08 . 12
NR 25
ano: 2012 . nr 25 . mês: Agosto . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €
http://jornalosul.hostzi.com
Ilustração Dinis Carrilho
Parabéns à irreverência É com muito gosto que me associo à passagem de mais um aniversário da Prima Folia, neste caso o quinto, período este de tempo que na essência tem sido marcado pelas consequências da crise internacional na Europa e a que Portugal não escapa. Acompanhando as atividades desta associação e do jornal que é veículo dos objetivos que prossegue - O Sul - registo ser uma instituição que, irreverente e muitas vezes polémica, toma parte a favor do futuro. Na minha perspetiva, fá-lo do lado bom, ou seja, do lado que aposta no progresso, com suporte em princípios alicerçados na cultura com vista à valorização da igualdade, da justa distribuição da riqueza, da importância do papel do Estado e da inevitabilidade de um novo paradigma da vida que está em gestação e para o qual é necessário sabermos dar respostas. Essas respostas implicam a convocação da sociedade civil à participação e ao debate sobre ideias claras e é nesta linha de orientação que a Prima Folia e o jornal O Sul vêm trabalhando. Como é evidente esta postura que é de rutura com a indiferença e o conservadorismo dos vários quadrantes não beneficia da compreensão daqueles que lidam mal com as liberdades de opinião e de expressão. Ainda não há muitos meses verificámos isso mesmo nas limitações de distribuição impostas ao jornal O Sul pela atual gestão do Município de Setúbal. Acreditando como acredito na experiência e na sabedoria do povo português, não sou daqueles que entende que a resignação que aparentemente se observa na sociedade portuguesa perante as medidas restritivas em curso e que vão muito para além do memorando da troika traduzem aceitação das políticas que as corporizam. E não penso isso porque a ‘venda a retalho’ do país a que assistimos a pretexto de serem necessárias privatizações de empresas estratégicas, que são verdadeiros instrumentos de soberania, para o reforço das receitas, não são fatos indiferentes à generalidade dos cidadãos por respeitarem ao seu futuro. São, também, para estas questões da maior importância para Portugal que a Prima Folia tem convocado a sociedade civil como aliás se reflete na leitura de ‘O Sul?. Consciente que o contributo que a Prima Folia vem dando é um elo importante na cadeia de reforço da nossa sociedade civil, inclusive para o distrito de Setúbal, ou sobretudo para ele tão carente de ruturas para um futuro melhor para todos, desejo que a aniversariante persista, contra ventos e mares, na linha de rumo irreverente que traçou. Vítor Ramalho Presidente do INATEL
NR 25
AGO 2012
02 na vigia
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Para onde vai o nosso dinheiro Uma jornalista nos bastidores da Administração Pública “Para onde vai o nosso dinheiro, uma jornalista nos bastidores da Administração Pública”, por Lurdes Feio (Ésquilo, 2012, é uma contundente reportagem que põe ao leitor um conjunto de questões pertinentes, e sempre inquietantes, sobre o funcionamento da máquina do Estado. Com ficção ou sem ela, vamos acompanhar a viagem de Maria T., uma profissional na área da comunicação social a quem um dirigente da Administração propôs que coordenasse a publicação de uma revista temática. Passo a passo, Maria T. vai descobrir procedimentos que jamais supusera existirem: tinha que ser tratada por Dr. para que o pessoal não lhe perdesse o respeito, até porque o sonho (ainda que inconfessado) do comum funcionário público que não era doutor seria poder vir a sê-lo um dia; Maria T. foi descobrindo barreiras entre técnicos licenciados que passavam, por exemplo, pela importância da dimensão do gabinete onde trabalhavam; com o passar dos meses descobriu muita gente arrogante e complexada, descobriu a burocracia mais enredada para ter acesso a material de trabalho, descobriu o peso enorme das secretárias dos diferentes chefes, descobriu impunidade e desresponsabilização, a dança dos papéis de uma secretária para outra, a etapa obrigatória dos despachos à consideração superior dentro daquela estranha concepção em que muitos funcionários públicos confundem rigor com excesso de zelo. Maria T. era, no fundo, uma carta fora do baralho, não podia entender aquela mentalidade de cumplicidades e inimizades, uma quase permanente rejeição à mudança e, no caso em apreço, a rejeição é uma publicação que mostrasse aos contribuintes as atividades do organismo e a sua
punha-os em contacto através do importância para o bem-comum, telemóvel; com estranheza, enconMaria T. era encarada por aqueles trou funcionários que maltratavam funcionários como uma presença outros, viu a pouca transparência dos supérflua e ela dá a sua interpretaconcursos, o permanente resmunção: “Pessoas que cometiam erros gar pelas classificações de serviço e crassos de ortografia num simples os motoristas sempre parágrafo de e-mail, de muito bem pagos com que eram incapazes de quaisquer alcavalas e redigir um texto claro e (...) assessores horas extraordinárias. conciso, que não tinham e adjuntos (...) Maria T. é também a menor sensibilidade recebem, pasmeconfrontada com pripara distinguir o esvilégios e mordomias, sencial do acessório no se, suplementos e põe à cabeça os gabidocumento informativo equivalentes netes dos governantes, e para quem a simples aos subsídios de cada clique partidária divulgação pública de férias e Natal que apossa-se dos respeaspetos factuais da sua foram cortados tivos gabinetes, cada