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NR 22
ano: 2012 . nr 22 . mês: Maio . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €
http://jornalosul.hostzi.com
A rua, o voto e a crise
E a Grécia aqui tão perto... Também neste mês de Maio, vários jornalistas e políticos europeus revelaram uma certa surpresa com os resultados das eleições gregas, como se fosse de esperar que, depois de toda a austeridade aplicada naquele país, tudo se mantivesse na mesma, isto é, que o equivalente local ao PS e ao PSD continuassem a receber mais de metade dos votos.
Detentora de uma forte tradição anarquista, que ganhou novo ímpeto com o fracasso de socialistas e conservadores a gerir o país, a Grécia começou por reagir às medidas de austeridade com motins nas ruas. A violência pouco resolveu, conduzindo até a um aumento do investimento grego em armamento que agravou a dívida do Estado. Perante a impossibilidade de mudar a situação através da acção na rua, os gregos fizeram do voto uma arma e tornaram o Syriza no partido mais votado à esquerda do centro – mas também deram quase 7% ao Aurora Dourada, um partido nacionalista, xenófobo, anti-marxista e anti-liberal. Um caso e outro podem não passar de votos de protesto, mas é provável que representem algo mais. Quando somos levados aos nossos limites, os nossos limites alargam-se. E quando os nossos limites se alargam, descobrimos novas paisagens no horizonte, novas formas de olhar o mundo. Perante elas, podemos despertar para a importância da tolerância e do confronto de ideias, ou acentuar a nossa desconfiança face àquilo que desconhecemos, cerrando fileiras contra “os outros”, seja por medo, ignorância ou pura estupidez. Tudo isto é fruto da crise e, como afirmava Hipócrates (o grego pai da medicina), a crise é o momento exacto em que se torna possível discernir a doença e desvendar a sorte do paciente. Aproveitemos então a crise, esta excelente ocasião para reflectir, aprender e perceber para onde caminhamos (e para onde queremos caminhar) enquanto sociedade. Luís Humberto Teixeira Jornalista
Ilustração Dinis Carrilho
Quanto mais o cenário de crise se instala na sociedade, mais algumas pessoas se começam a sentir encurraladas e sem nada a perder, situação que, por vezes, conduz a que alguns só consigam responder com violência à violência das circunstâncias. No dia 1 de Maio, Setúbal assistiu a uma situação destas, junto ao Monumento à Resistência Anti-Fascista, quando alguns, poucos, elementos que participavam na manifestação anarquista convocada pelo colectivo Terra Livre não foram capazes de manter a calma, nem de ouvir os apelos – sensatos – de outros manifestantes para que não atirassem pedras em resposta às provocações de militantes do Partido Nacional Renovador (PNR) que, do outro lado da rua, mostraram as suas bandeiras à passagem pelo monumento, cerca de meia hora antes de iniciarem a sua celebração, não do Dia Mundial do Trabalhador, mas do Dia do Trabalho Nacional – uma clara reminiscência salazarista. Nada de mais grave aconteceu porque as forças da autoridade – que dispunham de um contingente considerável no local – se interpuseram entre nacionalistas e anarquistas e sanaram a situação em dois minutos. Fora este incidente, a manifestação antiautoritária e anti-capitalista decorreu em clima de festa, juntando cerca de 200 pessoas numa marcha que percorreu a Baixa, do Largo da Misericórdia à Fonte Nova – onde no ano passado a celebração do Terra Livre foi reprimida pela polícia –, e terminou com a deposição de faixas junto ao monumento que homenageia os homens e mulheres que não tiveram medo de lutar por uma vida melhor, mais livre, em terras do Sado.
Setúbal é uma cidade onde
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uma das primeiras a nível mun“Túbal te Fez” é um livro, um dial tenha nascido nessa cidade. ensaio, um manifesto de um arPorém, sublinho, não é situação queólogo de Setúbal, mas afinal, única. De cariz precocemente urhistoriador em qualquer parte, de bano, Setúbal é uma cidade em seu nome José Luís Neto. O livro auto-gestão desde, pelo menos, fala -nos da história de Setúbal, os últimos 500 anos. Isso moldou das suas origens, as suas gentes, o carácter da mesma, influenciou a propósito da arqueologia, mas os ali nascidos e os que para lá também nos fala do futuro da foram morar, sedimentando uma arqueologia em Setúbal, ou da determinada maneira de ser, que arqueologia e o futuro, ou seja, não é muito bem compreendida das respostas que ela nos pode no resto do país. dar, para nos entendermos meAS - No teu enlhor, no futuro. Não saio” Túbal te fez” sei bem responder a Há muito introduzes, de certo todas estas questões, modo, um conceito mas sei que o autor mais para além de novo de arqueologia, sabe mesmo muito “setubalenses da a arqueologia do fudo seu ofício, embo- diáspora”, casos turo, ou a arqueologia ra no fundo, caiba a de Bocage, Luísa e o futuro? Podes excada leitor do livro- Todi ou Mourinho, plicar como vês hoje ensaio-manifesto rescomo há muito esta disciplina históponder por si, a tais rica? perguntas. Mas que é para além dos JLN - Por mais uma obra marcante “convertidos”, que me agradasse, seda “periferia” que vai casos do Zeca ria mentir às pessoas, ao centro das coisas Afonso, do Luís o assumir a paterniem termos culturais, Pacheco ou da dade de uma ideia que disso não tenho dúviOdete Santos. não é minha, mas sim das! Entretanto, falei de António Quadros, com o autor para nos se bem que já estava esboçada explicar algumas coisas sobre o desde o Padre António Vieira. O livro, e aqui ficam as respostas. primeiro a adoptar esta perspecAS - Setúbal é uma cidade tiva, de forma sistemática, foi D. onde a arqueologia sempre fez Manuel Martins, o que permitiu, a história, e aqui nasce cedo a prialguém que veio da região do Pormeira Academia dedicada a esses to, se tenha tornado, com rapidez trabalhos. Queres dizer-nos como e eficácia, um símbolo da cidade. se passa isso? A ele devo a primeira interpretaSetúbal é uma cidade interesção global de Setúbal que conheci, sante, muito interessante mesmo, tinha