Revista Sotaques Brasil Portugal Nº 24 Maio / Junho

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maio/junho 2019 Nยบ24|Gratuito

Marco Barbosa Black & White


Sotaques

Uma viagem ao equilíbrio preto e branco Nesta década, vivemos a era da imagem com muitas cores, padrões e estímulos visuais. Convidamos os nossos leitores a viajar nesta edição especial onde as cores preto e branco serão as cores mestras, pois juntas formam o símbolo da elegância e do equilíbrio. Uma homenagem aos tempos áureos da elegância e sofisticação: uma forma de glorificar os antigos jornais impressos a preto e branco.

Somos aquilo que produzimos! Arlequim Bernardini

Revista On-line Sotaques Brasil Portugal Propriedade: Atlas Violeta Associação Cultural ISSN: 2183-3028 - Tel. 351 917 852 955 antonio.sotaques@gmail.com - www.sotaques.pt Colaboradores Portugal: Arlequim Bernardini , Agostinho Oliveira , António Almeida Santos, Bárbara Bernardini , António Proença, Jon Bagt e Rosangela Herbert. Colaboradores Brasil: Hernany Fedasi, Hebert Júnior , Pablo B.P. Santos , Rô Mierling, Laercio Lacerda , Diego Demetrius Fontenele , Alex Gomes , Marlus Alvarenga e Daniel Canhoto . 2


Pag. 06

Índice

Manifestações culturais brasileiras

Pag. 16

Porto Cidade Invicta

Pag. 26

Capa Marco Barbosa

Pag. 38

Pag.78

Paredes Brancas

Pag. 80

Gil, O barbeiro das estrelas

Pag.84

Microconto “ Ecocídio “

Pag. 86

Olhares em Transição Café, leite e chocolate: Uma mirada sobre a (r) Tradição, política, design e existência LGBTQIA+ prazer e gastronomia

Pag. 46

O Medo , O Modo , O Mundo Moderno …

Pag. 50

Valter Nu , O percurso 3 caminhos e 4 estradas

Pag. 60 Seu Jorge -

Música Negra Brasileira

Pag. 64

A estrela de Valparaíso

Pag. 66

Porto Blues Fest

Pag. 96

Vermelho é a cor do meu desejo

Pag. 98

Cicloturismo no Brasil

Pag.104 “Ofertório” Caetano , Moreno, Zeca e Tom Veloso

Pag. 110

Douglas Piton Modellife

Pag. 118

Que música você come? A gastronomia dos espaços musicais

Pag. 76

Seria somente a minha mente?

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Brasil

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Manifestaçþes

Culturais

Brasileiras |Herbet Junior

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Brasil

Foto: Herbet Junior

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Sem Título

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Brasil

Foto: Herbet Junior

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Sem Título 9


Brasil

Foto: Herbet Junior

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Sem Título

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Brasil

Foto: Herbet Junior

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Sem Título

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Brasil

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Foto: Herbet Junior


Sem Título

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Portugal

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Foto:Jorge Monteiro


Porto Cidade

Invicta |Jorge Monteiro

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Portugal

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Foto:Jorge Monteiro


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Portugal

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Foto:Jorge Monteiro


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Portugal

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Foto:Jorge Monteiro


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Portugal

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Foto:Jorge Monteiro


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Capa

Foto: Rosangela Herbert

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Marco Barbosa

Black & White |Arlequim Bernardini

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Capa

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Black & White “ Black & White “ é uma homenagem aos charmosos homens que antigamente não dispensavam o seus elegantes chapéus. Marco Barbosa mostra a elegância do homem português, o qual é moderno, cosmopolita, conectado , atento ao mundo da moda e a tudo ao que o rodeia. Na era da imagem, o preto e branco são cores que juntas formam o símbolo de equilíbrio e elegância, podendo ser considerados um ying-yang da moda, por assim dizer. O local escolhido para a realização do editorial “ Black & White “ foi o Hotel da Música, situado na cidade do Porto.

