Revista Sotaques Brasil Portugal Nº 25 Novembro / Dezembro

Page 1

novembro/dezembro 2019 Nº25|Gratuito

António Variações

Utopia digital

Rock, atitude e resistência feminina

Fashion

Day Portugal

São João Del Rei: a terra onde os sinos falam

Athos Souza Homem Trans


Sotaques

Empoderamento e Diversidade Mudar mentalidades: é este o nosso desafio para esta edição.O mundo mudou e nós mandatoriamente temos de acompanhar as mudanças, pois já como dizia Luís Vaz de Camões: “Mudam-se os tempos, mudamse as vontades”, porém, neste caso, podemos dizer que se mudam as necessidades. Com o iminente desenvolvimento tecnológico, veio a Internet, mais tarde, os smartphones e a vívida experiência nas redes sociais. Isto tudo faz parte do século XXI e, mesmo que não queiramos admitir, já não conseguimos viver sem eles. Todavia, há coisas que parecem ainda ter dificuldade em acentar no nosso interior, apesar de, moralmente, sabermos que nem deviam ser pensadas, como, por exemplo, mudanças de género, a importância da mulher na sociedade e, resumidamente, tudo o que é diverso. Nem tudo que parece é ou tem que ser como a geração dos nossos avós definiam. Hoje temos a opção de viver, amar, sentir, estar e vestir simplesmente o que nos apetecer. Deste modo, nesta edição, é só pedido um favor - Vamos deixar de querer rotular ou tentar encaixar as pessoas numa definição sem arestas, dizendo que “isto deve ser A, logo este tem de obrigatoriamente ser B”. Atualmente, a palavra de ordem já deveria ser (e desculpem a irónica tentativa de definição) “sê tu mesmo!”. É a nossa obrigação lutar por um mundo melhor, para pessoas melhores, de modo a educar as próximas gerações com uma liberdade de pensamento pura e genuína. Para isso, há que cuidar do próximo, cuidar de nós e, lamento a necessidade de relembrar, cuidar do planeta terra, uma vez que é a nossa casa e, por mais estudos que se façam, não existe mesmo planeta B. Para o próximo ano que se aproxima, estas deverão ser as principais premissas, para que possamos viver num mundo sem limitações.

Somos aquilo que produzimos! Arlequim Bernardini

2


Índice Pag. 04

Pag. 52

“Variações”

Cláudia Gutierrez Santana

Pag. 12

Pag. 58

Pag. 24

Pag. 62

São João Del Rei: a terra onde os sinos falam

A gastropoética no cinema brasileiro: Bacurau

Aparecida Ribeiro da Costa

Rock, atitude e resistência feminina

Pag. 32

Pag.70

Capa Athos Souza Homem Trans

Alex Santos Periferia Inventando Moda

Pag. 42

Preto, Branco e Pó

Pag. 84

Pag. 44 Flores pra si

Utopia digital

Pag.86

Fashion Day Portugal

Pag. 46

Tarja Turunen e a ressignificação musical do cru

Revista On-line Sotaques Brasil Portugal Propriedade: Atlas Violeta Associação Cultural ISSN: 2183-3028 - Tel. 351 917 852 955 antonio.sotaques@gmail.com - www.sotaques.pt Colaboradores Portugal: Arlequim Bernardini , Agostinho Oliveira , António Almeida Santos, Bárbara Bernardini , António Proença, Jon Bagt e Rosangela Herbert. Colaboradores Brasil: Hernany Fedasi, Hebert Júnior , Pablo B.P. Santos , Rô Mierling, Laercio Lacerda , Diego Demetrius Fontenele , Alex Gomes , Marlus Alvarenga e Daniel Canhoto .

3


Portugal

4


"Variações" |André Marques

5


Portugal

6


H

á uma transversalidade que marca a vida e a carreira de alguns artistas, e cujas parecenças não são assim tão incrédulas, pois marcam um tempo específico. Estou a falar de músicos como George Michael, Elton John, Freddie Mercury e António Variações. Sim, isso mesmo, Variações.

