Sotaques nº8 Janeiro

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Janeiro| 2015 Nº 08 | Gratuito

Agostinho da Silva, cidadão de Portugal e do Brasil

Angra dos Reis, uma beleza com cinco séculos Maestro João Carlos Martins toca uma Sinfonia luso-brasileira

Paulo Mendes da Rocha: o arquitecto

que conduz o Museu dos Coches para o futuro

Um patriota

brasileiro português

com sangue


Editorial Simplesmente Agostinho da Silva

criar, para ser solidário, para se cumprir como ser humano.

Era inevitável. Agostinho da Silva tinha de ser falado na

Também revelamos um Agostinho, cidadão do Brasil.

revista Sotaques, era um dever que tínhamos com os nos-

Pioneiro do ensino universitário, dinamizador incansável

sos leitores, abordar aprofundadamente a vida e obra

de atividades culturais, precursor do estudo sobre a in-

deste cidadão do Brasil e de Portugal, homem de duas

fluência da cultura negra na Bahia, ele foi um cidadão

pátrias, pensador e homem de acção que deixou uma

brasileiro empenhado em ajudar a construir o Brasil

marca na existência dos dois povos.

moderno, multicultural, o Brasil como país do futuro. A dimensão literária deste criador também está muito

O que dizer de um homem que ajudou a fundar quatro

presente nesta edição. Através dos seus ensaios - nome-

Universidades brasileiras, múltiplos centros de estudos,

adamente numa das suas obras mais relevantes “Sete

que participou na organização da Exposição dos qua-

cartas para um jovem filósofo”, mas também da sua poe-

trocentos anos da cidade de São Paulo ou que foi as-

sia, leve e profunda, que defende a liberdade do homem

sessor para a cultura do Presidente Jânio Quadros na

como um valor supremo.

década de 60 ? E que, em Portugal, foi pioneiro de uma

Falando em leveza e beleza também realçamos dois cri-

nova forma de entender a pedagogia e a filosofia, de

adores brasileiros -o arquitecto Paulo Mendes da Rocha

entender o homem ética e moralmente, suscitando a hos-

e o Maestro Paulo Mendes da Rocha. Destacamos a sua

tilidade do Estado Novo e, nos anos 90, o fascínio dos

ligação forte a Portugal, e o modo como a sua criativi-

portugueses que ficaram fascinados com a sua figura,

dade é admirada e se projecta no nosso país.

no programa de televisão “Conversas Vadias”.

Também teremos as habituais rubricas de moda - por

Há muito a dizer sobre Agostinho da Silva. Homem múlti-

António Granja - e o microconto de Jon Bagt . O primei-

plo de múltiplos talentos, Agostinho admirava Fernando

ro com resoluções para começarmos melhor o novo ano,

Pessoa - um dos seus livros mais célebres chama-se “Um

com estilo e poucos custos, e o segundo num admirável

Fernando Pessoa” - e possuía também o dom da heter-

microconto sobre a amizade verdadeira neste tempo in-

onímia, de assumir uma série de dimensões excepcio-

stantâneo das novas tecnologias.

nais, de facetas, o que o tornava numa personalidade

Começamos, pois, o ano sob o signo de Agostinho. Sim-

mágica .

plesmente Agostinho da Silva.

Podemos falar do Agostinho da Silva místico e religioso.

Entre connosco no intrigante universo deste homem ex-

Aquele que era devoto da crença no Espírito Santo e

cepcional, nesta edição de Janeiro.

da ideia de que essa filosofia de vida se devia aplicar à sociedade contemporânea, libertando o homem para

António Bernardini

Editor: António Bernardini Diretores: Rui Marques e António Bernardini Colaboradores Portugal - Rui Marques , Arlequim Bernardini , António Granja , Jon Bagt ,Gonçalves Guerra Brasil - Paulo César , Hernany Fedasi

Revista Sotaques Brasil Portugal Tel. 351 917 852 955 - 351 916622513 antonio.sotaques@gmail.com - rui.sotaques@gmail.com www.sotaques.pt - www.facebook.com/sotaques


Índice

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A filosofia do espírito santo que iluminava Agostinho da Silva Palácio de Belém Resoluções com estilo Sete cartas a um jovem filósofo Pastel de feijão de Torres Vedras Um patriota brasileiro com sangue português Agostinho da Silva, cidadão de Portugal e do Brasil Vintage Existenz Maestro João Carlos Martins toca uma Sinfonia luso-brasileira Livros Digitais independentes: uma nova forma de aproximar escritores e leitores Ilha dos Amores Paulo Mendes da Rocha: o arquitecto que conduz o Museu dos Coches para o futuro Angra dos Reis, uma beleza com cinco séculos


Sotaques

A filosofia do espĂ­rito santo que iluminava

Agostinho da Silva 4


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Sotaques

Compreender Agostinho da Silva implica perceber a importância que tinha a filosofia do espírito santo no seu pensamento. Uma filosofia espiritual que teve e tem uma profunda influência no modo como vemos a evolução histórica de Portugal e do Brasil. Agostinho da Silva tinha uma natureza intrinsecamente religiosa e providencialista. Não de uma religiosidade formal, mas de uma crença que via na história sinais de permanente mudança, de um sentido último que se materializava através da acção dos homens. Nesse sentido, é exemplar o testemunho que ele dá na obra “Agostinho por si próprio” ao realizador de cinema António Escudeiro, e que só foi publicada após a sua morte, em 2006. Nesse livro em forma de entrevista, o filósofo fala da ligação umbilical que os portugueses têm em relação ao Espírito Santo: ele vê nessa Entidade uma força que move o povo português, que lhe estimula os dons mais generosos, a sua capacidade, associando-o ao movimento dos Descobrimentos portugueses. Agostinho da Silva assinala que o culto do Espírito Santo, celebrado