Produção : Arlequim Bernardini | Fotografia : Rosangela Herbert | Modelo: Marco Barbosa Make-up : Alessandra Lima | Chapéu: Chess & Hats | Local: Hotel da Música -Porto

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Capa

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Capa

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Capa

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Capa

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Gastronomia

Cacau e manteiga produzida das plantas de Ilhéus, Bahia - Brasil. Fonte: www.veja.com.br

Café, leite e

Tradição, política, desig |Marlus Alvarenga

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e chocolate:

gn e prazer e gastronomia

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Gastronomia

Tradicionalmente presente nas cozinhas matinais (quando não a todo tempo) do Brasil - e ouso dizer, na maior parte do mundo, o café com leite mudou. Em alguns casos o café nem é mais tão café assim - ou nem possui mais cafeína, que por vezes é o motivador do seu elevado consumo; e o leite, não é mais sempre o mesmo leite - muitas vezes sem lactose ou caseína, sem gordura; outras vezes, extratos vegetais. A dupla já gerou crises e ascensões importantes no Brasil, com a Política do Café com Leite (1898-1930), forjando a escolha dos presidentes somente entre Minas Gerais e São Paulo, respectivos produtores desses artigos. O cacau como chocolate, que chegou um pouco mais tarde nas mesas (em achocolatados muito questionáveis) já foi querido nas clínicas de estéticas dos anos 90, vilão e amigo do coração, adorado como estimulante sexual, demonizado como fetiche da burguesia francesa do século XIX, contra as dietas/ querido das dietas, moeda de troca dos antigos Maias: sobreviveu a pragas, a modificações genéticas e climáticas, é datado de mais de 4000 anos antes da era cristã e muitos povos ancestrais usavam como algo divino - e assim se torna, quando bem cuidado - hoje é usado nas indústrias de luxo da chocolatier

europeia, que tem ganhado força na América do Sul - ainda a tempo, pois aqui produzimos parte dos melhores cacaus do mundo. Inclusive, fetichizando e gourmetizando os processos mais contemporâneos, o cacau ruby, com coloração naturalmente cor de rosa, tem ganhado os mercados como o novo queridinho da moda gastronômica atual. Os grãos rosados são frutos de uma pesquisa intensa de treze anos em plantas do Equador, Costa Rica e Brasil. É a maior inovação na indústria (em termos de cor) desde que a Nestlé lançou o primeiro chocolate branco, a cerca de oitenta anos. De amor e de café, leite e até alguns produtos com chocolate de alta qualidade, me encanta poder desfrutar de um espaço em Brasília, chamado Antonieta, situado na Asa Norte. Com clima semindustrial, minimalista e criado com muito cuidado e pitadas de militância, o espaço codifica arte, barismo de alta qualidade, uma carta take away variada e um estúdio de tatuagem, no subsolo.

Cappuccino com latte art do Antonieta Café, Brasília - Brasil. Fonte: www.facebook.com/antonietacafe

É um refúgio de bom gosto para quem está no corre-corre da cidade sem esquinas, chegando antes para estudar, conversar com amigos e saborear cafés de microlotes especiais, sazonais e rotativos, com diferentes formas de extração e prensagem, com uma pegada slow food. Algumas sobremesas como cheesecake com geleia artesanal do dia e a sensacional pannacotta fresca completam o cardápio, que ainda tem alguns drinks, cerveja e água sempre disponível gratuitamente para os clientes. Impossível não comentar que banheiro é um show a parte: cheio de recados de todos os tipos espalhados pelas paredes, mas prevalecendo o respeito e o amor, disponibiliza canetas para que os clientes façam parte disso que se torna uma obra de arte em mutação permanente. Aos comandos da simpática educadora Auristela Mazocante, a casa segue sendo um ambiente descontraído, recebendo coletivos de arte, música e alternatividades de Brasília. 40


ANTONIETA, fachada. Brasília - Brasil. Fonte: www.facebook.com/antonietacafe by @shakeit

Ainda alocado em Brasília - esse espaço quadrado no meio do Goiás que muita gente ama - e outros, nem tanto -, muitas vezes somos surpreendidos por ousados empreendimentos gastronômicos que, para nossa saciedade, nos agracia com uma cozinha variada e rotativa. O TETA Cheese Bar, um bar de queijos (sim, o mote são as harmonizações partidas dos queijos com cerveja, oferecidos no ambiente), comandados pela cheese hunter Marina, o sommelier de cervejas André e o chef Pablo, o bar é uma espécie de clube aos amantes dessa iguaria à base de leite, com opções variadas para todos os paladares, sentidos e vontades.

