Contributos para a Toponímia da Região de Coimbra

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CONTRIBUTOS PARA A TOPONÍMIA DA REGIÃO DE COIMBRA

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FICHA TÉCNICA

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arranjo de capa:  Ângela Espinha paginação:  Alda Teixeira

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título:  Contributos para a Toponímia da Região de Coimbra autores:  José Leite de Vasconcelos (1858-1941) / Amadeu Ferraz de Carvalho (1876-1951) / Vergílio Correia (1888-1944) / Joaquim da Silveira (1879-1972) recolha dos textos e notas:  Mário Araújo Torres edição:  edições Ex-Libris® (Chancela Sítio do Livro)

1.a Edição Lisboa, abril 2021

isbn: 978-989-9028-16-6 depósito legal: 479376/21 © Mário Araújo Torres

Todos os direitos de propriedade reservados, em conformidade com a legislação vigente. A reprodução, a digitalização ou a divulgação, por qualquer meio, não autorizadas, de partes do conteúdo desta obra ou do seu todo constituem delito penal e estão sujeitas às sanções previstas na Lei.

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JOSÉ LEITE DE VASCONCELOS AMADEU FERRAZ DE CARVALHO VERGÍLIO CORREIA JOAQUIM DA SILVEIRA

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CONTRIBUTOS PARA A TOPONÍMIA DA REGIÃO DE COIMBRA SEGUIDO DE

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EXTRATOS DO CENSO DE 1527: COMARCAS DA ESTREMADURA E DA BEIRA

Recolha de textos e notas por Mário Araújo Torres

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NOTA PRÉVIA 1. A PRESENTE COLETÂNEA

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Sobre o tema da toponímia coimbrã, a obra fundamental continua a ser constituída pelos dois volumes da Toponímia de Coimbra (1960 e 1964, 426 + 434 págs.), da autoria de José Pinto Loureiro, primeiro diretor da sua Biblioteca Municipal, que, ao longo dos anos, publicara diversos estudos sobre a matéria nas páginas do Arquivo Coimbrão (Boletim da Câmara Municipal de Coimbra), alguns dos quais já reunira em separata intitulada Enigmas da História de Coimbra (1955, 110 págs.). Também António Correia, primeiro-bibliotecário da mesma Biblioteca, publicara no citado boletim alguns estudos sobre a toponímia de zonas da cidade, editados em separatas: Identificações toponímicas: Largo da Portagem e imediações (1942, 18 págs.), Toponímia coimbrã: I – Zonas da Sé Velha e Arco de Almedina (1945, 114 págs.), e Toponímia coimbrã: II – Zona da Universidade (1952, 68 págs.). Complementando e atualizando as referidas obras, Mário Nunes, vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, editou, em 2003, Ruas de Coimbra (212 págs.), recolha ampliada e sistematizada de artigos publicados no Diário de Coimbra ao longo dos anos de 1985 a 1988. Todas essas obras são de acesso relativamente fácil aos interessados na sua leitura. De mais difícil acesso são os textos agora recolhidos e reeditados, originariamente saídos em publicações periódicas: os de José Leite de Vasconcelos e de Amadeu Ferraz de Carvalho na revista O Instituto em 1934, o de Vergílio Correia na revista Biblos em 1940, e o de Joaquim da Silveira na Revista Lusitana entre 1913 e 1941, tendo dos três primeiros sido extraídas separatas de reduzida tiragem. Enquanto as obras de José Pinto Loureiro, António Correia e Mário Nunes se circunscrevem à toponímia da cidade de Coimbra, os textos ora reunidos alargam o seu âmbito à região envolvente e, apesar de partilharem diversas preocupações (arqueológicas, etno-

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gráficas, filológicas e etimológicas), em todos se recolhem importantes contributos para o estudo da toponímia de Coimbra e sua região. Em complemento, reproduzem-se, nas partes correspondentes à área do atual distrito de Coimbra (integrado pelos concelhos de Arganil, Cantanhede, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Figueira da Foz, Góis, Lousã, Mira, Miranda do Corvo, Montemor-o-Velho, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Penela, Soure, Tábua e Vila Nova de Poiares), extratos do Registro das Çidades, Vilas e Logares que ha em esta Comarqua da Estremadura e dos moradores que ha em cada um delles e do Censo da Beira, manuscritos integrados no «Numeramento do Reino de Portugal», ordenado por D. João III, em 1527, e publicados, respetivamente, por Anselmo Braamcamp Freire (“Povoação da Estremadura no XVI século”, Arquivo Histórico Português, vol. VI, Lisboa, 1908, pp. 241-284) e por João Telo de Magalhães Colaço (“Cadastro da População do Reino (1527)”, Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Ano II, Lisboa, 1934, pp. 28-243), documentos que, sendo fundamentais para o história da demografia portuguesa, se revestem também de relevante interesse para o estudo da evolução da toponímia da região.