para aí uns quinze anitos e, no panorama nacional e europeu. com o tempo, vou-me cada vez Se as pessoas tivessem consciência mais convencendo da sua correco quanto da cultura portuguesa ção e razoabilidade. Trata-se de se deve a Setúbal, creio que não uma perspectiva que é pertinente haveria ninguém que não se apaipara Setúbal. A “arqueologia do xonasse por esse lugar. Há muito futuro” não é, como se depreende, mais para além de “setubalenses uma disciplina, mas uma perspecda diáspora”, casos de Bocage, tiva. Através da arqueologia e da Luísa Todi ou Mourinho, como história conseguimos entender, há muito para além dos “convercom menor ou maior certeza, o tidos”, casos do Zeca Afonso, do passado colectivo. Após, verifiLuís Pacheco ou da Odete Santos. camos permanências e linhas de O que impressiona em Setúbal é tendência dessa evolução. Conque, independentemente de uma frontamos o conhecimento com desequilibrada presença do Estado, o saber do colectivo no presente. frágil e geralmente de rosto e uso Nesta fase acaba a ciência propriaautoritário, as suas gentes sempre mente dita e começa a engenharia se souberam juntar e colectivasocial, que pretende pegar em tudo mente construir respostas para isto e trazer um sentido utilitaos problemas que se foram colorista e objectivamente criador de cando, tanto de ordem material, riqueza a toda esta informação, como da imaterial. A arqueologia melhorando a vida das pessoas não foge a isto, pelo que não é de concretas e respeitando a natureza espantar que a primeira associada comunidade. Temos de pensar ção arqueológica portuguesa e
Av. Luísa Todi 239 Setúbal 265 536 252 • 961 823 444
Capa do Livro . Túbal te fez
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garrafeiratody@hotmail.com
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que o património e o conhecimento são recursos dos quais nos devemos socorrer. AS - “Quando pensamos a arqueologia a uma escala municipal, temos de começar por radicar essa análise no conceito de Identidade.” Hoje fala-se muito na importância das identidades, que podem ser múltiplas. Como integras esta tua afirmação a propósito da arqueologia e de Setúbal? JLN - Setúbal, ao longo dos últimos cerca de 3000 anos, é o seu porto. E como em todos os portos, uns chegam, outros vão. É a sua natureza. É mesclada, é mestiça, é promíscua e aí reside o seu encanto. A mestiçagem e a auto-gestão quase permanente ofereceram a Setúbal um espírito de lugar particularmente libertino e libertário, que provoca sentimentos extremos. Aprecio bastante essa característica. Porém, ninguém é apenas “filho da terra”. Antes do mais é filho dos
pais, dos avós, da condição social, das preferências de toda a ordem, das suas escolhas, etc. Porém, se as pessoas não souberem a história da sua terra, como não sabem no geral, é difícil que venham a ter um sentido colectivo que lhes realce a importância da sua pertença à comunidade geográfica. Independentemente dos muitos traços e características específicas locais que em si mesmo carreguem, a falta de consciência do mesmo, é reveladora da falta de coesão dessa comunidade. E uma comunidade pouco coesa é uma comunidade fraca, manipulável e, em última análise, uma comunidade sem futuro. AS - Há uma discussão solene sobre se Cetóbriga seria em Tróia, ou Palmela, ou Setúbal. Hoje as questões parecem mais assentes. Para qual destas localidades te inclinas? JLN - A discussão a propósito da localização de Cetóbriga tem já 5 séculos e é, sem qualquer
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cultura 03 dúvida, um dos mais importantes contributos regionais para a arqueologia europeia, mas não é o único. Cetóbriga é indissociável da região do Baixo Sado e motiva tanta polémica pela contradição entre a etimologia linguística em confronto com as realidades materiais arqueológicas. É um dos, se não o mais, interessante debate científico produzido pela arqueologia portuguesa, onde se digladiaram, no geral com elevação intelectual, mas sempre com profunda paixão, alguns dos maiores investigadores portugueses. Contudo, tudo isto tem passado ao lado dos próprios setubalenses, o que me parece empobrecedor. No fundo, é como quando médicos falam entre si e o paciente está deitado na cama de um hospital. Eles decidem tudo, mas é o doente que leva os cortes e remendos. É um absurdo este tema, relacionado com as origens da cidade, ter deixado os seus habitantes ignorantes do mesmo. AS - Falas muito nos sucessivos “monolitismos económicos“ que têm pesado sobre Setúbal. Queres explicar o que são, e porquê? São um bom exemplo daquilo que se pretende caracterizar como
José Carrilho, fotografo
a arqueologia sempre fez história
“espírito do lugar”. Não há aí, como é evidente, nada de metafísico. O primeiro surto industrial local existiu no Século I, com a exportação para a Europa de um molho de peixe conhecido como “garum”. Quase todas as actividades económicas eram-lhe subsidiárias e/ou dependentes desta. Se olharmos para o papel da Auto-Europa hoje em dia, vemos que, apesar de produtos e tempos distintos, não se
alterou a forma de perspectivar e gerar riqueza na região. Trata-se de investimento de capitais exógenos, de grande monta, que articulam a economia regional. Entre estes, muitos outros houve, casos mais conhecidos do Sal nos séculos XV a XVIII, ou da indústria conserveira dos Séculos XIX e XX. Ainda há pouco nos pregaram as delícias do TGV e do aeroporto. É sempre o mesmo. Para criar futuro e em-
pregos, temos de romper com a lógica milenar das elites locais que, preguiçosas, põem todos os ovos no mesmo cesto. Quando tudo está bem, as coisas vão funcionando, mas em períodos de crise, esta sente-se ali de forma mais aguda. Basta ver o que se está a passar para se perceber que as pessoas têm fome, muitas já não têm casa, água e/ou electricidade. AS - Que futuro para o patri-
