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NR 28
ano: 2012 . nr 28 . mês: Novembro . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €
Emigração, um mergulho no abismo... O falhanço das políticas anti-crise do governo não tem visto repercussões nas exportações. Não falo nas exportações do ouro que as famílias portuguesas vendem nas lojas de penhores para compensar o facto do fim do salário chegar antes do fim do mês (que têm vindo a baixar expondo a falácia do toque de midas), falo no exportar do melhor que este país tem, os seus recursos humanos. É verdade que a Democracia e o 25 de Abril têm tido problemas em fazer-se cumprir na sua plenitude, mas, algo que é inegável, é que apesar de tudo aquilo que se possa dizer, e dos erros que o Ensino Público possa ter trilhado, chegámos aos dias de hoje com a geração melhor formada de sempre. Estes números são inegáveis! A visão democrática de que o acesso ao ensino deve ser para todos, ofereceu-nos este fabuloso recurso que somos nós mesmos. Conseguimos ir além do país em que o melhor que temos são os afectos e adicionámos à equação o conhecimento e o saber fazer. As lógicas financeiras e os gráficos de Excel de Vitor Gaspar não o conseguem ver, nem nunca o hão-de conseguir. As pessoas não são números, como na recente rábula de Ricardo Araújo Pereira, quando apresenta um número e uma pessoa ao ministro das finanças para que ele perceba a diferença, conclui obviamente que os números não passam fome; eu atrever-me-ia a complementar os números não sonham! Ainda há pouco tempo, tivemos a infelicidade de ler a carta do jovem enfermeiro que emigrava endereçada ao Presidente da República. Pelo silêncio do senhor de Belém ficámos esclarecidos que, tal como o Passos Coelho ou Paulo Portas, não conhece o país onde vive. Num país onde grassa a falta de médicos ou enfermeiros como é possível deixar este jovem e outros como ele saírem? Tanto investimento para jogar fora? Este sim, é o real esbanjamento de dinheiros públicos e das famílias. Passos e Portas, através da oferta de salários baixos, precariedade e desemprego, têm pontapeado para fora de Portugal vários de nós e dos nossos, deixando um cultivo de terra queimada
onde nada floresce, a não ser o futuro de António José Seguro, que espera olhar-se ao espelho, como governante, apesar das ruínas, que serão o que restará à sua volta da passividade e abstenções violentas que realiza. O problema é que o que a realidade nos pinta, consegue ser ainda pior que esta lógica economicista totalmente incompreensível, que, com o tempo, destruirá o estado social e a segurança social. Porque apesar dos papagaios das televisões não o referirem, o sistema é inter-geracional, os que trabalham hoje contribuem para as reformas dos que trabalharam antes. Ou seja, o aumento desmesurado do desemprego afecta-nos a todos e a todas, não só a quem sofre deste estigma. Intrinsecamente ligada a esta problemática, à vista ficam os danos de uma brutalidade tremenda para as famílias, que são separadas, dos afectos e amores que são estilhaçados pela distância, do desespero desta fuga obrigada, que muitas vezes só consegue transferir o local onde passeamos a nossa fome. Tornam-se demasiado comuns as histórias de portugueses transformados em sem-abrigo, que tentaram a sua sorte noutras paragens. Temos de parar já com esta sangria, resgatar as nossas vidas feitas reféns por juros agiotas de uma dívida que não criámos. Nós, as pessoas, valemos muito mais que os lucros da banca e da finança. Não podemos adiar mais a vida com sacrifícios para honrar dívidas que não contraímos. Já nos chega de Jonet ou de Pedro Mota Soares, que mais não fazem que alimentar a miséria, para que esta nunca passe de pobreza. Hoje, porque já vamos tarde, chegou a hora de exigir de volta a nossa vida e os nossos direitos. O direito a viver condignamente na nossa terra, a podermos escolher o lugar onde nascemos para ser felizes, com todos aqueles de outras paragens que o queiram fazer aqui connosco. Porque se as fronteiras são lógicas impostas por governos, o empurrar das gentes contra a sua vontade também o é. Exijamos o direito a emigrar porque queremos, direito a escolher onde queremos ser felizes, seja noutra terra ou na nossa. Quem tem de emigrar é este governo, temos de lhe comprar a passagem, com o devolver da voz ao povo, isso mesmo, nós todos, para que tomemos nas nossas mãos de volta o nosso Presente, o nosso Futuro e o nosso direito a viver. Leonardo Silva Presidente da Prima folia Cooperativa Cultural
Ilustração . www.DinisCarrilho.com
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