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nos Açores, se expandiu para o mun não fosse uma mera festa anual, r mas que se torne num novo tempo pratiquemos quotidianamente. A este respeito dizia Agostinho qu nascia de graça e passava a vida advento da idade do espírito santo Trindade e permitiria ao homem ser Elogiava o povo português e o possuíam essa imaginação e vontad que a produtividade era o fim últi forma de pensar desvalorizava o im que existiam no mundo. A filosofia do Espírito Santo não locais. Noutro enxerto desta entrevi contava a história de franciscanos a rituais do enterro da população ne Sugeria aos franciscanos que tinh


ndo. E que era essencial que o culto seja tinham de respeitar a cultura local, em vez de impor a sua própria repetida com os mesmos símbolos, cultura. o, numa nova filosofia de vida que As festas do Espírito Santo têm uma grande importância nos Açores. Segundo as fontes históricas, estas festas terão origem medieval, em ue o homem “era o único ser que 1321, quando o convento franciscano de Alenquer sob a protecção a a ganhá-la”. Tinha a certeza do da rainha Isabel de Portugal e Aragão, passou a celebrar o Divino o que faria a síntese da Santíssima Espírito Santo, arrecadando bens para a população mais carenciada. plenamente humano e imaginativo. Nos Açores a festa é celebrada anualmente cinquenta dias após a povo brasileiro como povos que Páscoa, no dia de Pentecostes quando o Espírito Santo desceu do céu de de criar. Criticava quem achava sobre a Virgem Maria e os Apóstolos, segundo o Antigo Testamento. imo da humanidade, porque essa No Brasil a tradição foi levada pelos portugueses, e é celebrada em mprevisível, a criatividade, as ideias Estados como Santa Catarina e a Bahia.

o colidia, porém, com as crenças ista publicada em livro e em vídeo, alemães que não compreendiam os egra na Bahia. ham de boiar e não de nadar. Ou

João Castro

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Palácio

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de

Belé


ém

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A

história do Palácio de Belém, atual residência do Presidente da República portuguesa, está intimamente ligada à do Museu dos Coches. Ambos estão localizados na Zona de Belém, compartilhando um percurso cheio de vicissitudes que atravessa mais de cinco séculos da vida portuguesa.

de 1910 recebeu o Presidente da República brasileira, o marechal Hermes da Fonseca - e foi nele que D.Manuel II foi informado da Revolução republicana e do assassinato do seu pai e irmão.

A partir de 1912, o Palácio de Belém é designado como residência oficial dos Presidentes da República. Para evitar comparações com o Quem diria que um símbolo da Monarquia regime monárquico, os Presidentes eleitos se tornaria, cinco séculos depois, na moradia pagavam ao Estado uma renda para o habitar oficial dos Presidentes da República ? Ou que o - e nas duas primeiras décadas da República antigo picadeiro deste Palacete do século XVI se sucederam-se, no seu interior, acontecimentos transformaria no magnífico Museu dos Coches, marcantes como o velório de Sidónio Pais ou a o monumento português mais visitado ? renúncia ao cargo de Bernardino Machado, em Para conhecermos melhor a evolução improvável 1926. destes dois ícones da arquitectura nacional, temos de recuar ao ano de 1559. Foi nessa data Durante o Estado Novo, Belém perdeu que o fidalgo D.Manuel Portugal o mandou importância. Os Presidentes da República, no construir, na zona de Belém. Salazarismo, eram figuras decorativas e só Craveiro Lopes fez de Belém sua residência No século XVIII, o rei D.João V comprou-o ao oficial entre 1951 e 1958 - Américo Tomás Conde de Aveiras, o seu proprietário na altura, apenas utilizava o Palácio nalgumas recepções remodelando-o e acrescentando-lhe uma Escola oficiais . de Equitação. Dessa extensão resultaria o Com o 25 de Abril de 1974, o Palácio de magnífico Museu dos Coches, um dos museus Belém recuperou a sua dignidade institucional portugueses mais visitados. - a Constituição de 1976 assinalava-o como Quando ocorreu o terremoto de Lisboa, em residência oficial do Presidente da República 1755, a família real e o rei D.José encontravam- . Dessa data até à atualidade, apenas o se na zona de Belém e decidiram ficar em Presidente Ramalho Eanes habitou a tempo tendas nos jardins do Palácio, transformando o inteiro em Belém - todos os demais Presidentes o seu interior num Hospital. O Palácio passava a usam ou usaram como local de trabalho. fazer parte do património régio, construindo-se nos seus anexos o Picadeiro régio. Símbolo da História de Portugal, o Palácio de Belém sobreviveu à mudança dos regimes, às D. Maria II habitou durante alguns anos o crises, às guerras. Ele é a marca perene de um Palácio - foi o epicentro de uma revolta militar, a país que se afirma, geração após geração, Belenzada - e serviu como local de recepção dos como uma Nação orgulhosa do seu passado convidados reais durante o reinado de D.Luís. A histórico. partir de 1888, o Palácio de Belém torna-se na residência oficial do rei D.Carlos e da sua jovem António Santos esposa D.Amélia de Orleães, nascendo lá os seus fihos Luís Filipe e D. Manuel II, que foram baptizados na capela Palatina. Em 1905, por iniciativa da rainha D.Amélia, o Picadeiro real converteu-se no Museu dos Coches reais. O Palácio de Belém continuou a receber os visitantes ilustres - a 2 de Outubro

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Moda

O início de um novo ano é, por excelência, a altura renovarmos. Por isso, tenha em conta estas sete sugestões q 12


Resoluções com estilo

de tomar resoluções, de efectuar mudanças, de nos que pode seguir para que 2015 seja um ano mais estiloso. 13


Moda

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1 Amar-se

5 Reciclar

2 Ser o “Próprio”

6 Vintage

3 Arriscar

7Acessórios e Calçado

O primeiro passo para poder desenvolver um estilo próprio é aceitar-se tal como é, com todos os defeitos e qualidades que a natureza lhe deu. Cuide de si e do seu corpo, mas sem obsessões e exageros. Felizmente, não somos todos iguais e não existem corpos perfeitos. Aprenda a gostar da sua forma e use a moda como uma maneira de acentuar os seus pontos fortes.