Se em Portugal tivéssemos de personificar a frase “o Freddie Mercury português”, a escolha de Variações serviria na perfeição. Digo isto não pelas parecenças musicais, mas pelas semelhanças na ousadia e na irreverência que marcaram uma geração de músicos, que hoje em dia a existirem será em moldes totalmente diferentes. Variações não só marcou o cenário da música portuguesa com a sua curta carreira, como conseguiu ir mais além e imprimir o seu cunho artístico num género e conseguiu em parte consciencializar o público em geral para uma comunidade LGBT que na época era muito mais escondida, e os preconceitos pesavam mais na sociedade. Esta vertente da vida de António é, infelizmente, pouco explorada no filme “Variações”, que está a ser um sucesso de bilheteira em Portugal, e que é uma ferramenta muito importante para apresentar este artista a uma nova geração (um pouco como os recentes biopics “Bohemian Rapsody” e “Rocketman” fizeram com a música dos Queen e de Elton John), no entanto a vertente social foi aqui um pouco ‘discriminada’, mas isso pode ser até um bom sinal, um sinal de que hoje em dia já não será tão necessário para os produtores e realizadores de cinema exibirem as discriminações que haviam nessa época, pois hoje já fazem menos sentido, e isso pode mostrar um sinal positivo em direcção à aceitação e à não descriminação de minorias.

As relações pessoais e a música estão muito ligadas no seguinte: só as tem e faz quem quer, e quem não gosta, ouve outro estilo ou não ouve nada.

7


Portugal

8


9


Portugal

10


11


Brasil

12


São João Del Rei: a terra onde os sinos falam |Hebert Júnior

13


Brasil

14


Catedral BasĂ­lica de Nossa Senhora do Pilar 15


Brasil

16


Leito do Cรณrrego do Lenheiro visto a partir da Ponte do Rosรกrio 17


Brasil

18


Casas tĂŠrreas do centro histĂłrico 19


Brasil

A arquitetura neocolonial do Hospital de N. Sra. das MercĂŞs 20


21


Brasil

22


Casario da Rua GetĂşlio Vargas 23


Literatura

A gastropoÊtica no cinema brasi de Kleber Mendonça Filho e Jul |Marlus Alvarenga

24


ileiro: Bacurau, liano Dornelles 25


Literatura

Tanta vida pra viver Tanta vida a se acabar Com tanto pra se fazer Com tanto pra se salvar (Geraldo Vandré, Réquiem para Matraga)

Seca. Sangue. Sertão. Sobrevivência. Brasil, Nordeste esverdeado. Futuro distópico (esperam em São Paulo. Um albergue sertanejo. “Eu vou fazer uma canção pra ela... uma canção singe arte de Caetano Veloso, na canção Objeto não identificado, com interpretação de Gal Costa, q quarta semana consecutiva, entre suspiros e sustos, nos cinemas brasileiros. E essas experiênc ainda surpreendente, desde que os cinemas brasileiros pararam com atenção voltada para o in tínhamos razão: o pássaro brabo que voa à noite nos prende em roteiro, sons, efeitos e atuaçõ Lunga para presidente. Entre atentados, política de abusos de poder e clima de suspense, o filme mistura realidade com uma cidadela que resiste, no meio do esquecimento programado, ao futuro desenhado pela opressão. É nessa essencialidade técnica e estética que Bacurau desenvolve sua trama, que mostra desde ação, violência e mistérios inexplorados (que transformam o filme em algo ainda mais rico, por não entregar as respostas da fórmula, muitas vezes, americanizada do cinema de explosão), transformando os takes em passagens de coleções de falas engendradas entre a existência de regras internas, entre os convives do sítio e o caos, que busca sua redenção em quem, eticamente, seria o vilão. Um banquete de sangue para o bem de uma nação com valores deturpados.