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2. OS AUTORES

2.1. JOSÉ LEITE DE VASCONCELOS (1858-1941)

José Leite de Vasconcelos Cardoso Pereira de Melo nasceu em Ucanha, concelho de Tarouca, a 7 de julho de 1858. Licenciou-se pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, em 1886. Durante o curso de Medicina, escreveu uma das suas primeiras obras: Tradições Populares de Portugal (1882), e a sua tese de licenciatura, intitulada A Evolução da Linguagem (1886), já dava sinais da diversidade dos seus interesses científicos. Exerceu a profissão de médico durante apenas um ano, no Cadaval, tendo, em 1888, sido nomeado conservador da Biblio-

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teca Nacional de Lisboa, onde criou um curso livre de filologia, e se manteve até 1911. Neste ano iniciou a docência na recém-criada Faculdade de Letras de Lisboa, que duraria até 1929, como professor das cadeiras de Filologia Clássica, Língua e Literatura Latina, Literatura Francesa, Numismática, Epigrafia e Arqueologia. Entretanto, a par da incessante publicação de diversos estudos, fundou, em 1887, a Revista Lusitana (Arquivo de estudos filológicos e etnológicos relativos a Portugal), que foi regularmente publicada até 1941, perfazendo 38 volumes, e em 1893 criou o Museu Etnográfico Português, onde lançou, em 1895, a revista O Arqueólogo Português, cuja I Série (30 volumes) dirigiu até à sua morte. Faleceu em Lisboa, a 17 de maio de 1941, deixando, como legado, dezenas de obras e centenas de artigos, que compreendem as áreas da etnografia, filologia, dialetologia, etimologia, toponímia, arqueologia, numismática, epigrafia, etc., sempre fiel à sua original, e quase enciclopédica, perspetiva global do entendimento da Cultura Portuguesa.

2.2. AMADEU FERRAZ DE CARVALHO (1876-1951)

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Amadeu Ferraz de Carvalho nasceu em Tondela, em 9 de fevereiro de 1876, sendo filho de Joaquim Rodrigues Simões de Carvalho e de Maria Emília Ferraz de Horta e Vale, e irmão de Anselmo Ferraz de Carvalho (1878-1955), futuro professor da Faculdade de Filosofia (1902-1911), e das Faculdades de Ciências e de Letras (1911-1948) da Universidade de Coimbra. Em 1893, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, concluindo a licenciatura em 1898. A par do exercício de funções jurídicas (notário na comarca de Tondela), políticas (administrador do concelho de Benavente e vice-presidente da Câmara Municipal de Coimbra) e docentes (professor da Escola Industrial Brotero, em Coimbra), Amadeu Ferraz de Carvalho foi um “escritor e bibliófilo muito distinto” (Sílvio Pélico, “Notas ligeiras sobre a Escola Industrial e Comercial de Brotero, e de alguns dos seus mais notáveis diretores e professores já faleci-

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dos”, em Brotero ‒ Revista Técnica e Cultural, n.º 11, maio 1955, pp. 57-63). Figura de relevo da cultura de Coimbra e de Tondela, Amadeu Ferraz de Carvalho foi membro do Conselho de Arte e Arqueologia de Coimbra, membro do Senado Universitário, delegado no concelho de Tondela da Secção de Antiguidades da extinta Junta Nacional de Educação. Foi sócio particularmente ativo do Instituto de Coimbra, integrando as suas direções de 1913 a 1918, 1935-1936 e 1940 a 1946 (sob a presidência de Francisco Miranda da Costa Lobo) e de 1947 a 1951 (sob a presidência de Anselmo Ferraz de Carvalho). Na revista O Instituto (de cujo Conselho de Redação foi, durante vários anos, secretário-geral) publicou os seguintes estudos: “Os portugueses nas memórias de Casanova” (vol. 69.º, 1922, pp. 297-311, 363-383); “Camões em Coimbra (Conferência realizada na Escola Industrial Brotero no dia 10 de Junho de 1924)” (vol. 71.º, 1924, pp. 241-261; há separata, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1924); “Crítica literária ao livro João Brandão, por J. M. Dias Ferrão” (vol. 77.º, 1929, pp. 127-134); “Três cartas de Herculano” (vol. 80.º, 1930, pp. 153-158); “Toponímia coimbrã e arredores (Contribuições para o seu estudo)” (vol. 87.º, 1934, pp. 395-459; há separata, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1934); “Vicomte de Guichen, La Guerre de Crimée et l’atitude des puissances européennes. Étude d’histoire diplomatique” (vol. 91.º, 1937, pp. 81-90); “Molelos, a terra da louça preta” (vol. 100.º, 1942, pp. 320-323); e “A terra de Besteiros e o atual concelho de Tondela: esboço histórico e toponímico” (vols. 104.º, 1944, pp. 97-128, 105.º, 1945, pp. 39-109, e 106.º, 1946, pp. 71-157; há separata, Coimbra, Coimbra Editora Limitada, 1945; foi feita nova edição, dirigida por António Manuel Pelicano Matoso Martinho, Tondela, Câmara Municipal de Tondela, 1981). Colaborou noutras publicações periódicas, designadamente com os estudos: Da actual feição da antroponímia portuguesa: proposta dum inquérito onomástico, Comunicação apresentada no XI Congresso de las Associaciones Española y Portuguesa para el Progreso de las Ciencias, Cádis, Maio, 1927, Coimbra, Faculdade de Letras, 1927 (Separata da Biblos, vol. III, n.ºs 17/8); e Contribuição para

