Anais Eclesiásticos de Portugal. Ano fixo da Entrada da Religião de Cister em Portugal. Árvores Genealógicas da Rainha D. Maria Ana de Áustria. Bulário de Calatrava. Cerimonial do Sacro Convento de Calatrava. Cortes de Lamego. Crónica do Rei D. Sebastião.
D. Jerónimo Mascarenhas fez a sua formação em Coimbra, onde se doutorou em Teologia (1638), tendo sido Colegial e Reitor do Colégio de S. Pedro, Cónego da Sé Catedral e Provedor da Misericórdia.
Cronologia de Espanha. Descrição de Trento. Descrição Geral de toda a Terra descoberta.
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Epítome das Casas dos Marqueses de Vila Real, Duques de Caminha. Excelências e Utilidades da História.
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Genealogia Régia de Portugal. História da Calatrava.
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Religião
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História das Ordens Militares de Portugal. Igrejas de Portugal, e vidas de seus Prelados. Monumentos de Itália. Notícias da Cidade de Leiria. Origem da Inquisição de Portugal. Origem da Ordem de Avis.
Mostrando-se fiel ao juramente prestado a D. Filipe III, fez parte do grupo de fidalgos que, em fevereiro de 1641, fugiu de Lisboa para Castela, onde desempenhou importantes cargos na Corte e ingressou na Ordem de Calatrava, de que foi Definidor. Nomeado Prior de Guimarães e Bispo de Leiria, não chegou a exercer estes cargos. Já na Regência de Maria Ana de Áustria, foi nomeado Bispo de Segóvia. A sua vocação desde cedo foram os estudos históricos, tendo deixado dezenas de escritos, designadamente genealógicos e biográficos, a maioria dos quais permaneceu inédita. Uma das obras que mais o ocupou, mas que não chegou a publicar, foi a História da Cidade de Coimbra, de que, em carta escrita, em 1636, para Jorge Cardoso (1606 - 1669), autor do Agiológio Lusitano, afirmava que já tinha acabado três livros do primeiro tomo (o primeiro sobre as diversas opiniões sobre a origem da cidade, o segundo sobre as suas antiguidades, e o terceiro sobre as suas excelências) e parte do segundo tomo, dedicado à História Eclesiástica da mesma cidade. Este seria o principal e mais extenso assunto da obra, onde seguramente se narrariam as mais relevantes ocorrências históricas ligadas à Diocese de Coimbra, suas igrejas e corporações religiosas, com as biografias dos seus bispos, santos e mártires. Desta obra, o único vestígio que chegou aos nossos dias é o manuscrito existente na Biblioteca Pública de Évora, que foi objeto, em 1956, de publicação parcial por José Pires da Silva. Na presente edição procede-se à sua transcrição integral e adota-se a reordenação dos capitulos. Em anexo, insere-se a Oração por ele proferida no Sínodo da Sé de Coimbra, em 1639, demonstrativa das suas qualidades de orador sagrado e dos seus conhecimentos históricos e teológicos, e uma série de cartas relativas à sua resolução de, em 1641, ir para Espanha.
Vida de D. Beatriz da Silva, Irmã do Beato Amadeu. Vida de D. Leonor Mascarenhas. Vida de Nossa Senhora. Vida de S. João Evangelista. Vida de S. Tomé, Apóstolo da Índia Oriental. Vida de Santa Isabel, Rainha de Portugal. Vida do Infante de Portugal, D. Pedro. Vida do Santo Infante de Portugal D. Fernando.
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HISTÓRIA DA CIDADE DE COIMBRA
Descrição de Portugal, e suas Conquistas. C
D. Jerónimo Mascarenhas (Lisboa, 1611 - Segóvia, 1672) era filho do notável militar e político D. Jorge Mascarenhas, Marquês de Montalvão (Vedor da Casa Real, Governador de Mazagão e de Tânger, Vice-Rei do Brasil).
D. JERÓNIMO MASCARENHAS
MANUSCRITOS
HISTÓRIA DA CIDADE DE COIMBRA por
D. JERÓNIMO MASCARENHAS
OBRAS IMPRESSAS Epigrama a António de Sousa de Macedo (em Flores de España, Excelencias de Portugal, Lisboa, 1631). Oração Exortatória e Panegírica, no Sínodo da Sé de Coimbra, de maio de 1639 (Lisboa, 1640). Viage de la Serenissima Reyna Doña Maria Ana de Austria, ... hasta la Real Corte de Madrid, desde la Imperial de Viena (Madrid, 1650). Apologia Historica, por la Illustrissima Religion y Inclita Cavalleria de Calatrava: su Antiguedad, su Extension, sus Grandezas entre las Militares de España (Madrid, 1651). Forma del iuramento y voto que por el Misterio de la Immaculada Concepcion de la Virgen Nuestra Señora hizo la Religion y Cavalleria de Calatrava (Madrid, 1652). Raymundo Abad de Fitero, de la Orden de Cister, Fundador de la Sagrada Religion y inclyta Cavalleria de Santa Maria de Calatrava ... (Madrid, 1653). Amadeo de Portugal, en el siglo Juan de Meneses de Silva, Religioso de la Orden de S. Francisco de la Observancia, y Fundador de la Illustrissima Congregacion de los Amadeos en Italia (Madrid, 1653). Definiciones de la Orden y Cavalleria de Calatrava ... (Madrid, 1661). Campaña de Portugal por la parte de Estremadura el año de 1662, executada por el Serenissimo Señor D. Juan de Austria (Madrid, 1663). Fray Juan Pecador, Religioso del Orden y Hospitalidad de San Juan de Dios y fundador del Hospital de Xerez de la Frontera: su Vida, Virtudes y Maravillas (Madrid, 1665).
Transcrição de manuscrito, introdução e notas por
Mário Araújo Torres
Sucesos de la Campaña de Flandes del año de 1635 ... (Madrid, 1880). Enfermedad, muerte y entierro del Rey D. Felipe IV de España (Granada, 1914) Historia de la ciudad de Ceuta: sus sucessos militares y políticos, memorias de sus santos y prelados y elogios de sus capitanes generales escrita em 1648 (Lisboa, 1918). Vida de Doña Juana, Princesa de Portugal, hija de Alfonso V, y religiosa de Santo Domingo en el convento de Jesús, de Aveiro (Aveiro, 1952). História da Cidade de Coimbra (Coimbra, 1956).