Com espaço para mais que comedoria, o Teta também abriga eventos como feiras artesanais de queijo e de produção local. A cervejaria também opta por rótulos mais aromáticos, selecionados e sazonais. Importante levar em conta que manter um espaço como esse em Brasília sempre foi um desafio: o público nem sempre recebe bem uma gastronomia fora do padrão e, muitas vezes, quando viraliza e se torna moda na cidade morre, quando um mais novo surge. A clientela de gastronomia brasiliense é um mix entre “eu quero inovação, mas não quero pagar por ela”, “chamo redes de fast food de gourmet somente por venderem a la carte” e um público experimental. Uma vez eu ouvi de uma pessoa muito sábia que nós, como agentes da gastronomia, precisamos “educar”, de certa forma, o comedor o qual atenderemos. Hoje, com as redes sociais em pico, um trabalho muito mais precioso precisa ser feito. Qualquer fato vira um espelho - positivo ou negativo - para repercutir acerca do empreendimento. Vivendo em Buenos Aires esses últimos seis meses pude perceber o quanto muda o público conforme a cultura local, mesmo em um país em crise: todo dia vejo uma cervejaria, vinoteca, bistrô, cafeteria; espaços gastronômicos, múltiplos, abrirem a toda esquina em um país que vive uma das piores crises recessivas da sua história. Queijos e cervejas especiais, TETA Cheese Bar. Brasília - Brasil. Fonte: www.facebook.com/tetacheesebar

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Sotaques

Diferentes tipos de queijos do TETA Cheese Bar. Brasília - Brasil. Fonte: www.facebook.com/tetacheesebar

Experiência “Chocolates del Mundo”, com Las Romeas. Buenos Aires - Argentina. Arquivo pessoal.

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Um dos grandes ensinamentos que tive com o povo argentino é a sua forma de lutar contra uma política engessada e corrupta, como nas suas próprias palavras, o mal da América Latina. E foi aqui que, dentre os muitos e derivados chocolates que já experimentei no mundo, conheci a produção da design e chocolaterie Lorena Galasso, que também tem uma agência de publicidade, na chocolateria Las Romeas - Chocolate & Design. Uma experiência guiada em uma viagem por chocolates do mundo: intensidades, densidades, texturas, cores, pinturas, formatos: Las Romeas é chocolate de verdade, como esclarece a fala da guia da degustação, Lorena: pelo mundo eu pude conhecer como tratam o cacau, as sementes brancas e negras em diferentes culturas, espaços e métodos, cada qual com sua peculiaridade e sabor. Aqui na Argentina ainda é um mercado novo, onde a maioria do que consumimos como chocolate não é chocolate. O mercado está aberto e todos os produtos que trabalho são de primeira linha e feitos com muito cuidado, para valorizar nossa estrela maior, que é o fruto do cacaueiro. Experienciamos cacau de Cuba, Vietnam, Colômbia, Peru e dois grãos africanos.

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Gastronomia

A bomboneria de Lorena é uma experiência artística rara. Poucas vezes comi algo com tanto cuidado na composição e ousadia. Nada parece tradicional na produção e na degustação qual participei; porém, o chocolate é puro e delicado, com o necessário para acessar aos mais intensos paladares, agregado com vinhos das bodegas argentinas Caelum e 4040. Tudo que se consome no mundo tem uma origem, um significado e participou de alguma forma, de um processo de extrativismo: o café, o leite e o chocolate são produtos consumidos em larga escala em todo o mundo, por todas as fachas de renda e culturas. Acessar a todos com os produtos é o novo paradigma da produção contemporânea - que desde de Escoffier, no século XIX, ganha força técnica na cozinha francesa moderna e depois se espalha pelo mundo todo como gastronomia -, onde precisamos resgatar o encontro do ser humano ao processo de se restaurar - daí a origem da palavra restaurante, e não somente de consumo. O lugar onde se restaura a energia. O café de manhã restaura a vontade de fazer o mundo girar - e durante o dia, para seguirmos de pé ou como muitas tradições, após as refeições. O leite, o queijo fresco, cremoso ou curado, o cacau como fruto e o chocolate - o prazer de comer. A sensorialidade contemporânea e o mundo virtual não fugirão às delícias da cozinha desenvolvida com afeto, saberes e com fazeres que colocam o comensal dentro desse espectro de vivências. Comer não é só consumir. E consumir, te faz consumo ou consumidor?

Bombons variados de design Las Romeas. Buenos Aires - Argentina. Arquivo pessoal.