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o estudo da antroponímia portuguesa: três épocas nos nomes de habitantes dum concelho da Beira ‒ Besteiros, hoje Tondela, XIII Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências, Porto, Imprensa Portuguesa, 1950 (Separata de Ciências históricas e filológicas, vol. VIII). Publicou ainda: Hospital do Concelho de Tondela (em construção), Porto, Oficinas do Comércio do Porto, 1908; Nomes de lugar de um concelho da Beira Alta: da utilização das matrizes prediais nas investigações toponímicas, Comunicação apresentada à 7.ª Secção do Congresso Luso-Espanhol do Porto ‒ 1942, Porto, Imprensa Portuguesa, 1944 (Extrato do tomo VIII das publicações do Congresso Luso-Espanhol do Porto). Faleceu a 18 de fevereiro de 1951 em Tondela, tendo o seu nome sido atribuído a uma rua desta cidade. Sobre a sua atividade nos domínios da filologia, etimologia e toponímia, cf. Pedro Cunha Serra, Amadeu Ferraz de Carvalho (1876-1951), Coimbra, Casa do Castelo, 1953 (Separata da Revista Portuguesa de Filologia, vol. V).

2.3. VERGÍLIO CORREIA (1888-1944)

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Vergílio Correia Pinto da Fonseca nasceu no Peso da Régua, a 19 de outubro de 1888, e faleceu em Coimbra, a 3 de junho de 1944. Licenciou-se em Direito em 1911, mas não seguiu qualquer carreira jurídica, notabilizando-se como historiador de arte, arqueólogo e etnólogo, doutorando-se pela Faculdade de Letras em 1933. Foi conservador do Museu Etnológico Português de 1911 a 1916, e do Museu Nacional de Arte Antiga de 1916 a 1921. Lecionou, na Universidade de Coimbra, as disciplinas de Estética e História da Arte, Arqueologia, História da Antiguidade Clássica e Oriental e Epigrafia. Em 1929 substituiu António Augusto Gonçalves à frente do Museu Machado de Castro, acumulando, a partir de setembro de 1937, o referido cargo com a direção do Diário de Coimbra, onde redigiu, desde 1935, a importante coluna «Arte e Arqueologia»,

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preenchida fundamentalmente com os resultados dos seus estudos históricos conimbricenses. Além da participação em diferentes publicações periódicas, destacam-se os estudos de maior fôlego que versaram, entre outros temas, sobre a arqueologia neolítica e romana, os marcos arquitetónicos essenciais do país, com destaque para a especificidade conimbricense, passando ainda pelas particularidades artísticas de âmbito regional (sobretudo beirão), por esforços empreendidos no âmbito da biografia dos principais produtores/executantes, entrando ainda por temáticas até então inexploradas, como a pintura de frescos em Portugal nos séculos XV e XVI. As Notas de Arqueologia e Etnografia do Concelho de Coimbra, que se reproduzem na presente coletânea, pela relevância que assumem no domínio da toponímia conimbricense, foram publicadas apenas em 1940, mas, como o autor adverte, correspondem, sem alterações, às notas que, “compondo uma espécie de roteiro arqueológico e etnográfico do concelho de Coimbra”, tomara trinta anos antes, “nas viagens que realizava pelos arredores, a pé ou de bicicleta, sozinho ou acompanhado” por colegas de curso, quando “de 1906 a 1911 frequentei Direito na Universidade de Coimbra”.

2.4. JOAQUIM DA SILVEIRA (1879-1972)

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Joaquim Albino da Silveira nasceu na Fogueira, povoação da freguesia de Sangalhos, em 2 de março de 1879, e aí viria a falecer em 20 de setembro de 1972. Frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra entre 1898 e 1905, ano em que se licenciou, tendo enveredado pela carreira do notariado, que exerceu em Alcanena, em Vermoim (concelho da Maia) e na Figueira da Foz. Segundo Pedro Cunha Serra, Joaquim Albino da Silveira, Coimbra, Instituto de Estudos Românicos, 1976 (Separata da Revista Portuguesa de Filologia, Coimbra, vol. XVI, 1972-1973), “o tempo que lhe sobrava do cumprimento das suas funções de notário, passou-o o Dr. Joaquim da Silveira no cultivo dos estudos filológicos,

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em especial da toponímia portuguesa”, acrescentando: “Desde cedo se relacionou com o Doutor Leite de Vasconcelos e eram frequentes, durante os longos anos que passou em Alcanena, as suas idas a Lisboa: frequentava a Biblioteca Nacional e a Torre do Tombo e acudia a casa de Leite de Vasconcelos. A sua competência era devidamente avaliada por este, o qual em 1911 já citava o seu nome nas Lições de filologia portuguesa (p. 236)”. Desse relacionamento nasceu a extensa e prolongada colaboração de Joaquim da Silveira na Revista Lusitana (Arquivo de estudos filológicos e etnológicos relativos a Portugal), fundada e dirigida por Leite de Vasconcelos, designadamente com a publicação da série de estudos sob o título “Toponímia portuguesa (Esboços)”, que se iniciaram no volume 16.º (1913) e prosseguiram até ao volume 38.º (1940-1941), último dessa revista. Quando se aposentou como notário, em 1949, transferiu a sua residência para Coimbra, dedicando-se ao aprofundamento dos estudos de filologia, etimologia e toponímia, tendo-lhe, em 1950, sido concedida, pelo Instituto de Alta Cultura, uma bolsa de estudos, que lhe permitiu prosseguir as suas investigações, traduzidas em diversos estudos publicados na Revista Portuguesa de Filologia, órgão do Instituto de Estudos Românicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, dirigido por Manuel de Paiva Boléo. Em 1959, por ocasião do seu 80.º aniversário, Manuel de Paiva Boléo homenageou Joaquim da Silveira, “a quem a língua portuguesa deve inúmeros e valiosos artigos de carácter etimológico, em especial no domínio da toponímia”, publicando o Índice geral dos artigos de toponímia portuguesa de Joaquim da Silveira (Coimbra, Faculdade de Letras / Publicações do Instituto de Estudos Românicos, 1959), formulando o voto de que em especial os valiosos estudos que saíram na Revista Lusitana viessem a ser reeditados, depois de revistos pelo autor, o que não chegou a ser concretizado. Esse Índice é enriquecido por notas, expressamente redigidas para essa bibliografia por Joaquim da Silveira, corrigindo posições expressas em suas anteriores publicações. Publicações: O latim «laudemium», Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Instituto de Estudos Clássicos,