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HISTÓRIA DA CIDADE DE COIMBRA
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título: História da Cidade de Coimbra
autor: D . Jerónimo Mascarenhas (Lisboa, 1611 – Segóvia, 1672)
transcrição de manuscrito, introdução e notas: Mário Araújo Torres edição: Edições Ex-Libris® (Chancela Sítio do Livro)
de D. Jerónimo Mascarenhas, por Pedro de Villafranca y Malagón (Alcolea de Calatrava, c. 1615 - Madrid, 1684), feito em Madrid em 1649 grafismo de capa: Ângela Espinha paginação: Paulo Resende
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imagem de capa: Retrato
1.ª edição Lisboa, setembro 2023
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isbn: 978‑989-9028-89-0
depósito legal: 519649/23
© Mário Araújo Torres
Todos os direitos de propriedade reservados, em conformidade com a legislação vigente. A reprodução, a digitalização ou a divulgação, por qualquer meio, não autorizadas, de partes do conteúdo desta obra ou do seu todo constituem delito penal e estão sujeitas às sanções previstas na Lei. Declinação de Responsabilidade: a titularidade plena dos Direitos Autorais desta obra pertence apenas ao seu autor, a quem incumbe exclusivamente toda a responsabilidade pelo seu conteúdo substantivo, textual ou gráfico, não podendo ser imputada, a qualquer título, ao Sítio do Livro, a sua autoria parcial ou total. publicação e comercialização:
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HISTÓRIA DA CIDADE DE COIMBRA
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D. JERÓNIMO MASCARENHAS
Transcrição de manuscrito, introdução e notas por
Mário Araújo Torres
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INTRODUÇÃO
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1. D. Jerónimo Mascarenhas (Lisboa, 1611 – Segóvia, 1672), sexto filho de D. Jorge Mascarenhas e de D. Francisca de Vilhena, nasceu no seio de uma família que, desde a dinastia de Avis e ao longo da dinastia filipina, se notabilizou nas carreiras militar e da administração ultramarina e no desempenho de cargos na Corte. O pai de D. Jorge Mascarenhas, D. Francisco Mascarenhas, foi Comendador de Cucujães na Ordem de Cristo, membro dos Conselhos dos Reis D. Sebastião e D. Henrique, General do Malabar e do Mar da Índia, Governador e Capitão-General de Ormuz. O seu avô, D. Manuel Mascarenhas (c. 1480 - Lisboa, 1546), foi Comendador do Rosmaninhal na Ordem de Cristo, Governador e Capitão-General de Arzila de 1538 a 1545. Era irmão de D. Pedro Mascarenhas (Mértola, 1484 - Goa, 1555), Estribeiro-mor de D. João III, que participou em campanhas militares no norte de África e foi diplomata (embaixador em Bruxelas e Roma), sendo por último o 6.º Vice-Rei da Índia (1554-1555). Eram ambos filhos de Fernão Martins Mascarenhas (Alcácer do Sal, c. 1430 - Évora, 1501), 1.º Senhor das Vilas de Lavra e Estepa, Comendador de Mértola e de Almodovar na Ordem de Santiago, Alcaide-mor de Montemor-o-Novo e Alcácer do Sal, Capitão-General de Ginetes de D. João II 1 e de D. Manuel. Por seu turno, o pai de D. Francisca de Vilhena, Manuel de Melo de Magalhães, Comendador de São Salvador do Campo de Neiva,
Para sua segurança, D, João II, depois da execução do Duque de Bragança D. Fernando (Évora, 21 de junho de 1483), passou a fazer-se acompanhar de uma Guarda de Ginetes, comandada por Fernão Martins Mascarenhas, “que nestes feitos, em que a vida e a saúde de El-Rei e do Reino pendiam, sempre serviu bem, continuada e mui lealmente, e de quem El-Rei então mais confiava” (Rui de Pina, Crónica de El-Rei Dom João II, Coimbra, Atlântida, 1950, pág. 58), designadamente por ocasião da conjura que levou à execução do Duque de Viseu D. Diogo (Setúbal, 1484). Em 1488, comandou a armada que atacou Arzila (obra citada, págs. 88-89). Assistiu aos últimos dias da vida de D. João II, em Alvor, outubro de 1495 (obra citada, págs. 196-202) 1
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foi Governador de Malaca e pertenceu aos Conselhos dos Reis D. Sebastião, D. Henrique, D. Filipe II e D. Filipe III.
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2. D. Jorge Mascarenhas (Lisboa, c. 1579 - Lisboa, 1/1/1652) 2, Comendador de São Salvador de Vila Cova, de Santo Estêvão de Oldrões, São Tiago de Torres Vedras, São João de Brito e São Salvador de Neiva, foi Governador e Capitão-General de Mazagão de 1615 a 1619 3. Em 27 de outubro de 1619, no regresso de Mazagão ao Reino, a sua nau foi assaltada por mouros, tendo sido morto o seu filho D. João Mascarenhas e ficado gravemente ferido o primogénito D. Francisco Mascarenhas. Levados cativos para Argel, foram resgatados por intercessão de D. Filipe III. Este nomeou-o Governador de Tânger, cargo que exerceu de 1622 a 1624 4. Foi nomeado Presidente da Câmara de Lisboa (1624), Coronel em diferentes Terços de Ver Fernando Castelo-Branco, “D. Jorge Mascarenhas”, no Dicionário de História de Portugal, dirigido por Joel Serrão, vol. IV, Porto, Iniciativas Editoriais, 1979, págs. 218-219. 3 Sobre a sua atuação em Mazagão, ver António de Sousa de Macedo, Flores de España, Excelencias de Portugal, Lisboa, Jorge Rodrigues, 1631, págs. 195 a 197, transcrito a págs. 255-259 desta edição.
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Deixou escrita uma Descrição da Fortaleza de Mazagão. Uma cópia manuscrita desse texto, integrada no Códice n.º 620 da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, foi publicada por Belisário Pimenta no Boletim da Segunda Classe da Academia das Ciências de Lisboa, vol. X, 1916 (com separata). Robert Ricard publicou uma versão francesa desse texto em Un Document Portugais sur la Place de Mazagan au début du XVIIe siècle (Paris, Paul Geuthner, 1932), com desenvolvidos comentários.
