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HÉLDER MANHIQUE
A MAGIA DOS VERSOS
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(DAS TERRAS SANTAS DE GAZA)
POESIA 2020
Magia dos Versos (Das Terras Santas de Gaza) Manhique edição: Edições Vírgula ® (Chancela Sítio do Livro) autor: Hélder
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título: A
Liliana Simões Ângela Espinha paginação: Paulo Resende revisão: capa:
1.ª edição Lisboa, dezembro 2020
978‑989-8986-30-6 474835/20
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isbn:
depósito legal:
© Hélder Manhique
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A MAGIA DOS VERSOS
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(DAS TERRAS SANTAS DE GAZA)
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a magia dos versos ( das terras santas de gaza )
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PREFÁCIO Fiquei embaraçado quando o autor deste livro de poemas me intimou a prefaciá-lo. Não sou poeta, embora
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uma e outra vez rabisque sobre os meus momentos «eu», nem sequer sou crítico literário. Creio haver duas razões que impeliram o Hélder a intimar-me para esta difícil mas nobre missão: (i) foi meu discípulo no ano 2004 e, (ii)
nessa altura, deu-me a ler uns poucos poemas dos que compõem este livro, tendo-o encorajado a publicá-los.
O Hélder não publicou os poemas nessa altura, dei-
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xou-os a levedar. Volvidos 16 anos, ei-los em livro, A Magia dos Versos. Orgulha-me, ainda que não me sinta um prefaciador competente, apresentar este livro
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de poemas.
O Hélder é um poeta na sua fase inceptiva, mas os
seus versos já denunciam que é um oficiante promissor, pois escreve com uma paixão pujante, com um «eu» tripartido: o «eu» consumido de sentimentos de desamor, decepção; o «eu» prenhe de amor; e o «eu» identitário, preocupado em descrever pessoas, sejam elas singulares ou colectivas, e factos.
O primeiro «eu» é disfórico como resultado de um
amor não correspondido ou inacessível. É o caso, por exemplo, do poema Sorriso, em que o sujeito poético
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confessa a perda do seu amor («Te perdi a querer sem querer./Amarguras cancelaram-me o sucesso,/E pouco a pouco, vou perdendo respiração.») ou o poema Saudade, em que o sujeito caracteriza a ausência da amada («Esta
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doce e triste forma de te ter,/Nos esgotos mais inatingíveis do teu ser,/Do lambuzar insensível da esperança,/E do meu sonhar inconsciente na vingança,/De tanto
desejar vê-la para mortificar-te.»), ou ainda o poema Chorarei por Ti, em que o sujeito lírico apela a que a sua amada, misteriosa, lhe devolva o coração para não ter de
chorar pelo resto da sua vida: «Noites de insónia, anali-
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sando o teu ser,/Quem és tu?… Bilu-Bilu, ntombi da minha vida!/Por favor, devolve o meu coração ou alimenta-o,/Ou chorarei por ti toda a minha vida».
O outro «eu» é o de um sujeito poético que explode de
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amor, como no poema Paixões Ocultas, em que «Essas tataranhas bocas de verdades omitindo,/Enfurecem o coração de desejo chorando,/E pelo momento do regozijo esperando:/O momento das grandes aleluias,/O do
adeus às paixões ocultas». Um outro poema que expressa o amor de forma sublime é Sentimentos, em que
o sujeito poético admira a amada: «És uma obra abençoada,/A realeza duma beleza pura,/Sensual, cabalmente natural,/Encantadora do meu ideal.». No mesmo diapasão, no poema Amor Impossível, o sujeito poético, num
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amor à primeira vista, rende-se aos encantos da amada («O mundo me estava melhor,/A vida toda ela dourada,/E o coração um autêntico paraíso,/Mas num zás tudo mudou,/Quando vi a Bilu-Bilu/…Apaixonei e apaixono-me
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ainda,/Quando se cruzam entre nós/Os magníficos e brilhantes olhares,/Sendo o meu, de paixão absoluta»).