26


mos, veementemente): o fim do mundo em um dito fim de mundo. Execuções televisionadas ela, brasileira”. Para cantar depois do funeral. Com esses versos traçados no caminho da que o épico cinematográfico Bacurau toma de assalto uma sala de cinema cheia, pela cias coletivas, construídas com o intuito de colher o máximo de detalhes para esse artigo nterior do oeste pernambucano. O filme de Cannes. Um bang-bang? Não exatamente, mas ões, do início ao fim. A poética marcada do povo no comando da sua vida simples.

(Bacurau, 2019)

27


Sotaques

É nesse cenário que o alimento gastronômico ganha um valor inestimável na obra. Em primeiro momento, o personagem Plínio (Wilson Rabelo), professor da escola do povoado faz a triagem das cestas básicas entregue à população pelo estereotipado (porém muito real na interior do Brasil) prefeito Tony Jr (Thardelly Lima). Nessa realidade, os alimentos além de estarem em sua maioria com o prazo de validade vencido, tecendo crítica visível ao descaso dos políticos com os mais pobres, são oferecidos juntos a um remédio tarja preta inibidor de humor (a personagem Domingas (Sônia Braga), médica do vilarejo, alerta sobre os perigos do supositório), que é relacionado à ideia de controle populacional. Basicamente, a brilhante Domingas fala que o sucesso do remédio é devido ao brasileiro gostar de tomar o remédio na via anal, um popular tomar no ##, para ser mais objetivo. Todo brasileiro conhece a realidade da fome e da escassez no interior do Nordeste brasileiro e essa cena marca esse interlúdio, em uma prova de resistência aos controles de massa.

(Bacurau, 2019)

28


(Bacurau, 2019)

Com a chegada do procurado - e aclamado - criminoso Lunga (Silvero Pereira, em atuação impecável), uma espécie de anti-herói que desmitifica a postura do salvador, relatando sua fome na cena anterior quando Pacote/ Acácio (Thomas Aquino) leva os corpos dos cidadãos de Bacurau chacinados pelos hunters americanos, guiados pelo alemão Michael (Udo Kier), através de algum tipo de comércio de mortes (daí a analogia à obra O Albergue (2005), de Eli Roth, onde pessoas pagam para matar como quiserem determinados biótipos e etnias de humanos, selecionadas pelo cliente, capturadas e levadas ao “hostel” para o abate sanguinário), que um banquete é servido ao personagem e seus capangas. A ânsia por comer e a postura violenta do personagem mostra sua falta de postura anunciada, que contrasta com a música erudita instrumental escolhida para marcar sua apresentação (Entre as Hostências, Nelson Ferreira), entre unhas pintadas, maquiagem e adereços. A polenta, o angu mole, servido para sorver os trabalhadores braçais antes do campo ou longas horas de uso da força, conota diretamente à uma preparação para o que virá: cavar uma cova, uma vala, matar ou morrer.

29


Literatura

É nessa necessidade urgente de se mostrarem brasis dentro de um país, que se constrói, na paisagem orgânica de um Pernambuco verde-empoeirado, a passagem que a personagem Domingas, em uma das cenas mais emblemáticas da obra, oferece um guisado ao armado e psicopata personagem Michael, montado em uma mesa posta, uma visível oferenda ao que estaria porvir: as mortes viscerais, a loucura e, por tudo que se faz, a salvação. O guisado é uma comida rústica e fortificante do interior do país, qual mistura proteína animal menos nobre com legumes e verduras, cozidos lentamente por muito tempo, com o máximo de extração de nutrientes e sabor. Ao lado, na cena, arroz branco, farinha de mandioca sobre uma toalha branca de renda e o suco de caju. Venha, é guisado, suco de caju, música americana... o texto marca na fala da personagem, que convida o inimigo a comer, com a audição, ao fundo da cena da canção True (Spandau Ballet), onde a montagem ganha um ar de diálogo geopoético, na entropia entre a comunicação da personagem com o idioma do estrangeiro.