Um relatório de D. Jorge Mascarenhas sobre a sua ação em Mazagão foi publicado por Afonso de Dornelas, em História e Genealogia, 2.º vol., Lisboa, Casa Portuguesa, 1914, págs. 199-200. 4 Sobre a sua atuação em Tânger, ver: D. Fernando de Meneses, História de Tânger durante a dominação portuguesa, Lisboa, Imprensa Ferreiriana, 1732, págs. 138-141; e António Dias Farinha, Correspondência de D. Jorge Mascarenhas, Governador de Tânger (1622-1624), separata das Atas do IV Congresso de Estudos Árabes e Islâmicos, Leiden, E. J. Brill, 1971.
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Lisboa e na Armada do Mar Oceano e, por duas vezes, Capitão-General em Cascais. Foi Presidente da Junta da Fazenda e da Companhia Oriental, Vedor e Mordomo-mor da Casa do Rei D. Filipe III, que lhe atribuiu os títulos de 1.º Conde de Castelo Novo (1628) e de 1.º Marquês de Montalvão (por Carta de 18 de abril de 1640). Foi nomeado Conselheiro de Estado de Portugal (1639) e “Vice-Rei e Capitão-General de Mar e Terra, Empresa e Restauração do Brasil”, cargo de que tomou posse a 5 de junho de 1640 5. Em fevereiro de 1641, aderiu à aclamação do Duque de Bragança como Rei de Portugal, mas, na sequência de intrigas de seus adversários, viria a ser destituído e remetido, preso, a Lisboa. Aqui foi reconhecida a sua fidelidade e nomeado Vedor da Fazenda, Presidente do Conselho de Ultramar, membro do Conselho de Estado e um dos Ministros do Despacho. Novamente afastado por intrigas em 1644, após provada a sua inocência foi nomeado, em 1645, Mestre de Campo General da Corte. Segunda vez perseguido pelo mesmo motivo, faleceu preso no Castelo de S. Jorge, a 1 de janeiro de 1652 6. Sobre a sua atuação como Vice-Rei do Brasil, ver: Adolfo
de Varnhagen, História das Lutas com os Holandeses no Brasil
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desde 1624 a 1654, Viena de Áustria, Carlos Finesterbeck, 1871, págs. 151-166; e Traslado de una Carta embiada del Brasil à un Cavallero desta Corte, dandole cuenta de las grandes vitorias que han tenido las armas Catolicas de Su Magestad D. Felipe IIII, nuestro Señor, governadas por Don Jorge Mascareñas, Conde de Castillo y Marques de Montalvan, Madrid, Catalina de Barrio y Angulo. 6 Ver pertinentes transcrições da História de Portugal Restaurado, a págs. 264-268 deste volume. “Entre tão grandes lugares, e uma fortuna próspera, veio a padecer os seus terríveis reveses, com que ela costuma perseguir ainda os grandes merecimentos, como foram os do Marquês: foi preso por indícios de suspeitosa fidelidade, de que foi solto, e restituído à sua antiga honra, que o Rei fez mais brilhante com um Decreto em que declarava a sua inocência. Porém, sendo segunda vez, pelo mesmo motivo, preso, acabou a vida no Castelo de Lisboa, dando fim à inconstância da sua fortuna, que ele com ânimo superior soube constante dominar, no próspero, e adverso; porque ornado de excelentes virtudes, prudência, cortesania, valor, e ciência militar, foi
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3. Dos sete filhos varões de D. Jorge Mascarenhas, cinco (D. Francisco, D. João, D. Pedro, D. Fernando e D. Simão) seguiram a carreira militar e dois (D. Manuel e D. Jerónimo) a eclesiástica, O filho primogénito, D. Francisco Mascarenhas, acompanhou seu pai quando este foi nomeado Governador de Mazagão (1615-1619). Ficou ferido no assalto dos mouros à nau em que regressavam ao Reino, indo cativo para Argel. Sucedeu a seu pai como Vedor da Casa Real em 1626 (cargo de que renunciou em 1639 no seu irmão D. Pedro) e no título de Conde de Castelo Novo (1633). Comendador de S. Salvador do Campo de Neiva (1635). Foi nomeado Governador e Capitão-General de Mazagão (1635) e General da Armada (1639), tendo sido morto pelos mouros em 11 de abril de 1640, no decurso de uma sortida 7. D. Manuel Mascarenhas ingressou na Companhia de Jesus, no Noviciado de Coimbra, em 1619, com quinze anos. No Colégio da Companhia, em Coimbra, ensinou Humanidades e Teologia Moral por oito anos, interrompendo a docência por falta de saúde. Foi Reitor do Seminário dos Irlandeses em Lisboa. Foi duas vezes preso inocentemente: uma por D. Filipe IV em Espanha e outra, regressado a Portugal, por D. João IV, ambas por infundadas suspeitas de infidelidade. Desterrado para o Colégio de Braga, aí faleceu a 28 de novembro de 1654. Postumamente foi editada em Paris, em 1656, a sua obra De Sacramentis in genere, Baptismo, Confirmatione, Eucharistia nec non & Sacrificio Missae 8.