mónio da região de Setúbal, que é tão rico? JLN - Neste actual paradigma político, económico e cultural regional, temo não lhe antever grande futuro. É preciso mudar de vida, romper “monolitismos”. Porém, sinto-me muito honrado por ter vindo para aqui, fazer arqueologia num local de tão ilustres tradições, onde tenho tido a oportunidade de aprender tanto com aqueles que aqui vivem. AS - Como interpretas, no dia do lançamento do teu livro - ensaio sobre Setúbal, a ausência de alguém da Câmara de Setúbal, nem sequer do “pelouro da cultura”, ou, ao menos, uma mensagem? JLN - É que o futuro presidente da câmara estava ao meu lado. (risos) Olha, sinceramente, não sei o que te diga. Confesso que não dei por isso. As pessoas foram convidadas, mais a mais aquelas que figuram na capa do livro, pelo que terás de colocar-lhes directamente a questão. António Serzedelo Editor do programa de radio Vidas Alternativas anser2@gmail.com)
O Barreiro abre portas a uma nova forma de expressão artística que permite a todos os que a integram, SONHAR ACORDADOS “Sonhar acordados” é uma recente iniciativa levada a cabo por dois formadores, na cidade do Barreiro, interessados em fazer com que a arte chegue a todos, independentemente da idade. O projecto começou por se dirigir numa primeira fase aos mais novos e, devido ao seu êxito, a partir do próximo mês, alarga os horizontes também a todos os adultos. Sofia Jesus, Psicopedagoga e Arte-educadora, e Teodorico Teixeira Mendes, especialista em Artes Plásticas e Designer de Comunicação, através da realização de ateliês, fazem com que a arte seja uma realidade presente da vida de dezenas de crianças. Os próximos ateliês de desenho e pintura inserido no projecto “Artistas a brincar”, já estão agendados para os meses de Maio (dias 12 e 19) e Junho (dias 2 e 16, na Galeria Municipal de Arte do
Barreiro - Av. Alfredo da Silva nº15 (antigo tribunal do Barreiro) - local habitual para a concretização das actividades. Com um custo médio de 10€/dia, qualquer criança pode ter contacto com esta área, numa perspectiva divertida e, simultaneamente, pedagógica. As inscrições são limitadas e a marcação deve ser feita de forma prévia, via telefone (212 076 759 – Das 14h00 às 20h00) ou por e-mail, através do endereço galeria.municipal.arte@gmail.com. Desde a sua criação, este projecto retrata diferentes temáticas, como o Carnaval, a Páscoa, o Natal, temas alusivos às estações do ano, entre outras questões relevantes para os mais jovens. Numa primeira fase, o público-alvo constituiu crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos de idade que, mesmo sem qualquer experiencia na área, ao longo da actividade têm a possibilidade de explorar diferentes técnicas e materiais, de modo a realizar trabalhos criativos e a desenvolver o potencial artístico presente em cada uma delas. Até à data, o projecto tem adquirido uma enorme expressão e conquistado “miúdos e graúdos”. Também devido ao seu impacto, captou a atenção dos meios de co-
municação, nomeadamente, da RTP, que através de um directo para o programa ”Praça da Alegria”, a 22 de Fevereiro de 2012, deu a conhecer a acção destes dois jovens que têm em comum o gosto pela arte. Para o sucesso desta iniciativa contribuem, principalmente, os mais novos, os seus familiares e também a Divisão de Cultura da Câmara Municipal do Barreiro, que tem assumido um papel bastante importante no auxílio e na divulgação do evento. Alguns dos momentos são registados e partilhados, através de fotografias, no blog oficial, em sonharacordados.blogspot.pt, onde também são encontradas informações adicionais relativas a cada um dos encontros. Durante as sessões, os sentidos das crianças bem como a criatividade são colocados à prova e, a diversão e a partilha adquirem uma posição de destaque. Todo este processo contribui para o desenvolvimento pessoal das crianças, em termos de aquisição de competências e de novas aprendizagens, e para a compreensão do mundo que as rodeia. De acordo com Sofia e Teodorico, a iniciativa “Sonhar acordados” surge como uma forma de
Logótipo . “Sonhar Acordados”
SONHAR ACORDADOS
«liberdade emocional para cada um se expressar de forma a poder conhecer-se melhor e dar-se a conhecer ao mundo». Esta é de facto uma forma bastante apelativa de fazer com que os mais pequenos despertem o gosto pelas artes e pela criação artística. No entanto, nos meses de Maio e Junho (todas as terças-feiras, das 18h às 20h, com um custo de 25€ mensais),
o projecto estende-se a todos os adultos, que também têm agora a oportunidade de se expressarem de uma forma artística. Esta realidade faz com que a arte chegue a todos, possibilitando-lhes dar asas à imaginação e, acima de tudo, sonhar acordados. Eliana Silva eliana_p06@hotmail.com
Camarate - Um apelo aos deputados Senhores deputados, por favor, não cometam o erro de criarem a 10ª Comissão de Inquérito Parlamentar à Tragédia de Camarate (CIPTC). Ouçam as vozes bem avisadas, sensatas e honestas daqueles que pedem que não gastem mais dinheiro do orçamento da Assembleia da República. Pensem, isso sim, em medidas para combater a actual situação económica em que se encontra o País. Combatam o desemprego, desenvolvam a produtividade nacional, ouçam as palavras do senhor Presidente da República no 25 de Abril e promovam uma imagem positiva de Portugal no rio Soares -, então vão deixar em estrangeiro. Não gastem tempo a maus lençóis os nossos aliados analisar uma situação do passanorte-americanos e a sua imagem do, que já não interessa e não vai no resto do mundo. adiantar ao futuro. Acaso imaginam as implicaPor favor, senhores deputações que teria para o nosso futuro dos, não percam tempo com mais se acusarmos os Estados Unidos comissões quando já houve nove, da América de estarem por detrás nove comissões de inquérito pardo assassinato do nosso primeirolamentar onde não há mais nada a ministro e ministro da Defesa, apeacrescentar. Ou preferem continunas porque estes queriam impedir ar a distrair-nos com estas quesque tivesse lugar em Portugal uns tões do passado enquanto o povo estranhos negócios ilegais de trápassa fome? Ouçam, por favor, o fico de armas que desrespeitavam ex-conselheiro da Revolução, Soua soberania do nosso País? Mas, sa e Castro, que diz que os militaonde é que já se viu isso? res de Abril derrubaram o Estado