As roupas e acessórios que usamos devem falar sobre nós, dar uma primeira prova daquilo que somos por dentro. Não tente imitar ninguém , nem adopte quem quer que seja como um absoluto guru do estilo. Descubra o que lhe fica bem. O que favorece o vizinho do lado pode não se adequar a si.

Dificilmente se cria um estilo sem tomar alguns riscos. Isto não quer dizer que tenha que andar pela rua como um circo ambulante, mas, às vezes, um pequeno apontamento mais extravagante ou uma escolha incomum fazem toda a diferença. Claro que, numa época em que se consome vestuário criado em massa, a originalidade pode ser difícil de alcançar. Todavia, há algumas opções que pode tomar, sem esvaziar demasiado a sua carteira.

4 Personalizar

Uma forma de tornar o seu guarda-roupa único é personalizando-o. Pegue nas roupas que tem e pense em alterações que as tornem exclusivas. Por vezes, uma pequena ideia, um pormenor sem importância, é o bastante para conferir a uma peça o twist que lhe faltava. Sem ideias? Experimente colocar aplicações, coser botões diferentes, transformar um casaco num colete ou uma t-shirt num top, criar estampados originais com técnicas caseiras. Use a sua criatividade!

Reinventar as roupas velhas guardadas no armário também é uma boa opção. Assalte a parte profunda do seu guarda-fatos, ou o dos pais, ou o dos avós. Recorra a todos os meios disponíveis para renovar aquilo que encontrar, actualizando-o e tornando-o seu. Se o seu forte não é o corte-e-costura, pode sempre recorrer aos serviços de uma costureira, o que, em alguns casos, ainda lhe ficará mais barato do que comprar uma peça nova.

Como a moda está constantemente a revisitar as décadas passadas, as lojas de roupa vintage podem ser grandes aliadas de quem procura um novo estilo. Há autênticas preciosidades perdidas nas prateleiras e cabides desses estabelecimentos que surgem, com cada vez mais frequência, pelas ruas das grandes cidades.

Porque nem só do vestuário vive o estilo, os acessórios e calçado podem ser essenciais para completar um look. Estes elementos podem harmonizar o outfit, ou tomar um lugar de destaque no conjunto. Um chapéu, uns sapatos originais ou um colar vistoso servem de factor chamativo para quem prefere um guarda-roupa mais discreto. Façamos, pois, um pequeno resumo: com amorpróprio e alguma imaginação, sem medo de arriscar e sem gastar muito dinheiro, todos podem ter acesso a um 2015 com mais estilo e diversão. Um bom ano! António Granja

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Literatura

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Sete cartas a um jovem

A

filósofo

obra "Sete cartas a um jovem filósofo" é um exemplo da filosofia dialogante de Agostinho da Silva. Uma filosofia sem mestres nem ídolos, alicerçada num pensamento aberto e universalista, que encara o outro, não como um inimigo ou um inferior, mas como alguém que nos ajuda a evoluir no mundo. Agostinho da Silva postulava um pensamento com profundas raízes socráticas. Não é por acaso que a sua tese de doutoramento versava sobre as civilizações clássicas: existia nele uma pulsão criativa e inclusiva, que se materializava em diálogos abertos, sem pretensas verdades absolutas, estimulando a construção de novos saberes e conhecimentos. Ao longo da sua vastíssima obra, esta visão universalista do que é o conhecimento foi tomando forma. Obras como "Diário de Alceste" ou "Sete cartas a um jovem filósofo" mostravam um pensador que, mais do que apontar os caminhos do saber, optava por colocar novas perguntas que brotavam da dúvida, e abriam um leque de possibilidades que nos ajudavam a tomar decisões no nosso quotidiano. As grandes questões do mundo nascem das tomadas de decisão ética do homem. São concretas e reais, e não abstrações mais ou menos inúteis, que formulamos para nosso mero deleite intelectual.

vida é uma extraordinária aventura. E que vivemos num estado de semi-consciência, porque se tivéssemos plena consciência de todas as suas potencialidades, explodiamos. Também descobrimos, neste livro, um Agostinho da Silva que pensa para além do seu meio intelectual. Noutra carta escreve ele que ser arrebatado pela arte, por qualquer forma artística implica ficar prisioneiro numa moldura, e ser excluído da vida, pois viver é quebrar todas as molduras e regressar à lei da Selva. A relação mestre/discípulo convencional não convence Agostinho. Escreve ele que os seus discípulos, a existirem, são aqueles que discordam dele, porque aprenderam que o essencial é não se conformarem . Publicadas em 1945, estas cartas traçam o perfil de um intelectual crítico com todos os intelectualismo e formalismos que amordaçavam a sociedade portuguesa. São estes dogmas que nos impedem de pensar e mudar, porque o pensamento e a ação são as duas faces da mesma moeda, reflexo um do outro. O magnetismo desta obra reside em que, apesar de ser endereçada aos jovens filósofos, ela dirige-se para o mundo, para a polis, para a sociedade. À imagem da filosofia de Agostinho da Silva: uma filosofia que não se fechava nas estreitas salas da Universidade, mas que se abria ao outro, e a tudo aquilo que o outro trazia para a evolução do nosso pensamento.