Varão famoso; não o elevou a vaidade no auge da sua fortuna, nem desmaiou na adversidade dos trabalhos; de sorte que o seu singular espírito merecia mais glorioso fim, ainda que não cooperou nunca para a infelicidade, que padeceu, de que seus filhos, e mulher tiveram culpa.” (António Caetano de Sousa, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Livro XII, pág. 411). 7 Ver descrição da sua morte em Frei Francisco de San Juan de El Puerto, Mission Historial de Marruecos, Sevilha, Francisco Garay, 1708, págs. 450-451. 8 Ver Diogo Barbosa Machado, “P. Manuel Mascarenhas”, em Biblioteca Lusitana, vol. III, págs. 302-303; P. António Franco,
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D. João Mascarenhas foi Cavaleiro de São João de Malta, tendo sido morto pelos Mouros quando cativaram seu pai, no regresso de Mazagão ao Reino. D. Pedro Mascarenhas 9 serviu nas Armadas e achou-se com seu pai em Mazagão e Tânger. Senhor do Morgado de Airão e Canelas, foi Comendador de sete Comendas: São Pedro de Rates, São Julião, São Salvador de Vila Cova, Santo Estêvão de Oldrões, São Tiago de Torres Vedras, São João de Brito e São Salvador do Campo de Neiva, todas na Ordem de Cristo. Assistiu à aclamação de D. João IV, que o nomeou Vedor da sua Casa. Em 4 de fevereiro de 1641, faz parte, com seu irmão D. Jerónimo, do grupo de fidalgos que fugiram para Espanha. Membro do Conselho da Guerra de D. Filipe IV, este nomeou-o 3.º Conde de Castelo Novo, e, após a morte de seu pai, 2.º Marquês de Montalvão. D. Fernando Mascarenhas foi Marechal do Reino, por Carta feita em Madrid a 2 de setembro de 1639. Acompanhou o pai quando foi por Vice-Rei do Estado do Brasil, com o posto de Mestre de Campo do Terço de Infantaria do Brasil. Quando sucedeu a Aclamação, o pai mandou-o a Portugal com a nova de que o Duque de Bragança ficava reconhecido Senhor daquele Estado. D. João IV fê-lo Mestre
Imagem da Virtude em o Noviciado da Companhia de Jesus no Real Collegio de Jesus de Coimbra, na qual se contem as Vidas e Virtudes de muytos Religiosos, que nesta Santa Casa foraõ Noviços, Segundo Tomo, Coimbra, Real Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1719, págs. 623-624 e 629-633, onde vem publicada uma sua Carta escrita a sua Avó D. Maria Manuel na Casa do Noviciado de Lisboa a 2 de dezembro de 1619, quando recebeu notícia do assalto pelos mouros à nau que trazia seus pais e irmãos para o Reino. 9 Ver: Relacion mui copiosa de la famosa victoria que ha sido Dios servido de dar a las armas de Su Magestad contra las de Francia y rebeldes de Cataluña sobre el sitio de Lerida: embiada por Don Pedro Mascareñas, conde de Castil Novo, que se hallo en la batalla, a su hermano Don Geronimo Mascareñas, del Consejo Real de Ordenes; con una copia del perdon general que Su Magestad concede a los que se reduxeren a su Corona, Córdova, Salvador de Cea Tessa, 1644.
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de Campo de Infantaria e deu-lhe a Vila de Serém, com o título de Conde daquela Vila (1643), fazendo-lhe mercê também da Vila de Albergaria, e confirmado o ofício de Marechal. Foi Presidente da Câmara de Lisboa (1647). Foi Coronel de um dos Regimentos da Corte e depois foi General da Província da Beira e do Conselho de Guerra. Morreu em outubro de 1649. D. Simão Mascarenhas seguiu a carreira militar em Castela. Cavaleiro de São João de Malta, Conde de Penedono e Gentil-homem da Câmara do Cardeal-Infante D. Fernando 10. Foi Tenente-Coronel do Regimento da Guarda Real. Serviu na Guerra de Catalunha 11 e foi General da Artilharia e Governador de Belaguer, praça que sitiou e ganhou ao Conde de Harcourt no ano de 1645, na guerra com os franceses, tendo falecido pouco depois. Teve ainda D. Jorge Mascarenhas quatro filhas: D. Maria Manuel de Vilhena, que casou com D. Francisco de Sousa (1615-1674), 2.º Conde do Prado (1634) e 1.º Marquês das Minas (1670), um dos 40 conjurados do 1.º de dezembro de 1640 e Embaixador à Santa Sé (1669); D. Jerónima Mascarenhas, que morreu criança; D. Jerónima de Castro, religiosa no Convento da Esperança, em Lisboa, de que foi Abadessa; e D. Antónia de Vilhena (ou Mascarenhas), monja no mesmo convento. Cardeal-Infante D. Fernando de Áustria (Madrid, 1609 - Bruxelas, 1641), 5.º filho de Filipe III, Arcebispo de Toledo (1619), Cardeal (1619), Vice-Rei da Catalunha (1632), Governador-geral da Flandres (1633). 11 Ver, nos Tomos de Varios da «Colección Mascareñas» da Biblioteca Nacional de Espanha: «Relación de la forma en que D. Simón de Mascareñas cumplió la comisión de levantar un tercio de seiscientos infantes en Andalucia y de los capitanes que nombró», no Códice 2369, Sucesos del año 1638, n.º 60, folio 365; «Memoria de un particular servicio que hizo a S. M. Don Simón de Mascareñas el año de 1639 [Paso de la Infantería española atacada de peste, en urcas flamencas, a Flandes, pasando por medio de la escuadra enemiga]», no Códice 2370, Sucesos del año 1639, n.º 50, folio 337; e «Sorpresa de Saló», por Don Simón de Mascareñas, no Códice 2372, Sucesos del año 1641, n.º 1, folio 1. 10
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4. Sucintamente recordado o seu enquadramento familiar, é tempo de nos centrarmos na complexa personalidade de D. Jerónimo Mascarenhas 12. Sabe-se que nasceu em Lisboa, cerca de 1611. Sexto filho de D. Jorge Mascarenhas e de D. Filipa de Vilhena, não existe menção de ter acompanhado seus pais e os cinco irmãos que seguiram a carreira militar quando aquele governou Mazagão de 1615 a 1619, sendo natural que tivesse permanecido no Reino, tal como o outro seu irmão (D. Manuel) destinado à carreira eclesiástica. Ignora-se quando D. Jerónimo Mascarenhas abraçou a carreira eclesiástica, mas é seguro que a sua formação teológica e humanista decorreu em Coimbra, na sua Universidade e na sua Sé. Como refere Diogo Barbosa Machado, “foi ornado de génio sublime para as letras, de que, dando claros indícios nos primeiros anos, se admiraram os felizes progressos que fez na Universidade de Coimbra, onde, depois de ser laureado com as insígnias doutorais de Teólogo, foi eleito Colegial do Colégio de S. Pedro, a 20 de outubro de 1631, e Cónego da Catedral daquela Cidade”. Com efeito, após ter alcançado os graus de bacharel licenciado e de mestre em Artes em 24 de julho de 1630, matriculou-se na Faculdade de Teologia, como ordinário, em 1 de outubro de 1630, tendo concluído a formatura em 22 de abril de 1637 e posteriormente prestado as provas de Magna Ordinária, em 28 de novembro de 1637, e de Augustiniana, em 25 de novembro de 1638 13. Sobre a biografia de D. Jerónimo Mascarenhas, ver infra, “Bibliografia passiva”, a págs. 275 a 277. 