Revista Sotaques Brasil Portugal Nº 27

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junho/julho 2020 Nº27|Gratuito

CRIS GUTERRES EMPODERAMENTO DO FEMINISMO NEGRO

PANDEMIA

E ISOLAMENTO QUANDO A ARTE ESCOLHE ESSES TEMAS COMO LUGAR DE EXISTÊNCIA

IMPORTÂNCIA DA POESIA EM TEMPOS DE CRISE

POESIA DOS TEMPOS DE TODOS OS TEMPOS


ÍNDICE

Colaboradores Portugal: André Marques, António Almeida Santos, António Proença , Agostinho Oliveira , Arlequim Bernardini , Bárbara Bernardini , Cristina Bernardini , Diogo Reis ,Jon Bagt e Vitor Hugo. Colaboradores Brasil: Alex Gomes , Daniel Canhoto , Diego Demetrius Fontenele , Hebert Júnior , Hernany Fedasi , Laercio Lacerda , Marlus Alvarenga , Pablo B.P. Santos e Rô Mierling .

Revista On-line Sotaques Brasil Portugal Propriedade: Atlas Violeta Associação Cultural ISSN: 2183-3028 - Tel. 351 917 852 955 antonio.sotaques@gmail.com - www.sotaques.pt


EM TEMPOS DE PANDEMIA, ALIMENTEM A ALMA.

Confinados,“mascarados”, higienizados, quando o mundo, de um momento para o outro e sem aviso prévio, se altera, impossibilitando, os abraços partilhados com os nossos pais, o convívio físico com os nossos amigos; vetando, abruptamente, um simples aperto de mãos com o nosso vizinho. Como alimentar a nossa alma, quando a parte social inerente à con-dição humana se vê diminuída ao contacto virtual e limitado? Quando tudo parece faltar nesta nova forma de viver (ou de sobreviver), precisamos en-contrar novas fontes de energia - e não apenas as que garantem o bom funcionamento das atividades vitais. Assi, torna-se essencial fornecer “alimento” ao nosso mais ínfimo interior, a nossa alma e mente. Nesta edição especial, vamos saciar os nossos leitores com cultura e, para isso, teremos disponível um excelente banquete poético. Não esquecer que, segundo Dr. Martin Luther King, “só quando está escuro o suficiente, se podem ver as estrelas”. Tudo vai ficar bem!

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Sotaques

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PANDEMIA E ISOLAMENTO QUANDO A ARTE ESCOLHE ESSES TEMAS COMO LUGAR DE EXISTÊNCIA Marlus Alvarenga

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uitas vezes, na existência e resistência da humanidade, vivemos – e viveremos – isolamentos e epidemias/ pandemias/ desastres naturais avassaladores. A arte, como parte sensível do ser humano, se fez valer muitas vezes desses espaços para levantar discursões que ajudam e pluralizam esses momentos. Assim, esse espaço abre as portas para trazer uma perspectiva e algumas obras que dialogam com nosso atual momento, reverberando os traços de que há a necessidade de ver, nas telas, nos livros, na música e em todos os veículos parte da nossa própria vivência.


Sotaques

SÓ (2020) Adriana Calcanhotto A multiartista Adriana Calcanhotto – que além de grande poetisa musical também faz parte do corpo intelectual da Universidade de Coimbra, no instituto de Letras desde 2015 – gravou nove músicas em isolamento, o álbum Só, que será seu 13 álbum. As canções falam do tema vivido pela compositora que, em live pelo SescEmCasa, no Brasil, dia 23 de maio, já falava que seria mais sobre a falta que sobre a presença. Disponível para streaming. Imperdível.

THE LODGE/ A CABANA (2019) Franz & Fiala O horror psicosobrenatural falseado da dupla promissora de Goodnight Mommy (2014), Veronika Franz e Severin Fiala, é o arquétipo do que o isolamento plural – um pai omisso, a mãe que se suicidada (colaboração linda de Alicia Silverstone à obra) e uma madrasta com passado psicopático – em uma cabana no meio de uma nevasca pode trazer. Seguindo a linha do filme anterior, The Lodge é uma excelente experiência da nova safra do terror traz, para dias frios com chocolate quente e cobertor em casa.