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Literatura

O Medo , O Modo , O Mundo Moderno ‌ |Daniel Canhoto

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…

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Literatura

Deus E um homem… Uma alucinação Um medo Uma fobia O mundo Moderno. O ar A fumaça Um deus! A guerra A caça A desgraça. O ódio A dor O faca O rancor O tédio A lama Na barra Da calça. A cela As coisas Do século XXI. A mania O trauma O salário O dinheiro A mulher grávida O filho A escola O bulling O filho O frio O filho! O vestibular A namorada O poema A dor de cabeça A noite A insônia O amor Doendo

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No peito A janela do apartamento - O apertamento As estrelas E todos eles Têm estrelas… A dor No corpo Ardor Na mente A dor No peito Os cigarros… E Deus, meu Deus! Sempre lá no alto. O entreve As trevas semoventes Dentro do quarto Dentro da minha Mente quadrada O labirinto A labirintite O neurologista O meu bigode grande O psicólogo O psicanalista! O juiz As covas E aquelas covinhas E aquele sorriso E aquele amor E aqueles cabelos E ela não fala o nome E ela não fala E ela não olha E a mente vazia E o estômago E também a carteira. E Deus Deus tudo bem Ele sempre Sempre do lado dela. E do meu lado Sempre


Essa dor Essa dor aqui do lado E de novo O problema A farmácia O remédio O tédio E o rosto escuro No espelho As paredes manchadas E lá fora As risadas Os dedos apontam E o poema de novo E o choro Arde Dói E Deus Sempre Ajuda Que o rapaz não se jogue da janela Que ele não morra de Verdade Que ele escreva Que ele Escrevo Que ele - Escravo A vertigem O pânico E a luz Do sol O telefone toca E o Sol arde E o emprego E o NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO - NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO N Ã O

NÃO

NÃO

(((NÃO)))

“NÃO” <NÃO> E Deus espera espera espera E o milagre espera espera espera E a utopia E os erros Errados.

N Ã O [NÃO]

O estorvo O diabo E desterro As paredes Em branco A solidão O lúcido Preto E Branco No devaneio Preto E Branco. O cansaço O distúrbio A Narcolepsia A paixão - Pra quê paixão? Ele Sou eu Na casa vazia A caixa De e-mail vazia… E Deus…

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Portugal

Valter Nu

O percurso 3 caminhos

e 4 estradas

|Arlequim Bernardini

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Portugal

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Foto: Rosangela Herbert


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Portugal

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Foto: Rosangela Herbert


O percurso, 3 caminhos e 4 estradas é uma instalação onde vê-se uma escultura de um cavaleiro sobre uma motocicleta, a peça possui 5 metro de largura por 2,50 metros e meio de altura e 1 metro de profundidade. E foi pensada para as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente 5 de Junho de 2019 na cidade do Porto - Portugal.

O objectivo da instalação: O Percurso 3Caminhos e 4Estradas, mostrar o percurso de uma instalação que foi idealizada produzida e confeccionada entre Portugal e Brasil e narrar de forma imagética e subjectiva trajectos entre Portugal, Brasil e África, nas estradas das tecnologias que começam com as tecnologias de navegação dominadas por Portugal, até o os tempos atuais onde a tecnologia de navegação estão no domínio das redes digitais.

O Percurso

A instalação, foi idealizada durante a participação do artista Valter Nu, em Portugal na Primeira Bienal Internacional de Arte Sacra Contemporânea de Braga em Setembro de 2018, a convite da curadora e mentora da Primeira Bienal Internacional de Arte Sacra Contemporânea realizada em Braga, Cristina Bernardini, representante da Atlas Violeta Associação Cultural e Apoio Social aos Países de Língua Portuguesa entidade organizadora da Bienal em 2018. O projecto “ O Percurso 3 Caminhos 4 Estradas” e os primeiros esboços foram desenvolvidos no ateliê do artista em São Paulo, Brasil em Janeiro 2019 e troca de ideias com a Curadora Cristina Bernardini, a criação e execução da maquete da escultura, foi produzida no CCAL-Centro Cultural do Alumio em São Paulo- Brasil, Parceiro Institucional do Projecto, onde o artista Valter Nu, durante o mês de Abril, executou 4 oficinas para a realização da maquete, já com a maquete finalizada o artista chega no dia 20 de Maio na cidade do Porto- Portugal, para dar inicio a construção da escultura o Artista Valter Nu e Curadora Cristina Bernardini e a Atlas Violeta Associação Cultural dão ínicio a produção, confecção e conclusão do projecto e exposição da escultura na Estação do Metro do Bolhão na cidade do Porto no Dia Mundial do Meio Ambiente.

3 Caminhos

A narrativa começa a partir da imagem da entidade Sacra “São Jorge” Em Portugal São Jorge, Na África Ogum, Quando vão para o Brasil graças ao sincretismo religioso São Jorge e Ogum tornam se a mesma entidade, senhor da justiça dos caminhos e dos metais. A estrada da tecnologia aparece na instalação, onde no lugar do cavalo para cumprir demandas, São Jorge surge em uma motocicleta inteiramente construída com computadores já navegados e utilizados.

