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TEREMOS FICADO PARA SEMPRE NESSA NOITE
Co l e ç ã o N o tíc ia s de Bust os
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FICHA TÉCNICA
AUTOR : Ricardo
Regalado
arranjo de capa: Ângela Espinha paginação: Fotografia Capa : Alda ArturTeixeira Pastor Regalado
Lisboa, Outubro 2021
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design : Ricardo
1.a Edição 1ª EDIÇÃOjunho 2021 Lisboa,
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título: Conimbricæ Encomium – Elogio de Coimbra autor: Inácio de Morais FICHA TÉCNICA edição: EdiçõesVÍRGULA Ex-Libris® (Chancela (Chancela Sítio Sítiodo doLivro) Livro) EDIÇÃO : Edições recolha dos textos e notas: Mário Araújo Torres TÍTULO : Teremos ficado para sempre nessa noite
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isbn: 978-989-9028-24-1 ISBN : 978-989-8986-47-4 depósito legal: 483438/21 DEPÓSITO LEGAL : 487288/21 © Ricardo MárioRegalado Araújo Torres
Todos os direitos de propriedade reservados, em conformidade com a legislação vigente. A reprodução, a digitalização ou a divulgação, por qualquer meio, não autorizadas, de partes do conteúdo desta obra ou do seu todo constituem delito penal e estão sujeitas às sanções previstas na Lei.
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Ricardo Regalado
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Álvaro de Campos
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Há quanto tempo, Portugal, há quanto Vivemos separados! Ah, mas a alma...
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Na verdade não temos saudades, é a saudade que nos tem, que faz de nós seu objeto. Imersos nela, tornamo-nos outros. Todo o nosso ser ancorado no presente fica, de súbito, ausente.
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Eduardo Lourenço
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Os ventos favorecem a partida Muitos partiram eram muitas naus Todas nos prometiam deslumbrantes mundos Mas sempre insatisfeito eu preferi a vida E a beira-mar dos pescadores do meu país O mar dos inquietos incapazes de caber Não só nalguns quilómetros quadrados Mas mesmo nas intrigas dos políticos Nas maquinações dos que por mais que possam possuir Jamais possuirão a inquietação dos que vivem a vida Na idêntica medida em que no menor mar a perdem
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Ruy Belo
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Artur Pastor
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Deitar-me no seu colo e o mar em frente. Nem um choro, nem um grito, nenhuma desesperada angústia, nenhuma dor em excesso. Apenas isto. Esta leve brisa marítima, este adivinhar sem pressa das primeiras ondas que hão-de vir, minha eterna melancolia, meu cheiro a sal, minha saudade, promessa de eu ser menino novamente, meu corpo pequenino que deixei nalgum jardim, casa dos meus pais onde nasci, roda de brincar no chão. Cheiro do cio, farol da Barra, lembrança antiga que lá deixei a arder para vir aprender, de velho, a desilusão dos dias de sol. Mas não chorar, sobretudo não chorar.
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Deixar-me aqui ficar, sossegado, até que cheguem as primeiras ondas que hão de vir, trazidas pelo vento, pelas marés do norte, pelo choro das mulheres viúvas que em pedra permanecem na corola dos teus olhos e me cubram, sobre mim se deitem e me arrastem depois pelo mar a dentro que eu não quero outra coisa, apenas isto, este silêncio, esta não sei que paz das coisas todas em redor de mim. Um braço ao longe acenando do cais, como quem me chama. Uma voz antiga a embalar-me baixinho e muito lentamente sobre o seu colo onde me deito, sentir-me finalmente adormecer até que me cubra o mar e me prometa não mais voltar a esta praia.
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Arrasto os pés pela areia como quando era miúdo, vejo para trás o caminho que marquei e sinto-o muito lentamente desvanecer pelas ondas que partem e regressam e vão apagando sem perdão o caminho que tracei, com o peso que tinha, até eu não saber mais donde vim. Ser só o vazio que me resta, uma espécie de nevoeiro miúdo a humedecer-me a face, uma brisa que me embala e sei de cor porque lhe sinto o cheiro pelas entranhas, por essa parte de dentro que as coisas têm onde o cheiro a peixe é, não o cheiro a peixe, mas o d’alguma coisa que eu vim aqui buscar sem lhe saber o nome e que só encontrei quando cheguei aqui.
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Saber se conservo ainda da infância a mesma vontade de mergulhar no mar e abrir os olhos. Perceber com que formas e com que gestos se fabrica esta nudez que aprendemos a amar apenas de fora, na beira da praia, na ponta do paredão. A minha mãe -agarra-te a mim
o mar pelos joelhos mas ainda assim -agarra-te a mim
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como se entendesse, qualquer coisa que nos arrasta de repente sem dar muito bem por isso, uma voz qualquer a centenas de anos daqui, e ao mesmo tempo dentro de nós, atrás do ouvido, por dentro da alma, dá-me cá a tua mão, sem perceber os pés que a areia engole enquanto caminhamos a deixar para trás tanto caminho, cada vez mais afundados, dá-me cá a tua mão, embora ela um par de braços enormes a repetir gestos aflitos contra o peito e não me deixes morrer, que eu nunca lhe disse, embora nos meus olhos, não com a boca, eu para ela, em silêncio e ao mesmo tempo -não me deixes morrer
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sem razão nenhuma porque dois ou três palmos apenas de água, do mesmo modo que as bacias de latão cheias de eu tomar banho nelas cuja altura mal me dava pelos joelhos, e ainda assim, esta não sei que angústia, o seu corpo feito pedra de partir dali coisa nenhuma, a apertar-me os pulsos com cordas à volta da cintura, e muitas pedras nos sapatos, isto é a marca que deixamos na pele dos outros ainda hoje escondida no meu pulso por debaixo da manga, do mesmo modo, na cintura dela, a fazer-me reparar nessa cicatriz como reparo nos sinais do peito, estás a ver. As suas mãos pequenas cravadas no meu corpo e sem que eu percebesse, porque dentro dela, de mim, do mar, a certeza de uma voz trazida à tona pela rebentação das ondas como quem me chamasse pelo nome e me convidasse, que eu quero mostrar-te uma coisa, para entender-lhe não sei que canto, um choro talvez, com os olhos dentro dele onde eu pudesse encontrar-lhe quem sabe um coração a bater muito lentamente, a fazer partir as ondas fora de si para regressarem depois, exaustas de cair, para dentro dele e donde viria, santo deus, quem me chamasse, os olhos verdes postos em mim e fosse nesse instante não o rosto dele mas o meu o de quem me olhasse e me visse finalmente adormecer. e nisto
-não te afastes muito não sei de onde,
-não te afastes muito
Em redor de mim, estou certo, a procurar entre as gaivotas alguma cujos olhos nos meus, -não te afastes muito a rasar o voo numa curva repetida em círculos pelo céu, embora
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