Se a vossa 10ª CIPTC provar Novo para acabar com a fome em que Portugal andava a vender arPortugal e investiguem, por exemmas para o Irão em 1980, furando plo, o negócio dos submarinos. assim um embargo internacional, Esse sim, um verdadeiro escânque havia elementos da CIA por dalo, a par de casos como o BPN detrás desse negócio e Sá Carneiou estas vergonhas do Freeport e os seus “envelopes castanhos” ro, dois meses antes de Camarate, desconfiava estar a ser perseguido mais os gabinetes de arquitectura pela secreta nortede amigos. americana por querer Por favor, ouçam (...) quando o investigar essas ilegaeste apelo de um lidades, pelo que teria simples cidadão: não actual Presidente sido então “encomencriem a 10ª CIPTC. da República dada” a sua morte por Senhores deputados, era ministro das um milhão de dólase caírem no erro de Finanças recebeu res, isso vai deixar em criarem a 10ª CIPTC, ordens de Sá maus lençóis muita a situação econóCarneiro para boa gente que ainda mica vai piorar, pois hoje está viva. E não arriscam-se a meter investigar o Fundo é só nos EUA. É tama mão num ninho de de Defesa Militar bém por cá. E avisovespas internacional de Ultramar e vos que nem sequer é que depois vai agravar nunca o fez. necessário chamar o o já apertado sufoco desacreditado Fernando Farinha financeiro na tentativa de nos caSimões de Vale de Judeus para teslar. É assim que eles têm feito há temunhar no Parlamento que Sá anos e anos. Desde Camarate. Os Carneiro desconfiava da CIA, pois senhores deputados vão abrir uma podem perfeitamente chamar para caixa de Pandora com todas as ir à 10ª CIPTC uma pessoa credídesgraças do mundo dentro dela. vel, Vasco Abecassis, ex-marido de Se cometerem a imprudência Snu Abecassis (a companheira de de quererem saber se a “alegada Sá Carneiro que faleceu também confissão” de um alegado responem Camarate), que contou precisável do alegado atentado, que, samente isso à jornalista Cândida alegadamente, foi funcionário Pinto (outra pessoa credível), da da CIA, com alegadas ligações a SIC (a televisão do ex-primeiroum – e aqui não é alegado, pois é ministro Pinto Balsemão, também um facto – ex-embaixador nortepessoa credível), que o escreveu na americano em Portugal e posterior biografia sobre Snu, editada pela número dois da CIA, Frank CarDom Quixote (que é uma editora lucci, que até era amigo pessoal igualmente credível e bastante de um ex-primeiro-ministro e respeitada). ex-Presidente da República, Má-
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militares do País, para falarem Senhores deputados, por favor, precisamente sobre questões de não cometam ainda o imenso e dinheiro e Orçamento. Não façam superlativo erro de irem investiessas perguntas ao Presidente da gar o Fundo de Defesa Militar de República, pois o País já tem tanUltramar - o “saco azul” do exértos problemas económicos que a cito do tempo da guerra colonial, imagem de Portugal destinado a financiar a no estrangeiro iria compra de material de (...) no dia da ficar arruinada para guerra fora do controsempre. Já basta le do Orçamento do primeira tomada termos um ex-priEstado e que, desde de posse do nosso meiro-ministro com o 25 de Abril de 1974, Presidente da fama de corrupto, era gerido em segreimaginem agora só do pelos “militares de República, George se, na sequência da Abril”, esses, ingratos, Bush esteve no vossa investigação, que, tal como Mário Parlamento um jornalista norteSoares (o amigo do português como americano, ou inglês, Carlucci da CIA), fal- seu convidado ou francês, ou alemão taram às celebrações de honra, se lembrasse de esda data de Liberdade crever lá no país dele no vosso Parlamento. confirmando que, aqui, no belo e S e i n s i s t i r e m assim uma longa tranquilo Portugal, o nessa perigosa ideia, amizade. Presidente da Repúentão façam tudo blica é suspeito de ter encoberto o para enganar o povo Português móbil do assassinato de um antigo e escondam a necessidade de primeiro-ministro e ministro da envolver o nome do Presidente Defesa pela CIA. Que o fizera para da República nessa questão. Eu proteger militares portugueses e sei que vai ser difícil, pois quannorte-americanos. Que assim esdo o actual Presidente da Repúcondeu um negócio de tráfico de blica era ministro das Finanças armas de Portugal para o Irão no recebeu ordens de Sá Carneiro tempo em que o ex-director da para investigar o Fundo de DeCIA, George Bush, era candidato fesa Militar de Ultramar e nunca a vice-presidente dos EUA. o fez. Assim, qualquer comissão Imaginem ainda que esses jorséria teria de ir perguntar-lhe o nalistas se lembrassem ainda de motivo pelo qual não conseguiu que, no dia da primeira tomada cumprir as ordens do primeirode posse do nosso Presidente da ministro e se manteve calado ao República, George Bush esteve longo destes anos todos. E, mais no Parlamento português como uma vez, não é sequer necessário seu convidado de honra, confirrecorrer a “alegadas confissões” no mando assim uma longa amizade. YouTube para confirmar isso, pois Imaginem então uma coisa ainda basta consultar os comunicados do mais grave, pois esses jornalistas Conselho de Ministros de Novemestrangeiros iriam depois ficar a bro de 1980 onde essa ordem está saber que, a ter havido negócio de bem explícita. Ou então a imprensa tráfico de armas para o Irão atrada época – tenho cópias que vos vés de Portugal em finais de 1980, posso fornecer. isso iria demonstrar que elementos Senhores deputados, não suda campanha republicana Reagan/ jeitem o Presidente da República Bush, ex-agentes da CIA, teriam a perguntas incómodas sobre qual negociado secretamente com os o conteúdo da última reunião de iranianos a não libertação dos reSá Carneiro e Adelino Amaro da féns de Teerão antes das eleições Costa, na qual ele esteve igualmenpresidenciais nos EUA, a 4 de Note presente, na manhã do fatídico vembro de 1980, roubando assim dia 4 de Dezembro de 1980, juna reeleição de Jimmy Carter. Isso tamente com as mais altas chefias