4 Estradas

A instalação 3Caminhos/4estrada, além de narrar caminhos entre 3 lugares distantes Portugal, África e Brasil através das tecnologias, passeia por estradas de subjectividades, as 4estradas percorridas propostas na instalação:

O Percurso 3 Caminhos e 4 Estradas A Estrada da fé representada pela figura de São Jorge/Ogum. A estrada física que une locais e pessoas representada pela motocicleta A estrada da tecnologia por onde milhares de pessoas viajam entre mundos todos os dias nas redes digitais, representada na instalação pelos computadores usados que são a matéria-prima da construção da escultura. A estrada da sustentabilidade e questões ambientais, já que a escultura e 100% confeccionada com resíduos reaproveitáveis (sucatas de eletro electrónicos) portanto terá sua inauguração no dia mundial do meio ambiente 5 de Junho de 2019. A escultura: A escultura produzida para a instalação O Percurso 3Caminhos 4Estradas, representa um cavaleiro com 2,50 metros que tem em seu braço erguido uma espada, o cavaleiro está montado em uma motocicleta de 5 m comprimento, a motocicleta é confeccionada totalmente com sucatas de computadores, e a escultura do cavaleiro produzida com cabos eléctricos e resíduos de eletro electrónicos. Curadoria: Cristina Bernardini Artista Visual : Valter Nu

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Foto: Rosangela Herbert


Curadoria: Cristina Bernardini

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Foto: Rosangela Herbert


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Música

Seu Jorge - Música Negra Br |Arlequim Bernardini

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Foto: Diogo Pinto


rasileira

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Música

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Foto: Diogo Pinto


A música tem cor? Sim, tem e é negra! Isto pode ser afirmado tendo em conta uma das grandes vozes da música contemporânea brasileira - um carioca que todo o mundo admira e respeita: Seu Jorge. Ele é detentor de uma voz única e, para além de encantar, é instrumentista , compositor e ator . Seu Jorge atuou num concerto memorável, na mítica sala de espetáculos do norte do país - o Grande Coliseu do Porto. Foi um concerto único que vai ficar na memória dos fã que encheram o Coliseu para ouvir o músico brasileiro .

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Literatura

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A estrela de Valparaíso |Pablo B.P. Santos

Cá à beira da divisa; É onde com fibra e graça, Povo do chão verde-amarelo, Irradia o amar em elo. Cá à beira da capital; Paraíso da bela esmeralda, Vale da bonança, e Do amanhã de esperança. Há uma pequena estrela Que brilhou no centro-oeste Em bandeira que desfralda. Valparaíso, és meu torrão Escarlate, forte, varonil, Da capital eis o irmão.

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Música

Porto Blues Fest |Arlequim Bernardini

O Palácio do Blues está na cidade Invicta! Os Jardins do Palácio de Cristal foi o local onde realizou-se a terceira edição do Porto Blues Fest , mostrando cada vez mais que o Porto está na rota do Blues . Nesta edição do festival, passeámos pelos sons do multi-instrumentista alemão Henrik Freischlader. A norte-americana Juwana Jenkins, que mescla o passado e presente, conseguir demonstrar que o Blues não é só para homens . O grande guitarrista, Gwyn Ashton, deu um espectáculo em palco, levando o público ao delírio . Os Minnemann Blues Band, a primeira banda de Blues, nascida há 40 anos no Porto, fecharam esta terceira edição, a qual pôde ainda contar com o pianista Wolfram Minnemann . O melhor do Blues está aqui !

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Juwana Jenkins


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Música

Gwyn Ashton 68


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Música

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Henrik Freischlader


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MĂşsica

Minnemann Blues Band3

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Juwana Jenkins


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Música

Seria somente a minha mente? |Alex Gomes

Ouvi passos no andar de baixo. Senti arrepios como nunca havia sentido antes. Todos os pelos do meu corpo pareciam querer correr. Suava frio. Vidros começavam a se quebrar por todo o lado na cozinha, e eu apenas ouvia calada sob o cobertor. Nunca fui muito ligada à religião, porém, nesse momento, a única coisa que me vinha à mente era uma visão divina que pudesse me tirar daquele sufoco. Os passos ficavam cada vez mais fortes, e eu não podia fazer nada. O assoalho rachava com o peso do que quer fosse aquilo que estava me atormentando. Tudo parecia girar ao meu redor e minha mente não sossegava. Era meu fim. A porta do quarto bateu com tanta força que toda a casa tremeu. Meus olhos estavam completamente fechados e com tanta força que pareciam não querer abrir nunca mais. Tudo estava preto e branco e as memórias felizes haviam desaparecido completamente. Meus sorrisos pareciam nunca terem existido e meus amores estavam distantes demais para serem lembrados. Todas as minhas riquezas em memória haviam sumido. Ápice da decadência. Sinto meu corpo sendo puxado para fora da cama; alguma coisa havia agarrado meus pés e não soltava. Meu fôlego estava se esvaindo, então decidi abrir os olhos para pelo menos ver quem me mataria, já que a morte seria meu único caminho. As pálpebras se levantaram e, como se um peso tivesse saído sobre o meu corpo, acordei. Eu estava passando por mais uma crise do sono. Como de costume, sempre a mesma coisa acontecia durante o sonho. Começou quando esse “ser” ainda me atormentava de fora da casa. Hoje, como puderam perceber, ele me arrastava para fora da cama. Na próxima, acho que não estarei mais aqui para dizer quem é que quer me pegar.