O LIVRO DE NADA (2019) Marlus Alvarenga/ Editora Killa (2019) Um reflexo do isolamento de anos – e uma libertação da vida amorosa, da cidade e das amarras sociais , a coletânea de poesias e devaneios poéticos O Livro de Nada, primeiro livro do escritor e pesquisador em literatura e cinema Marlus Alvarenga, é um deleite para quem busca poesia no isolamento. Pré-indicado ao Prêmio Jabuti 2020, disponível em e-book e livros físicos.

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MAIS UM MERO RUÍDO EXCÊNTRICO (2018) Akio Ponte Com sonoridade e expressividades oníricas, o brasiliense de raiz nipônica Akio Ponte inspira passagens astutas e reflexivas em um álbum de 11 canções em parcerias com outros artistas brasileiros, inspirado por sonoridades alternativas como Rodrigo Amarante e até Cartola. Os timbres de guitarra e as sujidades sonoras inspiram nostalgias e é um prato cheio para o chá das tardes em casa, que podem ser apreciadas até a hora do vinho. Disponível para streaming.

O FAROL (2019) Robert Eggers A nova película do novo queridinho do horror/ terror profano Robert Eggers – deixo aqui uma pauta a dizer que foi um dos grandes filmes de 2019 – de A Bruxa (2015), coloca Willian Defoe e Robert Pattison isolados para conviver tenebrosidades em um Farol, com inspiração no conto inacabado de Edgar Allan Poe. A fotografia em preto e branco é um ponto de tensão que evoca, além do clima sombrio, vazão para os delírios e sobrenaturalidades que envolvem sexo, mitologias e surtos. Vale cada minuto.

O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA (1997) José Saramago O mundo, o homem e suas íntimas ambições são escancaradas com a sabedoria irrevogável de José Saramago (1922-2010), que compõe soa bibliografia com grandes outras obras como Ensaio sobre a Cegueira (1995) e As Intermitências da Morte (2005). As frustrações também fazem parte da vida e nessa ilha, isolados, até onde vamos? Disponível em e-book e livro físico.


Literatura

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DOSSIÊ LÍNGUA PORTUGUESA: POESIA DOS TEMPOS DE TODOS OS TEMPOS Curador Marlus Alvarenga


Literatura

(Revista Orpheu. Bandarra, 1934.)

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“EU NÃO SOU EU NEM SOU O OUTRO, SOU QUALQUER COISA DE INTERMÉDIO: PILAR DA PONTE DE TÉDIO QUE VAI DE MIM PARA O OUTRO.” Mário de Sá Carneiro

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stamos em tempos de renovação. A vida, em suas múltiplas formas, encontra sempre um meio de se renovar: seja como matéria orgânica para o solo, como cura e frutificação; seja como uma nova vida que chega ou mais uma vida que se esvai. Infelizmente temos amargado milhares de mortes em meio à pandemia sanitária por Covid-19 que o mundo vive, e não podemos brecar esse ciclo de forma instantânea. É um dia após o outro, isolados, quem pode e quem tem consciência. Os ventos mudaram e da China ao Brasil, os ares não são mais os mesmos.

E é em horas como essa que o objeto da arte vem como escape de sanidade para a grande maioria, pois se tem a noção que quase tudo o que cerca os seres humanos possuem ou são partes artísticas ou passaram, claramente, por um processo de produção que envolve arte. Música, literatura, cinematografias, roupas, pinturas, animações, esculturas: é um grande inventário que possuímos, como tesouros a serem descobertos, cada qual na sua estrutura. É por esse motivo que decidi, como poeta e pesquisador de literatura e outras artes, trazer ao conhecimento algumas poetisas e poetas da língua portuguesa que marcam nossas trilhas, como um caminho para quem tem e não tem conhecimentos sobre a escrita artística. Para esse caminho trago nessa edição o auxílio dos poetas brasileiros Alex Gomes, com suas impressões sobre a obra de Elisa Lucinda e como ela reverbera no contemporâneo e Pablo Santos, com um espectro sobre a obra de Hilda Hilst. Para completar, eu invoco a obra e vida do português Mário de Sá - Carneiro e a diversidade na vida e na poética.


Literatura

IMPORTÂNCIA DA POESIA EM TEMPOS DE CRISE Por Alex Gomes

(Elisa Lucinda. Foto: Acervo Lucinda, para Templo Cultural Delfos, 2016.)