Por exemplo, numa das sete cartas que envia aos jovens filósofos, o autor critica a palavra tolerância. Diz ele, e com fundamentação, que a tolerância representa uma ideia diabólica travestida de celestial, já que tolerar alguém João Castro é suportá-lo e não respeitá-lo integralmente. Noutra passagem das cartas defende que a

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Sabores e Paladares

feijão de Torres Vedras Pastel de

O pastel de feijão é um doce típico de Portugal, confeccionado em Torres Vedras desde os finais do século XIX, que tem uma versão brasileira mais salgada. Embora a receita varie um pouco consoante o fabricante, tem como ingredientes base a amêndoa e o feijão branco cozido. A autora original da receita chamava-se Joaquina Rodrigues, era habitante de Torres Vedras no final do século XIX e confeccionava os pastéis só para familiares e amigos. O modo de confecção foi posteriormente passado a conhecidos e familiares, como D. Maria, a primeira pessoa a comercializar os pastéis, e Maria Adelaide Rodrigues da Silva. Álvaro de Fontes Simões, casado com esta senhora, começou a explorar comercialmente o fabrico dos pastéis, que rapidamente alcançaram grande sucesso além das fronteiras da vila.

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Nesta altura eram confeccionadas algumas dúzias de pastéis por dia.Em meados do século XX são abertas duas fábricas, a "Coroa" e a "Brazão", por Virgílio Simões e D. Virgília Simões, respectivamente (ambos filhos de Álvaro Simões). O tempo de produção é reduzido, consideravelmente, pela introdução de máquinas de moer amêndoa e fornos eléctricos. Atualmente existem várias fábricas de produção de pastéis de feijão, doce que se tornou típico de Torres Vedras. No Brasil há uma variação do pastel de feijão, com um sabor mais salgado e recheado com feijão preto, próprio para feijoada, e é muito popular na cidade do Rio de Janeiro, em especial no bairro de Santa Tereza. António Santos


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Um patriota

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brasi portu


ileiro uguĂŞs

com sangue

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A

ligação de Agostinho da Silva ao Brasil foi absolutamente marcante no seu percurso biográfico. Durante mais de vinte anos - entre 1947 e 1969 - o intelectual português teve uma acção catalisadora em áreas do pensamento, do meio universitário e das múltiplas atividades culturais, fazendo do Brasil uma segunda pátria. Não nos enganaremos se dissermos que Agostinho da Silva foi a personalidade portuguesa mais determinante no Brasil, durante o século XX. Determinante porque não se limitou à docência académica, preferindo ter um papel de grande dinamizador da cultura brasileira.

Universidade Federal de Santa Catarina como desempenha funções como Diretor da Cultura do Estado, trabalhando na Direcção-geral do Ensino Superior do Ministério da Cultura. Apesar desta actividade permanente, continua a escrever. Nesta década são publicadas obras como “Um Fernando Pessoa”, “Ensaio sobre uma teoria do Brasil” ou “ Reflexão à margem da Literatura portuguesa”.

A etapa seguinte deste nómada intelectual universal situa-se na Bahia. Junta-se em 1959 a Eduardo Lourenço - outra referência intelectual nacional -e ensina Filosofia do Teatro , desenvolvendo um projecto que visa dar a A sua influência na evolução do ensino conhecer o legado negro na cultura brasileira universitário brasileiro é extraordinária. Esteve na - neste âmbito, funda o Centro de Estudos Afrogénese de quatro Universidades brasileiras - as Orientais da Universidade Federal da Baía. Universidades Federais de Brasília, de Goiás, de Paraíba e de Santa Catarina - bem como na Na última década em que viveu no Brasil, criação de vários Centros de estudos e Cursos. Agostinho da Silva esteve ligado à fundação da Tudo começou em 1947, quando veio viver para Universidade de Brasília. Em 1962 foi um dos São Paulo, em ruptura com o Estado Novo de impulsionadores da criação do Centro de Estudos Salazar. Mais tarde mudou-se para a Serra portugueses nesta Instituição brasileira. da Itatiaia, onde viveu com a segunda mulher, Judith Cortesão - o matrimónio teve seis filhos - Em 1963 viajou como bolseiro da Unesco e deu convivendo com o casal Dora e Vicente Ferreira aulas em Tóquio. Conheceu também Macau, da Silva e com os modernistas brasileiros. Timor e os Estados-Unidos. Entre 1948 e 1952 vive e ensina no Rio de Janeiro. Curiosamente ensina disciplinas científicas como Entomologia, Parasitologia e Zoologia no Instituto Oswaldo Cruz, ao mesmo tempo que dá aulas na Faculdade Fluminense de Filosofia, e que colabora com outro ilustre exilado português, Jaime Cortesão, na investigação histórica sobre a figura de Alexandre de Gusmão.

Os últimos anos em solo brasileiro foram vividos entre a Cachoeira e Salvador da Bahia. Nesta cidade fundou o Centro de Estudos Paulo Dias Adorno e idealizou o Museu do Atlântico Sul. Estas são umas brevíssimas notas sobre a relação umbilical entre Agostinho da Silva e o Brasil. Muito mais haveria para contar sobre Agostinho da Silva. Um patriota brasileiro com sangue português !

Na década de cinquenta instala-se no Estado da Paraíba - em 1952 - ajudando a criar a Universidade Federal de Paraíba (João Pessoa) Paulo César e leccionando História antiga e geografia física. Espírito irrequieto organiza, em conjunto com Jaime Cortesão a exposição sobre os 400 anos da fundação da cidade de São Paulo, em 1954. Da Paraíba vai para Santa Catarina. Neste Estado brasileiro não só é um dos fundadores da

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Agostinho da Silva, cidad達o de Portugal e do Brasil

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Capa

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É

, indesmentivelmente, uma das grandes notícias do próximo ano no seio das Literaturas portuguesa e brasileira. Agostinho da Silva, o filósofo e pensador, cuja obra e ação marcou o panorama intelectual e universitário dos dois países, terá uma biografia publicada em 2015, escrita por António Cândido Franco.