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Literatura

Paredes

Brancas |Diego Demetrius Fontenele

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Paredes brancas Quando são novas Não contam histórias. Paredes novas Não tem riscos Nem memórias. Paredes brancas Igual a nossa vida Se ficarem em branco Não serão lembradas E é triste a existência Quando se é nada. Paredes brancas Pedem um pouco de tinta Pedem mais vida Um pouco mais de cor.

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Moda

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GIL

O barbeiro das estrelas O premiado Hair Design, Gil, está a chamar a atenção dos famosos que passam pela capital portuguesa. Com um estilo marcante, o barbeiro confirma o estereótipo que nem todos os brasileiros singram fora do Brasil só a jogar futebol. Gil, atualmente, é considerado o barbeiro das estrelas, jogadores, músicos portugueses , africanos e brasileiros, os quais dizem só cortar o cabelo e fazer a barba com ele .

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Moda

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Microconto

Microconto

“ Ecocídio “ |Jon Bagt

Roberto tinha um vaso de hortênsias. Todos os dias regava as flores. Os pássaros pousavam na janela ao som dos disparos de caçadeira de Luís. Num dia de intenso sol , Roberto abriu a torneira e a água não escorria… Luís matava-se e as aves lambiam-lhe os ninhos das balas.

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Brasil

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Olhares em Transição Uma mirada sobre a (r)existência LGBTQIA+ |Marlus Alvarenga

Modelo: Sofia Lopes | Naturalidade: Rondônia, Brasil | Local: CCR, Buenos Aires, Argentina | Fotógrafo: Marlus Alvarenga

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Foto: Marlus Alvarenga


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Foto: Marlus Alvarenga


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Foto: Marlus Alvarenga


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Foto: Marlus Alvarenga


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Brasil

Vermelho ĂŠ a cor do

meu desejo |Ro Mierling

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Desde que que te conheci... Vermelho era a cor da minha paixão Da minha razão, da minha emoção. Vermelho era a cor do meu sangue e do meu tesão. Rubro como vinho era o batom De minha boca ao te beijar avidamente Vinho era o líquido que enchia meu copo Esperando você. Da cor da maça, era o sabor dos seus beijos. Morangos à mesa te esperavam, Quando íamos fazer amor. O lençol era vermelho, Minhas unhas eram vermelhas Meu coração bombeava um amor vermelho, Rubro, vinho, de tanta força e dedicação. Até o dia em que te vi, acompanhado. Ela usava uma saia vermelha, tinha cabelos vermelhos Um batom vermelho e um sorriso, cheia de vermelha paixão Possivelmente retribuída por você, que a olhava com admiração. Desde então milha vida perdeu a cor. Hoje, meu dia amanhece, preto e branco, Lençol branco, unhas de esmalte preto. Preto nas olheiras, branco na palidez. Branco nas esperanças, preto nas emoções. Meu caminho agora sem você. É preto e branco.

