCRIÇÃO

[LÁPIDE DA PONTE MANUELINA (1513)]

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MONUMENTO ERETO À MEMÓRIA DA REFORMA E ACRESCENTAMENTO COM QUE EL-REI DOM MANUEL ENGRANDECEU A PONTE DE COIMBRA *

* Publicado em O Antiquário Conimbricense, n.º 1, julho 1841, págs. 1-3.


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Tem de alto 8 palmos e 5 oitavos, sobre 7 de largo e 7 oitavos. As muitas fraturas das suas peças de ornato devem-se atribuir antes a descuido ou malícia do que aos estragos do tempo. São os caracteres da sua inscrição em alemão minúsculo floreteado. Reduziram-se proporcionalmente a um quarto do tamanho do seu original.

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[1] O SSERENISIMO PRINCIPE, ALTO HE MUI PODEROSO REY DOM [2] EMANUELL NOSO SENHOR O PRIMEIRO EM ESTE NOME HE QUATORZE [3] NA DINIDADE REALL, MANDOU FAZER DE NOVO ESTA PONTE [4] ATE AS ESPERAS HE REDIFICAR ATE A CRUZ DE SAO FFRANCISCO HE DA [5] DITA CRUZ ATE SANTA CRARA DE NOVO HE ACRESCENTAR


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[6] ESTA TORE HE MURO ERA DE MILL HE QUINHENTOS E TREZE ANOS. 1 Não será fácil determinar hoje o local onde naquele tempo estavam as Esperas (assim escreveram algumas vezes os nossos maiores a palavra esfera 2) a não serem as esferas de pedra que ainda hoje vemos no vértice do arco oitavo (contando da cidade), uma da parte debaixo, outra da parte de cima do rio. Será também muito dificultoso designar o local da Cruz até onde El-Rei Dom Manuel mandou reedificar a Ponte, porque o Mondego, depois de desalojar os moradores dos antigos conventos de São Francisco e Santa Ana, sepultou debaixo de suas areias os muros destes dois edifícios. Ainda que já não vejamos restos alguns das suas ruínas, a tradição constante, e muitos documentos dos cartórios desta Cidade, principalmente do de São Bartolomeu, nos atestam que eles estiveram próximos ao lugar conhecido pelo nome de Entrepontes.

1 A Câmara Municipal, promovendo com utilidade pública o melhoramento da entrada da ponte do lado da cidade, mandou em 1836 demolir dois arcos que ali se achavam; e a pedra do monumento, de que agora nos ocupamos, coroava antes daquele ano o primeiro arco que se encontrava vindo da ponte para a cidade, e agora a vemos onde então estava Santo Agostinho num oratório de pedra. 2 Vide Elucidário [Frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, Elucidário das Palavras, Termos e Frases que em Portugal antigamente se usaram, 2 volumes, Lisboa, Oficina de Simão Tadeu Ferreira, 1748, e Tipografia Régia Silviana, 1749].


2.ª INSCRIÇÃO

[LÁPIDE RELATIVA AO FALECIMENTO DE D. PASCÁCIO NUNES (SÉ VELHA, 1290)]

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INSCRIÇÃO DE LÁPIDE RELATIVA AO FALECIMENTO DE D. PASCÁCIO NUNES, EM 1290, EXISTENTE NA SÉ VELHA *

[1] ERA . MILLESIMA . TRECENTESIMA . VIGESIMA . OCTAVA . SEXTO . NONAS . OCTOBRIS . OB-

* Publicado em O Antiquário Conimbricense, n.º 2, agosto 1841, págs. 10-11. Cf. desenvolvida notícia sobre esta inscrição em Mário Jorge Barroca, Epigrafia Medieval Portuguesa: 862-1422, 4 tomos, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2000, vol. II, tomo I, págs. 1069-1072 (N.º 417).


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[2] IIT . DONNUS . PASCHASIUS . NUNIS . ARCHIDIACHONUS . DE . SENA [3] IN . ECCLESIA . COLIMBRIENSI, . ET . JACET . INTUS . IN . ECCLESIA . COLIMBRIE . CIR[4] CA . PAVIMENTUM . PORTE . OCCIDENTALIS . IPSIUS . ECCLESIE [5] CUJUS . ANIMA . REQUIESCAT . IN . PACE . AMEN.