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1949; Erros nos dicionários da língua, Preleção conferência feita na Faculdade de Letras em 11 de maio de 1951, Figueira da Foz, Clube Rotário, 1951; e Ressaca, Coimbra, Coimbra Editora, 1954. Estudos em publicações periódicas e obras coletivas (assinalando-se com asterisco os de que se extraiu separata): ‒ Revista Lusitana: “Toponímia portuguesa (Esboços)” *, nos vols. 16.º (1913), 17.º (1914), 24.º (1921-22), 33.º (1935), 35.º (1937) e 38.º (Lisboa, 1940-41); e “Bérrio ou Berrio?”, no vol. 26.º (1927); ‒ Biblos (Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra): “Sobre o nome «Camões»” *, no vol. III (1927); e “O latim fabrica na língua e na toponímia portuguesas” *, no vol. XI (1935); ‒ Brasília (Revista do Instituto de Estudos Brasileiros da Faculdade de Letras de Coimbra): “Vocalismo brasileiro: dois apelidos” *, no vol. II (1942); e “Gândavo, não Gandavo” *, no vol. III (1946); ‒ Revista de Portugal: “Erros de prosódia: o prestígio dos esdrúxulos”, no vol. I (1944); e “Reflexões etimológicas”, nos vols. V a VIII (1944 e 1945); ‒ Boletim do Rotary Club (Figueira da Foz, Rotary Club): “Descobrimento do Brasil (data errada da sua comemoração)” *, no ano de 1947; ‒ Revista Portuguesa de Filologia (Coimbra, Instituto de Estudos Românicos): “Estudos sobre o vocabulário português: formas, sentidos, prosódia, origens” *, no vol. I (1948); “Estudos sobre o vocabulário português: (zevro. zebra)” *, no vol. II (1949); “A nossa toponímia e o censo da população” *, e “Uma explicação sobre Mortágua” *, no vol. X (1960-1961); “Numão ou (melhor) Nomão; nota etimológica” *, no vol. XV, tomos I e III (1968); e “Alcanfôr (não Alcânfor): nota lexicológica” *, no vol. XVII, tomos I e II (1975); ‒ Revista Portuguesa de História (Coimbra, Instituto de Estudos Históricos Doutor António de Vasconcelos): “O topónimo Chaves e o seu caso etimológico” *, no vol. V (1951); e “Merêa” *, no vol. XII (1969); ‒ Boletim do Centro de Estudos Geográficos da Faculdade de Letras de Coimbra: “Muradal (não Moradal) e Muradais”, nos n.ºs 4 e 5 (1952); “Fêcha da Misarela. Frecha, Freicha”, nos n.ºs 12 e 13 (1956); e “O mais antigo mapa de Portugal”, no vol. II (1956);

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‒ Arquivo do Distrito de Aveiro: “Inquirição na Terra do Vouga”, no vol. IX (1943); “Topónimos do distrito de Aveiro”, no vol. X (1944); “Migalhas de história administrativa”, no vol. XXX (1965); “Freguesia de Sangalhos” e “O topónimo Requeixo”, ambos no vol. XXXII (1966); ‒ O Instituto: Revista Científica e Literária (Coimbra): “Notas sobre a toponímia do concelho de Nelas”, no vol. 97.º (1940), e reproduzido em José Pinto Loureiro, O concelho de Nelas, antiga terra de Senhorim: subsídios para a história da Beira (Coimbra, Gráfica de Coimbra, 1940); ‒ Douro Litoral ‒ Boletim da Comissão Provincial de Etnografia e História (Porto): “Alguns nomes de lugar da freguesia de Areias (Santo Tirso)”, no vol. I (1940) e reproduzido em Augusto César Pires de Lima, Estudos etnográficos, filológicos e históricos, no 6.º volume (Porto, Junta da Província do Douro Litoral, 1951); ‒ Atas do Colóquio de Estudos Etnográficos Dr. José Leite de Vasconcelos (Porto, 1960): “Vasconcelos e Vascões” *, no vol. II (1960); ‒ Novidades: “Endoenças (nota etmológica)”, no suplemento Letras e Artes, de 14 de março de 1937; ‒ “Malpica, Malpicas, Mal Picra, Malpique”, carta publicada por J. Diogo Correia, em Apontamentos para a monografia de Malpica do Tejo (Lisboa, 1953); e ‒ “Origem do nome de Gouveia”, em Carlos Sombrio, Beldemónio, Figueira da Foz, 1942. Em 1993 foram publicados os seus Estudos de toponímia da Bairrada e outras notas, com seleção, abertura, notas e atualização ortográfica por Arsénio Mota (Porto / Lisboa, Figueirinhas, 1993). 3.  O CENSO (NUMERAMENTO DO REINO DE PORTUGAL) DE 1527