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Brasil

Cicloturismo no B |Hernany Fedasi

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Brasil

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O cicloturismo é uma forma de turismo que consiste em viajar utilizando como meio de transporte uma bicicleta. É uma maneira muito saudável, econômica e ecológica de se fazer turismo. A bicicleta causa uma ligação quase que mágica com as pessoas, pois a recepção dada a um cicloturista é muitas vezes mais calorosa do que se o viajante chegasse em outro meio de transporte. Outro fator importante no cicloturismo é o conhecimento que se adquire de outras culturas e costumes das cidades visitadas. Para praticar esta modalidade é necessário algumas precauções para não sofrer contratempos na estrada, como ter kits de reparo de câmaras de ar, ferramentas de ajustes e manutenção de freio e entre outras peças da bicicleta. Hoje contamos com diversos grupos espalhados por varias cidades do Brasil, que geralmente marcam eventos, passeios e viagens através de redes sociais combinando data, horário e apresentando todo o roteiro da cicloviagem assim como as recomendações básicas para o cicloturismo ocorrer de forma segura e tranquila. O tipo de bicicleta utilizada para uma cicloviagem, deve ser além de confortável, forte e em bom estado, deve permitir que se percorra qualquer tipo de piso, ou seja, asfalto e terra. A bicicleta necessita de revisões periódicas, no mínimo uma vez por mês, devendo o cicloturista ter noções básicas de como montá-la e desmontá-la, aprender a trocar ou consertar a corrente, regular freios e troca marchas. Até algum tempo atrás o costume e a cultura de pedalar no Brasil esteve ligado às pessoas que não possuiam automóvel, ou seja, uma classe mais humilde. Hoje diversas classes sociais fazem uso da bicicleta como meio de transporte, fugindo do trânsito caótico nas grandes cidades. Em alguns países, como a Holanda, são oferecidas ótimas condições para o desenvolvimento deste esporte ou atividade física. Além de ciclovias, transporte com ônibus adaptados, estacionamentos próprios para bicicletas, entre outros. Há duas modalidades básicas de cicloturismo: de forma autônoma e com suporte. Cicloviajar com autonomia pode ser praticado tanto solitariamente como em grupo. Nesta modalidade a(o) cicloviajantes leva consigo tudo o que precisa na cicloviagem, normalmente nas bolsas específicas para bicicleta chamadas alforjes. Na modalidade com suporte, geralmente a(o) cicloviajante contrata o serviço de uma operadora, que organiza o roteiro, hospedagem e alimentação, normalmente transporta os pertences da(o) cicloviajante e oferece serviço de guia. Fonte: Wikipédia Observando a dificuldade de hospedagem solidária no Brasil, cria-se o HOSPEDAL – Hospedagem Solidária para cicloviajantes, que tem como objetivo aproximar o anfitrião de quem cicloviaja, e com isso, ajudar essa demanda que vem crescendo muito em nosso país. Para maiores informações: www.facebook.com/hospedal

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Música

“Ofertório”

Caetano , Moreno, Z |Arlequim Bernardini

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Foto: António Proença


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Foto: António Proença


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Foto: António Proença


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Moda

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Douglas Piton Modellife |Laercio Lacerda

Fotos e Edição: Laercio Lacerda | Catálogo: modellife | Modelo: Douglas Piton | Bairro: Chácara das Pedras Cidade: Porto Alegre

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Foto: Laercio Lacerda


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Foto: Laercio Lacerda


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Foto: Laercio Lacerda


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Que música você come? A gastronomia dos espaços musicais |Marlus Alvarenga

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“Jazz on the river”, Manhattan, New York - EUA. Fonte: www.dcahlo.com


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Gastronomia

Desde os ritos mais antigos que faziam os povos celtas em seus rituais pela deusa, os egípcios em suas cerimônia religiosas - muitas com sacrifícios humanos-, os reinados da Idade Média com seus banquetes comemorativos e para mostrar poderio que música, como entretenimento na gastronomia, tem sido difundida e executada. Sempre pensamos em um restaurante com música suave e confortável aos ouvidos, combinando com as vontades, os desejos e boa mesa. A tarantela nas casas de Nápoles; o coco, no Norte do Brasil; a quadrilha junina Nordestina todas danças envoltas de experiências gastronômicas locais, regionais e muito ricas. Não necessitamos ir muito longe: uma comemoração simples em casa, com amigos, envolve música, bebida e comida. Celebrando essa união, vamos entender um pouco de três polos contemporâneos que envolvem música, política e gastronomia: o jazz, o tango e o samba.

Jazz: tragos e tapas A origem do jazz tem raízes muito mais ancestrais que os bares de Manhattan. A maior parte do som foi uma mescla criada entre os o que africanos, haitianos e os cubanos, inclusive com alto teor de crítica à vanguarda europeizada, unindo as forças entre os negros que era excluídos pelo racismo iminente no início do século XX - e que infelizmente não foi erradicado até hoje. Talvez o que os brancos poderosos americanos

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insultavam consideravam “zumbido selvagem” seja hoje um dos maiores tesouros artísticos culturais do país. O jogo sempre vira. A cozinha de um jazz café, nome que esses espaços ganharam com a difusão do gênero pelo mundo, costuma ser dinâmica e rápida. Com tapas, hambúrgueres, e finger food que sejam servidas rapidamente, para se comer com a mão e sem o rigor de uma cozinha de restaurante. O importante é que harmonizem com cerveja, whisky e drinks como Cosmopolitan e Manhattan, essenciais acompanhantes de um bom jazz. A comida frita e mais condimentada, de larga influência cubana, ganha hoje um destaque especial, tendo como público cativo os amantes de boa música e turistas que frequentam New York.