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No dia sexto das nonas de outubro, da era de mil trezentos e vinte oito (ano de 1290) morreu Dom Pascácio Nunes, Arcediago de Seia na Igreja de Coimbra, e jaz dentro da mesma Igreja, junto ao pavimento da porta ocidental. Sua alma descanse em paz. Amen. Esta inscrição, reduzida a um terço do seu original, acha-se gravada numa pedra de dois palmos de comprimento e um e três oitavos de largura, ocupa um local bastante humilde; está embebida na grossura da parede da ombreira da parte esquerda da porta da Sé Velha desta cidade. A integridade dos seus caracteres e o ouro que sem dificuldade ainda se lhe descobre mostram que este pregoeiro mudo da memória de Dom Pascácio tem triunfado das ruínas do tempo; e custará a crer que cinco séculos e meio tenham passado por este monumento quase inutilmente. Promete ainda uma longa duração, se não sofrer a sorte que hão sofrido outros do mesmo templo; isto é, se não vier ainda a ser um dia vítima da maldade ou ignorância de alguém. Porque de muitas inscrições que nos consta outrora povoaram as paredes daquele antiquíssimo templo, apenas hoje nos restam duas, tendo as mais sido aniquiladas talvez por ocasião de alguns insignificantes reparos com que se tem pretendido melhorar este recomendável edifício. Nada encontrámos que possa tornar recomendável a memória de Dom Pascácio, e se alguma coisa houve perdeu-se na obscuridade dos tempos. Apenas do Livro das Calendas do Cartório do Cabido, a fls. 114 v.º, constam os legados que ele deixou ao mesmo Cabido; convém a saber: a sua quinta de Mogofores, com sete casais, e mais um no Avenal; um cálix de prata, de nove onças; e uma vestimenta sacerdotal, etc., etc., com obrigação de certos sufrágios pelas almas dele, seu pai e mãe.


3.ª INSCRIÇÃO

[EPITÁFIO DO TÚMULO DO CONDE D. SISNANDO (SÉ VELHA)]

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EPITÁFIO DO TÚMULO DO CONDE DOM SISNANDO, NA SÉ VELHA *

* Publicado em O Antiquário Conimbricense, n.º 3, setembro 1841: texto nas págs. 17 a 19, ilustrações em folhas não numeradas, entre as págs. 20 e 21.


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[1] AQUY . JAZ . HUU . QUE . EM . OUTRO . TENPO . FOY . GRANDE . BAROM [2] SABEDOR . E . MUITO . ELOQUENTE . AVONDADO . E . RICO . E . AGORA [3] HE . PEQUENA . CINZA . ENÇARADA . EM . ESTE . MOIMENTO [4] E . COM . EL . JAZ . HUUM . SEU . SOBRINHO . DOZ . QUAEZ . HUU [5] ERA . JA . VELHO . E . OUTRO . MANCEBO . E . O . NOME . DO . TIO [6] SESNANDO . E . PEDRO . AVIA . NOME . O . SOBRINHO. 3

3 Pedro Álvares Nogueira, no Catálogo Manuscrito dos Bispos de Coimbra [este manuscrito de Pedro Álvares Nogueira (?-1597) viria a ser publicado por António Gomes da Rocha Madahil, com prefácio da sua autoria e o título Livro das vidas dos bispos da Sé de Coimbra, Coimbra, Universidade de Coimbra, Arquivo e Museu de Arte, 1942], diz, num lugar, que o Conde Sisnando estava sepultado num moimento, que tinha um arco, cujo lugar já se ignorava; e, noutra parte, diz haver memória de que a sepultura era no adro. Por ser em português esta inscrição, não pode datar acima do reinado de D. Afonso III. Com efeito, nesse tempo é que se reformou a Sé, e talvez depois se traduziu em vulgar alguma inscrição latina que