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significaria que a administração Reagan chegara ao poder através de um acto de traição. Iria colocar em causa toda a política norteamericana no Médio Oriente na actualidade, pois a mesma tem sido a sequência lógica das acções iniciadas por esse negócio da CIA em Portugal com a cumplicidade dos nossos dirigentes, dirigentes norte-americanos republicanos e até com complacência dos democratas. Não, senhores deputados, a morte de um estadista em Portugal não pode chegar as estas conclusões. É preciso manter esta Ordem Mundial, senão ainda se chega à questão de saber de onde vinha o dinheiro para manter estes negócios e revelar as redes de tráfico de droga, as organizações terroristas que são promovidas para justificar as mortes e assassinatos que cresceram da mesma forma que os furacões nascem com o bater de asas de borboletas. E é por isso que temos a crise económica mundial de hoje, precisamente por causa de todos os negócios que se fizeram depois destes negócios que levaram a Camarate. Sei que parece ser algo pretensioso querer dizer que Camarate está na origem de todos os males no mundo, mas, de certo modo, infelizmente, e sem exageros, até está. E não podemos mostrar essa verdade aos Portugueses: eles não iriam aguentar. É pior do que o holocausto de Hitler, acreditem. Daí o meu apelo para que não iniciem sequer os trabalhos. Tentem ir adiando até ser esquecido. A imprensa está a dar o exemplo e está fazer um bom trabalho ao ignorar o assunto. Deram a notícia, mas hoje já ninguém se lembra. Não falem mais nisso e daqui a nada, os portugueses já se esqueceram e podem continuar infelizes e domesticados como sempre. Qualquer CIPTC nesta altura ou noutra qualquer, mesmo que conseguisse abafar metade daquilo que eu aqui digo, ainda assim iria descobrir muita coisa, pois os factos existem e até estão à vista. Não os liguem entre si. Não estraguem a verdade oficial que tantos anos demorou a construir. Lembrem-se que, se houver sangue, ainda pode ser o vosso a jorrar nas escadas do Parlamento. Não deixem falar quem quer falar, não façam falar quem não pode falar. Por favor, senhores deputados, não falem mais em Camarate! Frederico Duarte Carvalho (autor do livro: “Eu sei que você sabe”)
Jornalista
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Ensino Superior sem bolsa de estudo, quais as alternativas? Após nova legislação do atual Governo, para as bolsas de estudo no ensino superior, as instituições criam alternativas à tradicional ajuda. Muito se tem falado dos alunos do ensino superior que se vêm obrigados a desistir dos estudos, pois não têm condições financeiras para continuar, mas não se vê os responsáveis do governo a dedicarem um pouco do seu tempo sobre os problemas que os afetam, e a apresentarem soluções que garantam um emprego, à próxima geração de trabalhadores. Será que esse trabalho fica relegado para as instituições de ensino superior? Os serviços de ação social, do Instituto Politécnico de Setúbal criam alternativas às tradicionais bolsas de estudo, para que os seus estudantes possam continuar a estudar. Após a alteração na legislação da atribuição de bolsas de estudo no ensino superior, Andreia Godinho Lopes, diretora dos serviços de ação social do IPS, salienta que “o novo despacho veio restringir mais o leque de estudantes que nós podemos apoiar”. O instituto sentiu necessidade de criar apoios indiretos aos estudantes, tais como o “PAAS, que com recurso a receitas próprias”, pretende dar uma resposta extra aos “estudantes que não podem ser abrangidos pelo apoio social direto.” Como salienta a diretora dos serviços de apoio social do IPS,
a nova legislação veio redefinir o limiar de carência do agregado familiar, ou seja, neste momento aos olhos da lei “é considerado carenciado nos termos da legislação em vigor todos os estudantes que têm um rendimento per capita anual, inferior a 6868,79€”. Todavia, foi em 2010 que houve realmente uma grande alteração na legislação, pois todas as instituições começaram a seguir as mesmas regras de seleção dos bolseiros. Antes de 2010 nenhuma instituição considerava para efeitos de atribuição de bolsa de estudo a questão das dívidas à segurança social, “e a partir do momento em que saiu a regulamentação de 2010, fomos obrigados a isso”. Outra alteração também referida pela Dra. Andreia Godinho Lopes foi a alteração das regras do aproveitamento escolar, “que passou de 40% para 50%, e logo aí houve de facto um decréscimo grande”. Contudo, a maior alteração foi no cálculo dos rendimentos do agregado familiar do aluno, que se candidata a uma bolsa de estudo, pois como mencionado pela Dra. Andreia Godinho Lopes, “antes nós considerávamos o rendimento líquido e passámos a considerar o rendimento ilíquido, considerávamos abatimentos e deduções, como a renda da casa, etc. Deixámos de poder considerar, portanto um estudante que tinha condição de bolseiro, depressa a perdeu. Só o facto de considerarmos apenas o rendimento ilíquido foi uma quebra muito grande”. A diretora do serviço de ação social do IPS partilha a sua opinião, dizendo que “o regulamento
tenha bolsa ele pode arranjar uma e a legislação em vigor estão a ser estrutura interna e melhorar uma feitos um bocadinho ao contrário. série de competências que também Primeiro vemos quanto é que dissão importantes no mercado de pomos para gastar com bolsas de trabalho. Porque a missão não é estudo, e depois criamos as regras, só preparar estudantes, do ponto quando não devia ser assim”. de vista dos conhecimentos. Estas Muito antes de existirem tocompetências que são transversais dos estes problemas na atribuição ao ser humano, também aqui, sede apoios financeiros, e de forma jam desenvolvidas”. a combater as dificuldades dos Contudo a psicóloga, Dra. alunos deste instituto, foi criado Isabel Teixeira, salienta que “a em 1997 um serviço de saúde, que psicologia não está introduzida começou inicialmente apenas como um benefício nesse sentido, com o apoio psicológico, em que de utilizarem novas estratégias, o Instituto foi pioneiro, e desde fazer um planeamen2009 alargaram às to futuro, um projerestantes valências (...) para to de vida diferente, médicas, como