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ssim, de começo, um discurso já clichê de qualquer texto informal: “Sei que não dá para mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!”, de Elisa Lucinda. Elisa Lucinda, escritora, atriz, mulher, brasileira; tudo aquilo que não é bem visto por muitos. Aquilo, dessa forma, concebida por homens que temem mulheres fortes, pois sabem que mulheres ao todo são fortes. Esses homens, que na maioria das vezes, suprem das necessidades com patifaria, agressividade, calam e amordaçam companheiras, e digo isso não somente remetendo à ideia de agressividade física, mas de ideal.

Elisa Lucinda, essa mulher conhecida por muitos brasileiros pelas novelas e programas de Tv, recebe a graça da poesia ao nascer e, em tempos difíceis como esse, consegue transportar nossos pensamentos a longínquas indagações sobre esse desconcerto que passamos nessa vida gauche por meio de textos. Textos esses que, modestos, fáceis e profundos, nos mostram um lado de transformação pessoal e social. Como demostrado em “Só de sacanagem”, Elisa abre algumas interpretações que não te traz segredo algum com “cuecas que voam entupidas de dinheiro”, ou quando diz “desde Cabral que aqui todo o mundo rouba”. É claro o entendimento disso, mas o que se esperava é que ninguém entendesse tão fácil assim. “líderes do governo roubando dinheiro?! Como assim?”. Nesse tapa de inconformidade, ela nos mostra que estamos aí, sem qualquer reação, sem gritar, sem ir às ruas, vivendo e fingindo que vivemos. Esse é o estado de espírito do brasileiro, afinal. Viver e fingir que vive. Apesar deste contexto, Elisa ainda mostra que não é só isso, afinal ela traz consigo a esperança, tanto que se pergunta quantas vezes ainda terá que por esta esperança à prova? Eu digo, Elisa, que sinceramente, não sei. Não sei. Reconheço e tenho total admiração por pessoas como você, Elisa, que quebram essa parede e tentam chamar atenção de pessoas descuidadas. Afinal, nesse momento tão obscuro, nosso medo é ficar ainda mais na escuridão. Espaço falta, mas mulheres como você, Elisa, não se importam. Drielly Neres sabe muito bem disso, outra escritora com força e vitalidade de que esse país precisa.

Não é necessário explicar muito, mas uma mulher que bate todos os dias nesse padrão de normalidade social com outra mulher ao lado, casadas no amor e na dor, já se percebe que força de vontade é algo rotineiro. A poesia já vive só nisso, mas é claro, Drielly quer mais, e ela pode mais. Falar, por exemplo, que o “amô” pode nascer nas mais singelas letras de um cordel, personificar rios e mares para demostrar isso e nos agraciar com imagens leves de imaginação doce, faz qualquer pessoa esquecer dos milhares de problemas e se perder numa noção de tempo finito. A poesia de Drielly proporciona total apego a coisas boas, e faz, é claro, refletir sobre o que é realmente importante a traçar linhas de prioridade num mundo tão desconcertado. Esse é o papel dessa escritora, e percebe-se isso quando “não tinha as respostas nas mãos, mas tinha desejo nos olhos”, na obra “cordel do amor encantado”. Tão doce, simples, que acalenta e transforma. É isso que esse texto quer mostrar. É isso que esse texto quer para o futuro do país. Mulheres, homens, pessoas que querem um final diferente diante de tantos finais óbvios. Queremos gritar assim como você, Elisa, que nossa esperança é imortal. FONTES: LUCINDA, Elisa. Só sacanagem. Jornal de poesia.

de


Literatura

A JOIA RECÔNDITA DO DILIGENTE VENTR

Por Pablo Santos

(Hilda Hilst. Frame do filme Hilda Hilst pede contato, 2018.)

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RE

E

xtinção, talvez o vocábulo que mais tenha assombrado Hilda Hilst durante os seus bem aproveitados anos de vida como escritora. Sua escrita, restrita aos críticos literários e escritores, perpetuou por esta bolha até quarenta anos depois de sua morte, ora, a visita do anjo da morte tem sido uma grande mão amiga dos criadores de arte, tendo em vista as recorrentes aclamações póstumas.