ação constituía uma inaos demais membro do Governo vasão inadmissível do nomeia assessores e sigilo da sua atividade, funcionários adjuntos que nunca achavam-se perfeita- públicos. sofrem com a crise mente à altura de fazer (recebem, pasme-se, suplementos o trabalho dela, inclusivamente editar equivalentes aos subsídios de férias e uma revista”. E mais adiante: “Ela foiNatal que foram cortados aos demais se apercebendo aos poucos de que, funcionários públicos). Há também as para o comum funcionário público, a nomeações para os cargos dirigenclasse dos jornalistas era uma espécie tes da Administração, há nomeações à parte, cuja única atividade prática delirantes. No jornal Público (edição consistia, na maioria das vezes, em de 30 de Julho) António Correia de ser mero veículo de transmissão para Campos dava conta de algumas noa opinião pública das reivindicações meações estapafúrdias da responsados sindicatos”. bilidade do Ministro da Saúde: “Em Sempre com surpresa, Maria T. foi 12 nomeações para presidentes de aprendendo que as mesmas pessoas agrupamentos de centros de saúde, que garantiam que a Administração uma peça essencial da rede de cuidaPública era transparente eram as dos de saúde, apenas 6 são originários mesmas que tudo faziam para não dos serviços de saúde, apenas 2 sendo disponibilizar informação para a médicos. O lote inclui um dirigente publicação que ela dirigia. Aprendeu desportivo e organizador de eventos também algumas regras de jogo inlocais, um ex-secretário de presidente compatíveis com a sua prática prode câmara, vendedor de máquinas fissional: a cunha de funcionários industriais, dispensado pela derrota para pôr familiares e amigos em eleitoral do seu presidente, e um antiboa posição dentro dos concursos go diretor financeiro de empresas de de admissão pessoal; encontrou serrochas ornamentais e ex-acessor de viços em que os funcionários estavam vereador. Personalidades certamente sistematicamente ausentes, caso dos competentes nas anteriores funções, a juristas que pediam aos colegas que quem agora vai ser entregue a gestão informassem quem os procurava a nível supraconcelhio de uma das que estavam em serviço externo; mais estratégicas reformas da saúde”. descobriu técnicos que estavam Lurdes Feio não anda à procura sempre em reunião e quando Maria de escândalo alvar, nem do mórbiT. precisava desesperadamente de do de todos os vícios do sistema da uma informação um colega amigo
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interminável Administração, mas inclui, por imperativo de desmascaramento, aqueles que têm gabinetes vitalícios e prerrogativas de secretária, um lugarzinho cativo na garagem, o permanente desaparecimento de material de trabalho, as cumplicidades com os fornecedores, os processos disciplinares quase sempre arquivados, os funcionários que fazem a manhã e outros colegas que fazem a tarde, o uso escandaloso da mala diplomática, os tais boys e as tais girls que o partido impõe e que depois vão ser espalhados, como lugar cativo, nas empresas municipais, institutos, fundações, sector empresarial do Estado e pelos inúmeros organismos e estruturas paralelas criadas pelos governos, isto para já não falar nas obras em casa do senhor ministro e nos compadrios nos licenciamentos da construção nas equipas que nas obras públicas emitem pareceres a nível autárquico. Marcelo Rebelo Sousa escreve no prefácio: “Nesta coleção de situações, factos, pessoas e circunstâncias perpassam as pequenas grandes questões culturais da nossa Administração Pública. Com argúcia, algum humor e bastante senso crítico. Questões culturais – digo bem, já que o problema maior da Administração Pública portuguesa é cultural, de cultura cívica, de mentalidade. Encontro nesta obra muitas referências ou evocações que me são familiares. Vale a pena ler as linhas que se seguem. Para uns, explicam coisas que, antes, não entendiam. Para outros, lembram episódios das suas sagas pessoais e coletivas. A autora merece uma palavra amiga de elogio e de agradecimento”. Resta saber, já que o dinheiro do contribuinte aparece delapidado nesta reportagem de Lurdes Feio, como atalhar, inverter e pôr uma nova ordem, introduzindo outros tipos de motivação na nossa Administração Pública. Beja Santos Docente Universitário
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na Vigia 03 Portugal, do que é que estás à espera? aqueles que dizem que a situA situação social e económica ação social pode ser explosiva! que estamos a atravessar agravaImaginem que as Instituições se cada dia que passa! E o pior é particulares de solidariedade que não conseguimos ver uma social começam a fechar as luzinha ao fundo do túnel! portas. Sim porque a situação E perdoem-me o pessimismo financeira de muitas delas é de mas não estou com grandes espequase pré-falência! ranças de melhoras. A dita crise Imaginem que as Instituivai “paulatinamente” estendendoções ligadas às Igrejas, como se a todos os países da Europa. por exemplo a Cáritas, por falta Aquelas que eram consideradas de meios, começam a diminuir grandes economias há meia dúzia os seus apoios. Imaginem que o de anos atrás, como a Espanha e a Banco Alimentar começa a ter Itália, já estão também a agonizar! dificuldades na distribuição de E para variar quem paga são alimentos, não por sempre os mesmos, falta de solidariedade leia-se as classes E nós em dos Portugueses, mas mais desfavoreciporque muitos deles d a s , a g o r a c o m a Portugal que já nem para as suas novidade da cha- tivemos uma famílias têm! m