múltiplas actividades culturais e no crescimento das Universidades brasileiras. Deu aulas no Instituto Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro - de entomologia- e na Faculdade Fluminense de Filosofia. Paralelamente colaborou com outro ilustre exilado português, Jaime Cortesão, na pesquisa sobre Alexandre de Gusmão e, em 1954, na organização da exposição do quarto centenário da cidade de Perceber a dimensão de Agostinho da Silva é São Paulo. uma tarefa inglória. Se pudéssemos estabelecer Foi um dos fundadores da Universidade Federal uma comparação, diríamos que ele só é de Santa Catarina e da Universidade de Brasília. equiparável ao padre António Vieira como Também foi assessor para a política externa do grande referência histórica, como intelectual Presidente Jânio Quadros, em 1961, e idealizou que, claramente, marcou as relações entre o o Museu do Atlântico Sul em Salvador da Bahia. Brasil e Portugal. Refira-se que, no seu pensamento filosófico, Vasculhando os dados na sua vida, teve uma importância central a filosofia do descobrimos o perfil de um verdadeiro homem Espírito Santo. Uma corrente filósofica assente da Renascença. George Agostinho Batista da numa convicção da existência de um sentido Silva nasceu no Porto, a 13 de Fevereiro de providencial da ação humana. 1906, estudando nessa cidade na Faculdade Entre 1947 e 1969 viveu no Brasil e, em 1969, de Letras, onde se licenciou aos 23 anos, com regressa a Portugal. Com a morte de Salazar e uma média de 20 valores e uma tese sobre "O o fim do regime, voltou a dar aulas. sentido histórico das civilizações clássicas". Os portugueses ficaram a conhecê-lo melhor, Após uma passagem como bolseiro pela na década de 90. Nas " conversas vadias" da Sorbonne, regressa a Portugal para dar aulas RTP viam um diálogo vivo entre Agostinho da em Aveiro. Um incidente, porém, faz com que Silva e várias figuras da cultura nacional, num seja expulso do estabelecimento de ensino onde programa que fascinou uma geração. leccionava: recusa-se a assinar a famigerada Morreu em 1994, no Hospital Francisco Xavier. Lei Cabral, que obrigava os docentes a não Embora a palavra morte não se aplica a figuras participarem em organizações secretas e como Agostinho da Silva, cuja crença parece subversivas, e sai para Madrid onde vai estudar residir na alma e não no corpo físico. para o Centro de Estudos Históricos. Um cidadão de Portugal e do Brasil ! As perturbações decorrentes da Guerra Civil espanhola, fazem-no voltar a Portugal. Aqui cria Rui Marques o Núcleo Pedagógico Antero de Quental, em 1939, que publica os cadernos de informação cultural, no ano seguinte, chamando a atenção da polícia política de Salazar. Preso em 1943, volta a exilar-se viajando para vários países da América Latina. É já na década de quarenta que se fixa no Brasil. Agostinho da Silva foi muito mais do que um português de passagem por terras brasileiras. Foi um cidadão brasileiro, empenhado em

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Microconto

Vintage

Existenz Tadeu Izubiarco não tinha telemóvel. Não tinha computador. Não tinha internet. Num dia de inverno, recebeu um cartão de um velho amigo, emigrado para a casa ao lado, na rua de sempre. O cartão trazia escrito no verso, um número de telemóvel, 991517634, um endereço electrónico e uma morada de uma loja de informática. Tadeu respondeu ao amigo: “… Nove pessoas passam à tua entrada todos os dias: O padeiro, o leiteiro, o ardina, o cobrador de impostos, o jardineiro, o motorista do trinta e sete, o filho da vizinha, a vizinha e o homem que carrega o lixo. Há nove meses que não te vejo. Há um ano que deixaste o emprego. Há cinco anos que casaste com o filho do teu pastor. Há um ano que não sais para levar o amor à vizinha do sétimo esquerdo. Há sete anos que não jogas na lotaria. Há seis meses que não entras num templo. Há três anos que não reparas que a Humanidade enlouqueceu. Há quatro dias que não vejo a luz acesa na tua casa. Desconfio que adoeceste e ninguém te avisou…”. Selou a carta, escreveu a morada e entregou ao carteiro. Por um dia, só por mais um dia, alguém levaria notícias de outro mundo ao amigo de Tadeu Izubiarco…. Jon Bagt

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Música

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Jo達o Carlos Martins Maestro

toca uma Sinfonia luso-brasileira

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Música

Com origens e ligações familiares a Portugal, o Maestro brasileiro João Carlos Martins foi condecorado, em 2014, com a Ordem do Infante, uma das mais importantes condecorações portuguesas. Nada estranho para um pianista que é um exemplo de excelência artística, sendo considerado o melhor intérprete vivo de Bach. A precocidade é apanágio dos talentos. Na música, o virtuosismo está associado aos mais jovens, aqueles que aprendem, desde a infância, o poder mágico e sedutor das notas musicais, quer sejam compositores ou toquem um instrumento. João Carlos Martins não foge à regra. O Maestro brasileiro com raízes portuguesas nasceu em São Paulo em 1940 e, ainda criança começou a tocar, vencendo um concurso para intérpretes de João Sebastião Bach. Aos 11 anos estudava piano seis horas por dia. O seu talento também era reconhecido internacionalmente e tornou-se um dos representantes das Américas no Festival Casals, apresentando o recital final em Washington. 32


Com origens e ligações familiares a Portugal, o Maestro brasileiro João Carlos Martins foi condecorado, em 2014, com a Ordem do Infante, uma das mais importantes condecorações portuguesas. Nada estranho para um pianista que é um exemplo de excelência artística, sendo considerado o melhor intérprete vivo de Bach.