30

A comida, em posição de obra de arte, dilacerada pela tensão, ganha espaço marcante e decisivo para marcar as atuações como um marco nessa obra fílmica. A aclamada e importantíssima atriz e militante Sônia Braga, antes dirigida por Kleber Mendonça em Aquarius (2016), aqui mostra toda sua arte destemida, sem medo de aparecer envelhecida, fora dos padrões estéticos das “divas do cinema”, com uma relação lésbica abusiva e alcoólatra, fazendo uma ruptura com qualquer estereótipo anterior. Uma pessoa tão doce quando não bebe. E o pássaro segue cantando a noite. No Brasil de 2019, que se diga de passagem não é para amadores, Bacurau veio pra, viver, respirar e não ser extinto. É a nossa resistência na tela grande, refletida na vida de tantos outros que ainda insistem em colher da nossa diversidade o melhor, para colocar nossa luta diária no espaço necessário da sétima arte. Cabeças rolaram. O sangue foi lavado. A semente alucinógena na língua é a própria necessidade de sair da realidade para ser mais real, as vezes.


31


Capa

32


Athos Souza Homem Trans | Laercio Lacerda

33


Sotaques

34


Athos Souza modelo fotográfico, gestor fitness e estudioso das politicas LGBT. Há 4 anos trabalha como militante das causas LGBTQ no Brasil , palestrante atua em vários municípios brasileiros e estados desenvolvendo projetos, e ações como: acesso a saúde básica, documentação, auxilio e acolhimento. “ TENHO CONVICÇÃO DE QUE UM TÍTULO NÃO É APENAS REPRESENTAR UM ESTADO OU PAÍS... “ Precisamos fazer a diferença ao passar uma mensagem, fazer com que as pessoas em si, se sintam representadas. Além da beleza, aproximar à todos, tornando-os mais cidadãos e conscientizar sobre os deveres a serem cumpridos, assim como somos livres para explorarmos nossos direitos, da melhor forma possível.

Fotos: Laercio Lacerda 35


Capa

36


37


Capa

38


39


Capa

40


41


Literatura

|Diego Demetrius Fontenele

Preto, Branco e Pรณ

42


Meu preto gostoso E já tem gente chamando de preconceituoso Meu branco viciante E já tem gente chamando de intolerante Mas o que vou fazer Se meu preto é gostoso e meu branco vicia? E se já me julgas sem nem me conhecer? Sem ao menos saber o que estou a dizer? Não chamaria tua atenção dizer logo o que era Agora tenho um motivo pra discussão As cores das pessoas e os vícios delas Confesso então o meu vício e cor Café: meu preto gostoso (também amo chocolate: o preto e o branco) Leite em pó: meu branco viciante. Sou mestiço, sou humano E me preocupo sim Que as pessoas não sejam julgadas por sua cor Mas que todos recebam amor de tal forma Que não tenham vergonha de ser quem são Que tenham orgulho de ser quem são Preto, Pardo, Branco, Mulato. Quando escolhermos ajudar uns aos outros Ai sim teremos um mundo bem melhor. Mas não serei tão radical Não vou querer abolir todos os vícios Que continue em vigor o vício de amar.