a d a c l a s s e m é - revolução que nos Se estas Instidia também estar a fez sonhar que tuições que se têm sentir bem fundo as as injustiças e as substituído ao Estado dificuldades. Penso desigualdades (pela sua ineficácia que haverá poucas em cumprir o seu pafamílias Portuguesas sociais iriam pel bem descrito na que não tenham um acabar sentimos Constituição da Refamiliar no desem- dentro de nós pública Portuguesa) prego. Só eu tenho que alguém nos ao longo dos anos, dois! O meu filho defraudou e por impossibilidade mais velho e uma enganou! de meios, deixarem das minhas noras, ou diminuírem, drasjá para não falar dos ticamente o seu papel de apoio amigos que andam há procura ás famílias desfavorecidas, quase de emprego! que garanto que a agitação soMas como fazer para mudar cial deixa de ser um fantasma, estas políticas! Estamos em depara ser uma realidade. Um pai mocracia e portanto não deve ou uma mãe chegarem a casa e haver o uso da força, apesar de verem que os seus filhos choisso passar pela cabeça de alram com fome, qual será a sua guns Portugueses. Estou com
Foto: Nuno Pires
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económico a nível Mundial está a mudar. Mas a actual sistema capitalista, apesar de estar agonizante, ainda “vai dar luta” até ser substituído por um novo Sistema que esteja verdadeiramente ao serviço do Ser Humano. Mas entretanto que poderemos e deveremos fazer, nós cidadãos que periodicamente votamos em listas partidárias? Esse será tema para outro artigo de opinião.
reação? E nós em Portugal que tivemos uma revolução que nos fez sonhar que as injustiças e as desigualdades sociais iriam acabar sentimos dentro de nós que alguém nos defraudou e enganou! E essas pessoas têm nomes. Vou apenas falar num nome, apesar de haver muitos mais para citar. Puxem lá pela vossa memória! Não se lembram quando o nosso actual Presidente da República, há uns anos atrás quando era 1º Primeiro-ministro deste País, foi um dos principais incentivadores
do nosso afastamento da agricultura e da pesca? E hoje descaramento dos descaramentos faz discursos a incentivar os jovens a voltar à terra e à faina da pesca. Porque é que ele quando foi 1º ministro não levou à prática aquilo que apregoa agora? Sim porque os nossos vizinhos Espanhóis não seguiram aquela política e hoje ainda possuem uma das maiores frotas pesqueiras da Europa, e nós estamos cada vez mais dependentes do exterior do ponto de vista alimentar! Acredito que o actual sistema
Será por acaso que cada vez os portugueses se revêem menos na Assembleia da República? Será por acaso que se assiste, desde 2008, a uma vaga de criação de partidos inédita desde o pós-Revolução, apesar do aumento dos obstáculos à sua legalização? E será por acaso que essas novas forças não elegem qualquer deputado, mesmo tendo votações consideradas surpreendentes?
de círculos (de 22 para 2). E como a Não, não é por acaso. É por culpa matemática nunca engana, menos da lei eleitoral e do número excessivo por menos dá mais: mais pluralismo. de círculos que temos nas eleições Passe por lá e leia a prolegislativas. São eles que, sem que posta. Se tiver dúvidas, visite nos apercebamos disso, mantêm http://pan.com.pt/reformaeleitudo praticamente na mesma. toral. Se as suas dúvidas conAlguns, mais atentos aos procetinuarem por esclarecer, envie dimentos legais, perguntar-se-ão: um e-mail para luis.teixeira@ mas há alternativas que não exijam precidadania.org. mudanças na Constituição e não Se quiser dar mais valor ao seu demorem anos e anos até serem imvoto, assine. Junte a plementadas? Medidas sua à nossa voz. que apenas requeiram Será por Ah! E caso seja devontade política dos putado e concorde com deputados, os únicos acaso que cada esta melhoria face à lei que têm, verdadei- vez os portugueses actual, não tenha proramente, o poder de se revêem menos blemas em acelerar o alterar a lei eleitoral? na Assembleia da processo de alteração. A resposta é sim. E República? Faça a proposta sua, um dos formatos condiscuta-a com o seu cretos que essa altergrupo parlamentar, leve-a a plenário. nativa pode tomar está na Petição A qualidade da nossa democrapela Reforma da Lei Eleitoral da cia agradece. Assembleia da República, à qual se pode aceder em http://tinyurl. com/maispluralismo. Luís Humberto Teixeira Em traços gerais, a proposta deCoordenador do grupo fende a redução do número de depuresponsável pela petição tados (de 230 para 181) e do número luis.teixeira@precidadania.org
Carlos de Sousa Antigo presidente da Câmara Municipal de Setúbal
Imagine um país que ignora mais de meio milhão de votos válidos expressos pelos seus eleitores. Um país no qual o segundo partido mais votado entre os seus emigrantes elege o triplo dos deputados do partido que recebeu o maior número de votos. Um país que não respeita o princípio da igualdade de voto e cria 22 tipos de eleitor com pesos distintos, numa manobra legal que apenas favorece os políticos que têm governado esse país alternadamente ao longo de quatro décadas... Esqueça o exercício, pois não é preciso imaginar. Esse país é real. Esse país é Portugal. Por incrível que pareça, a lei eleitoral portuguesa tem possibilitado tudo o que está referido acima e há décadas que os líderes dos partidos beneficiados por esta lei (PS e PSD) falam na necessidade de reformar o sistema eleitoral mas nada fazem. Nada fazem porque, como afirma Nuno Sampaio no livro “O Sistema Eleitoral Português: Crónica de
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Imagine um país...