Com apenas 20 anos tocou numa das salas míticas dos Estados-Unidos, o Carnegie Hall de Nova Iorque sob o patrocínio da primeira dama norteamericana, Eleanor Roosevelt. Tocou com as grandes bandas americanas e gravou integralmente a obra de Bach, e foi ele quem inaugurou o prestigiado Glen Gould Memorial em Toronto. Não se pense, porém, que João Carlos Martins não enfrentou obstáculos durante a sua carreira. Sofreu vários problemas físicas e doenças que condicionaram a sua actividade artística. A primeira ocorreu quando foi convidado a integrar um jogo treino da equipa de futebol da Portuguesa dos Desportos - de que é fiel adepto - no Central Park em Nova Iorque. Como consequência perfurou o braço direito e provocou-lhe a atrofia de três dedos - esteve um ano sem poder tocar e limitando-o nos seus recitais até aos trinta anos. Em 1995, em Sofia, foi agredido no decorrer de um assalto, que lhe provocou sequelas no uso do braço direito. Com limitações na mão direita, passa a tocar só com a mão esquerda e apresentou, em 2000, o espectáculo "Só para a mão esquerda" escrito por Paul Wittengstein, que tinha perdido a mão esquerda na primeira guerra mundial. 33


Música

Sofreu um novo problema de saúde, uma contratura, no braço esquerdo. Julgou que não voltaria a tocar, mas após uma nova operação regressou ao seu amado piano. Em 2004 gravou dois CDS de Bach. Ele que é considerado o maior pianista vivo do grande Compositor alemão - conta-se até que o pintor Salvador Dali lhe teria dito isso mesmo quando o ouviu tocar num Concerto. Este adepto incondicional da Portuguesa dos Desportos de São Paulo tocou, em 2007, o hino brasileiro no jogo em que a equipa regressava à Série A do campeonato brasileiro. E foi alvo de uma homenagem carnavalesca pela Escola de São Paulo "Vai Vai", com o enredo " A música venceu", desfile em que o Maestro tocou a bateria durante alguns instantes . A vida de João Carlos Martins foi abordada num documentário franco-alemão intitulado "Paixão segundo Martins" exibida em vários canais europeus e na televisão brasileira. Também se deve realçar o seu papel solidário, já que é o mentor de um programa de introdução à música para jovens carenciados na Faculdade de Música da Faculdade da Amazónia. O Maestro João Carlos Martins continua a tocar e a vencer as contrariedades. É um símbolo dessa Sinfonia luso-brasileira que é a nossa cultura. Arlequim Bernardini

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Sotaques

Num mercado influenciado por modismos editoriais, é um grande desafio para novos escritores conseguir, ao menos, uma simples avaliação por parte das editoras. Ou se escreve o que o mercado pede, ou nada feito! Isso fere a liberdade de quem escreve, pois impede que cada autor(a) desenvolva seu estilo próprio, e assim cative seu público leitor. A liberdade de expressar sensações, emoções, reflexões entre outras coisas é fundamental para aqueles que entendem a Literatura como uma “razão de ser”, para aqueles que mantêm uma relação de amor com as palavras, e para aqueles que entendem o sentido transcendente de todas as Artes. Uma alternativa viável a todas as pessoas que sonham alcançar o reconhecimento literário, é lançar livros digitais de forma independente e divulgá-los nas redes sociais. É o que faz a professora, poetisa e escritora Maria Cleide da Silva Cardoso Pereira, que por meio do seu projeto de incentivo à leitura e à escrita, divulga suas obras literárias de modo a conquistar leitores, e incentivar novos escritores. Formada em Letras pela Universidade Federal do Pará, Maria Cleide menciona que, desde a infância, tinha paixão pela leitura. As suas grandes influências foram on seu avô materno, Josué, a quem sempre chamou de pai, e a sua mãe, Águeda. Ambos liam e declamavam poesias, com muita expressividade e sentimento. Isso foi marcante para a trajetória da futura escritora. 36


Livros Digitais

independentes: uma nova forma de aproximar escritores e leitores Os seus primeiros versos surgiram em 1990 e foram dedicados à mãe. A menina apreciava escrever no seu diário e, a cada dia, registrava suas impressões sobre a vida, as pessoas e os acontecimentos. Em 1994, começou a compor as primeiras canções autorais e a fazer paródias das músicas que gostava. Ela relembra um episódio em que se divertia com os primos, cantando juntos uma paródia de um grande sucesso dos Beatles. Também cita alguns momentos da adolescência, em que vendia as suas poesias de amor para as amigas, que ofereciam os poemas apaixonantes aos namorados, em datas especiais. “Fazia um grande sucesso e era bem divertido, pois era eu mesma quem os escrevia e minha letra não era bonita! (risos). Foi uma fase óptima!”. comenta a escritora. No entanto, ela também revela que se arrependeu de algumas coisas: “Por causa de uma briga que tive com um antigo namorado, queimei os meus diários e agendas que continham minhas mais queridas poesias. Noutro momento, fui um tanto ingénua e tive de sofrer com o roubo de meus textos. Foi horrível, uma pessoa se passou por amiga, roubou a minha criação e até venceu um concurso com minha obra. Houve até prémio em dinheiro!” Dona de uma personalidade forte e carismática, Maria Cleide desenvolveu um estilo próprio, que é a marca registrada de todos os seus textos. A sua escrita é intensa, envolvente e polissémica. Toda sua produção literária é divulgada virtualmente, e inclui contos, crónicas, cartas, discursos, pensamentos, letras de música e, lógicamente, poesias! Infantis, religiosas, sociais, eróticas, líricas e amorosas... cada poesia carrega um universo particular e desperta diversas sensações nos seus leitores. “Escrever é um acto de amor, é uma busca pela eternidade almejada, é ser livre de todas as convenções para seguir o rumo da poesia latente ao nosso redor. Escrever é contemplar o Divino Mistério presente em tudo, é entender o porquê de 'No início, era o Verbo', é tornar uníssonas as vozes que ecoam pelo espaço a nos lembrar de que a vida nunca termina.” comenta. Maria Cleide ou MCSCP (o seu acrónimo), publica os seus textos em diversos sites literários: Recanto das Letras, Luso-Poemas, Mar de Poesias, O Melhor da Web, Autores.com.br entre outros. Também integra a Associação Internacional Poetas del Mundo e o Portal Cá Estamos Nós (CEN), a maior ponte literária entre Brasil e Portugal. Muitas de suas poesias e alguns de seus contos foram publicados nas antologias da Câmara Brasileira de Jovens Escritores. A autora já obteve reconhecimento nacional por meio de concursos literários. 37