Dentre os picos de conotação quanto sua visibilidade, Hilst solta: “O escritor deseja ser lido. Sem isso, não adianta dizerem para mim que sou excelente. Quero ser lida no bonde, no avião, no banheiro”. A sua história nos mostra o quão dividiu opiniões, sendo vítima do patriarcado, quando fora constantemente posta em análise por seu estilo de vida hedonista. A imponência de suas palavras para com o sensualismo, nos redefine a ideia da famigerada abordagem indecente para o sexo, como no poema “Amavisse”, que demonstra o anseio agoniante de se envolver tomando uma parte essencial de alguém, ou em “Tenta-me de novo”, onde temos o senso celestial de que há uma conexão espiritual e uma troca energética entre os indivíduos durante a prática sexual. Imbuída de desejo e sedução sob o feeling libertador e antagonista, é feito o equilíbrio dos personagens. Aquele deleitar imprudente do momento carnal, não dando a mínima para incidentes terrenos, ou burburinho externo, preenche o apocalíptico poema “Árias Pequenas. Para Bandolim”, mas há também aquele contraste da Hilda despreocupada: na poesia “Aquela”, ela evoca os receios de não atender as expectativas do amado, de não ser a mulher que arranca amores até a eternidade, de ser o modelo perfeito de uma dona de casa, do padrão errôneo da mulher reprodutora e temente ao homem. O escrever em elo do questionamento existencial também mostra-se de interesse de Hilda, que no poema “XXXII” enxerga a mortalidade em tudo que há, num “íntimo laço” até o “gozo colada entre eu e o outro”, assim como a jornada individual e divina na poesia “Passeio”, ressignificando o sentido do viver durante suas experiências de exílio, talvez o almejado isolamento de que sempre projetou e nunca teve em vida. FONTE:FUKS, Rebeca. Os 10 melhores poemas de Hilda Hilst. Cultura Genial, [s. l.], 2019.


Literatura

O SUPLÍCIO DO ESTETA

Por Marlus Alvarenga

(Mário de Sá-Carneiro. Acervo Folha de São Paulo, 2014.)

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oi em um cenário de grande intensidade e renovações no início do século XX, onde dividia medos e angústias do Modernismo, que o poeta Mário de Sá-Carneiro se suicida em Paris, no dia 26 de abril de 1916. Apenas 26 anos. As crises familiares, econômicas pela falência do pai e um isolamento forçado, em busca de se auto compreender nos deram um dos maiores poetas portugueses da geração Orpheu. E essas mesmas questões, visíveis na sua escrita, também nos tiraram sua história e vida.

Entre cortes de sonetos e poemas mais livres, a obra de Mário é um expoente do que foi o modernismo em Portugal. Junto de Fernando Pessoa, o poeta de embrenhava em versos sombrios e carregados como Tu crias em ti mesmo e eras corajoso,/ Tu tinhas ideais e tinhas confiança,/ Oh! quantas vezes desesp'rançoso,/ Não invejei a tua esp'rança! (A um suicida, 1910). Sua obra fomentou o que viria depois, mesmo com sua vida breve, influenciando e dividindo valores na literatura que temos hoje, tratando de diversidade, morte e ausência. FONTE:SÁ-CARNEIRO, Mário de. Correspondência com Fernando Pessoa. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.


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CRIS GUTERRES

EMPODERAMENTO DO FEMINISMO NEGRO

Arlequim

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empre quis desfilar, ser modelo. Mas era um sonho tão reprimido pelas mensagens externas que eu recebia quando via as modelos nas revistas que eu nunca tive coragem nem de revelar meu sonho para as pessoas.

Me sentia completamente distante quando olhava as modelos magras e na maioria brancas. Me questionava porque a moda era tão diferente da realidade. Pois o que víamos nas ruas eram mulheres completamente diferentes das mulheres que estavam nas passarelas. Durante muitos anos eu fui escrava de dietas e tentativas estéticas de emagrecimento. Dieta da lua, dos carboidratos, da proteína, dos pontos. Todos os tipos de dieta eu testei sem sucesso. Demorei a entender que eu não precisava ser magra para ser bonita. E quando me descobri livre com o corpo que eu tinha eu conheci o Periferia Inventando Moda (PIM). Um projeto incrível que valorizava os corpos plurais, corpos de mulheres e homens magros, gordos, trans, altos, baixos. No PIM, as pessoas são mais importantes do que as roupas. Os modelos não são tratados como cabides. São valorizados por sua beleza única. Pois cada pessoa é única em sua história, corpo, beleza e espírito. No projeto eu trabalhei com comunicação, mas eu fui me descobrindo por entre aquela atmosfera da moda até que um dia o Alex Santos me convidou pra desfilar na Casa de Criadores uma roupa pensada na história do algodão. Eu fiquei muito feliz, ainda mais porque o algodão parece muito com a minha história, é uma trajetória de resistência. O algodão é um tecido forte e resistente como as mulheres negras que resistem dia a dia por sua sobrevivência. O algodão é resistente como o povo da periferia que o projeto apoia. Mesmo diante das adversidades a gente não desiste e sempre cresce assim como o algodão que há séculos é um dos tecidos que mais resistem mesmo diante das novas tecnologias.