uma Reforma Adiada” (2007): “Ao escolher um sistema eleitoral estão a definir-se as regras institucionais de distribuição de poder, e, nesta matéria, se nem todas as forças e agentes políticos podem ficar a ganhar, a verdade é que nenhum quer ficar a perder”. E como nenhum dos grandes partidos quer ficar a perder, quem fica a perder somos nós, eleitores, e a qualidade da nossa democracia.
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04 maré alta
Mudar é preciso, viver é preciso Prima Folia, as iniciativas têm sido respectivas audiências, no conforto Mudança rápida e consumo imemúltiplas, os momentos de tertúlia do sofá, vão interiorizando o discurdiato são duas marcas da sociedade enriquecedores. Os temas vão da so vigente e construindo a ilusão de em que vivemos. Nas organizações astronomia à imprensa em Setúbal, estar a edificar uma opinião livre a pressão a que todos estão sujeida divulgação científica às sexualie independente. Intos é cada vez maior. dades, do preconceito à arquivística, capazes de distanciaExige-se cada vez mais da arqueologia aos direitos humamento face ao discurso produção, mais rápida O consumo nos. Os oradores tanto vão de prodominante, as pessoas e mais barata. O tempo vai-se impondo fessores universitários, jornalistas, adoptam-no e, graduescoa-se, rapidamente, como solução para intelectuais e membros de governos almente, as soluções na vertigem do quotio desconforto que até aos artistas desconhecidos, aos para o problema (e.g. diano. Conciliar as resanónimos que nunca tiveram outro a TROIKA, a subida ponsabilidades familia- se vive. palco para dar os seus testemunhos dos bens essenciais, res e profissionais é um impressivos e a todos aqueles que os despedimentos em massa …) desafio permanente. A evolução tecvivem em primeira mão. são apresentadas como inevitáveis. nológica marca o ritmo da mudança No momento de Neste quadro poliem todos os palcos, onde as pessoas crise económica e de tico e social, um discurconstroem a sua vida. O consumo Ao longo dos valores, um dos granso alternativo é fundavai-se impondo como solução para o des desafios que se comental para preservar a cinco anos de vida desconforto que se vive. O novo teleloca a todos em geral e liberdade de cada um e do Prima Folia, móvel é o máximo. Que maravilha, a à Prima Folia, em parde todos. É a liberdade as iniciativas têm internet a qualquer momento, poder ticular, é o de contribuir essencial, construída sido múltiplas, fotografar e, de imediato, enviar para para a construção de na “política” do dia a os momentos o facebook. Os ”amigos” são mais e um discurso alternatidia e que está muito mais nas redes sociais. São redes e de tertúlia vo, capaz de mobilizar para lá da proclamada mais redes em que nos enredamos. para a rotura de uma por muitos “políticos”. enriquecedores. A propósito, as palavras de Michele lógica económica e poNesse sentido, espaços Norfa são suficientemente impreslitica neoliberal que gerou novas como a Prima Folia são impressivas: “aproximam quem está longe formas de opressão. A mudança cindíveis. A possibilidade de ouvir mas afastam quem está próximo”. A que falta é a substantiva, capaz de pessoas de diferentes quadrantes vida corre numa vertigem sem que, libertar para esse movimento criapolíticos e áreas do conhecimento, muitas vezes, nos detenhamos para tivo em vez da mudança frenética e num espaço participativo e de conreflectir sobre o sentido do que se faz ilusória que, a cada dia, nos afasta fronto de ideias, é importante para e do que se quer. do essencial e oprime. estimular a capacidade crítica e para Sem possibilidade de reflexão edificar a criatividade necessária à crítica aumenta a passividade, o vaconstrução de discursos alternativos. zio e o risco de alienação. Os opinion Paulo Cardoso Ao longo dos cinco anos de vida do makers estão por todo o lado e as Docente
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Cinco anos a construir cultura o palestrante, estão também os que A cultura constrói-se, de prefeassistem à palestra; onde estão os múrência com um olhar crítico no presicos estão também os espetadores; sente e conhecendo razoavelmente onde está o pintor está também quem o passado. Mas esta só cumpre o seu assiste à inauguração. Todos veem os papel, que pode ser de continuidade olhos de todos, todos podem ouvir as ou de corte, quando, amadurecida, palavras de todos, todos se podem deixa sementes para o futuro. Aconfalar e cumprimentar. tece cultura quando se pensa e se age, Na Academia Problemática e aceitando, melho-rando ou pondo em Obscura acontecem palestras, concausa as heranças históricas, econócertos e exposições, teatro, cinema, micas, sociais, polí-ticas, artísticas, etc. lançamentos de livros e de discos, Podemo-nos queixar do marasassim como debates mo cultural que acontede diversa índole. Não ce mais numa ou noutra se pede a quem assiste cidade, mais numa ou (...) quem ou partilha que connoutra