26  MANUEL DA CRUZ PEREIRA COUTINHO

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Encontra-se, encostado à quina ocidental da Sé Velha de Coimbra, o túmulo em que estão depositadas as cinzas de Dom Sisnando. É oblongo, de forma abaulada. Tem 55 polegadas de comprimento, 23 de largura e 36 de altura. Os caracteres deste epitáfio mostram, pelas suas graves mutilações, que não tem podido resistir às injúrias assim do tempo, como dos homens. A rudeza dominante da primeira idade da Monarquia Portuguesa e o tempo invejoso dos nossos monumentos se deram as mãos para sepultarem em eterno esquecimento os factos históricos dessa desgraçada época. Parece que então os homens se empenhavam em levantar uma barreira impenetrável entre a sua idade e os tempos futuros. Os poucos documentos que, através dos séculos, têm conseguido penetrar até os modernos, vêm marcados com o ferrete da ignorância domiciliada por toda a Europa desde o século VI. Ela insinuou-se no espírito dos homens, subjugou-lhes o entendimento e os dominou até à época da restauração das letras. Sisnando viveu no XI século, incluído na Idade Média, reinado da barbárie e da obscuridade. Os nomes de seus pais, o de sua pátria e outras circunstâncias interessantes à vida deste varão ficaram sepultados no abismo das trevas. Ele só principia a representar nos nossos documentos desde a conquista de Coimbra, com esta variedade de títulos da sua dignidade: Conde, Cônsul, Governador e Alvazil 4. Esses mesmos documentos nos atestam que Sisnando vivia com grande reputação na cidade de Sevilha (então dos mouros), e que, tendo ali traçado uma grande empresa, fora encontrar Fernando Magno de Leão, e numa conferência que teve com este rei lhe persuadiu com toda a energia

dantes estava no túmulo, que este atual substituiu; o que parece mostrar a sintaxe, que indica mais versão de latim que obra original. Por baixo do túmulo está o lugar de uma lápide embebida na parede, que já falta, e seria talvez a inscrição original. O ser escrita em alemão minúsculo e a sua frase mostra ser desde D. João I até D. Manuel (João Pedro Ribeiro, Dissertações Cronológicas e Críticas sobre a História e Jurisprudência Eclesiástica e Civil de Portugal, Tomo I, Lisboa, Academia Real das Ciências, 1810, Documento n.º I, p. 193). 4 Elucidário [obra citada na nota 2], artigo Alvazil 1.º


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a conquista de Coimbra 5. Fernando condescende com a vontade do Conde; e pouco depois a cidade de Ataces aparece sitiada por um numeroso exército. No fim de sete meses de porfiada resistência, decide-se a vitória a favor dos soldados do rei de Leão; e as bandeiras dos cristãos arvoradas nas elevadas torres desta cidade anunciam aos povos vizinhos a queda da rainha do Mondego (ano de 1064). Sisnando, assistindo à conquista de Coimbra 6, não partilhou menos glória em preencher seus nobres desejos do que em se ver logo depois investido por Fernando no senhorio absoluto da cidade e de toda a província entre Douro e Mondego, com o difícil encargo de conservar e defender as terras do seu domínio. Em nenhum outro capitão podia recair uma escolha mais acertada do que em Sisnando. Ele, não contente com defender os povos que foram confiados à sua direção, põe todo o cuidado em alargar o horizonte do seu império, fazendo levantar das ruínas muitas vilas e aldeias, tomando outras aos mouros e promovendo a povoação das terras desabitadas. Protegeu o culto religioso por meio da reedificação de algumas igrejas, fundação de outras e das doações com que as beneficiou. Um Seminário 7 junto á Sé Velha de Coimbra foi obra sua, de combinação

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5 Transactis multis temporibus, advenit quidam ex partibus hispalis sibiliae, nomine Consul Dominus Sisnandus ad laudabilissimum Fredenandum regem, et consiliatus est illi, ut obsideret civitatem quandam nomine Columbriam, quae tunc a Sarracenis possessa erat (Livro Preto da Sé de Coimbra, fls. 7 v.º [Cf.: Livro Preto da Sé de Coimbra, 3 volumes, Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, 1977-1979; e Livro Preto: Cartulário da Sé de Coimbra, Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, 1999]). 6 Cepitque suprafatus Rex (Ferdinundus) Colimbriam, presente jam dicto consule Sisnandi, et dedit eam illi, tributque ei potestatem dandi, et auferendi, atque judicandi, et omnia ordinandi secundum suam voluntatem (Constituição de D. Sisnando a Dom Paterno, Bispo de Coimbra, transcrita no Apêndice à 3.ª parte da Monarquia Lusitana [António Brandão, Terceira parte da Monarquia Lusitana, que contém a história de Portugal desde o Conde Dom Henrique até todo o reinado d’El-Rei Dom Afonso Henriques, Lisboa, Impressão Craesbeeckiana, 1690, págs. 377-378). 7 O mesmo.


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