Em Portugal, a primeira contagem populacional de âmbito geral foi feita em 1527, por determinação de D. João III, durante a permanência da Corte em Coimbra, fugida da peste. Por cartas régias

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expedidas a 17 de julho de 1527, ordenou o rei a cada um dos Corregedores das seis Comarcas em que o Reino então se dividia (Entre-Douro-e-Minho, Trás-os-Montes, Estremadura, Beira, Entre-Tejo-e-Guadiana e Algarve) que mandassem fazer por um escrivão da sua correição o arrolamento dos moradores na área da sua circunscrição, com menção dos nomes de todos os lugares registados (Cf. Júlia Galego e Suzanne Daveau, O Numeramento de 1527. Tratamento Cartográfico, Lisboa, Centro de Estudos Geográficos, 1986). Os cadastros das comarcas de Entre-Douro-e-Minho, Trás-os-Montes, Estremadura e Entre-Tejo-e-Guadiana foram publicados por Anselmo Braamcamp Freire, respetivamente nos volumes III (1905), VII (1909), VI (1908) e IV (1906) do Arquivo Histórico Português, e o cadastro (incompleto) da comarca da Beira, por João Telo Magalhães Colaço na Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, ano II (1934). Para inserção na presente coletânea, dado o seu interesse toponímico, para conhecimento da evolução da grafia dos nomes dos lugares, reproduzem-se os extratos dos referidos Cadastros da População da Estremadura e da Beira relativos a povoações situadas em áreas correspondentes ao atual distrito de Coimbra. Registe-se que a “Comarca da Estremadura” se estendia de Cascais até à Vila da Feira, inclusive, e que a linha divisória entre essa comarca e a da Beira se iniciava em Figueiró dos Vinhos e passava entre Coimbra e Penacova, que ainda pertenciam à Estremadura, e Lousã e Serpins, que já pertenciam à Beira. *

Na reprodução dos textos, a intervenção limitou-se à atualização da grafia, mas com respeito pelas opções dos autores quanto a pontuação e uso de maiúsculas. Completaram-se as referências bibliográficas, com menção dos títulos completos das obras citadas, local e data da edição e nome do editor. Deu-se ordem numérica sequencial às notas de rodapé. Mário Araújo Torres

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TOPONÍMIA COIMBRÃ (BREVES DEAMBULAÇÕES PELO DISTRITO) *

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I. Introdução. Concelho de Coimbra.

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1. Na toponímia de muitas povoações importantes reflete-se facilmente a história destas, o que se observa, por exemplo, em Coimbra. A denominação mais antiga que conhecemos da cidade é Aeminium, segundo Plínio, Naturalis Historia, IV, 113, denominação pré-romana pelo radical, e alatinada pela terminação. O nome do rio que corre no local está em circunstâncias análogas: Mondego < Mondaecus = Mond-aec-us: de Mond-, Monda ou Munda, pré-romano; aec-, sufixo também pré-romano; e -us desinência latina1. De Plínio dar ao Mondego, a par de Munda, o nome de Aeminium, como o da cidade, vide o que digo nas Religiões da Lusitânia, vol. II, p. 79, nota 3, ainda que é frequente um rio tomar o nome de uma terra que ele banha, e vice-versa. As moedas da época visigótica dizem AEMINIO, EMINIO, IMINIO2. Este nome desapareceu com os tempos, substituído no século IX por Colimbria, que provinha de Conimbriga3, mais antigamente

* Edição da Imprensa da Universidade, Coimbra, 1934, 17 págs.; separata de O Instituto, Coimbra, vol. 87.°, n.° 5, 1934, pp. 485-497. 1  Acerca de Monda e Munda, vide Religiões da Lusitânia [José Leite de Vasconcelos, Religiões na Lusitânia na parte que principalmente se refere a Portugal, 3 volumes, Lisboa, Imprensa Nacional, 1897-1913], vol. II, p. 27; acerca de Mondaecus, vide a mesma obra, vol. III, p. 87, nota. 2  Campaner y Fuertes, Indicador [Álvaro Campaner y Fuertes, Indicador manual de la numismática española, Madrid (Libreria de M. Murillo) / Barcelona (Libreria Nacional y Extrangera de A. Verdaguer), 1891], p. 199 3  Fortunato de Almeida, História da Igreja [Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, 3 volumes, Coimbra, Imprensa Académica, 1910-1915], vol. I, p. 127, nota.