região; podemos frequenta este corde. Pelo contrário, apontar culpas pela falta espaço sabe que quem frequenta este de iniciativa, de dinâpode e deve quesespaço sabe que pode e mica, de qualidade, de deve ques-tionar e conespaços, etc. Mas tam- tionar e contrapor. trapor. Numa semana bém temos a obrigação podemos assistir à palestra de um de virar o dedo para nós mesmos, professor universitário, noutra podesobretudo quando poderíamos ter mos ouvir tocar e cantar um jovem feito algo e não fizemos ou quando músico, noutra uma figura pública acontecem coisas onde poderíamos mostra-nos a sua visão sobre um aster par-ticipado e não participámos. sunto atual, noutra poderemos ver A cultura, sobretudo erudita, é expostos desenhos corrosivos de um muitas vezes tarefa de uns para ouadolescente irreverente. tros, tendo estes uma atitude demaÉ assim na Academia Problemásiado passiva. A cooperativa Prima tica e Obscura. Mas a atividade da Folia, no seu espaço denominado Prima Folia não se confina à sua casa. Academia Problemática e Obscura, Acontece também noutros espaços, constrói, oferece e recebe cultura. noutras casas, neles contribuindo para As reduzidas dimensões do espaço a dinâmica e para o enriquecimenreforçam a proximidade: onde está
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to cul-tural da cidade e da região de Setúbal. Porque já tem alguma maturidade, produz sementes, espalhandoas nesses espaços, nas ruas e neste jornal. Mas porque ainda é jovem, quer aprender e crescer para fazer mais e melhor por uma população empobrecida também culturalmente. Umas vezes só com os seus meios, outras em parceria com asso-ciações ou organismos, a Prima Folia age e agita, pois só agindo se constrói e só agitando se impede a estagnação. Não procura contentar todos, pois não, até porque tal atitude mantém, por norma, o marasmo existente. Mas também não quer fazer inimigos. Porque aceita as diferenças, que entende por cons-trutivas e justas, quer que a aceitem como é, com aquilo que tem de próprio e peculiar. Os cinco anos que passaram não foram fáceis. Para os percorrer foi necessária muita dedicação, muito esforço e cansaços diversos, por vezes penosos. Mas valeu a pena pelos frutos que daí nasceram, pelas pessoas que se deram a conhecer e pelos caminhos que se abriram. E esses caminhos aí estão, para serem percorridos. António Galrinho Docente
Propriedade e editor: Prima Folia - Cooperativa Cultural, CRL Morada: Rua Fran Paxeco nº 178, 2900 Setúbal Telefone: 963 683 791 • 969 791 335 NIF: 508254418 Director: António Serzedelo Subdirector: José Luís Neto • Leonardo da Silva Consultores Especiais: Fernando Dacosta • Raul Tavares Conselho Editorial: Catarina Marcelino • Carlos Tavares da Silva • Daniela Silva • Hugo Silva • José Manuel Palma • Maria Madalena Fialho • Paulo Cardoso Director Artístico: Dinis Carrilho Consultor Artístico: Leonardo Silva Morada da Redacção: Rua Fran Pacheco nº 176 1ª 2900-374 Setúbal Email: Jornalosul@gmail.com Registo ERC: 125830 Deposito Legal: 305788/10 Periocidade: Mensal Tiragem: 45.000 exemplares Impressão: Empresa Gráfica Funchalense, SA - Rua Capela Nossa Senhora Conceição, 50 - Moralena 2715-029 - Pêro Pinheiro
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maré alta 05 Sereias Metálicas
falta de ternura que não enconmos sobre a estrada, sobre a vida, A nossa maneira de viver tram nos outros. Um indivíduo imersos nos nossos invólucros reflecte-se na nossa maneira de nessas circunstâncias torna-se carnal e metálico. Basta ficar conduzir. Por isso, quem vive inum indivíduo em imóvel. Não mexer quieto conduz com inquietação. perigo. a direcção, não acAo volante todos se transformam, (...) Quando deixacionar os pedais, as o automóvel torna-se um mundo refugiamo-nos nos mos de ter interesse alavancas. onde (finalmente) mandamos, pela vida, e o stress P a r a q u ê s e o mundos de evasão nos sentimos livres, realizados; a c t u a l p r ovo c a - o d e s p e r t a r t r a r á o que construímos, torna-se um novo, outro corpo cada vez mais, resofrimento, como na bebida, na físico, possante, veloz, protector, fugiamo-nos nos quando se acorda e droga, no sexo, fiel. Que nos obedece ao pormemundos de evasão não apetece levantar nor, resguarda de cansaços, de no trabalho, na que construímos, na para o desconforto, frios, de agressividades. política, no futebol, bebida, na droga, no para a decepção? A melopeia do andamento, a sexo, no trabalho, na A fronteira en- na religião. volúpia das mudanças, da bripolítica, no futebol, contra-se aí – afirsa no rosto estabelecem (entre na religião. mam os especialistas a propósito a máquina e a pessoa) relações Frequentes são, assim, os das altíssimas taxas de sinistrade cumplicidade, de intimidade desastres inexplicáveis, as quelidade rodoviária – nas fracções indefinidas. Há quem fale com o das em ravinas, em pontes, em de segundo em que o carro pode carro, o acaricie, o admoeste, o falésias, os