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NR 26
ano: 2012 . nr 26 . mês: Setembro . director: António Serzedelo . preço: 0,01 €
Mandar o agressor para onde deve ir “Todos temos de fazer sacrifícios”, o slogan dos políticos que nos colocaram neste estado de coisas, repetido até à náusea pelos seus avençados na comunicação social, fez escola; a par de um outro que acusa quem duvida desta narrativa “de empurrar a dívida com a barriga”. Dívida, dívida… não se tem ouvido e lido outra coisa, de “Dívida Pública”, de “nós”. Todos aqueles que se atreveram “Dívida? Muito bem, façamos uma Auditoria para se saber pormenores dessa dívida, saber quem deve o quê…” foram absolutamente cilindrados, desapareceram da comunicação social. Só os Dupont & Dupont têm lugar para falar de “alternativas”. E descaradamente, sem puder, viram-se para as suas câmaras privadas e perguntam: “Alternativas, onde estão?” Tudo para nos convencerem da nossa “culpa”. E convenceram, muitos reproduziram-lhe o discurso, com a mesma convicção daquela mulher que apanha constantemente pancada do cobarde do marido e se convenceu de que as nódoas negras são culpa sua. E temos vindo a pagar, sem sequer exigir que se coloque a nu quem contraiu a dívida, porquê… e quem lucrou no entretanto. E entregámos o dinheiro de um empréstimo inteiro aos bancos, aos mesmos que andaram a “brincar” nos casinos financeiros internacionais, a distribuir dividendos pelos seus accionistas e a pagar principescamente aos seus gestores. Como se fosse normal. A proposta de aumento de 7 pontos percentuais da Taxa Social Única, TSU, para os trabal-
hadores por conta de outrem e a descida de 5,75 por cento da contribuição das empresas não representa somente um cálculo de contas mal feito – também é, conforme o estudo tornado público por investigadores das Universidades do Minho e Coimbra -, não é um acidente de percurso motivado pelo voluntarismo, ou erro de cálculo de quem só está habituado a fazer contas de somar, é a demonstração mais evidente da forma peculiar como os poderosos do dinheiro e os seus peões no xadrez da sociedade olham para quem não teve a oportunidade de crescer à sombra de uma juventude partidária e do emprego proporcionado por cúmplices políticos. Aos outros resta darem sinais de vida, como no passado dia 15 de Setembro. Relembrando a mulher espancada, mandar o agressor para onde deve ir: à merda! José Tavares da Silva Deputado da Assembleia Municipal de Setúbal, eleito pela lista do Bloco de Esquerda
Ilustração Dinis Carrilho
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