Tango: vinho e carne Impossível não se apaixonar pela sensualidade e leveza de um bom espetáculo de tango em Buenos Aires e, muitas vezes, não é preciso ir a uma casa especializada. Meu tango preferido - talvez por ser circunstancial - acontece próximo aos muros do famoso Cemitério da Recoleta, área nobre da capital portenha. Quase todos os dias, ao final da tarde, é possível sentar em um bar ou café próximo, pedir um trago e apreciar ao espetáculo das cores do sol que se põe ao redor da dança. Sua origem, bastante enigmática, tem uma conexão

forte com os movimentos de resistência afroargentinos e os prostíbulos com influência dos europeus. É uma dança de origem marginal, por trabalhar corpo e sexualidade dominadora feminina e muitas vezes era tratada como profana ou vulgar. Resistiu por muito tempo e vive até hoje, a ponto de ser patrimônio histórico argentino. Em Buenos Aires há dezenas de casas especializadas em oferecer show excelentes de Tango e boa carta de comidas e bebidas. O que prevalece na experiência portenha, para a maioria dos turistas, resume-se em comer boa carne e tomar um tinto malbec de Mendoza. Não que seja uma má opção, mas a cozinha argentina é muito mais que isso. Porém é muito provável que esses espaços tenham essa pegada mais mítica, por motivos mercadológicos e econômicos. Não da pra oferecer algo muito alternativo e perder o cliente em um país incrível, com cultura a cada esquina e educação inclusiva (material para uma longa matéria posterior) mas que tem passado por dias ruins a algum tempo. Todavia, um bom vinho mendoncino - ou espumantes de Salta, que são incríveis, cítricos e mais refrescantes - com uma típica parrillada com carnes de qualidade inigualáveis são de encher barrigas, olhos e corações de qualquer um.

Piazzolla Tango, Buenos Aires - Argentina. Fonte: www.mibuenosairesquerido.com


Dona Ivone Lara. 1970, Rio de Janeiro - Brasil. Fonte: www.ceert.org.br

Samba: carnaval, cachaça e sexismo (não é tudo) A origem do samba é evidente: surge como resistência para os negros que se amontavam nas periferias cariocas quando, com o fim da escravidão, o Brasil despejou-os à rua sem ter formação, dinheiro ou para onde ir. Muitos batuques do samba surgem em mescla com religiões iorubás, advindas dos povos escravizados na Bahia que migraram para a construção da capital carioca. Sambar tem como significado brincar, ou em outra origem proposta, coração. Pode ser por isso que tantos sambistas brasileiros tenham criado canções que são de profunda melodia, paixão e afeto. As rodas de samba começam com homens tocando as canções e mulheres se revezando ao centro da roda. Um gênero que pauta na coletividade, na essência de Noel Rosa e tantos nomes que afloraram durante séculos de existência e até hoje resiste. Muitos nomes masculinos são citados e com louvor; mas a revolução do samba, desde o início do século XX - quando cantar era assinar seu diploma de meretriz no Brasil -, veio mesmo com nomes como Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Tia Ciata, Leci Brandão e Tereza Cristina.

Samba: carnaval, cachaça e sexismo (não é tudo) A origem do samba é evidente: surge como resistência para os negros que se amontavam nas periferias cariocas quando, com o fim da escravidão, o Brasil despejou-os à rua sem ter formação, dinheiro ou para onde ir. Muitos batuques do samba surgem em mescla com religiões iorubás, advindas dos povos escravizados na Bahia que migraram para a construção da capital carioca. Sambar tem como significado brincar, ou em outra origem proposta, coração. Pode ser por isso que tantos sambistas brasileiros tenham criado canções que são de profunda melodia, paixão e afeto. As rodas de samba começam com homens tocando as canções e mulheres se revezando ao centro da roda. Um gênero que pauta na coletividade, na essência de Noel Rosa e tantos nomes que afloraram durante séculos de existência e até hoje resiste. Muitos nomes masculinos são citados e com louvor; mas a revolução do samba, desde o início do século XX - quando cantar era assinar seu diploma de meretriz no Brasil -, veio mesmo com nomes como Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Tia Ciata, Leci Brandão e Tereza Cristina.

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Gastronomia

Feijoada clรกssica com samba de ro

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oda. Fonte: www.vaidancar.com.br

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Publicidade

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