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Moda

A MODA E A LEI ÁUREA

Arlequim

Campanha: Sou de algodão | manifesto 3.0 | @

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| veste @projetopim

| designer: @_alx.santos

Tecelagem: @nicoletti_textil |Direção Criativa e produção executiva: @amdcagencia

|Fotógrafo: @euthiagobruno |Vídeo: @sa


amuelalexandre.br

N

o último dia 13 de maio em memória à Lei Áurea com a "abolição" da escravatura, separei esta sessão linda da nossa parceira ALX Brand produziu este look impecável com o denim upcycling da Sou de Algodão com a musa Cris Guterres trazendo a linguagem fashion e o empoderamento do feminismo negro !

A lei que aboliu a escravatura mas não mudou os meios de trabalho para dar oportunidade aos negros e muito menos as pautas raciais sistemáticas que são excluídas todos os anos por diversos setores da sociedade até os dias de hoje. É preciso capas como esta, é preciso oportunidades como esta, é preciso resistência como esta, afinal inclusão se torna um termo diminutivo para quem merecer ter o nosso lugar por DIREITO !

| Beleza: @herodrigues


Moda

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Moda

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Literatura

PAIRA SOBRE NÓS

Diego Demetrius Fontenele

Foto: Ivan Beoulve

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Paira sobre nós o medo Denso como a neblina pela manhã Tão frio, palpável e opressor. Paira o medo nas ruas e nas praças. Nas escolas e estações de trem Dentro dos ônibus, dentro das casas. Medo que não escolhe hora nem lugar O medo da violência, da barbárie e da morte. Do desconhecido que pode Nos infligir trauma e dor. Também do conhecido que esperaríamos Somente alegria e amor. Paira sobre nós o medo. Não deixemos que ele se assente Tome conta dos nossos corações Nem que tinga as rosas que estão nos campos. Que o vermelho delas não seja feito Com o sangue das vítimas mortas nas guerras Daquelas que são violadas, decapitadas Queimadas, assassinadas. Não deixemos que o medo Transforme-nos em seus novos agentes. Nos paralise e nos impeça de livre ser De plenamente viver.


Portugal

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Fotos: Vitor Hugo


POESIA URBANA Vitor Hugo


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Vila Nova de Gaia 34



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Porto 40



Música

GIANZ REVELA SINGLE DE ESTREIA “E Arlequim

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ENCONTRAR-TE”

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IANZ é o heterónimo musical de David Gião, que se estreia com o single “Encontrar-te”. Neste tema o rapper, cantor e compositor do Barreiro funde Rap com Pop e partilha histórias e experiências vividas na primeira pessoa, mas com uma visão que é universal a todos.

“Este tema é lançado num momento em que estamos distantes das pessoas que nos são queridas. No final deste isolamento social todos vão querer encontrar alguém e “Encontrar-te” é lançado com o intuito de aproximar as pessoas que se amam” – David Gião/GIANZ O videoclip,produzido pela MLN Studios, parte de uma ideia de GIANZ: ilustra o que vem sendo cantado/rappado, levando-nos numa viagem por várias paisagens, hiperbolizando aquela que é a busca pelo amor. “Encontrar-te” está disponível plataformas digitais.

em

todas

as


Música

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Literatura

UMA PALAVRA

Daniel Canhoto

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Eu vejo o vento E canto a canção do silêncio. Eu ouço uma voz A antropopatia da mesa Da folha em branco. Eu guardo perguntas Como respostas. Eu amo e não digo Eu digo e não amo. Eu ando na rua Assim sem rumo Como personagem De um extenso livro De uma única Palavra. eu sou a pausa um copo vazio a respiração profunda o mictório a lágrima sem causa Eu sei que ela Não vê Mas mostro Não ouve E conto. eu faço do eu tu invado Eu faço Do tudo Um nada E o infinito É só uma palavra Quando o nada É mundo. Eu leio-a Porque ela é poema Que É poesia E eu Que nada sou Escrevo-a.

eu sou

Poeta.