43


Literatura

44


Flores pra si | Daniel Canhoto

Joga fora todos os poemas velhos, abre a janela e monta na bicicleta, se esquece dela e compra flores pra si. Não se machuque mais. São as coisas que ela diz. Eu nunca esperei tanto por alguém. Eu nunca havia esperado com tantas expectativas a hora de rever alguém. Eu nunca quis tanto ver de novo alguém que deixei de ver há menos de 24 horas. Eu nunca amei tanto, me sinto bobo, me sinto vítima, mas os olhos dela são de uma escuridão plácida que traduz a luz das estrelas numa aura furta-cor. Os olhos são furtivos, um céu noturno que rouba a minha consciência; os sons se anulam e mergulho sereno, sozinho. Acabo de voltar desse paradoxo no tempo que são os olhos daquela menina. Ela diz coisas belas que me fazem sair da cama e abrir a janela e botar açúcar no meu café. Ela sabe ler pupilas. Ela tem um segredo. Ela leu os meus olhos desde a primeira vez. Naquela primeira vez viu a dor e sussurrou como o vento que pairava sobre aquela lagoa de águas serenas em que a vi, como o vento que baila em meio ao silêncio impenetrável, como o silêncio que é música que faz de cordas os raios de uma tão cheia lua, como felina e como flecha ela disse: ‘Não se machuque mais.’. Eu tenho não mais feridas, mas cicatrizes. Eu pensei toda a vida que as minhas marcas eram fruto do abandono, do adeus que desde a primeira vez que o ouvi, ecoou até o dia em que ela chegou. Eu pensava que essas marcas haviam sido abertas por outrem na parede do meu peito, mas sou eu o agressor. Eu sou meu assassino paulatino. O adeus foi dito por outrem, por outras, por elas, mas a porta fui eu quem fechei, a luz eu apaguei, as lágrimas eu derramei, o café amargo e frio eu preparei, a taça eu enchi, as torrentes de palavras ansiosas por salvação eu mesmo transbordei. Eu nunca quis voltar atrás, buscar ninguém, e agora eu só quero enrolar as mãos naquele cabelo

como seda negra e deixar que a noite minta eternidade outra vez. Eu nunca quis tanto ver o sol nascer de novo. Eu nunca quis viver pra sempre. Eu tenho um milhão de novos poemas e todos são pra ela. Eu não a tenho presa e deixo esse pássaro voar por aí, deixo que um dia se vá, ela me ensinou a não chorar em vão. Eu tenho um poema de despedida, não de solidão. Eu tenho um poema de liberdade e de saudade, mas não tenho mais a felicidade no ontem. Ela não promete voltar, eu nunca gostei de promessas, e não importa que vá, eu a tenho como que pra sempre nas melhores lembranças, no jeito bonito de sorrir que ela me ensinou. Eu aprendi a imitar o canto de um passarinho e a andar de bicicleta sem usar as mãos. Eu aprendi que o adeus não machuca, amanhã pode ser que não nos vejamos nunca mais, mas é bonito assim, aceitar a liberdade do outro, curar feridas e esperar que o nunca mias não tenha pressa. A vontade de vê-la é imensa, mas os horizontes são, agora, ainda maiores. Ela disse que me ama e eu a amo demais. Ela disse pra que eu nunca deixe que nenhuma garota se ache dona do meu amor, que esse amor que eu tenho eu posso levar pra onde quiser. Ela disse ‘eu te amo’, mas que esse amor não é meu, é dela, que as flores que compra são pra ela. Eu tenho um segredo. Eu nunca aprendi a dançar e ela perdoa isso e diz que é lindo o jeito como eu não ligo. Eu nunca aprendi a confiar e a me entregar e ela pediu pra que eu nunca confiasse nem entregasse meus sentimentos a ninguém. Ei, Mário, simplesmente seja sol, nunca entregue sua luz a ninguém, Sol que ama a Lua que brilha com a sua luz, Sol que nunca se entregou a ninguém… São as coisas que ela diz.

45


Sotaques

Tarja Turunen e a ressign |Pablo B.P. Santos

46


nificação musical do cru

47


Literatura

Ser expulso de algo não é fácil de superar, principalmente se o “algo” for o grandioso e mundialmente aclam Numa carta aberta ao público endereçado à Tarja, o frontman do Nightwish, Tuomas Holopainen, a descrev prano lírico-spinto.

Talvez Tuomas esteja pagando com a língua, a querer forçar o lado comercial da banda, na tentativa de supe mesmo a participação do polêmico Richard Dawkins, biólogo evolutivo, não surtou efeito aos ouvidos do p

48


mado Nightwish, que vem se esvaindo em sua essência qualitativa desde os últimos trabalhos. veu como mesquinha, e adicionou que negócios e dinheiro haviam tomado conta da portadora da voz so-

ervalorizar sua escrita nas faixas de Endless Forms Most Beautiful (2015); a temática evolucionária, e até público.

