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NR 29
ano: 2012 . nr 29 . mês: Dezembro . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €
http://jornalosul.hostzi.com / Saiba mais sobre nós em Prima folia Cooperativa Cultural
Serve o presente texto para comunicar o fim do nosso mandato como dirigentes da Prima Folia. Saímos, após cinco anos de direção, pois acreditamos que devem existir limites à representação que devem ser exercidos com moderação. É importante abrir espaço à renovação, que agora terá início. Como se compreende, o retorno de cada qual à sua vida civil, em nada retira o direito e o dever de intervenção em prol da defesa dos valores que sustentamos e de influenciar o nosso tempo na luta sem tréguas pela justiça social. Estamos de saída tal e qual aqui entrámos, sem um tostão a mais, sem reformas escondidas ou subsídios camuflados. Ao longo destes anos fizemos as mais variadas propostas, realizações e denúncias. A nossa ação foi importante para motivar mudanças nas práticas culturais em Setúbal. Quem connosco esteve lembrar-se-á de algumas. Esperamos que os nossos adversários também se lembrem. Graças a essas intervenções houve mudanças que fizeram Setúbal respirar melhor. Apesar dos tempos conturbados em que vivemos, temos consciência que cumprimos, o melhor que pudemos, o nosso compromisso com essas muitas pessoas que representámos, os associados, os simpatizantes e as mais das vezes, muitas mais. O ativismo cultural, ou contracultural, tornouse um elemento fundamental da garantia de uma democracia real. Continuam a ser tão válidos amanhã, como o eram há cinco anos atrás, a defesa intransigente das liberdades de pensamento, de consciência e de religião, das liberdades de opinião e de expressão e das liberdades de reunião e de associação. Não caducou a afirmação inflexível de que a cultura deve visar o enriquecimento e explanação das potencialidades da personalidade humana, reforçar os direitos e liberdades fundamentais, dignificar os indivíduos, favorecendo a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais, étnicos e religiosos. Não transigimos no direito fundamental de todas as pessoas de estarem ao abrigo da fome do conhecimento, o que implica combater para corrigir as diferenças socioeconómicas desestruturantes de uma verdadeira comunidade. Como dizia o grande Raul Brandão, temos de
crer que: “Nós não somos inutilidades num mundo feito, mas os obreiros de um mundo a fazer.” Lutar pelo alterar de um rumo que outros dizem ser inevitável, unir pessoas e unirmo-nos a elas em torno de objetivos que nos levem a emanciparmo-nos e a criar esperanças no sentido de uma pólis solidária. A cultura que propusemos é a mesma de que Agostinho da Silva falava; abanar mentalidades e romper fronteiras, porque realmente de estômago vazio não há cultura nem identidade alguma que resista. Uns estão entrincheirados em condomínios privados, outros a viver em barracas ou pouco melhor e a tentar sobreviver ao desemprego que campeia livremente. A cultura serve para mostrar a nós próprios que somos melhores do que aquilo que pensamos ser, como afirmava Jorge de Sena. Vivemos hoje numa conjuntura em que uma elite se agarrou aos comandos do Estado desde o 25 de Abril, semeando ilusões e que teima em não o largar. São os mesmos rostos atormentados, soluções velhas a tentar resolver problemas novos. Por aqui, a isto se lhe junta elites locais obsoletas, que deliberam profusamente, obstinadas em se perpetuarem, magicando frequentemente medidas que imaginam de alcance napoleónico. Este é o sistema propriamente dito, em que todos são cúmplices e ninguém tem culpa. Em simultâneo, a geração mais bem preparada de sempre em Portugal, é obrigada a estar desempregada ou precária, mendiga guarida em casa dos pais e é tratada como um incómodo. Por isso emigramos. Somos a Margem Esquerda na diáspora. As pessoas estão fartas de todos os pastores que prometem o céu e hipotecam a nossa terra, as nossas casas e as nossas dispensas. Há urgência para implementar novas soluções, para acabar de vez com esta triste conjuntura, mesquinha e pequenina, que a todos envolve pegajosa, pastosa, pesada. O tempo favorece-nos. Somos mais novos, somos mais instruídos, somos mais universalistas e dentro de poucos anos seremos mais numerosos. E abriremos espaço à vassourada. Não nos vimos despedir, mas antes falar-vos do futuro. A Direção da Prima Folia
Ilustração . www.DinisCarrilho.com
AO AMANHÃ