conporque entretanto a sultas de planeamento que a juventude vida mudou com a familiar e consultas de portuguesa não crise. Tudo isso não clinica geral. volte às condições está introduzido nas Uma das psicólo- de outros tempos, pessoas, e eventualgas deste serviço, Dra. em que só podia mente será por isso Graça Palmito, explica estudar quem que não fazem um que grande parte das recurso tão grande à vezes os alunos pro- tinha condições psicologia como pocuram este serviço financeiras para o deriam fazer”. por “questões de an- fazer. Espera-se dos siedade, rendimento jovens portugueses uma força académico, casos de depressões interior, uma chamada teimosia, associadas a todo este quadro. “ em continuar a perseguir os seus Era esperado que com a atual objetivos, e a realizá-los. A Dra. conjuntura económica, houvesse Graça Palmito refere que de “facto mais alunos a recorrer a este tipo há aqui uma série de apoios e de de serviço indireto, pois com a ajucompetências que até se podem da que este serviço disponibiliza, desenvolver do ponto de vista da é possível não só tratar dos prochamada inteligência emocional, blemas psicológicos referidos pela que são importantíssimas, e é Dra. Graça Palmito, bem como, uma ótima altura para se desenrealizar um projeto de vida, que volverem”. Do ponto de vista da ajude os jovens a delimitar um plapsicologia, referindo a Dra. Graça no de vida, que torne mais simples Palmito “as crises também podem a concretização dos seus objetivos. trazer benefícios, podem ser fases A Dra. Graça Palmito salienta que, de crescimento e desenvolvimento, “o apoio psicológico indiretamente e os estudantes são uma populaajudaria na situação económica, ção extraordinária nesse aspeto, porque mesmo que o aluno não
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porque os jovens têm a capacidade de flexibilidade e de adaptação”. Assim o papel das instituições tornar-se-á muito importante, pois como diz a Dra. Andreia Godinho Lopes, “se nós não conseguimos por limitações, por um lado orçamentais, por outro da legislação, apoiar diretamente os estudantes, devemos promover o reforço das estruturas que apoiam estes de modo indireto. E continuar a trabalhar para termos cada vez mais e melhores estruturas, e assim dar respostas cada vez mais aproximadas àquilo que são as expectativas e as necessidades da nossa comunidade estudantil. É por aí que eu acho que vai passar o nosso papel nos próximos tempos”. Com certeza que o mais provável no futuro, será os estudantes em que se investiu “fugirem” para outros países, que garantam uma maior estabilidade financeira e também emocional, pois as duas estão intrinsecamente ligadas. Desta forma podemos ver que o futuro dos jovens portugueses, não depende somente deles, mas também daqueles que acreditam e apostam no seu país, reforçando todo o tipo de apoios, para que a juventude portuguesa não volte às condições de outros tempos, em que só podia estudar quem tinha condições financeiras para o fazer. E como refere a diretora do serviço de ação social do Instituto Politécnico de Setúbal, “um estado sem ensino é um estado que hipoteca o seu futuro”. Telma Bagulho telmac.bagulho@gmail.com
Programação
Academia Problemática e Obscura 25 de Maio
1 de Junho
“Os donos de Portugal”
Debate
documentário com a presença
sobre o Sahara Ocidental
do realizador, Jorge Costa
21:30h
21:30h
Ciclo de documentários sobre o Sahara Ocidental
8, 15 e 22 de Junho 21:30h
Rua Fran Pacheco n.º 178, Setúbal - Tel. 963 683 791 / 969 791 335
Fechar a MAC é (também) impedir a especialização! cionismo hospitalar vai no sentido O processo da MAC não é apeda alta especialização reservando nas uma questão de acesso do povo para uma certa periferia a noção a cuidados de alta qualidade ou do antiga de hospital generalista. Só favorecimento de maternidades com especialização é que foi possíprivadas ou público-privadas, nem vel ao país edificar uma instituição é apenas uma questão de se desde elevados padrões como é a MAC, mantelar uma instituição de nível, mesmo que a ela se apontem alorgulho legítimo do SNS. Uma instiguma cristalização ou falta de inotuição que de resto demorou anos a vação nesta ou naquela valência. A edificar e que demoraria décadas a MAC, na neonatologia, no alto risco reconstruir se o país aceitasse o seu e nos seus brilhantes resultados desmantelamento puro e simples. na mortalidade materna e infantil, Há um aspecto que porvendificilmente poderia surgir de uma tura escapa ao público mas que qualquer dinâmica generalista ou interessa trazer à colação e que a partir de um qualquer hospital concerne àquilo que é o evoluciogeral. Só atingiu esses padrões nismo hospitalar em todo mundo porque teve oportunidade de esdesenvolvido. capar à pressão conservadora do Importa pois saber se é o gegeneralismo. neralismo e os chamados hospitais É bom dizer aliás que num gerais que vingam ou se vamos no ambiente de forte consentido de organizatracção da natalidade é ções especializadas A voz do a MAC que continua a de elevado foco em ser a grande atracção entidades nosológi- generalismo para as mães desecas concretas. Foco sempre soprou josas de fornecer as esse que implica alta forte da João melhores condições especialização, indus- Crisóstomo, deu de nascimento aos trialização e dedicação guarida aos velhos seus filhos. Quem pelo articulada de meios interesses dos contrário mostra séria para lidar com actos quebra na procura e que devem ser repeti- hospitais gerais sinais evidentes de critivos, estritos, com alta e sentiu-se agora dextreza e eficiência mais livre para sair se são as maternidades de hospitais gerais em clínica, ainda que se à rua de tesoura Lisboa. admitam formas de em punho. A vantagem evopartilha de serviços lutiva da especializacomuns na esfera da ção estende-se aliás aos IPOs e hotelaria e de meios tecnológicos ao Hospital de Santa Cruz com a pesados. sua forte valência de Cardiologia A resposta é simples: o evolu-
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M.A.C do estúdio de Mário de Novais (s.d.), in Biblioteca de Arte da F.C.G..