49


Literatura

Apesar de sua supremacia operática, Tarja vem caminhando a passos largos quanto sua dinamicidade; basta um simples olhar em qualquer faixa do My Winter Storm (2007) a In The Raw (2019), e veremos sua constante mudança, e que até as difere de seu estilo, como a participação do maior percussionista do mundo, Carlinhos Brown, na canção “Spirits of the Sea: “No lado bom da coisa, estou muito feliz por ter Carlinhos Brown, um super famoso artista brasileiro que é um grande percussionista. Ele definitivamente ajudou a moldar o som tribal da maioria dos discos de sucesso do Sepultura. Ele me deu o sabor pelo qual estava procurando na canção. Agora os meus ouvintes podem fazer um mergulho profundo para abraçar a memória dos espíritos do mar comigo.”

50


Em seu novo álbum de estúdio, “In The Raw (2019)”, Tarja aposta no rock clássico, coro rasgante e sequências esplêndidas de bateria, tendo como destaque as faixas “Dead Promises”, “Tears in the Rain” e “Serene”. “Eu realmente gosto de como a guitarra soa: na sua cara”, diz ela. “Se eu estou cantando poderosamente, eu preciso de algo poderoso atrás de mim para que eu não me sinta sozinha.” Lançado em 30 de agosto pela gravadora earMusic, In the Raw contém 10 faixas, e como convidados: Cristina Scabbia, Tommy Karevik e Björn “Speed” Strid do Soilwork.

51


Brasil

52


Clรกudia Gutierrez Santana Empoderamento Feminino | Hernany Fedasi

53


Brasil

Minha relação com o esporte, na verdade, faz parte de uma relação maior, com o movimento e com a arte: com a vida!

performance nos palcos. Foi um caminho bastante solitário e sem apoio familiar. Quando meu filho nasceu, já havia parado com a atividade artística e me mudei para Antes mesmo de saber o que era dança, Curtiba. Após varias tentaticvas de fazer por volta dos três anos de idade, me algo “rentável”, voltei a ensinar dança e lembro que já gostava de dançar. Mas, meu abri um espaço de artes, chamado K do primeiro sonho mesmo, foi ser ginasta. Movimento, criei um grupo de dança, Ficava deslumbrada assistindo a ginasta coreografei e dancei por algum tempo. Nadia Comanetti pela TV e queria muito fazer aquilo. Cursei a faculdade de Dança e de Embora eu tivesse sempre muita Pedagogia, concluindo a última, deixando flexibilidade, na minha família, o esporte, a atividade física e artística para lecionar. a arte e os estudos, ou seja, tudo o que me interessava fazer, era malvisto por “não dar Foi assim por cerca de dez anos, até que futuro” e, desde cedo sofri o preconceito minha coluna se recusou a colaborar e por gostar de sonhar de olhos abertos. comecei a ter crises seguidas de lombalgia que chegaram a me impedir de andar. Aos doze anos, consegui negociar com As alternativas eram medicamentos minha mãe, comerciante, para fazer aulas cada vez mais fortes e a possibilidade de de dança, em troca de cuidar do comercio cirurgia. Passei por infinitas sessões de dela num turno e ir para a escola no fisioterapia e acupuntura. Quando eu já outro para fazer aulas de dança à noite. estava um pouco melhor, o meu ortopedista Nesta época, eu já organizava, festivais me indicou a natação. Quando fiz quarenta de dança na escola, mas era um desastre e seis anos, tive a oportunidade de em esportes coletivos, pois eu era muito recomeçar e de aprender a nadar. pequena e magricela, apanhava das boladas das colegas e sofria bulling, antes mesmo deste termo existir. Adivinha: era boa em ginástica e atletismo. Meus estudos de dança continuaram e, em dois anos eu estava numa das melhores escolas de dança de São Paulo e um ano depois, aprovada nos exames da Royal Academic of Dancing e dando aulas. Nesta época, pude ver o melhor da dança no mundo e me profissionalizei. Quando fui para o Teatro, corria em torno do Ibirapuera para melhorar minha 54