13 Os Estatutos da Universidade de 1559, então vigentes, impunham que os estudantes teólogos deviam ser licenciados em Artes e, até alcançarem o doutoramento, deviam comprovar frequência de diversos cursos e prestarem várias provas; depois de possuírem quatro cursos, ficavam bacharéis correntes; então, ao cabo de aproximadamente seis anos de frequência, podiam fazer a prova de Primeira Tentativa; o grau de bacharel formado era obtido no 7.º ano, devendo o candidato fazer três Princípios do Mestre das Sentenças, seguindo-se depois um Quarto Princípio; a licenciatura era obtida em Exame Privado, depois de prestação de provas de Magna Ordinária, da Augustiniana e dos Quodlibetos (9.º ano); o título de 12
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Em 20 de outubro de 1631, foi eleito Colegial do Colégio de São Pedro e em 1635 foi eleito pelos demais colegiais Reitor desse Colégio para o ano de 1636 14. No mesmo ano foi nomeado Cónego da Sé de Coimbra, onde se notabilizou pelos seus conhecimentos teológicos e históricos e pelas suas qualidades oratórias. Permaneceu em Coimbra até 1639, vindo para Lisboa quando foi nomeado Deputado da Mesa de Consciência e Ordens (29 de agosto de 1639). Honrando o seu juramento de fidelidade a D. Filipe III, em 4 de fevereiro de 1641 foge para Espanha, com o seu irmão D. Pedro e outros fidalgos. Em Madrid, foi nomeado Sumilher da Cortina e Oratório da Capela Real; ingressou na Ordem de Calatrava (maio de 1641), de que foi Definidor; integrou o Conselho das Ordens, o Conselho Supremo de Portugal e a Junta Geral de Competências entre os Tribunales. Filipe IV nomeou-o Bispo de Leiria e Prior de Guimarães, cargos que não chegou a exercer. Em abril de 1647 foi nomeado Capelão-mor e Esmoler-mor da Rainha Maria Ana
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mestre em Teologia (que era o doutoramento) era precedido de um ato chamado Vespérias. D. Jerónimo Mascarenhas fez as provas de Primeira Tentativa em 26 de maio de 1635, de Segunda Tentativa em 24 de maio de 1635, de Primeiro Princípio e de Segundo Princípio ambas em 23 de março de 1637, concluindo a formatura, com a prova de Quarto Princípio, em 22 de abril de 1637. Fez Magna Ordinária em 28 de novembro de 1637 e Augustiniana em 25 de novembro de 1638. 14 Cf. Fundação do Colégio de São Pedro de Coimbra. Colegiais e Porcionistas que foram do dito Colégio, cargos e dignidades que tiveram na República. Com 2 reportórios, um dos Colegiais porcionistas e opositores às colegiaturas, outro dos familiares e opositores às familiaturas do dito Colégio, por ordem de D. Diogo Lobo da Silveira, 1647, publicado em Notícias Cronológicas da Universidade de Coimbra, escritas pelo beneficiado Francisco Leitão Ferreira, Segunda Parte, que compreende os anos que decorrem desde princípios do de 1548 até o de 1551, Volume III (Tomo II), 1.ª edição publicada, revista e anotada por Joaquim de Carvalho, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1956, pág. 901.
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de Áustria, segunda esposa de Filipe IV, recebendo o encargo de fazer parte da embaixada que saiu de Madrid em novembro de 1648 para recolher a nova Rainha na Corte de Viena e transportá-la à de Madrid. Foi esta Rainha que, em dezembro de 1667, como tutora de seu filho, Carlos II, nomeou D. Jerónimo Mascarenhas como Bispo de Segóvia, nomeação confirmada em 9 de abril de 1668 por Clemente XI. À frente desta diocese dedicou importantes esforços para descobrir os restos mortais de São Joroteo, primeiro Bispo e Patrono de Segóvia. Faleceu em 14 de abril de 1672 e foi enterrado na sua catedral.
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5. A vastíssima obra escrita por D. Jerónimo Mascarenhas ao longo da sua vida, de que só uma ínfima parte viria a ser impressa, foi iniciada em Coimbra na década de 1630, quando frequentou a Faculdade de Teologia, foi Cónego da Sé Catedral e Provedor da Misericórdia dessa cidade.
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6. O seu primeiro escrito impresso conhecido é o Epigrama dedicado a António de Sousa de Macedo 15, seu contemporâneo em Coimbra, cuja Faculdade de Leis frequentou entre 1629 e 1632, por O epigrama é do seguinte teor: Domnus Hieronymus Mascarenhas ad Autorem. / EPIGRAMMA. / Quidquid in ingenti Lysia mirabitur orbis / Ingenio præstant pulchra teatra tuo. / Quæ longos olim Lusi gestêre per annos, / Cuncta brevi donas conspicienda simul. / Ingenio quantum res æquas, factaque verbis / Quæ scribis Calamo nobiliora facis. / Quid tamen Hispane Lusorum facta recentes? / Erubuit laudes lingua paterna suas. / Sed tamen externo, quanquam sermone referri, / Ingenio dici non potearnt alio. / Ergo dum Lysiæ narras miracula gentis, / Ingenium reliquis, socia iunge tuum. António de Sousa de Macedo (Porto, 1606 - Lisboa, 1682), doutorado pela Faculdade de Leis em 1632, foi magistrado (Desembargador da Casa da Suplicação), diplomata (Embaixador em Londres e na Holanda) e político (Secretário de Estado de D. Afonso VI), tendo publicado numerosas obras em português, castelhano e latim, de vários géneros: poesia, história, genealogia, jurisprudência, filosofia política. 15
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este inserido no início da sua obra Flores de España, Excelencias de Portugal (1631), na qual são enaltecidos os atos de bravura de D. Jorge Mascarenhas, pai de D. Jerónimo Mascarenhas, quando Governador e Capitão-geral de Mazagão 16.