suicídios cometidos desfazer-se ou continuar, contiame, o destrua. dentro de veículos através de nuando-nos. O fascínio reside O conforto do habitáculo, o gases respirados e venenos benessa imprecisão, ritmo da deslocação bidos devagar, ao som de cds, nessa inocência. diminuem a energia Há quem no entardecer, a hora preferida A euforia (que do consciente; passados que se decidem pelo fim. O distorce os reflexos), se a dirigir mecanica- fale com o carro, morrer com o automóvel, como a debilidade (que mente, envolto, como o acaricie, o em certas civilizações com a muquebra a atenção), o n o c i n e m a , n u m a admoeste, o ame, o lher e os animais caseiros, fez-se cansaço (que afasta languidez fluida. destrua. significativo disso. a realidade) geram As coisas desIrresistíveis ao canto metálisituações que contribuem para lizam para lá das janelas num co da nova sereia, enrolamo-nos as «falhas humanas» responsámundo-écran de que estamos nele e, em massa, aceitamos a veis pela maioria dos desastres separados por cortinas de vidro. imolação. – álibis que não decidimos mas O veículo é que enfrenta a reanão resguardamos. lidade exterior, desempenha por Há pessoas tão carenciadas nós o papel activo, interventivo. Fernando Dacosta que transferem para o carro a Em estado de graça, planaEscritor
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Uma cruzada imponente num tempo de sobressaltos os tempos novos e que enalteceu os Não têm sido particularmente vetustos, que declinou ficar-se, que fáceis os últimos cinco anos. Os atainventou e reinventou em todos os ques de cartilha ideológica à despatamares. Esses não continuidade da cultura morrem, sobrevivem, como veículo da solidez lutam. da sociedade contem(...) a São cinco anos porânea são ferozes. sociedade de história ao vivo. A Tudo se confunde, caminha para Prima Folia tem sido por via dos emarauma virtualidade testemunha dessas nhados do prosmícuo anomias, porque nas‘sémem’ dos mercados, mortífera. ceu nesse e desse temessa chaga dominadopo. Foi acto heróico, não tenhamos ra que tudo trata com pinceladas dúvidas, porque quem se dá à luz teóricas de uma economia que já na crispação dos tempos melhor os deu o berro. E nos arrasta para o percebe. desastre. Que nos promete deslizar Tem sulcado mares, vivido condécadas de conquistas em nome turbações, experimentado agruras, de uma humanidade que esbateu mas também venceu, engrandeceu, radicalismos, ousadias forçadas em contornou obstáculos e está viva na nome de interesses (in)confessáves. dobragem dos cruzados pensamenTal como a tecnologia permite que o tos que não avançam. Que sucumcapital escape do tempo e dissolva bem sem barreiras, sem trincheiras. a história da cultura do efémero e a Que algures no tempo próximo vão desincorporação das relações sociais. definhar perante outros tempos. PorO ‘Fim do Milénio’, de Casttells, bem que, clamou Alan Touraine, as cateo desenhou, alertando para a introgorias dominadas já há muito que dução da cultura da virtualidade real. se transformaram em movimento Tudo parece virtual: a comunisociais. E a modernidade (mesmo cação é virtual, o dinheiro é virtual, na sua extensão pecaminosa) não as relações são virtuais, a sociedade se arrasta sem estes. caminha para uma virtualidade morSão pois cinco anos de luta, enotífera. Menos a vida das pessoas, das brecida pela incomparável vantagem famílias, das pertenças, e da munde não servir-se e de não deixar-se dividência. Essa genética que pulsa servir. De pensamento livre até ao em cada um de nós, que construiu
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seu tempo e no seu espaço, a lança ponto nevrálgico do ser possível nos contra o rompimento desta sobecânones da sobrevivência. rania enganosa. Conspurcada, e até Que luta bonita, contra a festanaviltante, no jogo dos fortes contra ça geral, da que lança gordura nos os fracos. Devia ser (será que vai) a neurónios mais desprevenidos. Dos força motriz de aglutinação dos não que fazem do pensar, sentir e agir submergidos e a ruptura dos opacos uma coisa menor. Dos rebanhos que que vegetam com as suas divisas seguem na multidão dos ecos e dos e serpentinas asargentados neste mandamentos da manipulação (a exército quase que telecomandado coriza subfebril em vez de catarro), pela berlinda comunicacional. lembrando o humorismo cortante A Prima Folia vai ser, se mais dede Umberto Eco. rem de si, muitos mais! Falar verdade, mesEu próprio, quase remo que seja com dor, é Que luta signado me confesso. sempre mais belo. Mais Eu e muitos outros com nobre e sobretudo me- bonita, contra a obrigações de zelo, por nos fétido. Que o odor festança geral, mim, pelos meus, por dos poderes e as porca- da que lança todos os outros. Mas há rias nas ventoinhas do gordura nos alguns que sempre esnosso presente já lixo neurónios mais tiveram. Poucos, muito mais que tóxico. poucos. Desses que não E a Cultura pá? Não desprevenidos. desistem, que não vetem soberania? É deixágetam e que não dobram. la à mercê da espuma das consagraSão esses que importa salvar ções, sem nenhum princípio exterior e com eles levantar a Prima Folia que lhe possa ser oposto? Como os nos sulcos das águas turbulentas. centros de poder o estão a fazer às Levantá-la. Reerguê-la. Recolocáexclusões, às tradições, às ideologias la, com o primado da Cultura com e até às religiões… soberania, em que os parcos custos E porque deixar torturar o penalimentam uma barriga cheia de insamento livre. Aí se Rosseau voltasvestimentos no futuro de todos nós. se… Porque as revoluções mesclaram de fora, do aposto, do triunfo da reinRaul Tavares venção, dos paradigmas perdidos. jornalista A Prima Folia é (podia ser), no