Sotaques

Recebeu os Prémios Sarau Brasil e Rima Rara, ambos em 2013. Também participa das antologias virtuais do portal CEN. “Eu sempre gostei de escrever e meu sonho era publicar um livro, não sabia como nem quando, mas tinha certeza de que conseguiria", afirma. Em 2009, ao participar do Fórum Social Mundial que decorreu em Belém do Pará," tive a oportunidade de declamar uma de minhas poesias". Foi aí que o seu sonho começou a tomar forma, contactando com muitas pessoas quea ajudaram a seguir em frente: "uma moça indicou-me o site Recanto das Letras e eu comecei a postar minhas poesias", recorda a aurora. "Na época, eu estava noiva de um professor e escritor chamado Fábio Calliari, cujo pseudónimo era Filício Albara, e incentivei-o também apublicar seus textos" ." O Recanto foi uma grande experiência para nós:ficávamos radiantes com o número de leituras dasnossas obrase o nosso grande sonho era publicar os nossos livros, um dia, relata a escritora. Eu torcia pelo sucesso dele e ele, pelo meu. Ele criou um blog fantástico e recebia milhares de visitas. Mas a vida separou-nos e, tempos depois, casei-me com meu melhor amigo, João, com quem cursei Letras na universidade. Depois de dez anos de amizade, casamo-nos e tivemos nosso querido Elias. Os sonhos nunca morrem e, mesmo à distância, eu desejava muito que Fábio conseguisse publicar os seus livros infantis. No entanto, sua morte prematura o impediu de editar a obra. Foi um choque para mim. Eu já não falava com mais ninguém davnossa antiga turma de amigos, nem falava com a família dele. Soube do ocorrido por meio de uma mensagem enviada pelo Facebook. Chorei compulsivamente, lamentando pelo sonho que ele não conseguiu realizar. Quando ele morreu, eu já não escrevia mais, nem publicava nada no Recanto. Então, tudo voltou de repente. Meu filho passou a ser minha inspiração e uma nova fase literária despontava. Passei a escrever tudo o que sentia e pensava. Hoje, o meu recanto conta com mais de 300 textos. Também comecei a participar em concursos literários, o que me ajudou a publicar meus poemas e contos. No total, são 13 livros que guardo com carinho: 10 com poesias e 2 com contos. Nos últimos tempos, percebi uma tendência muito forte: inúmeras pessoas usam celulares para realizar downloads de e-livros. A partir daí, surgiu a ideia de lançar as minhas obras de forma independente e gratuita, no intuito de estimular a leitura e a produção escrita autoral. Assim, organizei meu material e publiquei 3 e-livros por meio do Recanto das Letras. O primeiro, foi a monografia com a qual recebi nota máxima ao fim de minha graduação: O universo simbólico da obra O Saci: um estudo junguiano sobre a obra infantil de Monteiro Lobato; o segundo, foi o meu livro de poesias religiosas: Versos que edificam a alma: a fé em poesia e, por fim, publiquei meu livro de pensamentos e poesias: Jardim de Pensamentos: cultivando sementes da alma. Tenho estimulado a prática da leitura e da escrita de um modo dinâmico, inovador e interativo. Recebo comentários de meus textos e troco ideias com outros escritores. Incentivo parentes, amigos e alunos a divulgarem suas obras literárias virtualmente. Para mim, não há sonho impossível. Afinal, as Escrituras Sagradas revelam que 'tudo é possível ao que crê'.

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Gosto de lutar por meus objetivos e sei que quem semeia, colhe os frutos do seu trabalho. Sou pós-graduada em Gestão de Pessoas e sei o quanto é importante estimular o desenvolvimento pessoal e profissional de todos que nos cercam. Por isso,os meus textos conversam com a alma, inspiram atitudes positivas, elevam a autoestima e estimulam pensamentos repletos de unidade e sinergia, afinal, somos interdependentes.” Para ler as produções literárias da autora, basta aceder seu perfil literário no Recanto das Letras: http://www.recantodasletras.com.br/autores/ mariacleidescp. A todas as pessoas que desejam, um dia, publicar o próprio livro, a escritora recomenda: “eu sugiro que cada pessoa busque o meio que lhe for mais conveniente; eu optei por distribuir minha obra de forma independente e gratuita para facilitar o acesso e tornar a leitura mais dinâmica. Há muitos sites literários confiáveis e de cadastro gratuito. Não é necessário ter muito dinheiro

quando se tem vontade e criatividade. Há quem opte por fazer livros artesanais e de excelente qualidade. O fato é: todos precisamos realizar os sonhos que nos motivam e dão sentido à nossa vida. Outro conselho: nunca devemos queimar nossas poesias! Elas são expressões de nosso eu-lírico, e revelam-nos muitas coisas ao longo dos anos. De resto, desejo a todos muito sucesso! Abraços carinhosos e poéticos!

Texto / Foto: MCSCP

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Ilha dos Amores

Ilha dos

Amores Encante-se com a poesia livre de

Agostinho da Silva

Nesta edição de janeiro da revista Sotaques, na rubricas "Ilha dos Amores", conhecemos melhor a poesia de Agostinho da Silva. Poesia de liberdade, de compromisso, com uma enorme carga metafísica e filosófica. Na poesia de Agostinho da Silva há um prolongamento do seu pensamento. Como um voo leve e pleno de uma ave rumo ao Sol, rumo ao Sul, rumo ao ideal.

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Sonho Teria passado a vida atormentado e sozinho se os sonhos me não viessem mostrar qual é o caminho umas vezes são de noite outras em pleno de sol com relâmpagos saltados ou vagar de caracol quem os manda não sei eu se o nada que é tudo à vida ou se eu os finjo a mim mesmo para ser sem que decida.