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7. Eleito Provedor da Misericórdia de Coimbra em 2 de julho de 1635, D. Jerónimo Mascarenhas promoveu a edição, à sua custa, do Compromisso da Santa Misericórdia da Cidade de Coimbra. Sua Instituição e Catálogo dos Provedores e Escrivães que até ao presente tem servido nela (Coimbra, Diogo Gomes de Loureiro, 1636, 36 folhas) 17. Trata-se da primeira edição impressa do referido Compromisso, aprovado em 24 de maio de 1620, integrado por 32 capítulos, onde se estabelecem as regras relativas à admissão e exclusão dos Irmãos, seus direitos e deveres, escolha dos diversos cargos e normas de funcionamento. Segue-se um capítulo (não assinado, mas seguramente da autoria de D. Jerónimo Mascarenhas), com a história da fundação dessa instituição, em 1500, complementada por notícia das sucessivas sedes e catálogo completo dos seus Provedores e Escrivães, desde 1540 até 1635, concluindo com a reprodução da Carta e Alvará Régios, de 12 de setembro de 1500, sobre privilégios da Misericórdia de Coimbra. 8. Na qualidade de Cónego da Sé de Coimbra, D. Jerónimo Mascarenhas proferiu, no terceiro dia do Sínodo que, em 8 de maio de 1639, nela começou a celebrar o Bispo D. Joane Mendes de Távora 18 uma Oração Exortatória e Panegírica, impressa em Lisboa, em
N.ºs 61 a 63 da Excelencia IX do Capitulo XIV, a fls. 195-197, reproduzido nas págs. 255 a 259 da presente edição. 17 “É um dos livros mais raros impressos nesta cidade" (Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, João de Ruão e Diogo de Castilho ‒ Notas à margem de um Compromisso raro, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1921), de que apenas se conhece o exemplar existente nos Reservados da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra. 18 Joane Mendes de Távora (Lisboa, 1598 - Coimbra, 1/7/1646), filho segundo de Luís Álvares de Távora, 1.º Conde de S. João da Pesqueira (1611), e de sua mulher, D. Marta de Vilhena; tio de Luís 16
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1640 (ou 1639), sermão que, segundo o parecer emitido pelo Censor do Santo Ofício, Frei Filipe Moreira 19, “está acompanhado de muita doutrina importante aos Pastores Eclesiásticos para o bom governo de suas ovelhas, e ornado de muita erudição das Letras Sagradas e Histórias, de que o autor tem dado largas mostras na Universidade de Coimbra, como penhores do muito que se espera de seu grande talento”.
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Álvares de Távora (1634-1672), 3.º Conde de S. João da Pesqueira e 1.º Marquês de Távora (1669). Clérigo secular. Doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra. Colegial no Colégio de S. Paulo (28/5/1618). Cónego magistral da Sé de Lisboa (1624). Deputado da Inquisição de Lisboa. Sumilher da Cortina de Filipe IV. Bispo de Portalegre (1632-1638). 46.º Bispo de Coimbra e 11.º Conde de Arganil (1638-1646). Reuniu Sínodo (1639), para se tratar de definir o dogma da Conceição. Faleceu em 1/7/1646, quando já havia sido nomeado, por D. João IV, Conselheiro de Estado e Arcebispo de Lisboa. Foi sepultado na Sé Catedral de Coimbra. Por sentença de 12/1/1759, foram picadas as armas no epitáfio da sepultura porque pertencia à família dos Távoras. Publicou: Memorial a El-Rei, em nome do Deão e Cabido da Sé de Lisboa, em defesa da liberdade eclesiástica violada com a lei que promulgou contra o uso dos coches (Lisboa, 1626); Sermão no Auto da Fé que se celebrou em Lisboa em 2 de Setembro de 1629 (Lisboa, António Alvares, 1629); e Epistola ad Sanctissimum Ecclesiæ Romanæ Pontificem Inocentium X (Coimbra, 1644). Deixou inédito: Commentari in Canticum Magnificat. 19 Frei Filipe Moreira (Lisboa, ? - 1645) professou como eremita augustiniano no Convento da Graça (1606). Doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra (1618), foi Lente de Escritura (1633). Censor do Santo Ofício. D. João IV nomeou-o seu Pregador em 1641. Publicou: Sermão no Auto da Fé, que se celebrou em Évora a 30 de junho de 1630 (Évora, Manuel Carvalho, 1630); Sermão na Aclamação do Rei Dom João IV, pregado na Universidade de Coimbra no ano de 1640 (Coimbra, Diogo Gomes de Loureiro, 1641); e Sermão do Auto da Fé, que se celebrou no Terreiro do Paço desta Cidade de Lisboa em 25 de junho de 1645 (Lisboa, Domingos Lopes Rosa, 1646).
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9. Na parte final da sua Oração Exortatória e Panegírica, que se reproduz na presente edição, D. Jerónimo Mascarenhas dá notícia de que, por mandado do Cabido da Sé de Coimbra, estava a escrever, “com grande extensão, a História Eclesiástica desta Mitra”, que “brevemente darei à luz”, procedendo de seguida, a título exemplificativo, à indicação de dados biográficos de alguns Bispos, com destaque para D. Jorge de Almeida e D. Afonso de Castelo Branco. Essa “História Eclesiástica” de Coimbra constituiria a parte central da História da Cidade de Coimbra, que, em carta escrita de Coimbra, em 2 de agosto de 1636, para Jorge Cardoso 20, referida por Diogo Barbosa Machado 21, D. Jerónimo Mascarenhas afirmava que “constava de dois tomos e que tinha acabado três livros do primeiro tomo: no primeiro refutava as opiniões que alguns tiveram acerca da dita cidade; 2.º, suas antiguidades; 3.º, suas excelências; e no 4.º escrevia a História Eclesiástica da mesma cidade”. Em 1650, no início da sua primeira obra que viria a ser editada em Madrid (Viage de la Serenissima Reyna Doña Maria Ana de Austria), onde se exilara por se opor ao Levantamento de D. João, Duque de Bragança, como Rei de Portugal, D. Jerónimo Mascarenhas dá conta dos seus escritos, num total de vinte e seis títulos, em diferentes estádios de conclusão, dizendo, a propósito da Historia de la ciudad de Coimbra, que “este es mi primer escrito” e que “su principal assumpto es lo tocante à lo Eclesiastico; si bien de lo antiguo se tocan algunas materias con espacio, y novedad”. Desta obra, o único vestígio que chegou aos nossos dias é o manuscrito existente na Biblioteca Pública de Évora, que, com