55


Brasil

No começo, ainda tive diversas crises de coluna, bursites e tendinites em várias partes do corpo. No mesmo ano, fiz uma incrível viagem de canoa para um trabalho voluntário em comunidades isoladas e, mesmo limitada fisicamente, remei por duzentos quilometros em treze dias. O mar, se apresentou à minha frente e, quando eu soube das travessias em águas abertas, quis logo participar. A ideia de estar junto da natureza me encantava e não parei mais! Tenho participado de circuitos de travessias em águas abertas, no Paraná e em Santa Catarina e algumas provas de aquathlon, de corrida e de revezamento no triathlon, a última, numa 56

equipe com meus primos, pois, sim! a familia agora tem uma equipe de atletas que praticam esporte regularmente. No último mês de agosto, realizei o Desafio de 8Km de natação, na volta à Ilha do Macuco, em Santa Catarina. Desacreditada por muitos e encorajada por meu experiente treinador Cassio Ricci realizei a prova, sem me preocupar com os resultados. Queria viver esta experiência junto à natureza, sentir a transparência da água tocando meu corpo, a grandeza dos rochedos da ilha vistos do mar, os cardumes de peixes, o sol sobre a cabeça, amenizando a água congelante de inverno.


Cheguei! E esta foi uma celebração à vida e uma homenagem que pude fazer aos meus antepassados indígenas, especialmente minha avó paterna, que sempre me incentivou e acreditou no meu êxito. Nadar, especialemnte em provas de longa distância em mar aberto, tem sido uma grande experiência que me fortalece e faz seguir adiante, não importa as limitações, a idade e o preconceito. Todos podemos ser melhores quando fortalecemos nossas próprias braçadas.

Fotos: Andreia Antunes - Fico Radical Cláudia Gutierrez Santana (Selfie)

57


Brasil

58


Aparecida Ribeiro da Costa Empoderamento Feminino | Hernany Fedasi

59


Brasil

Aparecida Ribeiro da Costa brasileira de 44 anos e hå 10 anos trabalha como mecânica de bicicleta e Ê mi

60


icro empreendedora , moradora da cidade de BelĂŠm do ParĂĄ - Brasil.

61


Brasil

62


Rock, atitude e resistĂŞncia feminina |Marlus Alvarenga

63


Brasil

64


"O rock é muito mais que um som. É um movimento de resistência que sempre foi marcado pela diversidade. Me inspiro sim em mulheres e é como mulher que vou seguir marcando e ocupando todos os espaços."

65


Brasil

66


"Exagerada, eu sei... Uma alma selvagem, quebrando as leis."

67


Sotaques

Modelo: Mariana Camelo | Acessórios e produção: Dark Sabbath Fotografia e arte: Marlus Alvarenga

68


69


Moda

| Hernany Fedasi

70


Alex Santos

Periferia Inventando Moda

71


Moda

72


73


Moda

74


75


Moda

76


77


Moda

78


79


Moda

80


81


Moda

Co- criado por @_alx.santos @_alx.brand @projetopim | Direção: @nilmarianofilho | Styling: @gaabedamaceno | Fotografia: @tuliovidal Beleza: @douglasmaquia | Maquiadores: @giselebarbosas2 | @camilahn | Brincos: @anjonegrostore | Acessórios: @inacia_designer | Backstage: @allan_szmid @oficial_yasminmellyk | Apoio: @vicunhatextil @atelie_donabranca @vult | Parceria: @luizemman | Patrocínio: @skol