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Coniumbriga, nome de outra cidade, a que correspondem hoje as ruínas de Condeixa-a-Velha. A Coniumbriga, acaso relacionado com Conii, nome étnico, me referi no Arqueólogo Português, vol. XXIX (Lisboa, 1914), p. 168. Testemunho toponímico da época dos árabes é Almedina, isto é, Arco de Almedina, onde Almedina, como os arabistas explicam, significa «a cidade»4. Para cima do Arco devia ser a povoação muçulmana. Relativamente à época portuguesa basta dar um exemplo. Um forasteiro, que não conheça Coimbra, e, visitando a cidade, ouça falar no castelo, pensará que o vai ver, e, todavia só lhe encontra o sítio, isto é, um largo assim chamado, campus ubi Troia fuit. O castelo desapareceu, ficou o simples nome na tradição semi-inconsciente ou inconsciente. Eis aqui um caso em que um nome, só por si, revela todo um capítulo de história. Noutras povoações nossas acontecem coisas semelhantes, por exemplo, em Vimioso e Odemira. E por toda a parte temos o mesmo fenómeno de desaparecimento de um monumento ou de um costume, seguindo-lhes nós apenas os rastros. Em Bruxelas há um local chamado Porte Namur, onde não se vê de presente nenhuma porta, mas onde deve ter existido uma na muralha, também hoje destruída, porta que se abria para a estrada de Namur. Em Poitiers edificaram os romanos um anfiteatro, que desapareceu, e legou à posteridade o nome des Arènes, dado a uma rua. Quantos sítios não existem em Portugal, que se designam por Forca e Picota, como ecos de antigas e extintas (ainda bem!) instituições! Mais alguns nomes ficaram das fortificações de Coimbra, conservados em ruas: Couraça dos Apóstolos, Couraça da Estrela, Couraça de Lisboa; e outras instituições divisamos em Rua do Pátio da Inquisição, Azinhaga dos Lázaros, Rua dos Loios. Sousa e Moura, Vestígios [Vestigios da lingoa arabica em Portugal, ou lexicon etymologico das palavras e nomes portuguezes, que tem origem arabica, composto por ordem da Academia Real das Ciências de Lisboa, por Frei João de Sousa e aumentado e anotado por Frei José de Santo António Moura, Lisboa, Tipografia da mesma Academia, 1830], 1830, sub voce; David Lopes, Toponímia árabe em Portugal [Paris, 1902], p. 19. 4

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Deixando a história, e voltando-nos para os costumes, achamos na própria Coimbra outro engano. Refiro-me às fogueiras do S. João. Dantes foram de certo ruidosas. Muito se bailou em volta delas. Que vemos hoje? Pavilhões, isto é, armações revestidas de plantas verdes e enfeitadas de balões venezianos, junto dos quais dançam, sim, rapazes e raparigas, contudo sem lume vivo que os anime, senão o que trazem sempre aceso nos corações. No que vieram a dar vetustas cerimónias mágicas, celebradas no solstício do verão!

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2. Lógo-de-Deus é o nome de uma povoação de 51 fogos5 na freguesia de S. Paulo de Frades, concelho de Coimbra. Depara-se-nos aqui um raro vestígio do emprego da palavra antiga logo no sentido de «lugar»6. Na Idade Média a expressão locus Dei aplicava-se de ordinário a um mosteiro, e daí vieram topónimos franceses do tipo de Lieu-Dieu, estereotipado na toponímia de vários departamentos7: cf. Locus Sanctae Mariae ou Marienstatt, mosteiro cisterciense, na Alemanha8. Se em Lógo-de-Deus existiu algum modesto ascetério ou edifício religioso, que originasse o nome, os investigadores da história local o poderão descobrir.

3. Misarela. Este topónimo, que existe também noutros distritos, suponho ser na origem nome de mulher, dado talvez por humildade

Pr

Censo de 1911, pág. 129, A. Vide o Elucidário do P.e Viterbo [Elucidário das palavras, termos e frases que, em Portugal, antigamente se usaram, por Frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, 2 volumes, Lisboa, Oficina de Simão Tadeu Ferreira e Tipografia Régia Silviana, 1798 e 1799], vol. I (1.ª edição), pp.. 97-98. Citei outros exemplos no meu opúsculo Classes de povoações [Classes de povoações portuguesas, estudo histórico-etnográfico, Lisboa, Oficinas Gráficas do Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, 1931], pp. 14 e 17-18. 7  Vide Longnon, Noms de lieu de la France [Auguste Honoré Longnon, Les noms de lieu de la France; leur origine, leur signification, leurs transformations, Paris, E. Champion, 1920-1929], § I:500. 8  Albert Sleumer, Kirchenlateinisches Wõrterbuch [Limburg a.d. Lah, Verlag von Steffen], 1926, p. 479. 5  6

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cristã, como acontecia correntemente nos primeiros séculos do Cristianismo9, do latim misera, no diminutivo (diminutivo românico, pois em latim era misella). Adiante veremos mais alguns nomes formados de modo semelhante.

II. Concelho de Arganil.

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4. Portelinha, derivado de porta, com dois sufixos, um antigo, ou -ela, e outro moderno, ou -inha. Deve entender-se que Portela era um lugar ou sítio, e Portelinha outro: diferenças de tamanho, correspondentes a diversidade de cronologia, originaram o segundo topónimo.