Jorge Cardoso (Lisboa, 1606 - 1669), autor de diversas obras nos domínios da hagiografia e da história eclesiástica, com destaque para o Agiológio Lusitano dos Santos e Varões Ilustres em Virtude do Reino de Portugal e suas Conquistas, 4 tomos, Lisboa, 1652-1744. 21 Diogo Barbosa Machado, Biblioteca Lusitana, Histórica, Crítica e Cronológica, na qual se compreende a notícia dos autores portugueses e das obras que compuseram desde o tempo da promulgação da Lei da Graça até o tempo presente, Tomo II, Lisboa, Inácio Rodrigues, 1747, pág. 522. 20
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leitura e prefácio de José Pires da Silva, foi parcialmente publicado no vol. XIV do Arquivo Coimbrão, de que se extraiu separata (Coimbra, Biblioteca Municipal de Coimbra, 1956), e agora se edita integralmente. Ignora-se a procedência desse manuscrito autógrafo de D. Jerónimo Mascarenhas, que representa uma muito pequena porção da História da Cidade de Coimbra por ele projetada, correspondendo apenas a parte incompleta do Livro I do Tomo I (sobre as diversas opiniões quanto à fundação da cidade) e à parte inicial do Livro II (sobre as suas “antiguidades”), faltando por completo o Livro III desse Tomo I (sobre as suas “excelências”) e todo o Tomo II, sobre a História Eclesiástica de Coimbra, que seria o principal e mais extenso assunto da obra, onde seguramente se narrariam as mais relevantes ocorrências históricas ligadas à Diocese de Coimbra, suas igrejas e corporações religiosas, com as biografias dos seus bispos, santos e mártires. É possível que o códice da Biblioteca Pública de Évora corresponda a um fragmento da História de Coimbra, passado a limpo pelo próprio D. Jerónimo Mascarenhas e por ele deixado em Lisboa na precipitação da sua ida para Espanha, em fevereiro de 1641, donde nunca mais regressaria. Ou então que corresponda a parte de uma cópia por ele facultada a outras pessoas para obter a sua opinião, como era comum 22.
Francisco Leitão Ferreira (1667-1735), nas suas Notícias Cronológicas da Universidade de Coimbra, Segunda Parte, que compreende os anos que decorrem desde princípios do de 1548 até o de 1551, Volume III (Tomo I), 1.ª edição publicada, revista e anotada por Joaquim de Carvalho, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1944, pág. 96, refere: “O Chantre Manuel Severim de Faria [15841655], numas suas Notas manuscritas que vi na Livraria do Excelentíssimo Conde de Vimieiro [D. Sancho de Faro e Sousa (1659-1719), 2.º Conde de Vimieiro], feitas sobre a História de Coimbra, que compôs e lhe deu a rever Dom Jerónimo Mascarenhas, que depois foi Bispo de Segóvia, as quais notas se acham num livro numerado 51, ex fol. 142, diz que tivera em seu poder o original deste livro [Antiqua Epitaphia] de [André de] Resende, a que chama Cartacapio ...”. 22
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É seguro que, em Espanha, D. Jerónimo Mascarenhas continuou a trabalhar na sua História de Coimbra, como resulta da referência a menções a milagres da Mártir Santa Comba, constantes dessa obra, que foram vistas por João Tamayo y Salazar 23.
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10. A partir de 1641, data do seu exílio em Espanha, e até ao seu falecimento em 1672, as obras de D. Jerónimo Mascarenhas serão quase exclusivamente escritas em língua castelhana. Nomeado por D. Filipe IV, em maio de 1641, membro do seu Conselho Supremo das Ordens Militares de Castela, D. Jerónimo Mascarenhas opta por ingressar, como Cavaleiro, na Ordem de Calatrava 24, de que se tornará elemento preeminente, chegando a
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João Tamayo y Salazar, Anamnesis sive Commemorationis Sanctorum Hispanorum, Pontificum, Martyrum, Confessorum, Virginem, Viduarum ac Sanctarum Mulierum, Tomo IV, Lugduni, 1651, pág. 122: “Acta S. Columbæ Virginis et Martyrs Conimbricensis: (...) Plura Miracula ex MSS Codicibus vetustissimus excripsit Illustrissimus D. Ieronymus Mascareñas, Calatravensis Eques, Lusitanorum gloria, et fidelium exemplar, quæ hic apponere prolixum erit, illa dabit ille in Historia Conimbricensis, quam sedulo edere desiderat.” 24 Na “Razón deste escrito”, publicada no início da sua biografia de Frei Raimundo, Abade de Fitero, fundador da Ordem de Calatrava, refere D. Jerónimo Mascarenhas a sua entrada nessa Ordem nos seguintes termos: “He referido hasta aqui lo que toca a la razón deste escrito, y porque no tendré ocasion tan oportuna para publicar lo que he trabajado en servicio de mi Orden, diré aora lo que se me ofrece en esta parte. Mas antigua que la entrada en ella fue en mi la veneraciõ a esta Sagrada Milicia; porque de lo que avia leído en las Historias conocía bien la magestad de su nombre, que en Portugal es gloriosamente venerado por las dos Ordenes Militares, que en aquel Reyno tiene Hijas, la de Christo y la de Avis, confiadas pregoneras de la dicha que gozan por tan Ilustre Madre. El año de mil y seiscientos y quarenta y uno, con ocasion del levantamiento de Portugal, me passé a Castilla a cõtinuar la natural obediencia que devia al Rey Nuestro Señor como Rey legitimo de aquel Reyno, y en aquella ocasion, entre las mercedes que recibi de su Real y liberal mano, fue mandarme le sirviesse en el Consejo Supremo de 23
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seu Definidor Geral, a ela dedicando um conjunto importante das suas obras, fruto da sua incessante pesquisa e recolha documental.