Portugal

FERNANDO DE CAMÕES

André Marques

( Cena do curta-metragem “ Como Fernando Pessoa Salvou Portugal “

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erca de 364 anos separam o nascimento de Luís Vaz de Camões e Fernando Pessoa. Ambos poetas. Ambos símbolos da língua portuguesa, da poesia e literatura. Poderia escrever aqui milhares de palavras para descrever a magnitude das obras deixadas por estes dois autores, mas creio que não seriam suficientes. Os seus escritos são fundamentais na aprendizagem do português em Portugal e noutros países do mundo, e as suas escritas têm uma influência mundial, que se mantêm vivas ao longo dos anos. Atrevo-me a dizer que a língua portuguesa não seria a mesma sem a existência destes dois poetas.

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realizado por Eugène Green em 2017. )

Luís de Camões foi uma grande influência para a literatura portuguesa, sem dúvida, mas também para a brasileira, tendo sido uma grande influência para a obra “Prosopopeia” de Bento Teixeira, de 1601. Mais recentemente, foi estabelecida como disciplina a Camonologia, tanto em faculdades portuguesas como brasileiras, assim como a criação do Prémio Camões, o maior galardão literário dedicado à literatura em língua portuguesa, tendo este sido já entregue a autores como Jorge Amado ou José Saramago. Nos dias de hoje, estudado e traduzido para todas as principais línguas, é praticamente um consenso chamá-lo de um dos nomes maiores da literatura, a par com Virgílio, Shakespeare, Dante ou Cervantes.


( Cena do filme “Camões

“ realizado por José Leitão de Barros em 1946.)

Fernando pessoa é um enigma em si. Escreveu desde os sete anos até à sua morte, e contribuiu de diversas formas, com diversos nomes, em diversas obras para o enriquecimento da língua portuguesa. Em 1966 pensava-se que o número total de personagens, personalidades com cunho literário, entre outras, criadas por Pessoa, seriam de 18 nomes, mas em 2009 chegou-se a um total de 83 nomes, podendo realmente constatar-se o volume de criações e de escritos que Pessoa produziu ao longo dos anos. Só teve um livro publicado em vida, Mensagem, tendo inúmeras obras publicadas após a sua morte. A influência do estilo e das criações de Pessoa não é possível de calcular-se, mas é percetível no mundo literário, sendo incontável o número de poetas e escritores que já referiram Pessoa nas suas obras e textos. É relevante assinalarem-se os contributos destes dois autores para a poesia e literatura portuguesa, que se mantêm nos dias de hoje, e de pensar no futuro com esperança, pois mais de três séculos separaram estes dois gigantes do português, e a língua portuguesa cresceu bastante e continua a influenciar gerações, a expandir e moldar-se. A poesia é, e sempre será, uma das formas mais belas de expressão. Precisamos dela. Precisamos de poetas. Precisamos de crescer com a língua portuguesa.


Brasil

Fotos: Hebert JĂşnior

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OLINDA

PATRIMÔNIO CULTURAL DA HUMANIDADE Hebert Júnior

Vista da Igreja de N. Sra. do Carmo


Brasil

Catedral da SĂŠ (Igreja de SĂŁo Salvador do Mundo)

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Brasil

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Vista do Convento de SĂŁo Francisco


Brasil

Feira de artesanato da Praça da SÊ

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Brasil

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Mรกscaras de carnaval


Brasil

Rua do centro histรณrico

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Brasil

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Literatura

MICROCONTO

Jon Bagt

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“ VERSO SOLTO ”

António não rima. Mariana não encanta. O melro tenta assobiar. O poema fez-se no silêncio.


Brasil

PORTO MUITO ALEGRE Laercio Lacerda

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Fotos: Laercio Lacerda


Porto Alegre


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Porto Alegre

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Porto Alegre 72



Literatura

POESIA

Diego Demetrius Fontenele

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Pousa em meu peito poesia Constrói nele moradia Deixe que as palavras tenham cria E encham o mundo a cada dia Com um pouco de alegria Diminuam a melancolia E as pessoas levem em sua história Essa dose de ousadia Nas músicas mais melodia Nos relacionamentos mais harmonia Na vida mais euforia Felicidade diária Não apenas o dizer: Sorria Para ilustrar um álbum de fotografia.


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