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NR 23
ano: 2012 . nr 23 . mês: Junho . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €
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Vários foram os autores e organizações que, em diversas ocasiões, ao longo de mais de três décadas, sublinharam a importância do papel desempenhado pelas mulheres saharauís quer na construção dos acampamentos de refugiados em Tindouf, como na luta pela independência. O conflito existente originou a divisão da população saharauí, de um lado do muro construído por Marrocos, ficaram os que permaneceram no Sahara Ocidental ocupado, do outro, os que fugiram para o sudeste argelino. Em ambos os casos, a mulher tem um papel preponderante na luta pela libertação. Temendo a invasão de Marrocos e Mauritânia, em 1975, a população civil iniciou um processo de fuga rumo a leste, ao deserto. Enquanto os homens lutavam no Exército de Libertação do Povo Saharauí (EPLS), mulheres, crianças e idosos instalaram-se no maior deserto quente do mundo, onde a extremidade das temperaturas origina difíceis condições de vida, “não havia nada (…) as mulheres, através das suas melfas (traje típico) ação e construção dos acampamentos, muitas vezes, sem qualquer apoio masculino, criaram os seus filhos sozinhas e, cedo, os viram partir para países como Líbia, Argélia ou Cuba, para concluírem os seus estudos. Adaptaram-se, sentiram a morte de cada mártir, readaptaram-se ao regresso dos homens, aos tempos de “paz”. Do ponto de vista público e político, a União Nacional de Mulheres Saharauís tem uma visibilidade internacional notória e, dando a conhecer o conflito existente e o papel desempenhado pelas mulheres na sociedade saharauí. Relativamente à ocupação de cargos políticos, existem actualmente cinco ministras em vinte e um ministérios, sendo que no que se refere à administra-
ção dos acampamentos, as responsáveis por cada bairro são geralmente mulheres. Do ponto de vista profissional, representam uma maioria esmagadora nas escolas, jardins-de-infância e cargos administrativos. Do ponto de vista da formação, existem diversos centros onde as mulheres acedem a vários tipos de formação. A mulher mantém bem saliente o seu “papel de cuidadora” (Caratini 2006, 8), apresentando-se como um elementochave dentro de casa. É frequente existirem casas em que, por diversas razões, o homem está total ou parcialmente ausente, tal como os delegados da Polisário noutros países, militares ou porque simplesmente houve um divórcio, “o meu pai só está cá [nos acampamentos] um mês por ano (…) a minha mãe [para mim] é tudo, mãe e pai”, comentou um jovem. Autores como Sophie Caratini, entre muitos outros, defenderam que a revolução Saharauí permitiu a ascensão social das mulheres, que adquiriram “um status praticamente sem igual no mundo árabe” (2006, 9). Rita Marcelino dos Reis Antropóloga
Ilustração Dinis Carrilho
As cuidadoras dos acampamentos