5. Sobral Gordo e Sobral Magro. Assim como partes do corpo do homem ou dos animais designaram metafisicamente acidentes do solo, e posição de sítios, por exemplo, cabeço, costas, espinhaço, garganta, pé10, assim, para epítetos de topónimos se escolheram às vezes adjetivos originariamente pertencentes ao reino animal; no nosso caso: gordo e magro. Cf. Outeiro da Cabeça Gorda, na Estremadura Cistagana; e Cântaro Magro, na Serra da Estrela.

Pr

6. Arroça. De roça, com prótese de a, substantivo verbal ou deverbal de roçar: terreno de charneca que se roçou. O mesmo nome entra em Corga da Arroça. 7. Couço. Forma divergente, quanto a mim, de calço (de terreno). Do latim calceus.

Vide Antroponímia portuguesa [José Leite de Vasconcelos, Antroponímia portuguesa, tratado comparativo da origem, significação, classificação, e vida do conjunto dos nomes próprios, sobrenomes ..., Lisboa, Imprensa Nacional, 1928], p. 26. 10  Cf. os meus Opúsculos [José Leite de Vasconcelos, Opúsculos, 7 volumes, Lisboa, Imprensa Nacional, 1928-1938], vol. I, p. 382. 9

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8. Sarnadela. A forma antiga desta palavra é Cernadela, século XIII11. Aqui está um caso em que a ortografia oficial devia manter no início Ç, pois fica desarmónico escrever-se Cernadela, e a par Sarnadela, quando as duas palavras são etimologicamente uma só, que não passa de diminutivo de cernada, com o sufixo -ela (vide §§ 3 e 4). Na nossa toponímia e na galega há igualmente Cernada e Cernadas. Existindo em português a palavra cernada, derivada de cernar, «cortar além da casca das árvores até descobrir-lhes o cerne», do latim circinare12, por dissimilação, isto é, por síncope do segundo ci, é natural referir a ela o nosso topónimo13.

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III. Concelho de Cantanhede.

9. Perboi, por Per’boi, de Pero Boi, nome de pessoa tornado topónimo. De Boi dá Cortesão [citado na nota 11] um exemplo do século XIII (Boy), e eu um do século XV na Antroponímia Portuguesa [citado na nota 9], p. 217 10. Varziela, diminutivo de várzea, por várzena. Cf. Varzenela, no século XI, Varzinela no século XIII.

Pr

11. Queixada da Raposa. No princípio devia ter sido unicamente Queixada. Por haver mais alguma povoação do mesmo nome, disQuando após uma palavra eu indicar um século sem declarar o respetivo documento, entenda-se que este vem mencionado no Onomástico Medieval, de A. A. Cortesão, Lisboa, 1912 [António Augusto Cortesão, Onomástico Medieval Português, Lisboa, Imprensa Nacional, 1912] (separata do Arqueólogo Português), vasto e valioso repositório de topónimos antigos. 12  W. Meyer-Lübke, Romanisches etymologisches wörterbuch, 3.ª edição, Heidelberg, Carl Winters Universitätsbuchhandlung, n.º 1341. 13  O lexicógrafo Morais [Dicionário da língua portuguesa composto pelo Padre D. Rafael Bluteau, reformado e acrescentado por António de Morais Silva, 2 volumes, Lisboa, Oficina de Simão Tadeu Ferreira, 1789], mencionando cernar, abona-se com as Ordenações Afonsinas, mas equivocou-se na citação, e não pode verificar-se o texto alegado. 11

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tinguiu-se a de Cantanhede, juntando-se-lhe da Raposa, ainda que o motivo não o posso explicar. Queixada sozinho existe, por exemplo, no distrito de Viseu. Noutros distritos, Requeixada e Requeixo. Na toponímia galega e na de outras províncias de Espanha aparece muitas vezes, respetivamente, Requeixada, Requejada, Requejo. Em galego comum o substantivo requeijo = requeixo significa «terreno que termina en cuesta ó bajada para entrar en alguna llanura»14, e em português dos meados do século XIV há requeixada, isto é, terra requeixada, parece que no sentido de «mísera»15. Desta família de palavras disseram já alguma coisa Krüger16 e Pidal17.

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IV. Concelho de Condeixa-a-Nova.

12. Belide, na origem genitivo possessivo medieval: (villa) Belliti, de Bellitus, que tem variantes fonéticas18.

V. Concelho da Figueira da Foz.

Pr

13. Ervidinho, povoação de 44 fogos, da freguesia de Vila Verde: Censo de 1911, p. 132, A. É a mesma palavra que Ervedinho, de êrvedo, «abrunheiro», nos meus Opúsculos [citado na nota 10], vol. III, p. 377.

Cuveiro Piñol, Diccionario gallego [Xoán Cuveiro Piñol, Diccionario gallego, Barcelona, N. Ramirez, 1876], sub voce. 15  e P. Viterbo, Elucidário [citado na nota 6], sub voce. 16  Die Gegenstandskultur Sanabrias [Fritz Krügel, Die Gegenstandskultur Sanabrias und seiner Nachbargebiete: Ein Beiträge zur spanischen und portugiesischen Volkskunde, Hamburg, L. Friedrichsen], 1925, p. 12. 17  Orígenes del español [Ramón Menéndez Pidal, Origenes del español, estado linguístico de la Península Ibérica hasta el siglo XI, Madrid, 1926], p. 94. 18  Cf. o que escreví na Antroponímia portuguesa [citado na nota 9], p. 352. 14

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14. Saião. Nome de um cargo medieval, tornado alcunha ou apelido, e depois topónimo.