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Médico-Cirúrgica, instituições também elas enraizadas na admiração de doentes, mas igualmente dos profissionais que nelas confiam para referenciar os seus doentes. As fulcrais instituições especializadas do SNS não deixarão de sentir o ataque inexplicável à MAC como prenúncio de futuras tentativas de desarticulação que possam estar em preparação. O papel da especialização na indústria hospitalar é fácil aliás de mostrar quando se pergunta a qualquer especialista quais são as instituições estrangeiras de maior prestígio. Logo surgem ao de cima, entre as primeiras, inúmeros exemplos de hospitais especializados na Europa e nos EUA.
As crises, como a actual, sempre exacerbam lutas de interesses que antes evoluiam de forma menos intensa nos bastidores do ministério. A voz do generalismo sempre soprou forte da João Crisóstomo, deu guarida aos velhos interesses dos hospitais gerais e sentiu-se agora mais livre para sair à rua de tesoura em punho. Apenas esgrime esta corrente com o princípio de cortar na despesa – embora o fulcro da ineficiência esteja nos hospitais gerais e não nos especializados – porque haveria, em resultado da crise, uma espécie do direito do generalismo à liberdade em detrimento da especialização. Na crise, parecem dizer, deveríamos voltar ao regaço
do antigo regime, uniforme, das instituições generalistas. As saídas para a difícil situação em que está o país não poderão ser encontradas no retrocesso, mas em apostas fortes na especialização e na obtenção dos mais elevados padrões de qualidade. Deixar desmantelar a MAC é deixar agravarem-se os factores de crise. Apostar na especialização e na forte industrialização, largamente permitida pelas instituições do tipo da MAC, é que será o caminho capaz de ajudar à saída da presente crise. Paulo Fidalgo Médico, IPOL-FG paulofidalgo@inbox.com
Consumo compulsivo, necessidade(s) insatisfeita(s) A facilidade na obtenção de créAssistimos nas últimas décadito foi também um factor que das a profundas alterações a nível muito contribuiu para tornar o cultural, económico e social. As consumo apetecível sociedades ocidene ilusoriamente fátais tornaram-se esAs próprias cil e sem custos. Os paços de consumo, comportamentos de em que os bens ma- actividades de consumo compulsiteriais e a sua posse lazer passaram a vo devem ser vistos passaram a desem- estar, sobretudo como intimamente penhar um papel e nas últimas duas intrincados nas altea ter uma função e décadas e meia, rações, que podemos um significado immesmo rotular de portantes. Vivemos muito ligadas, radicais, que se têm num espaço social interdependentes vindo a verificar em do ter para ser e não mesmo, do todo o tecido social tanto do ser para ter, consumo. que nos envolve. em que vale mais as O fenómeno do coisas que se conseconsumo compulsivo tem-se guem, e menos, a forma como tornado cada vez mais prevalense conseguem essas mesmas te, independentemente do nível coisas. Uma sociedade onde há socioeconómico das pessoas, do um empobrecimento afectivo; seu vencimento e do seu crédiuma sociedade das tecnologias to disponível, fenómeno a que e da eficácia, do pronto a pennaturalmente não são alheias sar e a consumir. Uma sociedade as alterações sociais referidas. dos programas e do que está na Trata-se de um fenómeno com moda. As próprias actividades uma relevância clínica significade lazer passaram a estar, sobretiva e que tem tido nos últimos tudo nas últimas duas décadas tempos cada vez mais interesse e meia, muito ligadas, interdepor parte de psicólogos e invespendentes mesmo, do consumo.