Finalmente, o «eu» identitário reside em poemas que exploram temáticas diversificadas. Por exemplo, uns inci-
dem sobre entidades singulares ou colectivas, outros sobre factos num locus mais amplo, Moçambique, ou na terra que viu nascer o poeta, Gaza.
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O poema que dá o título ao livro, A Magia dos Versos,
é dos que incidem sobre uma entidade singular, o poeta no exercício do seu ofício. Escreve «melosas verdades»
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mas chora porque no seu «coração desfilam pesadelos» e desfaz-se «em toques» que «Agitam o mundo em um verso,/Infernizam-no em uma estrofe/E edificam-
-no em pura ginástica de dedos». Vale aqui dizer que os versos têm um grande poder, infernizam mas também edificam. O poema Palavras Doces é dos que incidem numa entidade colectiva, o povo sofrido, por isso com anseios: «Palavras doces/São um sonho para um povo,/ Que tanto as precisa./São o 25 de Junho,/Para o povo de Mondlane, que tanto padece». Porque o poeta carrega consigo a dor dos injustiçados, no poema Resposta?,
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clama, a entidades omnipotentes, por uma resposta («Que resposta, meu Deus?/Deixaste e deixas isto acontecer, meu Jesus./Ontem e hoje, apenas mudando de táctica./Que resposta, meu Jesus?/Trazei, Senhor, a justiça
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para os pretos!»). Estes são apenas alguns dos 27 poemas com que o Hélder, o gazense, nos brinda na sua primeira aparição
em livro. Se a minha opinião conta, estes poemas têm uma assinalável qualidade, quer na forma quer no conteúdo. A sua leitura despertou em mim um prazer adormecido, o de ler poesia. Tenho certeza que o efeito será
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o mesmo em muitos a quem este livro chegar, principalmente nestes tempos sombrios por conta da COVID-19.
Espero brevemente ter em mãos um segundo livro de poemas do gazense, não para o prefaciar, mas para me
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deixar entontecer com a sua estética poética, que provirá da maturidade garantida do poeta. Hélder, esta é a forma genuína que encontrei para te
estimular a «poemar» continuamente, de forma simples mas ao mesmo tempo poeticamente bela. Por isso, recomendo a leitura do teu livro — A Magia dos Versos! Domingos Buque
Maputo, 26 de Outubro de 2020
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QUANDO O SORRISO SE APAGA
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SORRISO Desde quando tu me foges Sem pensares em recuar?
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Alguns lábios me entristecem, Quando os vejo contigo.
Vivo sempre pensativo e indeciso, Por te querer de volta para mim, E vão-me roubando esperança,
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As sobrecargas desta doce e amarga vida. Nunca me havia passado pela mente Esta possibilidade de te perder,
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Em um segundo de tempo, infinitamente! Te perdi a querer sem querer. Amarguras cancelaram-me o sucesso,
E pouco a pouco, vou perdendo respiração.
hélder manhique
SAUDADE Esta doce e triste forma de te ter, Nos esgotos mais inatingíveis do teu ser,
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Do lambuzar insensível da esperança, E do meu sonhar inconsciente na vingança, De tanto desejar vê-la para mortificar-te. Saudade,
Esta suave expressão
Do meu imo por ela sempre vai,
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Na sorte nunca havia na terra…
Se ao menos por coincidência a revisse, A reencontrasse e me perdoasse…
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SONHO DESABADO Quando te perdi, No futuro imaginei,
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Lembrando-me do passado adoçado, Convivido e bem gozado.
Quando disto me apercebi, Desgostosamente chorei, Padeci o tempo todo,
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Culpando maravilhas do mundo. Quando isto analisei,
Sem satisfação me perguntei: Que vida vivi ou viverei?
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Por qualquer, mendigarei?
Pesou-me demais aquele dia, Amarga me foi a informação, Senti-me atacado por uma vadia, Num relento sem protecção.