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06 CULTURA
XIV FESTA DO TEATRO em Setúbal
A Obsessão e o seu Dia O milagre DFW Não posso dizer que tenha muitos amigos. Tenho alguns. É claro que pelos padrões modernos (pensar na teia de amigos que as redes sociais tendem a fazer-nos ilusoriamente imaginar que temos) sou levado a reconhece (e ao que parece) que tenho poucos, senão mesmo efectivamente muito poucos. (E, afinal, não é verdade que entre meramente conhecer (pensar novamente nas redes sociais) e verdadeiramente conviver com alguém vai um passo particularmente largo?) Isto, entenda-se, não é uma lamentação – decididamente, não é: é uma constatação. Na verdade, uma pessoa não precisa (eu pelo menos não preciso), nem realmente consegue ter (eu pelo menos não consigo), muitos amigos. Não só não há tempo para isso (eu pelo menos não tenho), como, o que é mais, não há paciência suficiente neste mundo para aturar os vastos mas desinteressantes pretendentes que por aí se podem encontrar (eu pelo menos, definitivamente, não tenho). Neste caso, como em muitas outras coisas, o truque é
espécie, reconheça-se, não tão ter poucos e bons e atentos – e abundante assim). Digo virtuoso da isso, devo dizer, eu tenho. Tenho escrita e logo corrijo: mais correcto fundamentalmente amigos preserá afirmar que encontrei alguém ocupados, principalmente com a que não só escreve como pensa de minha muitas vezes mais que fatal forma virtuosa (duas capacidades ignorância. fundamentalmente distintas). DaDavid Foster Wallace não era, vid Foster Wallace fora uma mente por razões algo óbvias, um amibrilhante que escrevia go. Wallace nasceu em de forma brilhante. 1962 e morreu (tragiPara si, um Nem precisamos camente: enforcou-se) de ir muito longe. Os em 2008. Tinha 46 ponto era óbvio: seus ensaios e peças anos. a escrita deveria jornalísticas como David Foster ser capaz de tocar aquelas compiladas Wallace fora um escriem “A Supposedly tor; consensualmente, o outro – era esta Fun Thing I’ll Never talvez, o maior escri- a sua verdadeira Do Again” (1997) e tor norte-americano função. “Consider the Lobsda sua geração. Mas ter” (2005), claramente expõem isto sei-o devido a amigo consum cérebro em constante ebuliciencioso que em boa hora topou ção, de uma linha límpida e subtil a minha lacuna literária (obrigado de raciocínio, que se anuncia por Gonçalo), e que, como bom amigo meio de uma prosa inimitável que é, rapidamente me inundou (e vagamente inacreditável), de em doses q.b. de vergonha (pela cariz ultra consciente e introsincultura) e obras (para colmatar pectiva, que só por si se presta a a mesma). completamente refutar todas as Boa hora. Bendita hora. ideias pós-modernas de tendência Porque, aquilo que encontrei desconstrucionista de uma suposta não foi um mero escritor (uma “mort de l’auteur”. espécie, diga-se, particularmente Não, claro, que Wallace não abundante): foi um autêntico virtufosse uma espécie de pós-moderoso na arte da palavra escrita (uma
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nista por direito próprio. Como o próprio afirmava, Wallace desejava escrever acerca daquilo que era o “sentimento de se viver”, por oposição a uma certa escrita que tenderia a fortalecer o sentimento de escape para com o mesmo. Um viver que, bem entendido, para este (e como efeito do mundo contemporâneo em que vivia), acabava por se consubstanciar numa forma de realidade fracturada, com várias camadas e níveis de consciência que se efectivavam em simultâneo, razão pela qual, a escrita (classicamente linear na sua forma), deveria ela mesma procurar captar e reproduzir esta exacta circunstância, ao mesmo tempo que deveria procurar conferir a essa mesma realidade fracturada alguma espécie de ordem (a ordem possível, pelo menos). Para si, um ponto era óbvio: a escrita deveria ser capaz de tocar o outro – era esta a sua verdadeira função. Uma ideia que ganha novos e reais contornos se tivermos em atenção que o humor, a sensibilidade e a humanidade da sua escrita se encontrava em fundamental contrastante com o