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cente e adulto, não vê satisfeitas tigadores. Mas porque será que estas e outras necessidades, que algumas pessoas, mais do que obviamente vão sofrendo alteraoutras, sentem uma enorme neções na sua importância relativa cessidade de comprar? O acto de ao longo do desenvolvimento, comprar preenche sempre uma geram-se focos irritativos, fica necessidade. Mas de que neceso sentimento de insatisfação, o sidade, ou necessidades falamos? mal-estar, a sensação de boca Diríamos apenas que quando seca num dia de vealgo é excessivo no rão, de frio num dia ser humano, no seu (...) O acto de inverno porque comportamento, geo casaco não protenericamente na sua de comprar ge do vento gelado, personalidade, esse preenche sempre numa palavra, fica carácter excessivo é uma necessidade. a frustração. E esse sempre compensaMas de que amargo de boca, ditório, tem sempre a gamos assim, não função de compensar necessidade, ou desaparece nunca, alguma coisa que a necessidades marca o registo da p e s s o a s e n t e q u e falamos? memória para semfalta, dir-se-ia, se se pre e coloca a pessoa na posiprecisa muito, é porque se teve ção de carência e de necessidade pouco…. O que hoje nós psicólopermanentes a que pode tentar gos bem sabemos é que ao longo responder de várias formas, indo desenvolvimento, e para além cluindo o consumo compulsivo. das necessidade mais básicas de protecção e cuidados, a criança Rui C. Campos tem diversas outras necessidades, Psicólogo de afecto, proximidade, reconheProfessor de Psicologia da cimento, valorização, autonomia. Universidade de Évora Quando por diversas razões, a criança, e mais tarde o adoles-
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Propriedade e editor: Prima Folia - Cooperativa Cultural, CRL Morada: Rua Fran Paxeco nº 178, 2900 Setúbal Telefone: 963 683 791 • 969 791 335 NIF: 508254418 Director: António Serzedelo Subdirector: José Luís Neto • Leonardo da Silva Consultores Especiais: Fernando Dacosta • Raul Tavares Conselho Editorial: Catarina Marcelino • Carlos Tavares da Silva • Daniela Silva • Hugo Silva • José Manuel Palma • Maria Madalena Fialho • Paulo Cardoso Director Artístico: Dinis Carrilho Consultor Artístico: Leonardo Silva Morada da Redacção: Rua Fran Pacheco nº 176 1ª 2900-374 Setúbal Email: Jornalosul@gmail.com Registo ERC: 125830 Deposito Legal: 305788/10 Periocidade: Mensal Tiragem : 45.000 exemplares Impressão: Empresa Gráfica Funchalense, SA - Rua Capela Nossa Senhora Conceição, 50 - Moralena 2715-029 - Pêro Pinheiro
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Associativismo 07
fotografia no interior de s. lázaro . saolazaro94.blogspot.pt
ISTO NÃO É UMA OKUPA: é uma discussão sobre planeamento urbano
O que têm de diferente a Es.Co. La da Fontinha, no Porto, ou a casa de S. Lázaro, em Lisboa, dos restantes movimentos de ocupação? Porque é que, de uma casa para a outra, estes movimentos ganham poder no espaço público mediatizado, levando a discussão para além da questão da propriedade privada? As explicações podem tecer-se com diversos motivos, mas há um que parece não levantar dúvidas: perante um estado social falido, que não consegue garantir nem os direitos cidadãos, nem a preservação do seu próprio património, há que pôr mãos à obra e criar alternativas, negando o papel de «vítima da crise» e provocando autonomamente novas possibilidades de desenvolvimento pessoal, social, cultural e económico. É fácil aceitar o argumento de que a propriedade privada deve ser respeitada. Também é fácil acei-
ocupação de propriedade privada tar que «propriedade privada» não municipal conseguiram fazer, do pode querer dizer o mesmo quando seu quintal, um trampolim para a propriedade privada é pública, todos os quintais dos como no caso de um centros urbanos, geedifício municipal. Os A vereadora rando discussões ao impostos representam nível do planeamenuma receita pública da Acção Social to urbano e territorial, demasiado alta para prefere admitir das políticas de habinão nos interessar o que todos os tação, das políticas destino das nossas sociais e da gestão linhas ferroviárias, dias expulsa dos pública do património. das nossas barragens, seus edifícios Em Lisboa, o colectidas nossas escolas e municipais vazios vo que ocupou o n.º 94 do nosso património. famílias pobres, da rua de S. Lázaro, no Deve interessar-nos, a discutir as Martim Moniz, na sua portanto, discutir o políticas que levam primeira Carta Aberta destino dos milhares dirigida à vereadora da de alojamentos muni- a essa inexplicável Acção Social Helena cipais devolutos que acção social Roseta, afirmou-se apodrecem no centro kafkiana. como um grupo de das cidades e, pelos habitantes da cidade de Lisboa que vistos, isso interessa também a assistem, pensam e criticam há váquem ocupou e resiste na Fontirios anos o modelo de revalorização nha e em S. Lázaro. a que têm sido sujeitos os bairros Os recentes movimentos de
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da cidade. A ocupação torna-se um meio privilegiado para accionar a revisão de leis obsoletas, que desertificam os centros urbanos, adubam as periferias, favorecem a especulação imobiliária, negam o direito à habitação e sustentam, ainda assim, o direito a manter vazios os seus edifícios. Helena Roseta, por seu lado, não tem estado à altura de um diálogo sério e fundamentado. Perante um colectivo que exige um novo paradigma, afirmou: não me agradam as desocupações, mas todos os dias as temos: de famílias carenciadas que querem casas. Seria um precedente enorme. Não posso tratar este grupo de forma diferente do que trato essas famílias pobres. A vereadora da Acção Social prefere admitir que todos os dias expulsa dos seus edifícios municipais vazios famílias pobres, a discutir as políticas que levam a essa inexplicável acção social kafkiana. Resta saber que o colectivo de S. Lázaro se nega a discutir uma política do bate-pé e da barricada. A uma reunião convocada pela vereadora, compareceram representados por especialistas na área social e urbana. Perante a afirmação, da mesma vereadora, de que o edifício estava em risco de derrocada, o colectivo recorreu a especialistas para produzir o seu próprio relatório de peritagem, que comprovou a segurança do n.º 94. Quando um despacho proferido pela vereadora alterou o prazo de desocupação voluntária previsto no n.º 2 do artigo 4.º do Regulamento das Desocupações de Habitações Municipais (RDHM), reduzindo-o de 90 para 10 dias úteis nas situações de ocupações não autorizadas de habitações municipais, o colectivo avançou com uma providência cautelar no Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa, denunciando a aprovação ilegal de um despacho fora da Assembleia Municipal. Se os Estado continuar a olhar estes movimentos como insignificantes actos de rebeldia, desobediência ou provocação, vão atrasar-se
na discussão. E quando chegarem à falência, cheios de propriedade que não podem gerir, os cidadãos já terão encontrado, afirmado e conquistado as suas próprias soluções. Sandra Coelho Jornalista sandrafcoelho@gmail.com
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