VI. Concelho de Góis.

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15. Amioso Cimeiro, Amioso Fundeiro. Os epítetos correspondem a «de Cima», e «de Fundo» ou «de Baixo», que também se usam em outros topónimos. Quanto a Amioso, esta palavra, por Ameoso, deve juntar-se aos nomes da família de «ameeiro» de que tratou J. J. Nunes, A Vegetação na toponimia, p. 9 [José Joaquim Nunes, A Vegetação na toponímia portuguesa, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1920]; e cf. os meus Opúsculos [citado na nota 10], vol. III, pp. 382 e 383, a propósito de Mèdelo.

16. Estevianas, em vez de Estev’Eanes, por etimologia popular. Cf. Martinjoanas na pronúncia popular do Cadaval, em vez de Martim-Joanes, nome de uma povoação.

VII. Concelho da Lousã.

Pr

17. Ferrajosa. Palavra relacionada com ferrejial e ferrejo, e com o nosso latim medieval ferraginem (por farraginem), donde veio ferrã. 18. Alçaprema. Se não é desfiguramento, por etimologia popular, de alguma palavra que desconheço, pode considerar-se na origem alcunha, o que é muito frequente de modo semelhante. Quanto à morfologia, cf. o substantivo comum alçapão.

19. Prilhão, nome que se decompõe em Pero-Ilhão, estando Pero por Pedro, e Ilhão por Iulianus, ou pelo genitivo patronímico Iuliani: «Pero ou Pedro Julião», ou «filho de Julião». Quanto a Ilhão, cf. em espanhol Santillana. E vide os meus Opúsculos [citado na nota 10], vol. III, p. 203.

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VIII. Concelho de Mira.

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20. Framilo, nome de pessoa, de origem germânica, formado de duas palavras que significam «valente» e «famoso». Vide Meyer-Lübke, Altportugiesischen Personennamen, vol. I, p. 26 [Wilhelm Meyer-Lübke, Romanische Namenstudien: Die Altportugiesischen Personennamen Germanischen Ursprungs, 2 volumes, Viena, Carl Gerold’s Sohn, 1904 e 1917]; e cf. G. Sachs, Die germanischen Ortsnamen in Spanien und Portugal, 1932, p. 50 [Georg Sachs, Die germanischen Ortsnamen in Spanien und Portugal, Weimar, G. Uschmann, 1932].

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21. Mira. Conquanto tenhamos no Alentejo Odemira, onde Mira é manifestamente pré-arábico, devemos considerar este nome talvez diverso do topónimo coimbrão, pois igual topónimo existe noutros distritos e na Galiza, todos os quais creio relacionados com o latim mirare (mirari). Cf. noutros pontos de Espanha também Mira, e Miraflor, Mirafuentes, Miralcampo; na Itália, igualmente Mira, Mirafiori, etc.; em França, Miramont, Miraval, etc.

IX. Concelho de Miranda do Corvo.

Pr

22. Godinhela. Parece-me ser diminutivo de Godinha, nome de mulher, século X (Godina), correspondente a Godinho, nome de homem, de origem germânica: vide Antroponímia [citado na nota 9], p. 49. Há outros topónimos medievais, tirados de nomes femininos: cf. Samardã, Dona Chama, etc. Quanto ao diminutivo, cf. Jarmélo, de Germanello (Germanellus), e supra, § 3.

23. Pai-Viegas = Pai’Viegas, de Paio, nome próprio; de Pelaio < Pelagius.

24. Troia. Valeria a pena averiguar se na povoação, ou arredores, há ruínas antigas, pois este nome aplicava-se às vezes a sítios

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onde elas aparecem, por exemplo: Troia de Setúbal, bem conhecida, Troia de Trás-os-Montes: vide Portugal antigo e moderno, vol. V, p. 407, B) [Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal, Portugal antigo e moderno e dicionário geográfico, estatístico, corográfico, heráldico, arqueológico, histórico, biográfico e etimológico de todas as cidades, vilas e freguesias de Portugal e de grande número de aldeias, 12 volumes, Lisboa, Matos Moreira & Companhia, 1873-1890]. 25. Retorta. Nome vulgar na nossa toponímia e na galega. Indica certa forma do relevo do solo.

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X. Concelho de Montemor-o-Velho.

26. Valcanosa, «vale que dá canas», porque em português antigo a palavra vale era feminina, como em latim19. XI. Concelho de Oliveira do Hospital.

Pr

27. Cobral, quinta do Cobral. De cobra: sítio em que há ninhos de cobras. Cf. Cobreira, na origem «ninho de cobra». Em várias províncias temos Cobrosa, Cobrica, Cobrinha. Nas Astúrias, Colubredo. XII. Concelho de Pampilhosa da Serra.

28. Covancas. De Cova. Cf., quanto ao sufixo: Poçanco, Travanca.

29. Muninho. Na origem nome próprio de pessoa, isto é, Moninho: vide Antroponímia portuguesa [citado na nota 9], p. 38.

19

Cf. os meus Opúsculos [citado na nota 9], vol. IV, pp. 19, 415 e 462 .

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