Retalhos
FICHA TÉCNICA EDIÇÃO:
Vírgula ® (chancela Sítio do Livro) Retalhos AUTOR: Margarida Haderer TÍTULO:
CAPA:
Patrícia Andrade REVISÃO: Ana Domingos PAGINAÇÃO: Paulo S. Resende 1.ª EDIÇÃO Lisboa, Janeiro 2014 ISBN:
978-989-8678-44-7 367446/13
DEPÓSITO LEGAL:
© MARGARIDA HADERER
PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
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MARGARIDA HADERER
Retalhos
Prefácio Uma espécie de magia Querer sair deste círculo é vã intenção. Um círculo é rigorosamente um círculo: fechado, maciço, real, visível... Sair dele é encontrar vazio. Precisamente por isso há uma luta em equilíbrio instável para o não fazer. Fazê-lo, tentando encontrar-lhe brechas, seria admitir a possibilidade de ser aquele ser imperfeito, destrutível ou mal pensado. Não, longe disso... Afinal, este círculo acabou por demorar quatro longas estações para ser... o que é: um círculo. “Será que há mesmo Um fim? Ou tudo será O princípio De outro fim igual? Palavras Palavras Palavras Só...” O sufoco de o ter nas mãos é bem outro. É o de o compreender. De saber o que se segura nas mãos. De saber de que é feito, como foi feito e por que foi feito. Seria irrelevante tê-lo conseguido. Além do 7
mais, perderia todo o mistério. Deixaria de se sentir insuperável a cada nova tentativa de explicar estas quatro estações: Primavera – “Não sei o que quero, mas sei que quero.” Verão – “Sei o que quero, tenho-o, mas não é só isso.” Outono – “Afinal sempre o tive. Quero tudo de volta.” Inverno – “Agora tenho ilusão. Subterfúgio? Não, é apenas uma opção.” No entanto, sempre que um mágico nos deslumbra com a proeza de fazer sair do nada um daqueles arcos brilhantes de metal, ficamos suspensos à espera que o mesmo desencante mais alguns e que, numa nova proeza, os interligue de alguma forma. Em todo o caso, só o mágico lhe conhece as fissuras. Qualquer manta de retalhos que se preze é sempre passível de ser acrescentada até que nos sacie a vontade. Micaela Crespo
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O poeta é um ser único que em si concretiza a plenitude, sentindo o que pensa e pensando o que sente; em simultâneo, cria as mais belas e ondulantes formas de dar vida, luz e cor ao normal fluir da cadente existência. Maria Susana Mexia
À memória do meu pai (sinto saudade da saudade que não tive de ti...)
Ofereço-vos o esqueleto negro da obra inacabada Presenteio o mundo que não vê Não sente E está doente. Como doente está a minha alma neste ventre desventrado do carinho do amor e do afago. (E da razão.) (Sã?!)
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1.º Capítulo Em sons de Primavera... Quando é fantasticamente leviano e fácil fazer as malas do sonho e partir... no comboio da ilusão.
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MARGARIDA HADERER
O porquê Trocadilhos... Simples trocadilhos De alma Que transmito no papel... Mas quem seria eu, Sem os trocadilhos do não ser?
R E TA L H O S
Claro-escuro Até mesmo na vida clara Se vê a escuridão... Até mesmo no murmurinho Se ouve a solidão... E o silêncio despido De sentido Tapa os ouvidos à multidão. Gritam, gritam sem som Sem cor, sem vida... Gritam de claridade Na escuridão do meu sentir. Bate o coração descompassado Irrompe a alma um som agudo Exalta de ilusão a visão turva E dorme no silêncio o meu sentir. Enquanto dita palavras mudas A mudez do meu ser...
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