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11. A primeira foi a Apologia Historica, por la Illustrissima Religion y Inclita Cavalleria de Calatrava: su Antiguedad, su Extension, sus Grandezas entre las Militares de España (1651), que constitui a sua resposta a um Memorial escrito em 1650 em nome da Ordem de São Tiago, em que se sustentava a maior antiguidade, extensão e grandeza desta Ordem sobre a de Calatrava 25. Segundo o autor do Memorial, a Ordem de São Tiago teria tido Confirmação
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las Ordenes Militares de estos Reynos. Fue entonces preciso recibir el Abito de alguna de ellas; y aviendose dexado a mi gusto la eleccion, tuve poco que discurrir en resolverme, porque, aunque de todas venerava la santidad y grandeza, a la de Calatrava me inclinava esto mismo, y me llevava el amor. Entré dichosamente en ella el mismo año, y desde entonces en la leccion de las Historias, que he cõtinuado siempre, fui advirtiendo y apuntando todo lo que tocava a esta Orden y conducia a su lustre y grandeza, con intento de mostrarme por el tiempos adelante verdadero Hijo suyo, empleando algo de mi talento en publicar sus noticias. Este cuidado en discurso de doze años ha producido abundante fruto; aora diré lo en que se ha logrado, y espero se logre.” 25 Sobre esta obra, escreve D. Jerónimo Mascarenhas, no texto citado na nota anterior: “El año de mil y seiscientos y cincuenta y uno imprimi la Apologia Historica por mi Orden, que corre con general estimacion entre los doctos, que reconocieron por una parte la esterilidad de la materia sobre que escrivi (hasta entonces no tocada) y por otra la satisfacion que se dio a todos los puntos, que se movieron, fundada en tanta diversidad de historias y de instrumentos. Mostró bien aquel escrito el gran caudal de anotaciones historicas que tengo juntas en todas las materias que tocan a esta Orden, pues de otra manera mal pudiera lograrse aquel trabajo con la brevedad que le publiqué, pues lo mas del tiempo que tardó fue en lo que tardaron, primero las licencias, y despues la impression, que en escrivirle puedo assegurar no me costó cien horas de trabajo, repartidas en diferentes dias, en que fue preciso jũtamente acudir a las ordinarias ocupaciones que me tocan.”
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Apostólica em 1175, quando a de Calatrava apenas a teria tido em 1187, e não em 1164, como era opinião corrente. D. Jerónimo Mascarenhas reafirma a correção da data de 1164, que assegurava à Ordem de Calatrava maior antiguidade, recorrendo à transcrição de dezenas de documentos do Arquivo da Ordem, de que possuía cópias autenticadas no seu escritório. Na parte relativa à expansão da Ordem de Calatrava, insere vários dados sobre as suas dependentes Ordens de Cristo (pág. 153 e seguintes) e de Avis (pág. 159 e seguintes), em Portugal. Designando esta Apologia, de 178 páginas, como um tan corto papel, anuncia (pág. 143) estar a escrever uma dilatada Historia da Ordem de Calatrava, com desenvolvida descrição dos seus serviços nos Reinos de Castela, Portugal e Aragão.
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12. Inconformado com a inexistência de uma biografia de Frei Raimundo (Raymundo Sierra ou Raymond Serrat), primeiro abade do mosteiro cisterciense de Fitero e fundador da Ordem de Calatrava, em 1158, D. Jerónimo Mascarenhas publicou Raymundo Abad de Fitero, de la Orden de Cister, Fundador de la Sagrada Religion y inclyta Cavalleria de Santa Maria de Calatrava, Primer Capitan General de su Espiritual y Temporal Milicia (1653), tendo por declarado objetivo a promoção da sua beatificação e canonização. Nesta obra, depois da biografia de Frei Raimundo, D. Jerónimo Mascarenhas reproduz o que sobre ele disseram diversos autores e transcreve o que se passou no Capítulo General da Ordem, de outubro de 1652, sobre a proposta, por ele apresentada, visando a sua canonização, que só viria a ocorrer em 1719, pelo Papa Clemente XI. 13. Em 1652, é D. Jerónimo Mascarenhas o escolhido pelo Capítulo Geral da Ordem de Calatrava para redigir a Forma del iuramento y voto que por el Misterio de la Immaculada Concepcion de la Virgen Nuestra Señora hizo la Religion y Cavalleria de Calatrava, congregada en el Convento de San Martín desta Corte de la Orden de San Benito, Lunes 23 de Diziembre de 1652, com 4 folhas, que surgiria impressa em Madrid, no ano seguinte.
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Segundo o autor: “Esta es la historia del celebre novenario que esta Orden hizo quando votó publicamente el Misterio de la Inmaculada Concepcion en el Templo de S. Martín de esta Corte, Lunes, 23 de Diziembre del año passado de 1652. Contiene este libro, no solamente la relacion del novenario, mas todos los papeles y consultas causadas en esta santa resolucion, que serán de singular agrado à todos los devotos deste Misterio. Fue la Orden de Calatrava la primera que le votó y luego la imitaron las Illustrissimas Religiones de Santiago y Alcantara, y a ellas se siguieron Catedrales, Ciudades, Villas, Congregaciones y otras muchas Comunidades, de suerte que a esta Orden se debe que en menos de seis meses se reduxesse casi toda España a voto por este Misterio, y se le deberá, con el favor divino, que siga su santo exemplar toda la Christiandad en accion tan del servicio de la Madre purissima de Dios.” 26
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14. Foi por pessoal determinação de D. Filipe IV 27 que D. Jerónimo Mascarenhas foi incumbido de escrever as Definiciones de la Orden y Cavalleria de Calatrava conforme al Capitulo Geral celebrado en Madrid año M.DC.LII (1661), que resultaram do Capítulo Geral da Ordem de Calatrava, celebrado em 1652, a que se seguiram Capítulos Definitórios, que se prolongaram até 1658 e nos quais se procedeu a uma revisão das regras que regiam a instituição. No local citado na nota 24. No local indicado na nota 24: “Fue servido el Rey nuestro Señor de mandarme, por consulta que le hizo nuestro Capitulo General, escriva las nuevas Definiciones dela Orden, que del han de resultar. Tengo ya mucho trabajado para esta obra, mas no puedo concluirla sinque primero se disuelva el Capitulo Difinitorio; porque aunque estan enmendadas ya muchas leyes de las antiguas y hechas otras muchas nuevas por el Capitulo General, como el Difinitorio queda con todo su poder, añadirá muchas; y assi es preciso que se hallen primero decretadas todas, para ponerlas en método y estilo. Será Tomo de folio, y seguiré en el diferentissimo rumbo del que hasta aora se ha seguido en las Difiniciones de las Ordenes Militares, procurando conseguir el que este libro no solamente a los que se honran cõ nuestro Abito sea de provecho, mas que se haga universal a los curiosos, por el modo con que saldrá escrito.” 26 27
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