desespero e o tormento da sua própria existência – e talvez exactamente por isso. Ao longo da sua (ainda assim curta) vida, David Foster Wallace escreveu três romances – “The Broom of the System” (1987), “Infinite Jest” (um volume magno de mil (!) páginas) (1996) e “The Pale King” (uma obra inacabada, publicada postumamente) (2011) –, três livros de contos e quase uma dezena de obras de ensaios e não ficção. Ao que tudo indica, este ano, em Portugal, a editora Quetzal, planeia lançar a tradução portuguesa de “Infinite Jest”. Lá fora, agora já em Setembro, está agendado o lançamento da sua muito aguardada biografia “Every Love Story Is a Ghost Story: A Life of David Foster Wallace”, por D.T. Max. Este parece ser o ano de todos os milagres. Do meu. Do seu. Do nosso. Estou só a dizer: este talvez seja um pequeno milagre acerca do qual ninguém quererá ficar indiferente. É uma certa espécie de amigo seu quem o diz. Tiago Apolinário Baltazar t.apolinariobaltazar@gmail.com
José Saramago: “que importa que uma cidade faça da tortura premeditada de um animal indefenso uma festa colectiva que se repetirá, implacável, no ano seguinte? É isto cultura? É isto civilização? Ou será antes barbárie?” Que resposta pretende a autarquia de Setúbal dar? Continuar a subsidiar uma atividade bárbara que mancha com espetáculos de sangue o nome da cidade? Ou uma política cultural mais digna, mais justa, mais solidária e com um maior respeito pelo direito à vida? A nossa resposta, essa, é apenas uma: transformemos Setúbal numa cidade anti touradas. Célia Feijão Presidente do Conselho Local de Almada do PAN
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Em 2011, a Câmara Municipal de Setúbal, presidida por Maria das Dores Meira, decidiu voltar a permitir a realização de eventos de carácter tauromáquico. Encerrada desde 2008 pela InspecçãoGeral das Actividades Culturais (IGAC) por motivos relacionados com a falta de condições de segurança, a Praça Carlos Relvas foi alvo de uma reabilitação, com parte das obras suportadas monetariamente pela própria autarquia setubalense. Este ano a Praça Carlos Relvas reabriu uma vez mais as suas portas, nos dias 6 de Julho e 4 de Agosto, para levar a cabo corridas de touros. O Concelho Local de Almada do Partido pelos É por demais evidente que culturais e marítimas. Animais e pela Natureza (PAN), o que está em jogo é a vertente Onde alguns pretendem ver organizou no dia 6 de Julho um empresarial que se esconde por uma (inexistente) tradição ligaprotesto pacífico à porta do recindetrás da indústria tauromáquica: da à tourada, tal como tem sido to, para expressar a sua profunda atividade que sobrevive sustentademonstrado pela indignação e discorda por apoios maioritariamente reduzida afluência dância. (...) não públicos e que só se revela vera estes eventos, nós Na verdade, é com dadeiramente rentável, não para vemos um concelho um profundo pesar transmitam a cidade, não para a população de onde seria possível que o PAN Almada às gerações Setúbal, mas para as empresas promover um desenassiste a mais um mais jovens tauromáquicas e para os seus volvimento econóano de regressão dos intervenientes. Tal como é demico e social difevalores éticos, sociais valores ligados à fendido na proposta do “Movie humanistas numa ci- indiferença perante rente, assente nas mento pela Abolição das Corridas suas riquezas natudade que é, simulta- o sofrimento de Touros”, que foi o movimento rais e na capacidaneamente, capital de injustificado cívico online mais votado no âmde de oferecer à sua concelho e de distrito. bito da recente iniciativa governapopulação espetáculos e eventos Falar de Setúbal não é falar de mental “O Meu Moviculturais que não pofortes tradições tauromáquicas mento”, e que logrou nham em causa a vida e de acentuadas raízes rurais (...) que reunir mais de 8 mil e o direito ao bemcomo acontece com os concevotos, “não é admissíestar dos animais, só se revela lhos vizinhos da Moita, Montijo vel que no panorama que não transmitam verdadeiramente e Alcochete. Setúbal possui um atual, vários milhões às gerações mais jo- rentável, não para riquíssimo passado ligado às atide euros das nossas vens valores ligados a cidade, não vidades marítimas e comerciais. finanças públicas seà indiferença perante para a população Falar de Setúbal é falar do Estujam canalizados para o sofrimento injustiário do Sado, da imponente serde Setúbal, mas a criação de animais ficado e à eleição da ra da Arrábida e da península de para entretenimento, violência como marca para as empresas Tróia, todos eles parte integrante construção de praças da supremacia do ser tauromáquicas de um valiosíssimo património de touros, aquisição humano perante os natural que deve ser defendido de bilhetes para touradas e para outros seres com os quais partie preservado. Falar de Setúbal é subsídios”. lhamos a nossa existência num falar de uma cidade histórica, diEm tempos perguntava planeta que deveria ser de todos. nâmica, palco de fortes tradições
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AGO 2012
NR 25
Na vazante 07