82


83


Literatura

Utopia digital |Alex Gomes

84


A

manheceu, a chuva parou e os bichos cantavam lá fora. Estava tudo indo muito bem naquele dia. O café sendo passado transmitia uma sensação de renovação espiritual com aquele cheiro único. Delícia! As pessoas estavam felizes, o mundo estava tranquilo e menos poluído, até. A política estava bem, as florestas, os livros com conteúdo para a família tradicional e nenhum contrabando acontecendo ou presidente falando imbecilidades por aí. Estava tudo indo como de costume, até que percebemos a falta de algo muito importante em nossas vidas: o ego, conhecido para os íntimos como likes do Instagram. Mas como assim ego?! As vidas eram levadas numa boa, desde que você tivesse uma boa reputação e um bom engajamento que, na maioria das vezes, eram vistas pelo número de likes do nosso querido e amado Instagram. Simples, né? Com muito seguidores, maior o número de likes. Suas fotos badaladas, suas conquistas visíveis e seu ego só aumentam, e isso é muito gostoso. Essa sensação de superioridade e reconhecimento por, basicamente, nada. Mas então, por que as pessoas não se chocaram tanto assim com o fim dos likes visíveis para todos? Bom, é bem simples: elas só não demostraram porque na internet somos perfeitos, nossas fotos mostram isso sempre. De certa forma, muitos acharam interessante a iniciativa de tentar vendar o número de likes para o público, porém, esse efeito aconteceu somente nos apps dos celulares. Ué, não era para ser diferente? Você me prometeu, Mark! Isso mostra um outro efeito social: a extensão dos celulares como parte do nosso corpo, o que não é um problema para mim, é claro. Perceba: as pessoas se ligavam muito à interferência digital dos likes nos celulares, mas não era um fator decisivo nessa compreensão de mundo. Não nos ligamos aos likes somente como fonte enriquecimento do Ego, mas nos ligamos aos likes como fonte de enriquecimento da aceitação. Somos intocáveis nessa torre de marfim e queremos ficar lá, porém é necessário que tenha uma janela e pessoas nos observando do outro lado, precisamos que nos percebam aqui dentro, sofrendo, amando, desejando, usufruindo... então, por favor, me nota aqui um pouco, deixa eu e mais duzentas pessoas ver seu status do zap e me deixa entrar na sua lista de melhores amigos do story, please.

85


Moda

86


Fashion Day Portugal encerra a semana de moda portuguesa Fotos :Vítor Gonçalves

87


Moda

88


No dia 9 de novembro, Portugal recebeu o 3° maior evento de moda de país: o Fashion Day Portugal. Com coleções exclusivas que apontam para as tendências primavera/verão 2020, o desfile reuniu novos talentos da moda nacional e internacional . Com o tema “Sophia, um Mar de Poesia”, o Fashion Day Portugal 2019 homenageou a grande poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen no ano do seu centenário de nascimento. Inspirada pelo contacto com a natureza, em especial com o mar, ela tornou-se um clássico entre os jovens, marcando sucessivas gerações através de obras como a Menina do Mar. Tanta visibilidade, a possibilitou ser a primeira mulher portuguesa ganhadora do Prêmio Camões, um dos mais importantes da literatura. O Fashion Day Portugal é organizado pela Atlas Violeta, uma organização sem fins lucrativos, que tem como objetivo mostrar ao mundo o melhor dos países de língua portuguesa.

89


Moda

90


Babinunes

91


Moda

92


93


Moda

94


Lynnus by Diogo Martins

95


Moda

96


97


Moda

98


Andrea Cavalcanti Ecojoias

99


Moda

100


101


Moda

102


Luís Balão

103


Moda

104


105


Moda

106


Thevein

107


Moda

108


109


Moda

110


Vood

111


Moda

112


113


Moda

114


Mariana Henriques

115


Moda

116


117


Moda

118


Santa Maria Galerie

119


Moda

120


121


Moda

122


Tรก Fรกcil

123


Moda

124


125


Publicidade

126


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.