Agostinho da Silva

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Ilha dos Amores

Queria que os Portugueses Queria que os portugueses tivessem senso de humor e não vissem como génio todo aquele que é doutor sobretudo se é o próprio que se afirma como tal só porque sabendo ler o que lê entende mal todos os que são formados deviam ter que fazer exame de analfabeto para provar que sem ler teriam sido capazes de constituir cultura por tudo que a vida ensina e mais do que livro dura e tem certeza de sol mesmo que a noite se instale visto que ser-se o que se é muito mais que saber vale até para aproveitar-se das dúvidas da razão que a si própria se devia

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olhar pura opinião que hoje é uma manhã outra e talvez depois terceira sendo que o mundo sucede sempre de nova maneira alfabetizar cuidado não me ponham tudo em culto dos que não citar francês consideram puro insulto se a nação analfabeta derrubou filosofia e no jeito aristotélico o que certo parecia deixem-na ser o que seja em todo o tempo futuro talvez encontre sozinha o mais além que procuro. Agostinho da Silva


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Sotaques

Paulo Mendes da Rocha: o arquitecto 44

que conduz o Museu dos Coches para o futuro


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O

arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha é uma referência da Arquitectura mundial. Foi o segundo brasileiro a vencer o prémio Pritzker, depois de Óscar Nyemeier, e coube-lhe a tarefa de projectar o futuro de um dos mais importantes Museus portugueses, o Museu dos Coches.

Em 2015 vai abrir o novo Museu dos Coches, substituindo o antigo Museu que estava localizado junto ao Palácio de Belém. Do novo Edifício, situado na Avenida da Índia, sabe-se que é um espaço moderno com cerca de 15.117 metros quadrados, e que foi projectado pelo arquitecto brasileiro Paulo Mendes da Rocha em consórcio com a MM BB arquitectos do Brasil, Bąk Gordon Arquitectos e pela portuguesa Nuno Sampaio Arquitectos. Em declarações à Imprensa, Paulo Mendes da Rocha referiu que o novo Museu visa, por um lado, criar um espaço museológico amplo onde se possam contemplar os coches e, por outro, desenvolver uma conexão com a Zona de Belém. Esta ligação consiste na criação de percursos nas ruas vizinhas do Museu como a Rua do Cais da Alfândega Velha, que criem um clima de intriga ao cidadão para descobrir a história desta Zona nobre da cidade de Lisboa. Entre as funcionalidades que traz o novo Museu dos Coches contam-se um grande Pavilhão de Exposição, um edifício anexo para os serviços administrativos, um restaurante e um auditório e uma passagem pedonal em rampas que liga a Rua da Junqueira à Gare Marítima de Belém. Do projecto original apenas não foi construído o Silo para estacionamento, do outro lado da linha. Paulo Mendes da Rocha é um arquitecto que se notabiliza por um discurso voltado para o futuro. Declara que todo o homem nasce arquitecto porque o que nos “ move é a angústia da necessidade e da urgência”. Essa urgência de criar algo novo é intrínseca à sua arquitectura. Nascido em Vitoria, capital do Estado de Espírito Santo, em 1928, foi muito influenciado pelo pai que era engenheiro de recursos hídricos e navais. Diplomado pela Faculdade de Urbanismo e Arquitectura da Universidade Mackenzie em 1954, chamou logo a atenção com um projecto para o Clube Atlético Paulistano. Nesses primeiros tempos, a sua grande referência foi o arquitecto paulista João Vilanova Artigas,cuja obra procurou relançar,internacionalmente, após a sua morte. Sofreu a perseguição da Ditadura Militar brasileira, sendo impedido entre a década de 60 e 80, de fazer ou ensinar Arquitectura. Só na década de 90 seria reintegrado como professor da Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Quando regressou à arquitectura afirmou, num emocionado discurso, que a democratização era “ um momento de transformação do homem e a expressão que ele dará deve ser serena e belíssima”. Essa expressão de uma arquitectura do século XXI chegará, em 2015, ao Museu dos Coches em Lisboa. Pela mão do arquitecto que vive e projecta o futuro : Paulo Mendes Rocha. João Castro

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No dia 6 de Janeiro comemoraram-se os 513 anos de Angra dos Reis. Aquela que é uma das pérolas paisagísticas do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil, continua a atrair muitos visitantes e a ser um dos mais belos locais brasileiros. Tudo começou em 6 de Janeiro de 1502. Uma expedição comandada pelo navegante português Gonçalo Coelho chegava a uma Baía ou Angra, cuja beleza fascinou a tripulação, e que foi baptizada como Angra dos Reis, em homenagem ao dia dos Reis. Inicialmente a Vila chamou-se Vila dos Reis, mais tarde Vila de Angra dos Reis e, finalmente, Angra dos Reis. A colonização de Angra fezse a partir de 1556, e nesta terra viviam, antes de chegarem os portugueses, as tribos indígenas Tupinambás. A sua população atual é de cerca de 169.000 habitantes, de acordo com os censos de 2010. Nossa Senhora da Conceição é a padroeira deste Município, já que a sua imagem foi levada para a povoação em 1632, existindo uma capela, a capela dos reis magos, que foi instituída em 1593 por carta régia assinada pelo rei Filipe II de Espanha e Portugal. Em 2010, um desastre natural em Angra dos Reis provocou uma calamidade com 55 mortos e o desabamento de terras, provocadas pelas intensas chuvas. Angra é constituída por 365 ilhas, muitas detidas por celebridades, sendo a maior delas a Ilha Grande. Angra dos Reis chega aos 513 anos de vida em excelente condição. Sem rugas e com uma beleza deslumbrante e eterna. Paulo César

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Angra

dos Reis, uma beleza com cinco sĂŠculos 49


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